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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FUNDAMENTOS DA ECONOMIA PARA 
AS CIÊNCIAS SOCIAIS 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
 
2 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4 
1 A NATUREZA DA ATIVIDADE ECONÔMICA ....................................................... 5 
1.1 Ação racional .................................................................................................... 6 
1.2 Cálculo econômico ........................................................................................... 7 
1.3 Economia capitalista ....................................................................................... 10 
2 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO .................................................. 12 
2.1 O início do pensamento econômico ................................................................ 13 
2.2 O pensamento mercantilista ........................................................................... 14 
2.3 Evolução do sistema econômico: do feudalismo ao capitalismo .................... 15 
2.4 O pensamento marxista e o capitalismo ......................................................... 17 
3 ORIGENS DO LIBERALISMO ECONÔMICO ...................................................... 18 
3.1 Definição de liberalismo .................................................................................. 18 
3.2 A origem do pensamento econômico.............................................................. 23 
3.3 Liberalismo econômico ................................................................................... 24 
4 OS FISIOCRATAS E A ESCOLA CLÁSSICA ...................................................... 26 
4.1 Os fisiocratas .................................................................................................. 26 
4.2 Evolução das escolas econômicas ................................................................. 30 
4.3 A escola clássica ............................................................................................ 32 
5 O SOCIALISMO NO PENSAMENTO ECONÔMICO DO SÉCULO XX ................ 35 
5.1 Imperialismo ................................................................................................... 35 
5.2 Teoria neoclássica .......................................................................................... 39 
5.3 A crise de 1929 ............................................................................................... 43 
5.4 Revolução Keynesiana ................................................................................... 46 
6 MERCADO, ESTRUTURAS NOÇÕES DE MICROECONOMIA .......................... 47 
6.1 Conceito de microeconomia ........................................................................... 47 
 
3 
 
6.2 Divisão do estudo microeconômico ................................................................ 48 
6.3 Oferta .............................................................................................................. 49 
6.4 Demanda ........................................................................................................ 51 
6.5 Equilíbrio de mercado ..................................................................................... 52 
6.6 Estruturas de mercado.................................................................................... 54 
7 NOÇÕES DE MACROECONOMIA ...................................................................... 55 
7.1 Definição de macroeconomia ......................................................................... 55 
7.2 A Contabilidade Nacional ................................................................................ 58 
7.3 Política econômica .......................................................................................... 60 
7.4 Balanço de pagamentos ................................................................................. 62 
8 CONJUNTURA ECONÔMICA .............................................................................. 64 
8.1 Neoliberalismo ................................................................................................ 64 
8.2 Mercado de trabalho ....................................................................................... 67 
8.3 Distribuição de renda ...................................................................................... 71 
8.4 Desenvolvimento econômico e mercado de trabalho ..................................... 74 
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 78 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da 
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à 
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da 
semana e a hora que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 A NATUREZA DA ATIVIDADE ECONÔMICA 
A ciência econômica teve sua origem na análise do preço nominal de bens e 
serviços. Seus primeiros estágios remontam às investigações sobre a cunhagem, que 
posteriormente se expandiram para estudos sobre os movimentos de preço. 
Elementos como dinheiro, preços nominais e outras questões relacionadas ao cálculo 
em termos monetários estão envolvidos nos problemas que deram origem à economia 
como disciplina científica. 
As tentativas de investigação econômica, que inicialmente eram evidentes em 
estudos de gestão doméstica e organização da produção, especialmente na 
agricultura, não avançaram significativamente nessa direção, tornando-se apenas 
pontos de partida para diversos campos da tecnologia e ciências naturais. Isso não foi 
coincidência. Somente através da racionalização proporcionada pelo cálculo 
econômico, baseado no uso do dinheiro, a mente humana pôde compreender e 
estabelecer as leis de sua própria ação. 
Segundo Amonn (1927), todas as investigações econômicas, tanto as dos 
economistas clássicos quanto as dos modernos, começam com o princípio 
econômico. No entanto, podemos observar que isso não fornece uma base clara para 
definir o objeto da economia. O princípio econômico é um princípio geral de ação 
racional, não específico para ação como componente do objeto da investigação 
econômica. Ele guia toda ação racional, independentemente de ser objeto de estudo 
de uma ciência. Portanto, separar o "econômico" do "não econômico" parecia 
 
6 
 
totalmente inútil, uma vez que os problemas econômicos tradicionais estavam em 
jogo. 
Por outro lado, era igualmente inviável separar as ações racionais com base 
nos objetivos imediatos para os quais eram direcionadas e limitar o objeto da 
economia apenas às ações voltadas para fornecer bens materiais à humanidade. Uma 
objeção significativa contra tal abordagem é que, em última análise, a produção de 
bens materiais não serve apenas para os fins tipicamente considerados econômicos, 
mas também para uma variedade de outros propósitos. 
Essa distinção entre os motivos da ação racional implica em uma dualidade
automático, desconsiderando as crises e os ciclos econômicos. Dessa 
forma, conforme a Lei de Say, a oferta deve criar sua própria demanda, e a soma dos 
salários e dos ganhos retidos pelos consumidores deve equivaler à quantidade total 
de bens oferecidos no mercado. Como observado, os fundamentos econômicos e 
sociais dessa abordagem estão fundamentados nos princípios do liberalismo e do 
individualismo. A crença era de que um sistema de liberdade econômica, por meio de 
um mecanismo impessoal de mercado - a chamada Mão Invisível -, seria capaz de 
conciliar os interesses individuais. 
Por conseguinte, considerando que sua obra clássica abrange diversos 
pressupostos que se alinham ao neoliberalismo econômico contemporâneo, pode-se 
afirmar que as ideias de Smith estavam alinhadas aos interesses de poder da 
burguesia. Como defensor do liberalismo, ele defendia: 
 
34 
 
• A mais ampla liberdade individual; 
• O direito inalienável à propriedade; 
• A livre iniciativa e a livre concorrência; e 
• A não-intervenção do Estado na economia. 
No entanto, segundo Smith (1981), o Estado deveria desempenhar três 
funções: 
• Garantir a proteção da sociedade contra violência e invasões de outras 
sociedades independentes; 
• Assegurar, na medida do possível, que todos os membros da sociedade 
estejam protegidos contra injustiças e opressões perpetradas por qualquer um 
de seus membros, ou proporcionar uma administração justa; 
• Realizar e manter certas obras públicas, bem como criar e manter instituições 
públicas, cuja criação e manutenção não despertariam interesse individual ou 
de grupos, pois o lucro nunca cobriria os custos para tais indivíduos. No 
entanto, tais despesas muitas vezes poderiam beneficiar e reembolsar a 
sociedade como um todo. 
Em sua análise histórica e sociológica, Smith sustentava a crença de que, 
embora os indivíduos pudessem agir de maneira egoísta e focada em seus próprios 
interesses, havia uma força chamada "mão invisível" que, derivada da providência 
divina, conduzia esses conflitos em direção à harmonia. Dessa forma, sabe-se que a 
"mão invisível" representava o próprio funcionamento sistemático das leis naturais. 
O pensamento smithiano é fundamental, pois antecipou praticamente todos 
os problemas que se tornariam objetos de reflexão científica subsequente. A partir das 
contribuições de Adam Smith, surgiram diversas linhas de pesquisa que foram 
exploradas por outros economistas, incluindo Marx e Keynes. Entre os seguidores de 
Smith, destacam-se nomes como John Stuart Mill e Jean Baptiste Say. No entanto, é 
importante notar que alguns economistas daquela época, como Malthus, Karl Marx e 
Keynes, rejeitaram a lei formulada por Say. 
Thomas Robert Malthus, um renomado pensador inglês de sua época, 
permanece influente na história, especialmente por sua famosa tese sobre o 
crescimento populacional. Na sociedade contemporânea, seus seguidores são 
 
35 
 
conhecidos como neomalthusianos. Sua obra mais conhecida, "Ensaio sobre o 
princípio da população", publicada anonimamente em 1798, o tornou reconhecido 
globalmente. A ideia mais proeminente de Malthus afirmava que, enquanto a 
população tinha uma tendência de crescimento geométrico, os alimentos cresciam de 
forma aritmética. Embora essa perspectiva tenha sido atraente na época, é evidente 
que hoje enfrentamos desafios para pensar assim, considerando as transformações 
tecnológicas na agricultura e o sucesso dos métodos de controle de natalidade. 
Ambos Malthus e Ricardo foram significativamente influenciados por Adam 
Smith. Ricardo, o inglês que acumulou fortuna desde jovem ao operar na Bolsa de 
Valores, divergiu dos estudos de Malthus sobre população, pois não compartilhava da 
crença de que a demanda efetiva seria incapaz de se concretizar no mercado. 
Ricardo contribuiu com a valiosa pesquisa sobre a renda da terra. De acordo 
com seus ensinamentos, a expansão agrícola em terras menos férteis resultava na 
valorização da terra mais produtiva e, nas relações econômicas internacionais, na 
formulação da Teoria das Vantagens Comparativas. 
Ao analisar a produção, Ricardo concentrou-se em compreender a formação 
do valor com base nas horas de trabalho empregadas e sua distribuição. Na visão do 
autor, a troca de mercadorias estava diretamente vinculada às quantidades relativas 
de trabalho utilizadas em sua produção. Essa era a teoria do valor-trabalho, que 
começava a ser explicada com certos detalhes e que Adam Smith não conseguira 
superar. A relevância da contribuição de Ricardo para o entendimento da formação 
do valor na Economia só foi plenamente reconhecida a partir dos estudos de Karl 
Marx. 
5 O SOCIALISMO NO PENSAMENTO ECONÔMICO DO SÉCULO XX 
5.1 Imperialismo 
Durante a primeira metade do século XIX, o termo "imperialismo" foi 
inicialmente associado na França aos defensores do Império Napoleônico, e mais 
tarde, por volta de 1848, foi usado para criticar as ambições de Napoleão III de assumir 
o poder na França. Na Inglaterra, o conceito começou a ganhar destaque a partir da 
década de 1870, em meio às aspirações britânicas de estabelecer um império 
unificado com uma missão "civilizadora", na qual os europeus eram vistos como 
responsáveis por civilizar os povos considerados atrasados do mundo. 
 
36 
 
Os estudos sobre o imperialismo ganharam destaque científico baseados em 
duas abordagens principais. A primeira considera o imperialismo a partir do contexto 
do capitalismo, enquanto a segunda reconhece a existência do fenômeno antes 
mesmo do surgimento do sistema econômico capitalista. Na segunda abordagem, 
algumas interpretações tendem a minimizar a responsabilidade do capitalismo nas 
consequências do imperialismo do século XIX, sugerindo que o sistema atuou apenas 
como regulador ou intensificador dos efeitos do conceito. No entanto, outras análises 
indicam que formas de dominação imperial podem ter ocorrido em períodos 
anteriores, mesmo que não tenham sido explicitamente denominadas como 
imperialismo (MARIUTTI, 2013). 
Andrade (1999) analisa o imperialismo desde os tempos da expansão colonial 
do século XV, observando que o domínio de estados sobre outros já ocorria na 
antiguidade, com povos mais poderosos subjugando aqueles com tecnologia menos 
avançada. O autor cita diversos impérios antigos, como os egípcios, romanos, francos, 
chineses, mongóis, maias, astecas, incas, bem como os reinos africanos de Mali, 
Songai e Benin, entre outros, como exemplos desse fenômeno. 
Lênin (2011) também aborda o tema, destacando que a política colonial e o 
imperialismo não são exclusivos da era moderna do capitalismo, pois já existiam em 
períodos anteriores, como Roma, que baseada na escravidão, praticava políticas 
coloniais e imperialistas. Isso demonstra que o imperialismo, como forma de 
dominação política, não é um conceito novo, mas sim uma continuação de relações 
de dominação antigas com novas características. 
Entre a era antiga e o colonialismo, que começou no século XIV, ocorreu o 
período da Idade Média, caracterizado por uma redução significativa das atividades 
urbanas e comerciais. Esse período iniciou-se após o declínio do Império Romano e 
terminou com o ressurgimento dessas atividades, impulsionado pelas Cruzadas, pelo 
surgimento da burguesia, pela formação dos Estados Nacionais e pelo fortalecimento 
da monarquia. A Idade Moderna iniciou-se no século XV e foi marcada pelas grandes 
navegações e pelo surgimento do mercantilismo, eventos considerados por muitos 
estudiosos como o início da globalização (SILVA; LOPES JUNIOR, 2008) e do 
acúmulo do capital primitivo (MARX, 1996), que posteriormente resultaria no 
desenvolvimento do capitalismo. 
 
37 
 
Entretanto, é importante destacar que os continentes fora da Europa foram 
mais gravemente afetados pela corrida imperialista, que atingiu seu ponto máximo 
entre 1870 e 1914. Entre esses continentes, a África
foi a mais prejudicada, com 
apenas duas nações independentes, Libéria e Etiópia, antes do início da Primeira 
Guerra Mundial (HOBSBAWN, 2002). As principais potências imperialistas incluíam 
Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Bélgica, Rússia, Estados Unidos e Japão, todas 
as quais expandiram consideravelmente seus territórios, como destacado por Lênin 
(2011). 
Conforme Hobsbawn (2002), o principal impulso por trás da divisão das áreas 
ainda não colonizadas do mundo por parte das potências europeias era de natureza 
econômica. As nações industriais visavam expandir seus mercados e encontrar novos 
consumidores para seus produtos, especialmente diante das crises de 
superprodução. 
A exportação maciça para os países menos desenvolvidos era vista como 
uma forma de controlar essas crises. Essa busca por novos mercados resultou na 
dominação de povos menos avançados tecnologicamente, cujo papel era fornecer 
matérias-primas e absorver os produtos excedentes da Europa. Além da exploração 
econômica, o excesso de protecionismo também se tornou uma questão problemática 
durante esse processo, com os europeus adotando medidas para limitar a entrada de 
produtos concorrentes e garantir seu domínio em determinados territórios, gerando 
rivalidades entre as potências colonizadoras. 
Durante a fase do imperialismo, que coincide com a era monopolista e 
financeira do capitalismo, a busca por novas colônias e a imposição de políticas 
protecionistas refletem práticas monopolistas, como observado por Lênin (2011). 
Segundo Hobsbawm (2002), a corrida imperialista visava não apenas fortalecer o 
orgulho nacional ao conquistar territórios, mas também desviar a atenção das massas 
descontentes. No entanto, essa expansão colonial teve consequências negativas para 
as classes trabalhadoras das metrópoles imperialistas, uma vez que a industrialização 
nas colônias criava uma mão de obra proletária barata em comparação com a dos 
países metropolitanos. É importante destacar que os movimentos operários de 
esquerda muitas vezes relegavam as questões coloniais a segundo plano. 
De acordo com Arendt (2012), Hobson foi pioneiro ao abordar o imperialismo 
de forma crítica em sua obra "Imperialism: A Study", publicada em 1902. Ele 
 
38 
 
argumentava que os pesados investimentos no mercado externo estavam gerando 
problemas econômicos e sociais no mercado interno inglês. Hobson propunha que, 
em vez de direcionar capital para a economia externa, os recursos deveriam ser 
investidos internamente, visando uma distribuição mais equitativa de renda para 
estimular o consumo e impulsionar o crescimento econômico sem a necessidade de 
expansão externa. 
Embora as ações imperialistas do final do século XIX fossem 
predominantemente motivadas por interesses econômicos, Hobson (1902) 
argumentava que havia uma variedade de razões para tal expansão, que iam além do 
capitalismo. Ele via o patriotismo, a aventura, o militarismo, a política e a filantropia 
como fatores mais influentes do que o próprio sistema econômico. Hobson propunha 
uma reforma do sistema capitalista, defendendo a distribuição dos excedentes em 
forma de salários para combater a superprodução de capitais acumulados nos países 
industrializados. 
 No entanto, ele acreditava que essa solução era apenas uma resposta 
temporária, causando uma anomalia que seria resolvida por meio de uma reforma 
mais ampla do sistema político, visando uma distribuição de renda mais justa por meio 
de políticas democráticas. No entanto, ele observava que essa idealização enfrentava 
obstáculos significativos, uma vez que o governo, controlado por grandes empresas 
monopolistas, perpetuava o ciclo de acumulação de capital em detrimento da 
distribuição equitativa de recursos. 
A contribuição mais significativa entre os pensadores marxistas é encontrada 
na obra de Lênin (2011), "Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo". Enquanto 
Hobson buscava soluções reformistas liberais para conter o avanço imperialista, Lênin 
acreditava que a única maneira de interromper o imperialismo era por meio da queda 
do sistema econômico capitalista, por meio de uma revolução. Os autores marxistas 
discordavam de Hobson quanto à solução para eliminar o imperialismo, argumentando 
que a necessidade de expandir para novos territórios decorria da incapacidade do 
sistema capitalista de reproduzir o capital de maneira suficiente internamente, 
especialmente devido ao crescimento do monopólio nas relações capitalistas da 
época. Lênin (2011) identifica cinco características fundamentais do imperialismo sob 
uma perspectiva marxista: 
 
39 
 
1) a concentração da produção e do capital levando a um grau tão elevado 
de desenvolvimento que criou os monopólios, os quais desempenham um 
papel decisivo na vida econômica; 2) a fusão do capital bancário com o capital 
industrial e a criação, baseada nesse “capital financeiro” da oligarquia 
financeira; 3) a exportação de capitais, diferentemente da exportação de 
mercadorias, adquire uma importância particularmente grande; 4) a formação 
de associações internacionais monopolistas de capitalistas, que partilham o 
mundo entre si, e 5) o termo da partilha territorial do mundo entre as potências 
capitalistas mais importantes (LÊNIN, 2011, p. 219). 
A partir das definições de Lênin, torna-se evidente que o capitalismo evoluiu 
para uma fase de monopólios, indicando um estágio mais avançado do sistema. Esses 
monopólios se fundem, criando o capital financeiro e uma elite privilegiada na 
acumulação de capitais. Esses capitais financeiros são então exportados, tornando-
se mais lucrativos que as mercadorias devido à rapidez das transações. Os 
monopólios internacionalizam-se através das exportações, estabelecendo filiais em 
colônias conquistadas. 
 Por fim, os territórios ainda não ocupados são divididos entre as nações 
imperialistas. É importante destacar que os dois significados do termo imperialismo 
analisados até agora servem como base para um novo imperialismo contemporâneo, 
adaptado às mudanças nas relações econômicas, políticas e sociais trazidas pela 
globalização do século XXI. 
5.2 Teoria neoclássica 
A Teoria Neoclássica surge como uma evolução da Teoria Clássica, em 
meados de 1870. Ela mantém a política do liberalismo econômico, defendendo a não 
interferência do governo na economia, ou seja, uma economia de mercado livre. A 
Teoria Neoclássica busca resolver questões não resolvidas anteriormente, como a 
escassez de recursos naturais e as necessidades humanas ilimitadas. Ela busca 
estabelecer modelos matemáticos para prever o comportamento de consumidores e 
produtores. Uma de suas contribuições significativas é a definição do valor dos bens 
com base na utilidade, que representa a satisfação das necessidades humanas 
(BLAUG, 1999). 
Serão abordados alguns dos principais fundamentos que embasam essa 
teoria, como a Teoria do Equilíbrio Geral e o papel da racionalidade dos agentes 
econômicos, a interligação dos Neoclássicos com o conceito de Utilidade Marginal, e 
o conceito de "Homo Economicus" e sua maneira de tomar decisões (BLAUG, 1999). 
 
40 
 
Um dos princípios centrais é a neutralidade da moeda, que implica que ela 
não possui valor intrínseco, sendo apenas um meio de facilitar a troca de bens e 
serviços. Sob essa perspectiva, não ocorre o acúmulo de dinheiro, pois toda renda é 
direcionada para a compra de bens e serviços. Os neoclássicos também assumem o 
princípio do pleno emprego, onde a economia opera em equilíbrio automático, com 
todos os recursos sendo empregados, e crises são evitadas devido à autorregulação 
do mercado (LAUTZENHEISER; HUNT, 2012). 
A teoria do equilíbrio geral de Walras assume que as variáveis econômicas 
interagem, levando o sistema a um estado de equilíbrio através das forças do mercado 
livre. Tanto as empresas quanto os consumidores agem de forma racional para 
maximizar seus lucros e sua satisfação.
A abordagem neoclássica dos problemas 
econômicos que são adotadas neste estudo é estática, seguindo o princípio de "ceteris 
paribus", onde as análises são realizadas considerando um ambiente sem mudanças. 
Embora existam outros modelos que examinem mudanças no equilíbrio geral por meio 
de choques externos, opta-se por utilizar apenas "ceteris paribus" para avaliar os 
efeitos de uma decisão, mantendo todos os outros fatores constantes 
(LAUTZENHEISER; HUNT, 2012). 
Devido à premissa do pleno emprego, não há desemprego involuntário, já que 
todos os trabalhadores dispostos a trabalhar pelo preço de mercado encontrarão 
emprego. Os fatores de produção, como trabalho, recursos naturais e capital, são 
avaliados com base em sua utilidade no mercado. Os salários são determinados pela 
lei da oferta e da procura, sendo flexíveis. Embora o trabalho seja geralmente visto 
como desagradável, é realizado porque os ganhos financeiros possibilitam a compra 
de bens e serviços, gerando utilidade. O capital é considerado um recurso no qual o 
benefício atual implica em abdicar do consumo de uma quantidade maior de bens no 
futuro (LAUTZENHEISER; HUNT, 2012). 
Os neoclássicos reconhecem a existência de externalidades, que são 
impactos secundários, positivos ou negativos, da produção ou consumo de bens e 
serviços sobre agentes econômicos ou o meio ambiente, que não estão diretamente 
envolvidos na transação. Uma externalidade positiva ocorre quando uma ação 
beneficia um agente sem que ele tenha interação direta com outro, como empresas 
que inadvertidamente geram benefícios para terceiros. Uma ONG que oferece 
serviços sociais colabora indiretamente com o governo, reduzindo seus custos. Em 
 
41 
 
contrapartida, uma externalidade negativa ocorre quando a ação de um agente 
transfere custos para outros. Um exemplo seria a poluição ambiental gerada por 
indústrias (LAUTZENHEISER; HUNT, 2012). 
Quando se trata de outras formas de externalidades, o indivíduo afetado é 
essencialmente um observador passivo dos custos ou benefícios envolvidos. Os 
economistas introduziram uma categoria separada para descrever esses efeitos na 
utilidade dos indivíduos, pois eles não tomam medidas diretas nessas situações. 
Quando um indivíduo age, ele busca maximizar sua própria utilidade marginal, 
enquanto uma externalidade é o impacto das ações de um indivíduo na utilidade de 
terceiros (VIEIRA, 2019). 
Os neoclássicos, também conhecidos como marginalistas, atribuem valor aos 
bens e serviços com base na utilidade, que reflete a satisfação ou prazer que os 
agentes experimentam ao consumir cada unidade de um bem específico. Esse 
princípio se estabeleceu como um pilar da doutrina econômica nos países capitalistas 
até o final dos anos 1920, sustentando a ideia de concorrência perfeita e negando a 
existência de crises econômicas, as quais eram consideradas apenas como eventos 
acidentais ou resultados de erros (LAUTZENHEISER; HUNT, 2012). 
Os consumidores possuem preferências completas, o que significa que estão 
cientes de todas as possíveis combinações de bens e serviços disponíveis e podem 
compará-las, expressando suas preferências ou indiferença entre elas. 
Consequentemente, eles agem de forma totalmente racional ao buscar maximizar sua 
satisfação dentro das restrições impostas por seus recursos financeiros limitados, 
através da escolha de uma determinada combinação de bens e serviços 
(LAUTZENHEISER; HUNT, 2012). 
Os neoclássicos aplicam o conceito de utilidade marginal para determinar 
tanto o que produzir quanto a quantidade a ser produzida. A maximização dos lucros 
está relacionada ao custo ou benefício proporcionado pela última unidade de cada 
fator de produção empregado. Na margem, a utilidade de cada fator indica seu valor, 
que está associado à sua escassez relativa (LAUTZENHEISER; HUNT, 2012). 
Consequentemente, conforme a teoria neoclássica, a valoração de um fator é 
inversamente proporcional à sua disponibilidade: quanto mais escasso for o fator 
demandado, maior será seu valor. Na esfera econômica, o indivíduo toma decisões 
considerando apenas a si. Ao seguir a restrição orçamentária e a regra de otimização, 
 
42 
 
o agente avalia seus próprios desejos representados por preferências consistentes ou 
funções de utilidade, o que lhe permite determinar qual opção deve escolher (PRADO, 
1996). 
Os neoclássicos adotam uma abordagem microeconômica que enfatiza o 
papel do indivíduo, da firma e do mercado de concorrência perfeita. Além disso, 
introduzem o conceito do "homo economicus", que emerge após a Teoria da Utilidade. 
Nessa concepção, os agentes são considerados extremamente racionais em suas 
escolhas de consumo e tendem a seguir padrões de comportamento previsíveis. O 
"homo economicus" está constantemente avaliando custos e benefícios para suas 
decisões, optando apenas por aquelas que considera vantajosas, visando maximizar 
lucros e minimizar prejuízos (PRADO, 1996). 
Ainda segundo Prado (1994): 
(...) os agentes, em primeiro lugar, precisam ser pensados como racionais. 
Mas isto não é tudo. Enquanto eles são racionais, em segundo lugar, ela se 
obriga a pensa-los como perfeitamente racionais. Isto é, ela precisa supor 
que os agentes saibam tudo o que precisam saber para tomar decisões bem 
determinadas. Assim, tem de admitir que eles conhecem as suas 
preferências, as suas dotações, todos os bens trocados no mercado e os seus 
preços, ainda que não tudo (eles não conhecem, por exemplo, as 
preferências dos outros agentes) (PRADO, 1994, p. 9-10). 
Diferentemente da Teoria Clássica, os neoclássicos afirmam que o valor de 
uma mercadoria não está ligado ao trabalho necessário para produzi-la, mas sim à 
sua utilidade e escassez. Assim, produtos considerados úteis, porém abundantes, 
tendem a ter menos valor, o que também se aplica a bens e serviços com menor 
demanda. Na era moderna, surgiu a ideia de modelar matematicamente o 
comportamento humano na sociedade, com a teoria neoclássica representando um 
exemplo significativo desse ideal científico de compreensão da conduta humana 
(PRADO, 1996). 
A teoria neoclássica enfatiza a análise a partir do indivíduo, com 
consumidores buscando constantemente maximizar sua satisfação em suas escolhas. 
Racionalidade, nesse contexto, implica agir com justificativas sólidas e utilizando toda 
a informação disponível para alcançar objetivos específicos de maneira consistente. 
Desde sua origem, a economia neoclássica tem sido dominante no estudo da 
economia moderna. A influência do princípio da racionalidade tem sido tão 
 
43 
 
preponderante que alguns argumentam que qualquer teoria econômica que não se 
baseie na maximização da utilidade é inviável (BLAUG, 1999). 
Apesar de ser atualmente a abordagem econômica mais difundida e ensinada, 
a escola neoclássica, representada por figuras como Léon Walras, Carl Menger, Alfred 
Marshall, Irving Fisher, entre outros, é criticada por sua distância da realidade das 
escolhas dos agentes econômicos. Uma das críticas é dirigida à suposição de que 
todos os indivíduos agem de maneira racional, ignorando a influência de outras forças 
que podem levar as pessoas a fazer escolhas irracionais devido à vulnerabilidade da 
natureza humana a essas forças (BLAUG, 1999). 
Com base nas informações apresentadas anteriormente, identificar os 
princípios subjacentes à Teoria Neoclássica. Seu principal pilar é a premissa da 
racionalidade dos agentes econômicos, que tomam decisões visando maximizar sua 
utilidade, sem serem influenciados por fatores externos, e possuindo total 
conhecimento das consequências de suas escolhas. Na próxima seção, será discutida 
a Teoria Comportamental, que explora como os agentes econômicos tomam decisões 
com base em uma racionalidade limitada e considera os diversos fatores que 
influenciam essas decisões. 
5.3 A crise de 1929 
Até aproximadamente 1920, os Estados Unidos mantiveram
uma posição 
dominante, enquanto a Europa estava ocupada com a reconstrução de suas indústrias 
e cidades após a Primeira Guerra Mundial. Durante esse período nos EUA, o acesso 
ao crédito era facilitado para pequenos investidores que desejavam comprar ações na 
Bolsa de Valores. Enquanto isso, os grandes investidores se especializavam em 
operações de compra e venda de ações, muitas vezes acumulando grandes fortunas 
rapidamente. 
No entanto, no final dos anos 1920, as nações europeias haviam completado 
a reconstrução de suas economias, o que resultou em uma redução significativa nas 
importações de produtos industriais e agrícolas dos Estados Unidos. Como resultado, 
as indústrias norte-americanas, cujas vendas já estavam em declínio, começaram a 
acumular um excesso de estoque de produtos. 
Em 1928, houve um aumento significativo nos investimentos em ações, 
apesar da queda na produção mencionada anteriormente. Surpreendentemente, o 
 
44 
 
preço das ações na Bolsa de Valores de Nova York permanecia alto, o que era 
considerado um paradoxo. Esse cenário era mantido pelos especuladores, que 
realizavam operações financeiras visando lucros através da compra e venda de 
títulos, cujos valores oscilavam conforme o desempenho do mercado. Esse fenômeno 
foi um dos principais impulsionadores da propagação da crise, pois existia uma grande 
discrepância entre o preço esperado das ações e o valor real dos ativos das empresas. 
Grieco (1999) comenta sobre essa situação da seguinte maneira: 
A especulação nas Bolsas começou a crescer desenfreadamente. Nos 
Estados Unidos, o índice de ações cresceu de 100 (1926) para 291 em 
setembro de 1929. Os preços das ações industriais em Londres subiram de 
120 (1927) para 150 (1929) e na Alemanha de 40% no mesmo período. 
Ocorreram aumentos substanciais, nos demais centros europeus, dos preços 
de novas subscrições ou de emissões puramente especulativas. As primeiras 
falências começaram a surgir na Europa antes do que nos Estados Unidos. 
Rotschild viu-se obrigada a retirar fundos de Nova York para salvar seu banco 
vienense. Bancos da City e investidores particulares começaram a vender 
suas ações americanas, deslanchando o processo da Grande Depressão 
(GRIECO, 1999, p. 171). 
Com a redução do consumo na Europa e a subsequente queda na produção, 
o desemprego começou a aumentar rapidamente. Entre os anos de 1929 e 1933, 
milhões de pessoas ficaram desempregadas, e essa tendência continuou até os 
primeiros meses de 1933. Durante esse período, aproximadamente um em cada 
quatro americanos estava desempregado. 
No setor agrícola, os impactos foram igualmente devastadores. Com a 
redução das exportações, os grandes proprietários não conseguiram pagar as dívidas 
contraídas anteriormente para adquirir terras e equipamentos. Além disso, foram 
obrigados a arcar com altas taxas para armazenar os grãos, o que resultou em 
acumulação de dívidas e falências. Frieden (2008) também descreve essa situação 
de insatisfação no campo americano: 
O sofrimento era ainda mais pronunciado entre os países e cidadãos que se 
especializaram na produção de matérias-primas e produtos agrícolas, cujos 
preços caíram duas a três vezes mais que os de outros bens, e naquele ano 
as hipotecas de cerca de 200 mil fazendas foram executadas. O número de 
execuções foi de dez a 12 vezes maior que o normal; em alguns estados, 
foram tomadas de 25% a 30% de todas as fazendas, entre 1928 e 1934. Os 
Estados Unidos, como quase todos os países, foram atingidos por muitas 
falências na área agrícola e descontentamento social no campo (FRIEDEN, 
2008, p. 197). 
 
45 
 
Em outubro de 1929, as empresas dos Estados Unidos, a maioria das quais 
tinha ações na Bolsa de Valores de Nova York, juntamente com milhões de 
investidores americanos que também possuíam essas ações, perceberam a 
desvalorização e começaram a vender freneticamente. Isso resultou em uma queda 
vertiginosa nos valores dos títulos. 
Um clima de desespero se instaurou generalizadamente. Desemprego em 
massa, falências e pobreza foram os resultados da desordem na economia dos 
Estados Unidos. O temor de investir se disseminou amplamente, inclusive entre os 
empresários, que deixaram de aportar recursos em suas empresas. A crise afetou 
severamente todos os setores econômicos. 
Os agricultores chegaram ao ponto de destruir suas colheitas, uma vez que 
os preços dos produtos não cobriam os custos de transporte. Isso resultou em 
escassez de alimentos e, consequentemente, provocou a disseminação da fome entre 
a população americana. Não demorou muito para que os efeitos da crise se 
propagassem pelo resto do mundo, dada a importância da economia americana na 
economia global. 
Consequentemente, os bancos dos Estados Unidos cessaram a concessão 
de linhas de crédito para países estrangeiros e deixaram de renovar empréstimos. 
Durante o ápice da crise, era raro observar países mantendo relações comerciais 
ativas. 
Na tentativa de proteger suas próprias economias, os países elevaram as 
tarifas alfandegárias, o que resultou em uma redução ainda maior do comércio 
internacional. Durante os primeiros três anos da Grande Depressão (1929 a 1932), 
os Estados Unidos registraram uma queda de um terço em seu Produto Interno Bruto 
(PIB). Os salários sofreram uma redução de 42% em seu poder de compra, enquanto 
a renda dos agricultores caiu 68%. O desemprego atingiu níveis alarmantes, com um 
em cada quatro trabalhadores se encontrando desempregado (KURONUMA, 2010). 
A significativa taxa de desemprego causou um impacto devastador na 
sociedade dos Estados Unidos. Com uma população acostumada ao consumo 
excessivo, os cidadãos norte-americanos viram-se sem recursos financeiros para 
gastar, ao passo que os bancos também enfrentavam dificuldades para conceder 
empréstimos. Essa redução drástica no consumo foi um dos principais fatores 
agravantes da Grande Depressão do século XX. 
 
46 
 
5.4 Revolução Keynesiana 
John Maynard Keynes (1883-1946) nasceu em Cambridge, Inglaterra e iniciou 
sua obra em tempos de grande depressão econômica, com alto desemprego de mão 
de obra e fatores de produção em crise. Para muitos, as conquistas de Keynes 
simbolizaram uma revolução na Teoria econômica, dando um novo sentido a 
compreensão da necessidade de intervenção do Estado na economia. 
Keynes teoriza que o emprego é influenciado pelo volume de produção e pela 
demanda eficiente, composta por bens de consumo (C) e bens de investimento (I). O 
consumo é influenciado pela renda (Y), isto é, C = f (Y), enquanto a aplicação (I) 
depende das expectativas de lucro futuro (E) e da taxa de juros (i), ou seja, I = f (E, i). 
Dessa forma, Y = C + I em uma economia sem comércio exterior e governo 
(pressuposto simplificador do modelo). É importante ressaltar que a renda é definida 
pelos gastos dos consumidores e investimentos. O consumo permanece constante, e 
o nível de renda é influenciado pelo investimento, sendo este o elemento central para 
compreender a instabilidade do sistema capitalista na totalidade (ALENCAR, 2013). 
Keynes argumentou em sua obra que o desemprego se deve à falta de 
demanda, salários mais baixos para os trabalhadores, a redução no consumo resulta 
na diminuição da propensão para investir, e até mesmo no declínio do nível de 
produção, tornando-se desfavorável para o modelo. 
Para Keynes, não existe uma força autorreguladora na economia, como 
defendem os argumentos clássicos. Ele sustenta que a igualdade entre investimento 
e consumo é o fator que levaria ao pleno emprego. Logo, ressalta-se que não é 
vantajoso para o modelo, apenas para a economia, ou seja, se as pessoas decidirem 
economizar, diminuirão investimento e renda nacional. A respeito disso, o consumo 
também é importante no modelo keynesiano. 
Outra proposição defendida por Keynes envolve o conceito do multiplicador 
de emprego, que implica na criação de oportunidades de trabalho
em uma 
determinada área. Nessa abordagem, os salários recebidos pelos empregados são 
direcionados para a compra de bens de consumo, gerando uma demanda adicional. 
Isso, por sua vez, resulta na contratação de mais pessoas para atender a essa 
demanda, gerando mais empregos e reduzindo o desemprego e a capacidade ociosa 
(ALENCAR, 2013). 
 
47 
 
O paradigma keynesiano exerceu impacto na formulação da política 
econômica de diversos países capitalistas, os quais almejavam alcançar o pleno 
emprego e promover o bem-estar da população. Com o decorrer do tempo, a 
economia passou a enfrentar desafios, incluindo questões relacionadas à dívida 
interna e externa, desemprego, inflação e crescentes dificuldades econômicas (LAGE; 
MILLIONE, 2009). 
6 MERCADO, ESTRUTURAS NOÇÕES DE MICROECONOMIA 
6.1 Conceito de microeconomia 
A Microeconomia, também conhecida como Teoria dos Preços, examina 
como os preços são determinados nos mercados, isto é, como as interações entre 
empresas e consumidores influenciam na definição do preço e da quantidade de um 
determinado bem ou serviço em mercados específicos. 
Enquanto a Macroeconomia se concentra no comportamento agregado da 
economia, abordando variáveis globais como consumo total, renda nacional e 
investimento global, a análise microeconômica se preocupa com a determinação dos 
preços de bens e serviços (como produtos agrícolas, automóveis) e dos fatores de 
produção (como salários, aluguéis, lucros) em mercados específicos. 
 Segundo Vasconcellos e Garcia (2019) a Teoria Microeconômica não deve ser 
confundida com economia de empresas, pois possui uma abordagem diferente. 
Durante a Microeconomia se dedica ao estudo da interação entre oferta e demanda 
na determinação dos preços de mercado, isto é, os preços resultantes da relação entre 
consumidores e empresas que produzem um determinado bem ou serviço. 
 Na análise empresarial, a determinação do preço de venda de um produto se 
fundamenta principalmente nos custos de produção, refletindo a perspectiva contábil-
financeira. Já na esfera da Microeconomia, o enfoque recai sobre as dinâmicas do 
mercado em sua totalidade. Dessa forma, aspectos como liderança, motivação, 
gestão de recursos humanos e estratégias de marketing são de competência da 
Administração de Empresas, diferenciando-se do escopo da Microeconomia. 
 Na análise econômica dos custos de produção, há uma distinção da abordagem 
contábil. Ao mesmo tempo em que a contabilidade se concentra nos custos 
efetivamente incorridos, os economistas consideram não apenas esses custos, mas 
também os custos de oportunidade, que são as oportunidades sacrificadas. Isso 
 
48 
 
significa que os custos de produção do ponto de vista econômico incluem não apenas 
os gastos financeiros diretos (custos explícitos), mas também o valor dos insumos que 
a empresa utiliza, mesmo que sejam de sua propriedade (custos implícitos), como se 
fossem alugados ou comprados no mercado. 
 Os consumidores são os agentes da demanda que buscam adquirir bens ou 
serviços para maximizar sua utilidade. Por outro lado, as empresas são estruturas 
criadas pelos empresários para combinar os fatores de produção e gerar produtos ou 
serviços de forma eficiente. Essas empresas são responsáveis por parte da renda, 
que pertence às famílias, incluindo os donos dos negócios. Logo, as empresas são 
locais onde a produção é organizada, e a renda gerada pertence aos empresários e 
trabalhadores (VASCONCELLOS; GARCIA, 2019). 
6.2 Divisão do estudo microeconômico 
Segundo Vasconcellos e Garcia (2019), a teoria microeconômica consiste nos 
seguintes tópicos: 
• Análise da demanda: a busca por um produto ou serviço é categorizada em 
teoria do consumidor, que analisa a demanda individual e a teoria da demanda 
de mercado. 
• Análise da oferta: a disponibilidade de um bem ou serviço é dividida em oferta 
da firma individual e oferta de mercado. A análise da oferta da firma engloba a 
teoria da produção, que estuda as relações entre as quantidades físicas 
produzidas e os fatores de produção, e a teoria dos custos de produção, que 
considera os preços dos insumos. 
• Análise das estruturas de mercado: com base na interação entre demanda 
e oferta de mercado, o preço e a quantidade de equilíbrio de um determinado 
bem ou serviço são estabelecidos. No entanto, esses valores são influenciados 
pela estrutura específica do mercado, que pode variar de competitiva, com 
várias empresas atuando na produção do produto, à concentrada, com poucas 
ou até mesmo uma única empresa dominando o mercado. 
Vasconcellos e Garcia (2019) citavam que ao examinar as estruturas de 
mercado, são considerados os impactos da oferta e da demanda tanto no mercado de 
 
49 
 
bens e serviços quanto no mercado de fatores de produção. As categorias das 
estruturas de mercado para bens e serviços incluem: 
• Concorrência perfeita; 
• Concorrência imperfeita ou monopolística; 
• Monopólio; 
• Oligopólio. 
Já os tipos de arranjos encontrados no mercado de fatores de produção são: 
• Concorrência perfeita; 
• Concorrência imperfeita; 
• Monopsônio; 
• Oligopsônio. 
No mercado de fatores de produção, a busca por recursos produtivos é 
denominada demanda derivada, pois a demanda por insumos, como trabalho e 
capital, é influenciada pela procura pelo produto final da empresa no mercado de bens 
e serviços. 
6.3 Oferta 
A oferta refere-se às diversas quantidades de bens ou serviços que os 
produtores estão dispostos a disponibilizar no mercado em um determinado período. 
Assim como a demanda, a oferta é influenciada por diversos fatores, incluindo o 
próprio preço do bem, os custos dos insumos de produção e os objetivos dos 
empresários. 
Ao contrário da função demanda, a função oferta demonstra uma relação 
direta entre a quantidade ofertada e o nível de preços, mantendo constantes os 
demais fatores, princípio conhecido como a “lei geral da oferta”. A escala de oferta de 
um bem X pode ser expressa como a relação entre as quantidades ofertadas e os 
preços correspondentes, considerando uma série de diferentes valores de preço. 
Conforme a Figura 1: 
 
 
 
 
50 
 
 
 
Figura 1 - Escala de oferta 
Fonte: https://encurtador.com.br/bhq15. 
Gráfico 1 - Curva de oferta do bem X 
 
51 
 
Fonte: https://encurtador.com.br/bhq15. 
De maneira algébrica, a equação representativa da oferta é expressa como: 
A quantidade ofertada (Q0) é uma função do preço (P). 
Nessa equação: 
- Q0 representa a quantidade disponibilizada de um produto ou serviço 
durante um determinado intervalo de tempo. 
- P denota o valor do produto ou serviço. 
A relação positiva entre a quantidade ofertada de um produto e seu preço é 
explicada pelo fato de que um aumento no preço de mercado, mantendo-se as demais 
variáveis constantes, aumenta a lucratividade das empresas, incentivando-as a 
aumentar sua produção. Além do preço do produto, a oferta de um bem ou serviço é 
influenciada pelos custos dos insumos de produção (tais como matéria-prima, salários 
e custo da terra), pelas mudanças tecnológicas e pela entrada de novas empresas no 
mercado. 
A relação entre a oferta de um produto e o custo dos insumos de produção é 
tipicamente inversa, o que significa que um aumento nos custos dos fatores de 
produção, como salários ou custo das matérias-primas, tende a reduzir a quantidade 
ofertada do produto, mantendo-se os demais fatores constantes. Por outro lado, a 
relação entre a oferta e o progresso tecnológico é positiva, pois avanços tecnológicos 
geralmente aumentam a eficiência na utilização dos recursos de produção, levando a 
um aumento na oferta do produto. Da mesma forma, há uma relação positiva entre a 
oferta de um bem ou serviço e o número de empresas que o oferecem no mercado, 
pois uma maior concorrência tende a aumentar a disponibilidade do produto. 
A quantidade ofertada do bem X é determinada por uma função que considera
o preço de X, os custos dos insumos de produção, o nível de avanço tecnológico e o 
número de empresas presentes no mercado. Esses fatores influenciam diretamente a 
oferta do produto, sendo que alterações em cada um deles podem afetar a quantidade 
disponível do bem no mercado. 
6.4 Demanda 
Os consumidores buscam aumentar sua satisfação consumindo bens e 
serviços que atendam às suas necessidades e gostos pessoais, visando alcançar um 
 
52 
 
maior nível de utilidade. Conforme Souza (2009) destaca, quanto mais úteis e 
agradáveis forem os produtos consumidos, melhor será a experiência do consumidor. 
Por sua vez, a demanda ou procura refere-se à quantidade de um determinado bem 
ou serviço que os consumidores desejam adquirir a um preço específico, como 
definido por Vasconcellos e Garcia (2016). É importante notar que a expressão 
"desejam adquirir" implica uma intenção de compra, um desejo de adquirir, e não 
necessariamente a ação de compra em si. Portanto, não se deve confundir o conceito 
de demanda com o ato de comprar. 
A demanda de mercado representa a quantidade total de um produto que 
todos os compradores em um mercado estariam dispostos a adquirir a um 
determinado preço, conforme definido por Hall e Libermann (2003). Estes conceitos 
estão intrinsecamente ligados às decisões dos consumidores, que dependem de uma 
variedade de fatores, como preço, renda e preferências individuais, como apontado 
por Vasconcelos e Oliveira (2008). 
 É importante notar que tanto a palavra "escolha" quanto a palavra "preço" são 
significativas nesses conceitos, indicando a análise de como os preços são 
determinados em mercados competitivos. A relação inversa entre preço e quantidade 
demandada, onde um aumento no preço leva a uma redução na quantidade 
demandada e vice-versa, é tão comum que os economistas a denominaram de “Lei 
geral da demanda”. 
No conceito apresentado, destaca-se a análise isolada do preço variável, 
enquanto as demais variáveis permanecem constantes (coeteris paribus). Os 
fundamentos da demanda têm como princípio fundamental o conceito de utilidade, 
que representa o nível de satisfação que os consumidores atribuem aos bens que 
desejam adquirir. 
6.5 Equilíbrio de mercado 
Segundo Fernandez (2009) o equilíbrio de mercado ocorre quando a 
quantidade demandada (representada por Xd) é igual à quantidade ofertada 
(representada por Xs), o que é denotado como X*. Este estado resulta de um processo 
de ajuste do preço: 
Xd = Xs = X* 
 
53 
 
Na figura 2 o equilíbrio de mercado é representado pelo ponto de interseção 
entre as curvas de oferta e demanda, denotado como ponto E. Nesse ponto, as 
coordenadas são x* e p*, indicando que a quantidade demandada é igual à quantidade 
ofertada, ou seja, x*. Não há motivo para que o preço p* seja modificado neste ponto. 
Figura 2 - O mercado do bem x 
Fonte: https://encurtador.com.br/lHUZ5 
Observação: A curva de oferta possui uma inclinação positiva devido ao 
aumento dos custos à medida que a produção se expande. Isso ocorre porque alguns 
insumos são fixos e não podem ser facilmente aumentados. 
Para demonstrar que o ponto E é o equilíbrio do mercado, considera-se uma 
situação em que o preço de mercado excede temporariamente o equilíbrio, denotado 
como p’ > p*. A esse preço mais alto, a quantidade demandada é xd' e a quantidade 
ofertada é xs'. Nesse cenário, todos os vendedores encontrarão compradores, 
resultando em um excesso de oferta (ES = xs' - xd'). Isso leva alguns vendedores a 
reduzir os preços para evitar excesso de estoque, o que eventualmente estabiliza o 
preço de mercado de volta ao nível de equilíbrio p*. Um raciocínio similar se aplica a 
uma situação em que o preço temporariamente cai abaixo do equilíbrio, por exemplo, 
p''
A maximização do lucro envolve a produção de uma quantidade 
Q ao preço P, resultando em lucro zero devido ao equilíbrio entre preço e custo médio. 
Apesar da empresa manter certo poder de monopólio devido à sua marca única no 
mercado, a entrada de novas empresas e a concorrência levaram os lucros a se 
reduzirem a zero. Essa análise é descrita por Pindyck e Rubinfeld (2010). 
7 NOÇÕES DE MACROECONOMIA 
7.1 Definição de macroeconomia 
Conforme Mankiw (2008), a Macroeconomia aborda o estudo amplo da 
economia, englobando o crescimento da renda, as flutuações nos preços e na taxa de 
desemprego. Seu objetivo é fornecer políticas para aprimorar o desempenho 
econômico e elucidar eventos econômicos. Segundo Blanchard (2007), ela se 
concentra nas variáveis econômicas agregadas. Krugman e Wells (2007), em seu 
glossário, a definem como o campo da economia que investiga a expansão e a 
 
56 
 
contração da economia como um todo. Dornbusch e Fischer (1991) explicam que a 
Macroeconomia analisa o comportamento global da economia, considerando período 
de recessão e recuperação. 
Simonsen e Cysne (2007) utilizam uma metáfora para descrever a 
Macroeconomia, comparando-a ao estudo da floresta em contraste com a 
Microeconomia, que se concentra nas árvores. Carvalho et al. (2008) definem a 
Macroeconomia como o campo da economia que analisa o comportamento humano 
em uma escala agregada, examinando o impacto das ações humanas nos principais 
agregados econômicos, como o mercado de trabalho e o consumo de bens e serviços. 
A busca por uma definição precisa e completa da Macroeconomia entre os 
grandes autores revela-se desafiadora e talvez um tanto frustrante. No entanto, a 
qualidade das definições não reflete necessariamente a excelência de seus textos. 
Isso pode ser atribuído ao fato de que esses autores priorizam o desenvolvimento de 
ferramentas e conceitos dentro de suas respectivas áreas de atuação 
macroeconômica, em vez de se concentrarem exclusivamente em definições. 
É essencial enfatizar a importância das aplicações práticas na 
Macroeconomia, uma vez que, através delas a disciplina adquire significado e 
relevância. No passado, houve um período em que se buscava matematizar a 
economia, assemelhando-a à física e buscando compreender a natureza por meio de 
leis matemáticas, sem necessariamente considerar suas aplicações práticas. No 
entanto, é essencial reconhecer que a Macroeconomia está inserida no campo das 
Ciências Sociais Aplicadas, e são justamente as aplicações práticas que 
fundamentam sua existência e validade. 
De acordo com Mankiw (2008), Keynes destacou a necessidade de um 
economista possuir habilidades que vão além da simples análise econômica. Segundo 
ele, um economista deve ser versado em matemática, história, política e filosofia. Além 
disso, deve manter-se distante das influências externas e permanecer íntegro em suas 
convicções, assim como um artista. Porém, ao mesmo tempo, deve estar ciente das 
realidades práticas e políticas do mundo, semelhante a um político. 
Cada governo e época histórica enfrentam desafios econômicos únicos, que 
podem variar desde inflação, déficit público, recessão até o gerenciamento de 
choques na oferta ou demanda. Uma definição ampla pode não ser suficiente, já que 
os problemas econômicos surgem de maneira específica em cada contexto. A 
 
57 
 
Macroeconomia está em constante evolução, evidenciando ser uma disciplina ainda 
em desenvolvimento. 
Na década de 1970, a Macroeconomia era considerada uma disciplina 
consolidada, mas os choques do petróleo de 1973 e 1979 trouxeram desafios 
inesperados. A ocorrência simultânea de inflação e recessão, conhecida como 
estagflação, pegou os economistas de surpresa e abalou sua credibilidade. No 
entanto, ao longo do tempo, foram encontradas explicações para esse fenômeno, 
restaurando a confiança na capacidade da Macroeconomia de lidar com novos 
desafios. A seguir, estão listados os mercados da macroeconomia: 
 Mercado de bens e serviços: esse mercado é responsável por determinar 
o nível geral de produção da sociedade, bem como o preço pelo qual esses bens 
manufaturados são trocados. Os custos marginais representam o valor adicional de 
produzir uma unidade extra de um bem ou serviço, uma vez que os custos fixos já 
foram amortizados. 
Mercado de trabalho: Nesse mercado, a determinação do número total de 
trabalhadores disponíveis para o trabalho e o salário, ou seja, o valor do trabalho, era 
estabelecida. Esse mercado de trabalho era composto pela soma dos mercados 
específicos de cada setor: agricultura, indústria e serviços. Naquela época, a atividade 
econômica garantia o pleno emprego, englobando até mesmo mulheres e crianças de 
cada lar que pudessem contribuir com mão de obra adicional, dada a demanda 
inesgotável, como observado durante as primeiras e segundas revoluções industriais. 
Mercado monetário: este mercado deve considerar a relação de demanda e 
a oferta de moeda na economia, responsável por suas decisões das 
taxas de juros fixadas pelo Banco Central. 
Mercado de títulos: o mercado analisa os níveis de renda e despesa dos 
agentes econômicos e determina quais desses ganham mais do que gastam 
(colocando-os em situação de superávit), assim como quais gastam mais do que 
ganham (colocando-os em situação de déficit). 
Mercado de divisas: o mercado está de olho em setores fora do Brasil, ou 
seja, as economias de outros países com os quais o país mantém relações comerciais 
com Brasil. É responsável pela definição de índices de exportação e importação de 
bens, geradores de entradas ou saídas de capital financeiro (SILVA; MARTINELLI, 
2016). 
 
58 
 
7.2 A Contabilidade Nacional 
Segundo Heineck (2010) a Contabilidade Nacional, também conhecida como 
Contabilidade Social, é essencial ao fornecer insights sobre o desenvolvimento social 
de um país e os benefícios decorrentes do crescimento econômico para toda a 
população. Embora os termos Contabilidade Nacional e Contabilidade Social sejam 
frequentemente usados de forma intercambiável, neste contexto, preferimos utilizar o 
primeiro termo, pois nosso foco principal é analisar as ramificações econômicas da 
atividade produtiva. 
No entanto, reconhecemos que em estágios posteriores, essas consequências 
também podem influenciar a evolução dos métodos contábeis, permitindo a inclusão 
de medidas que abordem diretamente o bem-estar social. Isso envolve a consideração 
de um conjunto mais amplo de variáveis do que aquelas que são estritamente de 
natureza econômica. 
É indispensável que os estudantes de Administração Pública tenham a 
habilidade de distinguir entre a linguagem contábil e a linguagem de modelagem 
econômica. Um modelo econômico, que utiliza representações matemáticas, é uma 
construção teórica que descreve as relações entre variáveis econômicas por meio de 
gráficos e equações, as quais podem ser empiricamente testadas para prever os 
efeitos ou mudanças em um resultado. Em contraste, um modelo contábil trabalha 
com identidades matemáticas que representam igualdades entre duas ou mais 
variáveis teoricamente equivalentes, sem estabelecer ligações de causalidade entre 
elas. Como essas identidades são geradas do que vem antes, não há necessidade de 
confrontá-las empiricamente (HEINECK, 2010). 
É incumbência dos macroeconomistas e da teoria macroeconômica explicar a 
evolução do Produto Interno Bruto (PIB) por meio de modelos teóricos que analisam 
e interpretam o comportamento das variáveis econômicas. Investigaremos a 
composição e formação dessas contas para compreender como elas fornecem os 
dados essenciais para a elaboração e aprimoramento dos modelos teóricos no âmbito 
da Macroeconomia. 
Em uma abordagem inicial, podemos definir a Contabilidade Nacional como um 
sistema contábil que possibilita a avaliação da atividade econômica em um período 
específico, oferecendo estatísticas e organizando
eventos econômicos para uma 
 
59 
 
análise coesa. Ao contrário de outras áreas da Macroeconomia, a Contabilidade 
Nacional se concentra exclusivamente em eventos já ocorridos. 
A teoria macroeconômica concentra-se primariamente em dois principais 
objetivos: compreender o crescimento econômico ao longo do tempo e analisar as 
flutuações cíclicas. Essa teoria tem o propósito de quantificar variáveis e estabelecer 
métodos para monitorar esses fenômenos de forma sistemática. 
Os elementos essenciais, da atividade econômica, sendo objeto de análise da 
Contabilidade Nacional, são as transações financeiras resultantes da produção, 
oferecendo insights sobre o desempenho econômico ao longo do tempo. Os dados 
fornecidos pela Contabilidade Nacional facilitam comparações internacionais, 
incluindo taxas de crescimento do PIB em diferentes países e os principais indicadores 
macroeconômicos. Para garantir uma análise consistente, foi desenvolvida uma 
estrutura padronizada para apresentar as Contas Nacionais em todo o mundo, 
possibilitando uma avaliação conjunta das informações econômicas em diversas 
economias (HEINECK, 2010). 
Desde o período pós Segunda Guerra Mundial, as Nações Unidas têm 
elaborado manuais metodológicos para orientar a produção de estatísticas pelos 
órgãos oficiais de cada país. Quando o sistema existente não abrange determinadas 
informações, são desenvolvidas as chamadas Contas Satélites, conjuntos de 
estatísticas elaboradas para atender a objetivos específicos. 
De acordo com Heineck (2010) a Contabilidade Nacional é responsável por 
fornecer as principais métricas da economia, conhecidas como agregados 
macroeconômicos, que incluem a produção, o consumo, o investimento e a renda 
gerada e distribuída. Ela quantifica o resultado agregado das atividades econômicas 
individuais, que podem diferir dos planos prévios, como a demanda efetiva, 
considerando o comportamento de um conjunto de agentes econômicos. O produto 
total de uma economia em um período é determinado pela demanda agregada, ou 
seja, pelos gastos totais realizados pelos agentes econômicos durante esse intervalo 
de tempo. 
Os processos de geração de renda, produção e gastos podem ser rastreados 
por meio de um sistema contábil que registre e vincule as transações significativas a 
serem avaliadas ao longo do período analisado. 
 
60 
 
Portanto, dado que lidamos com transações financeiras, ressaltamos que a 
moeda é imprescindível na quantificação dos indicadores macroeconômicos, 
destacando a importância da estabilidade monetária para uma nação. Um alto nível 
de instabilidade monetária exigiria ajustes frequentes no Sistema de Contabilidade 
Nacional. 
7.3 Política econômica 
Segundo Heineck (2010) a incorporação de atividades da sociedade pelo 
governo, seja por meio de entidades estatais, empresas de economia mista ou órgãos 
públicos responsáveis por funções essenciais, não está no escopo da política 
econômica. Embora o governo possa exercer grande influência na sociedade ao 
assumir certas atividades comerciais, como ocorreu historicamente no bloco 
socialista, essa forma de intervenção é considerada uma questão política e não um 
componente da política econômica. 
Portanto, o foco é compreender o impacto que o governo pode ter por meio de 
ferramentas de política econômica, tais como taxas de juros, impostos e decisões de 
investimento na sociedade. Se considerarmos que essa forma indireta de intervenção 
governamental pode ser eficaz, a primeira questão a ser levantada é se as autoridades 
devem utilizá-la para corrigir desequilíbrios nos ciclos econômicos de curto prazo e 
promover o equilíbrio e desenvolvimento econômico de longo prazo. 
Há um acordo entre economistas de que políticas públicas devem guiar o 
desenvolvimento econômico, especialmente em países em desenvolvimento. O 
equilíbrio econômico de longo prazo é alcançado através dos mecanismos de ajuste 
do mercado nas economias capitalistas, enquanto a política econômica age na 
administração dos acertos ou erros resultantes das decisões de curto prazo 
(HEINECK, 2010). 
Segundo Lacombe (2004) analogamente às instruções de primeiros socorros 
dos paramédicos, na Macroeconomia, é essencial lembrar da regra fundamental de 
evitar causar danos adicionais ao tentar salvar a situação. Manter o estado do sistema 
econômico sem deterioração após uma crise é um feito admirável. Quando em dúvida, 
é preferível aguardar a intervenção adequada, em vez de intervir desastrosamente. 
Essa comparação resulta em duas correntes de pensamento na 
macroeconomia: 
 
61 
 
• Os ativistas macroeconômicos defendem que as autoridades devem realizar 
intervenções na economia, vendo-as como positivas. 
• A corrente que se baseia na teoria de Adam Smith sustenta que a economia 
segue seu curso natural, com ciclos, recessões e expansões, sendo parte 
intrínseca do funcionamento normal da sociedade. Nessa perspectiva, a “mão 
invisível” do mercado é vista como capaz de restaurar um estado de progresso 
nas relações econômicas. 
Pode-se concluir que o consenso deve adotar uma posição intermediária entre 
as duas correntes mencionadas. Isso significa evitar tanto uma abordagem de “deixe 
fazer” que poderia causar danos significativos à sociedade na tentativa de provar que 
ela pode se recuperar sozinha após uma crise, quanto uma intervenção excessiva por 
cada pequeno desvio do curso econômico. Os economistas geralmente costumam 
chamar de tentativa de fazer a sintonia fina da economia, e há consenso em sua 
impraticabilidade. 
Uma abordagem interessante é a implementação de estabilizadores 
automáticos na economia, como o seguro-desemprego. Durante períodos de 
recessão, quando o desemprego aumenta e a renda da população diminui, parte 
dessa perda de renda é compensada pelos benefícios oferecidos aos 
desempregados. À medida que a economia se estabiliza, esses benefícios são 
gradualmente substituídos pelos salários, resultando em oscilações menores na renda 
e no consumo da população em comparação com as flutuações no emprego. 
Nesse cenário, pode-se escolher intervir na economia através de duas 
alternativas: 
• Na intervenção discricionária, há uma adaptação flexível, em que as 
autoridades ajustam os instrumentos e a intensidade conforme as 
circunstâncias e o juízo prudente. 
• Na intervenção baseada em regras rígidas, são utilizadas formulações 
matemáticas, restringindo a capacidade das autoridades de agir com 
flexibilidade, enquanto, ao mesmo tempo, reforça a confiabilidade na atuação 
do governo. 
 
62 
 
De acordo com Heineck (2010), a eficácia da política econômica depende da 
definição de metas e utilização de instrumentos viáveis. Por exemplo, é ineficaz o 
governo buscar aumentar a arrecadação de impostos por meio de políticas fiscais se 
não possui confiança na capacidade institucional de fazê-lo. Da mesma forma, não 
faz sentido propor alíquotas elevadas de impostos sem garantir que organizações e a 
população tenham condições de pagá-las. No entanto, essa capacidade de 
pagamento pode variar, como durante períodos de guerra, onde as pessoas 
compreendem a necessidade e estão dispostas a pagar impostos mais altos. 
7.4 Balanço de pagamentos 
O balanço de pagamentos é um registro contábil que documenta todas as 
transações econômicas entre um país e outros durante um período específico. Sua 
principal função é analisar a situação financeira internacional de um país. Se houver 
um saldo negativo em uma das contas, isso indica que os pagamentos enviados para 
o exterior excederam as receitas recebidas dos agentes estrangeiros pelas transações 
associadas a essa conta. 
O balanço de pagamentos torna-se uma ferramenta essencial na análise 
econômica, ao proporcionar uma visão detalhada da dinâmica dos fluxos de recursos 
materiais e financeiros entre os agentes econômicos internos e externos de uma 
economia específica (HEINECK,
2010). 
Assim como em qualquer plano contábil, o balanço de pagamentos da 
Contabilidade Nacional é composto por um conjunto de contas agregadas que podem 
ser subdivididas em várias outras contas, conforme as necessidades de análise 
específicas. Existem quatro contas analíticas que constituem a estrutura do balanço 
de pagamentos. Essas contas são: 
• Conta-corrente, são registrados todos os fluxos comerciais de bens e serviços, 
bem como os pagamentos e recebimentos de renda relacionados ao capital e 
trabalho. Além disso, inclui transferências unilaterais entre países e o restante 
do mundo. 
• Conta de capital, são registradas as transações unilaterais de ativos tangíveis, 
financeiros e intangíveis entre residentes e não residentes. 
• Conta de investimento: nela são documentados todos os movimentos de 
capital entre o país e outras nações. 
 
63 
 
• Correções e ajustes: devido às flutuações monetárias, ao final de cada 
período, é comum ocorrerem discrepâncias entre os totais das contas de 
investimento, capital e financeira. Essa conta é responsável por efetuar as 
correções necessárias para equilibrar as entradas e saídas de recursos, 
garantindo a integridade contábil entre os registros de débito e crédito. 
A conta-corrente é composta por quatro subcontas: balança comercial, balança 
de serviços, balança de renda e transferências unilaterais de renda. A balança 
comercial registra as transações de compra e venda entre residentes e não residentes 
do país. Todos os valores são registrados com base no valor FOB (Free on Board), 
ou seja, livre de custos adicionais como frete, comissões e seguros, os quais são 
registrados na subconta de balança de serviços. 
Na subconta de balança de serviços, são registradas as receitas e despesas 
relacionadas à prestação de serviços em transações entre residentes e não 
residentes. O balanço de rendas documenta as receitas e despesas associadas aos 
rendimentos do trabalho e do capital em transações entre residentes e não residentes, 
incluindo salários pagos por residentes a não residentes e vice-versa. As 
transferências unilaterais de renda referem-se a receitas ou despesas sem 
contrapartida, ou aquisição de bens, podendo ser compreendidas melhor ao relacionar 
seu conceito ao de doações (HEINECK, 2010). 
A segunda conta mencionada é a conta de capital, onde são registradas as 
transferências unilaterais de ativos tangíveis, financeiros e intangíveis entre residentes 
e não residentes. A distinção entre as transferências da conta-corrente e da conta de 
capital reside no envolvimento dos direitos de propriedade sobre os ativos. Nesse 
caso, há uma contrapartida envolvida na transação, na qual os bens são transferidos 
entre nacionais e estrangeiros. 
Essa situação não se aplica às rendas geradas pela troca de pagamentos pelo 
aluguel de um fator de produção. Essas rendas, por exemplo os aluguéis, são 
registradas na conta-corrente como exportações e importações de serviços. O aluguel 
pode ser uma forma de remuneração pelo uso temporário de máquinas, equipamentos 
e imóveis para produção, devolvidos após o término do uso. Da mesma forma, o 
pagamento de salários pelo uso da mão de obra, seja operacional ou gerencial, é 
contabilizado dessa maneira. Após o término do período de uso da mão de obra, sua 
 
64 
 
capacidade operacional retorna à propriedade daqueles que a detinham, como os 
trabalhadores, gerentes e empreendedores. 
Outra conta é a financeira, que serve principalmente para registrar transações 
monetárias. Ela documenta os movimentos de capital entre residentes e não 
residentes, e a partir dela são derivadas quatro subcontas adicionais: 
• Investimento direto: refere-se aos movimentos de capital associados à 
aquisição de participação em longo prazo por parte de investidores não 
residentes em um negócio. É importante distinguir esses movimentos das 
transferências unilaterais de renda ou da atividade econômica residente. O 
interesse envolve a compra de participações acionárias, a obtenção de 
empréstimos ou outras formas de investimento entre as empresas-mãe e suas 
subsidiárias 
• Investimentos em carteira: referem-se às transações financeiras 
relacionadas a investimentos de curto prazo, tais como ações no mercado 
financeiro, debêntures e outros títulos de renda fixa e variável. 
• Derivativos e outros investimentos: é uma categoria residual que engloba 
qualquer fluxo financeiro que não se enquadre nas outras contas mencionadas. 
Esses investimentos incluem quatro principais grupos: créditos comerciais, 
empréstimos, moedas e depósitos, além de outras operações. 
Segundo Heineck (2010) é importante observar que a conta financeira está 
intimamente ligada à conta-corrente, já que cada tipo de investimento na conta 
financeira corresponde a uma conta correspondente na subconta de balanço da 
renda. Nessa subconta, são registrados os juros e outras despesas financeiras 
associadas aos fluxos de capital registrados na conta financeira. Enquanto os 
movimentos de entrada e saída de capitais são registrados na conta financeira, os 
custos associados a esses movimentos, como os juros, são contabilizados no balanço 
de rendas. 
8 CONJUNTURA ECONÔMICA 
8.1 Neoliberalismo 
O neoliberalismo, embora compartilhe algumas semelhanças com o 
liberalismo, apresenta uma abordagem atualizada e adaptada. De acordo com Sarlet 
 
65 
 
(2012), o liberalismo surgiu no século XVII, tendo seu ápice durante a Revolução 
Gloriosa (1688) na Inglaterra, seguida pela Revolução Americana (1776) e a 
Revolução Francesa (1789). Ao representar a luta da burguesia contra os privilégios 
da nobreza, o liberalismo limitou os poderes do monarca e promoveu uma série de 
ideias fundamentais defendidas por pensadores como Locke, Montesquieu, 
Rousseau, Smith e outros, cujas contribuições tiveram um impacto significativo na 
história da humanidade. 
A filosofia liberal propunha a separação entre o Estado e a sociedade, 
delineando claramente o que pertencia ao âmbito público e ao privado, visando limitar 
a intervenção estatal nos assuntos privados, o que resultou na ideia de um Estado 
mínimo. Além disso, defendia que o poder do Estado deveria ser legitimado pelo 
consentimento dos cidadãos, que teriam seus direitos individuais garantidos, como a 
liberdade de pensamento, expressão e religião (MARMELSTEIN, 2011). 
No decorrer do século XIX, a ideia de um Estado mínimo começou a ser 
questionada devido à persistência de desafios econômicos e sociais, apesar da 
implementação das principais ideias liberais nos principais centros urbanos europeus. 
Problemas como o aumento da pobreza e as crescentes desigualdades sociais 
permanecem sem solução. Em oposição ao pensamento liberal, surgem movimentos 
que lutam pela intervenção estatal, pelo fortalecimento da classe trabalhadora e pela 
garantia dos direitos coletivos. 
Após o colapso da Bolsa de Nova Iorque em 1929, houve uma revisão do 
conceito de Estado Mínimo. Nesse contexto, o capitalismo adotou uma nova 
abordagem, buscando reavaliar o papel do Estado na economia. Reconheceu-se a 
necessidade de conciliar eficiência econômica com liberdade individual, dando ênfase 
à justiça social. Como resultado, o Estado passou a intervir diretamente na economia 
para garantir a regulação econômica, inclusive investindo em empresas visando 
assegurar o pleno emprego (HOBSBAWN, 2002). 
Até meados dos anos 1970, a visão keynesiana do liberalismo se manteve 
predominante, porém uma nova crise global do capitalismo trouxe questionamentos 
ao Estado de “bem-estar social”. As dificuldades enfrentadas pelo Estado incluíam a 
incapacidade de responder plenamente às demandas por políticas sociais, o aumento 
do déficit público, o crescente endividamento público, a inflação e a crise fiscal. A 
estrutura do Estado de bem-estar social encontrava-se enfraquecido, uma vez que 
 
66 
 
houve um golpe final contra esse
modelo com o colapso do Estado Socialista, 
resultante da desintegração da União Soviética e do desmembramento do Leste 
Europeu. Esses eventos contribuíram para o ressurgimento do Estado mínimo e dos 
princípios liberais, e originou o que é conhecido como neoliberalismo. 
De acordo com Anderson (1995), o neoliberalismo surgiu na Europa e na 
América do Norte como uma resposta ao Estado de bem-estar, opondo-se a qualquer 
interferência estatal nos mecanismos de mercado. Sua justificativa reside na proteção 
da liberdade econômica e política dos cidadãos. A ascensão do neoliberalismo 
ganhou destaque a partir da década de 1970, impulsionada pela crise do Estado de 
bem-estar social, caracterizada por altas taxas de inflação e baixo crescimento 
econômico. 
O neoliberalismo surgiu como uma alternativa ao Estado de bem-estar social 
keynesiano, propondo lidar com as crises fiscal e inflacionária por meio da 
desregulamentação do mercado financeiro e da integração dos capitais nacionais à 
economia globalizada. Suas políticas enfatizam a competição, a liberdade individual, 
o livre funcionamento do mercado e a estabilidade monetária, visando reduzir a 
intervenção estatal. Segundo Anderson (1995), o Chile foi pioneiro na adoção do 
governo neoliberal, seguido por nações como o Reino Unido, durante o mandato da 
ex-primeira-ministra Margareth Thatcher, e os Estados Unidos, na gestão do 
presidente Ronald Reagan. Essas políticas resultaram em uma tendência 
conservadora marcante nesses países, caracterizada por cortes significativos no 
financiamento de políticas sociais e pela diminuição do poder dos sindicatos. 
A doutrina neoliberal apresenta diversas características fundamentais, como 
apontado por vários autores, incluindo Anderson (1995). Essas características podem 
ser resumidas da seguinte maneira: 
• Defesa do livre mercado; 
• Ênfase no individualismo; 
• Concepção de liberdade associada à desigualdade; 
• Promoção de privatizações e desregulamentação econômica. 
Para o neoliberalismo, o mercado tem uma função importante, enquanto o 
Estado é relegado a uma função mínima de supervisão, incentivando a população a 
transformar suas necessidades em commodities. Sob essa perspectiva, o mercado é 
 
67 
 
considerado a única via para a realização dos interesses individuais, sem considerar 
outras variáveis como habilidades e oportunidades. 
Segundo Hobsbawn (2002, p. 554), o individualismo exacerbado é uma das 
consequências mais preocupantes das mudanças ocorridas desde o início do século 
XX até os anos 1990. A queda do comunismo e a ascensão do capitalismo resultaram 
na predominância das relações baseadas na lógica de mercado, onde o consumismo 
e importante, como aponta Bauman (2011, p. 83), destacando que o consumismo não 
se limita à mera sobrevivência, mas transforma os indivíduos em consumidores, 
relegando outros significados a um plano secundário. 
A busca incessante pela realização dos desejos revela uma lacuna no modelo 
do Estado Neoliberal, que exclui os marginalizados pelo sistema. Conforme apontado 
por Teixeira e Oliveira (1996), a sociabilidade neoliberal enfatiza o interesse próprio e 
o egoísmo como traços inerentes ao ser humano. Sob a ótica neoliberal, acredita-se 
que, ao buscar satisfazer seus próprios interesses, cada indivíduo contribui para o 
bem-estar coletivo, garantindo que todas as necessidades sejam atendidas. 
Nessa visão, o mercado assume um papel como o local onde as necessidades 
materiais são supridas e onde a liberdade econômica e política dos indivíduos é 
realizada. Os defensores do neoliberalismo confiam na suposta perfeição do mercado 
e em sua capacidade de coordenar recursos de forma eficiente, embora, na prática, o 
mercado não distribua recursos de forma equitativa. 
Desde o início, a doutrina neoliberal propôs ajustes e ideias para os países que 
a adotaram, especialmente em relação ao papel do Estado na sociedade. Uma crítica 
central do neoliberalismo ao Estado intervencionista aponta para a presença de 
medidas protetivas consideradas desnecessárias, que resultam em um Estado 
ineficiente, desperdiçador e paternalista, caracterizado por uma alta carga tributária e 
pela ocorrência de crises econômicas. A visão neoliberal preconiza um Estado com 
mínima intervenção no setor produtivo e, ao mesmo tempo, politicamente forte, 
buscando reduzir as despesas públicas e promover uma maior eficiência na gestão 
dos recursos. 
8.2 Mercado de trabalho 
Os impactos da estratégia de crescimento neoliberal sobre o mercado de 
trabalho brasileiro foram imediatos. Segundo dados da Pesquisa Nacional por 
 
68 
 
Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), conduzida pelo Instituto Brasileiro 
de Geografia e Estatística (IBGE), as taxas de desocupação e subutilização da força 
de trabalho aumentaram significativamente a partir de 2015 e continuaram a subir até 
o primeiro trimestre de 2017. Durante esse período, a taxa de desemprego mais que 
dobrou, atingindo 13,9%, enquanto a taxa de subutilização cresceu 9,2 pontos 
percentuais, alcançando 24,1%. 
Apesar de uma recuperação gradual entre 2017 e 2019, as taxas 
permaneceram significativamente mais altas do que em 2014. Além disso, é 
importante notar que essa recuperação foi acompanhada por uma deterioração 
evidente na estrutura ocupacional. Após uma queda substancial nas ocupações, 
principalmente devido à redução dos empregos formais nos anos de 2015 e 2016, a 
recuperação nos três anos seguintes foi impulsionada pelo aumento do trabalho 
autônomo e pela criação de empregos informais (OLIVEIRA; AMORIM, 2022). 
Entre 2015 e 2019, aproximadamente 2,5 milhões de novos empregos foram 
criados, uma quantidade insuficiente para absorver os quase 8 milhões de indivíduos 
que entraram no mercado de trabalho. Como resultado, o número de desempregados 
aumentou em cerca de 5,3 milhões durante esse período. Essa análise revela que, 
embora haja sinais de recuperação no mercado de trabalho brasileiro a partir de 2017, 
essa recuperação só conseguiu compensar uma pequena fração - aproximadamente 
10% - do aumento de desempregados registrado nos anos de 2015 e 2016. 
Nesse período, de 2015 a 2019, o número de trabalhadores desempregados 
aumentou aproximadamente 81,6%, alcançando quase doze milhões de 
desempregados em termos absolutos. Além disso, o desemprego adquiriu uma 
característica de longo prazo, refletindo a crescente dificuldade dos trabalhadores em 
encontrar emprego. Por exemplo, no primeiro trimestre de 2015 cerca de 32,8% dos 
desempregados estavam nessa condição há pelo menos um ano, enquanto no último 
trimestre de 2018 esse número subiu para 40,8%, e para 39,0% no mesmo trimestre 
de 2019. É importante notar que esses percentuais representam uma proporção maior 
sobre um número absoluto significativamente elevado (CALEIRAS; CALDAS, 2017). 
Segundo Oliveira e Amorim (2022) além do aumento do desemprego a partir 
de 2015, houve um crescimento significativo do contingente de trabalhadores inativos, 
uma manifestação adicional do agravamento das condições de emprego. Embora a 
taxa de inatividade tenha permanecido relativamente estável em torno de 37% da 
 
69 
 
população em idade ativa, entre 2015 e 2019, antes mesmo da crise pandêmica, 
houve um aumento expressivo no número absoluto de pessoas na força de trabalho 
potencial, saltando de 4,2 para 7,8 milhões. Simultaneamente, a proporção da força 
de trabalho potencial em relação ao total de pessoas fora da força de trabalho 
aumentou. 
Por exemplo, no último trimestre de 2014 7,1% das pessoas fora da força de 
trabalho estavam na força de trabalho potencial, enquanto no mesmo período de 2016 
esse número aumentou para 10,8%. O pico foi alcançado no segundo trimestre de 
2019 atingindo 13,5%, significativamente mais alto do que os níveis observados antes 
da implementação das políticas neoliberais. 
Além disso, de acordo com Oliveira
na 
concepção da ação - de um lado, a ação motivada por razões econômicas e, de outro, 
a ação motivada por razões não econômicas - que é incompatível com a unidade 
essencial da vontade e da ação. Uma teoria da ação racional deve reconhecer essa 
ação como sendo unitária. 
1.1 Ação racional 
Segundo Mill (2000) a ação motivada pela razão, compreensível apenas pela 
razão, tem um único objetivo: o grande prazer obtido ao agir individualmente. Nesse 
contexto, o termo "prazer" não se refere apenas ao prazer e à dor no sentido 
convencional, mas sim a tudo o que os indivíduos valorizam como desejável, tudo o 
que desejam e pelo qual se esforçam. Assim, não há mais distinção entre a ética nobre 
do dever e a ética vulgar hedonista. O conceito moderno de prazer, felicidade, 
utilidade, satisfação e afins abrange todos os objetivos humanos, independentemente 
de os motivos da ação serem considerados morais ou imorais, nobres ou desprezíveis, 
altruístas ou egoístas. 
Em geral, os seres humanos agem movidos pela insatisfação, uma vez que a 
completa satisfação os deixaria sem desejo ou motivação para agir. A ação surge da 
necessidade e do desejo de superar uma condição percebida como deficiente, 
visando satisfazer necessidades, alcançar satisfação ou aumentar a felicidade. Se os 
recursos naturais estivessem disponíveis em abundância, os seres humanos 
poderiam utilizá-los sem restrições, mas ainda assim teriam que lidar com limitações 
de capacidade e tempo (SCHUMPETER, 1908). Portanto, seria necessário 
economizar tempo e esforço, priorizando as necessidades mais urgentes e utilizando 
os materiais de forma eficiente para satisfazê-las. 
 
7 
 
A esfera da ação racional coincide com a esfera da ação econômica. Toda 
ação racional é, portanto, considerada econômica, e toda atividade econômica é uma 
forma de ação racional. No âmbito da racionalidade, cada ação é primariamente 
realizada pelo indivíduo, que é o único capaz de pensar, raciocinar e agir. A sociedade, 
por sua vez, surge da interação das ações individuais, como será discutido 
posteriormente. 
1.2 Cálculo econômico 
Toda ação racional dos seres humanos implica em trocar uma situação por 
outra, buscando maximizar a satisfação dentro das circunstâncias dadas. Isso envolve 
a alocação de recursos econômicos, tempo e esforço na direção que ofereça o maior 
benefício, enquanto se abre mão de satisfazer necessidades menos urgentes para 
atender às mais prementes. Essa é a natureza fundamental da atividade econômica, 
a prática de realizar trocas. 
Entretanto, a contabilização requer unidades específicas, e não há uma 
unidade para o valor de uso subjetivo dos produtos. A utilidade marginal também não 
oferece uma unidade de valor mensurável. O valor de duas unidades de um produto 
não é exatamente o dobro do valor de uma unidade, embora seja necessariamente 
maior ou menor (CUHEL, 1907). Os julgamentos de valor não são medidas, mas sim 
organização e classificação. Mesmo um indivíduo isolado que se baseie apenas em 
avaliações individuais pode ter dificuldade em fazer cálculos precisos em situações 
onde a solução não é evidente de imediato. 
Para facilitar seus cálculos, ele precisaria estabelecer relações de substituição 
entre os produtos. Geralmente, não é possível reduzir tudo a uma única unidade 
comum, mas talvez seja viável para o indivíduo isolado reduzir todos os elementos do 
cálculo para os produtos que podem ser avaliados imediatamente, como bens prontos 
para o consumo e não a utilidade do trabalho, com base nessa evidência. No entanto, 
isso só é possível em casos muito simples; para processos mais complexos e longos, 
seria praticamente impossível. 
Na economia de trocas, o valor objetivo de troca dos bens se torna a medida 
de cálculo, oferecendo três vantagens distintas. Primeiramente, permite calcular o 
valor estimado de todos os participantes envolvidos no negócio. O valor estimado 
subjetivo de um indivíduo não pode ser diretamente comparado com o de outros, mas 
 
8 
 
se torna comparável como um valor de troca, resultante da interação dos valores 
estimados subjetivos de todos os envolvidos na compra e venda. 
Em segundo lugar, esses cálculos fornecem um controle sobre o uso eficiente 
dos meios de produção, permitindo àqueles que desejam calcular o custo de 
processos complexos de produção verificar se estão trabalhando de forma tão 
econômica quanto os outros. Se não conseguirem realizar o processo com lucro sob 
os preços de mercado vigentes, isso indica que outros estão mais aptos a alocar os 
bens instrumentais de forma mais eficaz. 
Por fim, os cálculos baseados em valores de troca nos permitem reduzir 
valores a uma unidade comum, e uma vez que o mercado estabelece relações de 
substituição entre bens, qualquer bem desejado pode ser escolhido para essa 
finalidade. Em uma economia monetária, o dinheiro é o bem escolhido (MISES, 2013). 
Os cálculos monetários possuem limitações intrínsecas. O dinheiro não serve 
como critério absoluto de valor ou de preços, pois não mede o valor intrínseco dos 
bens. Os preços não são medidos em dinheiro, eles representam quantias monetárias. 
Apesar de algumas interpretações simplistas que consideram o dinheiro como um 
"padrão de pagamentos a prazo", ele, sendo um bem, não mantém um valor estável. 
A relação entre dinheiro e bens está em constante flutuação, tanto no que diz respeito 
aos bens quanto ao aspecto monetário. Geralmente, essas flutuações não são 
extremas, o que não afeta significativamente os cálculos econômicos, pois estes 
geralmente se concentram em períodos relativamente curtos nos quais a estabilidade 
do poder de compra da moeda não sofre alterações drásticas. 
Segundo Mises (2013) as limitações dos cálculos monetários geralmente 
surgem não porque são expressos em termos de uma média geral de troca monetária, 
mas porque se baseiam mais nos valores de troca do que nos valores de uso 
subjetivos. Por essa razão, todos os elementos de valor que não são facilmente 
quantificáveis em termos de troca são excluídos desses cálculos. Por exemplo, ao 
considerar a viabilidade econômica de uma usina hidrelétrica, não seria possível 
incluir no cálculo o impacto negativo na beleza das cachoeiras, a menos que a 
diminuição no valor resultante de uma redução no turismo seja levada em 
consideração. Tais considerações seriam essenciais ao decidir se o projeto deve ser 
realizado. 
 
9 
 
Reflexões desse tipo são muitas vezes rotuladas como "não econômicas", 
mas discussões sobre terminologia não são pertinentes. Nem todas as considerações 
devem ser classificadas como irracionais. Aspectos como a beleza de um local ou 
construção, a saúde de uma população, a reputação de indivíduos ou nações, embora 
não sejam objetos de transações comerciais, são motivos válidos para ação racional, 
pois as pessoas os consideram significativos. O fato de não serem facilmente 
quantificáveis em termos financeiros não diminui sua importância. 
Embora não sejam incluídos em cálculos monetários, esses bens morais são 
de grande valor e podem ser avaliados diretamente. Reconhecer sua importância 
pode ser desafiador, mas isso não é culpa da economia financeira; é simplesmente 
uma característica da vida. Mesmo em situações onde cálculos financeiros não são 
aplicáveis, tais escolhas são inevitáveis, tanto para indivíduos isolados quanto para 
comunidades socialistas. Pessoas verdadeiramente sensíveis não encontrarão 
dificuldade em lidar com essas decisões. 
Os cálculos monetários têm uma relevância específica para o cálculo 
econômico, sendo utilizados para orientar a administração e distribuição de bens de 
acordo com os princípios da economia. No entanto, sua aplicação é limitada ao 
considerar apenas os bens que são transacionados por dinheiro em determinadas 
condições. Portanto, a abrangência dos cálculos monetários pode ser enganosa, 
especialmente quando utilizada
e Amorim (2022), o percentual de pessoas 
desalentadas na força de trabalho potencial aumentou significativamente ao longo do 
período. No início de 2015, esse percentual estava ligeiramente abaixo dos 40%, mas 
até o final do mesmo ano já havia subido para 50%. Essa tendência de aumento 
continuou até o final de 2019 chegando a um valor próximo de 60%. 
É importante observar que, durante o período analisado, os trabalhadores 
empregados enfrentaram uma tendência gradual, porém constante, de diminuição da 
proporção do rendimento proveniente do trabalho no rendimento total dos domicílios. 
Essa tendência foi acentuada pela crise pandêmica que se iniciou em 2020. O 
fenômeno citado não é surpreendente e serve como mais um indicador da 
desestruturação do mercado de trabalho brasileiro a partir de 2015. 
É inegável que a crise pandêmica agravou um quadro econômico e social já 
delicado, intensificando tendências negativas já presentes na economia e no mercado 
de trabalho brasileiro. As taxas de desemprego e subutilização da força de trabalho 
aumentaram consideravelmente ao longo de 2020. A taxa de desemprego subiu de 
11,1% para 14,9% entre o último trimestre de 2019 e o terceiro trimestre de 2020, 
enquanto a taxa de subutilização aumentou de 23,0% para 30,4% no mesmo período. 
Embora tenha ocorrido uma reversão dessa tendência nos trimestres seguintes, a taxa 
de desemprego no último trimestre de 2021 voltou ao patamar elevado anterior à crise 
pandêmica. Durante esse período, a taxa de subutilização permaneceu cerca de 1,3 
ponto percentual acima do nível pré-crise. 
Além do exposto anteriormente, a considerável perda de empregos ocorrida 
em 2020 não resultou em um aumento ainda maior do desemprego devido a uma 
 
70 
 
redução significativa da força de trabalho. Isso reflete a transição direta de 
trabalhadores empregados para a inatividade, um ponto que será discutido mais 
adiante. É importante destacar que em 2021 houve uma recuperação significativa no 
número de ocupações, o que foi suficiente para absorver a entrada ou retorno dos 
trabalhadores no mercado de trabalho e reduzir o número de desempregados em 2,4 
milhões. No entanto, esse número ainda é pequeno considerando o contexto que 
inclui a crise econômica iniciada em 2015 e os efeitos da pandemia que atingiu o Brasil 
em 2020. 
O processo de recuperação do mercado de trabalho brasileiro deve ser 
analisado com cautela. Em primeiro lugar, os empregos com pouca ou nenhuma 
proteção social foram os que se recuperaram mais rapidamente, aumentando sua 
participação no mercado de trabalho nacional. Em segundo lugar, após uma redução 
na proporção de desempregados de longo prazo em relação ao total de 
desempregados em 2020, houve um rápido crescimento desse grupo, atingindo 
aproximadamente 50% em 2021. 
Além disso, o crescimento na ocupação foi acompanhado por um aumento 
tanto absoluto quanto relativo dos sub ocupados, que não tinham horas de trabalho 
suficientes. Durante o pico da pandemia, o número de trabalhadores sub ocupados 
por falta de horas trabalhadas ultrapassou os 8%, e mesmo após o relaxamento das 
restrições à mobilidade social, ainda não retornou aos altos níveis pré-pandemia. 
Adicionalmente, a crise pandêmica com suas dimensões sanitárias, sociais e 
econômicas, levou o governo a implementar medidas de isolamento físico e promover 
o teletrabalho, elevando a inatividade a um indicador-chave para monitorar o mercado 
de trabalho nacional durante esse período. Conforme observado, no segundo 
trimestre de 2020, a taxa de inatividade atingiu um nível significativo de 42,7%, em 
comparação com 37,3% no trimestre anterior, indicando que aproximadamente quatro 
em cada dez pessoas com 14 anos ou mais estavam inativas no início da pandemia. 
Gradualmente, no entanto, a taxa de inatividade diminuiu e se aproximou dos 
níveis já elevados registrados antes da crise. Um padrão semelhante foi observado 
na participação da força de trabalho potencial na população fora da força de trabalho. 
Nesse contexto, a pandemia surge como um agravante sério, mas não a causa dos 
problemas que já afetam o mercado de trabalho brasileiro há um longo período. 
 
71 
 
Em conclusão, é inegável que houve uma recuperação gradual do mercado 
de trabalho brasileiro ao longo de 2021, após os impactos adversos da crise 
pandêmica. Porém, a situação atual não é superior àquela antes da pandemia. Além 
disso, é evidente que, impulsionada por uma reforma trabalhista que legalizou a 
precariedade, essa recuperação deixou os trabalhadores vulneráveis e desprotegidos 
socialmente (OLIVEIRA; AMORIM 2022). 
8.3 Distribuição de renda 
Desde os primórdios, o crescimento econômico dos países é um tema central 
na ciência econômica, e Adam Smith aborda o tema em sua obra seminal "A Riqueza 
das Nações", publicada em 1776. A distribuição da renda também tem sido um tema 
importante nas ciências sociais, incluindo a Economia. David Ricardo, outro 
economista clássico, considerou que o objetivo principal da Economia Política era 
explicar como o produto nacional é distribuído entre os proprietários de terra, os 
capitalistas e os trabalhadores, na forma de renda, lucros e salários, respectivamente. 
Esse problema é conhecido hoje como "distribuição funcional da renda". 
Enquanto as escolas clássica e marxista de pensamento econômico oferecem 
explicações distintas (embora complementares) para determinar salários, lucros (e 
juros) e renda da terra, associando cada uma dessas remunerações a diferentes 
classes sociais, a escola neoclássica procura unificar a explicação da remuneração 
dos fatores de produção com base nos conceitos de produtividade marginal e 
equilíbrio de mercado. 
Dentro da abordagem neoclássica, os temas centrais do desenvolvimento 
econômico foram temporariamente subjugados durante as primeiras décadas do 
século XX, em favor do que agora é reconhecido como microeconomia. No entanto, 
esses temas recuperaram sua relevância após a Grande Depressão de 1929 e a 
"revolução" keynesiana dentro da corrente neoclássica. Por outro lado, na perspectiva 
marxista, a distribuição da renda sempre permaneceu como um tema destaque, como 
evidenciado pela polêmica em torno da "Doutrina da Miséria Crescente" de Marx. 
Em comparações internacionais, os países latino-americanos, incluindo o 
Brasil, são notáveis pela alta desigualdade na distribuição de renda. Essa 
desigualdade é atribuída à formação e evolução socioeconômica das antigas colônias 
de Portugal e Espanha. Um fator-chave foi a alta concentração da posse de terra, 
 
72 
 
especialmente quando a economia desses países estava centrada na produção e 
exportação de produtos primários. No caso do Brasil, Furtado (1967) destaca a 
extrema concentração de renda na economia açucareira colonial. Além disso, ao 
analisar as consequências da abolição da escravidão, o mesmo autor observa que 
houve poucas mudanças significativas na organização da produção e na distribuição 
de renda. 
No livro "Um projeto para o Brasil", publicado em 1968, Celso Furtado explora 
como a significativa desigualdade na distribuição de renda no país influencia um 
padrão de demanda global que prejudica o crescimento econômico. Ele demonstra 
como a tendência estrutural à concentração de renda contribui para o subemprego de 
recursos característicos das economias subdesenvolvidas. Furtado destaca que essa 
concentração de renda leva a uma ampla diversificação dos padrões de consumo 
entre grupos privilegiados, beneficiando as indústrias de bens duráveis. 
No entanto, devido ao mercado restrito para cada produto, essas indústrias 
enfrentam dificuldades para aproveitar economias de escala, resultando em custos 
relativamente elevados de operação. Em outro trabalho publicado no mesmo ano, 
furtado critica a política econômica adotada pelo governo militar estabelecido após o 
golpe de abril de 1964, argumentando que ela
exacerbou a concentração de renda, 
apesar de ser amplamente reconhecido que tal concentração já representava um 
grande obstáculo para o desenvolvimento do país. 
É notável que Furtado (1968) fundamenta seus argumentos com dados 
esquemáticos sobre a distribuição de renda no Brasil, citando um estudo da CEPAL 
(Cambio estructural para la igualdade), que provavelmente se baseou nos resultados 
do Censo Demográfico de 1960. Ele destaca que os 1% mais ricos e os 50% mais 
pobres recebiam parcelas semelhantes da renda nacional: 18,6%. Segundo esses 
dados, os 10% mais ricos detinham 41,3% da renda nacional. Usando dados da PNAD 
de 1999, observa-se que, na distribuição de renda entre os residentes em domicílios 
particulares conforme o rendimento familiar per capita, os 50% mais pobres, os 1% 
mais ricos e os 10% mais ricos detinham, respectivamente, 12,3%, 13,3% e 47,4% da 
renda total. 
Já em 1968, Celso Furtado considerava a concentração de renda como o 
principal obstáculo ao desenvolvimento do país. Logo após a divulgação dos dados 
do Censo Demográfico de 1970, dois estudos - de Fishlow (1972) e Hoffmann & 
 
73 
 
Duarte (1972) - destacaram um aumento significativo da desigualdade na distribuição 
de renda no Brasil entre 1960 e 1970. Esse aumento na desigualdade tornou-se um 
elemento importante na crítica à política econômico-social dos governos militares. 
O estudo de Langoni (1973), realizado com o apoio do então ministro da 
Fazenda, Antonio Delfim Netto, foi importante ao estabelecer um consenso sobre o 
aumento da desigualdade nas décadas de 1960 e 1970. A partir desse consenso, a 
controvérsia passou a se concentrar na interpretação desse fenômeno. Enquanto 
alguns autores destacavam as políticas governamentais, incluindo políticas 
econômico-sociais e repressão a movimentos sociais, como principais fatores, outros 
argumentavam que a maior disparidade de renda refletia principalmente um mercado 
onde a demanda por mão de obra qualificada crescia mais rapidamente do que a 
oferta a curto prazo. 
Essas duas "teorias" sugeriam que a desigualdade poderia diminuir à medida 
que os fatores explicativos mudassem. No entanto, após quase três décadas e um 
período prolongado de crescimento econômico lento, a escassez relativa de mão de 
obra qualificada não reduz. Parecia que uma vez estabelecida, a desigualdade tendia 
a persistir, mostrando uma forte inércia para mudanças no sentido de redução. 
A inflação acelerada exacerbou ainda mais a desigualdade na distribuição de 
renda no Brasil, atingindo seu pico em 1989, durante o último ano do governo Sarney. 
Segundo dados da PNAD de 1989, o índice de Gini para o rendimento das pessoas 
ocupadas com renda positiva alcançou 0,630, posicionando o Brasil como o país mais 
desigual do mundo entre aqueles com dados confiáveis sobre distribuição de renda. 
É importante notar que a inflação elevada também contribui para aumentar a 
desigualdade de renda, pois as pessoas tendem a cometer mais erros ao declarar 
seus rendimentos em meio à instabilidade econômica, introduzindo ruídos adicionais 
nos dados de desigualdade. Além disso, a desigualdade nos rendimentos declarados 
não reflete completamente as perdas causadas pela inflação sobre os salários dos 
mais pobres após seu recebimento, enquanto os mais ricos têm mais recursos para 
proteger seus rendimentos da erosão inflacionária, investindo em fundos bancários, 
por exemplo. 
Muitas dessas pesquisas fundamentam-se na teoria do capital humano, 
embora essa expressão seja contraditória com o conceito marxista de capital. No 
 
74 
 
entanto, a ideia de que o salário de um trabalhador deve aumentar com seu nível de 
escolaridade é perfeitamente compatível com essa abordagem (ROWTHORN, 1982). 
É possível que a importância dada à educação como determinante do 
rendimento e da desigualdade esteja sendo exagerada nas análises econômicas, 
devido à falta de boas medidas para outros determinantes da renda, que também 
estão correlacionados positivamente com a escolaridade. 
No entanto, o aumento da escolaridade é considerado um objetivo importante 
por si só, pois contribui para uma participação mais plena dos cidadãos na economia 
e na sociedade moderna. Assim, apesar das divergências teóricas, há um consenso 
sobre a necessidade de aumentar rapidamente o nível de escolaridade no país. 
Para reduzir a desigualdade de renda no país, é importante reconhecer que 
não existe uma única política econômica capaz de resolver o problema. Na verdade, 
praticamente todas as políticas econômicas têm algum impacto na distribuição de 
renda, desde a política fiscal até a previdência social, passando pela política de 
crédito, educação e reforma agrária, entre outras. Além disso, mudanças na legislação 
também podem ter efeitos significativos. 
A análise de cada medida deve considerar seus diversos efeitos diretos e 
indiretos, conforme evidente na discussão em torno do aumento do salário mínimo. 
Por fim, é importante destacar que as ações de organizações comunitárias e não 
governamentais podem desempenhar um papel substancial na redução das 
desigualdades econômicas e sociais no Brasil. 
8.4 Desenvolvimento econômico e mercado de trabalho 
Durante grande parte do século XX, muitas políticas governamentais foram 
direcionadas pelo conceito de desenvolvimento como equivalente ao crescimento 
econômico. No entanto, novas preocupações surgiram no pós-guerra, especialmente 
a questão ambiental na década de 1960. Isso levou ao reconhecimento de uma crise 
nesse modelo de desenvolvimento e à necessidade de estabelecer novos padrões 
para a transformação social. 
O debate em torno do crescimento e desenvolvimento econômico é vasto e 
apresenta diversas perspectivas. No entanto, há um consenso de que a redução da 
pobreza e da desigualdade através da expansão do mercado de trabalho são 
elementos essenciais para alcançar o desenvolvimento em uma determinada região. 
 
75 
 
Por um longo período, a ideia de "desenvolvimento" como sinônimo de 
crescimento econômico, progresso, industrialização e adoção intensiva de tecnologia 
foi amplamente aceita como o único caminho para garantir uma melhor qualidade de 
vida e um progresso contínuo da humanidade. Essa concepção tem suas raízes na 
Teoria do Liberalismo Clássico, formulada por Adam Smith na modernidade. Para 
Smith (2008), o crescimento econômico é visto como uma condição para alcançar o 
desenvolvimento, sendo essencialmente o próprio desenvolvimento. No século XIX, 
as teorias de David Ricardo e Karl Marx expandiram ainda mais essa ideia, com foco 
na acumulação de capital excedente. 
O surgimento do conceito de desenvolvimento, que se diferencia do conceito 
estrito de crescimento econômico, ocorreu no período pós-guerra, durante a 
reconstrução da Europa. Nesse contexto, Sachs (2004) descreveu as condições 
prevalentes na Europa daquela época, incluindo uma estrutura agrária desatualizada, 
uma agricultura camponesa subdesenvolvida, dificuldades comerciais para produtos 
primários, industrialização inicial, altos níveis de desemprego e subemprego, e a 
necessidade de um Estado ativo no desenvolvimento. Estas condições eram vistas 
como essenciais para enfrentar os desafios de estabelecer regimes democráticos 
eficazes, que pudessem liderar a reconstrução pós-guerra e superar atrasos sociais e 
econômicos. 
Por conseguinte, Sachs (2004) observa que os primeiros economistas do 
desenvolvimento foram na maioria influenciados pela cultura econômica predominante 
da época, que enfatizava a importância do pleno emprego, do Estado de bem-estar, 
do planejamento econômico e da intervenção estatal para corrigir as falhas de visão 
e a insensibilidade social dos mercados. Essa abordagem representou uma evolução 
em relação aos estudos econômicos anteriores, ainda que centrados principalmente 
na dimensão econômica do desenvolvimento. Sachs (2004) também destaca que
os 
objetivos do desenvolvimento vão além do mero aumento da riqueza material, 
reconhecendo que o crescimento econômico é uma condição necessária, mas não 
suficiente, para alcançar uma vida melhor, mais feliz e mais completa para todos. 
Boisier (2001) destaca que a distinção entre desenvolvimento e crescimento 
econômico foi notadamente articulada pelo economista britânico Dudley Seers. Sen 
(2000) propõe que o desenvolvimento econômico está relacionado à ampliação das 
capacidades humanas e à promoção da liberdade. Ele argumenta que, embora o 
 
76 
 
mundo contemporâneo tenha alcançado níveis significativos de prosperidade, ainda 
enfrenta desafios persistentes como pobreza, falta de liberdade política e fome. 
A abordagem do desenvolvimento como liberdade enfatiza a importância de 
superar esses problemas, avaliando o progresso com base na capacidade de eliminar 
privações que limitam as escolhas individuais. Privação, nesse sentido, refere-se a 
restrições que impedem as pessoas de exercer suas liberdades de escolha. 
Portanto, a discussão sobre o desenvolvimento como liberdade visa expandir 
a compreensão do desenvolvimento sustentável ao enfatizar a importância da 
ampliação da liberdade como um elemento central nesse processo. 
Na literatura brasileira, diversos autores abordam os conceitos de crescimento 
e desenvolvimento econômico. Furtado (1983) faz uma distinção entre esses 
conceitos, observando que o crescimento se refere a uma estrutura complexa que não 
se limita ao progresso tecnológico, mas sim à diversidade das formas sociais e 
econômicas resultantes da divisão do trabalho. Por outro lado, o desenvolvimento está 
relacionado ao avanço humano, representando o processo pelo qual a sociedade 
busca realizar suas capacidades e potenciais de forma mais eficaz. 
Segundo Souza (1999), a discussão sobre o desenvolvimento econômico no 
Brasil teve origem nos estudos realizados pela Comissão Mista Brasil-Estados Unidos 
(1951/53) e pelo Grupo Misto BNDES-CEPAL (1953/55), que contribuíram para os 
planos nacionais subsequentes. O autor identifica duas correntes de pensamento 
econômico sobre o assunto. Uma delas considera o crescimento como equivalente ao 
desenvolvimento, enquanto a outra enfatiza que o crescimento é uma condição 
necessária, mas não suficiente para o desenvolvimento. 
Na primeira corrente estão os modelos de crescimento da tradição clássica e 
neoclássica, como os de Harrod e Domar, enquanto na segunda corrente estão os 
economistas críticos, muitos deles influenciados pelo marxismo ou pela abordagem 
da CEPAL. Para estes, o crescimento é visto como uma mudança quantitativa no 
produto, enquanto o desenvolvimento é caracterizado por mudanças qualitativas no 
modo de vida, nas instituições e nas estruturas produtivas. Exemplos desses 
economistas incluem Raul Prebisch e Celso Furtado. 
No pensamento da CEPAL, o desenvolvimento econômico é concebido como 
o resultado da introdução de fatores de produção que aumentam a produtividade do 
trabalho. Esses fatores de produção seguem um padrão competitivo representado 
 
77 
 
pela técnica moderna, que quando aplicada à estrutura produtiva, resulta em 
aumentos de produtividade. A melhoria da produtividade é alcançada pela 
incorporação dos avanços técnicos ao trabalho, destacando assim o papel do 
progresso técnico no desenvolvimento econômico (FURTADO, 1961). 
Em termos empíricos, há evidências de que o aumento do crescimento 
econômico nem sempre resulta em um aumento do bem-estar. Um exemplo disso é o 
estudo de Santos et al. (2017), que examinou o desenvolvimento e o crescimento 
econômico das macrorregiões de Mato Grosso nos anos de 2005 e 2013. Eles 
observaram um aumento na atividade econômica da região, mas não houve uma 
melhoria correspondente nos indicadores de bem-estar. 
Em uma escala internacional, Mukherjee e Chakraborty (2010) analisaram a 
relação entre crescimento econômico e desenvolvimento humano em 28 grandes 
estados indianos ao longo de quatro períodos diferentes: 1983, 1993, 1999-00 e 2004-
05. Seus resultados corroboram a ideia de que o aumento da renda per capita não 
necessariamente se traduz em maior bem-estar humano, sugerindo que outros fatores 
desempenham um papel significativo nessa dinâmica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. 6.ed. São 
Paulo: Saraiva, 2019. 
VASCONCELLOS, M. A. S.; OLIVEIRA, R. G. Microeconomia. São Paulo: Atlas, 
2008. 
VASCONCELLOS, Marco Antônio S.; GARCIA, Manuel E. Fundamentos de 
economia 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. 
 
83 
 
VIEIRA. J. D. M. A Teoria Neoclássica e a Teoria Comportamental: Porque a Teoria 
Neoclássica não é suficiente para analisar as escolhas reais dos agentes na 
Economia. Minas Gerais, Varginha 2019. 
WALRAS, L. Compêndio dos elementos de economia política pura. 2ª edição: São 
Paulo, Nova Cultural, 1986.
para avaliar o capital ou a renda nacional de países, 
ou para estimar o valor de itens que não são passíveis de troca, como perdas devido 
à emigração ou guerra. Mesmo quando conduzidos por economistas competentes, 
tais procedimentos podem ser considerados como amadorismo (MISES, 2013). 
Dentro desses limites práticos, o cálculo monetário desempenha um papel 
fundamental, fornecendo uma orientação essencial em meio à vasta gama de opções 
econômicas. Ele serve como um guia valioso, permitindo que avaliações de valor, 
originalmente aplicáveis apenas a bens de consumo ou, no máximo, a bens de 
produção de menor importância, sejam estendidas a todos os tipos de bens de ordens 
superiores. Sem esse instrumento, a produção em processos complexos e 
diversificados seria como caminhar às escuras. 
Quando se trata de avaliações monetárias, é essencial que tanto os bens de 
consumo quanto os bens de produção sejam passíveis de troca. Sem essa 
capacidade de troca, não surgiria um sistema de relações comerciais. Mesmo quando 
 
10 
 
um indivíduo realiza trocas dentro de sua própria casa, as considerações envolvidas 
não diferem daquelas que regeriam suas ações em um mercado. Portanto, é 
adequado considerar toda atividade econômica, inclusive a de um indivíduo isolado, 
como uma forma de troca. 
No entanto, nenhum indivíduo, por mais talentoso que seja, possui a 
capacidade intelectual para avaliar a importância relativa de todos os elementos de 
uma infinidade de bens de ordens superiores. Em sociedades baseadas na divisão do 
trabalho, a divisão dos direitos de propriedade desempenha um papel fundamental ao 
realizar uma espécie de divisão mental do trabalho, sem a qual nem a economia nem 
a produção sistemática seriam viáveis. 
Além disso, é essencial que exista um meio de troca amplamente aceito, como 
uma moeda, que atue como intermediário nas transações de bens de produção, assim 
como em todas as outras trocas. Sem isso, seria inviável simplificar todas as relações 
comerciais para um denominador comum. 
Segundo Mises (2013), somente em circunstâncias extremamente simples é 
viável prescindir dos cálculos monetários. Em um ambiente doméstico restrito, onde 
um único responsável pode supervisionar todas as atividades, pode-se eventualmente 
avaliar mudanças nos métodos de produção sem recorrer a cálculos financeiros. Isso 
ocorre porque nesse contexto o capital utilizado é limitado e os processos de produção 
são diretos, com pouca complexidade. Geralmente, a produção está diretamente 
ligada aos bens de consumo e os bens de ordens mais elevadas não estão tão 
distantes dos bens de consumo. Além disso, a divisão do trabalho ainda está em 
estágios iniciais. No entanto, em uma sociedade avançada, todas essas condições 
são alteradas. A experiência das sociedades primitivas não é suficiente para 
argumentar que, sob as condições modernas, podemos dispensar o uso da moeda. 
1.3 Economia capitalista 
Os conceitos de "capitalismo" e "produção capitalista" são frequentemente 
utilizados como slogans políticos, cunhados por socialistas com o propósito de crítica 
e denúncia, em vez de promover um entendimento aprofundado. Hoje, esses termos 
são geralmente evocados para retratar a exploração laboral pelas classes 
economicamente privilegiadas sobre as camadas menos favorecidas da sociedade. 
Do ponto de vista científico, são considerados obscuros e ambíguos, carecendo de 
 
11 
 
valor claro. Embora alguns concordem que podem indicar características do sistema 
econômico moderno, o que exatamente essas características são permanece uma 
questão em aberto. Portanto, seu uso é visto como prejudicial, e a sugestão de excluí-
los completamente da terminologia econômica, deixando-os para o domínio da 
retórica política, é digna de consideração séria (PASSOW, 1918). 
Se buscamos atribuir uma definição precisa a esses termos, devemos 
começar examinando o conceito de cálculos de capital. Ao analisar os fenômenos da 
economia contemporânea, nos concentramos na prática comercial, onde o termo 
"capital" é usado especificamente para fins de cálculo econômico. Ele é empregado 
para representar as propriedades de uma empresa, expressas em dinheiro ou por 
meio dele. Segundo Menger (1988), o propósito desses cálculos é determinar como o 
valor dessas propriedades se alterou ao longo das transações comerciais. A origem 
do conceito de capital está na contabilidade, que é o principal instrumento de 
racionalidade empresarial. O cálculo em termos monetários é fundamental para 
compreender o conceito de capital. 
Se utilizamos o termo capitalismo para descrever um sistema econômico em 
que a produção é guiada por cálculos de capital, ele adquire um significado específico 
para caracterizar a atividade econômica. Nesse sentido, não há problema em falar 
sobre o capitalismo e métodos capitalistas de produção, assim como expressões 
como o espírito capitalista. 
Dessa maneira, uma postura anticapitalista passa a ter um contexto bem 
definido. O capitalismo se opõe mais ao socialismo do que ao individualismo, embora 
às vezes seja erroneamente associado ao último. Geralmente, aqueles que 
contrastam o socialismo com o individualismo partem da suposição falsa de que há 
uma contradição entre os interesses individuais e os interesses da sociedade, 
sugerindo que o socialismo promove o bem-estar coletivo enquanto o individualismo 
serve apenas aos interesses pessoais. Essa é uma falácia sociológica grave, e 
devemos evitar qualquer linguagem que sugira essa ideia de forma velada. 
Segundo Richard Passow (1918), que emprega o termo capitalismo de forma 
precisa, a associação que ele tenta transmitir está geralmente ligada ao surgimento e 
à disseminação de empreendimentos em larga escala. Podemos concordar com essa 
afirmação, embora seja difícil reconciliá-la com o fato de que as pessoas 
frequentemente falam de "Grosskapital" (capital em grande escala) e "Grosskapitalist" 
 
12 
 
(capitalista em grande escala), bem como "Kleinkapitalisten" (pequenos capitalistas). 
No entanto, se considerarmos que foi o cálculo de capital que possibilitou o 
crescimento de empreendimentos e empreitadas gigantescas, isso de forma alguma 
contradiz as definições que apresentamos. 
 
2 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO 
A ciência social estuda os fenômenos sociais e o desenvolvimento, 
organização e operação da sociedade. O instrumento de estudo compreende o 
indivíduo em sua interação com outros membros da sociedade, sua conexão com o 
meio ambiente, o estabelecimento do poder político e econômico, além das dinâmicas 
raciais nas relações humanas, sexos e etnias. Esta ciência também realiza pesquisas 
acadêmicas para entender ciência no mundo de hoje (ALENCAR; AGUIAR, 2013). 
Assim como a antropologia, ciência política e a sociologia, a economia 
também é definida como uma ciência social uma vez que lida com o estudo do 
comportamento humano, investigando como pessoas e organizações na sociedade 
participam nos processos de produção, distribuição, troca e consumo de bens e 
serviços. Seu propósito é analisar questões econômicas e propor soluções para 
aprimorar a qualidade de vida dos envolvidos, que incluem famílias, governo e 
empresas. Esses agentes econômicos mantêm interações entre si, na forma como 
produzem e reproduzem as bases materiais de sua experiência social e cultural. Em 
suma, a economia estuda como se constitui a atividade econômica realizada por 
pessoas em uma estipulada sociedade. 
Segundo Alencar e Aguiar (2013), na análise da pesquisa em economia, para 
compreender o funcionamento do mundo econômico, os economistas identificam dois 
tipos de abordagens: a afirmativa positiva e a afirmativa normativa. Na afirmativa 
positiva, o economista assume uma postura científica, buscando informações 
relevantes para o ambiente econômico por meio de um processo de investigação 
científica que envolve observação
e medição, construção de modelos e testes desses 
modelos econômicos. São, portanto, declarações que descrevem o mundo econômico 
tal como é. Por exemplo, argumenta-se que para estabelecer um sistema de saúde 
eficiente e de alta qualidade é necessário investimento na indústria. 
Em abordagens normativas as informações e declarações publicadas não 
podem ser verificadas e demonstradas ‘cientificamente’, apenas se pode usar os 
 
13 
 
dados apresentados nessa forma de abordagem e as proposições que elas envolvem. 
Um exemplo é a necessidade de assegurar um acesso equitativo e universal a um 
sistema de saúde de alta qualidade, ou seja, ele faz afirmações sobre como deveria 
ser a economia. Nesse sentido, o economista deve comportar-se tomando sua ciência 
na concepção de uma proposta, de como ela pode ser base para uma política, por 
isso se diz que nessa abordagem o economista se porta como um político (ALENCAR; 
AGUIAR, 2013). 
A maioria dos cursos de fundamentos de economia procuram passar como a 
economia funciona (economia positiva), entretanto, considerando que o propósito é 
aplicar esses conceitos para aprimorar o bem-estar das pessoas. 
 
2.1 O início do pensamento econômico 
A economia, como teoria social, tem como base fatos e circunstâncias sociais. 
Ela se caracteriza por processos de mudança constante, ao percorrer do tempo e da 
história; partilhando com outras ciências sociais, a condição de ser produto das 
circunstâncias econômicas e dos contextos sociais em que são formados. Logo, uma 
teoria da economia se enraíza em um contexto social, político e cultural, como 
expressão e esforço de conhecimento desse contexto. 
Também é verdade que as pessoas podem agir, criar e mudar circunstâncias 
econômicas e sociais como também as ideias que tem sobre elas. Então, 
quando falamos sobre o pensamento econômico em suas diferentes linhas do tempo, 
analisamos como uma forma de pensar a economia se insere em um contexto 
histórico (ALENCAR; AGUIAR, 2013). 
Nos tempos antigos, as organizações que se desenvolveram 
economicamente nas civilizações, eram consideradas desenvolvidas naquela época. 
A Grécia é um exemplo onde as atividades de poupança baseada em uma economia 
doméstica, embasada na troca, como também ideias de natureza filosófica pelas quais 
os intelectuais gregos, como Platão e Aristóteles, buscavam pensar o sentido da vida 
econômica, que surgia, nesse contexto, ligada a questões filosóficas de caráter ético 
e político. 
Outra civilização notável em termos de atividade econômica é a romana, onde 
as ideias econômicas foram completamente subordinadas à política. Assim como na 
 
14 
 
Grécia, havia um ativo intercâmbio de mercadorias, com fatores favoráveis à 
expansão, como a navegação pelo Mediterrâneo e as companhias mercantis. Pode-
se afirmar, portanto, que as duas sociedades estão ligadas por uma tradição 
intelectual, já que a sociedade romana retoma e transforma vários aspectos da cultura 
grega. Além disso, as duas sociedades (grega e romana) estão marcadas por formas 
específicas de escravagismo, que estavam na base da forma de sua produção 
material (ALENCAR; AGUIAR, 2013). 
Na Idade Média surge o feudalismo, sobretudo na Europa Ocidental, devido 
ao advento de cidades urbanas, que dependem da agricultura para alimentos e 
matérias-primas. Durante o período feudal, o senhor feudal detinha a posse da terra 
(domínio), enquanto os servos trabalhavam para obter o direito de utilizá-la. Naquela 
época histórica, a maioria das terras estava sob posse do clero. Não existe mais a 
figura do escravizado como no período grego e romano, no entanto, a relação de 
servidão pode ser entendida como uma determinação do lugar e destino do sujeito na 
sociedade, essa sociedade desenvolve e assume formas econômicas que influenciam 
a reprodução da vida material. 
Com a baixa do feudalismo, entre os séculos XIV e XV, e a emancipação dos 
trabalhadores pelos senhores feudais, o mercado entre as cidades e o aparecimento 
de feiras começaram a intensificar-se, requerendo melhores meios de 
consumo, dinheiro, bens, etc. 
Nesse período, nasceram as Cruzadas, ajudando a aproximar a Europa da 
Ásia. Promovendo o comércio pelo mediterrâneo, surge no horizonte da vida material 
as formas do capitalismo nascente, método de produção que viria substituir o 
feudalismo medieval. 
2.2 O pensamento mercantilista 
De maneira geral, o processo de desenvolvimento econômico que converteu 
a Europa Ocidental no principal centro comercial do mundo, a partir do século XV, é 
atribuído a uma combinação de condições econômicas, políticas e sociais. No período 
feudal já existiam atividades comerciais envolvendo mercadores, banqueiros e 
artesãos, embora o comércio fosse predominantemente de produtos a granel. Com o 
tempo, houve o surgimento do processo de centralização do poder político, o qual 
impulsionou o desenvolvimento econômico na Europa Ocidental. Os Estados 
 
15 
 
nacionais emergentes optaram por políticas econômicas que promoviam a expansão 
do mercantilismo. 
Conforme destacado por Novais (1995), podemos interpretar o mercantilismo 
como uma concepção fundamental sobre a natureza dos bens econômicos, 
pressupondo que os lucros se originam no processo de circulação de mercadorias, 
resultando em vantagens para uma parte em detrimento da outra. O mercantilismo, 
de fato, não se caracteriza como uma política voltada para o bem-estar social, nos 
termos contemporâneos, mas sim busca o desenvolvimento nacional a qualquer 
custo. 
É fundamental compreender que as práticas mercantilistas variaram ao longo 
do tempo e entre diferentes regiões, não sendo aplicadas simultaneamente em todos 
os Estados europeus. No entanto, todas compartilhavam características comuns, 
como a intervenção do Estado na economia para regulamentá-la e fortalecer o país e 
sua riqueza nacional. 
Nesse período, ocorreu uma competição capitalista em busca de espaço 
econômico, dando origem a conceitos econômicos essenciais, tais como metalismo, 
balança comercial favorável, cameralismo e colonialismo. 
• Metalismo: refere-se à estratégia mercantilista de acumular metais preciosos 
para incrementar a riqueza de um Estado. Nesse contexto, a prosperidade 
estava diretamente associada à habilidade de angariar a maior quantidade 
possível de ouro e prata. 
• Balança comercial favorável: implicava buscar um excedente na balança 
comercial, ou seja, exportar em maior quantidade do que importar. Isso 
possibilitaria a entrada de riquezas, representada pelo ingresso da moeda 
metálica no Estado Nacional. 
• Cameralismo: refere-se ao tesouro real e designa as ações que visavam 
mitigar os impactos da excessiva fragmentação territorial. 
• Colonialismo: envolve a anexação de áreas na África, Ásia e América ao 
sistema econômico europeu, explorando novos territórios para obter matérias-
primas e acumular riquezas nos estados europeus. 
2.3 Evolução do sistema econômico: do feudalismo ao capitalismo 
 
16 
 
Entre os estudiosos de história econômica, existe um debate sobre a 
construção histórica da transição do modo de produção feudal para o modo de 
produção capitalista. Esse debate é marcado pelas contribuições de autores como 
Paul Sweezy e Maurice Dobb (1950), ambos inseridos na corrente marxista. Eles 
exploraram as relações de servidão dentro do contexto do feudalismo e investigaram 
o impacto do comércio na decadência desse modo de produção. 
De acordo com a definição apresentada, o feudalismo é descrito como uma 
forma de servidão na qual o produtor é obrigado, mediante o uso da coerção, a atender 
às demandas econômicas do senhor, independentemente de suas vontades. Essas 
demandas podem incluir a prestação de serviços ou o pagamento de tributos, seja em 
dinheiro ou em produtos (SWEEZY; DOBB, 1950). 
A abordagem proposta não descreve um sistema social, mas sim uma unidade 
familiar, com foco na servidão.
Há uma sugestão para que se especifique qual membro 
específico da família está sendo analisado, possivelmente como uma medida para 
evitar generalizações excessivas (SWEEZY; DOBB, 1950). 
Em resposta, são expressadas discordâncias em relação às críticas iniciais e 
são refutadas as ideias de que a servidão se restringe apenas à prestação 
compulsória de serviços, argumentando que abrange também a exploração do 
produtor por meio de coerção política-legal direta. Além disso, argumenta-se que não 
se identificou um sistema de produção específico, mas sim uma análise das relações 
entre o produtor e o mercado, buscando um sistema de produção no qual o produtor 
detém os meios de produção como uma unidade produtiva individual SWEEZY; 
DOBB, 1950). 
Quanto aos impactos do comércio como elemento desestabilizador da 
organização social do feudalismo, é explicado que forças externas, como o mercado 
e o comércio, desintegram o feudalismo à medida que os centros comerciais se 
desenvolvem e o trabalho é dividido, contrapondo-se à "ineficiência da organização 
senhorial de produção" (SWEEZY; DOBB, 1950). 
É explicado que houve uma interação entre duas forças, atribuindo-se mais 
importância às forças internas. Embora não se negue que o crescimento das cidades 
mercantis e do comércio tenha influenciado na desintegração do modo de produção 
feudal, argumenta-se que essa influência se manifestou no aumento dos conflitos 
 
17 
 
internos. Um exemplo é o crescimento do comércio, que "acelerou o processo de 
diferenciação social no pequeno modo de produção". 
Assim, de um ponto de vista, a transição do feudalismo para o capitalismo 
ocorreu devido à expansão comercial entre os séculos XI e XIV, sendo considerado 
um evento externo. Por outro lado, argumenta-se que a transição para outra forma de 
organização social ocorreu por meio de fatores internos, como a pressão dos senhores 
sobre os servos e os conflitos decorrentes da divisão social do período e suas lutas 
(SWEEZY; DOBB, 1950). 
2.4 O pensamento marxista e o capitalismo 
Karl Marx (1988) em sua obra intitulada “O Capital”, propõe que o trabalho é 
essencial para a sociedade, e é dessa interação que se origina a teoria do valor-
trabalho entre os seres humanos e as formas de trabalho por eles assumidas. É 
através desse processo que se tornava possível o lucro e a riqueza no sistema 
capitalista. 
Primeiro, Marx delineia a distinção entre trabalho e força de trabalho. Os 
trabalhadores vendem aos capitalistas ou proprietários dos meios de produção sua 
força de trabalho, o valor está na capacidade de trabalho do indivíduo, não no ato 
laboral em si. Com base nesse princípio, a força de trabalho é tratada como uma 
mercadoria devidamente comercializada para o patrão. 
A remuneração atribuída ao controle do trabalhador é exercida pelo capitalista, 
limitando-se ao necessário para a sobrevivência do trabalhador. Consequentemente, 
Marx argumenta que o trabalhador não recebe o equivalente ao valor real gerado 
durante um determinado período. A "diferença" entre o valor efetivamente produzido 
e o valor pago pelo trabalho, apropriada pelo capitalista, é denominada mais-valia no 
pensamento marxista. Surge assim a luta de classes, onde os capitalistas buscam 
aumentar sua renda e lucros mediante a ampliação da produção e pagamento de 
salários de subsistência, resultando em uma exploração da força de trabalho e 
sinalizando um caminho em direção a uma revolução social (ALENCAR; AGUIAR, 
2013). 
Continuando sua teoria, Marx conclui que o trabalho era a essência de todos 
os valores que se chocam com a concepção classicista dessas forças naturais, 
equilibrando a oferta e demanda no mercado. 
 
18 
 
Nesta definição, as mercadorias, ou seja, os bens podem possuir valores de 
uso distintos, mas ao serem efetivamente trocados, apresentam o mesmo valor de 
troca. Para estabelecer essa igualdade, é necessário medir a quantidade de trabalho 
incorporada às mercadorias ao longo do tempo de produção, logo, o trabalho é 
socialmente necessário para sua fabricação (ALENCAR; AGUIAR ,2013). 
A teoria de Marx questionava a lei clássica do "ajuste natural" entre oferta e 
procura. Em sua visão, o mercado era influenciado pela quantidade produzida. Se o 
preço de venda fosse inferior ao custo de produção, isso resultaria em prejuízo para 
o fabricante. Por outro lado, se o preço de venda ultrapassasse o custo de produção, 
o mercado falharia devido à atração de concorrentes, potencialmente levando à 
superprodução e à redução de preços. Nessa perspectiva, a produção determinava o 
equilíbrio de mercado e sua incompatibilidade. 
Marx também descobriu que o objetivo do capitalista é extrair mais-valia dos 
trabalhadores por meio da exploração de seu trabalho, aumentando assim 
sua produção. Sem a divergência entre o valor de troca do trabalho e a diferença de 
salários subsistência e seu valor de uso (o resultado, o fruto do seu trabalho), 
os capitalistas não estarão interessados em comprar trabalhadores, pois suas 
mercadorias não têm preços concorrenciais no mercado. 
3 ORIGENS DO LIBERALISMO ECONÔMICO 
3.1 Definição de liberalismo 
Nietzsche argumentou que apenas seres históricos poderiam permitir uma 
definição precisa no verdadeiro sentido da palavra. Portanto, o liberalismo, sendo um 
fenômeno histórico complexo, dificilmente pode ser definido de forma concisa. Uma 
vez que moldou significativamente o mundo moderno, o liberalismo reflete a 
diversidade da história moderna, abrangendo desde seus estágios mais antigos até 
os mais recentes. 
O escopo das ideias liberais engloba uma ampla gama de pensadores com 
diferentes formações e motivações, incluindo Tocqueville, Mill, Dewey, Keynes, 
Hayek, Rawls, bem como seus precursores como Locke, Montesquieu e Adam Smith. 
Sugerir uma teoria abrangente do liberalismo, tanto antigo quanto moderno, requer 
uma descrição comparativa de suas várias manifestações ao longo da história 
(MERQUIOR, 2016). 
 
19 
 
No influente livro de 1987, intitulado "A Rebelião das Massas", o filósofo 
espanhol Ortega y Gasset (1987) proclamou o liberalismo como "a forma suprema de 
generosidade", caracterizando-o como o direito garantido pela maioria e, portanto, o 
mais nobre apelo já feito no planeta. Esta declaração de Ortega serve como uma 
introdução adequada para nossa abordagem histórica, pois une de forma hábil os 
significados moral e político da palavra liberal. 
Embora Ortega claramente se refira ao aspecto político do liberalismo, as 
regras liberais do jogo entre maioria e minoria, sua observação também resgata o 
significado moral primário do adjetivo liberal, conforme definido em dicionários 
modernos. Ao conectar o sentido moral da palavra ao seu contexto político, Ortega 
ressalta a origem do termo liberalismo como um rótulo político que emergiu nas Cortes 
espanholas de 1810, durante um parlamento que se rebelou contra o absolutismo. 
Segundo Merquior (2016) durante seu apogeu no século XIX, o movimento 
liberal se manifestava em dois níveis distintos: no âmbito do pensamento e na esfera 
da sociedade. Este movimento consistia em um conjunto de doutrinas e princípios que 
sustentavam o funcionamento de diversas instituições, tanto antigas (como os 
parlamentos) quanto novas (como a liberdade de imprensa). Historicamente, o 
liberalismo (na prática, não apenas no nome) teve origem na Inglaterra durante a luta 
política que culminou na Revolução Gloriosa de 1688, um evento que visava a 
tolerância religiosa e o governo constitucional. Estes dois objetivos tornaram-se 
fundamentais para o sistema liberal, difundindo-se ao longo do tempo por todo o 
Ocidente. 
Durante o século que antecedeu a Revolução Francesa de 1789-1799, o 
protoliberalismo estava estreitamente ligado ao que era conhecido como o "sistema 
inglês", um modelo de governo caracterizado por um poder monárquico limitado e um 
considerável grau
de liberdade civil e religiosa. Na Inglaterra, embora o acesso ao 
poder fosse controlado por uma oligarquia, o exercício do poder arbitrário foi contido, 
resultando em uma maior liberdade geral do que em qualquer outra parte da Europa. 
Visitantes estrangeiros perspicazes, como Montesquieu, que visitou o país em 1730, 
reconheceram que na Inglaterra a combinação entre lei e liberdade promovia uma 
sociedade mais saudável e próspera do que as monarquias continentais ou as 
repúblicas da antiguidade. 
 
20 
 
Os pensadores do Iluminismo escocês, como David Hume, Adam Smith e 
Adam Ferguson, identificaram os benefícios de um governo submetido à lei e da 
liberdade de expressão, derivados das atividades espontâneas de uma sociedade civil 
estratificada, mas ainda assim coesa. A comparação com a Grã-Bretanha convenceu 
muitos adeptos do protoliberalismo de que o governo deveria buscar uma intervenção 
mínima, focando apenas na manutenção da paz e segurança. 
O liberalismo, originado como uma reação aos abusos do poder estatal, 
visava estabelecer tanto a limitação quanto a divisão desse poder. O jurista e teórico 
político alemão Carl Schmitt, um crítico do liberalismo, resumiu essa ideia em sua 
Teoria Constitucional de 1928. Ele argumentava que a constituição liberal se baseia 
em dois princípios fundamentais: o princípio distributivo e o princípio de organização. 
Segundo o princípio distributivo, a esfera de liberdade individual é, em teoria, ilimitada, 
enquanto o poder de intervenção do governo nessa esfera é, em princípio, limitado. 
Em outras palavras, tudo o que não é proibido pela lei é permitido, colocando o ônus 
da justificação sobre a intervenção estatal, não sobre a ação individual (MERQUIOR, 
2016). 
Quanto ao princípio de organização, Schmitt afirmava que seu objetivo era 
fazer prevalecer o princípio distributivo, estabelecendo uma divisão de poder (ou 
poderes) e uma demarcação clara das competências estatais entre os poderes 
legislativo, executivo e judiciário, a fim de conter o poder por meio do equilíbrio de 
poderes. Essa divisão da autoridade é projetada para manter o poder estatal limitado 
(MERQUIOR, 2016). 
Após a Revolução Francesa e o período de ditadura jacobina, o pensamento 
liberal, agora reconhecido por esse nome, confrontou novos desafios à liberdade. 
Enquanto o liberalismo burguês havia lutado contra os privilégios aristocráticos, ele 
não estava disposto a aceitar plenamente uma ampla extensão do sufrágio e as 
implicações democráticas que isso traria. Assim, a ordem civil liberal adotou o que 
Benjamin Constant, um dos principais teóricos liberais do início do século XIX, chamou 
de "le juste milieu", um centro político, situado entre o antigo absolutismo e a 
emergente democracia. O liberalismo passou a representar a doutrina de uma 
monarquia limitada e de um governo popular também limitado, pois o sufrágio e a 
representação política estavam restritos aos cidadãos com prosperidade econômica. 
 
21 
 
De acordo com Merquior (2016) esse sistema burguês, entretanto, foi apenas 
uma fase transitória na história, logo substituída pelo sufrágio universal masculino. O 
surgimento da democracia no mundo ocidental industrializado a partir da década de 
1870 representou a consolidação definitiva das conquistas liberais, como a liberdade 
religiosa, direitos humanos, ordem legal, governo representativo responsável e a 
legitimação da mobilidade social. 
A sociedade vitoriana tardia, os Estados Unidos pós-guerra e a Terceira 
República francesa inauguraram amplas e duradouras experiências em democracia 
liberal, uma combinação política e histórica. Países como Suíça, Holanda e as nações 
escandinavas seguiram o mesmo caminho, muitas vezes antes. A Itália unificada 
adotou a política liberal, enquanto a Espanha conseguiu estabilizar um governo liberal. 
As grandes monarquias centro-europeias, Áustria e Alemanha, também abandonaram 
o regime autocrático em favor de constituições semi liberais. Nem todas as conquistas 
democráticas foram alcançadas pelas forças explicitamente liberais. 
Os tories ingleses durante o governo de Disraeli, o reacionário Bismarck e o 
autocrático Napoleão III, introduziram ou apoiaram a introdução do sufrágio masculino 
quase universal, muitas vezes contra a vontade das elites liberais. Isso mostra que a 
lógica da liberdade por vezes ultrapassa os interesses e preconceitos dos próprios 
partidos liberais, sugerindo que a história às vezes promove o liberalismo mesmo 
contra os próprios liberais. Ao adotar a democracia representativa e o pluralismo 
político, tanto os conservadores quanto os socialistas, independentemente de seus 
objetivos específicos, claramente aderiram aos princípios liberais. 
No século XX, houve uma interrupção no avanço contínuo do liberalismo 
democrático, especialmente devido aos conflitos como as guerras mundiais que 
abalaram a Europa entre 1914 e 1945, levando ao colapso de democracias 
emergentes como as da Itália e Alemanha. Além disso, os desafios da modernização 
na América Latina e em outras regiões resultaram em períodos de retrocesso 
democrático entre meados da década de 1960 e meados dos anos 80. No entanto, a 
democracia liberal permaneceu como o sistema predominante nas sociedades 
industrializadas, como demonstrado pela reconstrução bem-sucedida após à 
Segunda Guerra Mundial na Alemanha, Itália e Japão, além do processo de 
modernização política em Estados recém-industrializados (MERQUIOR, 2016). 
 
22 
 
Em 1989, ocorreu o colapso do socialismo estatal, que há muito tempo era 
considerado o principal concorrente da democracia liberal. Este evento seguiu um 
processo doloroso de reformas e crise de identidade. Enquanto no Ocidente, surgiram 
debates sobre uma suposta crise cultural, poucos propuseram seriamente uma 
mudança completa nas instituições. Ao longo de mais de um século, a democracia 
tem sido considerada o padrão de legitimidade no mundo moderno. Agora, há a 
percepção de que o pluralismo social e político das democracias liberais é o princípio 
de governo mais legítimo em sociedades modernas. 
Segundo Montesquieu (1982) o liberalismo, conforme descrito pelo italiano 
Luigi Einaudi, é caracterizado por dois elementos: o governo baseado na lei e a 
diversidade de opiniões e crenças, desafiando as noções de moralidade única 
defendidas pelos conservadores e pelas utopias radicais. Montesquieu, em "Do 
Espírito das Leis" (1982), sugeriu que a Inglaterra moderna era palco de uma batalha 
contínua entre diversas paixões. 
Enquanto o liberalismo clássico, representado por Adam Smith, acreditava 
que a competição levaria a um equilíbrio social semelhante ao descrito por Newton, 
liberais posteriores, como Max Weber, enfatizaram a irreconciliabilidade dos conflitos 
de valores, ao invés da busca por um equilíbrio absoluto. Existem diferentes 
interpretações do liberalismo, algumas enfatizando a harmonia e outras a 
discordância, mas em ambos os casos, o liberalismo reconhece a natureza contínua 
da luta humana. 
Com o tempo, a noção de liberalismo passou por significativas mudanças e 
variações. Atualmente, o termo "liberal" tem diferentes conotações na Europa 
continental, América Latina e nos Estados Unidos. Nos EUA, desde o New Deal de 
Roosevelt, o liberalismo adquiriu características mais próximas à social-democracia, 
com uma ênfase em igualdade e intervenção estatal mais ampla do que defendido 
pelos liberais tradicionais. Essa mudança de significado foi um marco importante na 
história do conceito de liberalismo. 
Por outro lado, a renovação contemporânea do liberalismo, tanto nos EUA 
quanto em outros lugares, muitas vezes se afasta significativamente do seu 
significado tradicional americano. Ao longo de quase meio século, o liberalismo 
evoluiu para um campo de ideias e posições altamente diversificado, mesmo antes 
 
23 
 
das influências de figuras como Keynes e
Roosevelt, que modificaram profundamente 
o legado do século XIX. 
3.2 A origem do pensamento econômico 
A ciência econômica se desenvolveu nos últimos cinco séculos, em paralelo 
ao crescimento das práticas comerciais e à formação de estados-nações. Entretanto, 
é relevante notar que no passado antigo, o pensamento econômico teve origens 
filosóficas, como evidenciado pela palavra "economia" que tem raízes na Grécia 
antiga, onde "oikonomikos" se referia ao "gerenciamento das questões domésticas". 
Nesse contexto, filósofos gregos como Aristóteles e Platão deram importantes 
contribuições ao pensamento econômico. 
Aristóteles, no período entre 384 e 322 a.C., diferenciava as atividades 
econômicas em "artes naturais e não naturais de aquisição". Ele considerava como 
atividades naturais de aquisição aquelas relacionadas à agricultura, pesca e caça, 
destacando sua importância na produção de bens essenciais para a vida. Por outro 
lado, as aquisições não naturais envolviam a obtenção de bens além das 
necessidades básicas, algo que Aristóteles desaprovava, podendo ser equiparado, 
nos dias atuais, a um consumo excessivo e desnecessário (BATISTA, 2012). 
Platão, um dos principais discípulos de Sócrates, discutiu em seu diálogo "A 
República e as Leis" sobre a "Cidade-Estado-Ideal", enfatizando a importância de um 
Estado governado por leis e da especialização dos indivíduos para o progresso da 
sociedade e uma convivência harmoniosa entre os cidadãos. Essa visão em relação 
à especialização humana influenciou posteriormente teorias econômicas. 
Durante a Idade Média, a Igreja Católica Romana exerceu uma forte influência 
no pensamento econômico, especialmente através das ideias de São Tomás de 
Aquino em relação ao conceito de "preço justo". Ele definiu esse termo como um preço 
em que nem o comprador nem o vendedor obtêm vantagem sobre o outro. Além disso, 
a Igreja condenava a cobrança de juros, considerada como "usura", com base em 
textos bíblicos como o Livro de Gênesis, que mencionava "comerás teu pão com o 
suor do teu rosto". O lucro obtido sem trabalho era visto como contrário aos 
ensinamentos católicos da época e poderia ser punido. 
 
24 
 
A ciência econômica progrediu ao longo dos séculos, exercendo impacto 
significativo na gestão das atividades comerciais por meio de diversas escolas, teorias 
e pensadores ao longo da história, como mencionado por Batista (2012). 
3.3 Liberalismo econômico 
Embora tenha começado a surgir no final do século XVII, o liberalismo só se 
estabeleceu como a principal corrente de pensamento econômico durante o século 
XVIII. Seus primeiros defensores opuseram-se às restrições ao comércio 
internacional, como tarifas, monopólios e regulamentações, argumentando que ações 
individuais trariam benefícios para toda a sociedade. Essa teoria social sustentava 
aspirações tanto econômicas quanto políticas liberais. 
Juntos, Dudley North e David Hume refutaram o argumento mercantilista de 
que uma balança comercial favorável era essencial. North argumentou que o comércio 
ocorria porque era benéfico para ambas as partes e que regulamentações apenas 
restringiriam esse comércio, diminuindo a riqueza real. Por sua vez, Hume destacou 
que um excedente nas exportações seria compensado por importações de moeda, o 
que aumentaria a oferta de moeda e causaria inflação. Isso, por sua vez, levaria a 
uma redução nas exportações até que um equilíbrio fosse alcançado com as 
importações, impossibilitando manter tanto uma balança comercial positiva quanto um 
influxo constante de metais (NORTH, 1995). 
Durante esse período, Bernard de Mandeville (2018) causou controvérsia ao 
publicar seu livro "A fábula das abelhas", um poema satírico. Nele, Mandeville 
argumentava que os avanços da civilização eram resultados de vícios, não de 
virtudes, e que o progresso derivava de interesses egoístas individuais, não de um 
impulso natural para o trabalho árduo ou de sentimentos de benevolência em relação 
aos outros. Ele sugeriu que a prosperidade econômica seria promovida ao permitir 
que os indivíduos seguissem suas motivações egoístas, desde que isso não 
comprometesse a justiça. 
Na década de 1720 segundo Fusfeld (2010), Richard Cantillon sintetizou as 
ideias dos escolásticos do século XIII sobre mercados competitivos, desenvolvendo 
uma versão rudimentar do que hoje é conhecido como Teoria do Equilíbrio Geral. Ele 
argumentou que o autointeresse racional dos comerciantes em um sistema de 
 
25 
 
mercados competitivos, onde os preços são livremente ajustados, resultaria em uma 
rede de preços e quantidades que se harmonizam entre si. 
Segundo Fusfeld (2000), John Locke estabeleceu uma ligação entre trabalho e 
geração de riqueza, incorporando esse conceito ao desenvolvimento da noção de 
propriedade privada, que se tornaria um dos fundamentos centrais do pensamento 
liberal. Segundo Locke, quando as pessoas aplicam seu trabalho aos recursos 
naturais, estão adicionando uma parte de si mesmas ao produto final, tornando-o, 
assim, "sua" propriedade. 
Segundo Fusfeld: 
“[...] todo homem tem uma propriedade em si próprio. O esforço de seu corpo 
e o trabalho de suas mãos, podemos dizer que são legitimamente seus. 
Portanto, a tudo que ele retirar do Estado em que a natureza tiver gerado e 
deixado à sua disposição, ele terá misturado seu trabalho e acrescentado 
algo que é seu e, por essa razão, transformando-se em propriedade sua.” 
(FUSFELD, 2000, p. 31). 
Em conjunto, os princípios da teoria do ajustamento natural de North e Hume, 
a ênfase na motivação egoísta de Mandeville, a abordagem inicial da teoria do 
equilíbrio geral de Cantillon e a defesa da propriedade privada por Locke formaram a 
base do liberalismo econômico. A concepção de que o autointeresse racional, 
combinado com um mercado competitivo e direitos de propriedade bem definidos que 
protegem e disciplinam, poderia ser a base para uma ordem social baseada em ações 
individuais estava começando a surgir. 
Posteriormente, outros economistas liberais destacaram a relação entre 
trabalho, riqueza e propriedade, argumentando que a proteção da propriedade era 
fundamental para o crescimento econômico. Eles afirmavam que sem essa proteção, 
o incentivo ao trabalho e à produção de riqueza seria reduzido. Portanto, acreditavam 
que a economia poderia funcionar sem a necessidade de regulamentações adicionais, 
sendo responsabilidade do Estado garantir a proteção da propriedade, aplicar a justiça 
e defender o país. 
Os economistas liberais defendiam que a fonte principal de riqueza estava no 
trabalho humano. Eles argumentavam que quase todos os recursos naturais 
precisavam ser processados pelo esforço humano antes de poderem satisfazer as 
necessidades humanas. Portanto, os produtos naturais não teriam valor econômico 
sem a intervenção do trabalho humano para transformá-los em bens negociáveis. 
 
26 
 
Essa teoria, conhecida como teoria do valor-trabalho, enfatiza que a produção 
de riqueza visa satisfazer os desejos individuais. Segundo essa visão, a geração de 
riqueza está intrinsecamente ligada às necessidades básicas humanas, que motivam 
as pessoas a trabalharem. Assim, quanto maior o estímulo ao trabalho, maior será a 
produção de riqueza e mais rapidamente a economia progredirá em direção a uma 
sociedade mais próspera. 
Em resumo, apesar das variações entre os pensadores liberais, havia um 
consenso de que a libertação da iniciativa individual das restrições impostas pelo 
mercantilismo, a valorização do trabalho como motor da produção de riqueza e do 
crescimento econômico, e a preservação dos direitos de propriedade como 
incentivadores do trabalho, eram os pilares fundamentais da política econômica 
liberal. 
4 OS FISIOCRATAS E A ESCOLA CLÁSSICA 
4.1 Os fisiocratas 
Adam Smith (1723-1790) 
Filho de um inspetor alfandegário, Adam Smith iniciou seus estudos em 
economia na sua cidade natal, Kirkcaldy,
na Universidade de Glasgow aos 14 anos, 
graduando-se em 1740. Smith também obteve conhecimento em filosofia, na 
prestigiada Universidade de Oxford, na Inglaterra (ALENCAR; AGUIAR, 2013). 
Em 1767, Adam Smith iniciou os trabalhos em seu livro mais famoso, A 
Riqueza das Nações, que foi publicado em 1776, lançando as bases para a formação 
do liberalismo, a teoria da livre concorrência e o conceito do livre mercado. Smith 
morreu em 1790, e seu trabalho tem sido discutido e estudado por economistas de 
todo o mundo. 
Este trabalho trata da codificação da teoria econômica e constrói modelos. É 
perfeitamente consistente, adequado à situação econômica vigente. Smith explicou a 
realidade econômica por teorias nunca descritas por qualquer pensador, 
extremamente inovadora, como por exemplo: teoria do valor e teoria do benefício. 
Entre outras contribuições, este autor modelou conexões entre classes sociais, 
sistema de produção, comércio, circulação de dinheiro, distribuição de recursos, entre 
outros. 
 
27 
 
Adam Smith concordou em diversos aspectos com os princípios da 
fisiocracia, mas discordava da noção de que a riqueza vem apenas do setor agrícola 
e de uma natureza entendida como fonte natural de toda riqueza possível. Por isso, 
em sua perspectiva, Smith sustentava a visão de que não apenas a natureza, mas 
também outros recursos como os tratores, equipamentos agrícolas, fertilizantes, a 
genética e intervenções técnicas variadas também determinam o desenvolvimento da 
economia. Nos clássicos, esses instrumentos eram chamados de fatores técnicos e 
não eram estudados pelos autores do campo fisiocrata. Além disso, havia outro 
desacordo entre fisiocratas e os pensadores do liberalismo clássico era o 
desenvolvimento econômico, que para os fisiocratas estava reduzido ao campo da 
agricultura; enquanto para o liberalismo, posto em cena por Smith, a indústria também 
é criadora de riqueza (ALENCAR; AGUIAR, 2013). 
Robert Malthus (1766-1834) 
Thomas Robert Malthus, um economista britânico, filho de um grande 
proprietário de terras, frequentou uma renomada instituição de ensino em Cambridge, 
Inglaterra, a partir de 1784. Em 1799, embarcou em uma extensa jornada de estudos 
pela Europa. 
A teoria malthusiana postula que a população tende a crescer mais rápido do 
que a taxa de produção de alimentos, resultando em um desequilíbrio entre população 
e recursos alimentares. Logo, para manter a estabilidade econômica são necessárias 
políticas que visem controlar o crescimento populacional. 
Desta maneira, pode-se afirmar que, sendo a capacidade de aumento da 
população indefinidamente maior que a capacidade da terra de produzir meios de 
subsistência para o homem, é necessária a intervenção do Estado para que haja um 
equilíbrio entre o consumo e a produção. Essa situação poderia ser equilibrada por 
dois tipos de fatores que Malthus denominava obstáculos primordiais e obstáculos 
evitáveis (ALENCAR; AGUIAR, 2013). 
No primeiro fator, guerras, epidemias, escassez alimentar e carência 
nutricional aumentaram a taxa de mortalidade, contribuindo para o equilíbrio da 
economia; em segundo lugar, era necessário popularizar métodos contraceptivos para 
reduzir o aumento populacional, o que poderia desacelerar o progresso econômico 
vigente naquela era. 
 
28 
 
Portanto, no paradigma malthusiano, a eficácia econômica está vinculada à 
demanda, indicando que, para Malthus, a humanidade tem a tendência de consumir 
em larga escala em relação à sua produção, resultando em um desequilíbrio 
inevitável, pois o crescimento populacional ultrapassa a capacidade de produção de 
alimentos. 
Ele foi um economista clássico, que recomendava a intervenção do Estado, 
visando reduzir o índice desemprego na Europa. Ainda nesse sentido, para contornar 
o problema da defasagem entre população e alimentos, propunha a restrição dos 
programas assistenciais públicos de caráter caritativo e a abstinência sexual da 
população menos favorecida da sociedade, denominando de “sujeição moral” 
(PASINETTI, 1979). 
Malthus foi polêmico em seu pensamento econômico, mas contribuiu de forma 
relevante, como o incentivo à produção em acompanhar o aumento da população, que 
precisava ser gerenciado para não conduzir a um desequilíbrio, entre a taxa de 
emprego e o nível de vida da população (CARNEIRO, 1997). 
Thomas Malthus (1776-1836) apresentou uma visão pessimista em oposição 
às teorias contemporâneas. Sua teoria populacional sustenta que a população é 
necessariamente limitada pelos recursos de subsistência disponíveis. No contexto 
social, não há espaço para um aumento constante da população. Malthus ilustra o 
crescimento populacional por meio de uma progressão geométrica com uma razão de 
dois: 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128, 256. Em contrapartida, o aumento dos meios de 
subsistência segue uma progressão aritmética, também com uma razão de dois: 2, 4, 
6, 8, 10, 12, 14, 16. 
Com intervalos correspondentes a 25 anos, ocorre um descompasso 
inevitável, resultando em proporções alarmantes. Malthus advogava pelo 
"constrangimento moral" como método preferido para limitar o crescimento 
populacional. Ele argumentava que os indivíduos menos favorecidos 
economicamente não deveriam se casar e formar famílias sem garantir os meios de 
sustento; do contrário, deveriam optar pela castidade ou celibato. 
David Ricardo (1772-1834) 
David Ricardo foi um dos principais pensadores clássicos 
de sua época. Nascido em Londres em 1772, foi considerado um seguidor dos 
 
29 
 
pensamentos de Adam Smith. Suas principais obras seguem a linha de pensamento 
econômico que se desenvolve para seu tempo, como: teoria do lucro, política 
monetária, teoria, valor, comércio internacional, teoria do aluguel da terra e alocação. 
É importante notar que muitos desses tópicos ainda hoje são debatidos (ALENCAR; 
AGUIAR, 2013). 
Ricardo viveu o mesmo período de turbulência e agitação social que Malthus, 
e até aceitou a teoria, que abordava sobre a natureza e as causas da pobreza. No 
entanto, as ideias econômicas de Ricardo divergiam das de Malthus em algumas 
questões teóricas. Ricardo começou seu pensamento conceituando valor e riqueza, 
considerando que esta última consistia na soma da quantidade de bens que uma 
pessoa possuía. Esses bens, chamados por Ricardo de necessários, úteis e 
agradáveis, eram distintos do valor, pois este não dependia da abundância, mas sim 
da dificuldade ou facilidade de produção do bem. Em outras palavras, o valor era 
medido pela quantidade de trabalho necessária para produzir um bem (ALENCAR; 
AGUIAR, 2013). 
Logo, o autor concentrou seus pensamentos na dinâmica das atividades 
agrícolas, focado em disputas de distribuição. A agricultura industrial, incentivava a 
importação de grãos, que eram proibidos no contexto da época, ele abordou questões 
como a livre concorrência e a disponibilidade de mão de obra a preços acessíveis. 
Avançou para análises comparativas, impulsionadas pelo aumento do comércio 
internacional de mercadorias. Reconhecido como um dos principais pensadores 
econômicos, suas ideias eram consideradas contemporâneas naquela era. 
Jean-Baptiste Say 
Jean-Baptiste Say (1767-1832) desempenhou múltiplos papéis como 
comerciante, jornalista, industrial, funcionário e homem político. Inspirado nas 
doutrinas de Adam Smith, Say aprimorou e disseminou suas ideias, apresentando 
uma visão otimista em sua obra, possivelmente influenciada pela situação da França, 
caracterizada por maior abundância de terras e divisão mais ampla da propriedade do 
que a Inglaterra de Ricardo e Malthus. 
Ele colocou a indústria como o epicentro dos fenômenos de produção, 
elogiando o empresário industrial. Destacou que produzir não se limita a criar objetos 
materiais, mas sim a gerar utilidade, transformando as coisas para atender aos 
 
30 
 
desejos e necessidades. Seu argumento foi importante para a superação
das ideias 
fisiocratas. A Lei dos Mercados, formulada por Say, proclama que o empresário que 
gera valores só terá sucesso se outros indivíduos tiverem meios para adquiri-los, seja 
por meio de outros valores, produtos ou frutos de sua própria indústria, capitais e 
terras. De maneira paradoxal, é a produção que abre mercados para os produtores 
(MEDEIROS; MAY, 2015) 
A Lei dos Mercados destaca que a função do dinheiro nas trocas é 
momentânea e episódica, uma vez que, após as transações, os produtos são pagos 
por outros produtos. Cada produto produzido cria automaticamente mercado para 
outros, exaltando a produção e sugerindo moderação no consumo. Essa lei também 
contribui para a compreensão dos mecanismos de recessão e expansão, pois a 
diminuição da produção de um bem retira mercados de outros produtos, enquanto o 
aumento da produção de um bem cria mercados para os demais. 
4.2 Evolução das escolas econômicas 
A Escola Fisiocrática, surgida na França no século XVIII, representa a primeira 
corrente econômica. Segundo Feijó (2007), essa escola advogava pela autonomia do 
mercado e sustentava que as vantagens individuais são fundamentais para o 
funcionamento harmonioso da economia. Os fisiocratas se opunham às intervenções 
governamentais e adotavam como lema o conhecido refrão "laissez-faire, laissez-
passer", que preconiza a liberdade na produção e no comércio. A crítica ao controle 
das autoridades não implica que os indivíduos estejam isentos de submissão a alguma 
forma de poder. 
Os fisiocratas acreditavam na crença de uma ordem divinamente planejada e 
desejada por Deus, considerando-a como a mais favoravel. Portanto, defendiam que 
essa ordem deveria ser deixada livre para alcançar o progresso econômico e social. 
Para a escola, contrariar as leis (naturais e divinas), regulamentos ou sistemas seria 
inútil, pois o discurso fisiocrático aponta para um ápice natural da economia, e quem 
se opõe inevitavelmente se autodestrói (BELL, 1976). 
A Escola Econômica Clássica, que emergiu no final do século XVIII, é 
caracterizada por meio da compreensão do equilíbrio automático entre as forças de 
oferta e demanda no mercado, mediado pelos preços (HUGON, 1956). Smith (1776) 
 
31 
 
introduziu o conceito da "mão invisível" para explicar a auto-regulação característica 
do sistema econômico. 
A Escola Econômica Clássica se mostra desfavorável à intervenção estatal na 
atividade econômica. Conforme a perspectiva de Adam Smith, o papel do Estado se 
limitaria à garantia da segurança, administração da justiça e execução/manutenção 
de obras públicas. Essa concepção é partilhada por David Ricardo, que critica as leis 
sobre cereais impostas pelo governo inglês aos produtores. De modo análogo, 
Thomas Malthus também expressa desaprovação à atuação estatal ao implementar a 
Lei dos Pobres na Inglaterra (HUGON, 1956). 
As análises das escolas econômicas foram alvos de críticas por parte da teoria 
marxista. Ao examinar a exploração da classe capitalista sobre o proletariado, Marx 
destaca o papel do Estado como mediador nas relações de produção. Ele adverte que 
a classe desapossada dos meios de produção poderia sofrer uma exploração ainda 
maior se o Estado não intervisse por meio de regulamentações e fiscalizações das 
relações existentes. 
Nesse cenário, a Escola Econômica Clássica considerava a política de não 
interferência como a mais desejável. Acreditava-se que não deveria haver intervenção 
nas leis econômicas naturais para alcançar os máximos benefícios sociais. Conforme 
Walras (1986), o sistema se ajustaria automaticamente. O autor defendia uma visão 
benevolente da concorrência, próxima à ideia da "mão invisível" proposta por Smith. 
Ele via a concorrência como um mecanismo que conduziria os agentes econômicos a 
realizar trocas mais vantajosas, defendendo a eliminação do protecionismo e da 
intervenção estatal em setores nos quais a livre concorrência pudesse ser 
estabelecida. O propósito da concorrência era neutro e desejável para atingir o 
equilíbrio (WALRAS, 1986). 
Finalmente, a Escola Econômica Keynesiana, emergida no século XX com a 
publicação da obra "Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda", adota uma 
perspectiva oposta à análise clássica e neoclássica sobre o debate. Para Keynes, é 
imprescindível que o Estado intervenha na economia por meio de políticas 
macroeconômicas, com o objetivo de promover o equilíbrio econômico, uma vez que 
o sistema não possui a capacidade intrínseca de se autoajustar (HUGON, 1956). 
A Escola Keynesiana desafiou a visão clássica em três pontos essenciais: na 
concepção de equilíbrio automático; na alegada rigidez dos preços; e na teoria do juro 
 
32 
 
fundamentada na preferência pela liquidez. Keynes argumentou que o sistema 
capitalista não poderia operar automaticamente e manter o pleno emprego. Ele 
observou que, quando deixado à sua própria sorte, o sistema poderia encontrar um 
equilíbrio em um nível inferior ao pleno emprego de mão de obra e recursos. Assim, a 
responsabilidade recairia sobre o governo para participar da formulação da política 
econômica, abrangendo a política monetária, fiscal e os gastos públicos. O propósito 
dessas políticas era corrigir as desigualdades e os desequilíbrios resultantes do 
fracasso do sistema autorregulador (BELL, 1976). 
Atualmente, o governo intervém na educação por meio de programas 
extensionistas, como é o caso da Universidade Sem Fronteiras, financiada pelo 
governo estadual. 
4.3 A escola clássica 
A Escola Clássica, fundamentada nos pensamentos de Adam Smith e David 
Ricardo, representa uma corrente de pensamento econômico de significativa 
importância. A consolidação da Economia como uma disciplina científica integral se 
deve a essa escola, que centralizou sua abordagem teórica no valor, identificando-o 
como derivado exclusivamente do trabalho em geral. 
 Conforme apontado por Paul Singer (1985, p. 7), David Ricardo, em conjunto 
com Adam Smith, destaca-se como o principal expoente da Escola Clássica de 
Economia Política. As formulações inovadoras de Ricardo no início do século passado 
continuam a ser a base para a maioria dos debates teóricos atuais entre economistas, 
abrangendo questões como teoria do valor, distribuição de renda, comércio 
internacional e sistema monetário. 
A Escola Clássica, além de fundamentar-se na teoria do valor-trabalho, teve 
como alicerce os princípios filosóficos do liberalismo e do individualismo. Essa 
corrente de pensamento econômico também estabeleceu os fundamentos da livre-
concorrência, exercendo uma influência significativa no pensamento revolucionário 
burguês. 
A Escola Clássica se destacou por focalizar a produção em detrimento da 
ênfase dada à procura e ao consumo. Conforme argumentado por Smith, o propósito 
da economia reside na ampliação de bens e riqueza para uma nação. 
 
33 
 
Nesse contexto, Smith (1981) argumenta que a aquisição de riqueza está 
intrinsecamente ligada à posse do valor de troca. Esse valor representa a habilidade 
de adquirir riquezas, ou seja, é a capacidade que a posse de um determinado objeto 
confere para a aquisição de outras mercadorias. 
Smith também contestou as ideias mercantilistas ao argumentar que a riqueza 
consiste nos valores de troca, não na moeda, que é apenas um meio facilitador da 
circulação de bens. Assim, para Smith (1981), a verdadeira origem de riqueza de uma 
nação só pode ser alcançada por meio do trabalho, e essa fonte só pode ser ampliada 
por: 
• O aumento da produtividade; 
• A extensão de sua especialização; e 
• A acumulação do produto sob a forma de capital. 
A repartição do produto nacional, na visão clássica, continuou a ser abordada 
de maneira convencional, com os indivíduos remunerados seguindo esse padrão: 
• Trabalho – salário; 
• Capital – lucro; e 
• Terra – renda. 
É importante salientar que a Teoria Clássica é construída com base em um 
equilíbrio

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