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Modelos de negócios em cenários de mudanças Apresentação A administração de empresas e organizações, em uma perspectiva geral, encontra nos diversos esforços práticos e teóricos a indicação de muitos caminhos para que as operações e definições cruciais possam ser realizadas com mais segurança. Entre os mecanismos elaborados e aprimorados ao longo dos anos, tem-se o modelo de negócios. Esse recurso permite que as organizações, seguindo algumas etapas centrais, possam definir o melhor caminho para a criação de valor para os seus clientes e público-alvo. Também podendo ser visto como uma ferramenta, o modelo de negócios em geral se estrutura por meio de um quadro, conhecido mais popularmente como Canvas, que permite a visualização de como as partes compõem o todo no desafio de diferenciação em mercados que tendem à competitividade cada vez mais global. A compreensão de modelos de negócios e suas potencialidades e particularidades na definição de uma proposta de valor, como foco desse estudo, busca permitir maior compreensão do quão fundamental essa ferramenta pode ser no processo de estruturação do negócio. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer alguns caminhos para a conceituação de modelo de negócios e como eles podem ser caracterizados, além de reconhecer seus processos de desenvolvimento. Também verá os elementos centrais de composição desses modelos, assim como questões relacionadas a modelos de negócios em cenários de mudança, que costumam apresentam uma complexidade e desafios maiores à gestão, e novos negócios, também desafiadores em um cenário de concorrência global. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer o significado dos modelos de negócios, suas características e seus processos de desenvolvimento. • Identificar elementos que compõem um modelo de negócios.• Elaborar modelos de negócios em cenários que envolvam mudanças e desenvolvimento de novos negócios. • Infográfico O modelo de negócios pode ser estruturado de diversas formas, entretanto, a literatura sobre o tema aponta que algumas etapas são essenciais à configuração de uma estrutura que possa, de fato, criar valor para o cliente. Dessa forma, questões relacionadas a segmentos de clientes, proposta de valor, canais, relacionamento com clientes, fontes de receitas, recursos principais, atividades-chave, parcerias principais e estrutura de custo devem ser cuidadosamente estudadas e adequadas aos objetivos da empresa. Em cada uma dessas etapas ou em subetapas que possam compor o modelo de negócios, as informações tanto da empresa quanto do ambiente onde opera e do momento atual, considerando também tendências, devem ser definidas cautelosamente com vistas a chegar a uma configuração que permita a definição de estratégias eficientes para os objetivos desejados. Neste Infográfico, são destacadas algumas questões centrais a serem consideradas no que diz respeito ao relacionamento com os clientes; esta é uma das etapas fundamentais na configuração de um modelo de negócios. Tais questões, somadas a outras, poderão contribuir para melhor definição dessa etapa do processo. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/946f6c2e-3a95-4a2b-af29-20cc5efba844/f2f8b7e3-df01-4d9a-b864-fe374ac135f5.jpg Conteúdo do livro Os modelos de negócios podem variar conforme a estrutura que a organização opte por desenvolver; entretanto, a literatura aponta caminhos e etapas que permitem uma melhor estruturação desse mapa, possibilitando o atendimento de elementos centrais que se complementam na definição de uma proposta de valor para o cliente. Por melhores que sejam as ideias que um empreendedor pode ter sobre o diferencial do seu negócio, recorrer à estruturação de ideias por meio de modelos é sempre um caminho que permite melhor compreender o negócio e o espaço que ele ocupa no âmbito das relações sociais e econômicas. Dessa forma, os modelos de negócios permitem trabalhar questões essenciais para o sucesso de uma organização e se apresentam como alternativas flexíveis para situações de formulações necessárias. Quando o empreendedor compreender que o seu diferencial é composto por partes que demandam atenção e ajustamentos, poderá ter melhor controle diante dos desafios enfrentados. No capítulo Modelos de negócios em cenários de mudanças, da obra Modelos de negócios, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai compreender o esforço conceitual que vem sendo realizado na literatura sobre modelos de negócios, bem como as suas características, que são mutantes conforme sua evolução teórica e prática. Também conhecerá as etapas possíveis de um modelo de negócios, evidenciando a relevância de cada uma na composição do todo. Um ponto de essencial relevância é trabalhado e diz respeito a contextos de mudanças e novos negócios na definição ou reformulação de modelos de negócios. Boa leitura. MODELOS DE NEGÓCIOS Ana Clara Aparecida Alves de Souza Modelos de negócios em cenários de mudanças Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer o significado dos modelos de negócios, suas caracterís- ticas e seus processos de desenvolvimento. Identificar elementos que compõem um modelo de negócios. Elaborar modelos de negócios em cenários que envolvam mudanças e desenvolvimento de novos negócios. Introdução A configuração de modelos de negócios é um desafio fundamental para que a organização gere valor para os seus clientes e se diferencie da concorrência. Para elaborar o modelo de negócios mais adequado, a organização deve ter clareza em relação a uma série de informações que serão consideradas em cada etapa dessa estruturação. Não basta que o empreendedor tenha em mente um novo negócio ou mesmo a reformulação daquilo que a sua empresa já realiza: é fundamental visualizar as pretensões e estabelecer definições com segurança, pois isso impacta a estratégia adotada pela empresa e as atividades futuras a serem desenvolvidas. Os modelos de negócios podem seguir padrões tradicionais ou ser desenvolvidos com inovações. Embora existam diversas fontes de con- sulta sobre como estruturar um modelo de negócios, é fundamental considerar cada caso. A consulta a modelos de negócios adotados por empresas de sucesso pode ser um bom caminho no momento em que a equipe estiver deliberando sobre o passo a passo a seguir. Neste capítulo, você vai estudar os modelos de negócios, conhe- cendo as características e os processos de desenvolvimento relaciona- dos a esse recurso de planejamento. Você também vai verificar quais são os elementos que compõem um modelo de negócios. Por fim, vai se familiarizar com questões centrais da elaboração de modelos de negócios em cenários de mudanças e desenvolvimento de novos negócios. 1 Modelos de negócios: características e processos de desenvolvimento Um modelo de negócios “[...] descreve a lógica de criação, entrega e captura de valor por parte de uma organização [...]” (OSTERWALDER; PIGNEUR, 2011, p. 14). Esse recurso de planejamento funciona como um esquema para que a estratégia organizacional seja implementada por meio de processos e sistemas fundamentados centralmente em clientes, oferta, infraestrutura e viabilidade fi nanceira. A classifi cação do modelo de negócios deve ser clara e acessível a todos, pois isso facilita a discussão sobre o tema. Além disso, o modelo de negócios, embora deva ser simples, relevante e intuitivo, não deve simplifi car demais a complexidade envolvida no funcionamento de uma organização (OSTERWALDER; PIGNEUR, 2011). O modelo de negócios apresentado por Osterwalder e Pigneur (2011) já foi testado e é aplicado em todo o mundo. Esses autores informam que isso ocorreu, inclusive, em grandes empresas, como IBM, Ericsson, Delloitee Public Works, bem como no governo do Canadá (OSTERWALDER; PIGNEUR, 2011). Zott, Amit e Massa (2011) pontuam que o modelo de negócios, embora já existisse como prática anteriormente, passa a ter projeção com o advento da internet, nos anos 1990, e desde então vem ganhando força. Tanto acadêmicos como profissionais de negócios têm se dedicado à elaboração constante do conceito de modelo de negócios, considerando diversas formas de configuração para essas ferramentas. Os autores ressaltam que o modelo de negócios pode ser encontrado na literatura como uma comunicação, uma descrição, uma representação, uma arquitetura, uma ferramenta conceitual ou modelo, um template estruturado, um método, um padrão ou um framework. Modelos de negócios em cenários de mudanças2 Geissdoerfer, Vladimirova e Evans (2018), a partir de um resgate da lite- ratura sobre o tema, definem os modelos de negócios como representações simplificadas da proposição, da criação e da entrega de valor. Tais modelos, para os autores, também são elementos de captura de valor, e há interações entre esses elementos em uma unidade organizacional. Lambert e Davidson (2013) destacam que há uma série de definições, classificações e componentes que visam a apresentar conceituações para o modelo de negócios. Segundo os autores, um modelo de negócios serve para comunicar decisões estratégicas e articular a criação e a captura de valor, este compreendido como a fonte de vantagem da empresa. Conforme Lambert e Davidson (2013), a maioria das definições de modelos de negócios se restringe a uma empresa individual e se concentra na criação e na oferta de valor; entretanto, há muitas variações nisso. Alguns tipos de modelos de negócios são destacados por Osterwalder e Pigneur (2011). O modelo de negócios desagregados, por exemplo, se alinha à noção de corporação “desagregada”, segundo a qual há três tipos diferentes de negócios (HAGEL; SINGER, 1999): negócios de relacionamento com os clientes (buscam identificar, atrair e desenvolver relacionamento com clientes); negócios de inovação de produto (buscam atrair clientes por meio de novos produtos e serviços); negócios de infraestrutura (visam à construção e à gestão de instalações voltadas a tarefas operacionais de alto volume e repetitivas). Conforme essa noção, cada um desses tipos de negócios tem seus próprios imperativos econômicos, competitivos e culturais. A desagregação desses tipos dentro de uma mesma corporação visa a evitar conflitos e compensações não desejadas. Dessa forma, o modelo de negócios desagregados deve considerar as especificidades e particularidades de cada tipo de negócio. Osterwalder e Pigneur (2011) também apresentam o modelo de negócios de cauda longa, que trata de “vender menos de mais”. Ou seja, a ideia é oferecer um grande número de produtos de nicho, mas cada um com vendas infrequentes. Dessa forma, nesse modelo de negócios, a empresa oferece vários produtos de nicho que vendem pouco individualmente, mas que juntos acabam gerando alto valor nas vendas. Esse tipo de negócio requer baixo custo de estoque, mas plataformas robustas, para disponibilizar conteúdo segmentado para os interessados em adquiri-lo. Assim, esse modelo foca um número maior de produtos, cada um vendendo em menores quantidades. 3Modelos de negócios em cenários de mudanças As plataformas multilaterais são destacadas por Osterwalder e Pigneur (2011) como modelos que unem dois ou mais grupos distintos de clientes, mas que são interdependentes. Esse tipo de plataforma cresce à medida que atrai mais usuários em rede, como é o caso do Google. Nesse tipo de negócio, há a criação de valor pela promoção da interação entre diferentes grupos. Há ainda o modelo de negócios grátis. Esse tipo de modelo, como ressal- tam Osterwalder e Pigneur (2011), permite que pelo menos um segmento de clientes se beneficie de uma oferta livre de custos; esses clientes não pagantes são financiados por outra ponta. É o caso do jornal Metro, que é distribuído gratuitamente, mas conta com espaços de publicidade vendidos a anunciantes, além de ter desenvolvido outras estratégias que garantem a permanência da gratuidade. O modelo de negócios abertos é utilizado por companhias no estabele- cimento de processos colaborativos com parcerias externas vantajosas, que permitam criar e capturar valor sistematicamente. Conforme Osterwalder e Pigneur (2011), isso pode se dar por meio de produtos, tecnologia, conheci- mento e propriedade intelectual. Esse modelo permite que a inovação ocorra de “fora para dentro” ou de “dentro para fora”. Zott, Amit e Massa (2011) ressaltam que nos negócios digitais será configu- rado o e-business model (modelo para negócios digitais). Esse modelo envolve uma série de particularidades a serem consideradas conforme a plataforma utilizada e os produtos e serviços disponibilizados. Lambert e Davidson (2013) destacam que o conceito de modelo de negócios se amplia para além das unidades de análise que eram consideradas em modelos mais tradicionais. Isso permite que a empresa inclua parceiros de rede, outros aliados e o cliente, que se torna particularmente útil como unidade de análise. Nessa perspectiva, o sucesso da organização estará intimamente ligado aos relacionamentos que o cliente tem com outras pessoas na rede. A fim de escolher o melhor modelo de negócios para a entrega de valor que pretende realizar, a empresa deve buscar diversas fontes sobre o assunto. A ideia é compreender como conduzir a elaboração do seu modelo de negócios considerando as especifi- cidades do seu produto ou serviço. Modelos de negócios em cenários de mudanças4 2 Composição do modelo de negócios Para Osterwalder e Pigneur (2011), o modelo de negócios pode ser melhor descrito a partir de nove componentes básicos, destinados a mostrar como a organização pretende gerar valor. Esses nove componentes cobrem quatro áreas: clientes, oferta, infraestrutura e viabilidade fi nanceira. A seguir, veja quais são os nove componentes aos quais Osterwalder e Pigneur (2011) se referem. 1. Segmentos de clientes: a organização pode servir a um ou a diversos segmentos de clientes. Os clientes são o âmago do negócio e é para atendê-los que a empresa existe. O modelo de negócios deve definir os segmentos de clientes a serem atendidos, classificando-os como grandes ou pequenos. A decisão sobre esses segmentos é crucial para o encaminhamento das atividades da empresa em direção aos públicos de interesse. Os grupos de clientes podem representar seg- mentos distintos quando as suas necessidades justificam uma oferta diferente, quando são alcançados por canais de distribuição diferentes, quando exigem relacionamentos diferentes, quando a lucratividade é substancialmente diferente e quando estão dispostos a pagar por aspectos diferentes naquilo que é ofertado. Esses tipos de segmento podem ser: mercado de massa, nicho de mercado, mercado segmentado, mercado diversificado e mercado multilateral (segmentos de clientes independentes). 2. Proposta de valor: busca-se resolver os problemas do cliente e satis- fazer as suas necessidades por meio de uma proposta de valor (ou seja, a relevância que uma marca, empresa, produto ou serviço — ou tudo combinado — tem para o seu público-alvo). Tal proposta é o motivo pelo qual o cliente escolhe uma empresa ou outra. Cada proposta de valor é destinada a suprir as necessidades de um segmento de clientes específico. Assim, trata-se de um conjunto de benefícios oferecidos pela empresa a seus clientes. As propostas de valor podem trazer elementos totalmente inovadores ou variações de outras propostas já oferecidas no mercado. Esses valores reconhecidos pelo público como vantagem podem ser quantitativos, como em preços, ou qualitativos, como em design. A criação de valor para o cliente pode considerar: novidade, desempenho, personalização, design, marca, status, preço, redução de custo, acessibilidade, conveniência,etc. 5Modelos de negócios em cenários de mudanças 3. Canais: são os meios pelos quais as propostas de valor são levadas aos clientes. Podem ser canais de comunicação, distribuição ou venda, que fazem a interface entre empresa e cliente. Os canais podem servir para ampliar o conhecimento dos clientes sobre os produtos e serviços da empresa, ajudar na avaliação da proposta de valor oferecida, permitir a aquisição dos produtos e serviços, levar a proposta de valor até os clientes e fornecer suporte após a compra. A identificação dos canais corretos para a entrega da proposta de valor é crucial para a organi- zação. O alcance dos clientes pode ocorrer por canais particulares, canais em parceria ou uma mistura desses dois tipos. É necessário que a organização defina com cuidado os canais que vai utilizar. As redes sociais têm sido consideradas um meio interessante, dado que permitem aproximar as relações e, inclusive, personalizar mais o discurso, além de simular emoções por meio de emojis e outros recursos de interação. 4. Relacionamento com clientes: esse relacionamento é estabelecido e mantido com cada segmento de clientes. As relações podem variar de relações pessoais a relações automatizadas. O tipo de relacionamento estabelecido busca conquistar o cliente, reter o cliente ou ampliar as vendas. O relacionamento com o cliente influencia significativamente a experiência geral de cada consumidor. Algumas categorias de rela- cionamento com o cliente são: assistência pessoal, assistência pessoal dedicada (atendimento personalizado), self-service, serviços automa- tizados, comunidades de usuários e cocriação. 5. Fontes de receita: resultam das propostas de valor oferecidas aos clientes, ou seja, do dinheiro que a empresa gera a partir de cada seg- mento de cliente. Cada segmento pode ter mecanismos de precificação diferentes; a empresa deve avaliar quanto cada um estaria disposto a pagar. Dois tipos de receita podem ser considerados em um modelo de negócios: as transações de renda, que são resultantes de pagamento único, findado na aquisição do bem ou serviço; e a renda recorrente, que é resultante de pagamento constante (por exemplo, quando há um suporte pós-compra que segue sendo pago pelo cliente). As fontes de receitas podem advir de vendas de recursos, taxas de uso, taxas de assinatura, empréstimos, aluguéis, licenciamentos, taxas de correta- gem, anúncios, etc. No Quadro 1, a seguir, veja alguns mecanismos de precificação que podem ser utilizados. Modelos de negócios em cenários de mudanças6 Fonte: Adaptado de Osterwalder e Pigneur (2011). Precificação fixa (os preços são predefinidos com base em variáveis estáticas) Precificação dinâmica (os preços mudam com base nas condições do mercado) Preço de lista — os preços são fixos para produtos, serviços ou outras propostas de valores individuais. Negociação (barganha) — o preço é negociado entre dois ou mais parceiros, dependendo do poder e/ou das habilidades de negociação. Dependente da característica do produto — o preço depende do número ou da qualidade das características da proposta de valor. Gerenciamento de produção — o preço depende do inventário e do momento da compra (normalmente utilizado para recursos esgotáveis, como quartos de hotel ou assentos de companhias aéreas). Dependente dos segmentos de clientes — o preço depende do tipo e de todas as características dos segmentos de clientes. Mercado em tempo real — o preço é estabelecido dinamicamente, com base na oferta e na demanda. Dependente do volume — o preço se altera em função da quantidade comprada. Leilões — o preço é determinado pelo resultado de um leilão competitivo. Quadro 1. Mecanismos de precificação 6. Recursos principais: são os elementos ativos que permitem oferecer e entregar os elementos anteriormente descritos. Podem ser do tipo físico, financeiro, intelectual ou humano. A empresa não precisa possuir todos esses recursos; ela pode alugá-los ou pegá-los emprestados de parceiros. Para cada modelo de negócios, recursos específicos serão necessários. Como exemplo, é possível destacar recursos intelectuais, como as patentes, e conhecimentos particulares, como a fórmula da Coca-Cola. 7. Atividades-chave: as atividades desenvolvidas nos processos de en- trega são as ações mais importantes na entrega de valor pela empresa, indispensáveis para alcançar e manter clientes e gerar renda. Essas atividades se diferenciam conforme o modelo de negócios adotado. Elas podem ser categorizadas como: produção (desenvolvimento, fabricação e entrega), resolução de problemas (soluções para problemas específicos), plataforma/rede (redes, plataformas de combinação, softwares e marcas). 7Modelos de negócios em cenários de mudanças 8. Parcerias principais: há atividades que podem ser terceirizadas e re- cursos que podem ser adquiridos fora da empresa, com vistas a otimizar modelos de negócios e reduzir riscos. As parcerias podem ser: alianças estratégicas entre não competidores, coopetição (parcerias estratégicas entre concorrentes), joint ventures para o desenvolvimento de novos negócios, relação comprador–fornecedor (suprimentos confiáveis), etc. 9. Estrutura de custo: é o resultado oriundo dos elementos do modelo de negócios. Os custos são calculados após as definições de recursos prin- cipais, atividades-chave e parcerias principais. No processo de cálculo, podem ser pensados os custos fixos, os custos variáveis, as economias de escala — quando é possível tirar vantagem do aumento da demanda — e as economias de escopo — quando as operações podem dar suporte a diversos produtos diferentes. Duas grandes classes de estrutura de custos podem ser definidas: direcionadas pelo custo (concentram-se em mini- mizar o custo sempre que possível) e direcionadas pelo valor (focadas no valor entregue ao cliente, com um alto nível de personalização). Os elementos que você acabou de ver estão ilustrados na Figura 1, que destaca os caminhos para se chegar à proposta de valor. O tamanho de cada seção está relacionado com as especificidades destacadas anteriormente. Figura 1. Modelo de negócios. Fonte: Adaptada de Osterwalder e Pigneur (2011). Modelos de negócios em cenários de mudanças8 3 Modelos de negócios em cenários de mudanças e desenvolvimento de novos negócios Os modelos de negócios devem se adequar aos contextos com os quais a organi- zação se depara. Pode haver um contexto novo, por exemplo, em uma situação de mudança de governo. Também podem ocorrer alterações contextuais que interfi ram nas atividades e metas da organização, como no caso de uma crise econômica. Conforme Osterwalder e Pigneur (2011), a própria noção de modelo de negócios passou por mudanças e reconfi gurações. Dessa forma, há alguns modelos contemporâneos, como serviços de educação totalmente a distância, e também mais abertura para que novos modelos sejam pensados, como no caso dos serviços de streaming, tais como Netfl ix e Google Play. Entretanto, a escolha de um modelo de negócios é sempre um grande desafi o, devido à viabilidade necessária. O grande desafio para a criação de novos modelos de negócios na contem- poraneidade, segundo Osterwalder e Pigneur (2011), está na necessidade de ignorar o status quo e deixar de lado preocupações com questões operacionais. Só assim é possível gerar ideias realmente inovadoras. Os cenários de mudanças e criação de novos negócios demandam flexibilidade na própria estrutura dos modelos de negócios. Nesse sentido, o foco deve estar na criação de valor e receitas, não no que se realizou no passado ou mesmo no que a concorrência tem feito. Assim, a inovação encontra caminho para ocorrer, permitindo que os valores e receitas gerados sejam mais efetivos em cada contexto. Lambert e Davidson (2013) destacam que os conceitos de modelo de negó- cios e de modelo de inovação têm atraído o interesse de acadêmicos de diversas áreas, como administração, economia e marketing. Talinteresse demonstra que a inovação em modelos de negócios é essencial para o desempenho das empresas. Dados os cenários contemporâneos de amplas mudanças, como crises econômicas e até mesmo pandemias, os desafios que os novos negó- cios enfrentam devem ser sempre considerados. Dessa forma, os modelos de negócios passam a prospectar inovações conforme o contexto com o qual se deparam, buscando estratégias e caminhos de ação. Diante do desafio de uma pandemia, uma empresa do ramo da educação que oferece apenas aulas presenciais precisa repensar o seu modelo de negócios, encarando a possibilidade de disponibilizar conteúdo on-line aos seus alunos. 9Modelos de negócios em cenários de mudanças Osterwalder e Pigneur (2011) discorrem sobre a noção de ideação para a concepção de modelos de negócios. Tal noção está estruturada em duas fases: a geração de ideias, primando pela quantidade; e a síntese, quando essas ideias são discutidas, combinadas e reduzidas a opções viáveis. Nessa perspectiva, o novo não é necessariamente algo pioneiro, mas pode ser uma reformulação ou avanço de um modelo já existente, como ocorre na inovação incremental, no sentido de melhoria da competitividade. Esses autores apresentam alguns epicentros de inovação a partir dos quais é possível gerar modelos de negócios: recursos (originados das estruturas existentes em uma organização ou de um parceiro); oferta (novas ofertas de valor que afetam outros componentes do modelo); clientes (com base na necessidade dos consumidores); finanças (por meio de mecanismos de preços ou estruturas de custo reduzidas); múltiplos epicentros (visando impactar diversos componentes). Rosa (2014) desenvolveu uma cartilha para o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) que orienta a configuração de um modelo de negócios. Inicialmente, ela apresenta o Canvas como uma ferramenta visual para a criação de modelos de negócios. Como etapa fundamental do processo de desenvolvimento do modelo, destaca-se a necessidade de inovação ao longo de sua configuração. Isso se dá pela geração de ideias e pela seleção posterior das mais adequadas a cada caso. A análise Swot — Strengths (forças), Weaknesses (fraquezas), Opportunities (oportunidades), Threats (ameaças) — é apresentada por Rosa (2014) como uma etapa fundamental para verificar aspectos positivos e negativos do negócio. Em cenários de mudança ou mesmo de novos negócios, esse processo é essencial para que o empreendedor tenha uma visão geral de suas capacidades internas e dos desafios externos a serem enfrentados. Zott, Amit e Massa (2011) destacam que o conceito de modelo de negócios tem sido amplamente utilizado nos domínios da inovação, pois permite que cenários de mudanças e novos negócios sejam melhor enfrentados. Os autores entendem que as empresas comercializam ideias e tecnologias inovadoras por meio de seus modelos de negócios. Esses modelos representam um novo aspecto da inovação, que complementa os elementos tradicionais de processo e produto. Os modelos de negócios envolvem novas formas de cooperação e colaboração, considerando as mudanças decorrentes das atualizações de cada contexto. Modelos de negócios em cenários de mudanças10 Sort e Nielsen (2018) destacam a relevância dos modelos de negócios para a comunicação do valor criado pela organização. Nesse sentido, os novos negócios devem reconhecer a necessidade de definir claramente o seu valor. Eles podem utilizar o modelo de negócios como uma ferramenta de comuni- cação desse valor, seja para os seus clientes, seja para possíveis investidores e interessados no estabelecimento de parcerias. O valor, que antes era comunicado pela empresa, pode sofrer alterações em um contexto de mudanças macrossociais mais intensas, ou mesmo no caso de uma sociedade desfeita, por exemplo. A estruturação de um modelo de negócios adequado ao novo cenário pode contribuir para a reformulação do valor e para a definição de novos canais de comunicação com o público de interesse, de modo a oferecer produtos ou serviços mais alinhados com o contexto vigente. Como exemplo de ajuste do modelo de negócios tradicional para um modelo de negócios em cenário de mudança, considere o conceito de modelos de ne- gócios sustentáveis. Geissdoerfer, Vladimirova e Evans (2018) destacam que, quando esse conceito foi concebido, tinha como principais objetivos colocar as empresas a serviço da transformação em um sistema socioeconômico mais sustentável e alavancar a integração de considerações sobre sustentabilidade. A ideia era ajudar as empresas a alcançar as suas metas de sustentabilidade por meio da adoção de padrões mais sustentáveis em suas práticas. As organizações poderiam, por exemplo, adotar matérias-primas menos agressivas ao meio ambiente, ou mesmo verificar as práticas de seus fornecedores para controlar efeitos sociais negativos, como trabalho em condições análogas à escravidão. Na contemporaneidade, segundo os autores, a noção de modelos de negócios sustentáveis é cada vez mais vista como fonte de vantagem competitiva para as organizações. Nesse tipo de modelo, o valor pensado para o cliente está relacionado à noção de sustentabilidade, conforme o tripé formado pelos âmbitos econômico, ambiental e social. Os consumidores têm se mostrado cada vez mais atentos e preocupados com esses aspectos, seja no que diz respeito à matéria-prima utilizada ou às relações de trabalho que ocorrem na empresa. Nesse sentido, até mesmo os novos negócios têm de atentar a esse tipo de elemento. Em uma perspectiva semelhante, os modelos de negócios com impacto social buscam resolver alguma demanda social ou ambiental não atendida ou atendida parcialmente por meio de políticas públicas e, ao mesmo tempo, obter uma atuação rentável (BARKI, 2015). Esse tipo de modelo desenvolve uma gestão híbrida, pois é composto tanto por características do setor privado quanto por elementos extraídos da gestão social. 11Modelos de negócios em cenários de mudanças Os negócios de impacto social são parte de uma tipologia de empreendi- mentos que buscam, explicitamente, gerar impacto socioambiental ao mesmo tempo em que geram resultado financeiro positivo de forma sustentável. Em síntese, os negócios de impacto social constituem-se como empreendimentos que objetivam oferecer soluções escaláveis para problemas sociais e/ou ambien- tais (ARTEMÍSIA, 2017 apud ANASTÁCIO; MARINS; CRUZ FILHO, 2018). Em cenários de mudanças e na configuração de novos negócios, os modelos utilizados devem se adequar contextualmente à demanda apresentada. No desenvolvimento de um modelo de negócios, as mudanças possíveis e as tendências precisam ser continuamente consideradas. Como você viu, os modelos de negócios permitem que as empresas definam, desde a sua concepção, como desejam criar valor para o público-alvo que pretendem alcançar. Por ser um tipo de recurso de planejamento que permite adaptações contextuais, o modelo de negócios possibilita que as empresas revisitem cada um de seus componentes para realizar os ajustes necessários conforme o andamento de suas atividades. Os modelos de negócios já existem há um tempo considerável, embora eles tenham se popularizado mais a partir da segunda metade da década de 1990. Desde então, essa ferramenta vem sendo amplamente utilizada, adaptada e reconfigurada conforme as mudanças contextuais que as organizações viven- ciam. Demandas contemporâneas levam à necessidade de adequar cada vez mais o valor que se pretende comunicar aos clientes. Negócios digitais, que são intermediados por plataformas virtuais (como sites, aplicativos, redes sociais), ou mesmo questões relacionadas à inovação, à tecnologia e à sustentabilidade, por exemplo, exigem que novas ideias sejam continuamente trazidas para atender às necessidades dos clientes. Nesse sentido, é essencial que o empreendedor reconheça no modelo de negócios um aliado fundamental para a estruturação desuas ideias. Tal modelo pode servir até mesmo como um mapa. A ideia é que noções antes válidas sejam revistas para o melhor ajustamento de todas as partes que se integram no modelo. Modelos de negócios em cenários de mudanças12 O conteúdo que você viu aqui não esgota o tema, que pode ser continuamente deba- tido e aprimorado conforme novos desafios contextuais surjam para as organizações, nos mais variados setores e áreas de atuação. ANASTÁCIO, M. R.; MARINS, J.; CRUZ FILHO, P. R. (org.). Empreendedorismo social e inovação no contexto brasileiro. Curitiba: PUCPRESS, 2018. BARKI, E. Negócios de impacto: tendência ou modismo? GV Executivo, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 14–17, 2015. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/ gvexecutivo/article/view/49183/47996. Acesso em: 15 abr. 2020. GEISSDOERFER, M.; VLADIMIROVA, D.; EVANS, S. Sustainable business model innovation: a review. Journal of Cleaner Production, [s. l.], v. 198, p. 401–416, 2018. HAGEL, J.; SINGER, M. Unbundling the corporation. Harvard Business Review, Boston, Mar./Apr. 1999. Disponível em: https://hbr.org/1999/03/unbundling-the-corporation. Acesso em: 15 abr. 2020. LAMBERT, S. C.; DAVIDSON, R. A. Applications of the business model in studies of en- terprise success, innovation and classification: an analysis of empirical research from 1996 to 2010. European Management Journal, [s. l.], v. 31, n. 6, p. 668–681, 2013. OSTERWALDER, A; PIGNEUR, Y. Business model generation: inovação em modelos de negócios: um manual para visionários, inovadores e revolucionários. Rio de Janeiro: Alta Books, 2011. ROSA, C. A. Modelo de negócios: kit de ferramentas. Belo Horizonte: SEBRAE/MG, 2014. SORT, J. C.; NIELSEN, C. Using the business model canvas to improve investment proces- ses. Journal of Research in Marketing and Entrepreneurship, [s. l.], v. 20, n. 1, p. 10–33, 2018. ZOTT, C.; AMIT, R.; MASSA, L. The business model: recent developments and future research. Journal of Management, [s. l.], v. 37, n. 4, p. 1019–1042, 2011. 13Modelos de negócios em cenários de mudanças Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Modelos de negócios em cenários de mudanças14 Dica do professor Um dos elementos essenciais na composição de modelos de negócios diz respeito à segmentação de clientes. A empresa precisa definir que público deseja atender e como isso irá se adequar às suas condições estruturais de atendimento da demanda. Esse processo é muito delicado, pois as definições realizadas condicionarão todos os esforços da proposta de valor. Dessa forma, há diversos caminhos possíveis para que a organização defina com mais segurança e clareza os clientes que deseja atender, se estes serão pessoas com interesses semelhantes ou interesses distintos, independentes com relacionados. Essa definição não depende apenas da vontade do empreendedor, mas da capacidade estrutural da organização de atender a determinado público. Não há impedimento para que esse público possa sofrer alguma alteração caso o modelo de negócios necessite ser repensado. Assim, considerando as particularidades da segmentação de clientes, esta Dica do Professor destaca um pouco mais o que compreende alguns dos tipos de segmentação existentes. Certamente, em um cenário de economia global, novos tipos devem estar surgindo, aumentando a possibilidade de pensar sobre os caminhos da segmentação. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/3b2c515489e54b5509624b9acbdd6d8a Na prática Os modelos de negócios podem ser compreendidos como ferramentas que auxiliam na definição da proposta de valor que a organização deseja entregar ao cliente. Essa ferramenta deve ser estruturada de maneira que haja flexibilidade para o caso de necessidade na revisão das estratégias pensadas. Mudanças contextuais ocorridas tantos nos ambientes internos quanto nos ambientes externos podem interferir nos planos traçados pelo gestor e sua equipe. Dessa forma, é necessário sempre considerar que mudanças contextuais macrossociais, ainda que pareçam muito distantes, podem ter efeitos futuros no negócio em questão. Em um ambiente de relações globais, é necessário considerar que situações ocorridas mesmo do outro lado do mundo podem reverberar no Brasil. Considerando essa perspectiva, veja, Na Prática, uma situação na qual a empresa se viu diante da necessidade de reformular o seu modelo de negócios recém-ajustado por conta de uma pandemia global, que botou em xeque a sustentabilidade econômica de muitas empresas. Esse tipo de desafio, real, deixa clara a mensagem de que as relações alcançaram uma complexidade global, e é isso que as organizações de todos os tipos devem considerar. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/16c150b6-6ca0-4ccf-af54-80f2157d01e1/0f972806-5358-403c-837e-90054fe44e59.jpg