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Prezado(a) proprietário(a) e gestor(a) de farmácia, Escrevo-lhe com a intenção clara de demonstrar por que a contabilidade de farmácias não é apenas uma obrigação burocrática, mas uma alavanca estratégica para sustentabilidade, conformidade e crescimento. Permita-me expor, com dados práticos e uma breve narrativa ilustrativa, os elementos essenciais que todo estabelecimento farmacêutico deve dominar para transformar números em decisões seguras. A contabilidade de farmácias tem características próprias: elevado giro de estoque, grande volume de notas fiscais de entrada e saída, produtos com controle especial (anabolizantes, psicotrópicos), mercadorias perecíveis e mix de vendas que inclui medicamentos OTC, genéricos, similares, cosméticos e perfumaria. Além disso, o setor é fortemente impactado por tributos federais e estaduais (PIS/COFINS, ICMS, IPI em alguns casos), regimes tributários distintos (Simples Nacional, Lucro Presumido, Lucro Real) e obrigatoriedades eletrônicas (SPED Fiscal, EFD-Contribuições, NF-e). Esses elementos exigem políticas contábeis precisas e integradas com a operação. Do ponto de vista gerencial, destaco três frentes prioritárias: controle de estoque, gestão tributária e governança operacional. Controle de estoque significa mais do que “saber o que tem na prateleira”: exige integração entre sistema de ponto de venda (PDV), cadastro de produtos com códigos e lotes, rastreabilidade por validade, inventários periódicos e mecanismos para registrar perdas, furtos e devoluções. A metodologia de avaliação — custo médio, PEPS/FIFO — influencia diretamente margem e tributação; escolher e documentar o critério é essencial para conformidade e comparação de desempenho. A gestão tributária requer diagnóstico do enquadramento tributário mais vantajoso, monitoramento de substituição tributária e regimes especiais, além de cuidado com benefícios e créditos não aproveitados. A contabilidade precisa traduzir movimentação física em lançamentos fiscais corretos: notas fiscais em entradas, descontos bonificados, promoções, fretes e devoluções têm tratamento contábil e fiscal específico. O descuido nessa camada pode gerar autuações e passivos que comprometem o caixa. Governança operacional envolve segregação de funções (compra, conferência, caixa, conferência bancária), conciliação diária de vendas e caixa, políticas de crédito para convênios e plano de contingência para rupturas de estoque. A informatização ajuda: ERPs e soluções específicas para farmácias permitem controles em tempo real, integração fiscal e geração automática de obrigações acessórias. Para humanizar essa exposição, conto brevemente a história de Maria, farmacêutica e dona de uma drogaria de bairro. Maria sempre acreditou que o negócio era medido por prateleiras cheias e fluxo constante de clientes. Quando uma sequência de lotes vencidos e descontos mal registrados começou a corroer o lucro, ela sentiu a primeira vez o medo do caixa negativo. Contratou um contador especializado, integrou seu PDV ao sistema contábil, passou a fazer inventários mensais e a treinar a equipe para controlar lotes e promoções. Em seis meses, recuperou margem, reduziu perdas por vencimento e descobriu produtos de alto giro que poderiam receber estratégias de compra diferenciadas. A contabilidade deixou de ser “um problema” e virou bússola para decisões. Argumento, portanto, que investir em contabilidade especializada e processos é investir em longevidade. Não se trata apenas de pagar tributo em dia, mas de otimizar estoque, proteger margem e demonstrar saúde financeira para credores e fornecedores. Duas medidas práticas e prioritárias: 1) integrar sistemas — PDV, estoque e contabilidade — para elimininar retrabalho e divergências; 2) revisar trimestralmente o enquadramento tributário e políticas de precificação considerando custos, impostos e margens regulamentares (ex.: preços tabelados ou tabelas de desconto permitidas). Risco e compliance também são centrais: controle de psicotrópicos exige registros e livros específicos; irregularidades implicam em sanções da vigilância sanitária e responsabilidade administrativa. Ademais, retenção e arquivamento correto de notas fiscais eletrônicas e documentos contábeis são imprescindíveis para defesas em eventuais autuações e para obtenção de créditos tributários legítimos. Concluo esta carta com um apelo prático: trate a contabilidade como função estratégica. Estabeleça rotinas de inventário, indicadores de desempenho (giro de estoque, margem por categoria, prazo médio de pagamento e recebimento), políticas internas para promoções e devoluções, e mantenha relacionamento contínuo com um contador que entenda as particularidades farmacêuticas e a legislação vigente. Pequenas mudanças, como a padronização do cadastro de produtos e conciliações semanais, produzem efeitos rápidos no fluxo de caixa. Se desejar, minha recomendação é iniciar um plano de seis meses: diagnóstico contábil e fiscal, integração tecnológica, treinamentos operacionais e elaboração de indicadores para reuniões gerenciais mensais. Assim, a contabilidade deixa de ser um custo burocrático e passa a ser instrumento de valor. Atenciosamente, [Seu consultor em contabilidade farmacêutica] PERGUNTAS E RESPOSTAS 1) Qual regime tributário costuma ser mais vantajoso para farmácias? Resposta: Depende do faturamento, margem e folha; Simples pode ser simples e barato, mas análise comparativa com Lucro Presumido é essencial. 2) Como controlar perdas por vencimento? Resposta: Inventários frequentes, alerta por validade no sistema, política de promoções para itens próximos ao vencimento e compras baseadas em giro. 3) Como registrar bonificações e descontos de fornecedores? Resposta: Devem constar na nota fiscal; na contabilidade, ajustar custo de aquisição e base de cálculo de tributos conforme legislação aplicável. 4) Que indicadores financeiros monitorar? Resposta: Giro de estoque, margem bruta por categoria, prazo médio de recebimento e pagamento, EBITDA operacional e fluxo de caixa livre. 5) Vale terceirizar a contabilidade ou manter in-house? Resposta: Terceirizar com especialista costuma reduzir riscos e custos; in-house pode ser vantajoso se houver volume e equipe qualificada.