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EBOOK Anlub

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André Anlub
Imaginação 
Poética
1ª Edição
São Paulo
Grupo Editorial 
Beco dos Poetas & Escritores Ltda.
2011
www.becodospoetas.com.br
www.literaturaperiferica.com.br
3
Capa :
Marcio Marcio do Nascimento Sena
Diagramação:
 Marcio Marcio do Nascimento Sena
Organização dos Texto:
 Maria Jeremias dos Santos
 
 Imaginação Poética -- 1. ed. -- São 
Paulo :
 Grupo Editorial Beco dos Poetas & 
Escritores,
2011.
 Autor: André Anlub
 
 ISBN 978-85-62337-24-6
 
 B869.1 – Poesia brasileira
4
Curriculum Poético*
Começo pelo modo mais fácil
Entrego o meu ser por inteiro
Espero uma solução instável
Busco o dito amor verdadeiro.
Nunca fui exigente demais
Também não sou perfeccionista
Visto a camisa da paz
Não vivo a vida seguindo uma lista.
Não traio e não suporto traição
Atraio para mim uma forte energia
Dispenso qualquer tipo de apresentação
No sexo faço a dois a minha orgia.
Amo a natureza em geral
O mar, sol, lua o sul e o norte
Penso que recíproca é uma coisa normal
Não temo, nem subestimo a morte.
5
Dinheiro para mim não é tudo
Contudo, tê-lo não faz mal a ninguém
Grandeza muitas vezes é absurdo
Humildade sempre receberá nota cem.
Não sou nenhum vegetariano
Amo um bom filé mignon
Faço aniversário todo ano
Não minto minha idade em vão.
Não me importo com cor, religião ou time
Sou uma pessoa fácil de conviver
Não me chateio se falam que meus versos não 
rimam
Mas fico triste se a pessoa não ler.
"Gosto de escrever, poesia, pintar, tocar 
bateria, gosto de viver longe da vida vazia, 
Faço das artes, minha orgia.”
*do livro Poeteideser
***
6
Um Pouco “d’eu”
Sou um personagem dramático em minha vida
Aceito todos os dias novas pessoas
Tento ter deveres e muitos direitos
Piso sempre em terras novas
Em vez de curar, evito feridas
Sinto o amor em verso e prosa
Sei que nem sempre tudo é um mar de rosas
Por isso procuro ter diversas saídas
Brinco, rio, dou um tapa na morte
E com sorte ela vai e não volta
Impossível mesmo é perder a alegria
Queria consertar no mundo todos os cortes
Não largo jamais a minha caneta
Com certeza tento ir pelos caminhos retos
Mas não ligo se houver curvas na minha meta
Quero ter mulher, filhos e muitos netos
Respeito-me e o mesmo reflito em todos
Humildade posso dizer que tenho um monte
Coloco a fé acima de tudo
Bom dia, boa tarde e boa noite.
***
7
Inocente e Réu
Onde andei, por caminhos difíceis, sombrios e 
íngremes
Descobri a esperança, o renovar de cada 
andança, caridades e crimes
Passeando e observando no caminho, pássaros 
que vão e vem com gravetos no bico
Lembro de outras épocas, ninhos de cantos e 
gemidos.
Uma vida de baixos e apogeus.
Sinto saudade, sinto o perdão que outrora 
não conhecia
Aprendi, durante esses anos vividos, a 
amar e saciar a quem me sacia.
Doar-me mais e cobrar menos, a ser moderno 
amando o eterno, ser bom aprendiz
Aprendi a controlar minha raiva, ter paciência, 
pisando em ovos passando feliz.
8
Nesse caminho, a luz de fogos, declamo 
mansinho os versos teus
O vento mexe as margaridas, campos de 
trigo, a minha vida, baú de amigos.
Em outra vida eu fui um rei, ou fui um 
príncipe, bobo da corte ou um plebeu
Quem sabe hoje eu te visito e faço um bolo aos 
sons antigos.
Só tu e eu.
Na paisagem de tua janela, de frente ao 
lago, o pôr do sol
E no crepúsculo, ouvindo os sapos, os 
violinos, clave de sol
Sinto o toque divino, no verde e no azul 
piscina do céu
Vejo que ainda sou menino, sou desde 
pequeno, inocente e réu.
***
9
Insensatez
Sentindo na garganta a paixão queimar
Fel que traz a cura e dá sustância
Tsunami de alento em abundância
Sinto que sou escravo do próprio amar.
Por vezes um rei sem meu reinado
Por horas cão, sem osso e dono
Ama sem carecer ser tampouco amado
Doa a alma velando seu doce sono.
Mas na inocência de uma criança
Vi-me protegido do mel ao favo
Por fim cobrindo-me o corpo de esperança.
E o fardo que carrego sem rezinga
A insensatez do meu ato, sangue que pinga
Fazem poças, sujam as mãos que já nem lavo.
André Anlub
***
10
Diamantes de Sangue
Como um presente esperado
Nas mãos, aquecidas com luvas
Estendidas e espalmadas
Lisas e leves como plumas.
Alcançam um inferno estrelado
Abafam gemidos e gritos de dor
Que por fim, pensam que toca o amor
Coroam um rei e seu reinado
Ouvindo o mais terrível louvor.
Um diamante vindo da África
De suor, de sal e sangue
São pedras, a saga de uma gangue
Que alimentam, com a fome, sua máfia.
O povo, com humildade e inanição
Comete em si próprio, eutanásia
Perde o orgulho para a ambição
Não vê que de certas bocas saem falácias
E anda, por pura vontade, na contramão.
11
E assim, mais uma vez explorado
Sem arma, comida e força
Um continente, que o contente ficou atolado
Tem o tamanho, a dimensão da sua forca!
Eternidade da palavra
É surreal! Assim como a vida
Inspiração imaculada, poesias e uni versos
Abarcando campos, lagos e hipotéticas estórias
Curando cortes, desenhando e apagando 
feridas.
Sento-me a beira de um alto precipício
O crepúsculo gentilmente e sempre me 
acompanha
Pego o bloco, meu ofício de um todo fictício
Delineado, não há política tampouco barganha.
Inteligência não é democrática, nem deve ser
A pura verve, que nos toca o ser
Tornar-se-á estática e criação
Ao surgir de uma bela ave avermelhada
Remeteu-me a uma estrada, inventiva jornada
Que de pés descalços, sou um sheik, menino 
ou ancião.
***
12
Cárcere da Criação
Na imaginação madura que explode em uma 
linha 
Que mesmo velha renasce todos os dias
Na solidão insegura, que mesmo a perigo se 
fortalece com ela
Os “zás” das canetas quentes são os “ás” nas 
mangas frias.
O poeta perpetuado nas idéias e criações
Faz de impurezas e mazelas em seu nobre 
ganha pão.
Na mais absoluta certeza do amor que sente na 
escrita
Faz dos sons recitados, iluminadas orações.
13
Absorve do mundo, do dia a dia, histórias e 
magias
Juntando a verdade com o medo da mentira 
premeditada
Se sente o moribundo mais vivo, espelho do 
íntimo de todos
Voando em um mundo próprio, se perde e se 
cobra no nada.
Mundo surreal de ouros e de sobras
Fita um objetivo, agradar sem ser o óbvio
Por muitas vezes consegue, e vai além, se 
desdobra.
Sendo valorizado, alimenta seu ego persistente
Ovacionado, por vezes preso a criação
Se sente em cárcere, viciado e doente
Mas no final é o medo, apego, inspiração.
***
14
O Oásis de cada Dia
Deseje-me sorte em voz alta
É como carregar o embuste no colo
Cegue-me com areia nos olhos
Envenene-me coma saliva mais farta.
Consigo a solidão de um espinho
Tenho a companhia de uma flor
Sou seu brinquedo de menino
Esquecido em qualquer gaveta
Com uma etiqueta, escrito “dor”.
Lua e estrela, combinação astral.
Brilho e beleza, só falta você.
No espelho d’água, trilogia perfeita
Tudo absolutamente normal.
É a delicadeza que constrói você, seu quebra 
cabeça
É a pureza que circula por dentro
Na certeza de estar certa na seta que acerta o 
alvo
Tudo no seu devido momento.
Agora vou indo com seus votos e coragem
Embriagado de otimismo e muita energia
Em uma vida que passa a minha frente como 
uma miragem
Buscando o oásis nosso de cada dia.
15
Um Futuro Ser Completo
Saber viver, saber esperar
Tudo no contra tempo da situação
Montar no mundo e cavalgar
Largar o cogente por só querer.
Se o tempo é sua Nêmesis
Levante e corra em qualquer direção
Saia do ostracismo de um abrigo
Essa solução é só enganação.
No adjunto de tudo que te faz feliz
Vale a pena o tempo perdido
Se por um lado desce ralo abaixo
Por outro alimenta sua alma.
Com sabedoria, tempoe muita calma
O mundo estará em suas mãos
Com paz, integridade e humildade
Tornar-se-á muito mais do que aprendiz.
Ser um monge na pura meditação 
Paira o silêncio ao se encontrar
Passeando ao redor do espaço tempo
Sem sequer ter hora para chegar.
Totalmente de bem com sua vida
Sabiamente convida ao vivo o bem
Com sua mente muito bem na vida sã
Para conviver sabiamente com sua vida zen.
***
16
Um Moinho
A travessia é dura
Dia de chuva, noite de frio
Dias bem quentes, noites sombrias.
Nesse caminho confuso
Nessa estrada sem placas
Entre o reto e o obtuso
Todos afogam suas mágoas.
Com a bota furada
Pisando em barro ou em pedra
Pronto em pé ou na queda
Tiro o melhor na caminhada.
Se encontro uma rocha grande
Serve para descansar
Se encontro um mar
Sou filho de navegante.
17
Se a fome quiser ser minha sombra
Como um pedaço de pão
Se não saciá-la
Posso matar um leão.
Tudo posso e tenho
Se a força não me faltar...
Como um moinho de água...
Que mesmo se o poço secar...
Usa o vento pra roda...
Nunca parar de girar.
***
18
Enxugando os Prantos
Toda a paz do mundo caindo em gotas de 
chuva
O amor em plena abundância
Renovada a fé e a esperança
Saúde dando aos montes em cachos de uva.
O ciclo de felicidade dando voltas no infinito
A cada segundo sorrisos e gargalhadas
Desarmadas todas as facções e exércitos do 
planeta
Todos os soldados com roupas de banho 
fazendo um churrasco.
Só com uma luneta posso ver o mau que está 
no nada
Crianças sem fome ou sede e com grande 
futuro
Drogas, maldade e a raiva morrendo afogadas
Vão-se abaixo preconceitos e muros.
19
Pessoas que estavam perdidas sendo 
encontradas
Hinos de todos os países poeticamente 
cantados
Fazendo assim valer gastar toda a saliva
Presídios se tornando museus e teatros.
Retratos e pinturas só de natureza viva
Guernica se transforma em um belo abstrato
A censura se foi e desceu do seu salto
Não existe rabisco, toda arte provém de um 
traço.
Todos têm, na vida, o direito de subir em um 
palco
Poetas aparecem por todos os cantos
O ego e auto-estima do homem se perdem no 
alto
Poesias trazendo alegria e enxugando os 
prantos.
***
20
Folhas Amassadas
Toquei a sua face e enxuguei o seu pranto
Limpei seus lábios que mordeu e sangrou.
Desfiz as tranças feitas para me salvar
Descer do nosso castelo em chamas
O farto fogo que você ateou.
Tudo muito claro, poesia em jogo
Mais uma vez do jeito que almejou
As rimas muito falhas, folhas amassadas
Parecem às toalhas sujas que por fim deixou.
O vento bate a porta, a torta ficou pronta
A chave cai ao chão, o fogo apagou
Demonstro minha fraqueza, alguém logo me 
aponta
Procuro em todo canto o que você já achou.
Seus dedos tocam minha face de coitado mor
Esnoba-me bem baixinho ao pé do ouvido
Trata-me infeliz como qualquer individuo
Na sua vida sempre sou de ruim a pior
Os poemas saem sujos, magníficos detalhes
Bandeiras perfuradas pelas flechas dos cupidos
Carrancas dos navios, belos entalhes
Guerreiros Nórdicos não lhe darão ouvidos.
***
21
Cotidiano
Com idade de ser um homem feito
E com defeito que carregamos no peito
Faço uma rima com carinho e verdade
E não imagino como seria de outro jeito
E não aceito essa tal desigualdade
Com respeito durmo tranqüilo no meu leito
E acordo às cinco horas com muita vontade
Faço um verso para alegrar o meu dia
Vou correndo pra bendita labuta
Não vou xingando igual uns filhos da truta
Vou contente sabendo que mesmo tardio
O meu salário aparece no bolso
O meu esforço jamais é a esmo
Minha índole continua um colosso
Por um momento paro e escrevo
Por um segundo paro e te ouço
Dá-me um abraço e me deseje bom dia
Pego a marmita e encho de novo
Carne moída e um bocado de ovo
Para dar sustância e também energia
Logo às seis horas largo esse batente
Vou ao dentista arrancar mais um dente
E chego em casa com uma fome danada
Marco presença com minha doce amada.
***
22
O Sertão vai virar Céu
Com os pés na terra ele se sente em casa
Enxada na mão, sol como irmão
Na fome, sede, cedo e na raça
Dá bom dia pra cactos, filho do sertão.
Na luz do lampião lê histórias de lampião
No chão rachado, passado e presente na guerra
Sabedoria lhe dizendo, sempre alcança quem 
espera
Uma massa de gente pobre que nem sempre 
luta em vão.
Enquanto descansa pouco, pouco ganha pão
Alguns calangos o observam, outros vão pro 
fogo
Assim se vai levando dia sim sem dia não
Não se pode dar ao luxo de perder esse jogo.
Nessa vida em aberto, todos os dias são 
incertos
No milho na cana, na cana e rapadura
Muitos pés descalços na chuva de insetos
Tendo a força, garra e solidão como armadura.
***
23
A Mágica do Versejar*
De tudo que já vi
Uma coisa me comove
Esse diz que não diz
Esse prende e absolve.
Paro e fico pensando
Pego a caneta e "zás"
Encéfalo trabalhando
Um navio deixando o cais.
Entro em alto mar
Letras aparecem do além
Velas vou içar
Meu momento zen.
Saem algumas escritas
Entram novas lembranças
Desabafos vomitam
Um novo versejar se alcança.
Deixo a maré me levar
Não tenho mais remos nem velas
Já sei aonde ancorar
Porto seguro quimera.
*do livro Poeteideser
***
24
Armageddon*
Nunca um céu se fez de feio
Nunca houve uma cor de fogo
Muitos galopes se ouviam à distância
Eram quatro homens ao todo.
Ventos fortes surgiram num estalo
Tsunamis do além
O mundo esvaindo-se para o ralo
Uns orando para outrem.
Os pecados vindo à tona
Abandono dos vinténs
Correria, fogo e ferro
Almas perdidas vagueiam
Feridas se abrem
O belo se faz feio.
É a tristeza que invade
O fim não está próximo
Já chegou e fez moradia
O dia não mais existe
Faces de melancolia.
25
Cães sem dono vagando nos destroços
Idosos tentando se equilibrar
Pessoas fazendo menções aos mortos
Cogumelos de podridão a brotar.
Uns saqueavam o comércio
Outros deixavam para lá
Olhos ficando cegos
Elos a se quebrar.
Todos no mundo são réus
A bola se partindo em duas
Os cavaleiros sorrindo no céu
Sempre acha quem procura.
*do livro Poeteideser
***
26
Hospício*
Salientaram no hospício
Ninguém iria comer
Injeções na testa
Mais que um sacrifício
Uma doutrina errada
Condições terríveis
Faces amarguradas
Pessoas mais que sensíveis
Não tinham valor algum
Exclusos da sociedade
Pessoas novas e de idade
Somavam um mais um
Indigentes, obscenos
Cenas do dia a dia
27
Pretos, brancos, morenos
Sujeitos a revelia
Desprezados pela verdadeira família 
Inúteis sem poder reciclar
Cães expulso da matilha
Sem ter mais em quem amamentar
Aos montes iam se definhando
Em um frenético vai e vem
Homens mortos andando
Passos calmos pro além.
*do livro Poeteideser
***
28
Memórias da Guerra (Parte I)
Prólogo
Em meio a fumaça cinza com um toque 
avermelhado
Em baixo de um céu que é testemunha
Vejo ferros retorcidos, destroços
Vejo corações calados, que gritam
Vejo o tempo congelado.
Em meio as ruas esburacadas
Vejo pertences abandonados
Abrigos
Vejo um rio frio
Rio de cartuchos que tiveram seus projéteis 
deflagados
Todos com nomes, um objetivo
Calar um peito inimigo
Um corpo latente a ser alcançado
Silenciando-o
Roubando-lhe sonhos.
29
Como o corte de uma navalha
Como quem tira o doce de uma criança
Como quem tira o amor e a esperança
Em troca de uma medalha.
“No amor e na guerra vale tudo, na poesia não 
é diferente, todos os três fazem parte do nosso 
mundo basta ser sábio e não ser prepotente”
***
30
Memórias da Guerra (Parte II)
A expansão do mundo Grego
Alexandre III, da Macedônia
Guerreiro, príncipe e rei aos vinte anos
Braço forte, coração valente
Morrer com trinta e três anos não estava nos 
seus planos.
Foium conquistador do mundo antigo
Teve Aristóteles como amigo
Nunca perdeu uma batalha sequer
Os persas eram o alvo inimigo.
Era um homem de visão e inteligente
Tentou criar uma síntese entre o oriente e o 
ocidente
Egocêntrico e sanguinário
Admirava as artes e a ciência de toda gente.
31
As suas guerras eram em suma por território
Algumas vezes por recursos
Procurava ser notório
Galgava sua glória.
Houve as batalhas de granico, hidaspes e 
gaugamela
Todas com intuito de derribar
A vitória ele clamava por ela
Mas foi a babilônia que veio a o derrubar
Sua morte uma incógnita
Não se sabe se foi veneno, febre ou malária
Seu grande amor havia morrido
Morreu junto com o coração partido.
***
32
Memórias da Guerra (Parte III)
Guerra de Troia
Pelos livros, pelo filme, ela é muito conhecida
Descrita pelo poeta épico Homero no romance 
“Ilíada”
Foi um conflito bélico entre gregos e troianos
Motivado pelo rapto da rainha de Esparta.
Como dizem que na guerra, morre ou mata
Os gregos atacam troia para recuperar Helena
A paixão de uma pessoa que o fez seqüestrá-la
Páris, príncipe de troia, criou toda essa 
tormenta.
A guerra dura dez anos com troia sitiada
Abaixam-se as armas e os gregos usam a 
cabeça
Pensando em ganhar a guerra demonstrando 
sossego
De repente surge uma idéia, um pouco 
inusitada
Ulisses cria o “cavalo de tróia”
Realmente um presente de grego.
33
Dentro do falso ventre da estátua
Estavam muitos sedentos soldados
Com sede que não seria de água
Saíram matando adoidados.
Helena retorna a Esparta
Morrem Heitor e Aquiles
Heróis, inimigos de espada 
Por causa de um rabo de saia
Na guerra se morre e se mata.
***
34
Memórias da Guerra (Parte IV)
Gengis Khan – Conquistador Mongol
Nasceu com o nome de Temudjin
Virou o senhor dos senhores
Entre muitos sonhos e lendas
Um lobo cinzento devoraria o planeta.
Eram mitologias xamânicas respeitadas
E por um breve e próspero período
Houve um controle sobre uma Mongólia 
unificada.
Treinado desde jovem como arqueiro montado
Com grande habilidade como todos os 
mongóis
Comandava o cavalo apenas com os joelhos
E as flechas voavam com uma fúria atroz.
35
Foi escravizado e levado até a China
Foi comprado pelo imperador chinês
Mas um belo dia ele foi resgatado
Por vários clãs ele foi apoiado.
E criou as “leis dos mongóis” para ter sua vez.
Na batalha contra Jamukha teve um temporal
Todos os mongóis tinham medo de raios
Mas ao ver que Temudjin não temia o tal
Jamukha rendeu-se nessa batalha final.
Ele virou Gengis Khan aos quarenta e cinco 
anos
Expandiu a Mongólia até não poder mais
Morreu satisfeito e com um filho sagaz
Que depois da Muralha da China, chegou à 
Sibéria
Dizem que fez a guerra para depois vir à paz.
***
36
Meras Quimeras
Não me venhas com hecatombes
Acordando pelas manhãs frias, no mundo, 
sozinha
Quero, no ínterim, que se sintas minha
Acarretes amor e ódio que de certo escondes.
Não desarrimes as poesias que te escrevi
Nem tampouco a ferida que vivi
Expostas nessas palavras tortas e sinceras
Que gritas bem alto serem meras quimeras.
Faça-me teu escravo, teu ar
Envolva-me no desaguar de tuas lágrimas
Sendo em visão ébria, tua orgia em par.
Deixe-me vaidoso por te servires
Honrado, sem minúsculas lástimas
Somente um homem completo por tu existires.
"Não acredite em tudo que lhe falam, eu tenho 
boca desde que nasci e nunca fui a Roma"
***
37
Nossos Litígios
Pelos nossos próprios litígios
Tentei organizar nossas vidas
Apagando insensatos vestígios
E acendendo e excedendo as saídas.
No doce ninho, que mesmo em sonho
Onde criamos rebanhos, rebentos
Em águas límpidas que fazem o banho
Depurando, em epítome, nossos momentos.
Amontoando em vocábulos incertos
Vejo e escrevo, em linhas tortas, n'alma
Optando por esse amor na justa calma
Nas brigas que expulsam demônios e 
espectros.
38
Mas na sensatez do amor verdadeiro
Vi-me lisonjeado por ser o primeiro
O real, fiel e o ardente.
Sou o qual lhe agarra a unhas e dentes
Sendo o mais perfeito, da paixão, mensageiro
Andando feito ébrio a passos doentes.
Mesmo se somasse todos os números e datas
Secassem todas as águas do planeta
Encharcando sua face que no ápice da 
tormenta
Sempre responde com lisura imediata.
O ardor do âmago do seu ser
Acabou escrevendo minhas linhas
Nesse bem querer de minhas rinhas
Só, e mesmo cego, posso lhe ver.
***
39
Olhos Alagados 
Eu podia ser o sol 
Iluminar teus caminhos 
Alegrar teus ébrios desatinos 
Teu calor, inferno bom 
Desatar de nós os nós. 
Talvez ser a lua 
Mensageira da luz do astro rei 
Limpar uma alma, dar vida 
Uma placa de metal, pela ferrugem carcomida 
Pelo tempo, pelo sal 
Tornando-a nova 
Ser, e só ser, um ser sentimental. 
Uma inspiração poética 
Da vida, da morte 
Teu colo, teu norte 
Calmaria e vendaval. 
Um peculiar timbre de uma ave 
Afastando os prantos 
Nos olhos, nos campos 
Das portas abertas 
Uma só chave. 
40
Um peixe 
Desvendando os segredos dos navios 
naufragados 
Ir bem, além, fundo 
Onde a luz do sol não chega 
Onde a lua não influencia 
O som das aves não se ouvia 
Perdendo a bela primazia 
Agora, aos meus prantos, os olhos alagados. 
"Só o amor constrói, mas todos temos que 
estar preparados para os castelos de areia!" 
***
41
Natureza é Medicina
Minh’alma descobriu onde descansar
Um alívio das barbáries do dia a dia
Achou retiro, estadia
Agora brinca n’um parque a luz do luar.
Minh’alma é toda preguiça
Assentada em uma rede de paz
Olha pro horizonte e avista
O vôo das aves de rapina.
Saboreando a ceia mais farta
Sob olhares de dóceis animais
Use suas mãos e reparta
O mel do amor que aqui há.
Melhor que a natureza como pronto-socorro
Não existirá em quaisquer dimensões
Vive em sua beleza e adornos
E os ventos e águas que tocam com as mãos.
Médici sarati, natura curati
É uma ajuda aos reis com o seu “ganha pão”
Esquecer dos médicos seria um disparate
Medicina e natureza fazem grande união.
***
42
Cria
Vestes minha veste e gritas
Caso do acaso de um inóspito afeto
Assombrando-te, por entre um jardim de flores 
tépidas
Girassóis que miram aos quatro cantos.
És minha cria, própria luz, em mim sem 
sombra
Em ti, pura certeza, sempre tardia
Procuras em todos, a rebeldia
Encobres-te o corpo todo em santo manto.
Apontas-me, o dedo em riste, a face triste
Dizendo que és só minha, afeto e escrava
Amante da zombaria, uma serpente
Comes a maça da própria sorte.
No teu neto, que sem pai, habita a dor
Prelúdio de momentos de sacrifício
Ofício de morrer, viver sem graça
Filha és minha vida, atonia e morte.
***
43
Entrego-me
Procurei pelo teu rosto na escuridão da 
saudade
Procurei pela tua voz em cantos de pássaros 
mudos
Tua presença é minha quimera, meu bem estar
Frutos de uma árvore bela, primavera, razão de 
amar.
Por entre pequenas parreiras, bebo teu vinho, 
doce que mancha
Piso em poças d'água, fazendo ondas, que 
refletem meu sorriso
Em um segundo, por dentro de nuvens limpas, 
estou em um céu
Voo, fazendo curvas, em um aviãozinho de 
papel.
44
Sem rumo e com força
Sem dor ou remorso
Sou homem e sou moço
Sou puro colosso
Livro-me da fossa.
Nesse mundo, que limpo do imundo, se desfaz 
em desejos
Roubo-te um beijo, sou um moribundo que cai 
no teu brejo
Quero-te faminto, sou animal de circo, por fim 
te obedeço
Teu colo é meu berço, me chamas de filho, 
tudo isso eu mereço!
***
45
Mamma
Ao som de Bohemian Rhapsody
Poderia ouvir um mundo de dor
Mãe, é tamanho o teu amor
Consolas, aqueces, em puro afago.
Tirando-me do coração amargo
Depositando em um zen zelo, tua força
Viajo entre narcisos amarelos
Jardins de sorrisose ardor
Pegue-me novamente em teus braços
Assim eu volto a ser tua criança
Voltando essa grande aliança
Reconstituindo todos os pedaços
Em suma, o carinho que não finda
És, por ti, sempre bem-vindo
Pousa delirante em meu peito
Faz-me, quase sem jeito, tua vida.
***
46
Crente de Amor
Embriagado do puro sumo do alcatrão que habita 
em nuvens
Nuvens de imaginação, do cume ao brejo
Sinto o desejo, impregnado em absurdos e 
concretos
Alcanço as engrenagens de suas carnes, ossos, suas 
ferrugens.
Crio-me e sigo em frente pelo motivo que vicia
Essa arte de estar a sós com você
Cheiro de incenso, vida, relíquia, sorriso e prazer
Rebento que sacia, somente paz, minha cria não 
em vão.
Mais uma vez grito alto
Mesmo sem motivo, mergulho e salto
Das mais puras mentiras, falácias... Esnobo
Explodo, escroto, um canhão.
Nas verdades que saem de sua boca pintada
Obra de arte do mais talentoso artista
Faz com apenas dois traços o tudo do nada
Deixa em grãos de arroz o caminho, a pista!
Mais uma vez sussurro ao ouvido
Duvido que escute, mas no fundo entende
Sabe que o amor que eu mesmo vomito
É minha fé, absolutamente... Ser crente.
***
47
O “Borogodó” da Colombina
Voas minha pombinha, é mais um carnaval
Nos salões, nas ruas, marchinha, hinos e gritos
És pomba da paz, alegria dos espíritos
Levas nas asas a festa, esse nosso rito.
Somos todos iguais
Foliões apertados nos becos
O cheiro da alegria, contagia
Nos corpos suados e secos.
És felicidade, e da cidade tudo além
Fazes a festa com sumo gosto
Como um soldado em seu posto
Só queres feliz ir no trem.
Sabes que a alegria tem fim
Como a existência de uma soberba rosa
Pegues nas mãos de um querubim
E faças da festa bela prosa.
E por fim, mesmo que acabes seu louvor
Passaste todas as horas em transe
Os dias, sonhaste em puro êxtase
Viveste um paraíso interior.
***
48
Minha Escrita*
Peguei a caneta
Minha lança verdadeira
Comecei a rabiscar
Coisas sérias, besteiras
Algo triste, algo alegre
Frases simples, outras não.
Dia a dia me persegue
Sublinhando a solidão.
De tanto escrever verdades
De tanto nelas acreditar
O papel é paisagem
A tinta um pássaro a voar.
Junto as letras, formam idéias
Junto idéias, meu viver
Os meus passos, centopéia
Levaram-me a escrever.
49
Uma paixão inofensiva
Difundida no querer
Muitas vezes explosiva
Jeito alegre de sofrer.
Sofrimento prazeroso
Pessoal e corriqueiro
Muitas vezes saboroso
Doce, brigadeiro.
Nas vogais, nas consoantes
Nos acentos, nos acertos
Bem melhor do que era antes
Apagou o meu sofrimento.
*do livro Poeteideser
***
50
Minha Escrita II
De repouso entre um suspiro e outro
Acamado entre o amar e ser amado
Coração bate forte sendo fraco
Pensamentos voam soltos, indo alto
Minha escrita está submersa em azul anil
Com sentimentos verdadeiros e inventados
Vagueia entre o real e o senil
Persegue o concreto e o abstrato
Língua solta e comprida
Profere idiomas mal falados
E alados levam poemas declamados
Aos ouvidos que se deixam ser ungidos
Uma dor quase sempre vira escrita
Escrivaninhas, com papiros, suas penas, velhas 
tintas
O que não se limita, muitas vezes quer ser lido
E o que é lido no respeito não se imita.
Segue assim até nascer do branco pó
O rebento que do chão fica de pé
Que se engasga com as empáfias, o alento
Por um momento ri de todos ao redor.
***
51
Caso do Acaso do Amor
Brumas sobre águas de um charco
Impérios de um só rei 
No brilho do meu espírito
Ato do fato se fez.
Perdida sem remos nem barco
Cria-se um grande amor
O ontem, hoje e o infinito
Navegam banhados em um fardo.
Sinto-me colhido maduro
No pé da árvore da vida
Nasci para todo sentido
De pé ao pé de um muro.
Natural e sublime
É cega, irmão da justiça
Entre o fresco e a carniça
Deitado em uma cama de vime.
Te aceito paixão imprevista
Amor à primeira vista
Faço do acaso companheiro
Agora dono do meu mundo inteiro.
***
52
Só mais um Ser*
Dou mais uma chance a razão
Saindo do meu refúgio careta
Vago na galáxia dos incertos
Sem querer povoar nenhum planeta
Me lembro de uma época remota
Uma casca de ovo inquebrável
Por dentro um grande tesouro
Por fora muro branco sem porta
Sinto grande aperto no peito
Respeito o meu modo de ser
No culto a beleza, piso com despeito
Uma rosa, espinho do mal querer
Com singela venda de fogo
Fico cego, quente e vaidoso
Quando toca-me quebrando a casca
Me forma um homem de um feto formoso
Muito além de mais tudo
Obtuso, convexo e concreto
Um vampiro banguela na boca do mundo
Um ser feliz, alegre e incompleto.
*do livro Poeteideser
***
53
Finalidade da Arte
Abranjo o pincel como se fosse meu pai
Chega de despedida, chega de adeus
A inspiração chegou, a timidez se foi
Sou Netuno, Odin, Zeus.
Faço um traço, entro em ação
Cores dimanam do meu pensar
Encéfalo explode, ogiva nuclear
Arco-íris, cogumelo, refração.
Começam a germinar imagens
Transpor o que tinha na gaveta da mente
Minhas passagens, viagens incoerentes
Saem absolutos, imponentes, pelas mãos.
Os "nãos" e os "sins" de outras épocas ou 
horas
Conspurcam a tela branca 
Formam uma figura que desbanca
A imaginação do artista, sua história.
E pronto, o rebento lindo e bem-vindo
Ali, a sua frente, imaculado
É mais uma obra, quase do divino
Da verve, alento, do artista amado.
***
54
A Navalha de Occam
Entre todas as teorias em uma cabeça,
achei uma mais fácil de explicar e entender
Pergunta-me: Por que pedir adeus?
Um trocadilho? Jamais, erroneamente, irá saber.
Se já deu no que foi, não perpetue a casualidade
É egoísmo, pois não existe mais porvindouro 
Falácia e falsa moralidade
Não me venha com mais explicações
Sente que as nuvens negras irão sumir
Pensa se o tempo pode parar
A aversão é um elo para desunir, 
acha loucura sentir e pensar?
Onde está a razão?
Onde está o sentimento?
Busca no âmago do interior,
com a redundância desse momento.
O terror de não ter mais emoção,
nessa ação que lhe faz tão bem
É a vontade de estar vivo, 
voando a favor do vento
Mas de encontro a um trem.
***
55
Um Só Sim
Originalidade dos meus dias sorrindo
Tal qual a sensação de perda e dor
As cores borradas de uma obra de arte que 
findo
Eu, um ser moribundo de amor.
Teu cheiro que ficou impregnado nos lençóis
Boca que saem palavras de desatar nós
A vida poderia ser tão simples para mim
É só sair do teu cerne um sim.
Ouço sinos, tenho uma renovada expectativa
Todas as campainhas tocam em uma orquestra
Sei que a falta é só o que resta
Sei que a falácia na minha vida não é viva.
Por contornos de rostos amigos
Dentro do mais puro coração
Canto e prego em belos versos antigos.
Sinto que sem tu é falência
Como andar de ré em contramão
És toda minha inteira essência.
***
56
Isso não é vida
Vivemos em um faz de contas
onde as contas se empilham nas mesas
incertezas são nossos irmãos siameses
e há meses segurando as pontas
Estômagos gritam nas ruas das grandes 
cidades
pessoas ricas, mudas e cegas, passam com seus 
braços engessados
elas tentam com todas as forças esconder as 
idades
algumas se ferem, esticam e se castram
É muito igual à desigualdade
fingem a crença para se perdoarem
Com lágrimas, ao desaguarem
muita pobreza.
Estão aqui, o pensamento na Europa e em 
outros lugares
Assim roda a bola até um dia esvaziar
Acabar o ar, não servir mais para nada
Irão nadar nas fezes os que sobreviveram
Todos sorrindo chamando de lar.
***
57
Utopia do Bem Viver
No final, tudo dará certo
Águas límpidas em terreno fértil, só pode 
acabar bem
Vi folha seca cair e adubar
Ouvi cantos, desafinados, de pessoas zen.
Chorar sozinho não faz mal a ninguém
Muitos estão sozinhos,muitos estão mal 
acompanhados
Se te encontrarem de joelhos deixem que te 
achem maluco
A verdade só pode andar junto com o ser 
amado.
Árvores mais altas tem os frutos mais doces
Muita gente não gosta de açúcar.
58
Vi-me pensando na vida e questionei-me
Peguei-me ouvindo as ondas e mergulhei.
Olhando estrelas do mar e do céu, senti-me 
maravilhado
Respiramos a vida, natureza e além
Comemos o fruto proibido, que na verdade se 
podia não sei.
Dando as mãos iremos longe, mas o perto é 
menos afanoso.
O que é gostoso muitas vezes pode fazer mal
Olhando para baixo ou para cima é 
maravilhoso
Sentindo o amor se espalhando, agraciando o 
geral.
***
59
Papel em Branco*
Ela sempre com seu jeito me comove
Aflito, meu coração quase explode sem calma
Emoção do amor ao extremo
Chicotadas nas nádegas da alma.
Universo de intensa reflexão
Penso nela dia a dia, pernoites
Falando sozinho, rolando no chão
Uma loucura que me rasga o corpo
Um vazio nessa grande obsessão.
Fixo olhar no telefone que é mudo
Variando com meu relógio, inimigo
Só queria seu suor, ser amigo
Despedaço minha razão de viver.
60
A nobreza que há tempos me deixou
Irrelevante é saúde e paz
Amor próprio não considero existente
A tristeza sou eu mesmo quem faz.
As vezes não sei porque me engano
Essa pessoa não existe pra mim
Se me flagelo é só em pensamentos
Se me desgraço só na mente me arranho.
Vou lhe dizer porque isso ocorre
Quem me socorria já está no seu fim
Inspiração, quem foi que disse que não morre
Já está sucumbida e enterrada no jardim.
*do livro Poeteideser
***
61
Não Precisa Dizer
Não diga que o mundo é redondo
Que o carnaval é em fevereiro
Pedofilia é um crime hediondo
Que Brasília virou um chiqueiro
Não diga que ninguém sabe tudo
Que Lars Grael é brasileiro
Que Kojak não era cabeludo
Uma gíria de carioca é "maneiro".
Não diga que a coisa mais bela é o amor
Que Japoneses são quase todos iguais
E a traição causa muita dor
E um x meio torto é um sinal de mais.
Não diga que Antonio Meucci inventou o 
telefone
Que sorrir faz bem a saúde
O Gradovildo quer mudar o seu nome
E muitos procuram a plenitude.
Não diga que a poesia é uma das coisas mais 
belas
Viver é muito mais que estar vivo
Injustiça é uma das piores mazelas
Que Adão não devia ter umbigo.
***
62
Nunca Estaremos Sozinhos
A noite clara soma-se com seu olhar
A jóia rara de um vago amor
Luzes que querem se acalorar
Esperança renovada no ar.
O iluminado e o iluminando
Sons de harmônicos violinos
Um toque de Vivaldi
Sentimento de voltar a ser menino
Pintura de Anita Malfatti
Emoção da nostalgia.
O dia soma-se com sua beleza
Rotina de amar
Espelha tudo que é encanto
Clareza.
O desejo e o desejado
Toque do mais puro algodão egípcio
Esculturas de Aleijadinho
Nunca estaremos sozinhos
Enamorados.
Amor é casca de ovo
Caminhada sobre as nuvens
Mil vezes tentaremos de novo
Tirando as ferrugens.
***
63
Palavras sem Nexo
Inacreditáveis sorrisos banguelos
Discriminado pela aura da alma
Sol nascente na penumbra da noite
Gato branco na neve se acalma.
Um grito mudo, mais alto, no fundo do poço
Um esboço da mais feia obra prima
Uma rima para recitar no calabouço
O osso na boca do cão que fascina.
Na esquina a água escorrendo na latrina
Uma briga que envolve um grande colosso
Insuportáveis dias de manhãs escuras
Absurdas e volumosas nuvens parecendo algodão.
O "não" como palavra de ordem nas ruas
Nuas, mulheres desfilam em vão
Os pigmentos das tintas que pintam o mundo
São misturados por deuses, doentes, imundos e 
sombrios.
Sadios ficam os desavisados
Armados até os dentes não sentem calafrios
O universo se acaba com o verso, com a história
A humanidade vira uma montanha de cinzas.
As palavras sem nexo que trago nessas rimas
Vão ser enterradas, erradas, com a nossa memória.
***
64
Poesias, Textos e Letras
Sou muito mais que queria
Nas palavras que escrevi na minha vida
Extravasei a primazia
Com a ambição adquirida.
Textos, cor e poesia
Quero mais em meu viver
Escrever, matéria prima
Arco-íris do meu prazer.
Alacridade mais que garantida
Mantida e ativa pela inspiração
Se a verve faltar nessa receita
Fico sujeito a reprovação.
Busca o puro âmago do amor
Simplesmente tudo mais que der
Ganhou fama, deitou e quebrou a cama
Variações de um poema qualquer.
***
65
Saudades
Tenho saudade da minha infância
Meus amores de adolescente
Da minha imaginativa elegância
Da minha fé crescente.
Sinto saudade de grandes amizades
Amigos do peito
Sem desigualdades
Para tudo dá um jeito.
Não me falta saudade do tempo livre
Não precisar de relógio algum
Mergulhar fundo na emoção que tive
Sentir uma felicidade incomum.
Demasiada saudade dos meus amigos que se 
foram
Uns muito cedo, outros não
Amigos que ficaram distantes
Até os que me deixaram na mão.
***
66
Um Resumo
Como um feixe de luz na alma
Prisma de paz e harmonia no coração
Decorei com palavras minha vida
Sobretudo sobre a verdade e a emoção
Sem palavras, com argumentos
Com intenções, sem pretensões
Sem cenas, com acontecimentos
Com e sem acomodações
Vou levando iluminado e iluminando
Voando, nadando ou andando
O importante é chegar
Em algum plano e lugar
Com calma e paciência
Inteligência sem demência
Muita inspiração e imaginação
Escrevo nas linhas os poemas
Os sentimentos, histórias e momentos
O âmago da minha emoção.
***
67
Um Fedor sem Pudor*
Imaginação florida
Cheiro de podridão no ar
Urubu já na corrida
Para longe desse lugar.
Era um chiqueiro sujo
Corpos valendo moedas
Homens eram “ditos-cujos”
Mulheres “pés-de-chinelas”.
Tudo na mais imperfeita ordem
Tudo bem para quem é morto
Uma porta escrito “mortem”
Um esgoto mais que torto.
Um fedor nauseabundo
Um pudor que não existe
Zumbis de outro mundo
Nessa vida que em lá persiste.
A noite uma orquestra
De dia nem um barulho
De tarde uma quaresma
Sempre um cheiro de estrume.
"De médium, psicólogo, poeta e louco, todos nós 
temos um pouco"
*do livro Poeteideser
***
68
Sem Final Feliz
Amanhecendo com orvalho e cantoria
Uma casinha em Tiradentes sinto o toque 
nostalgia
Esquento a viola, cheiro de café e mirra
Queijo minas e o esplendor d'uma família.
Tá pronta a mesa e a promessa e plenitude
A geléia de amora e amor
Uma vida com o gado e saúde
Cidade grande dispenso com fervor.
Quero sentir cada dia como último
Realizar o que manda o coração
E na canção não faltará magnitude
Que é nosso filho, nossa jóia, criação.
Afino a viola, afino a vida
E a música que marcou a geração
O sentimento de paz que nos obriga
Felicidade vale tudo, está na mão.
Mais adiante adentro ao tempo e ao acaso
Pouco tempo, pouco caso, uma doença
De não tratá-la, eu lhe perco me arraso
E perco tudo, perco norte e minha crença.
***
69
Eu Poesia
Não seremos prolixos, vamos falar de poesia
Eu, meu eu lírico e o alter ego se exporão
Concordamos que a mesma, no âmago, é cega, um 
lince, feia e linda
Em sua saída, abraçada na verve, leva contigo tato 
e emoção!
Poesia pode lhe trair, atrair e extrair
Estimular muitos, ou nenhum
Ser alento ou veneno.
Pode, com sua criação, somar ou subtrair
Levar aos sonhos, ser foice perversa, vertigem
Ser seu metiê, ócio, dar ordens ou obedecer.
Em poemas libertinos
Que quase sempre em linhas tortas
Ficariam mortos, desatinos
Mas comovem platéias, alcançam destinos!
No arcano que é a poesia
Fazemos uma idolatria doentia
Poesia é menina traidora e mentirosa.
E nós, mesmo que na ferida exposta da fossa
De pé, batendo palmas
Damos guarida, espaço e nossas almas.
***
70
Sorriso da Hiena
Deitada sob a sombra da árvore de José
A lua aos poucos se movia para iluminá-laCantarolava uma melodia incomum, algo 
como uma sinfonia sem ritmo, sem fala
Odores de diversas origens se espalhavam
Para quem amava, eram prazerosos perfumes.
Como existe a variante do ganho e da perda do 
orgulho
É como ebulição da pura causa
Na hora que a água seca, mesmo que seja 
tarde, é valiosa
Como um embrulho sem fita, laço, cartão sem 
prosa.
71
Caminhando só, com os pés no chão, perdeu a 
identidade
Perdeu a sinceridade
Achou amargura
Colheu perdão.
Seu olhar perpetua-se em um passado próximo
Uma época boa de ilusões não descobertas
Um passado de campos e doces sons
Passado que lhe agradava em todos os âmbitos 
e sentidos.
Mesmo que não desmascarado tal tempo
Nem tampouco o reconhecia como monstro 
surreal
Tornou-se real e palpável
Felicidade estável
Um sorriso de hiena.
***
72
Água Que Guia uma Águia
Vejo rebento rapina
Que em ondas e ventos chegou
Fez do mais velho, menino
E a discórdia enterrou.
Nasceu do amor impregnado
Uma busca que nunca teve fim
Chuva e semente, cultivado
Verde, forte, capim.
Cresce e se alastra com brilho
Bate suas asas de pégasos
Voa por entre palácios
Desperta nas nuvens seu filho.
Aurora de paz, sentinela
Seus olhos fitam o amor
Orquestra um grito de guerra
Na companhia de um condor.
Vejo de baixo incrível beleza
Derramo sem piedade meu pranto
Sem jeito mas com sutileza
Viro, caminho e canto.
***
73
Amor Enfermo*
Quando por fim chegou a mim
Veio de uma forma tão ímpar
Voou alto nas nuvens, 
Uma estrela pariu
Desvendou meu enigma
Simplesmente surgiu
Fácil demonstrar o que sinto
Mais fácil ainda é fazê-lo crescer
Amor, sentimento infinito
Acabou de amadurecer
Sem meu escudo e armadura
Frágil a sua mercê
Submetido a sua postura
Ajoelhado com muito prazer
Te amo, te quero, te tudo
Sou seu e de ninguém mais
Um ser absoluto
Incompreendido jamais
Faço em você o meu leito
O deleite do leite que alimenta
Faço por que te quero imensamente
Faço por que me rejeita.
*do livro Poeteideser
***
74
Outro Domingo 
Meus lábios se tocam
A pupila retrai
Respiração ofegante
Uma gota de suor, do indicador, cai
Não sei onde esconder minhas mãos
As pernas tremem
No cinema diriam que é sedução
Na vida real mentem
As cores ficam mais vivas
A tristeza mais morta
Coço a testa
Depois a coxa
Vou indo em sua direção
Ninguém em contramão
Me apoio em seus ombros
Meus lábios deixam de se tocar
Entorto a cabeça
75
Sei que vou te beijar
Desejo que nunca me esqueça
Mas é pura conversa
Puxo-te pelos braços
Quero só que obedeça!
Procuro o motel mais perto
E mais barato também
Resolvo, te levo pro mato
Faço o que der na cabeça
Depois de nove meses um parto
Outra boca pra alimentar
Sem estudar já é praxe
Drogas pra fumar e cheirar
Mas não leve a mal
Tenho que parar de escrever por aqui
Já é novamente carnaval
Mas outra mulher pra parir!
***
76
Um Dia Bonito é Aquele
Um dia bonito é aquele
Que o céu está azul
Não está calor nem está frio
Pessoas sorrindo para pessoas amáveis
Uma leve brisa pura
Não existem aparentes problemas
Todos podem caminhar na praia
Lembranças agradáveis.
Um dia bonito é aquele
Em que se tem um amigo por perto
Que se sabe o errado e o certo
E se acha o que nem se procura
Nunca embaixo de uma nuvem escura
E nem precisa ser culto ou esperto.
Um dia bonito é aquele
A ser vivido a cada segundo 
Como se fosse acabar o mundo
Um brilho intenso de energia positiva
Um dia lindo para nunca mais ser esquecido
Viver a vida como uma grande aventura.
77
Um dia bonito é aquele
Começa com uma bela manhã
Orvalho nas plantas
Cheiro de hortelã
Muita esperança
Um quente e bom chá
Com boas torradas
Depois pego a pá
Planto uma árvore
Um pé de goiaba
De jacarandá.
Um dia bonito é aquele
Que termina com uma bela noite
Sem desgosto, tortura
Com afagos, sem açoite
Sem nenhuma amargura
Mas que no fim sempre deixa sem resposta a 
pergunta
Qual a razão dessa vida, o que a gente 
procura?
***
78
Ao Apego
Giro pela noite, sozinho
Por ruelas e boates obscuras
Já não tenho medo, nem ninho
A alma já não está mais crua.
O que de ontem tinha pena
Nessa hora é minha cena
Se minha atitude é retina
Minha visão cega, uma sina.
Fato e atos de uma vida nua
Que se desfaz no óbvio sombrio
Me torno seu na cama tua.
Até em sonho, estou no cio
Só na morte encontro ajuda
De semente à muda, enterro o frio.
***
79
Dizem que é Assim
Por meio da harmonia se faz o equilíbrio
Por meio do equilíbrio encontramos a paz
Por meio da paz se faz o amor
Por meio do amor tudo se faz.
Vamos semeá-lo
Cria-lo sem algemas nem cobrança
Onde encontrá-lo?
Na alegria de uma criança.
Vamos cultivá-lo
Com tempo e esperança
Pra hora da bonança
Sorrir sem intervalo.
Vamos colhê-lo
Com cuidado e sem exagero
Com amor e muito zelo
Pro amanhã nunca faltar.
Por meio da imaginação se faz criação
Por meio da criação se faz a arte
Por meio da arte se faz dia a dia
Por meio do dia a dia se faz à bela vida.
"Felicidade não precisa sair pela boca, basta 
ficar na alma e no coração"
80
A Lâmina 
O que corta minha inspiração, eu só, uma só 
lâmina
Pode-se às vezes chamar depressão, sem leme, 
na lama
Angústia, adversidade
Até mesmo falta de amor
Não consigo repassar o que sinto
Sendo bom ou ruim
Uma insônia de relaxamento
Dor
Lembram casas sem luz com pessoas sem ler
Lembram mentes criativas censuradas pela lei
Muita gente pergunta se irei sobreviver assim
Tenho medo de dizer sim e ser verdade.
81
Mutação para a dor interior
Tenho milhões de frases feitas 
Ao mesmo tempo não tenho uma só sílaba
É coerente estar passando por um momento 
ruim
Mas sempre a fase acompanha uma sintonia 
errada
A minha censura é muitas vezes me censurar
A minha procura já não me cabe se eu não 
quero achar
Vou levantar e dar voltas pela casa
Vou me deitar e dar voltas no tempo
Aflição
Temo deitar e não conseguir dormir
Se dormir posso ter pesadelos de nostalgia, 
carinho e solidão
Temo que os pesadelos sejam reais
Tudo é temor
Temo temer.
***
82
Laço em Pingo D’água*
Um amor quase impossível
Dividido e abstrato
irremediável, irreversível
Sem visão, sem olfato
Sem audição, paladar e tato.
Buscando sair do ostracismo
Além do mais querer
Além de tudo que é vivo
Além do mero prazer.
Se revirando em mil
Conquista a ser feita diariamente
Um enlouquecido jovem senil
Mil e uma faces, disfarces, vertentes.
83
No âmago do coração
Infinitivamente se chamava de amor
Tão longe do alcance das mãos
Tão perto do alcance da dor.
Princípio ativo do fim
Primórdios de uma paixão ainda crua
Ilimitadamente para dizer sim
Mas o “não” ainda perpetua.
Busca consolo em quem te quer
Pena não existir tal figura
Roubando o coração de um qualquer
Castrando de outrem a paz e implantando 
amargura.
*do livro Poeteideser
***
84
Pela Vida
Vida, peço licença
Quero amar, mas sendo livre
Desatar os nós da cabeça
Nunca padecer pelos sacrifícios
Já revoguei indiferenças.
O meu suor e minha crença
Que sangra pelos orifícios
Muitas vezes abrandam problemas
Ditos, ossos do ofício
Do ser rico e ridículo.
Vida, peço licença
Vou necessitar de uma poda
Para ser mais belo por dentro
Porque atualmente por fora
O homem está fora de moda.
85
Chega de deuses de olhos azuis
Quero um ser cego, não belo
Quero o arco-íris sem o amarelo
Um Deus que saiba pra onde conduz.
Sem pregos, sem egos
Sem cor nem dor
Sua sombra sem cruz.
Algo assim que não sei
Que não se mostra, não se esconde
Guiando para..... Ninguém sabe onde
Vida, já passei.
***
86
Ano a Ano
Em janeiro levanta e me beija
Lava o rosto e diz que já volta
Fevereiro você é muito livre
Nãodepende de mim, se lhe prendo se solta
Março é só beijo e abraço
Descobriu o caminho para o meu coração
Abril me faz lhe pedir em casamento
Faz juramento de eterna doação
Maio é o mês de pura magia
Nove meses de espera, vai aumentar a família
Junho nunca será esquecido
Um mês esquisito, sonhei com uma filha
87
Julho eu só peço que chegue
Ainda está mais intenso o meu esperar
Agosto, o talento está em alta
Aguardando a volta da inspiração
Setembro eu sempre me lembro
Caneta e pincel na palma da mão
Outubro, o céu está rubro
O mar azul e o brilho do luar
Novembro faço seus desejos
Te levo nos braços para qualquer lugar
Dezembro é o final de tudo
Sem dor nem absurdo, assim é te amar.
***
88
Livro do Mal
Foi a mais bela de todas
Vivia em seu castelo protegida por um dragão
Usava ouro, jóias e vestidos de seda
Ninguém podia lhe tocar a mão.
Era pintora e falava mais de dez idiomas
Sua voz era de um belo tom
Tudo de nada serviu
Pois de casa nunca saiu
Para expor o seu dom!
Passava o dia inteiro cantando e escrevendo em sua 
redoma
Já havia escrito mais de cem livros
Entre contos, prosas e poesias
Havia um que era exclusivo.
Um livro de poesias sobre a vida
Sobre ser o que nunca virá a ser
Falava sobre viver com várias saídas
Livre arbítrio para beber e comer.
Narrava a vida em Gomorra e Sodoma
Sobre vinhos e depravações
Subtrações que se revolvem em somas
Mostrava quase todas as emoções.
89
Mas o seu tempo foi passando
A velhice chegou
Sua pele foi enrugando
A demência lhe pegou.
Por fim morreu com seus escritos
Nunca o mostrou.
A verve, por sua vez, pensava perdida
Mas surgiria um mito.
As datas foram ocasião
Os livros que o passado deixou fora
Atualmente em uma escavação
Acharam essa biblioteca de outrora.
O mundo caiu em sobras
Sua escrita alguém publicou
Tal sombra do mal o devorou.
Não tinha asteróides nem cobras
Nem as previsões de sábios
É o puro armageddon de alfarrábios.
Embora seja só uma história
E o livro não tenha o menor dolo
Bebemos o vinho e comemos o bolo.
Tomando cuidado com a verve
Sabendo sempre o que lê
Com atenção no que escreve.
***
90
Sair, Saindo
Vou sair por este mar vagabundo
Onde não pode apoiar-se nas paredes
Nem no domingo se deita em uma rede
Só digo gritando que sou dono do mundo.
Olhando o céu sobre minha estrada
Vejo um futuro quase sem mágoa
Uma ablução com a beleza da água
Que bebo e utilizo de estada.
Mas se a imundice visitar-me
E com seu odor e despudor, encruar-me
Terei que refazer minha malas.
Quem sabe em uma ampla casa eu viva
No horizonte da minha mente ativa
Que são, no dia a dia, minhas salas.
***
91
A Você*
A você dedico meu tempo
Termino meu verso
Estampo meu cansaço no corpo e na alma
Desperdiço meu sangue que já é pouco
Choro muitas vezes por um sorriso
Outras por nada
Abaixo a cabeça
Me calo
Me inclino, reverencio
Aceito.
“Não me importo se não agrado a gregos e 
troianos, contanto que eu agrade a destros e 
canhotos”
*do livro Poeteideser
***
92
A Perda da Fé
A visão mais turva, suja
Deixa que eu mesmo piso na uva
Sei que irá curar o desalento
Muito mais fácil deixar cair, dos olhos, uma 
chuva
Cansei de levantar, para o céu, as mãos
Engasgo com o medo, ébrio e hipocondria
Supre a dor com o comprimento de um 
comprimido comprido
Levanta e não cai de joelhos ao chão
Dizem que um Deus te ama
O resto do mundo não
Todos os elos dessa corrente
Foram tomados pela ferrugem
Águas só me molham, aos outros, ungem
Palavras incertas, ditos incoerentes
93
Com os nossos cabelos ao vento
Que acabam levando a vida
Uma partida fez-se momento
Para um lugar bom será sempre bem vinda
Como sabemos dos nossos erros
Como fingimos indiferença
Como negamos todos os zelos
Como sofremos com nossas crenças
Dedão nas orelhas, mãos espalmadas e línguas 
a mostra
Armado o circo, chamamos os santos
Com olhos cegos, soltem seus prantos
Eu perdi a fé, quero uma forra.
“A fé pode mover montanhas, mas a religião 
pode corroer as entranhas”
***
94
Eutanásia
Olho dentro de mim
Sopro de uma autocrítica
Sei que nem sempre me expressei assim
Falo muitas vezes em mímica.
Quase sempre não me abarco
Jamais confessarei isso a alguém.
Lindo deve ser lutar para ser, já sendo
Terrível deve ser querer ser maior, e ser 
ninguém.
Me bato, com um tapa na cara
Me calo, berro para dentro
Me mudo, faço as malas
Me chamo, sou bem desatento.
Por fim me penitencio por inteiro
Espero que alguém me impeça
Faço promessa em um outeiro
Arranco de vez minha cabeça.
***
95
Imoral
Dos fascínios de uma única pura sorte
Entrando em uma farta imensidão
Preparando-se com o seu ego absoluto
Estou chegando maior que o mundo e menor 
que a palma de sua mão.
Quero ser dono da sua alma e do seu coração
Um pouco do absurdo de nunca ter tido uma 
vida pura
Da pureza que lhe é rara
E na redundância de minhas palavras
Friso-as bem, antes que emudeço.
Suga tudo que é de bom de tudo
E do seu próprio sangue, mesmo que ralo
Assim que é falha, assim que é fogo
Pois assim na palha, tudo é um jogo
Incendiou a sua casta.
96
Caminhada perdida, alma penada
Feliz, de encontro ao avesso
Nunca há derrota, pois de certo a merece
Em todos os seus pecados, padece.
Imoral, impura, inquieta e imortal
Uma vida, de lama, se perpetua
No desdém que sua chama queima
Colecionando paixões às escuras
Os nomes não interessam a ninguém.
A religião é descartável
Um deus só para chamar de pai
Órfão já na barriga magra
Uma raiva que sempre lhe trai.
***
97
A Dança do Amor
De um absurdo a outro
A vida traz e trouxe
Modéstias benéficas que levantam o ego
Juntam em um tipo de liquidificador.
Com elogios exagerados de doce
São o martelo e o prego
A faca e o queijo
Afago, beijo e desejo
Goiabada e o marmelo.
Fazem o caminhar
Dão força
Tornam moço ou moça
Rei ou rainha do lar.
Conjecturas de lado
Sendo o amar e ser amado
Saber onde procurar
No ritmo de um tango ou fado
Quase sempre se sabe dançar.
***
98
“Inacriatividade” 
Deitado em meu leito de morte
Há meses sem nada escrever
Não cicatriza o meu corte
Navalha da “inacriaticvidade” do meu ser
Sinto que a vida irá esvair-se
Quando a inspiração acabar
Escutarei berros no ar
E tomará posse a mesmice.
Sinto toda pureza explodindo
O doce do mel foi-se à fel
Bocas banguelas sorrindo
Pintado de ocre o céu.
Sinto o poeta moribundo
Tentando achar no avesso do mundo
Sua força e vontade de viver.
Me acorde desse pensamento ruim
Que me veio em um estalo assim
Pesadelo que nunca irá ocorrer.
***
99
“Algemoso”
Escorre nos pensamentos 
Escorre com toque de nostalgia
De vazia se faz cheia, mas agora de poesia
Do pó ao pó.
Mente criativa, na ativa, ativa ideia
Filosoficamente velha, é nova, pode ser tudo
De sol a moribundo, de amor a moribundo
O que acharem melhor.
Dentro da imaginação tem tudo
Mente ou não, em mente
De lagarta a borboleta
São iguais, outrora diferentes
A cor roxa é violeta
Papo benevolente
Que prende.
“Algemoso”.
O poeta magoado
Sóbrio ou ébrio
Sendo que anda fazendo curvas
Caminhos são fardos
Infernos são céus
Todos os gatos são pardos.
***
100
Sou Bruxo e Sou magro, Sou Bucho e Sou 
Mago
Pego o livro e abro
A história que quero vem de dentro para fora
Alacazam, abracadabra
Minha imaginação aflora.
Saci Pererê, bruxas
Poesias, romances
Nos livros, a leitura é obtusa
São linhas e entrelinhas de várias nuances.
"Um pais se faz com homens e livros"
Seu Lobato, sabiamente, falou
Na imensidão das letras que formam palavras
Os sonhos de quem fui ou quem sou.
A leitura é pura magia
Posso ir do Polo Sul ao Norte
Realizar todas as minhas fantasiasQue no final pode ser azar ou sorte.
101
Nesse caldeirão de fértil alegria
O final feliz é do leitor
Um aprendizado adorado
O livro é um presente de amor.
Sem, ou com, bruxarias
Sem poção, ou beijo, de amor
Seguimos em uma estrada de várias guias
Folheamos o alívio e a dor.
Leia sempre, arrisque escrever
Sentirá o poder de ser bruxo
Tem o nosso "Coelho" que sai da cartola
Sinceridade de algo que acaba de ler.
***
102
Explorador de Mazelas
Pedi aos Deuses o mais profundo sentimento 
de amor
Por onde caminhei vi maldade, egoísmo e dor
Pensei, muitas vezes, desistir de seguir essa 
vida
Mas não posso tirá-la
Seria injusto.
Vendo uma formiga, ser minúsculo, ter seu 
formigueiro devastado por uma chuva fraca
Mesmo assim constrói outro, trabalhando sem 
parar.
É assim, na vida, que elas sempre vão se 
exprimir
Forte, insistente.
Como dar uma paulada na água!
Quebrar o vento!
103
E nós, por causa de uma pequena pressão
Que faremos?
Vejo-me, dizem todos, o homem, ser tão 
íntegro e poderoso
Sucumbindo, desistindo.
É o que vemos!
Dentro desse pensamento serei mais fraco que 
uma formiga
Vivendo a cada momento chamando a vida 
para briga
Ouvi alguém dizer que a vida gosta de quem 
gosta dela
Por isso escrevo e a dor enterro
Assim sigo feliz, usando e explorando minhas 
mazelas.
***
104
A Remota Perda Da Inspiração
Na pura vaidade que esfaqueia
Arrancando-lhe todo sangue que irriga
Deixando-lhe a mercê da própria sorte
Mostra o lado negro da sua vida.
Mostrando tudo aquilo que não gosta
Egoísmo que você nunca consertou
Encostado nesse ombro amigo que te conduz
Que é mais falso que um conhecido apóstolo de 
Jesus.
Como ilusão usa o infinito como fuga
Nunca indaga se a vida poderia não ser imposta
Se a estrada, asfaltada, tem menos perigo
Sou seu amigo mas não tenho as respostas.
Na deselegância do seu falar com outras pessoas
Envolvi-me com o seu jeito absurdo
Não aceitei ser pior que ser imundo
Também não vim ao mundo a trabalho ou à toa.
Perdeu algo, respire fundo e procure
Quando ela some costuma vir ao final do dia
A humildade ás vezes adianta os seus passos
Mas a vaidade por outro lado a torna tardia.
***
105
Alcova Invisível
Cuide de você, pobre figura
Quem não lhe conhece que lhe venda
Nem um vintém vale a sua
Se olhe no espelho e diga "se renda"
Desesperar é o seu forte
Seu suor não cura seu corte
Você não vê porque é cego
Ressuscite de vez o seu ego
Vejo um final para sua vida
Estradas cheias de curvas fechadas
Nenhuma luz indica a saída
Um abismo indica a entrada
Chuva forte, furacão
Lama grossa, inundação
Frio absolutamente abaixo de zero
Roma com um toque de Nero
Alcova é o ventre da mãe ainda viva
Prostíbulo que já foi abandonado
Pra sua vitória não há resultado
Morrer é a única perspectiva.
"Se há vida após a morte nem é tão 
importante, mas o essencial é haver antes."
***
106
Do Próprio Veneno
Arranca o meu coração e coma
Beba minhas lágrimas de dor
Pisa-me, já que estou deitado na lama
Sempre fez da minha vida um horror.
Vem com uma pedreira nas mãos
Com sua dinamite e punhal
Os arqueiros, guerreiros e canhões
Para sua vitória final
Porque não desiste e me deixa
Tem que rir e me fazer sofrer
Bater, cuspir e pisar na cabeça
Dizer que sou impotente ao seu ver
Nunca foi feliz ao meu lado
Já me traiu com outra mulher
jamais teve comigo um orgasmo
Nem um momento de prazer qualquer
Disse que nosso filho não é meu
Mesmo eu vendo que se parece comigo
Sei que nessa taça um veneno me deu
Mas eu troquei a mesma contigo.
***
107
Erro Crasso
Faça o que for, mas não me deixe passar em 
branco
Dê um desconto de ocasião, nosso castelo 
desmoronou!
Dê-me o fora, mas não fira a fera que há em 
mim
Entre encontros e desencontros, 
certos e incertos, 
nunca queira que da minha boca só saia “sim”.
Absolutamente honesto, sou modesto!
Quando quero posso amar e com todo amor 
me dar.
Pensa que me conhece tão bem
Pronuncia meu nome inteiro ao contrário
Pode contar para um outrem todo o meu 
passado, isso eu não contesto!
Mas não sabe se sou canhoto ou destro.
108
Olha-me com faca nos olhos e pedras nas 
mãos
Nunca soube nem saberá dividir o pão.
É egoísta, egocêntrica e tudo de ruim que é 
relacionado ao ego
Quando é lua cheia as pessoas mudam, para 
você isso sempre será em vão.
"Você pode até dar o passo maior que a perna, 
contanto que esse passo seja sempre para 
frente"
***
109
Nódoa 
Passou percebido como um terremoto
Teceu vários olhares
Sons inóspitos para alguns
Agradáveis para milhares.
Rebeldia de uma meretriz
Capitalista convencional
Compra, comprará, comprou, quem quis
Absolutamente fenomenal
Mulher perfeccional e pérfida
Adjunta de tudo e todos que te convém
Sua índole muito maléfica
Fazia do mais importante um ninguém
Seguia com o nariz apontando para o céu
Fazia de qualquer Deus um réu
Mais bela, inteligente e realizada
Dona do tudo, quase tudo e do nada.
Sempre foi uma rainha que não transige
Não precisava de um rei só
Não tinha dó, nem ré, mi, nem lá...
Quando morresse viraria ouro em pó.
***
110
O Ser 2000
Nasceu mais uma bomba relógio
O rebento prodígio atual feito de negação
Pólvora circula nas veias desse ser biológico
Pronta entrega de emoção.
Expondo tudo e todo sentimento
A todo o momento, a todo lamento
O torno apertando seu cérebro
Célebre pessoa de mãos dadas com seu 
sofrimento.
Escorre por todos os seus dedos
Essa animação que outrora desanimada
Do nada mais uma semente germina
Mas que acaba por dar em nada.
Acabou o sonho e com ele vem o pesadelo
Ecoam no céu gritos de infelicidade
A normalidade é mera conjectura
O caos é pura formalidade.
Hoje é um dia comum
Defecam em um povo pobre uma bomba
Um Deus qualquer para causar discórdia
Outro para o próximo afronta.
***
111
O Ser 2000 (Parte II)
Estou aqui e pronto
Estupefato com o fato
É assim a bola poluída
Largaram-me nessa ralo
Nasci para fazer volume
Excesso de contingente
Lotado de estrume no mundo
Pensando e fingindo ser gente
E a camada de ozônio?
E a massiva perda do hormônio?
Tudo enferrujado e imundo
Onde se compra os neurônios?
Um botão para acabar com isso
Urânio solto no ar
Um sorriso, um compromisso
Flatulência da bomba H
Acabar de vez com essa bola
Jogar fora todo esse lixo
Matrimônio do errado com a escória
Terra de gente virando bicho.
***
112
O Rio
Sigo frio por entre as pedras
Sigo forte por entre o limo
Refletindo o céu límpido com acanhados 
algodões
Intocáveis pelas mãos.
Um grande receio que me aflige
Uma esperança de carne e osso
Da pedra jogada que nunca me atinge
Cachoeiras de mágoas são seu esboço.
Sou sempre seu eterno graveto
Descendo torto pelas águas 
Querendo o leito do seu rio limpo
Acabo no brejo podre de sua alma.
***
113
Pessoa Sandia
Uma idéia fácil
Pensamento sutil
Entre o faço e desfaço
Doe o meu miocárdio.
Abro e fecho torneiras
Besteiras corriqueiras
De um alucinado drogado.
Sinto que de alguma forma
Faço coisas estranhas
Entranhas de um buraco
Fraco, entro e embarco.
Já se passam horas
Dias, meses talvez
Eu sei que posso agora
Tomar esse frasco de vez.
Nunca fui tão prostrado
Armado fui desarmado
Achado quase perdi
Entrando por onde sai.
Vitória, conquistas, caminhos
Vida, refugio, morri.
***
114
Somado Ao Mais Do Múltiplo Do Resto 
(parte I)
Beijas-me com todas as forças
Digas-me que sou eterno
Nunca me escondas que és moça
Quero viver amor paterno.
Sempre no sossego da calma
Desnudo de satisfação
Negas a libido que alcança
Filha da disposição.
Tudo somado ao mais do múltiplo do resto
Incesto que nunca ocorreu
És minha por isso confesso
Embriaguei-mede um sangue teu.
Seco por fora e por dentro
Molhado pela imaginação
Sorrindo de puro desprezo
Chorando bicas de solidão.
***
115
Somado Ao Mais Do Múltiplo Do Resto 
(parte II)
Ostracismo ímpar
Incontestável peso na consciência
Ciência que nunca será resolvida
Podes chamar Freud e a realeza.
Minhas palavras podem ser falácias
Mas são farmácias para te curar
Não há no ar remédio mais poderoso
Bebido, eleva em demasia tua grandeza.
Nem sempre procurei em ti só beleza
Quero abrigo, anseio, sinceridade
Dispenso a atração carnal
Só atrai mais ansiedade.
Por fim, peço tua sola na minha face
Cuspas-me, me batas e arranhes
Que eu apanhe até perder a força
E que meu afeto eu mesmo disfarce.
***
116
Um Mau Lugar da Pseudo-morte
Com as mãos sujas de pecados
Corpos fortes, mentes fracas
Lixos espalhados por todos os lados
Ficam a empunhar as suas facas.
Uns nus gritam abafados
Outros dizem ser soldados de Hades
Mas todos buscam se alimentar
Comendo os corpos estragados.
Existe em frente um imenso mar de sangue
Com ossos e pedaços de carne
Na junção com a terra se forma uma espécie 
de mangue
Com pequenos moluscos que beliscam as 
faces.
O cheiro de podre domina os lugares
Também no ar existem pequenas cinzas
De corpos queimados pelos calcanhares
Bocas abertas procurando brisas.
A dor e o medo são cotidianos
Zumbis e moribundos vomitam maldade
A esperança e a vida há muito tempo padece
A única saída é pedir piedade.
***
117
A Certeza do Existir
Existe um amor permanente a cada 
expoente de um coração
Segue batendo latente, 
sem compromisso, sem dor e noção
Dentro de cada individuo divide uma vida em 
amor e razão.
Nele convive a certeza e com clareza sendo 
sim ou sendo não.
Basta a sinceridade e a verdade da própria 
emoção
Quando se nela acredita não existe barreira 
que não caia ao chão
Já no final de tudo cabe achar seu par seu amor
Quando achá-lo, contudo, entre de cabeça com 
todo o ardor.
***
118
Amor e a Poesia, Poesia e o Amor
Frio intenso como nos pólos
O calor das mais altas temperaturas
De rachar todos os solos
De congelar qualquer clima
Mais escuro que a pior cegueira
Tem a claridade da explosão nuclear
Saem das bocas, vomitam besteiras
Somem as palavras, perde-se a rima
Olho no olho, dente por dente
É coerente que os opostos se atraem
Na beira do abismo, um passo à frente
Mergulho fundo é que só o amor constrói
No amor e na guerra vale tudo
Na poesia não é diferente
Todos os três fazem parte do meu mundo
Basta ser sábio e não ser prepotente
Batendo as asas as rimas voam com paixão
fogo, explosão e resfriamento
Devagar pousa na imaginação
Leitura, viagem e contentamento.
***
119
Ce Fini
Não digo mais que me vou com o tempo
Nunca mais, enquanto vivo, lhe deixarei
É ímpar a importância que tens para mim
Ouro, diamantes, tudo para vestir um Rei
Você é o umbigo do meu mundo
É o resto do corpo também
Minha poesia pode ser imatura e frágil
Minha poesia é um desabafo é me faz tão bem
Escrevo-lhe singelas rimas
Seria um erro crasso não mostrá-las a ninguém
Estão nesse papel velho e amarelado
Com minhas letras tortas de ancião
Nessa minha mão não firme
Que mesmo assim afirma não estar morta.
Não me culpe por lhe querer em demasia
Nem por esperar a recíproca da mesma forma
Pois não importa se a poesia torta nos ensina
É que fascina e mesmo a sina não está morta atrás 
da porta.
E agora assino lhe provando total autenticidade
Meu nome escrito com todas as letras e acentos
Que você foi a única mulher na realidade
Que foi dona dos meus erros, das virtudes e do 
meu reino.
***
120
Cito uma Certa Curta Carta que Sinto que 
Corta
Nunca mais escreva para mim
Angustia que me parte em bandas o coração
Moléstia, ignorância, azia
Colocou em uma carta tudo que seu corpo 
carrega em vão.
Seria melhor se me esfaqueasse de verdade
Iria doer menos, por menos tempo
Mas continuaria sem razão.
Em uma atitude vulgar, descontrolada, oca
Diz-se dona de tudo, quase tudo ou nada
Coloca em um papel toda a raiva de um ser
Estende um tapete vermelho em direção a uma 
forca.
Nunca me importei com sua realidade
Com suas inenarráveis situações
Suas soberbas, desigualdades
Com suas defesas de escorpião.
Tente colocar no plural sua qualidade
Só compensa o amor se houver verdade
Devolvo a carta, comece tudo novamente
Mas agora escreva com a alma, coração e 
mente.
***
121
É só Querer
Diga que é minha aquarela
Cores vivas do meu querer
Vejo uma moldura minha janela
Pinceladas de cores que todos possam ver.
Diga que sou a sua tela
E nela quer jogar o seu prazer
Olha bem para ela
Imagine os traços tomando formas
Tudo de uma maneira muito singela.
Você é meu cavalete
Suporta qualquer tamanho e moldura
Até pode imaginar uma escultura
De um Deus Grego ou outras vertentes.
Basta me amar como diz que ama
Pintar meu coração sem pena
Derramar sua linhaça na minha cama
Fazer da nossa pintura uma cena.
***
122
Eu sou, eu sou...
Sou todas as tuas dores
O mais forte vício
Teu medo de sempre
O pesadelo de todas as noites...
Sou o som que odeias
O vento gelado depois do banho quente
Teu sentimento de culpa depois do porre
O amor que nunca tiveste...
Tua paixão que nunca doaste
O segredo que não soubeste guardar
Teu sexo insatisfeito
O teu íntimo invadido
Tua inveja
O que sempre almejaste....
Mesmo assim tu não acreditas que eu te 
complete?
***
123
Linda Vida 
A beleza do viver 
Consiste em saber fazê-lo
Abrange o querer
Sem se preocupar muito em obtê-lo.
Objetivar em ser feliz ao extremo
Se entregar
Não perder tempo a esmo
Amar.
Tratar bem as pessoas
Dialogar
Não se aborrecer a toa
Deixar pra lá.
Procurar ter fé sempre
Transmitir a paz
Abraçar os parentes
E todos mais.
Não julgar o próximo
Não caluniar
Não viver no ócio
Voar.
***
124
Mais uma sobre Você
Lua, o sol e você
Esse trio da minha vida
Inenarráveis emoções
Ecoam na minh'alma bendita
Sopro da alegria
Primazia, bem estar
Magia, cálidas rosas
Meu jardim mais bem cuidado
Palavras que nunca serão suficientes
Emoções que transbordam
Você, árvore que cresce diariamente na minha 
mente
Nada posso mais sem sua companhia
Motor propulsor da minha motivação
Sua pele meu melhor agasalho
Sua voz, música que não deixo parar de tocar
Fiquem sempre juntos nossos corações
Eu amo você.
***
125
Mesmo Assim Eu Gosto
Som de onda na beira da praia
Calmaria só de aparência
Surgem sonhos
Surge você.
Retorna o amor esquecido 
Sentimentos aparecem como fantasmas
Gritam sem sequer emitir um só som
Mordem, ardem
Doem, me faz mal
Mas mesmo assim eu gosto.
É como furar o dedo ao pegar uma rosa
A dor do parto para a mãe
Pois como ser eternizado após ser crucificado
Mergulhar em uma miragem em um deserto.
Comer a maça, com fome, sabendo que é 
pecado
Não haver emoção em verso e prosa
Despir-se de seu outro “eu” alienado
Mesmo assim eu gosto.
126
Sou terrível, não quis te ouvir
Concha idiota, arrogante eu sou
Réu confesso, eu confesso, só sei subtrair
Eu mesmo ponho minha cabeça a prêmio.
Não existe um passo maior que a perna
Existe a perna curta demais
Tempo a gente faz para transpor as barreiras
O pior da vida é não vivê-la mais.
Se viver é bom, o regalo eu mostro
Sacudo tudo, vou tentar de novo
Faço um omelete, sem quebrar o ovo
Por isso eu digo, mesmo assim eu gosto.
***
127
O Amor Grita Mais Alto
A emoção é tsunami nervoso
Nosso coração vira um palco
Tudo se torna um tiro para o céu
A temperatura dá um salto
Quem foi inocente vira réu.
Ninguém nunca entendeu o amor
Acho que nunca entenderá
União do bom, ruim, prazer e dor
E mais no que nele há.
O aperto se eleva a um grau insuportávelA imagem fecha em um “fade out”
O corpo fica totalmente instável
A sensação é de morte inevitável.
Mesmo assim é pura satisfação
Sentimento ímpar, maravilhoso, absolvido
Gratificante quando é recíproco
Impiedoso quando não correspondido.
***
128
O Desenho
Apenas desenhei seu rosto
Com sombra e luz
Com ar de desgosto
A melancolia que lhe conduz.
Comecei pelos cabelos
Completamente lisos
Tom de fogo na madeira
Deixam de paixão vários vestígios.
Os olhos de pantera
Brilhantes e verdes
Esfaqueiam de repente
Meu desejo, minha quimera.
Boca que não tem igual
Toque de refúgio sensual
Se movem em câmera lenta
Cria um desenho na beleza que ostenta.
Depois de pronto fui ao extremo
Beijei ardentemente sua face de papel
Tintas me borraram todo o rosto
Fui de palhaço ao céu.
***
129
O Encontro
Uma luz, um brilho forte
Meu coração em grande doação
Puro e verdadeiro me dei e ainda posso me dar
Quero seu amor, peço sempre em oração.
Dizem que é impossível pois já desencarnou
Mas sinto forte sua presença
Depois da morte não sei para onde vou
Quero acreditar ainda mais na sua crença.
Pegarei a caneta, tente falar comigo
Um murmúrio, um riso, qualquer coisa então
Cansei de molhar as folhas com meu pranto
Lágrimas e arrepios de ocasião.
Quero me ir para ver se lhe encontro
Vale o risco, nesse caso nada é em vão
Tomaria veneno e um quilo de calmante
Só para lhe ver chegando como um sonho 
bom.
***
130
O Trem Da Vida
A viagem prometia nunca mais ter retorno
Na verdade parecia ser eterna
No trem da sua vida
Esse comboio que nunca esquecerei.
Abrace-me igual aquele dia
A nossa primeira vez
Beijei-lhe naquela ponte
Deixei-lhe naquele trem.
No vagão da minha vida
Estação da minha emoção
Partiu sem despedida
Sem ouvir sequer um sim ou um não.
131
Por entre verdes vales, montanhas
Eu posso enxergar com seus olhos
O voo dos pássaros nos lagos
O branco dos campos de algodão.
Sinto também o cheiro das flores
O perfume natural de você
Do mundo todos os odores
Que me faziam feliz em lhe ter.
De repente vejo seu braço estendido
E um bilhete na palma de sua mão
É a passagem para o trem que retorna
Vem de volta para o meu coração.
***
132
Pérola na Ostra
Palavras soltas, indo com o vento
São como as idéias que habitam a escuridão
Rebentos que eu mesmo invento
Pura e unicamente classificados de suposição
O julgamento final de minhas ações
Tal qual as palavras que deixei de escrever
São unidas com pensamentos em vão
Que desuniram o mais sincero bem querer.
Perdido em vírgulas, parágrafos e pontos
Jogados em papiros com teclas
Que nascem minhas poesias e contos
Sem luzes, escuridão que renega.
Sublinhado pela tinta de corpo e forma
Letras tortas, curvas e retas
Seguindo manuais, escritos nas normas
Sem destino, puramente, sem regras.
Fecho a ostra, guardo as idéias
Desligo-a de uma tal de tomada
Milhões de criatividades são centopéias
Que andam e moram dentro do nada.
***
133
Poliglotas Sensações
Quando sinto tuas telas, teus versos
Embriago-me da tua paixão
A cada linha, cor de cada tinta
Dos pincéis que são tuas mãos.
Desenhando as faces nas luzes e sombras
Toda ilegível identidade
Sem algum completo disfarce
Nuvens, algodões doce, explosão de bombas.
Acalorando e acariciando meu coração
Tão pequeno, acanhado, e frágil
No decorrer dos traços de prazer
Surge de um forte brilho que reluz.
Bela obra prima, como um pássaro...
Você!
Deleito-me nesse jeito tenro, quase sofrido
Me completas, alivia
Interpretas-me, em poliglotas sensações
Mostro com sinceridade de emoções
Que tu és simplesmente a minha vida.
***
134
Restrita, Sóbria e Calma
Um voo alto por dentro e firme
Profundamente no seu semblante
Molhado, frio e apertado
Escuro a um passo do fim do mundo.
Onde almas tristes vagueiam confusas
Entre desenhos, pinturas, feito Picassos
O abstrato de várias idéias
Se mesclam ao concreto nos porta-retratos.
Na sua vida restrita, sóbria e calma
Com sua estrada limpa e direta
Não cabe a hipocrisia do mundo nosso
Nem muito menos os valores de uma paz 
incerta.
Pois assim continue no seu canto oculto
Adjunto com valores e emoções
Sem poder mostrar-se ao todo e tudo
Sem divulgar sua imaginação.
***
135
Teus Cantos*
Quero agora tocar-te
Teu corpo de seda
Teus lábios de veludo
Quero voar em teus olhos azuis
Trocarmos de línguas
Fazer-te um filho
Ou só ficar no tentar.
Quero meditar contigo
Ser o primeiro e o último
O maior e o melhor
O mais amado
O menos temido
Quero chamar-te de meu amor
Por entre carícias, pernas e braços
Relevos e aperitivos
Amar-te sem fim.
*do livro Poeteideser
***
136
Uma Memória Esquecida *
Adormeceu por engano
Focado no sigilo da mente
Sangue escorrendo no cano
Memórias de um indigente.
Sorriso falso nos lábios
Na boca a falta de dentes
Uma cicatriz na sua face
Corta um de seus olhos azuis.
O cabelo caindo em maços
Por dentro estava em prantos
De repente se aprofundou tanto
Passou a falar esperanto.
137
Já no limite do querer
Não reconhecia ninguém
Sua boca vazia que pronunciava ao vento
Do inferno ao firmamento
Do rodízio de almas contento.
Um universo sombrio
Achou bem escondido
O calor ao invés do frio
Casas antigas de pedra
Calhas entupidas de folhas
Árvores cortadas a esmo
Ruas com um toque de medo.
Mulheres nuas sendo violentadas
Sempre acontecendo ao relento
Donas do tudo e do nada.
Tudo no absoluto segredo.
*do livro Poeteideser
***
138
Resgate*
Resgato minha vida a cada letra que escrevo
Bela nostalgia, linda poesia
Um coração e seu adereço
Mergulho em sonhos, romantismo, cárcere
Me abstenho, choro, obedeço.
Na ponta da língua estão os amores
No resto da boca, as paixões
Conjugo verbos de pura magia
Agarro as orgias e largo orações.
Transmito uma calma por onde transito
Nas palavras que escrevo confio no meu taco
E admito no entanto que gosto desse conflito
Grito não a melancolia e seja bem vindo ao 
Baco.
No final das horas escrevi várias linhas
Levantei castelos de imaginação
Concedi ao inferno a minha presença
E ao firmamento entreguei minhas mãos.
*do livro Poeteideser
***
139
Apenas uma Ponderação
Raios do sol tocam uma face pela primeira vez
O milagre da vida
O cheiro de inferno e paz entrando pelos 
pulmões
E o paradoxo da tranquilidade de saber quem 
fez.
Maravilhoso viver
Entre os desconfortos que criamos
Ser ou não ser
Surreal é o milagre de um pequeno coração 
bater
Mais do que ardente
O oxigênio liquefeito circulando o corpo.
Não aceite que somos um estorvo
Talvez almas inconsequentes
Da nossa vida faz parte
Transformar tintas ou som
Letras ou barro
Em incríveis obras de arte.
Alguns dão o nome de dom
Outros apenas levantam o estandarte.
***
140
“Autonominha”
Assino minha autonomia ao saber que um 
pássaro pode ir à qualquer jardim.
Peço minha liberdade, como uma folha que cai 
sem objetivo.
Peço de volta minha juventude, jogada fora 
por erradas atitudes.
Peço uma melodia forte, um som erudito.
Pedirei para você, peça para mim.
O tempo passou, semente que germinou, ao 
som das ondas.
Ondas de beleza, simples, como a Gioconda.
A vida segue, sentinela.
Olhando onde pisa, por onde anda
Sigo seus passos pela minha janela.
Já sem esperança de algo encontrar
A paz viva ou a luz da liberdade
Só com a certeza de sempre poder amar
Sem jamais pedir, em vão, piedade.
141
Encontro meu abrigo em uma fé qualquer
Como com as mãos, defeco de cócoras.
Tudo é muito simples, sinais de fumaça, 
caninos.
Falo, em voz alta, idiomas confusos.
Esperanto, grego, gritos, latim.
Sou caçador, por vezes, a caça.
Sou guerreiro, paixão, raça
Tudo se encontra e se perde na imaginação.

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