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Quando a porta de vidro se abre e o estúdio enche de som — sapatilhas batendo, risos, respirações ritmadas — a contabilidade é a batida que quase ninguém ouve, mas que mantém a escola inteira no compasso. Imagine a diretora Ana, que herdou uma escola de dança onde a técnica e a paixão eram impecáveis, mas o caixa era um nó: recibos amassados, mensalidades em atraso, professores contratados como “bicos” e uma planilha de Excel que só ela entendia. Essa história é comum. O argumento que proponho é simples e urgente: profissionalizar a contabilidade não é burocracia fria; é o ato de preservar arte, garantir segurança e abrir espaço para crescer. Num relato que mistura cena cotidiana e análise prática, perceba os cheiros do estúdio — madeira polida, talco, café — e, ao mesmo tempo, as dores financeiras: sazonalidade das matrículas, turmas sublotadas e outras vazias, festas e apresentações que geram custos pontuais. A contabilidade bem feita traduz tudo isso em números inteligíveis: fluxo de caixa que antecipa meses fracos, custo por turma que mostra onde cortar ou investir, e margem por docente que revela se o preço da aula realmente cobre encargo social e infraestrutura. Não é teoria: é gestão que salva aulas, salários e a reputação do espaço. Convencer-se disso exige olhar desapaixonado. Quando Ana contratou um contador com experiência em cultura e educação, transformou bagunça em sistema. Separou contas pessoais das da escola; implementou emissão de notas fiscais para aulas e eventos; regularizou contratos de professores, definindo quando valia mais contratar como pessoa jurídica ou manter como autônomo; e passou a acompanhar indicadores mensais. O que parecia perda de tempo mostrou-se investimento: redução de inadimplência pela cobrança e transparência, acesso a linhas de crédito em momentos de expansão e segurança jurídica em fiscalizações — que, sem preparo, podem desviar energia criativa para problemas legais. A contabilidade de uma escola de dança deve ser sensível à especificidade do negócio. Diferente de um comércio, receitas vêm de matrículas, mensalidades, workshops, venda de figurinos e alugueis de espaço. As despesas oscilam entre salários (ou cachês), aluguel, manutenção do piso, seguro do acervo coreográfico, publicidade e impostos. Uma narrativa contábil eficaz descreve como cada centavo circula: a receita recorrente das mensalidades sustenta custos fixos; as temporadas e masterclasses financiadas com margem própria ou reservas de caixa; e projetos especiais são tratados como centros de custo auditáveis. Essa linguagem permite decisões conscientes — subir preço, reduzir turma, ou buscar patrocínio — sem comprometer a missão artística. Persuasivamente, argumento que a contabilidade não é apenas conformidade tributária, é ferramenta estratégica. Conhecer o custo médio por aluno permite precificar aulas com justiça e sustentabilidade; mapear inadimplência possibilita políticas de desconto ou parcelamento calibradas; controlar contratos evita passivos trabalhistas onerosos. A contabilidade também humaniza: professores que recebem salários claros e benefícios têm motivação e menor rotatividade; pais e responsáveis valorizarão uma escola que presta contas e oferece estabilidade. Práticas concretas e urgentes: 1) Separar contas bancárias e ter cartão empresarial; 2) Implantar controle de matrícula e cobrança integrado ao financeiro; 3) Emitir notas fiscais e consultar regime tributário adequado; 4) Registrar contratos de trabalho e definir procedimentos para autônomos; 5) Fazer fechamento mensal com demonstrativos simples — resultado, fluxo de caixa e balanço gerencial; 6) Calcular preço mínimo por turma considerando encargos sociais e custo do espaço; 7) Criar reserva de emergência equivalente a pelo menos 3 meses de despesas; 8) Mensurar indicadores: taxa de ocupação, receita por aluno, churn (evasão), e ticket médio. Ao final, convoco você, gestor ou gestora de escola de dança, a agir agora. A arte merece estrutura. Transforme seu amor pela dança em um projeto duradouro: contrate um profissional contábil que compreenda educação e cultura, invista em sistemas integrados, e torne a gestão parte do espetáculo. Assim, cada salto e cada pirueta serão sustentados por uma contabilidade que respeita o ofício e amplia possibilidades — desde bolsas para talentos até expansão de novas unidades. Não espere a crise para perceber que números não precisam ser inimigos da poesia: bem trabalhados, eles são os verdadeiros parceiros da criação. PERGUNTAS E RESPOSTAS 1) Quais impostos uma escola de dança costuma pagar? Resposta: Depende do regime: Simples Nacional é comum; há ISS municipal sobre serviços e contribuições previdenciárias sobre folha de pagamento. 2) Como regularizar professores autônomos? Resposta: Formalize via contrato de prestação de serviços, retenções e emissão de nota fiscal; quando habitualidade existir, considerar vínculo empregatício. 3) Qual é o primeiro passo para organizar a contabilidade? Resposta: Separar contas bancárias, registrar receitas/despesas e contratar um contador familiarizado com educação/cultura. 4) Como precificar aulas corretamente? Resposta: Calcule custo por turma (salários, espaço, insumos), acrescente margem desejada e ajuste conforme demanda e concorrência. 5) Vale a pena investir em software de gestão integrado? Resposta: Sim; integrações com cobranças, agenda e contabilidade reduzem erros, aceleram relatórios e melhoram cobrança e fluxo de caixa.