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André Anlub Imaginação Poética 1ª Edição São Paulo Grupo Editorial Beco dos Poetas & Escritores Ltda. 2011 www.becodospoetas.com.br www.literaturaperiferica.com.br 3 Capa : Marcio Marcio do Nascimento Sena Diagramação: Marcio Marcio do Nascimento Sena Organização dos Texto: Maria Jeremias dos Santos Imaginação Poética -- 1. ed. -- São Paulo : Grupo Editorial Beco dos Poetas & Escritores, 2011. Autor: André Anlub ISBN 978-85-62337-24-6 B869.1 – Poesia brasileira 4 Curriculum Poético* Começo pelo modo mais fácil Entrego o meu ser por inteiro Espero uma solução instável Busco o dito amor verdadeiro. Nunca fui exigente demais Também não sou perfeccionista Visto a camisa da paz Não vivo a vida seguindo uma lista. Não traio e não suporto traição Atraio para mim uma forte energia Dispenso qualquer tipo de apresentação No sexo faço a dois a minha orgia. Amo a natureza em geral O mar, sol, lua o sul e o norte Penso que recíproca é uma coisa normal Não temo, nem subestimo a morte. 5 Dinheiro para mim não é tudo Contudo, tê-lo não faz mal a ninguém Grandeza muitas vezes é absurdo Humildade sempre receberá nota cem. Não sou nenhum vegetariano Amo um bom filé mignon Faço aniversário todo ano Não minto minha idade em vão. Não me importo com cor, religião ou time Sou uma pessoa fácil de conviver Não me chateio se falam que meus versos não rimam Mas fico triste se a pessoa não ler. "Gosto de escrever, poesia, pintar, tocar bateria, gosto de viver longe da vida vazia, Faço das artes, minha orgia.” *do livro Poeteideser *** 6 Um Pouco “d’eu” Sou um personagem dramático em minha vida Aceito todos os dias novas pessoas Tento ter deveres e muitos direitos Piso sempre em terras novas Em vez de curar, evito feridas Sinto o amor em verso e prosa Sei que nem sempre tudo é um mar de rosas Por isso procuro ter diversas saídas Brinco, rio, dou um tapa na morte E com sorte ela vai e não volta Impossível mesmo é perder a alegria Queria consertar no mundo todos os cortes Não largo jamais a minha caneta Com certeza tento ir pelos caminhos retos Mas não ligo se houver curvas na minha meta Quero ter mulher, filhos e muitos netos Respeito-me e o mesmo reflito em todos Humildade posso dizer que tenho um monte Coloco a fé acima de tudo Bom dia, boa tarde e boa noite. *** 7 Inocente e Réu Onde andei, por caminhos difíceis, sombrios e íngremes Descobri a esperança, o renovar de cada andança, caridades e crimes Passeando e observando no caminho, pássaros que vão e vem com gravetos no bico Lembro de outras épocas, ninhos de cantos e gemidos. Uma vida de baixos e apogeus. Sinto saudade, sinto o perdão que outrora não conhecia Aprendi, durante esses anos vividos, a amar e saciar a quem me sacia. Doar-me mais e cobrar menos, a ser moderno amando o eterno, ser bom aprendiz Aprendi a controlar minha raiva, ter paciência, pisando em ovos passando feliz. 8 Nesse caminho, a luz de fogos, declamo mansinho os versos teus O vento mexe as margaridas, campos de trigo, a minha vida, baú de amigos. Em outra vida eu fui um rei, ou fui um príncipe, bobo da corte ou um plebeu Quem sabe hoje eu te visito e faço um bolo aos sons antigos. Só tu e eu. Na paisagem de tua janela, de frente ao lago, o pôr do sol E no crepúsculo, ouvindo os sapos, os violinos, clave de sol Sinto o toque divino, no verde e no azul piscina do céu Vejo que ainda sou menino, sou desde pequeno, inocente e réu. *** 9 Insensatez Sentindo na garganta a paixão queimar Fel que traz a cura e dá sustância Tsunami de alento em abundância Sinto que sou escravo do próprio amar. Por vezes um rei sem meu reinado Por horas cão, sem osso e dono Ama sem carecer ser tampouco amado Doa a alma velando seu doce sono. Mas na inocência de uma criança Vi-me protegido do mel ao favo Por fim cobrindo-me o corpo de esperança. E o fardo que carrego sem rezinga A insensatez do meu ato, sangue que pinga Fazem poças, sujam as mãos que já nem lavo. André Anlub *** 10 Diamantes de Sangue Como um presente esperado Nas mãos, aquecidas com luvas Estendidas e espalmadas Lisas e leves como plumas. Alcançam um inferno estrelado Abafam gemidos e gritos de dor Que por fim, pensam que toca o amor Coroam um rei e seu reinado Ouvindo o mais terrível louvor. Um diamante vindo da África De suor, de sal e sangue São pedras, a saga de uma gangue Que alimentam, com a fome, sua máfia. O povo, com humildade e inanição Comete em si próprio, eutanásia Perde o orgulho para a ambição Não vê que de certas bocas saem falácias E anda, por pura vontade, na contramão. 11 E assim, mais uma vez explorado Sem arma, comida e força Um continente, que o contente ficou atolado Tem o tamanho, a dimensão da sua forca! Eternidade da palavra É surreal! Assim como a vida Inspiração imaculada, poesias e uni versos Abarcando campos, lagos e hipotéticas estórias Curando cortes, desenhando e apagando feridas. Sento-me a beira de um alto precipício O crepúsculo gentilmente e sempre me acompanha Pego o bloco, meu ofício de um todo fictício Delineado, não há política tampouco barganha. Inteligência não é democrática, nem deve ser A pura verve, que nos toca o ser Tornar-se-á estática e criação Ao surgir de uma bela ave avermelhada Remeteu-me a uma estrada, inventiva jornada Que de pés descalços, sou um sheik, menino ou ancião. *** 12 Cárcere da Criação Na imaginação madura que explode em uma linha Que mesmo velha renasce todos os dias Na solidão insegura, que mesmo a perigo se fortalece com ela Os “zás” das canetas quentes são os “ás” nas mangas frias. O poeta perpetuado nas idéias e criações Faz de impurezas e mazelas em seu nobre ganha pão. Na mais absoluta certeza do amor que sente na escrita Faz dos sons recitados, iluminadas orações. 13 Absorve do mundo, do dia a dia, histórias e magias Juntando a verdade com o medo da mentira premeditada Se sente o moribundo mais vivo, espelho do íntimo de todos Voando em um mundo próprio, se perde e se cobra no nada. Mundo surreal de ouros e de sobras Fita um objetivo, agradar sem ser o óbvio Por muitas vezes consegue, e vai além, se desdobra. Sendo valorizado, alimenta seu ego persistente Ovacionado, por vezes preso a criação Se sente em cárcere, viciado e doente Mas no final é o medo, apego, inspiração. *** 14 O Oásis de cada Dia Deseje-me sorte em voz alta É como carregar o embuste no colo Cegue-me com areia nos olhos Envenene-me coma saliva mais farta. Consigo a solidão de um espinho Tenho a companhia de uma flor Sou seu brinquedo de menino Esquecido em qualquer gaveta Com uma etiqueta, escrito “dor”. Lua e estrela, combinação astral. Brilho e beleza, só falta você. No espelho d’água, trilogia perfeita Tudo absolutamente normal. É a delicadeza que constrói você, seu quebra cabeça É a pureza que circula por dentro Na certeza de estar certa na seta que acerta o alvo Tudo no seu devido momento. Agora vou indo com seus votos e coragem Embriagado de otimismo e muita energia Em uma vida que passa a minha frente como uma miragem Buscando o oásis nosso de cada dia. 15 Um Futuro Ser Completo Saber viver, saber esperar Tudo no contra tempo da situação Montar no mundo e cavalgar Largar o cogente por só querer. Se o tempo é sua Nêmesis Levante e corra em qualquer direção Saia do ostracismo de um abrigo Essa solução é só enganação. No adjunto de tudo que te faz feliz Vale a pena o tempo perdido Se por um lado desce ralo abaixo Por outro alimenta sua alma. Com sabedoria, tempoe muita calma O mundo estará em suas mãos Com paz, integridade e humildade Tornar-se-á muito mais do que aprendiz. Ser um monge na pura meditação Paira o silêncio ao se encontrar Passeando ao redor do espaço tempo Sem sequer ter hora para chegar. Totalmente de bem com sua vida Sabiamente convida ao vivo o bem Com sua mente muito bem na vida sã Para conviver sabiamente com sua vida zen. *** 16 Um Moinho A travessia é dura Dia de chuva, noite de frio Dias bem quentes, noites sombrias. Nesse caminho confuso Nessa estrada sem placas Entre o reto e o obtuso Todos afogam suas mágoas. Com a bota furada Pisando em barro ou em pedra Pronto em pé ou na queda Tiro o melhor na caminhada. Se encontro uma rocha grande Serve para descansar Se encontro um mar Sou filho de navegante. 17 Se a fome quiser ser minha sombra Como um pedaço de pão Se não saciá-la Posso matar um leão. Tudo posso e tenho Se a força não me faltar... Como um moinho de água... Que mesmo se o poço secar... Usa o vento pra roda... Nunca parar de girar. *** 18 Enxugando os Prantos Toda a paz do mundo caindo em gotas de chuva O amor em plena abundância Renovada a fé e a esperança Saúde dando aos montes em cachos de uva. O ciclo de felicidade dando voltas no infinito A cada segundo sorrisos e gargalhadas Desarmadas todas as facções e exércitos do planeta Todos os soldados com roupas de banho fazendo um churrasco. Só com uma luneta posso ver o mau que está no nada Crianças sem fome ou sede e com grande futuro Drogas, maldade e a raiva morrendo afogadas Vão-se abaixo preconceitos e muros. 19 Pessoas que estavam perdidas sendo encontradas Hinos de todos os países poeticamente cantados Fazendo assim valer gastar toda a saliva Presídios se tornando museus e teatros. Retratos e pinturas só de natureza viva Guernica se transforma em um belo abstrato A censura se foi e desceu do seu salto Não existe rabisco, toda arte provém de um traço. Todos têm, na vida, o direito de subir em um palco Poetas aparecem por todos os cantos O ego e auto-estima do homem se perdem no alto Poesias trazendo alegria e enxugando os prantos. *** 20 Folhas Amassadas Toquei a sua face e enxuguei o seu pranto Limpei seus lábios que mordeu e sangrou. Desfiz as tranças feitas para me salvar Descer do nosso castelo em chamas O farto fogo que você ateou. Tudo muito claro, poesia em jogo Mais uma vez do jeito que almejou As rimas muito falhas, folhas amassadas Parecem às toalhas sujas que por fim deixou. O vento bate a porta, a torta ficou pronta A chave cai ao chão, o fogo apagou Demonstro minha fraqueza, alguém logo me aponta Procuro em todo canto o que você já achou. Seus dedos tocam minha face de coitado mor Esnoba-me bem baixinho ao pé do ouvido Trata-me infeliz como qualquer individuo Na sua vida sempre sou de ruim a pior Os poemas saem sujos, magníficos detalhes Bandeiras perfuradas pelas flechas dos cupidos Carrancas dos navios, belos entalhes Guerreiros Nórdicos não lhe darão ouvidos. *** 21 Cotidiano Com idade de ser um homem feito E com defeito que carregamos no peito Faço uma rima com carinho e verdade E não imagino como seria de outro jeito E não aceito essa tal desigualdade Com respeito durmo tranqüilo no meu leito E acordo às cinco horas com muita vontade Faço um verso para alegrar o meu dia Vou correndo pra bendita labuta Não vou xingando igual uns filhos da truta Vou contente sabendo que mesmo tardio O meu salário aparece no bolso O meu esforço jamais é a esmo Minha índole continua um colosso Por um momento paro e escrevo Por um segundo paro e te ouço Dá-me um abraço e me deseje bom dia Pego a marmita e encho de novo Carne moída e um bocado de ovo Para dar sustância e também energia Logo às seis horas largo esse batente Vou ao dentista arrancar mais um dente E chego em casa com uma fome danada Marco presença com minha doce amada. *** 22 O Sertão vai virar Céu Com os pés na terra ele se sente em casa Enxada na mão, sol como irmão Na fome, sede, cedo e na raça Dá bom dia pra cactos, filho do sertão. Na luz do lampião lê histórias de lampião No chão rachado, passado e presente na guerra Sabedoria lhe dizendo, sempre alcança quem espera Uma massa de gente pobre que nem sempre luta em vão. Enquanto descansa pouco, pouco ganha pão Alguns calangos o observam, outros vão pro fogo Assim se vai levando dia sim sem dia não Não se pode dar ao luxo de perder esse jogo. Nessa vida em aberto, todos os dias são incertos No milho na cana, na cana e rapadura Muitos pés descalços na chuva de insetos Tendo a força, garra e solidão como armadura. *** 23 A Mágica do Versejar* De tudo que já vi Uma coisa me comove Esse diz que não diz Esse prende e absolve. Paro e fico pensando Pego a caneta e "zás" Encéfalo trabalhando Um navio deixando o cais. Entro em alto mar Letras aparecem do além Velas vou içar Meu momento zen. Saem algumas escritas Entram novas lembranças Desabafos vomitam Um novo versejar se alcança. Deixo a maré me levar Não tenho mais remos nem velas Já sei aonde ancorar Porto seguro quimera. *do livro Poeteideser *** 24 Armageddon* Nunca um céu se fez de feio Nunca houve uma cor de fogo Muitos galopes se ouviam à distância Eram quatro homens ao todo. Ventos fortes surgiram num estalo Tsunamis do além O mundo esvaindo-se para o ralo Uns orando para outrem. Os pecados vindo à tona Abandono dos vinténs Correria, fogo e ferro Almas perdidas vagueiam Feridas se abrem O belo se faz feio. É a tristeza que invade O fim não está próximo Já chegou e fez moradia O dia não mais existe Faces de melancolia. 25 Cães sem dono vagando nos destroços Idosos tentando se equilibrar Pessoas fazendo menções aos mortos Cogumelos de podridão a brotar. Uns saqueavam o comércio Outros deixavam para lá Olhos ficando cegos Elos a se quebrar. Todos no mundo são réus A bola se partindo em duas Os cavaleiros sorrindo no céu Sempre acha quem procura. *do livro Poeteideser *** 26 Hospício* Salientaram no hospício Ninguém iria comer Injeções na testa Mais que um sacrifício Uma doutrina errada Condições terríveis Faces amarguradas Pessoas mais que sensíveis Não tinham valor algum Exclusos da sociedade Pessoas novas e de idade Somavam um mais um Indigentes, obscenos Cenas do dia a dia 27 Pretos, brancos, morenos Sujeitos a revelia Desprezados pela verdadeira família Inúteis sem poder reciclar Cães expulso da matilha Sem ter mais em quem amamentar Aos montes iam se definhando Em um frenético vai e vem Homens mortos andando Passos calmos pro além. *do livro Poeteideser *** 28 Memórias da Guerra (Parte I) Prólogo Em meio a fumaça cinza com um toque avermelhado Em baixo de um céu que é testemunha Vejo ferros retorcidos, destroços Vejo corações calados, que gritam Vejo o tempo congelado. Em meio as ruas esburacadas Vejo pertences abandonados Abrigos Vejo um rio frio Rio de cartuchos que tiveram seus projéteis deflagados Todos com nomes, um objetivo Calar um peito inimigo Um corpo latente a ser alcançado Silenciando-o Roubando-lhe sonhos. 29 Como o corte de uma navalha Como quem tira o doce de uma criança Como quem tira o amor e a esperança Em troca de uma medalha. “No amor e na guerra vale tudo, na poesia não é diferente, todos os três fazem parte do nosso mundo basta ser sábio e não ser prepotente” *** 30 Memórias da Guerra (Parte II) A expansão do mundo Grego Alexandre III, da Macedônia Guerreiro, príncipe e rei aos vinte anos Braço forte, coração valente Morrer com trinta e três anos não estava nos seus planos. Foium conquistador do mundo antigo Teve Aristóteles como amigo Nunca perdeu uma batalha sequer Os persas eram o alvo inimigo. Era um homem de visão e inteligente Tentou criar uma síntese entre o oriente e o ocidente Egocêntrico e sanguinário Admirava as artes e a ciência de toda gente. 31 As suas guerras eram em suma por território Algumas vezes por recursos Procurava ser notório Galgava sua glória. Houve as batalhas de granico, hidaspes e gaugamela Todas com intuito de derribar A vitória ele clamava por ela Mas foi a babilônia que veio a o derrubar Sua morte uma incógnita Não se sabe se foi veneno, febre ou malária Seu grande amor havia morrido Morreu junto com o coração partido. *** 32 Memórias da Guerra (Parte III) Guerra de Troia Pelos livros, pelo filme, ela é muito conhecida Descrita pelo poeta épico Homero no romance “Ilíada” Foi um conflito bélico entre gregos e troianos Motivado pelo rapto da rainha de Esparta. Como dizem que na guerra, morre ou mata Os gregos atacam troia para recuperar Helena A paixão de uma pessoa que o fez seqüestrá-la Páris, príncipe de troia, criou toda essa tormenta. A guerra dura dez anos com troia sitiada Abaixam-se as armas e os gregos usam a cabeça Pensando em ganhar a guerra demonstrando sossego De repente surge uma idéia, um pouco inusitada Ulisses cria o “cavalo de tróia” Realmente um presente de grego. 33 Dentro do falso ventre da estátua Estavam muitos sedentos soldados Com sede que não seria de água Saíram matando adoidados. Helena retorna a Esparta Morrem Heitor e Aquiles Heróis, inimigos de espada Por causa de um rabo de saia Na guerra se morre e se mata. *** 34 Memórias da Guerra (Parte IV) Gengis Khan – Conquistador Mongol Nasceu com o nome de Temudjin Virou o senhor dos senhores Entre muitos sonhos e lendas Um lobo cinzento devoraria o planeta. Eram mitologias xamânicas respeitadas E por um breve e próspero período Houve um controle sobre uma Mongólia unificada. Treinado desde jovem como arqueiro montado Com grande habilidade como todos os mongóis Comandava o cavalo apenas com os joelhos E as flechas voavam com uma fúria atroz. 35 Foi escravizado e levado até a China Foi comprado pelo imperador chinês Mas um belo dia ele foi resgatado Por vários clãs ele foi apoiado. E criou as “leis dos mongóis” para ter sua vez. Na batalha contra Jamukha teve um temporal Todos os mongóis tinham medo de raios Mas ao ver que Temudjin não temia o tal Jamukha rendeu-se nessa batalha final. Ele virou Gengis Khan aos quarenta e cinco anos Expandiu a Mongólia até não poder mais Morreu satisfeito e com um filho sagaz Que depois da Muralha da China, chegou à Sibéria Dizem que fez a guerra para depois vir à paz. *** 36 Meras Quimeras Não me venhas com hecatombes Acordando pelas manhãs frias, no mundo, sozinha Quero, no ínterim, que se sintas minha Acarretes amor e ódio que de certo escondes. Não desarrimes as poesias que te escrevi Nem tampouco a ferida que vivi Expostas nessas palavras tortas e sinceras Que gritas bem alto serem meras quimeras. Faça-me teu escravo, teu ar Envolva-me no desaguar de tuas lágrimas Sendo em visão ébria, tua orgia em par. Deixe-me vaidoso por te servires Honrado, sem minúsculas lástimas Somente um homem completo por tu existires. "Não acredite em tudo que lhe falam, eu tenho boca desde que nasci e nunca fui a Roma" *** 37 Nossos Litígios Pelos nossos próprios litígios Tentei organizar nossas vidas Apagando insensatos vestígios E acendendo e excedendo as saídas. No doce ninho, que mesmo em sonho Onde criamos rebanhos, rebentos Em águas límpidas que fazem o banho Depurando, em epítome, nossos momentos. Amontoando em vocábulos incertos Vejo e escrevo, em linhas tortas, n'alma Optando por esse amor na justa calma Nas brigas que expulsam demônios e espectros. 38 Mas na sensatez do amor verdadeiro Vi-me lisonjeado por ser o primeiro O real, fiel e o ardente. Sou o qual lhe agarra a unhas e dentes Sendo o mais perfeito, da paixão, mensageiro Andando feito ébrio a passos doentes. Mesmo se somasse todos os números e datas Secassem todas as águas do planeta Encharcando sua face que no ápice da tormenta Sempre responde com lisura imediata. O ardor do âmago do seu ser Acabou escrevendo minhas linhas Nesse bem querer de minhas rinhas Só, e mesmo cego, posso lhe ver. *** 39 Olhos Alagados Eu podia ser o sol Iluminar teus caminhos Alegrar teus ébrios desatinos Teu calor, inferno bom Desatar de nós os nós. Talvez ser a lua Mensageira da luz do astro rei Limpar uma alma, dar vida Uma placa de metal, pela ferrugem carcomida Pelo tempo, pelo sal Tornando-a nova Ser, e só ser, um ser sentimental. Uma inspiração poética Da vida, da morte Teu colo, teu norte Calmaria e vendaval. Um peculiar timbre de uma ave Afastando os prantos Nos olhos, nos campos Das portas abertas Uma só chave. 40 Um peixe Desvendando os segredos dos navios naufragados Ir bem, além, fundo Onde a luz do sol não chega Onde a lua não influencia O som das aves não se ouvia Perdendo a bela primazia Agora, aos meus prantos, os olhos alagados. "Só o amor constrói, mas todos temos que estar preparados para os castelos de areia!" *** 41 Natureza é Medicina Minh’alma descobriu onde descansar Um alívio das barbáries do dia a dia Achou retiro, estadia Agora brinca n’um parque a luz do luar. Minh’alma é toda preguiça Assentada em uma rede de paz Olha pro horizonte e avista O vôo das aves de rapina. Saboreando a ceia mais farta Sob olhares de dóceis animais Use suas mãos e reparta O mel do amor que aqui há. Melhor que a natureza como pronto-socorro Não existirá em quaisquer dimensões Vive em sua beleza e adornos E os ventos e águas que tocam com as mãos. Médici sarati, natura curati É uma ajuda aos reis com o seu “ganha pão” Esquecer dos médicos seria um disparate Medicina e natureza fazem grande união. *** 42 Cria Vestes minha veste e gritas Caso do acaso de um inóspito afeto Assombrando-te, por entre um jardim de flores tépidas Girassóis que miram aos quatro cantos. És minha cria, própria luz, em mim sem sombra Em ti, pura certeza, sempre tardia Procuras em todos, a rebeldia Encobres-te o corpo todo em santo manto. Apontas-me, o dedo em riste, a face triste Dizendo que és só minha, afeto e escrava Amante da zombaria, uma serpente Comes a maça da própria sorte. No teu neto, que sem pai, habita a dor Prelúdio de momentos de sacrifício Ofício de morrer, viver sem graça Filha és minha vida, atonia e morte. *** 43 Entrego-me Procurei pelo teu rosto na escuridão da saudade Procurei pela tua voz em cantos de pássaros mudos Tua presença é minha quimera, meu bem estar Frutos de uma árvore bela, primavera, razão de amar. Por entre pequenas parreiras, bebo teu vinho, doce que mancha Piso em poças d'água, fazendo ondas, que refletem meu sorriso Em um segundo, por dentro de nuvens limpas, estou em um céu Voo, fazendo curvas, em um aviãozinho de papel. 44 Sem rumo e com força Sem dor ou remorso Sou homem e sou moço Sou puro colosso Livro-me da fossa. Nesse mundo, que limpo do imundo, se desfaz em desejos Roubo-te um beijo, sou um moribundo que cai no teu brejo Quero-te faminto, sou animal de circo, por fim te obedeço Teu colo é meu berço, me chamas de filho, tudo isso eu mereço! *** 45 Mamma Ao som de Bohemian Rhapsody Poderia ouvir um mundo de dor Mãe, é tamanho o teu amor Consolas, aqueces, em puro afago. Tirando-me do coração amargo Depositando em um zen zelo, tua força Viajo entre narcisos amarelos Jardins de sorrisose ardor Pegue-me novamente em teus braços Assim eu volto a ser tua criança Voltando essa grande aliança Reconstituindo todos os pedaços Em suma, o carinho que não finda És, por ti, sempre bem-vindo Pousa delirante em meu peito Faz-me, quase sem jeito, tua vida. *** 46 Crente de Amor Embriagado do puro sumo do alcatrão que habita em nuvens Nuvens de imaginação, do cume ao brejo Sinto o desejo, impregnado em absurdos e concretos Alcanço as engrenagens de suas carnes, ossos, suas ferrugens. Crio-me e sigo em frente pelo motivo que vicia Essa arte de estar a sós com você Cheiro de incenso, vida, relíquia, sorriso e prazer Rebento que sacia, somente paz, minha cria não em vão. Mais uma vez grito alto Mesmo sem motivo, mergulho e salto Das mais puras mentiras, falácias... Esnobo Explodo, escroto, um canhão. Nas verdades que saem de sua boca pintada Obra de arte do mais talentoso artista Faz com apenas dois traços o tudo do nada Deixa em grãos de arroz o caminho, a pista! Mais uma vez sussurro ao ouvido Duvido que escute, mas no fundo entende Sabe que o amor que eu mesmo vomito É minha fé, absolutamente... Ser crente. *** 47 O “Borogodó” da Colombina Voas minha pombinha, é mais um carnaval Nos salões, nas ruas, marchinha, hinos e gritos És pomba da paz, alegria dos espíritos Levas nas asas a festa, esse nosso rito. Somos todos iguais Foliões apertados nos becos O cheiro da alegria, contagia Nos corpos suados e secos. És felicidade, e da cidade tudo além Fazes a festa com sumo gosto Como um soldado em seu posto Só queres feliz ir no trem. Sabes que a alegria tem fim Como a existência de uma soberba rosa Pegues nas mãos de um querubim E faças da festa bela prosa. E por fim, mesmo que acabes seu louvor Passaste todas as horas em transe Os dias, sonhaste em puro êxtase Viveste um paraíso interior. *** 48 Minha Escrita* Peguei a caneta Minha lança verdadeira Comecei a rabiscar Coisas sérias, besteiras Algo triste, algo alegre Frases simples, outras não. Dia a dia me persegue Sublinhando a solidão. De tanto escrever verdades De tanto nelas acreditar O papel é paisagem A tinta um pássaro a voar. Junto as letras, formam idéias Junto idéias, meu viver Os meus passos, centopéia Levaram-me a escrever. 49 Uma paixão inofensiva Difundida no querer Muitas vezes explosiva Jeito alegre de sofrer. Sofrimento prazeroso Pessoal e corriqueiro Muitas vezes saboroso Doce, brigadeiro. Nas vogais, nas consoantes Nos acentos, nos acertos Bem melhor do que era antes Apagou o meu sofrimento. *do livro Poeteideser *** 50 Minha Escrita II De repouso entre um suspiro e outro Acamado entre o amar e ser amado Coração bate forte sendo fraco Pensamentos voam soltos, indo alto Minha escrita está submersa em azul anil Com sentimentos verdadeiros e inventados Vagueia entre o real e o senil Persegue o concreto e o abstrato Língua solta e comprida Profere idiomas mal falados E alados levam poemas declamados Aos ouvidos que se deixam ser ungidos Uma dor quase sempre vira escrita Escrivaninhas, com papiros, suas penas, velhas tintas O que não se limita, muitas vezes quer ser lido E o que é lido no respeito não se imita. Segue assim até nascer do branco pó O rebento que do chão fica de pé Que se engasga com as empáfias, o alento Por um momento ri de todos ao redor. *** 51 Caso do Acaso do Amor Brumas sobre águas de um charco Impérios de um só rei No brilho do meu espírito Ato do fato se fez. Perdida sem remos nem barco Cria-se um grande amor O ontem, hoje e o infinito Navegam banhados em um fardo. Sinto-me colhido maduro No pé da árvore da vida Nasci para todo sentido De pé ao pé de um muro. Natural e sublime É cega, irmão da justiça Entre o fresco e a carniça Deitado em uma cama de vime. Te aceito paixão imprevista Amor à primeira vista Faço do acaso companheiro Agora dono do meu mundo inteiro. *** 52 Só mais um Ser* Dou mais uma chance a razão Saindo do meu refúgio careta Vago na galáxia dos incertos Sem querer povoar nenhum planeta Me lembro de uma época remota Uma casca de ovo inquebrável Por dentro um grande tesouro Por fora muro branco sem porta Sinto grande aperto no peito Respeito o meu modo de ser No culto a beleza, piso com despeito Uma rosa, espinho do mal querer Com singela venda de fogo Fico cego, quente e vaidoso Quando toca-me quebrando a casca Me forma um homem de um feto formoso Muito além de mais tudo Obtuso, convexo e concreto Um vampiro banguela na boca do mundo Um ser feliz, alegre e incompleto. *do livro Poeteideser *** 53 Finalidade da Arte Abranjo o pincel como se fosse meu pai Chega de despedida, chega de adeus A inspiração chegou, a timidez se foi Sou Netuno, Odin, Zeus. Faço um traço, entro em ação Cores dimanam do meu pensar Encéfalo explode, ogiva nuclear Arco-íris, cogumelo, refração. Começam a germinar imagens Transpor o que tinha na gaveta da mente Minhas passagens, viagens incoerentes Saem absolutos, imponentes, pelas mãos. Os "nãos" e os "sins" de outras épocas ou horas Conspurcam a tela branca Formam uma figura que desbanca A imaginação do artista, sua história. E pronto, o rebento lindo e bem-vindo Ali, a sua frente, imaculado É mais uma obra, quase do divino Da verve, alento, do artista amado. *** 54 A Navalha de Occam Entre todas as teorias em uma cabeça, achei uma mais fácil de explicar e entender Pergunta-me: Por que pedir adeus? Um trocadilho? Jamais, erroneamente, irá saber. Se já deu no que foi, não perpetue a casualidade É egoísmo, pois não existe mais porvindouro Falácia e falsa moralidade Não me venha com mais explicações Sente que as nuvens negras irão sumir Pensa se o tempo pode parar A aversão é um elo para desunir, acha loucura sentir e pensar? Onde está a razão? Onde está o sentimento? Busca no âmago do interior, com a redundância desse momento. O terror de não ter mais emoção, nessa ação que lhe faz tão bem É a vontade de estar vivo, voando a favor do vento Mas de encontro a um trem. *** 55 Um Só Sim Originalidade dos meus dias sorrindo Tal qual a sensação de perda e dor As cores borradas de uma obra de arte que findo Eu, um ser moribundo de amor. Teu cheiro que ficou impregnado nos lençóis Boca que saem palavras de desatar nós A vida poderia ser tão simples para mim É só sair do teu cerne um sim. Ouço sinos, tenho uma renovada expectativa Todas as campainhas tocam em uma orquestra Sei que a falta é só o que resta Sei que a falácia na minha vida não é viva. Por contornos de rostos amigos Dentro do mais puro coração Canto e prego em belos versos antigos. Sinto que sem tu é falência Como andar de ré em contramão És toda minha inteira essência. *** 56 Isso não é vida Vivemos em um faz de contas onde as contas se empilham nas mesas incertezas são nossos irmãos siameses e há meses segurando as pontas Estômagos gritam nas ruas das grandes cidades pessoas ricas, mudas e cegas, passam com seus braços engessados elas tentam com todas as forças esconder as idades algumas se ferem, esticam e se castram É muito igual à desigualdade fingem a crença para se perdoarem Com lágrimas, ao desaguarem muita pobreza. Estão aqui, o pensamento na Europa e em outros lugares Assim roda a bola até um dia esvaziar Acabar o ar, não servir mais para nada Irão nadar nas fezes os que sobreviveram Todos sorrindo chamando de lar. *** 57 Utopia do Bem Viver No final, tudo dará certo Águas límpidas em terreno fértil, só pode acabar bem Vi folha seca cair e adubar Ouvi cantos, desafinados, de pessoas zen. Chorar sozinho não faz mal a ninguém Muitos estão sozinhos,muitos estão mal acompanhados Se te encontrarem de joelhos deixem que te achem maluco A verdade só pode andar junto com o ser amado. Árvores mais altas tem os frutos mais doces Muita gente não gosta de açúcar. 58 Vi-me pensando na vida e questionei-me Peguei-me ouvindo as ondas e mergulhei. Olhando estrelas do mar e do céu, senti-me maravilhado Respiramos a vida, natureza e além Comemos o fruto proibido, que na verdade se podia não sei. Dando as mãos iremos longe, mas o perto é menos afanoso. O que é gostoso muitas vezes pode fazer mal Olhando para baixo ou para cima é maravilhoso Sentindo o amor se espalhando, agraciando o geral. *** 59 Papel em Branco* Ela sempre com seu jeito me comove Aflito, meu coração quase explode sem calma Emoção do amor ao extremo Chicotadas nas nádegas da alma. Universo de intensa reflexão Penso nela dia a dia, pernoites Falando sozinho, rolando no chão Uma loucura que me rasga o corpo Um vazio nessa grande obsessão. Fixo olhar no telefone que é mudo Variando com meu relógio, inimigo Só queria seu suor, ser amigo Despedaço minha razão de viver. 60 A nobreza que há tempos me deixou Irrelevante é saúde e paz Amor próprio não considero existente A tristeza sou eu mesmo quem faz. As vezes não sei porque me engano Essa pessoa não existe pra mim Se me flagelo é só em pensamentos Se me desgraço só na mente me arranho. Vou lhe dizer porque isso ocorre Quem me socorria já está no seu fim Inspiração, quem foi que disse que não morre Já está sucumbida e enterrada no jardim. *do livro Poeteideser *** 61 Não Precisa Dizer Não diga que o mundo é redondo Que o carnaval é em fevereiro Pedofilia é um crime hediondo Que Brasília virou um chiqueiro Não diga que ninguém sabe tudo Que Lars Grael é brasileiro Que Kojak não era cabeludo Uma gíria de carioca é "maneiro". Não diga que a coisa mais bela é o amor Que Japoneses são quase todos iguais E a traição causa muita dor E um x meio torto é um sinal de mais. Não diga que Antonio Meucci inventou o telefone Que sorrir faz bem a saúde O Gradovildo quer mudar o seu nome E muitos procuram a plenitude. Não diga que a poesia é uma das coisas mais belas Viver é muito mais que estar vivo Injustiça é uma das piores mazelas Que Adão não devia ter umbigo. *** 62 Nunca Estaremos Sozinhos A noite clara soma-se com seu olhar A jóia rara de um vago amor Luzes que querem se acalorar Esperança renovada no ar. O iluminado e o iluminando Sons de harmônicos violinos Um toque de Vivaldi Sentimento de voltar a ser menino Pintura de Anita Malfatti Emoção da nostalgia. O dia soma-se com sua beleza Rotina de amar Espelha tudo que é encanto Clareza. O desejo e o desejado Toque do mais puro algodão egípcio Esculturas de Aleijadinho Nunca estaremos sozinhos Enamorados. Amor é casca de ovo Caminhada sobre as nuvens Mil vezes tentaremos de novo Tirando as ferrugens. *** 63 Palavras sem Nexo Inacreditáveis sorrisos banguelos Discriminado pela aura da alma Sol nascente na penumbra da noite Gato branco na neve se acalma. Um grito mudo, mais alto, no fundo do poço Um esboço da mais feia obra prima Uma rima para recitar no calabouço O osso na boca do cão que fascina. Na esquina a água escorrendo na latrina Uma briga que envolve um grande colosso Insuportáveis dias de manhãs escuras Absurdas e volumosas nuvens parecendo algodão. O "não" como palavra de ordem nas ruas Nuas, mulheres desfilam em vão Os pigmentos das tintas que pintam o mundo São misturados por deuses, doentes, imundos e sombrios. Sadios ficam os desavisados Armados até os dentes não sentem calafrios O universo se acaba com o verso, com a história A humanidade vira uma montanha de cinzas. As palavras sem nexo que trago nessas rimas Vão ser enterradas, erradas, com a nossa memória. *** 64 Poesias, Textos e Letras Sou muito mais que queria Nas palavras que escrevi na minha vida Extravasei a primazia Com a ambição adquirida. Textos, cor e poesia Quero mais em meu viver Escrever, matéria prima Arco-íris do meu prazer. Alacridade mais que garantida Mantida e ativa pela inspiração Se a verve faltar nessa receita Fico sujeito a reprovação. Busca o puro âmago do amor Simplesmente tudo mais que der Ganhou fama, deitou e quebrou a cama Variações de um poema qualquer. *** 65 Saudades Tenho saudade da minha infância Meus amores de adolescente Da minha imaginativa elegância Da minha fé crescente. Sinto saudade de grandes amizades Amigos do peito Sem desigualdades Para tudo dá um jeito. Não me falta saudade do tempo livre Não precisar de relógio algum Mergulhar fundo na emoção que tive Sentir uma felicidade incomum. Demasiada saudade dos meus amigos que se foram Uns muito cedo, outros não Amigos que ficaram distantes Até os que me deixaram na mão. *** 66 Um Resumo Como um feixe de luz na alma Prisma de paz e harmonia no coração Decorei com palavras minha vida Sobretudo sobre a verdade e a emoção Sem palavras, com argumentos Com intenções, sem pretensões Sem cenas, com acontecimentos Com e sem acomodações Vou levando iluminado e iluminando Voando, nadando ou andando O importante é chegar Em algum plano e lugar Com calma e paciência Inteligência sem demência Muita inspiração e imaginação Escrevo nas linhas os poemas Os sentimentos, histórias e momentos O âmago da minha emoção. *** 67 Um Fedor sem Pudor* Imaginação florida Cheiro de podridão no ar Urubu já na corrida Para longe desse lugar. Era um chiqueiro sujo Corpos valendo moedas Homens eram “ditos-cujos” Mulheres “pés-de-chinelas”. Tudo na mais imperfeita ordem Tudo bem para quem é morto Uma porta escrito “mortem” Um esgoto mais que torto. Um fedor nauseabundo Um pudor que não existe Zumbis de outro mundo Nessa vida que em lá persiste. A noite uma orquestra De dia nem um barulho De tarde uma quaresma Sempre um cheiro de estrume. "De médium, psicólogo, poeta e louco, todos nós temos um pouco" *do livro Poeteideser *** 68 Sem Final Feliz Amanhecendo com orvalho e cantoria Uma casinha em Tiradentes sinto o toque nostalgia Esquento a viola, cheiro de café e mirra Queijo minas e o esplendor d'uma família. Tá pronta a mesa e a promessa e plenitude A geléia de amora e amor Uma vida com o gado e saúde Cidade grande dispenso com fervor. Quero sentir cada dia como último Realizar o que manda o coração E na canção não faltará magnitude Que é nosso filho, nossa jóia, criação. Afino a viola, afino a vida E a música que marcou a geração O sentimento de paz que nos obriga Felicidade vale tudo, está na mão. Mais adiante adentro ao tempo e ao acaso Pouco tempo, pouco caso, uma doença De não tratá-la, eu lhe perco me arraso E perco tudo, perco norte e minha crença. *** 69 Eu Poesia Não seremos prolixos, vamos falar de poesia Eu, meu eu lírico e o alter ego se exporão Concordamos que a mesma, no âmago, é cega, um lince, feia e linda Em sua saída, abraçada na verve, leva contigo tato e emoção! Poesia pode lhe trair, atrair e extrair Estimular muitos, ou nenhum Ser alento ou veneno. Pode, com sua criação, somar ou subtrair Levar aos sonhos, ser foice perversa, vertigem Ser seu metiê, ócio, dar ordens ou obedecer. Em poemas libertinos Que quase sempre em linhas tortas Ficariam mortos, desatinos Mas comovem platéias, alcançam destinos! No arcano que é a poesia Fazemos uma idolatria doentia Poesia é menina traidora e mentirosa. E nós, mesmo que na ferida exposta da fossa De pé, batendo palmas Damos guarida, espaço e nossas almas. *** 70 Sorriso da Hiena Deitada sob a sombra da árvore de José A lua aos poucos se movia para iluminá-laCantarolava uma melodia incomum, algo como uma sinfonia sem ritmo, sem fala Odores de diversas origens se espalhavam Para quem amava, eram prazerosos perfumes. Como existe a variante do ganho e da perda do orgulho É como ebulição da pura causa Na hora que a água seca, mesmo que seja tarde, é valiosa Como um embrulho sem fita, laço, cartão sem prosa. 71 Caminhando só, com os pés no chão, perdeu a identidade Perdeu a sinceridade Achou amargura Colheu perdão. Seu olhar perpetua-se em um passado próximo Uma época boa de ilusões não descobertas Um passado de campos e doces sons Passado que lhe agradava em todos os âmbitos e sentidos. Mesmo que não desmascarado tal tempo Nem tampouco o reconhecia como monstro surreal Tornou-se real e palpável Felicidade estável Um sorriso de hiena. *** 72 Água Que Guia uma Águia Vejo rebento rapina Que em ondas e ventos chegou Fez do mais velho, menino E a discórdia enterrou. Nasceu do amor impregnado Uma busca que nunca teve fim Chuva e semente, cultivado Verde, forte, capim. Cresce e se alastra com brilho Bate suas asas de pégasos Voa por entre palácios Desperta nas nuvens seu filho. Aurora de paz, sentinela Seus olhos fitam o amor Orquestra um grito de guerra Na companhia de um condor. Vejo de baixo incrível beleza Derramo sem piedade meu pranto Sem jeito mas com sutileza Viro, caminho e canto. *** 73 Amor Enfermo* Quando por fim chegou a mim Veio de uma forma tão ímpar Voou alto nas nuvens, Uma estrela pariu Desvendou meu enigma Simplesmente surgiu Fácil demonstrar o que sinto Mais fácil ainda é fazê-lo crescer Amor, sentimento infinito Acabou de amadurecer Sem meu escudo e armadura Frágil a sua mercê Submetido a sua postura Ajoelhado com muito prazer Te amo, te quero, te tudo Sou seu e de ninguém mais Um ser absoluto Incompreendido jamais Faço em você o meu leito O deleite do leite que alimenta Faço por que te quero imensamente Faço por que me rejeita. *do livro Poeteideser *** 74 Outro Domingo Meus lábios se tocam A pupila retrai Respiração ofegante Uma gota de suor, do indicador, cai Não sei onde esconder minhas mãos As pernas tremem No cinema diriam que é sedução Na vida real mentem As cores ficam mais vivas A tristeza mais morta Coço a testa Depois a coxa Vou indo em sua direção Ninguém em contramão Me apoio em seus ombros Meus lábios deixam de se tocar Entorto a cabeça 75 Sei que vou te beijar Desejo que nunca me esqueça Mas é pura conversa Puxo-te pelos braços Quero só que obedeça! Procuro o motel mais perto E mais barato também Resolvo, te levo pro mato Faço o que der na cabeça Depois de nove meses um parto Outra boca pra alimentar Sem estudar já é praxe Drogas pra fumar e cheirar Mas não leve a mal Tenho que parar de escrever por aqui Já é novamente carnaval Mas outra mulher pra parir! *** 76 Um Dia Bonito é Aquele Um dia bonito é aquele Que o céu está azul Não está calor nem está frio Pessoas sorrindo para pessoas amáveis Uma leve brisa pura Não existem aparentes problemas Todos podem caminhar na praia Lembranças agradáveis. Um dia bonito é aquele Em que se tem um amigo por perto Que se sabe o errado e o certo E se acha o que nem se procura Nunca embaixo de uma nuvem escura E nem precisa ser culto ou esperto. Um dia bonito é aquele A ser vivido a cada segundo Como se fosse acabar o mundo Um brilho intenso de energia positiva Um dia lindo para nunca mais ser esquecido Viver a vida como uma grande aventura. 77 Um dia bonito é aquele Começa com uma bela manhã Orvalho nas plantas Cheiro de hortelã Muita esperança Um quente e bom chá Com boas torradas Depois pego a pá Planto uma árvore Um pé de goiaba De jacarandá. Um dia bonito é aquele Que termina com uma bela noite Sem desgosto, tortura Com afagos, sem açoite Sem nenhuma amargura Mas que no fim sempre deixa sem resposta a pergunta Qual a razão dessa vida, o que a gente procura? *** 78 Ao Apego Giro pela noite, sozinho Por ruelas e boates obscuras Já não tenho medo, nem ninho A alma já não está mais crua. O que de ontem tinha pena Nessa hora é minha cena Se minha atitude é retina Minha visão cega, uma sina. Fato e atos de uma vida nua Que se desfaz no óbvio sombrio Me torno seu na cama tua. Até em sonho, estou no cio Só na morte encontro ajuda De semente à muda, enterro o frio. *** 79 Dizem que é Assim Por meio da harmonia se faz o equilíbrio Por meio do equilíbrio encontramos a paz Por meio da paz se faz o amor Por meio do amor tudo se faz. Vamos semeá-lo Cria-lo sem algemas nem cobrança Onde encontrá-lo? Na alegria de uma criança. Vamos cultivá-lo Com tempo e esperança Pra hora da bonança Sorrir sem intervalo. Vamos colhê-lo Com cuidado e sem exagero Com amor e muito zelo Pro amanhã nunca faltar. Por meio da imaginação se faz criação Por meio da criação se faz a arte Por meio da arte se faz dia a dia Por meio do dia a dia se faz à bela vida. "Felicidade não precisa sair pela boca, basta ficar na alma e no coração" 80 A Lâmina O que corta minha inspiração, eu só, uma só lâmina Pode-se às vezes chamar depressão, sem leme, na lama Angústia, adversidade Até mesmo falta de amor Não consigo repassar o que sinto Sendo bom ou ruim Uma insônia de relaxamento Dor Lembram casas sem luz com pessoas sem ler Lembram mentes criativas censuradas pela lei Muita gente pergunta se irei sobreviver assim Tenho medo de dizer sim e ser verdade. 81 Mutação para a dor interior Tenho milhões de frases feitas Ao mesmo tempo não tenho uma só sílaba É coerente estar passando por um momento ruim Mas sempre a fase acompanha uma sintonia errada A minha censura é muitas vezes me censurar A minha procura já não me cabe se eu não quero achar Vou levantar e dar voltas pela casa Vou me deitar e dar voltas no tempo Aflição Temo deitar e não conseguir dormir Se dormir posso ter pesadelos de nostalgia, carinho e solidão Temo que os pesadelos sejam reais Tudo é temor Temo temer. *** 82 Laço em Pingo D’água* Um amor quase impossível Dividido e abstrato irremediável, irreversível Sem visão, sem olfato Sem audição, paladar e tato. Buscando sair do ostracismo Além do mais querer Além de tudo que é vivo Além do mero prazer. Se revirando em mil Conquista a ser feita diariamente Um enlouquecido jovem senil Mil e uma faces, disfarces, vertentes. 83 No âmago do coração Infinitivamente se chamava de amor Tão longe do alcance das mãos Tão perto do alcance da dor. Princípio ativo do fim Primórdios de uma paixão ainda crua Ilimitadamente para dizer sim Mas o “não” ainda perpetua. Busca consolo em quem te quer Pena não existir tal figura Roubando o coração de um qualquer Castrando de outrem a paz e implantando amargura. *do livro Poeteideser *** 84 Pela Vida Vida, peço licença Quero amar, mas sendo livre Desatar os nós da cabeça Nunca padecer pelos sacrifícios Já revoguei indiferenças. O meu suor e minha crença Que sangra pelos orifícios Muitas vezes abrandam problemas Ditos, ossos do ofício Do ser rico e ridículo. Vida, peço licença Vou necessitar de uma poda Para ser mais belo por dentro Porque atualmente por fora O homem está fora de moda. 85 Chega de deuses de olhos azuis Quero um ser cego, não belo Quero o arco-íris sem o amarelo Um Deus que saiba pra onde conduz. Sem pregos, sem egos Sem cor nem dor Sua sombra sem cruz. Algo assim que não sei Que não se mostra, não se esconde Guiando para..... Ninguém sabe onde Vida, já passei. *** 86 Ano a Ano Em janeiro levanta e me beija Lava o rosto e diz que já volta Fevereiro você é muito livre Nãodepende de mim, se lhe prendo se solta Março é só beijo e abraço Descobriu o caminho para o meu coração Abril me faz lhe pedir em casamento Faz juramento de eterna doação Maio é o mês de pura magia Nove meses de espera, vai aumentar a família Junho nunca será esquecido Um mês esquisito, sonhei com uma filha 87 Julho eu só peço que chegue Ainda está mais intenso o meu esperar Agosto, o talento está em alta Aguardando a volta da inspiração Setembro eu sempre me lembro Caneta e pincel na palma da mão Outubro, o céu está rubro O mar azul e o brilho do luar Novembro faço seus desejos Te levo nos braços para qualquer lugar Dezembro é o final de tudo Sem dor nem absurdo, assim é te amar. *** 88 Livro do Mal Foi a mais bela de todas Vivia em seu castelo protegida por um dragão Usava ouro, jóias e vestidos de seda Ninguém podia lhe tocar a mão. Era pintora e falava mais de dez idiomas Sua voz era de um belo tom Tudo de nada serviu Pois de casa nunca saiu Para expor o seu dom! Passava o dia inteiro cantando e escrevendo em sua redoma Já havia escrito mais de cem livros Entre contos, prosas e poesias Havia um que era exclusivo. Um livro de poesias sobre a vida Sobre ser o que nunca virá a ser Falava sobre viver com várias saídas Livre arbítrio para beber e comer. Narrava a vida em Gomorra e Sodoma Sobre vinhos e depravações Subtrações que se revolvem em somas Mostrava quase todas as emoções. 89 Mas o seu tempo foi passando A velhice chegou Sua pele foi enrugando A demência lhe pegou. Por fim morreu com seus escritos Nunca o mostrou. A verve, por sua vez, pensava perdida Mas surgiria um mito. As datas foram ocasião Os livros que o passado deixou fora Atualmente em uma escavação Acharam essa biblioteca de outrora. O mundo caiu em sobras Sua escrita alguém publicou Tal sombra do mal o devorou. Não tinha asteróides nem cobras Nem as previsões de sábios É o puro armageddon de alfarrábios. Embora seja só uma história E o livro não tenha o menor dolo Bebemos o vinho e comemos o bolo. Tomando cuidado com a verve Sabendo sempre o que lê Com atenção no que escreve. *** 90 Sair, Saindo Vou sair por este mar vagabundo Onde não pode apoiar-se nas paredes Nem no domingo se deita em uma rede Só digo gritando que sou dono do mundo. Olhando o céu sobre minha estrada Vejo um futuro quase sem mágoa Uma ablução com a beleza da água Que bebo e utilizo de estada. Mas se a imundice visitar-me E com seu odor e despudor, encruar-me Terei que refazer minha malas. Quem sabe em uma ampla casa eu viva No horizonte da minha mente ativa Que são, no dia a dia, minhas salas. *** 91 A Você* A você dedico meu tempo Termino meu verso Estampo meu cansaço no corpo e na alma Desperdiço meu sangue que já é pouco Choro muitas vezes por um sorriso Outras por nada Abaixo a cabeça Me calo Me inclino, reverencio Aceito. “Não me importo se não agrado a gregos e troianos, contanto que eu agrade a destros e canhotos” *do livro Poeteideser *** 92 A Perda da Fé A visão mais turva, suja Deixa que eu mesmo piso na uva Sei que irá curar o desalento Muito mais fácil deixar cair, dos olhos, uma chuva Cansei de levantar, para o céu, as mãos Engasgo com o medo, ébrio e hipocondria Supre a dor com o comprimento de um comprimido comprido Levanta e não cai de joelhos ao chão Dizem que um Deus te ama O resto do mundo não Todos os elos dessa corrente Foram tomados pela ferrugem Águas só me molham, aos outros, ungem Palavras incertas, ditos incoerentes 93 Com os nossos cabelos ao vento Que acabam levando a vida Uma partida fez-se momento Para um lugar bom será sempre bem vinda Como sabemos dos nossos erros Como fingimos indiferença Como negamos todos os zelos Como sofremos com nossas crenças Dedão nas orelhas, mãos espalmadas e línguas a mostra Armado o circo, chamamos os santos Com olhos cegos, soltem seus prantos Eu perdi a fé, quero uma forra. “A fé pode mover montanhas, mas a religião pode corroer as entranhas” *** 94 Eutanásia Olho dentro de mim Sopro de uma autocrítica Sei que nem sempre me expressei assim Falo muitas vezes em mímica. Quase sempre não me abarco Jamais confessarei isso a alguém. Lindo deve ser lutar para ser, já sendo Terrível deve ser querer ser maior, e ser ninguém. Me bato, com um tapa na cara Me calo, berro para dentro Me mudo, faço as malas Me chamo, sou bem desatento. Por fim me penitencio por inteiro Espero que alguém me impeça Faço promessa em um outeiro Arranco de vez minha cabeça. *** 95 Imoral Dos fascínios de uma única pura sorte Entrando em uma farta imensidão Preparando-se com o seu ego absoluto Estou chegando maior que o mundo e menor que a palma de sua mão. Quero ser dono da sua alma e do seu coração Um pouco do absurdo de nunca ter tido uma vida pura Da pureza que lhe é rara E na redundância de minhas palavras Friso-as bem, antes que emudeço. Suga tudo que é de bom de tudo E do seu próprio sangue, mesmo que ralo Assim que é falha, assim que é fogo Pois assim na palha, tudo é um jogo Incendiou a sua casta. 96 Caminhada perdida, alma penada Feliz, de encontro ao avesso Nunca há derrota, pois de certo a merece Em todos os seus pecados, padece. Imoral, impura, inquieta e imortal Uma vida, de lama, se perpetua No desdém que sua chama queima Colecionando paixões às escuras Os nomes não interessam a ninguém. A religião é descartável Um deus só para chamar de pai Órfão já na barriga magra Uma raiva que sempre lhe trai. *** 97 A Dança do Amor De um absurdo a outro A vida traz e trouxe Modéstias benéficas que levantam o ego Juntam em um tipo de liquidificador. Com elogios exagerados de doce São o martelo e o prego A faca e o queijo Afago, beijo e desejo Goiabada e o marmelo. Fazem o caminhar Dão força Tornam moço ou moça Rei ou rainha do lar. Conjecturas de lado Sendo o amar e ser amado Saber onde procurar No ritmo de um tango ou fado Quase sempre se sabe dançar. *** 98 “Inacriatividade” Deitado em meu leito de morte Há meses sem nada escrever Não cicatriza o meu corte Navalha da “inacriaticvidade” do meu ser Sinto que a vida irá esvair-se Quando a inspiração acabar Escutarei berros no ar E tomará posse a mesmice. Sinto toda pureza explodindo O doce do mel foi-se à fel Bocas banguelas sorrindo Pintado de ocre o céu. Sinto o poeta moribundo Tentando achar no avesso do mundo Sua força e vontade de viver. Me acorde desse pensamento ruim Que me veio em um estalo assim Pesadelo que nunca irá ocorrer. *** 99 “Algemoso” Escorre nos pensamentos Escorre com toque de nostalgia De vazia se faz cheia, mas agora de poesia Do pó ao pó. Mente criativa, na ativa, ativa ideia Filosoficamente velha, é nova, pode ser tudo De sol a moribundo, de amor a moribundo O que acharem melhor. Dentro da imaginação tem tudo Mente ou não, em mente De lagarta a borboleta São iguais, outrora diferentes A cor roxa é violeta Papo benevolente Que prende. “Algemoso”. O poeta magoado Sóbrio ou ébrio Sendo que anda fazendo curvas Caminhos são fardos Infernos são céus Todos os gatos são pardos. *** 100 Sou Bruxo e Sou magro, Sou Bucho e Sou Mago Pego o livro e abro A história que quero vem de dentro para fora Alacazam, abracadabra Minha imaginação aflora. Saci Pererê, bruxas Poesias, romances Nos livros, a leitura é obtusa São linhas e entrelinhas de várias nuances. "Um pais se faz com homens e livros" Seu Lobato, sabiamente, falou Na imensidão das letras que formam palavras Os sonhos de quem fui ou quem sou. A leitura é pura magia Posso ir do Polo Sul ao Norte Realizar todas as minhas fantasiasQue no final pode ser azar ou sorte. 101 Nesse caldeirão de fértil alegria O final feliz é do leitor Um aprendizado adorado O livro é um presente de amor. Sem, ou com, bruxarias Sem poção, ou beijo, de amor Seguimos em uma estrada de várias guias Folheamos o alívio e a dor. Leia sempre, arrisque escrever Sentirá o poder de ser bruxo Tem o nosso "Coelho" que sai da cartola Sinceridade de algo que acaba de ler. *** 102 Explorador de Mazelas Pedi aos Deuses o mais profundo sentimento de amor Por onde caminhei vi maldade, egoísmo e dor Pensei, muitas vezes, desistir de seguir essa vida Mas não posso tirá-la Seria injusto. Vendo uma formiga, ser minúsculo, ter seu formigueiro devastado por uma chuva fraca Mesmo assim constrói outro, trabalhando sem parar. É assim, na vida, que elas sempre vão se exprimir Forte, insistente. Como dar uma paulada na água! Quebrar o vento! 103 E nós, por causa de uma pequena pressão Que faremos? Vejo-me, dizem todos, o homem, ser tão íntegro e poderoso Sucumbindo, desistindo. É o que vemos! Dentro desse pensamento serei mais fraco que uma formiga Vivendo a cada momento chamando a vida para briga Ouvi alguém dizer que a vida gosta de quem gosta dela Por isso escrevo e a dor enterro Assim sigo feliz, usando e explorando minhas mazelas. *** 104 A Remota Perda Da Inspiração Na pura vaidade que esfaqueia Arrancando-lhe todo sangue que irriga Deixando-lhe a mercê da própria sorte Mostra o lado negro da sua vida. Mostrando tudo aquilo que não gosta Egoísmo que você nunca consertou Encostado nesse ombro amigo que te conduz Que é mais falso que um conhecido apóstolo de Jesus. Como ilusão usa o infinito como fuga Nunca indaga se a vida poderia não ser imposta Se a estrada, asfaltada, tem menos perigo Sou seu amigo mas não tenho as respostas. Na deselegância do seu falar com outras pessoas Envolvi-me com o seu jeito absurdo Não aceitei ser pior que ser imundo Também não vim ao mundo a trabalho ou à toa. Perdeu algo, respire fundo e procure Quando ela some costuma vir ao final do dia A humildade ás vezes adianta os seus passos Mas a vaidade por outro lado a torna tardia. *** 105 Alcova Invisível Cuide de você, pobre figura Quem não lhe conhece que lhe venda Nem um vintém vale a sua Se olhe no espelho e diga "se renda" Desesperar é o seu forte Seu suor não cura seu corte Você não vê porque é cego Ressuscite de vez o seu ego Vejo um final para sua vida Estradas cheias de curvas fechadas Nenhuma luz indica a saída Um abismo indica a entrada Chuva forte, furacão Lama grossa, inundação Frio absolutamente abaixo de zero Roma com um toque de Nero Alcova é o ventre da mãe ainda viva Prostíbulo que já foi abandonado Pra sua vitória não há resultado Morrer é a única perspectiva. "Se há vida após a morte nem é tão importante, mas o essencial é haver antes." *** 106 Do Próprio Veneno Arranca o meu coração e coma Beba minhas lágrimas de dor Pisa-me, já que estou deitado na lama Sempre fez da minha vida um horror. Vem com uma pedreira nas mãos Com sua dinamite e punhal Os arqueiros, guerreiros e canhões Para sua vitória final Porque não desiste e me deixa Tem que rir e me fazer sofrer Bater, cuspir e pisar na cabeça Dizer que sou impotente ao seu ver Nunca foi feliz ao meu lado Já me traiu com outra mulher jamais teve comigo um orgasmo Nem um momento de prazer qualquer Disse que nosso filho não é meu Mesmo eu vendo que se parece comigo Sei que nessa taça um veneno me deu Mas eu troquei a mesma contigo. *** 107 Erro Crasso Faça o que for, mas não me deixe passar em branco Dê um desconto de ocasião, nosso castelo desmoronou! Dê-me o fora, mas não fira a fera que há em mim Entre encontros e desencontros, certos e incertos, nunca queira que da minha boca só saia “sim”. Absolutamente honesto, sou modesto! Quando quero posso amar e com todo amor me dar. Pensa que me conhece tão bem Pronuncia meu nome inteiro ao contrário Pode contar para um outrem todo o meu passado, isso eu não contesto! Mas não sabe se sou canhoto ou destro. 108 Olha-me com faca nos olhos e pedras nas mãos Nunca soube nem saberá dividir o pão. É egoísta, egocêntrica e tudo de ruim que é relacionado ao ego Quando é lua cheia as pessoas mudam, para você isso sempre será em vão. "Você pode até dar o passo maior que a perna, contanto que esse passo seja sempre para frente" *** 109 Nódoa Passou percebido como um terremoto Teceu vários olhares Sons inóspitos para alguns Agradáveis para milhares. Rebeldia de uma meretriz Capitalista convencional Compra, comprará, comprou, quem quis Absolutamente fenomenal Mulher perfeccional e pérfida Adjunta de tudo e todos que te convém Sua índole muito maléfica Fazia do mais importante um ninguém Seguia com o nariz apontando para o céu Fazia de qualquer Deus um réu Mais bela, inteligente e realizada Dona do tudo, quase tudo e do nada. Sempre foi uma rainha que não transige Não precisava de um rei só Não tinha dó, nem ré, mi, nem lá... Quando morresse viraria ouro em pó. *** 110 O Ser 2000 Nasceu mais uma bomba relógio O rebento prodígio atual feito de negação Pólvora circula nas veias desse ser biológico Pronta entrega de emoção. Expondo tudo e todo sentimento A todo o momento, a todo lamento O torno apertando seu cérebro Célebre pessoa de mãos dadas com seu sofrimento. Escorre por todos os seus dedos Essa animação que outrora desanimada Do nada mais uma semente germina Mas que acaba por dar em nada. Acabou o sonho e com ele vem o pesadelo Ecoam no céu gritos de infelicidade A normalidade é mera conjectura O caos é pura formalidade. Hoje é um dia comum Defecam em um povo pobre uma bomba Um Deus qualquer para causar discórdia Outro para o próximo afronta. *** 111 O Ser 2000 (Parte II) Estou aqui e pronto Estupefato com o fato É assim a bola poluída Largaram-me nessa ralo Nasci para fazer volume Excesso de contingente Lotado de estrume no mundo Pensando e fingindo ser gente E a camada de ozônio? E a massiva perda do hormônio? Tudo enferrujado e imundo Onde se compra os neurônios? Um botão para acabar com isso Urânio solto no ar Um sorriso, um compromisso Flatulência da bomba H Acabar de vez com essa bola Jogar fora todo esse lixo Matrimônio do errado com a escória Terra de gente virando bicho. *** 112 O Rio Sigo frio por entre as pedras Sigo forte por entre o limo Refletindo o céu límpido com acanhados algodões Intocáveis pelas mãos. Um grande receio que me aflige Uma esperança de carne e osso Da pedra jogada que nunca me atinge Cachoeiras de mágoas são seu esboço. Sou sempre seu eterno graveto Descendo torto pelas águas Querendo o leito do seu rio limpo Acabo no brejo podre de sua alma. *** 113 Pessoa Sandia Uma idéia fácil Pensamento sutil Entre o faço e desfaço Doe o meu miocárdio. Abro e fecho torneiras Besteiras corriqueiras De um alucinado drogado. Sinto que de alguma forma Faço coisas estranhas Entranhas de um buraco Fraco, entro e embarco. Já se passam horas Dias, meses talvez Eu sei que posso agora Tomar esse frasco de vez. Nunca fui tão prostrado Armado fui desarmado Achado quase perdi Entrando por onde sai. Vitória, conquistas, caminhos Vida, refugio, morri. *** 114 Somado Ao Mais Do Múltiplo Do Resto (parte I) Beijas-me com todas as forças Digas-me que sou eterno Nunca me escondas que és moça Quero viver amor paterno. Sempre no sossego da calma Desnudo de satisfação Negas a libido que alcança Filha da disposição. Tudo somado ao mais do múltiplo do resto Incesto que nunca ocorreu És minha por isso confesso Embriaguei-mede um sangue teu. Seco por fora e por dentro Molhado pela imaginação Sorrindo de puro desprezo Chorando bicas de solidão. *** 115 Somado Ao Mais Do Múltiplo Do Resto (parte II) Ostracismo ímpar Incontestável peso na consciência Ciência que nunca será resolvida Podes chamar Freud e a realeza. Minhas palavras podem ser falácias Mas são farmácias para te curar Não há no ar remédio mais poderoso Bebido, eleva em demasia tua grandeza. Nem sempre procurei em ti só beleza Quero abrigo, anseio, sinceridade Dispenso a atração carnal Só atrai mais ansiedade. Por fim, peço tua sola na minha face Cuspas-me, me batas e arranhes Que eu apanhe até perder a força E que meu afeto eu mesmo disfarce. *** 116 Um Mau Lugar da Pseudo-morte Com as mãos sujas de pecados Corpos fortes, mentes fracas Lixos espalhados por todos os lados Ficam a empunhar as suas facas. Uns nus gritam abafados Outros dizem ser soldados de Hades Mas todos buscam se alimentar Comendo os corpos estragados. Existe em frente um imenso mar de sangue Com ossos e pedaços de carne Na junção com a terra se forma uma espécie de mangue Com pequenos moluscos que beliscam as faces. O cheiro de podre domina os lugares Também no ar existem pequenas cinzas De corpos queimados pelos calcanhares Bocas abertas procurando brisas. A dor e o medo são cotidianos Zumbis e moribundos vomitam maldade A esperança e a vida há muito tempo padece A única saída é pedir piedade. *** 117 A Certeza do Existir Existe um amor permanente a cada expoente de um coração Segue batendo latente, sem compromisso, sem dor e noção Dentro de cada individuo divide uma vida em amor e razão. Nele convive a certeza e com clareza sendo sim ou sendo não. Basta a sinceridade e a verdade da própria emoção Quando se nela acredita não existe barreira que não caia ao chão Já no final de tudo cabe achar seu par seu amor Quando achá-lo, contudo, entre de cabeça com todo o ardor. *** 118 Amor e a Poesia, Poesia e o Amor Frio intenso como nos pólos O calor das mais altas temperaturas De rachar todos os solos De congelar qualquer clima Mais escuro que a pior cegueira Tem a claridade da explosão nuclear Saem das bocas, vomitam besteiras Somem as palavras, perde-se a rima Olho no olho, dente por dente É coerente que os opostos se atraem Na beira do abismo, um passo à frente Mergulho fundo é que só o amor constrói No amor e na guerra vale tudo Na poesia não é diferente Todos os três fazem parte do meu mundo Basta ser sábio e não ser prepotente Batendo as asas as rimas voam com paixão fogo, explosão e resfriamento Devagar pousa na imaginação Leitura, viagem e contentamento. *** 119 Ce Fini Não digo mais que me vou com o tempo Nunca mais, enquanto vivo, lhe deixarei É ímpar a importância que tens para mim Ouro, diamantes, tudo para vestir um Rei Você é o umbigo do meu mundo É o resto do corpo também Minha poesia pode ser imatura e frágil Minha poesia é um desabafo é me faz tão bem Escrevo-lhe singelas rimas Seria um erro crasso não mostrá-las a ninguém Estão nesse papel velho e amarelado Com minhas letras tortas de ancião Nessa minha mão não firme Que mesmo assim afirma não estar morta. Não me culpe por lhe querer em demasia Nem por esperar a recíproca da mesma forma Pois não importa se a poesia torta nos ensina É que fascina e mesmo a sina não está morta atrás da porta. E agora assino lhe provando total autenticidade Meu nome escrito com todas as letras e acentos Que você foi a única mulher na realidade Que foi dona dos meus erros, das virtudes e do meu reino. *** 120 Cito uma Certa Curta Carta que Sinto que Corta Nunca mais escreva para mim Angustia que me parte em bandas o coração Moléstia, ignorância, azia Colocou em uma carta tudo que seu corpo carrega em vão. Seria melhor se me esfaqueasse de verdade Iria doer menos, por menos tempo Mas continuaria sem razão. Em uma atitude vulgar, descontrolada, oca Diz-se dona de tudo, quase tudo ou nada Coloca em um papel toda a raiva de um ser Estende um tapete vermelho em direção a uma forca. Nunca me importei com sua realidade Com suas inenarráveis situações Suas soberbas, desigualdades Com suas defesas de escorpião. Tente colocar no plural sua qualidade Só compensa o amor se houver verdade Devolvo a carta, comece tudo novamente Mas agora escreva com a alma, coração e mente. *** 121 É só Querer Diga que é minha aquarela Cores vivas do meu querer Vejo uma moldura minha janela Pinceladas de cores que todos possam ver. Diga que sou a sua tela E nela quer jogar o seu prazer Olha bem para ela Imagine os traços tomando formas Tudo de uma maneira muito singela. Você é meu cavalete Suporta qualquer tamanho e moldura Até pode imaginar uma escultura De um Deus Grego ou outras vertentes. Basta me amar como diz que ama Pintar meu coração sem pena Derramar sua linhaça na minha cama Fazer da nossa pintura uma cena. *** 122 Eu sou, eu sou... Sou todas as tuas dores O mais forte vício Teu medo de sempre O pesadelo de todas as noites... Sou o som que odeias O vento gelado depois do banho quente Teu sentimento de culpa depois do porre O amor que nunca tiveste... Tua paixão que nunca doaste O segredo que não soubeste guardar Teu sexo insatisfeito O teu íntimo invadido Tua inveja O que sempre almejaste.... Mesmo assim tu não acreditas que eu te complete? *** 123 Linda Vida A beleza do viver Consiste em saber fazê-lo Abrange o querer Sem se preocupar muito em obtê-lo. Objetivar em ser feliz ao extremo Se entregar Não perder tempo a esmo Amar. Tratar bem as pessoas Dialogar Não se aborrecer a toa Deixar pra lá. Procurar ter fé sempre Transmitir a paz Abraçar os parentes E todos mais. Não julgar o próximo Não caluniar Não viver no ócio Voar. *** 124 Mais uma sobre Você Lua, o sol e você Esse trio da minha vida Inenarráveis emoções Ecoam na minh'alma bendita Sopro da alegria Primazia, bem estar Magia, cálidas rosas Meu jardim mais bem cuidado Palavras que nunca serão suficientes Emoções que transbordam Você, árvore que cresce diariamente na minha mente Nada posso mais sem sua companhia Motor propulsor da minha motivação Sua pele meu melhor agasalho Sua voz, música que não deixo parar de tocar Fiquem sempre juntos nossos corações Eu amo você. *** 125 Mesmo Assim Eu Gosto Som de onda na beira da praia Calmaria só de aparência Surgem sonhos Surge você. Retorna o amor esquecido Sentimentos aparecem como fantasmas Gritam sem sequer emitir um só som Mordem, ardem Doem, me faz mal Mas mesmo assim eu gosto. É como furar o dedo ao pegar uma rosa A dor do parto para a mãe Pois como ser eternizado após ser crucificado Mergulhar em uma miragem em um deserto. Comer a maça, com fome, sabendo que é pecado Não haver emoção em verso e prosa Despir-se de seu outro “eu” alienado Mesmo assim eu gosto. 126 Sou terrível, não quis te ouvir Concha idiota, arrogante eu sou Réu confesso, eu confesso, só sei subtrair Eu mesmo ponho minha cabeça a prêmio. Não existe um passo maior que a perna Existe a perna curta demais Tempo a gente faz para transpor as barreiras O pior da vida é não vivê-la mais. Se viver é bom, o regalo eu mostro Sacudo tudo, vou tentar de novo Faço um omelete, sem quebrar o ovo Por isso eu digo, mesmo assim eu gosto. *** 127 O Amor Grita Mais Alto A emoção é tsunami nervoso Nosso coração vira um palco Tudo se torna um tiro para o céu A temperatura dá um salto Quem foi inocente vira réu. Ninguém nunca entendeu o amor Acho que nunca entenderá União do bom, ruim, prazer e dor E mais no que nele há. O aperto se eleva a um grau insuportávelA imagem fecha em um “fade out” O corpo fica totalmente instável A sensação é de morte inevitável. Mesmo assim é pura satisfação Sentimento ímpar, maravilhoso, absolvido Gratificante quando é recíproco Impiedoso quando não correspondido. *** 128 O Desenho Apenas desenhei seu rosto Com sombra e luz Com ar de desgosto A melancolia que lhe conduz. Comecei pelos cabelos Completamente lisos Tom de fogo na madeira Deixam de paixão vários vestígios. Os olhos de pantera Brilhantes e verdes Esfaqueiam de repente Meu desejo, minha quimera. Boca que não tem igual Toque de refúgio sensual Se movem em câmera lenta Cria um desenho na beleza que ostenta. Depois de pronto fui ao extremo Beijei ardentemente sua face de papel Tintas me borraram todo o rosto Fui de palhaço ao céu. *** 129 O Encontro Uma luz, um brilho forte Meu coração em grande doação Puro e verdadeiro me dei e ainda posso me dar Quero seu amor, peço sempre em oração. Dizem que é impossível pois já desencarnou Mas sinto forte sua presença Depois da morte não sei para onde vou Quero acreditar ainda mais na sua crença. Pegarei a caneta, tente falar comigo Um murmúrio, um riso, qualquer coisa então Cansei de molhar as folhas com meu pranto Lágrimas e arrepios de ocasião. Quero me ir para ver se lhe encontro Vale o risco, nesse caso nada é em vão Tomaria veneno e um quilo de calmante Só para lhe ver chegando como um sonho bom. *** 130 O Trem Da Vida A viagem prometia nunca mais ter retorno Na verdade parecia ser eterna No trem da sua vida Esse comboio que nunca esquecerei. Abrace-me igual aquele dia A nossa primeira vez Beijei-lhe naquela ponte Deixei-lhe naquele trem. No vagão da minha vida Estação da minha emoção Partiu sem despedida Sem ouvir sequer um sim ou um não. 131 Por entre verdes vales, montanhas Eu posso enxergar com seus olhos O voo dos pássaros nos lagos O branco dos campos de algodão. Sinto também o cheiro das flores O perfume natural de você Do mundo todos os odores Que me faziam feliz em lhe ter. De repente vejo seu braço estendido E um bilhete na palma de sua mão É a passagem para o trem que retorna Vem de volta para o meu coração. *** 132 Pérola na Ostra Palavras soltas, indo com o vento São como as idéias que habitam a escuridão Rebentos que eu mesmo invento Pura e unicamente classificados de suposição O julgamento final de minhas ações Tal qual as palavras que deixei de escrever São unidas com pensamentos em vão Que desuniram o mais sincero bem querer. Perdido em vírgulas, parágrafos e pontos Jogados em papiros com teclas Que nascem minhas poesias e contos Sem luzes, escuridão que renega. Sublinhado pela tinta de corpo e forma Letras tortas, curvas e retas Seguindo manuais, escritos nas normas Sem destino, puramente, sem regras. Fecho a ostra, guardo as idéias Desligo-a de uma tal de tomada Milhões de criatividades são centopéias Que andam e moram dentro do nada. *** 133 Poliglotas Sensações Quando sinto tuas telas, teus versos Embriago-me da tua paixão A cada linha, cor de cada tinta Dos pincéis que são tuas mãos. Desenhando as faces nas luzes e sombras Toda ilegível identidade Sem algum completo disfarce Nuvens, algodões doce, explosão de bombas. Acalorando e acariciando meu coração Tão pequeno, acanhado, e frágil No decorrer dos traços de prazer Surge de um forte brilho que reluz. Bela obra prima, como um pássaro... Você! Deleito-me nesse jeito tenro, quase sofrido Me completas, alivia Interpretas-me, em poliglotas sensações Mostro com sinceridade de emoções Que tu és simplesmente a minha vida. *** 134 Restrita, Sóbria e Calma Um voo alto por dentro e firme Profundamente no seu semblante Molhado, frio e apertado Escuro a um passo do fim do mundo. Onde almas tristes vagueiam confusas Entre desenhos, pinturas, feito Picassos O abstrato de várias idéias Se mesclam ao concreto nos porta-retratos. Na sua vida restrita, sóbria e calma Com sua estrada limpa e direta Não cabe a hipocrisia do mundo nosso Nem muito menos os valores de uma paz incerta. Pois assim continue no seu canto oculto Adjunto com valores e emoções Sem poder mostrar-se ao todo e tudo Sem divulgar sua imaginação. *** 135 Teus Cantos* Quero agora tocar-te Teu corpo de seda Teus lábios de veludo Quero voar em teus olhos azuis Trocarmos de línguas Fazer-te um filho Ou só ficar no tentar. Quero meditar contigo Ser o primeiro e o último O maior e o melhor O mais amado O menos temido Quero chamar-te de meu amor Por entre carícias, pernas e braços Relevos e aperitivos Amar-te sem fim. *do livro Poeteideser *** 136 Uma Memória Esquecida * Adormeceu por engano Focado no sigilo da mente Sangue escorrendo no cano Memórias de um indigente. Sorriso falso nos lábios Na boca a falta de dentes Uma cicatriz na sua face Corta um de seus olhos azuis. O cabelo caindo em maços Por dentro estava em prantos De repente se aprofundou tanto Passou a falar esperanto. 137 Já no limite do querer Não reconhecia ninguém Sua boca vazia que pronunciava ao vento Do inferno ao firmamento Do rodízio de almas contento. Um universo sombrio Achou bem escondido O calor ao invés do frio Casas antigas de pedra Calhas entupidas de folhas Árvores cortadas a esmo Ruas com um toque de medo. Mulheres nuas sendo violentadas Sempre acontecendo ao relento Donas do tudo e do nada. Tudo no absoluto segredo. *do livro Poeteideser *** 138 Resgate* Resgato minha vida a cada letra que escrevo Bela nostalgia, linda poesia Um coração e seu adereço Mergulho em sonhos, romantismo, cárcere Me abstenho, choro, obedeço. Na ponta da língua estão os amores No resto da boca, as paixões Conjugo verbos de pura magia Agarro as orgias e largo orações. Transmito uma calma por onde transito Nas palavras que escrevo confio no meu taco E admito no entanto que gosto desse conflito Grito não a melancolia e seja bem vindo ao Baco. No final das horas escrevi várias linhas Levantei castelos de imaginação Concedi ao inferno a minha presença E ao firmamento entreguei minhas mãos. *do livro Poeteideser *** 139 Apenas uma Ponderação Raios do sol tocam uma face pela primeira vez O milagre da vida O cheiro de inferno e paz entrando pelos pulmões E o paradoxo da tranquilidade de saber quem fez. Maravilhoso viver Entre os desconfortos que criamos Ser ou não ser Surreal é o milagre de um pequeno coração bater Mais do que ardente O oxigênio liquefeito circulando o corpo. Não aceite que somos um estorvo Talvez almas inconsequentes Da nossa vida faz parte Transformar tintas ou som Letras ou barro Em incríveis obras de arte. Alguns dão o nome de dom Outros apenas levantam o estandarte. *** 140 “Autonominha” Assino minha autonomia ao saber que um pássaro pode ir à qualquer jardim. Peço minha liberdade, como uma folha que cai sem objetivo. Peço de volta minha juventude, jogada fora por erradas atitudes. Peço uma melodia forte, um som erudito. Pedirei para você, peça para mim. O tempo passou, semente que germinou, ao som das ondas. Ondas de beleza, simples, como a Gioconda. A vida segue, sentinela. Olhando onde pisa, por onde anda Sigo seus passos pela minha janela. Já sem esperança de algo encontrar A paz viva ou a luz da liberdade Só com a certeza de sempre poder amar Sem jamais pedir, em vão, piedade. 141 Encontro meu abrigo em uma fé qualquer Como com as mãos, defeco de cócoras. Tudo é muito simples, sinais de fumaça, caninos. Falo, em voz alta, idiomas confusos. Esperanto, grego, gritos, latim. Sou caçador, por vezes, a caça. Sou guerreiro, paixão, raça Tudo se encontra e se perde na imaginação.
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