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GUIA DE ESTUDOS: URGÊNCIAS ENDODÔNTICAS
Prezados alunos,
Este guia foi elaborado para consolidar os conhecimentos essenciais sobre as urgências endodônticas, abordando desde a definição e o diagnóstico preciso até os protocolos de tratamento e as medicações indicadas. Lembrem-se que a capacidade de diagnosticar e intervir corretamente em situações de urgência é fundamental na prática odontológica.
1. Urgência vs. Emergência: Compreendendo as Diferenças
É crucial diferenciar esses dois conceitos no atendimento ao paciente:
· Urgência: O paciente necessita de atendimento, mas pode aguardar. Há tempo para o profissional se planejar.
· Exemplos Endodônticos: Pulpite, Abscesso, Traumatismo Dentário.
· Emergência: O paciente precisa de atendimento imediato, pois existe risco de morte.
· Exemplos Clínicos: Alteração ou perda de consciência, dor no peito, crise hipertensiva arterial, arritmias cardíacas, reação alérgica, convulsões.
2. O Processo Diagnóstico: A Essência do Tratamento Correto
"Determinar o correto Diagnóstico é a Essência do correto Tratamento" – essa frase do seu material resume a importância de uma abordagem diagnóstica sistemática.
2.1. Exame Subjetivo (Anamnese)
Coleta de informações cruciais sobre a história do paciente:
· História médica: Condições sistêmicas, doenças não diagnosticadas.
· Medicamentos em uso: Para evitar interações ou contraindicações.
· Hábitos: Tabagismo, bruxismo, etc.
· História dental: Queixa principal, início, intensidade, tipo de dor, fatores que aliviam ou exacerbam.
2.2. Exame Clínico Intraoral
Avaliação detalhada da área da queixa e estruturas adjacentes:
1. Percussão Dentária:
· Vertical: Leves batidas na face incisal/oclusal com o cabo do espelho.
· Horizontal: Batidas nas faces vestibulares/linguais.
· Objetivo: Avaliar inflamação do ligamento periodontal. Dor à percussão indica envolvimento periapical.
2. Palpação:
· Uso do dedo indicador pressionando a região de fundo de vestíbulo do dente suspeito e vizinhos.
· Objetivo: Detectar sensibilidade óssea, inchaço (edema), flutuação (presença de pus) ou alterações na estrutura óssea.
3. Mobilidade Dentária:
· Movimentar o dente no sentido vestíbulo-lingual com indicador e cabo do espelho.
· Objetivo: Avaliar o grau de comprometimento do ligamento periodontal.
4. Teste de Sensibilidade (Térmico/Elétrico):
· Teste Térmico (Frio): Com spray refrigerante ou gelo.
· Objetivo: Avaliar a vitalidade pulpar e o grau de inflamação.
· Dor provocada e de curta duração: Sugere pulpite reversível.
· Dor aguda e persistente (>30s) após remoção do estímulo: Sugere pulpite irreversível sintomática.
· Ausência de resposta: Sugere necrose pulpar.
5. Sondagem Periodontal: Para avaliar saúde periodontal e diferenciar lesões.
6. Teste de Cavidade: Em casos de dúvida, para avaliar a sensibilidade da dentina.
7. Transiluminação: Para detectar trincas ou fraturas dentárias.
2.3. Exame Radiográfico
Essencial para complementar o diagnóstico clínico:
· Avalia: Estruturas anatômicas, fraturas, iatrogenias, presença de lesão periapical, reabsorções ósseas.
· Rastreamento de Fístula: Uso de cone de guta-percha para traçar o trajeto de uma fístula até sua origem.
· Importante: A radiografia é um exame complementar e mostra um "instantâneo" da condição óssea, não a dor em si. Pode ser necessário múltiplas angulações.
3. Qual a Origem da Dor? Odontogênica vs. Não Odontogênica
É vital determinar se a dor tem origem dentária. Cerca de 90% das urgências em endodontia ocorrem em consequência de enfermidades da polpa ou do periápice.
3.1. Dor Odontogênica (Origem Pulpar ou Periapical)
· Pulpal: Inflamação da polpa dentária.
· Periapical: Inflamação dos tecidos ao redor do ápice da raiz.
3.2. Dor Não Odontogênica
Pode mimetizar dor dental, exigindo diagnóstico diferencial:
· Seio Maxilar
· Mucosa Nasal
· Miofacial
· Neuropática
· Otite Média
· Distúrbios da ATM
· Herpes Zóster
Tabela Comparativa: Dor Odontogênica vs. Não Odontogênica
	Característica
	Dor Odontogênica
	Dor Não Odontogênica (Exemplos)
	Origem
	Polpa ou Periápice
	ATM, Sinusite, Mialgia, Neuralgia, Otite, etc.
	Localização
	Geralmente localizada no dente afetado, pode irradiar
	Difusa, regional, pode mimetizar dor dental
	Resposta a Estímulos
	Frio, calor, doce, mastigação (no dente)
	Movimento mandibular, pressão em músculos, alterações posturais, etc.
	Diagnóstico Específico
	Testes de vitalidade, percussão, palpação, radiografia
	Exames específicos da área (otorrino, neurologia, fisioterapia)
4. Urgências de Origem Pulpar (PULPOPÁTIAS)
A polpa responde à irritação com inflamação, peculiar por estar dentro de uma câmara mineralizada.
4.1. Pulpite Reversível (ou Pulpagia Hiper-reativa)
· Definição: Inflamação pulpar leve e transitória, onde a polpa tem capacidade de reparo.
· Características Clínicas:
· Dor provocada e intensa ao frio, doce, ácido.
· Declínio rápido da dor após a remoção do estímulo (dura menos de 30 segundos).
· Geralmente localizada.
· Responde normalmente aos testes de vitalidade.
· Sem dor à percussão ou palpação.
· Causas Comuns: Cáries ou restaurações extensas, tratamentos conservadores da polpa.
· Diagnóstico: Baseado nos sintomas e testes.
· Exemplo: Dente 26 com cárie, sensibilidade a gelados/doces, sem desconforto à mastigação/percussão. Dor intensa ao frio que cessa rápido.
· Diagnóstico: Pulpite Reversível.
· Tratamento:
· Remoção do tecido cariado.
· Blindagem coronária.
· Se houver exposição pulpar, tratamento conservador da polpa (capeamento) e blindagem.
4.2. Pulpite Irreversível
· Definição: Inflamação pulpar severa e persistente, sem capacidade de reparo, que progride para necrose pulpar.
· Características Clínicas:
· Dor espontânea, intermitente ou contínua, intensa, sinalgias/irradiada.
· Dor aguda e persistente (>30 segundos) após a remoção do estímulo frio (o frio exacerba a dor!).
· Pode haver sensibilidade à percussão ou palpação (indica envolvimento periapical inicial).
· Causas Comuns: Cáries extensas e profundas, fraturas com exposição pulpar.
· Tipos Específicos:
· Pulpite Assintomática Irreversível (Polpa Ulcerada no Adulto): Exposição do tecido pulpar sangrante, aspecto úmido com restos alimentares. Sem dor à percussão V/H ou palpação.
· Pólipo Pulpar no Jovem: Proliferação granulomatosa do tecido pulpar para fora da cavidade.
· Diagnóstico: Baseado nos sintomas e testes (especialmente a duração da dor ao frio).
· Exemplo: Paciente com dor espontânea, persistente ao frio.
· Diagnóstico: Pulpite Sintomática Irreversível (ou Pulpa Ulcerada/Pólipo, dependendo da observação).
· Tratamento:
· Pulpotomia (em casos específicos, como no jovem): Remoção da polpa coronária.
· Conduta Clínica: Avaliação radiográfica, anestesia, remoção da dentina cariada, abertura coronária e remoção do teto, isolamento absoluto, remoção da polpa coronária com curetas afiadas, aplicação de Otosporin/Hidróxido de Cálcio P.A., restauração provisória.
· Medicação: Dipirona Sódica 500mg, Paracetamol 750mg.
· Pulpectomia (Tratamento Endodôntico Completo): Remoção da polpa coronária e radicular.
· Conduta Clínica: Avaliação radiográfica, anestesia, remoção da dentina cariada, abertura coronária e remoção do teto, isolamento absoluto, remoção da polpa coronária e radicular, instrumentação (limas #15-35), preparo do terço cervical e médio, medicação intracanal ou obturação, selamento.
· Medicação: Dipirona Sódica 500mg, Paracetamol 750mg.
5. Urgências de Origem Periapical (PERIAPICOPATIAS)
São lesões da região periapical (cemento, ligamento periodontal e osso alveolar), resultantes de doenças pulpares.
5.1. Periodontite Apical Aguda
· Definição: Inflamação aguda do periápice.
· Causas:
· Infecciosa: Origem pulpar (necrose ou inflamação avançada). Vitalidade Negativa.
· Traumática: Trauma oclusal, trauma direto. Vitalidade Positiva.
· Química: Extravasamento de substâncias irritantes. Vitalidade Negativa.
· Tratamento (Protocolo Clínico):
· Traumática: Ajuste oclusal.
· Infecciosa/Química: Preparo químico-mecânico (desinfecção do canal), remoção de medicaçãointracanal (se presente) ou medicação intracanal, selamento.
· Medicação Sistêmica:
· Pré-operatória: Betametasona 2mg ou Dexametasona 4mg (30-45 min antes) – para controlar inflamação.
· Pós-operatória: Dipirona 500mg (6/6h), Paracetamol 750mg (8/8h), Anti-inflamatórios.
5.2. Abscesso Periapical Agudo (APA)
· Definição: Resposta inflamatória onde o corpo não consegue eliminar o agente agressor, levando a uma coleção purulenta na região apical de um dente com necrose pulpar.
· Características: Reações inflamatórias agudas, acúmulo de neutrófilos, capacidade de disseminação, dor, mau odor, exsudato, presença de fístula.
· Microbiologia: Principalmente bactérias anaeróbias estritas e facultativas.
· Urgência Comum: É uma das causas mais comuns de atendimento de urgência, com potencial de se difundir e ter consequências letais.
5.2.1. Classificação e Características dos APAs Intraorais
É crucial distinguir os tipos de abscesso para o manejo adequado:
Tabela Comparativa: Tipos de Abscesso Periapical Agudo Intraoral
	Característica
	Abscesso Periapical Intra-ósseo
	Abscesso Periapical Subperiósteo
	Abscesso Periapical Submucoso
	Localização Pus
	Coleção purulenta na região periapical, **ainda dentro do osso**
	Coleção purulenta entre o osso e o periósteo
	Coleção de pus espalhada para os tecidos moles abaixo da mucosa (já rompeu o osso e periósteo)
	Edema
	Ausente (intra e extraoral)
	Endurecido (lenhoso)
	Com ponto de flutuação (mole, drenável)
	Dor
	Contínua, localizada, pulsátil, violenta, **não responde a analgésicos comuns**
	Intensa, localizada, pulsátil, espontânea, contínua
	Espontânea, contínua, localizada, **moderada** (amenizada após fistulação por diminuição da pressão)
	Drenagem
	Pus drena **via canal** (ao abrir o dente)
	**NÃO drena pelo canal** (já se deslocou do ápice)
	Pus drena via fístula submucosa ou subcutânea
	Mobilidade
	Intensa alteração
	Alteração
	Alteração
	Mucosa
	Normal ou hiperêmica
	Edemaciada
	Com presença de fístula
5.2.2. Conduta Clínica/Tratamento do Abscesso Periapical Agudo (Origem Bacteriana)
· Fase Inicial (Intra-ósseo):
· Medicação Sistêmica (se necessário).
· Intervenção Endodôntica: Drenagem do pus via canal.
· Em Evolução (Subperiósteo):
· Medicação Sistêmica.
· Intervenção Endodôntica: Necropulpectomia (penetração e desinfecção). Não ocorrerá dreno via canal.
· Aguardar efeito dos medicamentos (cobertura antibiótica + analgésica).
· Evoluído (Submucoso):
· Medicação Sistêmica.
· Intervenção Endodôntica.
· Pode ser necessário encaminhar para drenagem em hospital em casos mais graves ou com grande comprometimento.
5.2.3. O Mito: "Vamos deixar o dente aberto?"
Resposta: NÃO!
· Motivos:
· Evitar a contaminação dos canais radiculares por bactérias da cavidade oral.
· Evitar obstrução por restos alimentares.
· Aumento dos episódios de flare-up (agudização da dor).
5.2.4. Funções do Dreno (em Abscessos Submucosos Drenados)
· Favorecer a oxigenação tecidual.
· Permitir a manutenção da via de drenagem.
· Atuar como corpo estranho (incentivando o fluxo).
· Permitir a irrigação das cavidades.
5.2.5. Abscessos Extraorais e Casos Graves: Sinais de Alerta para Encaminhamento!
Infecções odontogênicas podem se espalhar para espaços maxilofaciais e parafaríngeos, tornando-se graves.
· Grau de Severidade (Encaminhar se presente):
· Disfagia (dificuldade para engolir).
· Voz metálica.
· Dispneia (dificuldade para respirar).
· Febre acima de 38,5°C.
· Tempo de evolução/Uso de medicamentos sem melhora.
· Envolvimento de espaços faciais de risco moderado a grave.
· Alterações visuais.
· Trismo severo (dificuldade para abrir a boca).
· Falha no tratamento inicial.
· Celulite de progressão rápida.
5.2.6. Medicação Sistêmica em Abscessos (Intraoral e Extraoral)
· Ansiolíticos (Pré-procedimento):
· Midazolam 7,5mg
· Alprazolam 0,5mg
· Agentes Antimicrobianos (Antibióticos): Indicados para abscessos difusos, febre, mal-estar, prostração, pacientes com alterações metabólicas ou imunossuprimidos, ou previamente ao procedimento de drenagem.
· Dose de Ataque (30-45 minutos antes do procedimento):
· Amoxicilina 1g OU Azitromicina 500mg
· Amoxicilina 1g + Metronidazol 250mg
· Clindamicina 600mg
· Dose de Manutenção (3 a 5 dias):
· Amoxicilina 500mg (8/8h) OU Azitromicina 500mg (24/24h, 3 dias)
· Amoxicilina 500mg + Metronidazol 250mg (8/8h)
· Clindamicina 300mg (8/8h)
· Profilaxia Antibiótica em Pacientes de Risco (Cardíacos):
· Pacientes Cardíacos Portadores de Válvulas Cardíacas ou com Doenças Cardíacas Congênitas.
· Protocolo:
· Amoxicilina 1g OU Azitromicina 500mg – 30 a 45 minutos antes.
· Amoxicilina 1g + Metronidazol 250mg – 30 a 45 minutos antes.
· Clindamicina 600mg – 30 a 45 minutos antes.
6. Trauma Dentário: Uma Urgência Odontológica
· Definição: Considerado uma urgência odontológica devido à repercussão nas estruturas pulpares e periodontais, podendo causar danos irreversíveis e perda do elemento dental.
· Classificação dos Traumatismos aos Tecidos Duros Dentais e da Polpa:
· Trinca de esmalte
· Fratura de esmalte
· Fratura de esmalte e dentina
· Fratura de esmalte e dentina e polpa
· Fratura Corono-radicular
· Fratura Radicular
· Tratamento da Fratura de Esmalte e Dentina com Exposição Pulpar: Depende de:
· Tempo da exposição pulpar.
· Área da exposição pulpar.
· Idade do paciente.
· Opções: Capeamento Pulpar, Pulpotomia, Pulpectomia.
· Diagnóstico e Anamnese em Trauma:
· Identificação do paciente.
· Condições sistêmicas.
· Uso de medicamentos.
· Imunização (tétano).
· Histórico de traumatismos anteriores.
· Importante: Realizar fotos iniciais e testes de vitalidade pulpar seriados (ao longo do tempo) para monitorar a polpa.
PONTOS CHAVE PARA REVISÃO:
· A anamnese detalhada e um exame clínico e radiográfico sistemático são a base para o diagnóstico correto.
· Diferencie pulpite reversível de irreversível pela duração da dor após o estímulo (especialmente o frio).
· Reconheça os sinais de envolvimento periapical: dor à percussão e/ou palpação.
· Identifique os tipos de abscesso periapical pela presença e características do edema e drenagem.
· Saiba quando indicar medicação sistêmica (analgésicos, anti-inflamatórios, antibióticos) e profilaxia antibiótica.
· Esteja atento aos sinais de gravidade que indicam a necessidade de encaminhamento hospitalar em casos de infecção.
· No trauma dentário, o tempo e a extensão da lesão são cruciais para a escolha do tratamento.

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