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Genética do Câncer

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A genética do câncer é a matriz molecular que transforma uma célula normal em uma célula capaz de proliferação desordenada, invasão e metastização. Do ponto de vista técnico, o câncer é uma doença do genoma: acumula alterações em sequência — mutações pontuais, deleções, inserções, rearranjos cromossômicos, alterações do número de cópias e modificações epigenéticas — que modificam circuitos celulares essenciais como crescimento, morte programada e reparo de DNA. A compreensão dessas alterações é central para diagnosticar, estratificar prognóstico e orientar terapias de precisão.
Classicamente distinguem-se três categorias funcionais de genes relacionados ao câncer. Oncogenes são versões ativadas de genes normais (proto-oncogenes) que, quando mutados ou amplificados, promovem sinais proliferativos constitutivos. Exemplos técnicos incluem mutações ativadoras em KRAS e amplificações de ERBB2. Genes supressores de tumor, como TP53 e RB1, precisam geralmente perder as duas cópias para desinibir freios do ciclo celular; sua inativação favorece instabilidade genômica. Finalmente, genes de reparo do DNA (BRCA1/2, MLH1, MSH2) mantêm a integridade do genoma; defeitos neles levam a acúmulo de mutações e a fenótipos de hipermutabilidade, que podem ser explorados terapeuticamente.
Uma distinção crítica é entre mutações germinativas e somáticas. Mutações germinativas estão presentes em todas as células e podem conferir risco hereditário (síndromes de predisposição como BRCA1/2 e síndrome de Lynch). Mutações somáticas surgem de forma localizada e impulsionam o desenvolvimento tumoral no tecido afetado. Do ponto de vista clínico e epidemiológico, isso altera decisões sobre rastreamento, aconselhamento genético e medidas profiláticas.
O paradigma atual integra o conceito de evolução clonal: tumores são populações heterogêneas de células com diferentes perfis genéticos que competem e se adaptam sob pressões seletivas — microambiente, sistema imune e terapias. Essa heterogeneidade explica recidivas e resistência: uma terapia que elimina clones sensíveis pode deixar escapar clones pré‑existentes ou induzir novas mutações que conferem resistência. Assim, o tratamento deve considerar não apenas o alvo predominante, mas estratégias combinatórias e sequenciamento temporal.
Além das mutações de sequência, a regulação epigenética (metilação de DNA, modificação de histonas, microRNAs) altera expressão gênica sem modificar a sequência e desempenha papel crítico na ativação ou silenciamento de vias oncogênicas. A integração de dados genômicos e epigenômicos fornece um retrato mais completo da biologia tumoral e abre oportunidades para terapias reversíveis, como inibidores de histona deacetilases.
No campo diagnóstico, o avanço das tecnologias de sequenciamento de nova geração (NGS) mudou o cenário: painéis dirigidos, exoma e genoma permitem identificar mutações driver, assinaturas mutacionais e carga mutacional tumoral. Técnicas emergentes como sequenciamento unicelular e análise de DNA tumoral circulante (liquid biopsy) fornecem resolução temporal e espacial do tumor, permitindo monitoramento dinâmico e detecção precoce de resistência. Contudo, desafios técnicos persistem — sensibilidade em amostras com baixa fração tumoral, interpretação de variantes de significado incerto e padronização analítica.
Do ponto de vista terapêutico, a genética do câncer fundamenta a oncologia de precisão. Inibidores de tirosina‑quinase, anticorpos monoclonais e agentes que exploram vulnerabilidades específicas (por exemplo, inibidores de PARP em tumores BRCA-deficientes) exemplificam intervenções dirigidas a alterações moleculares. A imunoterapia, embora não diretamente “genética” em sua ação, tem sua eficácia correlacionada com características genômicas — carga mutacional e neoantígenos influenciam resposta. Entretanto, a inevitável emergência de resistência genética motiva estratégias como terapias combinadas, tratamento adaptativo e desenvolvimento de agentes que visam mecanismos de resistência.
No plano preventivo e de saúde pública, identificar portadores de variantes germinativas permite medidas de redução de risco (vigilância intensificada, cirurgia profilática, quimioprofilaxia) e rastreamento em familiares. A implementação de programas de triagem genética tem impacto populacional, mas exige infraestrutura, aconselhamento e políticas para acesso equitativo.
Aspectos éticos e sociais acompanham a expansão da genômica oncológica. Questões de privacidade, discriminação por seguradoras, consentimento informado para testes genéticos e retorno de achados incidentais exigem marcos regulatórios e práticas clínicas responsáveis. Além disso, a interpretação clínica de variantes raras e a disponibilidade desigual de terapias dirigidas destacam desafios de equidade em saúde.
Em síntese, a genética do câncer é um domínio técnico complexo, com implicações diretas na detecção, classificação e tratamento. A integração de sequenciamento avançado, biologia funcional e princípios evolutivos está transformando a oncologia, transpondo um modelo empírico para uma medicina cada vez mais personalizada. Persistem, contudo, obstáculos científicos, técnicos e éticos que demandam pesquisa translacional robusta e políticas públicas alinhadas para que os benefícios genéticos cheguem de forma segura e justa à população.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
1) O que diferencia uma mutação “driver” de uma “passageira”?
Resposta: Driver confere vantagem proliferativa e dirige oncogênese; passageira é neutra, acumulada por instabilidade. Identificação orienta terapias alvo.
2) Como a análise genética influencia a escolha terapêutica?
Resposta: Revela alvos moleculares, vulnerabilidades (ex.: BRCA→PARP) e biomarcadores de resposta a imunoterapia (carga mutacional).
3) O que é biopsia líquida e qual sua utilidade?
Resposta: Detecção de DNA tumoral circulante no sangue; útil para monitorar resposta, detecção precoce de recidiva e identificar resistência sem biópsia invasiva.
4) Qual é o papel da genética nas síndromes hereditárias de câncer?
Resposta: Identifica portadores de alto risco (BRCA, Lynch), possibilita rastreamento intensificado e intervenções preventivas em familiares.
5) Quais são os principais desafios éticos da genômica oncológica?
Resposta: Privacidade de dados, consentimento, acesso equitativo a testes/tratamentos e manejo de achados incidentais.

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