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CONTABILIDADE GERENCIAL E CONTROLADORIA Prof. Jorge Marcelo Wohlgemuth, Me. 2 SUMÁRIO CAPÍTULO I 4 CONSIDERAÇÕES INICIAIS.....................................................................................................................4 TERMINOLOGIA CONTÁBIL.....................................................................................................................7 REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO PATRIMÔNIO ....................................................................................8 ATIVIDADES EXECUTADAS PELO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE..........................................11 a) ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL.........................................................................................................12 b) ELABORAÇÃO DE RELATÓRIOS CONTÁBEIS............................................................................13 RAMOS DA CONTABILIDADE ................................................................................................................23 II. ASPECTOS CONCEITUAIS SOBRE CONTROLADORIA 24 CONTROLADORIA COMO ÁREA DE CONHECIMENTO .......................................................................24 CONTROLADORIA COMO UNIDADE ADMINISTRATIVA......................................................................25 CONTROLADORIA NO SETOR PÚBLICO..............................................................................................26 FUNÇÕES EXECUTADAS PELA CONTROLADORIA ............................................................................26 ANÁLISE DE BALANÇOS .......................................................................................................................27 TÉCNICAS DE ANÁLISE ....................................................................................................................29 ANÁLISE VERTICAL ......................................................................................................................29 ANÁLISE HORIZONTAL.................................................................................................................30 CÁLCULO E INTERPRETAÇÃO DE ÍNDICES...............................................................................30 ÍNDICES DE LIQUIDEZ..................................................................................................................31 ÍNDICES DE ENDIVIDAMENTO.....................................................................................................34 ÍNDICES DE PRAZOS MÉDIOS.....................................................................................................35 ÍNDICES DE RENTABILIDADE ......................................................................................................37 CÁLCULO DO CUSTO DO PRODUTO/SERVIÇO ..................................................................................41 TERMINOLOGIA DA CONTABILIDADE DE CUSTOS .......................................................................42 FATORES DE PRODUÇÃO ...........................................................................................................44 A) MATERIAIS ................................................................................................................................44 B) MÃO-DE-OBRA..........................................................................................................................49 C) GASTOS GERAIS......................................................................................................................50 D) DEPRECIAÇÃO .........................................................................................................................50 CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS.......................................................................................................53 3 SISTEMAS DE CUSTOS ....................................................................................................................54 CUSTEIO DIRETO OU VARIÁVEL.................................................................................................54 CUSTEIO PADRÃO........................................................................................................................55 CUSTEIO ABC................................................................................................................................55 CUSTEIO POR ABSORÇÃO..........................................................................................................55 ESTUDO DE CASO 1 .........................................................................................................................55 Solução: ..............................................................................................................................................58 ANÁLISE DA MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO E DO PONTO DE EQUILÍBRIO .......................................65 ESTUDO DE CASO 2 .........................................................................................................................67 Solução: ..............................................................................................................................................67 DETERMINAÇÃO DO PREÇO DE VENDA .............................................................................................69 ALAVANCAGEM OPERACIONAL E FINANCEIRA .................................................................................72 ESTUDO DE CASO 3 .........................................................................................................................73 ESTUDO DE CASO 4 .........................................................................................................................74 FLUXO DE CAIXA ...................................................................................................................................75 ORÇAMENTO .........................................................................................................................................78 OBJETIVOS DO ORÇAMENTO..........................................................................................................79 CONCEITOS ORÇAMENTÁRIOS ......................................................................................................80 ESTRUTURA DO PLANO ORÇAMENTÁRIO ................................................................................81 ESTUDO DE CASO 5 .........................................................................................................................81 SOLUÇÃO...........................................................................................................................................82 ASPECTOS CONCEITUAIS SOBRE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA..................................................84 TÉCNICAS DE MATEMÁTICA FINANCEIRA .....................................................................................84 EXEMPLO.......................................................................................................................................86 O VALOR DO DINHEIRO NO TEMPO ...........................................................................................88 FLUXO DE CAIXA DESCONTADO ................................................................................................88 III. EXERCÍCIOS 90 4 CAPÍTULO I Nesse capítulo serão apresentados os conceitos e teorias da Ciência Contábil. CONSIDERAÇÕES INICIAIS A contabilidade é uma ciência social que estuda a riqueza patrimonial das entidades, sob os aspectos quantitativos e qualitativos, tendo como objetivos a geração de informações e a explicação dos fenômenos patrimoniais, possibilitando o controle, a análise, a avaliação, o planejamento e a tomada de decisão. A área de atuação da contabilidadecompreende qualquer pessoa física ou jurídica que tenha seu patrimônio definido e delimitado. O patrimônio também é objeto de estudo de outras ciências, tais como a Economia, o Direito e a Administração. Entretanto, estas outras ciências estudam o patrimônio sob aspectos diferentes daquele estudado pela Contabilidade. O patrimônio é uma grandeza real cuja constituição deve ser conhecida e que se transforma e evolui sob a atividade humana. No início da civilização, os grupos sociais procuravam bastar-se a si mesmos, produzindo os materiais que necessitavam ou se utilizando daquilo que poderiam obter facilmente da natureza para sua sobrevivência. As transformações que ocorreram, no decurso dos séculos, fizeram as sociedades se organizar, até chegar ao modelo que se conhece atualmente. Aqui entra a função da contabilidade de avaliar a riqueza do homem e compreender os acréscimos ou decréscimos dessa riqueza. O homem age em função da satisfação de suas necessidades. Neste sentido, destacam-se dois aspectos: a) o homem é levado a atuar em associação com outros homens, sendo “forçado”, dessa forma, a viver em sociedade; e b) através do processo de divisão do trabalho, o homem não mais se dedica diretamente a obter os elementos que se tornam indispensáveis para atender suas necessidades, mas aplica seus esforços em atividades particulares, gerando assim sua contribuição à sociedade e recebendo, em contrapartida, uma retribuição compensatória que lhe permite adquirir os bens ou serviços de que necessita. Da associação entre indivíduos que conjugam, na vida em sociedade, esforços e recursos, resultou a formação de organismos especiais, com patrimônio independente do patrimônio dos indivíduos que os compõe. Estas entidades têm por objetivo a obtenção, a transformação, a compra e a venda de bens ou serviços; gerando e movimentando riquezas para seus proprietários como objetivo meio e objetivo 5 fim. Visto tais entidades privadas terem seu próprio patrimônio, há necessidade da contabilidade acompanhar e registrar a sua evolução, dentro de regras definidas pela sociedade onde estão inseridas. O homem ao praticar atos de natureza econômica, através de ações administrativas sobre um determinado patrimônio carecerá de informações sobre os aspectos qualitativos e quantitativos bem como as variações sofridas por ele. Cabe à contabilidade suprir aos interessados com estas informações, através do estudo do patrimônio econômico e financeiro, observando seus aspectos específico e as variações por ele sofridas. Todos aqueles que tenham interesse na avaliação da situação e da evolução do patrimônio das entidades são considerados usuários da contabilidade. Permitir que os usuários conheçam e avaliem a situação econômica, financeira e patrimonial das entidades, num sentido estático, bem como fazer inferências sobre suas tendências futuras, é o objetivo fundamental da contabilidade. No mundo contemporâneo, as entidades são fundamentais para o desenvolvimento econômico e social das nações. Das organizações depende toda a sociedade, bem como o poder público que busca a arrecadação de tributos e conseqüentemente a manutenção da soberania, o desenvolvimento e a sobrevivência do estado. A globalização da economia e das relações de negócios internacionais cria as condições necessárias para o progresso ou o retrocesso das entidades. Qualquer que seja o objetivo da entidade administrada, social ou econômico, ela possuirá sempre um patrimônio em movimentação, que requer a contabilidade para o seu estudo e controle. Quando a entidade tem objetivo econômico, o controle do patrimônio apresenta características especiais, pois o meio e o fim da entidade é a riqueza, sendo da maior importância à administração econômica. Quando a entidade tem fim social, a administração não se resume no aspecto econômico, nem este é o mais importante. É, porém, indispensável qualquer que seja a natureza da atividade, pois todas elas têm a riqueza como um meio. A administração econômica nessas entidades é, entretanto, apenas um meio e não o seu fim, como ocorre com as entidades com fins lucrativos – empresas. As entidades públicas (primeiro setor) são aquelas que constituem a República Federativa do Brasil. Segundo o artigo 1º da Constituição Federal de 1988, a República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel de seus Estados, Municípios e do Distrito Federal. As entidades privadas (segundo setor) formam o que usualmente se chama de “mercado”. As organizações não-governamentais (ong’s), formadas a partir das iniciativas de pessoas voluntárias, sem fins lucrativos, que se reúnem e atuam coletivamente, no sentido do desenvolvimento 6 social e do bem comum, formam o terceiro setor. O Instituto Brasileiro do Terceiro Setor1 esclarece que o termo ONG foi usado pela primeira vez em 1950 pela Organização das Nações Unidas (ONU), para definir toda organização da sociedade civil que não esteja vinculada ao governo e exerça atividades de interesse público. O ambiente competitivo do século XXI, tanto para as empresas, quanto para as entidades públicas, faz com que os usuários da contabilidade tenham necessidades de informações diferentes e melhores. Essas mudanças decorrem do surgimento de um espaço econômico e político universal, que acabou com as economias nacionais e organizações isoladas, e do impacto da potencialização dos meios de comunicação sobre os indivíduos e os povos. A contabilidade, na execução das atividades de registro e acompanhamento da evolução do patrimônio das entidades privadas inseridas na sociedade, sempre foi muito influenciada pelos limites e critérios legais e fiscais, particularmente os da legislação do imposto de renda. Este fato, ao mesmo tempo em que proporcionava à contabilidade contribuições importantes e de bons efeitos, também era um fator que dificultava a adoção de princípios contábeis adequados. Este problema teve uma tentativa de solução através da Lei das SA´s (Lei nº 6.404 de 15 de dezembro de 1976) que determinou que a escrituração contábil seguisse os princípios de contabilidade geralmente aceitos. A Lei das SA´s, que possui inspiração na legislação americana, apresenta fatores que dificultam a clareza e a fidelidade das demonstrações contábeis. Sendo que fidelidade e clareza são requisitos essenciais para a elaboração de balanços nas empresas. Buscando consolidar as mudanças sociais ocorridas no Brasil nas últimas nove décadas, em 11 de janeiro de 2003 passou a viger o novo Código Civil, instituído pela Lei Federal, de 10 de janeiro de 2002, publicada no Diário Oficial da União, em 11 de janeiro daquele mesmo ano, cujo projeto tramitava no Congresso desde 1975, revogando, assim, a Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. A proposta originária da Comissão Elaboradora do projeto do Novo Código Civil produziu uma formulação apta a captar as mudanças de valores ocorridas no século passado e menos adequada a dimensionar os desafios do milênio que inicia. 1 Disponível no site: http://www.institutoterceirosetor.org.br/coluna_3s_150403.htm, acessado em 07/05/2003. 7 Em 28 de dezembro de 2007, foi promulgada a Lei nº 11.638/07, que altera, revoga e introduz novos dispositivos à Lei das Sociedades por Ações (Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976), notadamente em relação ao capítulo XV que trata de matéria contábil. Em 03 de outubro de 2008 o Poder Executivo Federal enviou ao Congresso Nacional a Medida Provisória 449/08, que define regras sobre tributação e contabilização das alterações promovidas pela Lei 11.638/07. Na exposiçãodos motivos da MP449/08 o Governo Federal entende que no que se refere ao Regime Tributário de Transição - RTT, objetiva-se neutralizar os impactos dos novos métodos e critérios contábeis introduzidos pela Lei nº 11.638, de 2007, na apuração das bases de cálculo de tributos federais nos anos de 2008 e 2009, bem como alterar a Lei nº 6.404, de 1976, no esforço de harmonização das normas contábeis adotadas no Brasil às normas contábeis internacionais. A Lei nº 11.638/07, entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2008, sem a adequação concomitante da legislação tributária. A alta complexidade dos novos métodos e critérios contábeis instituídos pelo referido diploma legal - muitos deles ainda não regulamentados - têm causado insegurança jurídica aos contribuintes. O processo de harmonização das normas contábeis nacionais com os padrões internacionais de contabilidade - objetivo maior da Lei nº 11.638, de 2007 - deve prolongar-se pelos próximos anos, razão pela qual, há necessidade de que o RTT não seja aplicável apenas no ano de 2008, mas também no ano de 2009, e, se necessário, nos anos subseqüentes, quando, então, ao se descortinar o novo padrão da contabilidade empresarial a ser adotado no País, possa-se regular definitivamente o modo e a intensidade de integração da legislação tributária com os novos métodos e critérios internacionais de contabilidade. Em 27 de maio de 2009 foi promulgada a Lei nº 11.941 que regulamentou a MP 449/08. TERMINOLOGIA CONTÁBIL A) PATRIMÔNIO: O Patrimônio é o conjunto de bens, direitos e obrigações que pertencem a entidade. B) BENS: Bens são todos os elementos, materiais ou imateriais, tangíveis ou intangíveis, que possuem valor econômico, que pertencem a entidade e dos quais ela necessita para atingir seus objetivos. C) DIREITOS: Direitos são valores que a entidade tem a receber de terceiros, provenientes da venda ou empréstimo de mercadorias, produtos, serviços ou bens. 8 D) OBRIGAÇÕES: Obrigações são valores que a entidade tem a pagar a terceiros, provenientes da compra ou empréstimo de mercadorias, produtos, serviços ou bens. E) PATRIMÔNIO LÍQUIDO: A equação fundamental do patrimônio de uma entidade é: PL = (B+D) – (OB) REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO PATRIMÔNIO O Patrimônio de uma entidade assume a seguinte representação gráfica: aplicações origens OBRIGAÇÕES BENS + DIREITOS PATRIMÔNIO LÍQUIDO O Patrimônio de uma entidade, representado como na figura acima, apresenta dois lados. O lado esquerdo (bens + direitos) é denominado lado das APLICAÇÕES DE RECURSOS e o lado direito (obrigações + PL) é chamado lado das ORIGENS DE RECURSOS. A ciência contábil preconiza que as aplicações de recursos são iguais às origens de recursos. Esse preceito científico é conhecido como método das partidas dobradas. Também se denomina o lado das ORIGENS DE RECURSOS como o lado dos CAPITAIS. Diferentemente do aspecto financeiro, sob o aspecto contábil, o termo Capital pode encontrar vários sentidos. Observando o lado dos capitais, se conclui que as entidades possuem dois tipos de capitais: a) Capitais de Terceiros Representam as dívidas (obrigações) que a entidade assumiu junto a terceiros. Os Capitais de Terceiros têm a obrigação de serem pagos pela entidade. Segundo o prazo de vencimento dos Capitais de Terceiros, pode-se dividi-los em dois tipos: Curto Prazo e Longo Prazo. 9 b) Capitais Próprios Representam a diferença entre (Bens (+) Direitos) (-) (Obrigações). A primeira fonte de Capital Próprio de uma entidade denomina-se Capital Social, que é o investimento inicial feito pelos sócios. Outra fonte de Capital Próprio de uma entidade é o Lucro (R>D) gerado em cada exercício social. O Patrimônio de uma entidade pode assumir um dos seguintes estados: A) OBRIGAÇÕES BENS + DIREITOS PATRIMÔNIO LÍQUIDO B + D > OB PL > 0 ou positivo (saldo credor) B) BENS + DIREITOS OBRIGAÇÕES B + D = OB PL = 0 ou nulo 10 C) BENS + DIREITOS PATRIMÔNIO LÍQUIDO OBRIGAÇÕES B + D < OB PL < 0 ou negativo (saldo devedor) D) PATRIMÔNIO LÍQUIDO OBRIGAÇÕES PL = OB B + D = 0 (entidade não possui bens ou direitos ??) E) BENS + DIREITOS PATRIMÔNIO LÍQUIDO B + D = PL OB = 0 (entidade não possui capital de terceiros) O patrimônio de uma entidade está em constante evolução. As decisões tomadas pelos gestores das entidades determinam essa evolução. O conjunto de decisões tomadas pelos gestores da 11 entidade, em determinado período, se traduz na Gestão da entidade. A Gestão de uma entidade possui três aspectos: a) aspecto econômico; b) aspecto financeiro; e c) aspecto patrimonial. Quando os gestores tomam decisões, visando alcançar os objetivos da entidade, e essas decisões modificam o seu patrimônio, diz-se que tais decisões são fatos contábeis. Os fatos contábeis modificam o patrimônio das entidades no seu aspecto quantitativo, qualitativo ou nos dois. Os fatos contábeis, além de modificarem os bens, direitos e obrigações das entidades, modificam, também, as receitas e despesas. RECEITAS: Representam os ganhos que a entidade aufere e tendem a aumentar seu Patrimônio Líquido. DESPESAS: Representam os gastos que a entidade tem e tendem a diminuir seu Patrimônio Líquido. LUCRO: Ocorre quando as receitas são maiores que as despesas num determinado período. PREJUÍZO: Ocorre quando as receitas são menores que as despesas num determinado período. Exercício social é a parcela da gestão compreendida em cada um dos períodos administrativos. Está disciplinado no artigo 175, Parágrafo Único, da Lei 6.404/76 e na legislação fiscal orientada pela Secretaria da Receita Federal. A denominação corrente do conjunto de Bens e Direitos de uma entidade é ATIVO e do conjunto de Obrigações é PASSIVO. ATIVIDADES EXECUTADAS PELO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE Independentemente da organização em que trabalhará, o profissional da contabilidade executará, essencialmente, duas atividades: a) escrituração contábil e b) elaboração e interpretação de relatórios contábeis. 12 a) ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL A escrituração é uma técnica contábil que consiste no registro de todos os fatos contábeis que modificaram o patrimônio da entidade, tanto no aspecto quantitativo, quanto no aspecto qualitativo. A escrituração contábil deve ser mantida em registros permanentes (Livro Diário e Livro Razão), em idioma e moeda corrente nacionais, em forma mercantil, devendo ser observados métodos e critérios contábeis uniformes no tempo, com obediência às disposições legais pertinentes e aos princípios de contabilidade geralmente aceitos. A escrituração contábil e a emissão de relatórios, peças, análises e mapas gerenciais e demonstrações contábeis são de atribuição e responsabilidade exclusiva de Contadores e Técnicos em Contabilidade legalmente habilitados, ou seja, inscritos no CRC e em situação regular. A empresa, independentemente de seu porte ou natureza jurídica, tem de manter escrituração contábil completa, no Livro Diário, para controlar o seu patrimônio e gerenciar adequadamente os seus negócios. Não se trata exclusivamente de uma necessidade gerencial, o que já seria uma importante justificativa. A escrituração contábil consta como exigência expressa em diversas legislações.O Código Civil, que entrou em vigor a partir de janeiro de 2003, menciona a obrigatoriedade de seguir um sistema de contabilidade. Para as entidades manterem a escrituração contábil exigida pela legislação, é necessário o entendimento do conceito de conta contábil. Conta contábil é a denominação que se dá para cada um dos elementos que formam o Patrimônio das entidades. O conjunto de contas contábeis necessárias para o acompanhamento da evolução dos componentes patrimoniais e para a apuração do resultado de uma entidade é chamado de Plano de Contas. O plano de contas é formado pelas seguintes partes: a) elenco de contas; b) função das contas e c) funcionamento das contas. O elenco de contas é a relação ordenada com todas as contas contábeis utilizadas e necessárias para a realização da escrituração dos fatos contábeis da entidade. A função das contas é a descrição da finalidade desempenhada na escrituração contábil. O funcionamento das contas estabelece a relação de cada conta com as demais e evidencia como ela se comportará diante da escrituração contábil. 13 b) ELABORAÇÃO DE RELATÓRIOS CONTÁBEIS As demonstrações contábeis são conseqüentes da escrituração contábil, devendo nela estar respaldadas. Pode-se classificar os relatórios contábeis em obrigatórios e gerenciais. A Lei das Sociedades por Ações (Lei nº 6.404-76, de 15-12-76), alterada pela Lei 11.638 de 28 de dezembro de 2007, aplicável extensivamente às demais sociedades, estabelece que, obrigatoriamente ao final de cada exercício, a Diretoria fará elaborar, com base na escrituração mercantil da companhia: 1 – Balanço Patrimonial; 2 – Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados; 3 – Demonstração do Resultado do Exercício; 4 – Demonstração dos Fluxos de Caixa; e 5 – Notas Explicativas. No caso de companhias de capital aberto, a Lei 11.638/07 determina a elaboração da Demonstração do Valor Adicionado. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) diz que, além dessas demonstrações, as empresas de capital aberto devem elaborar a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido. a) Balanço Patrimonial A Lei 6.404/76, art. 178, § 1º e § 2º, determina que o Balanço Patrimonial – que é um dos principais relatórios contábeis – tenha a seguinte estrutura: 14 ATIVO PASSIVO ATIVO CIRCULANTE ATIVO NÃO CIRCULANTE ATIVO REALIZÁVEL A LONGO PRAZO INVESTIMENTOS IMOBILIZADO ( - ) DEPRECIAÇÕES ACUMULADAS INTANGÍVEL PASSIVO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO CAPITAL SOCIAL RESERVAS DE CAPITAL AJUSTES DE AVALIAÇÃO PATRIMONIAL RESERVAS DE LUCROS ( - ) AÇÕES EM TESOURARIA ( - ) PREJUÍZOS ACUMULADOS O balanço patrimonial é a demonstração contábil destinada a evidenciar, quantitativa e qualitativamente, numa determinada data, o patrimônio e a composição do patrimônio líquido da entidade. Conforme determina o artigo 178 da Lei nº 6.404-76, “No balanço, as contas serão classificadas segundo os elementos do patrimônio que registrem, e agrupadas de modo a facilitar o conhecimento e a análise da situação financeira da companhia”. Essa demonstração deve ser estruturada de acordo com os preceitos da Lei nº 6.404-76 e segundo os Princípios Fundamentais de Contabilidade e as Normas Brasileiras de Contabilidade. A Lei das SA’s estabelece, em seu artigo 178, §1º, que, no ativo, as contas serão dispostas em ordem decrescente de liquidez, e, dentro desse conceito, as contas de disponibilidades são as primeiras a serem apresentadas no balanço, dentro do ativo circulante. Seguem-se os direitos realizáveis no curso do exercício social subseqüente e aplicações de recursos em despesa do exercício seguinte. A seguir, a descrição de cada grupo: ATIVO CIRCULANTE - São os recursos financeiros que se encontram à disposição imediata da entidade, compreendendo os meios de pagamento em moeda e em outras espécies, os depósitos bancários à vista e os títulos de liquidez imediata. ATIVO REALIZÁVEL A LONGO PRAZO - Serão classificadas contas da mesma natureza das do ativo circulante, porém realizáveis após o término do exercício seguinte, assim como os 15 derivados de vendas, adiantamentos ou empréstimos a sociedades coligadas ou controladas, diretores, acionistas ou participantes no lucro, que não constituíram negócios usuais na exploração do objeto da companhia. INVESTIMENTOS – São as participações permanentes em outras sociedades e os bens e direitos que não se destinem à manutenção das atividades da companhia ou empresa. IMOBILIZADO – São os bens e direitos, tangíveis e intangíveis, utilizados na consecução das atividades-fim da entidade. Bens tangíveis são aqueles que têm corpo físico, tais como terrenos, máquinas, veículos, benfeitorias em propriedades arrendadas, direitos sobre recursos naturais, etc. Bens intangíveis são aqueles cujo valor reside não em qualquer propriedade física, mas nos direitos de propriedade legalmente conferidos aos seus possuidores, tais como: patentes, direitos autorais, marcas, etc. INTANGÍVEL – São os direitos que tenham por objeto bens incorpóreos destinados à manutenção da companhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive o fundo de comércio adquirido. PASSIVO CIRCULANTE - São as obrigações conhecidas e os encargos estimados da empresa cuja liquidação se espera que ocorra dentro do exercício social seguinte, ou de acordo com o ciclo operacional da empresa, se este for superior a esse prazo. PASSIVO NÃO CIRCULANTE - São as obrigações conhecidas e os encargos estimados da empresa cuja liquidação deverá ocorrer em prazo superior a seu ciclo operacional, ou após o exercício social seguinte. PATRIMÔNIO LÍQUIDO - O patrimônio líquido representa os recursos próprios da entidade, e seu valor é a diferença entre o valor do Ativo e o valor do Passivo (Ativo - Passivo). Desta forma, o valor do patrimônio líquido pode ser positivo, negativo ou nulo. O patrimônio líquido é dividido em: CAPITAL – São os investimentos efetuados na empresa pelos proprietários e os decorrentes de incorporação de reservas e lucros. RESERVAS DE CAPITAL – Contribuição do subscritor de ações que ultrapassar o valor nominal e a parte do preço de emissão das ações sem valor nominal que ultrapassar a importância destinada à formação do capital social, inclusive nos casos de conversão em ações de 16 debêntures ou partes beneficiárias e o produto da alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição. Será ainda registrado como reserva de capital o resultado da correção monetária do capital realizado, enquanto não-capitalizado. AJUSTES DE AVALIAÇÃO PATRIMONIAL - Serão classificadas como ajustes de avaliação patrimonial, enquanto não computadas no resultado do exercício em obediência ao regime de competência, as contrapartidas de aumentos ou diminuições de valor atribuído a elementos do ativo (§ 5o do art. 177, inciso I do caput do art. 183 e § 3o do art. 226 desta Lei) e do passivo, em decorrência da sua avaliação a preço de mercado. RESERVAS DE LUCROS - Serão classificados como reservas de lucros as contas constituídas pela apropriação de lucros da companhia. AÇÕES EM TESOURARIA - As ações em tesouraria deverão ser destacadas no balanço como dedução da conta do patrimônio líquido que registrar a origem dos recursos aplicados na sua aquisição. PREJUÍZOS ACUMULADOS – Representam o saldo remanescente dos prejuízos líquidos, estes apresentados como parcela redutora do Patrimônio Líquido. No caso de o PatrimônioLíquido ser negativo, será demonstrado após o Ativo, e seu valor final denominado de Passivo a Descoberto. b) Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados discriminará o saldo do início do período, os ajustes de exercícios anteriores e a correção monetária do saldo inicial, as reversões de reservas e o lucro líquido do exercício, as transferências para reservas, os dividendos, a parcela dos lucros incorporada ao capital e o saldo ao fim do período. Como ajustes de exercícios anteriores serão considerados apenas os decorrentes de efeitos da mudança de critério contábil, ou da retificação de erro imputável a determinado exercício anterior, e que não possam ser atribuídos a fatos subseqüentes. A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados deverá indicar o montante do dividendo por ação do capital social e poderá ser incluída na demonstração das mutações do patrimônio líquido, se elaborada e publicada pela companhia. A DLPA apresentará a seguinte estrutura: 17 c) Demonstração do Resultado do Exercício A demonstração do resultado é a demonstração contábil destinada a evidenciar a composição do resultado formado num determinado período de operações da entidade. A demonstração do resultado, observado o princípio da competência, evidenciará a formação dos vários níveis de resultados, mediante confronto entre as receitas e os correspondentes custos e despesas. A seguir, a descrição de cada elemento: RECEITA BRUTA DE VENDAS E SERVIÇOS - A Lei nº 6.404-76, em seu art. 187, determina que a demonstração do resultado do exercício deverá discriminar a receita bruta de vendas e serviços, as deduções das vendas, os abatimentos e os impostos, bem como a receita líquida das vendas e serviços. As vendas deverão ser contabilizadas pelo valor bruto, incluindo o valor dos impostos. Estes impostos, bem como as devoluções e os abatimentos, deverão ser contabilizados em contas individualizadas, que serão tratadas como contas redutoras das vendas. DEDUÇÕES DA RECEITA BRUTA - São representadas pelas contas de vendas canceladas, abatimentos e impostos incidentes sobre vendas. a) Vendas Canceladas é conta devedora que deve incluir todas as devoluções de vendas. Correspondem à anulação de valores registrados como receitas brutas de vendas e serviços. 18 b) Abatimentos e descontos sobre vendas e serviços são aqueles concedidos incondicionalmente. c) Impostos incidentes sobre vendas devem ser deduzidos da receita bruta de vendas. A receita bruta deve ser registrada pelos valores totais, incluindo os impostos sobre ela incidentes, com exceção do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). CUSTO DAS MERCADORIAS VENDIDAS - A apuração do custo dos produtos vendidos está diretamente relacionada aos estoques da empresa, pois representa a baixa efetuada nas contas dos estoques por vendas realizadas no período. DESPESAS/RECEITAS OPERACIONAIS – São as despesas pagas ou incorridas para vender produtos e administrar a empresa; e dentro do conceito da Lei nº 6.404-76, abrangem também as despesas líquidas para financiar suas operações; os resultados líquidos das atividades acessórias da empresa são também considerados operacionais. O art. 187 da Lei nº 6.404-76 estabelece que, para se chegar ao lucro operacional, serão deduzidas as despesas com as vendas, as despesas financeiras, deduzidas das receitas, as despesas gerais e administrativas, e outras despesas operacionais. PARTICIPAÇÕES EM RESULTADO - O artigo 189 da Lei nº 6.404-76 estabelece que do resultado do exercício serão deduzidos, antes de qualquer participação, os prejuízos acumulados e a provisão para o Imposto de Renda. O artigo 190 da Lei nº 6.404-76 dispõe que as participações estatutárias de empregados, administradores e partes beneficiárias serão determinadas, sucessivamente e nessa ordem, com base nos lucros que remanescerem depois de deduzida a participação anteriormente calculada. Dessa forma, O Demonstrativo do Resultado do Exercício apresentará a seguinte estrutura: 19 1. Receitas de Venda de Mercadorias 2. ( - )Deduções da Receita Bruta Vendas Canceladas Abatimentos e Descontos Impostos sobre Vendas 3. ( = ) Receita Líquida 4. ( - ) Custo das Mercadorias Vendidas 5. ( = ) Lucro Bruto 6. ( - ) Despesas Operacionais Despesas com Vendas Despesas Administrativas Despesas Financeiras deduzidas das Receitas Financeiras Resultado Participações Sociais 7. ( = ) Resultado Operacional 9. ( + / - ) Resultado Não-Operacional 10 ( = ) Resultado antes das Provisões Tributárias 11. ( - ) Participações e Contribuições 12 ( = ) Lucro/Prejuízo Líquido do Exercício d) Demonstração dos Fluxos de Caixa Denomina-se fluxo de caixa de uma organização ao conjunto de ingressos e desembolsos de numerário ao longo de um período determinado. O fluxo de caixa consiste na representação dinâmica da situação financeira de uma empresa, considerando todas as fontes de recursos e todas as aplicações em itens do ativo. Sinteticamente, o fluxo de caixa é o instrumento de programação financeira, que corresponde às estimativas de entradas e saídas de caixa em certo período de tempo. Esse instrumento possibilita: planejar, organizar, coordenar, dirigir e controlar os recursos financeiros da empresa. O objetivo do fluxo de caixa é dar uma visão das atividades desenvolvidas, bem como as operações financeiras que são realizadas diariamente, no grupo do ativo circulante, dentro das disponibilidades, e que representam o grau de liquidez da empresa. A otimização dos fluxos de caixa reduz, automaticamente, a necessidade de capital de giro, sendo, portanto, interesse da empresa buscar essa otimização. 20 As operações para produzir e comercializar os produtos/serviços exigem recursos. Esses recursos exigem contrapartidas financeiras, ou seja, pagamentos em dinheiro. A diferença entre os valores recebidos pelas vendas dos produtos/serviços e os valores pagos pelos recursos utilizados forma a geração operacional de caixa de uma empresa. O fluxo financeiro ou fluxo de caixa de uma empresa é a movimentação da geração operacional de caixa, acrescido das movimentações financeiras de investimento e financiamento. A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) é um relatório que complementa as análises obtidas a partir do Balanço Patrimonial e da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). A DFC pode ser apresentado de duas formas: a) Método Direto e b) Método Indireto. O método direto é a forma de apresentação da DFC que resgata exatamente os valores movimentados no controle do caixa. No método indireto, parte-se do lucro líquido o exercício (apresentado na DRE) e a ele são feitas adições e exclusões. No capítulo II serão apresentados modelos de ambos os métodos. e) Notas Explicativas Complementam as demonstrações financeiras e devem apresentar informações sobre a base de preparação das demonstrações financeiras e das práticas contábeis específicas selecionadas e aplicadas para negócios e eventos significativos. Devem, ainda, divulgar as informações exigidas pelas práticas contábeis adotadas no Brasil que não estejam apresentadas em nenhuma outra parte das demonstrações financeiras e fornecer informações adicionais não indicadas nas próprias demonstrações financeiras e consideradas necessárias para uma apresentação adequada. De acordo com a Lei 6.404/76, as notas explicativas devem: I - apresentarinformações sobre a base de preparação das demonstrações financeiras e das práticas contábeis específicas selecionadas e aplicadas para negócios e eventos significativos; II - divulgar as informações exigidas pelas práticas contábeis adotadas no Brasil que não estejam apresentadas em nenhuma outra parte das demonstrações financeiras; III - fornecer informações adicionais não indicadas nas próprias demonstrações financeiras e consideradas necessárias para uma apresentação adequada; e IV - indicar: 21 a) os principais critérios de avaliação dos elementos patrimoniais, especialmente estoques, dos cálculos de depreciação, amortização e exaustão, de constituição de provisões para encargos ou riscos, e dos ajustes para atender a perdas prováveis na realização de elementos do ativo; b) os investimentos em outras sociedades, quando relevantes c) o aumento de valor de elementos do ativo resultante de novas avaliações d) os ônus reais constituídos sobre elementos do ativo, as garantias prestadas a terceiros e outras responsabilidades eventuais ou contingentes; e) a taxa de juros, as datas de vencimento e as garantias das obrigações a longo prazo; f) o número, espécies e classes das ações do capital social; g) as opções de compra de ações outorgadas e exercidas no exercício; h) os ajustes de exercícios anteriores; e i) os eventos subseqüentes à data de encerramento do exercício que tenham, ou possam vir a ter, efeito relevante sobre a situação financeira e os resultados futuros da companhia. f) Demonstração do Valor Adicionado Demonstra o valor da riqueza gerada pela companhia, a sua distribuição entre os elementos que contribuíram para a geração dessa riqueza, tais como empregados, financiadores, acionistas, governo e outros, bem como a parcela da riqueza não distribuída. A seguir um modelo de DVA: 22 g) Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido A demonstração das mutações do patrimônio líquido é aquela destinada a evidenciar as mudanças, em natureza e valor, havidas no patrimônio líquido da entidade, num determinado período de tempo. A referida demonstração está prevista no art. 186, § 2º, da Lei nº 6.404-76. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mediante a Instrução CVM nº 059-86, tornou esta demonstração e sua publicação de caráter obrigatório, para as companhias abertas, em substituição à demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados. A DMPL apresentará a seguinte estrutura: Além dos relatórios contábeis obrigatórios, citados anteriormente, existe o Balancete de Verificação, como relatório gerencial. A elaboração do Balancete de Verificação está disciplinada na Norma Brasileira de Contabilidade Técnica (NBC T) 2.7. Segundo o Conselho Federal de Contabilidade, o Balancete de Verificação deverá ser elaborado, no mínimo, mensalmente. 23 RAMOS DA CONTABILIDADE A contabilidade como ciência possui ramificações, cada uma delas estudando um enfoque específico sobre o patrimônio das entidades. Pode-se destacar os seguintes ramos da contabilidade, dentre vários: Contabilidade Pública Estuda o patrimônio de organizações públicas, ou seja, aquelas que não tem por fim o objetivo econômico. Contabilidade de Custos Estuda as operações que geram produtos ou serviços. Mensura, quantitativa e monetariamente o valor dos produtos e serviços produzidos a partir de insumos. Contabilidade Gerencial Estuda as informações úteis e necessárias para a tomada de decisão nas organizações. 24 II. ASPECTOS CONCEITUAIS SOBRE CONTROLADORIA No atual contexto de competição entre as organizações, o cliente destaca o binômio preço- qualidade na decisão de compra. Assim, a qualidade esperada pelo cliente deve ser oferecida ao menor preço para que haja condição de qualquer empresa fornecer aos mercados mundiais atuais. De outra maneira, a empresa que quiser competir deve fornecer os produtos e serviços com qualidade esperada pelos mercados consumidores a um preço competitivo. Muitos podem considerar a controladoria como o setor responsável, antes de tudo, por exercer o controle. Essa visão é equivocada, pois a controladoria é responsável pelo projeto e funcionamento do sistema por meio do qual se coleta e relata a informação de controle, porém o uso desta informação no controle real é responsabilidade da administração da organização. Além de sua responsabilidade por coletar dados, a controladoria também pode ser responsável pela análise de dados, por salientar seu significado à administração, e por fazer recomendações quanto ao que se deve fazer. Pode, ainda, fiscalizar o ajustamento às limitações de gastos impostas pela administração da organização. Neste sentido, a controladoria assume características como órgão administrativo e como ramo do conhecimento, ganhando destaque por entender a dinâmica dos fatos, planejar alternativas de ação e sinergizar resultados. É, finalmente, a controladoria o órgão dentro da empresa responsável pelo processo de gestão. CONTROLADORIA COMO ÁREA DE CONHECIMENTO A controladoria como ciência consiste num conjunto de princípios, métodos e procedimentos originários das ciências da administração, economia, psicologia, estatística e, principalmente, da contabilidade que se ocupa da gestão econômica das empresas, com a finalidade de orientá-las para a eficácia. Explicar as bases de sustentação da controladoria como ciência, alicerça-se em princípios, conceitos e metodologia de modelo de gestão e de gestão econômica. O modelo de gestão econômica estrutura-se com base em um entendimento da missão da empresa, do conjunto de crenças e valores da organização, da estrutura organizacional, da realidade operacional e das características dos gestores 25 empresariais. A gestão econômica objetiva a otimização dos resultados por meio da melhoria da produtividade e de eficiência operacionais. A partir desses conceitos, se verifica que as empresas necessitam de uma área responsável pela coordenação de gestão econômica. Esta coordenação embute o estabelecimento de políticas, princípios e conceitos de gestão econômica além da necessária integração entre os objetivos das áreas e a otimização do resultado econômico global. Desta maneira, a controladoria propõe-se a ser uma área voltada à gestão operacional da gestão econômica. CONTROLADORIA COMO UNIDADE ADMINISTRATIVA Na condição de órgão administrativo, a controladoria, assim como todas as áreas de responsabilidade de uma empresa deve esforçar-se para garantir o cumprimento da missão e continuidade da empresa, dessa forma, tem como finalidade assegurar informações adequadas ao processo de decisão e direcionar esforços para que os gestores conduzam à otimização do resultado global da organização. A controladoria é uma área de responsabilidade bem definida, respondendo por atividades de condução do processo orçamentário, avaliação de desempenhos econômicos; apoio na concepção de modelos de decisão, manutenção de sistemas de informações gerenciais; subsídios à tomada de decisões de âmbito coorporativo; apuração e análise de custos e rentabilidade de eventos, produtos, atividades, área e empresa; desenvolvimento de estudos e simulações econômicas; padronização, racionalização de informações gerenciais. A controladoria é, por excelência, uma área coordenadora das informações sobre gestão econômica; no entanto, são os gestores os responsáveis pela gestão operacional, financeira, econômica e patrimonial de suas respectivasáreas. As atividades exercidas pela controladoria: coordenação de planejamentos, controle de resultados e gerenciamento de informação são fundamentais para uma gestão eficaz. O monitoramento de todas as atividades e resultados da empresa como um todo deve ser de responsabilidade da “função” controladoria. A função do Controller é uma função de assessoria. Apesar do Controller ser usualmente responsável pelo desenho e operação do sistema onde a informação para controle é colhida e reportada, o uso desta informação no controle atual é de responsabilidade do gerente de linha. 26 CONTROLADORIA NO SETOR PÚBLICO O Decreto nº 5.683, de 24/01/2006 aprovou a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas da Controladoria-Geral da União. No seu art. 1º fica estabelecido que a Controladoria-Geral da União será o órgão central do Sistema de Controle Interno do Poder Executivo Federal e integrante da estrutura da Presidência da República, dirigida pelo Ministro de Estado do Controle e da Transparência. Terá como competência assistir direta e imediatamente o Presidente da República no desempenho de suas atribuições, quanto aos assuntos e providências que, no âmbito do Poder Executivo, sejam atinentes à defesa do patrimônio público, ao controle interno, à auditoria pública, à correição, à prevenção e ao combate à corrupção, às atividades de ouvidoria e ao incremento da transparência da gestão no âmbito da administração pública federal. Compete ainda à Controladoria- Geral da União exercer a supervisão técnica dos órgãos que compõem o Sistema de Controle Interno, o Sistema de Correição e das unidades de ouvidoria do Poder Executivo Federal, prestando, como órgão central, a orientação normativa que julgar necessária. FUNÇÕES EXECUTADAS PELA CONTROLADORIA A controladoria possui funções que estão ligadas a um conjunto de objetivos: a) subsidiar o processo de gestão, ajudando na adequação do processo de gestão à realidade da empresa dentro do seu meio ambiente; b) apoiar a avaliação de desempenho, elaborando a análise de desempenho econômico das áreas, dos gestores e da própria área; c) apoiar a avaliação de resultado, elaborando a análise de resultado econômico dos produtos e serviços, monitorando e orientando o processo de estabelecimento de padrões e, avaliando o resultado de seus serviços; d) gerir os sistemas de informações; e e) atender aos agentes do mercado, a empresa como um sistema aberto interage com o meio ambiente trocando os mais diferentes tipos de recursos/produtos. 27 Para executar tais funções a controladoria utiliza diversas ferramentas gerenciais em diferentes atividades empresariais e processos decisórios. ANÁLISE DE BALANÇOS As demonstrações contábeis comunicam fatos importantes sobre as organizações. Os usuários das demonstrações contábeis, especialmente aqueles que têm a responsabilidade pela tomada de decisões nas organizações, utilizam as informações apresentadas nas demonstrações contábeis. Dessa forma, para que as demonstrações contábeis possam cumprir seu papel de auxílio à tomada de decisões, é essencial que sejam úteis e confiáveis. As informações contábeis permitem que os usuários as utilizem sob dois aspectos. Quando as informações permitem visualizar se a organização está agindo de acordo com as políticas e planos traçados, estão sendo utilizadas para controlar. Outro aspecto das informações contábeis refere-se ao seu uso para que os gestores das organizações diminuam as variáveis envolvidas no processo decisório. Nesse aspecto, os usuários das informações contábeis “pensam antes” o que “executarão depois”. Quando as informações contábeis são dessa forma utilizadas, tornam-se instrumentos de planejamento. Várias são as características que tornam as informações apresentadas nas demonstrações contábeis úteis para a tomada de decisões. A informação contábil deve gerar mais benefício ao, ser utilizada, do que o custo para obtê-la; deve ser de fácil compreensão, possuir relevância, confiabilidade e consistência. Além dessas características, a informação contábil deve ser tempestiva, ou seja, deve ser apresentada no tempo correto. A análise das demonstrações contábeis visa determinar a evolução (ou involução) da situação econômica, financeira e patrimonial das organizações. Podem ser utilizados os relatórios contábeis previstos em lei, bem como qualquer outro demonstrativo contábil/gerencial; balancetes por exemplo. A análise financeira e de balanços não se resume, como muitos acreditam, no cálculo de centenas de índices. Ela trata da interpretação e da relevância desses índices, sendo um instrumento de avaliação e desempenho. 28 PROCEDIMENTOS PRELIMINARES À ANÁLISE Todas as demonstrações financeiras são documentos essencialmente históricos, que informam o que ocorreu em períodos passados. A análise das demonstrações financeiras envolve a seleção cuidadosa dos dados nelas apresentados, visando a utilização desses dados para fins tomada de decisão. Para que a tomada de decisão ocorra de maneira adequada, se faz necessário o cumprimento de procedimentos preliminares ao processo de análise. Como primeiro procedimento pode-se destacar a definição dos objetivos da análise. Verifica-se que usuários diferentes têm objetivos diferentes com relação as informações geradas pela análise das demonstrações financeiras. Dessa forma, percebe-se que os acionistas se voltam para lucratividade e dividendos futuros; os credores se preocupam com a capacidade de pagamentos; os gestores analisam as alternativas de investimento e opções de financiamento disponíveis. È preciso que, antes de se iniciar os procedimentos de análise, sejam bem delimitados os objetivos da análise e a quais stakeholders2 serão direcionados os resultados desta análise. Após a definição dos objetivos da análise é necessária a obtenção das demonstrações financeiras a serem analisadas. Tal procedimento pode parecer simples, mas muitas vezes a escrituração contábil das organizações não está atualizada. Outro fator que poderá dificultar a obtenção das demonstrações financeiras a ser analisadas materializa-se quando o profissional responsável pela contabilidade da empresa manteve apenas registros fiscais das operações. Nessa situação, extremamente irregular, a empresa apresenta regularidade para fins fiscais e tributários, porém a escrituração contábil e elaboração de demonstrações financeiras são obrigatórias para todas as empresas nacionais a partir do Novo Código Civil de 2002. Finalmente, para que a análise das demonstrações financeiras gere informações úteis para tomada de decisão pode ser necessário a adoção de procedimentos de reclassificação. Reclassificação significa um reagrupamento de algumas contas das demonstrações financeiras. A reclassificação efetua ajustes necessários para melhorar a eficiência da análise. Como procedimentos de reclassificação podem ser citados: a) padronização de forma de apresentação e nomenclaturas das demonstrações financeiras; 2 Grupos de interesse que orbitam em torno da empresa. 29 b) a conta “duplicatas descontadas” que é representada como redutora do Ativo Circulante deve ser reclassificada para o Passivo Circulante, devido as peculiaridades da operação que a originou; c) a conta “despesas do exercício seguinte” que é representada no Ativo Circulante é a única desse grupo que não se converterá em dinheiro, devendo ser reclassificada deduzindo o Patrimônio Líquido; e d) asdemonstrações financeiras analisadas foram elaboradas com o conceito contábil de curto prazo (circulante) e longo prazo (não circulante). Alguns objetivos da análise poderão exigir que operações com valores a receber ou a pagar sejam reclassificadas pelo conceito financeiro de curto prazo e longo prazo3. TÉCNICAS DE ANÁLISE A análise das demonstrações contábeis, no Brasil, é feita essencialmente a partir das análises horizontal e vertical e dos índices. ANÁLISE VERTICAL Tem por objetivo determinar a relevância de cada conta em relação a um valor total. Ela é calculada determinando-se o que cada item da demonstração contábil representa como porcentagem de uma determinada base. A análise vertical é a técnica mais simples e também a mais completa para a análise de Balanço. Ela mede proporções entre valores, ajudando-nos a determinar quais as contas de maior importância e relevância para a análise. Na análise do Ativo, ela mede como a empresa distribuiu ou usou seus recursos dentro do Ativo. É importante começar esta análise pelos principais grupos (Circulante, Permanente e Realizável L. Prazo) e só depois ver cada conta isoladamente (Duplicatas a Receber, Estoques, Imobilizado, etc.). O Total do Ativo é a base de cálculo para todas as contas do Ativo. Na análise do Passivo mais Patrimônio Líquido, ela mede como a empresa obteve os recursos que estão ajudando a financiar seus Ativos. É importante começar a análise pelo Patrimônio Líquido (a 3 CURTO PRAZO – Conceito contábil: valores a receber ou a pagar até o final do exercício social seguinte ou até o final do ciclo operacional (o que for maior). Conceito financeiro: valores a receber ou a pagar em até 360 dias. 30 principal fonte de recursos) e depois os dois grupos de dívidas (Circulante e Exigível L. Prazo) e só então cada conta isoladamente. O Total do Passivo mais Patrimônio Líquido é a base de cálculo para todas as contas que representam origens de recursos (que sempre tem o mesmo total que o Ativo). Na análise da Demonstração de Resultados, ela mede quanto cada custo ou despesa consumiu das receitas e, no fim, se houve lucros ou prejuízos. A Receita Líquida de Vendas ou Vendas Líquidas é a base de cálculo para todas as contas da Demonstração de Resultados. ANÁLISE HORIZONTAL Tem por objetivo demonstrar as variações (aumentativas ou diminutivas) ocorridas em itens que constituem as demonstrações contábeis em períodos consecutivos. A análise horizontal compara percentuais ao longo de períodos, ao passo que a análise vertical compara-os dentro de um período. É importante destacar a necessidade de que os valores comparados estejam expressos em moeda de poder aquisitivo constante. CÁLCULO E INTERPRETAÇÃO DE ÍNDICES A análise das demonstrações contábeis dedica-se ao cálculo e interpretação de índices, de modo a avaliar o desempenho passado e presente das organizações, permitindo que sejam feitas projeções. A partir da obtenção dos índices, pode-se compará-los com outros que tenham relevância para a organização (concorrentes, estatísticos, financeiros etc.). Os índices são relações que se estabelecem entre duas grandezas, facilitando o trabalho de análise, uma vez que a apreciação de certas relações ou percentuais e mais significativa que a observação de montantes isolados. A análise por índices é uma das ferramentas mais utilizadas no mercado financeiro. Mas uma análise feita somente com índices é uma análise pobre e certamente poderá conter inúmeras falhas. Os índices financeiros, lidos isoladamente, não são suficientes para um julgamento adequado e uma decisão correta. Índices financeiros aliados à análise vertical já mostram de forma melhor a situação financeira da empresa. A seguir são apresentados alguns índices que permitirão a análise das demonstrações contábeis nas organizações: 31 ÍNDICES DE LIQUIDEZ São indicadores financeiros e tentam medir a capacidade de uma organização em cumprir suas obrigações de curto prazo. Dizem respeito à probabilidade da organização honrar seus compromissos no dia e com os encargos contratuais acordados. Genericamente, podem ser sinalizadores da capacidade de pagamento da organização, apesar de não medir diretamente esta capacidade. Esses índices auferem a solidez do embasamento financeiro da empresa. São divididos em: LIQUIDEZ CORRENTE LC = AC PC onde: LC – Liquidez Corrente AC – Ativo Circulante PC – Passivo Circulante Indica a solidez do embasamento financeiro da empresa frente aos seus compromissos de curto prazo. Expressa quantas vezes os ativos circulantes de uma organização “cobrem” os passivos circulantes. Uma liquidez corrente maior que 1 significa que o valor dos ativos circulantes é maior do que a soma dos passivos circulantes. Durante algum tempo prevaleceu a idéia de que a LC das organizações deveria ser igual ou superior a 1. Contudo essa regra ficou defasada a partir do momento que se percebeu a existência das seguintes situações: a) o conceito de curto prazo apresentado nas demonstrações contábeis é o da Lei 6.404/76, ou seja, valores que podem ser convertidos em dinheiro ou obrigações que precisam ser pagas até o dia 31/12 do próximo exercício social. b) Os analistas perceberam que a LC de uma organização depende do ramo de atividade no qual ela opera. Dessa forma, a melhor forma de se avaliar a LC de uma organização seria compará-lo com o Índice Padrão do seu ramo de atividade. O principal defeito deste índice é que ele mede apenas volume. Como liquidez é a capacidade de pagar as dívidas dentro de seus prazos de vencimentos, muitas vezes a empresa não tem volumes suficientes, mas gira com muita rapidez seus ativos e suas dívidas têm prazos mais lentos. Neste caso, mesmo com índice abaixo de 1, a empresa tem boa capacidade de pagamento. 32 Por outro lado, se o giro dos ativos for muito lento, mesmo com índice acima de 1 a empresa pode ter dificuldades de pagamento se suas dívidas tiverem prazos bastante curtos. Daí, a importância de se aliar este índice com os índices que medem prazos. LIQUIDEZ SECA LS = AC - estoques PC onde: LS – Liquidez Seca AC – Ativo Circulante PC – Passivo Circulante Indica a solidez do embasamento financeiro da empresa frente aos seus compromissos de curto prazo, sem contar a realização dos estoques. A exclusão dos estoques do ativo circulante fornece uma medida ligeiramente mais refinada da liquidez da organização, na qual os estoques são, freqüentemente, entre os ativos circulantes da empresa, o item com menor liquidez. As restrições apresentadas à LC também se aplicam à LS. LIQUIDEZ IMEDIATA LI = disponibilidades PC onde: LI – Liquidez Imediata PC – Passivo Circulante Indica a solidez do embasamento financeiro da empresa frente aos seus compromissos de curto prazo, considerando apenas os valores já disponíveis em espécie. As restrições apresentadas à LC também se aplicam à LI. LIQUIDEZ GERAL LG = AC + ARLP PC + PELP onde: LG – Liquidez Geral AC – Ativo Circulante ARLP – Ativo Realizável a Longo Prazo PC – Passivo Circulante PELP – Passivo Exigível a Longo Prazo 33 Indica a solidez do embasamento financeiro da empresa a longo prazo, considerando tudo o que a empresa converterá em dinheiro e relacionando com tudo o que a empresa já assumiu como dívida. As restrições apresentadas à LC também se aplicam à LI. A partir da Lei 11.638/07, com as alterações na apresentação dasdemonstrações financeiras, o grupo Ativo Realizável a Longo Prazo passou a ser integrante do Ativo Não Circulante. Da mesma forma, o Passivo é dividido em Circulante e Não Circulante. O Passivo Exigível a Longo Prazo integra o Passivo Não Circulante. Entretanto, outros elementos também são representados no Passivo Não Circulante, como por exemplo, os Resultados de Exercício Futuros. O analista deve dedicar muita atenção na correte identificação dos valores que serão utilizados para o cálculo da Liquidez Geral. CAPITAL DE GIRO PRÓPRIO CDGP = PL – (ANC) x 100 AC onde: CDGP – Capital de Giro Próprio PL – Patrimônio Líquido ANC – Ativo Não Circulante AC – Ativo Circulante Quando positivo, este índice mede quanto do Capital de Giro é financiado por recursos próprios. Neste caso, quanto mais alto for o índice, melhor. Quando negativo, ele mostra que a empresa não tem sobra de recursos próprios para financiar nenhuma parte do Capital de Giro. Neste caso, todo o Ativo Circulante é financiado por capitais de terceiros. O ideal é que os recursos próprios financiem todos os ativos de longo prazo (permanente e realizável) e ainda houvesse sobras para financiar parte da necessidade de Capital de Giro. O CDG mostra a falta ou o excesso de Patrimônio Líquido em relação ao Ativo Não Circulante. Outro cálculo que demonstra o Capital de Giro Próprio da empresa é apresentado através da seguinte fórmula: CAPITAL DE GIRO PRÓPRIO CDG = PL – ANC Ainda relacionado ao Capital de Giro, as organizações necessitam identificar a sua necessidade de capital de giro (NCG). A NCG mostra o excesso ou a falta de Ativos Circulantes Operacionais em 34 relação aos Passivos Circulantes Operacionais. Como principais elementos do ACO (ativo circulante operacional) são destacados: clientes, estoques, adiantamentos a fornecedores, outros créditos. Como principais elementos do PCO (passivo circulante operacional) são destacados: fornecedores, obrigações fiscais/sociais a pagar, adiantamentos de clientes, outras contas a pagar. Dessa forma, a NCG é identificada através da seguinte equação: NCG = ACO – PCO ÍNDICES DE ENDIVIDAMENTO São indicadores financeiros e tentam medir o nível e o perfil do endividamento de uma organização. Também indicam em que proporção a empresa utiliza, para realizar suas operações, os capitais próprios e os capitais de terceiros. Os principais Índices de Endividamento são: PARTICIPAÇÃO DOS CAPITAIS DE TERCEIROS SOBRE RECURSOS TOTAIS PCT/RT = Passivo Total Passivo Total + PL onde: PCT/RT – Participação dos Capitais de Terceiros sobre Recursos Totais PL – Patrimônio Líquido Indica a proporção de Capital de Terceiros que a empresa utiliza para financiar suas operações, em relação ao Capital Próprio. O índice máximo dessa análise será 1 e ocorrerá quando a organização não tiver capital próprio. Nas situações onde o Patrimônio Líquido da empresa for negativo, esse índice deverá ser lido como 1, pois um índice negativo ou maior do que não terá significado. PARTICIPAÇÃO DOS CAPITAIS DE TERCEIROS SOBRE PATRIMÕNIO LÍQUIDO PCT/PL = Passivo Total PL onde: PCT/PL – Participação dos Capitais de Terceiros sobre Patrimônio Líquido PL – Patrimônio Líquido Indica a quantidade de unidades monetárias investidas pelos acionistas, em relação às buscadas juntos a terceiros pela organização. Não existe índice máximo nessa análise, mas quanto maior for o PCT/PL, maior será a dependência da organização a capitais de terceiros. Nas situações onde o Patrimônio Líquido da empresa for negativo esse índice não terá significado, pois há somente capitais de terceiros na organização. 35 Este índice trabalha com todo o Passivo. Quanto maior o volume de recursos de terceiros, maior é a dependência. Esta dependência vai definir o nível de riscos. Se os recursos de terceiros são naturais ou operacionais, o risco é mais leve. Se os recursos de terceiros são onerosos ou não operacionais, os riscos são mais elevados. Quando o índice for alto, os recursos próprios são insuficientes para atender as necessidades da empresa e ela passa a depender excessivamente de recursos de terceiros. PARTICIPAÇÃO DAS DÍVIDAS DE CURTO PRAZO SOBRE ENDIVIDAMENTO TOTAL PDCT/PT = PC Passivo Total onde: PDCT/PT – Participação das Dívidas de Curto Prazo sobre Endividamento Total PC – Passivo Circulante Indica o perfil do endividamento da empresa. O ideal desse índice é ser menor do que 1, significando que o endividamento da organização é de longo prazo. Vários outros indicadores de endividamento podem ser calculados e analisados. Exemplos: garantias do capital próprio, grau de imobilização do patrimônio líquido, endividamento sobre ativo total, índice de duplicatas descontadas, índice de cobertura de juros etc. ÍNDICES DE PRAZOS MÉDIOS Enquanto os índices de liquidez mostram volumes de recursos, os índices de prazos médios mostram os prazos com que a empresa realiza seus ativos e os prazos que ela tem para pagar suas dívidas. Os principais Índices de Prazos Médios são: PRAZO MÉDIO DE ESTOCAGEM PME = Estoques Médios X 365 CMV ou CPV onde: PME – Prazo Médio de Estocagem CMV – Custo das Mercadorias Vendidas CPV – Custo dos Produtos Vendidos No caso de indústrias, mede o tempo que a empresa mantém consigo os estoques desde o momento da compra da matéria-prima até o momento da venda do produto acabado, passando por todo o processo de fabricação. No resultado de comércio, é o tempo entre a compra da mercadoria e a data da 36 venda. O resultado é número de dias, isto é, quantos dias a empresa demora para produzir e vender todo o volume de estoques. É calculada a média dos estoques do início e do fim do ano para evitar distorções no valor dos estoques (causados pela inflação ou por flutuações no montante dos estoques entre o início e o fim do ano). Como os estoques, após serem vendidos, são registrados como Custo dos Produtos Vendidos ou Custo das Mercadorias Vendidas, compara-se na fórmula a relação entre estoques existentes (Estoques Médios) com os estoques já vendidos (CPV ou CMV). Como o processo de produção é um ciclo, PMC de “x” dias não significa que a empresa irá vender seus estoques somente após esse período de dias. Na verdade, seus estoques são vendidos todos os dias. O índice mede apenas o tempo médio que os estoques permanecem dentro das instalações da empresa. Vários fatores podem contribuir para que uma empresa tenha prazos médios de estocagem elevados: a) excesso de compra de matérias-primas ou mercadorias; b) ineficiência no processo de produção; c) dificuldade de venda ou mercado em crise; d) produção maior que o volume de vendas; ou e) produto que exige longo tempo de produção. PRAZO MÉDIO DE RECEBIMENTO DE VENDAS PMRV = Clientes Médios X 365 ROL onde: PMRV – Prazo Médio de Recebimento de Vendas ROL – Receita Operacional Líquida A empresa não recebe todas as duplicatas no mesmo dia. Ela recebe duplicatas todos os dias ou todas as semanas. O índice vai mostrar o tempo médio que ela demora para receber todas as duplicatas, incluindo eventuais atrasos. PRAZO MÉDIO DE PAGAMENTO DE COMPRAS PMPC = Fornecedores Médios X 365 CMV ou CPV 37 onde: PMPC – Prazo Médio de Pagamento de Compras CMV – Custo das Mercadorias Vendidas CPV - Custo dos Produtos Vendidos A empresa não paga todas as duplicatasno mesmo dia. Ela paga duplicatas todos os dias ou todas as semanas. O índice vai mostrar o tempo médio que ela demora para pagar todas as duplicatas, incluindo eventuais atrasos. CICLO FINANCEIRO O ciclo financeiro mostra quanto tempo a empresa demora entre a compra da matéria-prima (ou mercadoria, no caso de comércio), a venda do produto e o recebimento da duplicata. Esta primeira parte mostra, então, quanto tempo a empresa demora para receber em R$ os seus ativos (estoques + duplicatas). Deste local, diminui-se o tempo que ela tem para pagar suas principais dívidas operacionais, ou seja, quando ela faz o desembolso de R$. A diferença é o ciclo financeiro. O principal defeito do ciclo financeiro é que ele mede apenas os prazos e não mede os volumes em R$ que são recebidos ou pagos. Se positivo mostra que a empresa precisa de recurso para financiar por algum tempo seus ativos operacionais. Se negativo mostra que a empresa consegue financiar seus ativos operacionais com os recursos (fontes) operacionais de terceiros, resultantes dos prazos normais de sua atividade. ÍNDICES DE RENTABILIDADE As organizações que atuam no sistema capitalista de mercado têm as seguintes características: a) foram constituídas por empreendedores que nelas investiram recursos; b) a partir do investimento feito pelos acionistas, tais organizações irão produzir produtos ou serviços que serão comercializados; c) o resultado das operações de comercialização dos produtos ou serviços deve gerar ganhos aos acionistas (lucro); d) o lucro é a remuneração que a organização dá ao capital investido pelos acionistas; e) os acionistas analisaram várias alternativas antes de se decidirem por um investimento; e f) essa análise contemplou os seguintes elementos: liquidez, rentabilidade e risco/segurança. A partir dessas considerações, fica evidente que os resultados gerados pelas organizações devem ser analisados, objetivando que os acionistas avaliem se o retorno do seu investimento é satisfatório ou não. Essa análise tem características especiais, visto que trata de um elemento de difícil conceituação, mas de fácil percepção: o valor. 38 Valor pode ser comparado à existência humana: não se conceitua a existência ou a presença das pessoas, apenas se percebe essa presença. A percepção do valor é individual e a contabilidade precisa gerar informações para cada categoria interessada em entender o retorno que a organização dá aos seus acionistas pelos investimentos recebidos. Para fins didáticos, os indicadores de rentabilidade serão divididos em três categorias: a) tradicionais; b) voltados à geração de caixa; e c) orientados para o valor. INDICADORES TRADICIONAIS São indicadores que tentam medir a força de ganhos das organizações. Servem como medidas especialmente da efetividade do gerenciamento das organizações. São eles: RETORNO SOBRE O INVESTIMENTO – RETURN ON INVESTMENT ROI = Lucro Investimento O ROI mostra a taxa de retorno que o acionista tem em relação ao investimento feito por ele na organização. A informação gerada pelo ROI é de extrema importância para tomada de decisões relacionadas à permanência, redução ou incremento dos investimentos nas organizações. Entretanto, o ROI apresenta duas limitações que devem ser entendidas a fim de não proporcionarem interpretações equivocadas: a) os conceitos de LUCRO e INVESTIMENTO em contabilidade são diversos. O Demonstrativo do Resultado do Exercício apresenta o lucro bruto, lucro operacional, lucro líquido. O investimento inicial que o acionista faz na organização contabilmente é chamado de Capital Social, mas quando a organização adquire um maquinário, por exemplo, esse maquinário é contabilizado no Ativo Permanente Imobilizado e também é considerado um investimento. b) O lucro sob o aspecto contábil é a diferença entre receitas e despesas. Ele nasce quando a organização apresenta um valor de receitas superior ao valor das despesas. Entretanto a contabilidade segue, para elaborar as demonstrações contábeis das organizações, os Princípios Fundamentais de Contabilidade (PFC). Dois desses princípios afetam diretamente o lucro das organizações. 39 O PFC do custo como base de valor determina que as operações devam ser registradas pelo seu valor de custo, ou seja, pelo seu valor histórico. O PFC do regime de competência determina que as receitas e despesas sejam contabilizadas nos períodos em que elas ocorreram, independentemente de terem sido recebidas ou pagas. RETORNO SOBRE O ATIVO - RETURN ON TOTAL ASSETS ROA = Lucro Ativo Esse indicador mostra a eficácia da organização no emprego de seus ativos para geração de lucros. As mesmas limitações do ROI são verificadas no ROA. RETORNO SOBRE O PATRIMÔNIO LÍQUIDO - RETURN ON EQUITY ROE = Lucro PL Esse indicador mostra a remuneração dos investimentos dos acionistas. As mesmas limitações do ROI e ROA são verificadas no ROE. MARGEM MARGEM = Lucro Receita Líquida Esse indicador mostra a representatividade do lucro em relação às vendas líquidas das organizações. GIRO DO ATIVO GIRO = Receita Líquida Ativo 40 O Giro do Ativo é um indicador de eficiência. Mostra a efetividade das organizações em gerar vendas a partir de seus ativos. INDICADORES VOLTADOS À GERAÇÃO DE CAIXA São indicadores que tentam medir a força de ganhos das organizações, corrigindo as distorções geradas pelo uso dos PFC do custo como base de valor e do regime de competência. O principal deles é o EBITDA (Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization). EBITDA corresponde ao lucro antes de despesas financeiras, dos impostos e da depreciação e amortização. A eliminação das despesas financeiras permite que sejam consideradas no resultado apenas as despesas necessárias à manutenção regular das atividades da empresa. É uma forma de se visualizar, por exemplo, qual teria sido o resultado apurado se a companhia não tivesse de incorrer em juros de empréstimos. A eliminação da depreciação e amortização, que não afetam o fluxo financeiro, permite que se tenha uma idéia mais apropriada do fluxo de caixa gerado pelo resultado. INDICADORES ORIENTADOS PARA O VALOR São indicadores que levam em consideração o custo do capital investido na empresa, revelando efetivamente quanta riqueza foi gerada no período determinado. São maneiras de medir a eficiência com que a empresa usou o capital dos acionistas e instrumentos motivacionais para os gestores tomar as melhores decisões possíveis relacionando diretamente remuneração e desempenho. Dentre esses indicadores destaca-se o EVA® (Economic Value Added) e o MVA® (Market Value Added)4. Para entender o conceito de EVA® e MVA® deve-se primeiro definir um conceito que tem recebido considerável atenção pela contabilidade: o Custo da Oportunidade. Os investidores que possuem recursos disponíveis encontram várias alternativas de investimento. Essas alternativas apresentam níveis diferentes de liquidez, rentabilidade e risco/segurança. Quando os investidores selecionam uma das alternativas de investimento, abrem mão das demais alternativas. Nesse sentido, a comparação entre o investimento feito e as alternativas rejeitadas pode oferecer relevantes elementos para avaliar a decisão. Dessa forma, pode encontrar o valor do Custo da Oportunidade através da seguinte fórmula: Custo da Oportunidade = (rendimento alternativo) – (lucro do investimento)
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