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Resenha persuasiva: A contabilidade de regimes próprios como pilar da sustentabilidade pública A contabilidade de regimes próprios — especialmente dos Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) — não é apenas um conjunto técnico de lançamentos e balancetes: é o sistema nervoso de um pacto intergeracional. Quando bem praticada, transforma números frios em decisões políticas responsáveis, resguarda direitos de servidores e protege o erário. Por outro lado, negligenciada, contribui para déficits ocultos, crises de liquidez e perda de confiança pública. Esta resenha propõe que a contabilidade desses regimes deve ser tratada como prioridade estratégica, não mera obrigação burocrática. Narrativamente: imagine um município médio, que por anos registrou contribuições e benefícios em planilhas desconexas. O cenário mudou quando uma equipe técnica implantou o plano de contas aplicado ao setor público, sistematizou dados atuariais e integrou informações com os sistemas de gestão previdenciária. Em poucos ciclos, identificaram-se distorções: benefícios concedidos sem provisões adequadas, fundos de investimento desalinhados ao perfil dos passivos e inconsistências entre demonstrativos. A partir daí, medidas corretivas — reavaliação atuarial, novo plano de custeio, controle de qualidade de dados — não só equilibraram as contas como também reconduziram a gestão para um rumo mais transparente e sustentável. Essa história ilustra algo óbvio: contabilidade eficiente salva direitos e poupa recursos. O aspecto técnico merece destaque: além do registro das receitas (contribuições patronais e dos segurados, rendimentos de aplicações) e das despesas (benefícios, encargos administrativos), a contabilidade de regimes próprios exige mensuração e divulgação de passivos previdenciários por critérios atuariais. A correta avaliação das reservas matemáticas e dos déficits é crucial para que gestores definam políticas de custeio e ajustes necessários. A aplicação rigorosa do Plano de Contas e das normas contábeis públicas promove comparabilidade e facilita auditorias, permitindo que a sociedade e órgãos de controle identifiquem riscos e pressões fiscais. Há mérito na perspectiva integradora: o regime próprio não vive isolado. Sua contabilidade deve se articular com a contabilidade pública municipal ou estadual, com a execução orçamentária e com as políticas de investimentos dos fundos. Essa integração evita duplos registros e oculta mentiras contábeis. Mais ainda, facilita o planejamento de longo prazo: simulações atuariais alimentadas por dados contábeis confiáveis permitem projetar cenários de envelhecimento, mudanças demográficas e impacto de reformas contributivas. Porém, a prática está longe do ideal. Entre as fragilidades mais recorrentes estão a baixa qualidade das bases de dados do servidor (histórico de contribuições, tempo de serviço, vínculos), a subavaliação de passivos por metodologias inadequadas, e a escassez de profissionais com formação técnica em contabilidade pública e atuária. Soma-se a isso a pressão política sobre índices de reajuste e a judicialização de benefícios, que elevam a imprevisibilidade dos fluxos futuros. Esses elementos tornam a contabilidade de regimes próprios um campo de alta complexidade, demandando controles internos eficazes, auditoria independente e transparência proativa. Do ponto de vista prático, recomendo algumas linhas de ação: (1) adoção plena do plano de contas e padronização de lançamentos; (2) realização periódica de avaliações atuariais por equipes ou instituições independentes; (3) melhoria contínua da qualidade dos dados cadastrais e contributivos; (4) mecanismos de governança que separem claramente a gestão do fundo, a gestão dos benefícios e a contabilidade; (5) divulgação periódica de demonstrações contábeis em linguagem acessível ao cidadão. Essas medidas não são teóricas: municípios e estados que as implementaram comprovaram maior previsibilidade orçamentária e menor contencioso. É também imprescindível adotar um discurso público que explique a natureza dos passivos previdenciários: não se trata de “despesa corrente qualquer”, mas de obrigações constituídas em face de vínculos jurídicos com servidores. Compreender isso reduz conclusões apressadas sobre cortes e ajustes, e favorece pactos sustentáveis, cuja finalidade é preservar direitos sem transferir ônus indevido às gerações futuras. Em síntese crítica: a contabilidade de regimes próprios é um instrumento de responsabilização e planejamento. Sua qualidade define se decisões administrativas serão justas e eficazes ou meramente paliativas. Investir em capacitação, tecnologia, normas e governança não é gasto, é investimento em estabilidade institucional. A resenha conclui com um apelo: gestores e controladores devem ver a contabilidade previdenciária não como custo técnico, mas como alicerce de políticas públicas responsáveis. Sem esse alicerce, toda reforma previdenciária corre o risco de ser letra morta diante da realidade contábil. PERGUNTAS E RESPOSTAS 1) O que distingue a contabilidade de regimes próprios da contabilidade geral do ente público? R: Regimes próprios exigem reconhecimento de passivos atuariais e controle específico de fundos e benefícios. 2) Qual é o papel da avaliação atuarial na contabilidade desses regimes? R: Mensurar reservas e déficits futuros, fundamentando decisões de custeio e sustentabilidade. 3) Quais são os principais riscos se a contabilidade estiver deficiente? R: Passivos ocultos, desequilíbrio financeiro, perda de credibilidade e aumento de litígios. 4) Como melhorar a qualidade dos dados para contabilidade previdenciária? R: Padronização cadastral, integração de sistemas e auditorias periódicas de qualidade. 5) Que benefícios a transparência contábil traz ao RPPS? R: Melhora governança, facilita fiscalização, aumenta confiança pública e orienta políticas sustentáveis.