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Ao cruzar a porta do centro cirúrgico, lembro de um caso que mudou minha forma de ver a dermatologia cirúrgica: uma mulher jovem, com lúpus eritematoso cutâneo crônico, procurava excisão de uma lesão necrótica que não cicatrizava havia meses. A história dela — exames, medicações, ansiedade — transformou-se em um percurso narrativo que explica a essência desta subespecialidade: operar a pele é fazer política com o sistema imune, administrar risco e, sobretudo, respeitar a biologia alterada por doenças autoimunes. Neste relato-discurso proponho uma reflexão técnica e prática sobre como a dermatologia cirúrgica, quando orientada para pacientes com doenças autoimunes, exige habilidades clínicas, decisões interdisciplinares e protocolos adaptativos. Parto do princípio de que a pele é um órgão imunocompetente: nela residem células dendríticas, linfócitos residentes e sinais moleculares que modulam inflamação e reparo. Em situações autoimunes — lúpus, pênfigo, penfigoide, esclerose sistêmica, dermatomiosite — essa regulação está perturbada. A narrativa clínica muitas vezes começa com um problema aparentemente local (úlceras, lesões bolhosas, atrofia) que reflete um desequilíbrio sistêmico. A decisão de intervir cirurgicamente requer compreensão técnica da fisiopatologia: uso crônico de corticoides prejudica síntese colágena e angiogênese; imunossupressores alteram resposta a infecções; agentes biológicos modulam citocinas cruciais para a cicatrização. No pré-operatório, o dermatologista-cirurgião atua como autor de um roteiro colaborativo. Avaliação detalhada inclui revisão de medicações (dose e tempo de suspensão), estado nutricional, exames complementares e, frequentemente, consulta com reumatologia ou imunologia. Tecnicamente, a escolha do procedimento — biópsia excisional, de incisão, dermoabrasão, enxertia, retalho — é influenciada por atividade da doença e potencial para recidiva. Por exemplo, em pênfigo ativo, incisões extensas podem precipitar fenômenos de Koebner e exacerbação. Em lúpus cutâneo, a fotoexposição e o trauma perilesional devem ser minimizados; técnicas menos invasivas e fechamento por segunda intenção podem ser preferíveis. Durante a operação, princípios cirúrgicos clássicos permanecem, mas com adaptações: manejo meticuloso da hemostasia para minimizar hematomas que retardam o reparo; suturas atraumáticas e planos bem aproximados para reduzir tensão; uso criterioso de compressão e de curativos que protejam a barreira epidérmica. Em pacientes em uso de agentes biológicos, como anti-TNF ou anti-CD20, a literatura sugere janelas seguras para suspensão e retomada, ponderando risco de reativação da doença versus risco infeccioso. A decisão deve seguir individualização baseada em farmacocinética, severidade da doença e urgência do procedimento. O pós-operatório é o capítulo em que narrativa e técnica convergem para resultados mensuráveis. O cicatrizar em paciente imunocomprometido é sujeito a complicações: infecção, deiscência, cicatrização retardada, hipó- ou hipertricose e cicatrizes atróficas. Estratégias práticas incluem antibióticos profiláticos quando indicado, manejo precoce de seromas, suporte nutricional e monitoramento laboratorial. A educação do paciente — reconhecer sinais de infecção, evitar trauma local, proteção solar — é tão decisiva quanto a sutura bem feita. Além disso, registros fotográficos seriados e uso de escalas validadas para cicatrização ajudam a mapear a evolução e auxiliar pesquisas. Do ponto de vista técnico, procedimentos reparadores como enxertos ou retalhos exigem avaliação criteriosa do leito receptor: viabilidade vascular e atividade inflamatória local determinam o sucesso. Em alguns casos, o uso de terapias adjuvantes (terapia por pressão negativa, matrizes dérmicas acelulares) pode otimizar o reparo em ambientes desfavoráveis. A escolha entre técnicas primárias ou reparação gradual também é uma decisão tática que depende do balanço entre estética funcional e risco inflamatório. A dermatologia cirúrgica centrada em doenças autoimunes também é, inevitavelmente, uma disciplina ética e comunicativa. Pacientes frequentemente convivem com dor crônica, mudanças de imagem corporal e tratamentos prolongados; o cirurgião deve alinhar expectativas, explicar incertezas e oferecer alternativas não cirúrgicas quando apropriado. A prática ideal envolve trabalho em equipe: reumatologistas, imunologistas, patologistas e especialistas em reabilitação fornecem um arcabouço que transforma intervenções isoladas em planos terapêuticos integrados. Por fim, olhando para o futuro, a integração de biomarcadores e imagens terapêuticas promete personalizar ainda mais a cirurgia cutânea em pacientes autoimunes. Testes que estimem risco de má cicatrização ou perfis inflamatórios locais poderão guiar decisões de suspensão medicamentosa, escolha técnica e necessidade de terapias adjuvantes. Até lá, a arte segue: operar com ciência, contar a história do paciente e moldar a intervenção ao corpo alterado pela autoimunidade. A dermatologia cirúrgica, nessa interseção, não apenas repara pele — reconstrói confiança e qualidade de vida. PERGUNTAS E RESPOSTAS 1) Quais são os maiores riscos cirúrgicos em pacientes com doenças autoimunes? Resposta: Infecção, cicatrização retardada, deiscência e exacerbação da doença local ou sistêmica. 2) Quando suspender imunossupressores antes de uma cirurgia dermatológica? Resposta: Depende do fármaco; coordene com reumatologia considerando farmacocinética e severidade. 3) Quais técnicas favorecem boa cicatrização em pele comprometida? Resposta: Suturas atraumáticas, minimizar tensão, opções menos invasivas e terapias adjuvantes (NPWT). 4) É contraindicado fazer enxerto em lúpus ou pênfigo ativos? Resposta: Preferível evitar se há atividade inflamatória significativa; tratar e reavaliar antes. 5) Como reduzir risco de recidiva local após procedimentos? Resposta: Controle sistêmico da doença, planejamento multidisciplinar e acompanhamento rigoroso no pós-op. 1. Qual a primeira parte de uma petição inicial? a) O pedido b) A qualificação das partes c) Os fundamentos jurídicos d) O cabeçalho (X) 2. O que deve ser incluído na qualificação das partes? a) Apenas os nomes b) Nomes e endereços (X) c) Apenas documentos de identificação d) Apenas as idades 3. Qual é a importância da clareza nos fatos apresentados? a) Facilitar a leitura b) Aumentar o tamanho da petição c) Ajudar o juiz a entender a demanda (X) d) Impedir que a parte contrária compreenda 4. Como deve ser elaborado o pedido na petição inicial? a) De forma vaga b) Sem clareza c) Com precisão e detalhes (X) d) Apenas um resumo 5. O que é essencial incluir nos fundamentos jurídicos? a) Opiniões pessoais do advogado b) Dispositivos legais e jurisprudências (X) c) Informações irrelevantes d) Apenas citações de livros 6. A linguagem utilizada em uma petição deve ser: a) Informal b) Técnica e confusa c) Formal e compreensível (X) d) Somente jargões