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Ao Excelentíssimo Gestor das Feiras Livres,
Escrevo como quem percorre cedo as bancas, com o cheiro de manhã e de fruta ainda na memória, para reivindicar algo que é ao mesmo tempo técnico e poético: a contabilidade das feiras livres. Não falo apenas de números em planilhas; falo da contabilidade das histórias — das mãos que negociam, dos trocos que revezam destinos, da economia que pulsa no solo aberto. Como repórter que já anotou preços e como contador que entende códigos, proponho uma visão que una rigor fiscal à compreensão humana.
A feira é um organismo. Ela respira pela venda do tomate e do peixe, pela informalidade que protege e pela formalização que impõe disciplina. Jornalisticamente: dados do IBGE e das prefeituras mostram que milhares de feirantes sobrevivem fora das malhas formais, sem emissão de nota fiscal regular, com fluxo exclusivamente em espécie. Essa realidade cria opacidade contábil, mas também revela uma resiliência social que os números frios não alcançam. Literariamente, essa tensão é uma luz que refrata: a economia informal é canto e resistência; tecnicamente, é fonte de evasão fiscal e vulnerabilidade empresarial.
Argumento, pois, que contabilidade de feiras livres não deve ser imposição que parte do alto, mas construção coletiva. Deve contemplar três eixos: registro acessível, educação fiscal e instrumentos financeiros adequados. O registro acessível passa por formatos simplificados — livros caixa físicos padronizados e aplicativos móveis com interface gráfica, linguagem de bolso, que traduzam fluxo de vendas, custos diários, e saldo ao fim do dia. A tecnologia, desde que leve e de baixo custo, não substitui o diálogo: é ferramenta para fortalecer confiança entre feirante e Estado.
A educação fiscal tem de ser narrativa e prática. Oficinas nos próprios corredores da feira, com folhetos em linguagem popular e simulações de cenários (quando contratar um empregado, quando optar pelo MEI, como emitir nota avulsa), democratizam o acesso à informação. Jornalisticamente isto significa dados: um percentual significativo de feirantes desconhece benefícios do Simples Nacional ou do MEI, o que impede que se beneficiem de previdência e crédito. Literariamente: informar é devolver ao feirante a noção de futuro, mostrar que suas moedas acumuladas podem virar proteção social.
Instrumentos financeiros adequados implicam microcontas, sistemas de recebimento eletrônico adaptados ao fluxo das vendas e linhas de crédito pensadas para sazonalidade. A contabilidade de uma feira não é estática; é ritmo. Precisa de soluções que ofereçam capital de giro para épocas de entressafra e registros que suportem auditorias sem esmagar a rotina. Propõe-se, portanto, um sistema híbrido: registros físicos complementados por relatórios mensais digitais simplificados, geridos por uma associação de feirantes ou por um agente contábil comunitário.
Ademais, a formalização deve caminhar junto da proteção. Quando peço que o Estado exija nota, peço que o Estado também ofereça acesso à seguridade, à microseguros e a assistência jurídica simples. Um feirante formalizado tem potencial para crescer e, com isso, incrementar a arrecadação municipal. Mas se a formalização for apenas punitiva, cria-se evasão, perda de renda e desvio para mercados alternativos. Do ponto de vista jornalístico, é preciso acompanhar indicadores: formalização x renda média x arrecadação, para avaliar políticas públicas.
Finalmente, proponho práticas concretas: 1) implantação de pontos de apoio contábil nas feiras, com horários fixos e contadores voluntários; 2) desenvolvimento de um manual de contabilidade de feira, redigido em linguagem simples e com exemplos práticos; 3) parcerias entre prefeitura, cooperativas e instituições financeiras para ofertar microcrédito sazonal; 4) teste-piloto de um app off-line que registre caixa diário e gere relatório mensal pronto para imposto; 5) campanhas educativas com rádio local e cartazes.
Ao concluir esta carta, peço que não se leia nela apenas técnica, mas afeto. A contabilidade que proponho é a que preserva sabores, reforça laços e traz transparência sem violência. É possível conciliar a poesia das bancas com a precisão fiscal. Há ganhos mútuos: segurança para o feirante, previsibilidade para a administração pública e fortalecimento de uma economia que pulsa nos bairros. Solicito, portanto, que se considere a criação de um programa municipal de contabilidade de feiras livres, pautado por simplicidade, inclusão e eficácia, e que, sobretudo, escute quem vive a feira na manhã fria e no fim da tarde quente.
Atenciosamente,
Um contador observador
PERGUNTAS E RESPOSTAS
1) O que diferencia contabilidade de feiras livres da contabilidade comum?
Resposta: Volume pequeno e diário de transações em espécie, alta variabilidade, informalidade e necessidade de registros simplificados e práticos.
2) Quais regimes fiscais são mais adequados para feirantes?
Resposta: MEI e Simples Nacional costumam ser adequados, pois reduzem carga tributária e burocracia; escolha depende de faturamento e atividade.
3) Como implementar registros sem tecnologia avançada?
Resposta: Livro caixa padronizado, planilhas simples em celulares básicos e apoio presencial de associações ou contadores comunitários.
4) Quais benefícios da formalização para feirantes?
Resposta: Acesso a previdência, crédito, microseguros, mercados maiores e segurança jurídica.
5) Como o poder público pode apoiar?
Resposta: Oferecendo formação, pontos de atendimento contábil nas feiras, aplicativos off-line e linhas de microcrédito adaptadas à sazonalidade.
Ao Excelentíssimo Gestor das Feiras Livres,
Escrevo como quem percorre cedo as bancas, com o cheiro de manhã e de fruta ainda na memória, para reivindicar algo que é ao mesmo tempo técnico e poético: a contabilidade das feiras livres. Não falo apenas de números em planilhas; falo da contabilidade das histórias — das mãos que negociam, dos trocos que revezam destinos, da economia que pulsa no solo aberto. Como repórter que já anotou preços e como contador que entende códigos, proponho uma visão que una rigor fiscal à compreensão humana.
A feira é um organismo. Ela respira pela venda do tomate e do peixe, pela informalidade que protege e pela formalização que impõe disciplina. Jornalisticamente: dados do IBGE e das prefeituras mostram que milhares de feirantes sobrevivem fora das malhas formais, sem emissão de nota fiscal regular, com fluxo exclusivamente em espécie. Essa realidade cria opacidade contábil, mas também revela uma resiliência social que os números frios não alcançam. Literariamente, essa tensão é uma luz que refrata: a economia informal é canto e resistência; tecnicamente, é fonte de evasão fiscal e vulnerabilidade empresarial.

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