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ANÁLISE OPERACIONAL E QUALITATIVA DE UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA SIMPLIFICADA: ESTUDO DE CASO DA ETA RESIDENCIAL PORTA DO SOL - MAIRINQUE-SP Paulo Henrique da Silva Turma 179514 Tutor Nathália Caputo da Silva RESUMO O presente trabalho aborda o tratamento de água em Estações de Tratamento de Água (ETAs), com ênfase na análise prática da ETA Residencial Porta do Sol, localizada em Mairinque/SP. O objetivo geral da pesquisa foi compreender os processos físicos, químicos e operacionais envolvidos no tratamento de água, correlacionando a teoria com a prática, por meio de visita técnica, simulações laboratoriais e levantamento bibliográfico. A metodologia adotada foi qualitativa, descritiva e com pesquisa de campo. A visita técnica permitiu observar todas as etapas convencionais de tratamento: coagulação, floculação, decantação, filtração e desinfecção. Também foram avaliados os dados sobre a demanda hídrica, a capacidade da ETA e a conformidade com os parâmetros de potabilidade estabelecidos pela Portaria GM/MS nº 888/2021. Os resultados demonstraram que a ETA atende aos padrões legais e operacionais esperados, além de indicar caminhos sustentáveis para o reaproveitamento de água e o planejamento da ampliação da estrutura, considerando o crescimento populacional e a preservação dos mananciais. O estudo conclui que a eficiência no tratamento de água depende da integração entre operação técnica, controle de qualidade, adequação às normas legais e gestão ambiental dos resíduos. O alinhamento entre teoria e prática, observado neste trabalho, reforça a importância do ensino investigativo e da formação técnica comprometida com a saúde pública e a sustentabilidade. Palavras-chave: tratamento de água, estação de tratamento, saneamento básico, sistema de filtração INTRODUÇÃO A água é um recurso natural essencial à vida, tanto sob o ponto de vista biológico quanto social. No entanto, o crescimento populacional, a degradação ambiental e a desigualdade no acesso aos serviços de saneamento básico comprometem a disponibilidade de água potável para grande parte da população mundial. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 80% das doenças nos países em desenvolvimento são causadas pelo consumo de água contaminada, resultando em impactos significativos na saúde pública e na qualidade de vida da população (OMS, 2010). No Brasil, o cenário é igualmente preocupante. Dados do Instituto Trata Brasil (2023), apontam que mais de 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água potável e cerca de 100 milhões vivem sem rede de coleta de esgoto. A precariedade no saneamento reflete diretamente na alta incidência de doenças de veiculação hídrica, como cólera, disenteria, hepatite A e febre tifóide, que poderiam ser evitadas por meio de sistemas eficientes de tratamento e abastecimento de água (Trata Brasil, 2023). Diante dessa realidade, o tratamento da água bruta torna-se uma medida imprescindível para garantir sua potabilidade. As Estações de Tratamento de Água (ETAs), desempenham papel central nesse processo ao remover impurezas físicas, químicas e biológicas por meio de etapas como coagulação, floculação, decantação, filtração e desinfecção (Von Sperling, 2014). A eficiência dessas etapas é regulada por normas como a Portaria GM/MS nº 888/2021 do Ministério da Saúde, que estabelece os padrões de potabilidade da água destinada ao consumo humano. Considerando a relevância do tema, este trabalho tem como objetivo geral analisar o funcionamento de uma ETA convencional, com base na visita técnica realizada ao sistema do Residencial Porta do Sol, localizada no município de Mairinque, São Paulo, avaliando suas etapas operacionais, parâmetros de qualidade e implicações para a saúde pública. Através da integração entre teoria, simulação em laboratório virtual e observação in loco, busca-se compreender e propor soluções técnicas para o aprimoramento da gestão dos recursos hídricos. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O tratamento de água representa uma das práticas mais importantes para garantir saúde pública e sustentabilidade ambiental. A seleção das tecnologias empregadas em Estações de Tratamento de Água (ETAs), varia conforme a qualidade da água bruta e os objetivos de potabilidade. Segundo Ventura e Vaz Filho (2019), “a segurança do tratamento está diretamente ligada à eficiência dos processos aplicados em todas as etapas da ETA” (p. 159), incluindo captação, floculação, decantação, filtração e desinfecção. A legislação brasileira, como a Portaria GM/MS nº 888/2021, define padrões rigorosos de potabilidade. Esses parâmetros incluem limites para turbidez, cor aparente, coliformes, pH, cloro residual e metais pesados. Lopes e Libânio (2005), argumentam que o monitoramento contínuo desses indicadores é essencial para garantir a entrega de água segura à população, especialmente em regiões com alta densidade demográfica ou onde o abastecimento é intermitente. Além da legislação, é fundamental considerar fatores ambientais e operacionais que influenciam o desempenho das ETAs. Lacerda e Räder (2019), demonstraram que a variação na qualidade da água de entrada pode afetar significativamente a eficiência de remoção de coliformes, mesmo em estações bem estruturadas. A constante adaptação dos parâmetros operacionais é, portanto, uma necessidade para manter o padrão de potabilidade. Estudos de caso também evidenciam o impacto da sazonalidade na qualidade da água bruta. Batista et al. (2019), analisaram a ETA João Ednaldo em Aracaju/SE e concluíram que o desempenho da estação se deteriorava nos períodos de estiagem, exigindo ajustes operacionais constantes. Isso reforça a necessidade de um planejamento integrado entre captação, reserva hídrica e tratamento. Outro ponto importante é a gestão dos resíduos gerados nas ETAs. Cunha (2019), avaliou o lodo da ETA de Penedo/AL e encontrou elevada carga orgânica, destacando a necessidade de tratamento antes do descarte. A estabilização e destinação adequada desses resíduos evita a contaminação do solo e dos corpos d’água, além de cumprir exigências legais e ambientais. As tecnologias sustentáveis têm sido cada vez mais integradas aos sistemas de tratamento. Guterres (2023, p. 37), afirma: “A água utilizada na lavagem dos filtros pode ser tratada e reutilizada com segurança, desde que submetida a técnicas de filtração adicional e controle microbiológico rigoroso”. Essa citação direta curta demonstra a viabilidade técnica do reuso de água dentro da própria ETA. Além disso, Guterres (2023, p. 37), destaca que: Essa reutilização, quando bem controlada, possibilita um aproveitamento significativo de volumes que antes eram descartados, contribuindo para a eficiência hídrica das estações e para a redução do impacto ambiental. A adoção dessa prática requer, contudo, o fortalecimento dos mecanismos de controle de qualidade e treinamento adequado da equipe técnica envolvida. Esse reuso, embora vantajoso, exige planejamento e monitoramento rigoroso. Seu sucesso depende tanto de tecnologia quanto de capacitação operacional. Falhas em etapas específicas também comprometem a eficácia das ETAs. Michelan, Batista e Batista (2019), apontaram que deficiências na floculação e filtração da ETA Poxim afetavam a qualidade da água distribuída, mesmo com estrutura adequada. Isso mostra que o fator humano e a manutenção são tão importantes quanto o projeto da estação. Achon, Barroso e Cordeiro (2013), destacam a importância da gestão de resíduos conforme a norma ISO 24512, que orienta boas práticas na prestação de serviços de água potável. A integração desses padrões internacionais promove controle de qualidade e responsabilidade ambiental. Aplicá-los ao contexto brasileiro pode elevar a confiabilidade do sistema e reduzir perdas operacionais. O Programa de Pesquisa em Saneamento Básico (1999), destaca a filtração em múltiplas etapas (FME), como alternativa eficaz para comunidades rurais e pequenas cidades. Essa tecnologia utiliza materiais filtrantes naturais, tem baixa exigência energética e é fácil de operar. Sua simplicidade não compromete a eficiência, tornando-se ideal para regiões com infraestrutura limitada. Outro aspecto crucial a ser considerado na escolha da tecnologia de tratamento é o tipo de manancial utilizado. Águas superficiais tendem a apresentar maior carga orgânica e turbidez, exigindo processos mais complexos de clarificação. Já águas subterrâneas, em geral, requerem menor tratamento físico, mas podem conter ferro, manganês e outros compostos dissolvidos que afetam a potabilidade (Lopes e Libânio, 2005). Essa distinção é importante para garantir o desempenho adequado do sistema e minimizar custos operacionais. A Portaria GM/MS nº 888/2021 estabelece limites para esses compostos, além de parâmetros organolépticos como cor, sabor e odor. Essas características não afetam diretamente a saúde, mas influenciam a aceitação da água pelos consumidores. Ventura e Vaz Filho (2019), argumentam que a confiança da população no serviço de abastecimento está diretamente ligada à percepção da qualidade sensorial da água, o que reforça a importância dos padrões estéticos. Além dos padrões físico-químicos, os parâmetros microbiológicos são considerados os mais críticos. A presença de coliformes fecais e Escherichia coli em amostras de água representa risco sanitário imediato. Segundo Lacerda e Räder (2019), as falhas no sistema de desinfecção, geralmente cloração, são as principais responsáveis por contaminações bacteriológicas. Por isso, o monitoramento em tempo real do cloro residual é indispensável, especialmente em sistemas de distribuição extensos. A cloração, embora amplamente utilizada, não é isenta de riscos. A formação de subprodutos como trihalometanos (THMs), pode ocorrer na presença de matéria orgânica e excesso de cloro, o que exige um controle rigoroso das doses aplicadas. Guterres (2023), salienta que o equilíbrio entre eficácia sanitária e segurança química é um desafio constante para os operadores de ETA. O uso de tecnologias auxiliares como ozonização ou carvão ativado pode ser necessário para minimizar esses compostos. Por outro lado, a educação ambiental e o envolvimento comunitário também desempenham papel relevante na conservação da qualidade da água. Cunha (2019), observa que ações de conscientização sobre descarte de resíduos, uso racional da água e preservação de nascentes contribuem para reduzir a carga de poluentes nos mananciais. Assim, além da infraestrutura, é essencial trabalhar com estratégias sociais e educativas integradas. O controle da poluição difusa, oriunda principalmente da zona rural e urbana, é outro desafio na gestão dos recursos hídricos. Michelan, Batista e Batista (2019), sugerem que a instalação de zonas de amortecimento e filtros verdes em áreas de captação pode melhorar significativamente a qualidade da água bruta. Essas soluções baseadas na natureza são eficazes e complementam os sistemas convencionais, especialmente em bacias hidrográficas degradadas. As cidades que buscam melhorar seu sistema de abastecimento também devem investir em sistemas de automação e telegestão. Achon, Barroso e Cordeiro (2013), enfatizam que o uso de sensores, softwares de monitoramento e controle remoto permite respostas rápidas a variações de qualidade da água e reduz perdas operacionais. Essa digitalização representa um avanço importante rumo à modernização do saneamento no Brasil. Outro componente frequentemente negligenciado é a manutenção preventiva das estruturas físicas das ETAs. Batista et al. (2019), relatam que muitas falhas operacionais decorrem da degradação de decantadores, filtros e bombas devido à ausência de cronogramas de manutenção. O custo da negligência tende a ser maior que o investimento em manutenção preventiva, além de comprometer a segurança do abastecimento. Para encerrar, é importante destacar que a sustentabilidade no tratamento de água deve envolver uma abordagem holística. Isso inclui desde a proteção dos mananciais até a eficiência energética das ETAs, passando pela valorização dos profissionais envolvidos. O Programa de Pesquisa em Saneamento Básico (1999), já antecipava essa necessidade ao propor soluções descentralizadas, de baixo custo e alta eficácia, como as FME, adaptadas à realidade de cada local. METODOLOGIA Este estudo adotou uma abordagem qualitativa, de natureza descritiva, com apoio em pesquisa de campo. A pesquisa qualitativa permite analisar fenômenos em profundidade, considerando seu contexto e significados (Minayo, 2001). A vertente descritiva visa observar, registrar e analisar os fatos sem interferência, sendo ideal para compreender processos operacionais em Estações de Tratamento de Água (Gil, 2008). A pesquisa de campo, por sua vez, aproxima o pesquisador da realidade observada, favorecendo a coleta de dados autênticos (Marconi; Lakatos, 2003). A primeira etapa da pesquisa envolveu uma revisão bibliográfica que subsidiou a construção da fundamentação teórica e a compreensão do tema. Foram utilizados artigos científicos, livros técnicos e legislações específicas, como a Portaria GM/MS nº 888/2021. A pesquisa bibliográfica é fundamental para estabelecer o estado da arte sobre o assunto e embasar criticamente a análise (Severino, 2007). Essa fase permitiu identificar os principais parâmetros de potabilidade da água e as tecnologias convencionais utilizadas nas ETAs. A segunda etapa consistiu em uma visita técnica à Estação de Tratamento de Água Residencial Porta do Sol, situada em Mairinque, SP. A observação direta é uma das técnicas mais utilizadas em pesquisas qualitativas por possibilitar o registro fiel das práticas e operações realizadas no ambiente estudado (Lüdke; André, 2018). Foram documentadas as etapas de captação, coagulação, floculação, decantação, filtração e desinfecção, utilizando registros fotográficos e descritivos como instrumentos de coleta de dados. Figura 1 – Imagem aérea da estação de tratamento de água convencional do Residencial Porta do Sol Fonte: o autor A terceira fase consistiu na estimativa da demanda hídrica futura e no dimensionamento dos componentes da ETA. Para isso, foram utilizadas projeções populacionais baseadas em diretrizes técnicas que recomendam multiplicadores entre 1,1 e 1,2 para horizontes de 15 a 20 anos (Gil, 2008). O consumo per capita adotado variou entre 70 e 135 litros por habitante por dia, conforme o nível de infraestrutura sanitária do município. Esses dados foram organizados em tabelas para facilitar o cálculo do volume necessário de tratamento. A quarta fase consistiu na estimativa da demanda hídrica futura da cidade de Mairinque e no dimensionamento necessário para garantir o abastecimento. Considerando a população atual estimada em 50.000 habitantes, utilizou-se um fator de crescimento populacional de 1,2, projetando-se, assim, uma população de 60.000 habitantes para um horizonte de 20 anos. Para municípios com sistema de esgotamento sanitário, a recomendação é de 135 litros per capita por dia (Gil, 2008), o que resulta em uma necessidade diária de 8.100.000 litros de água. Essa demanda, multiplicada pelos 365 dias do ano, equivale a um consumo anual estimado de 2.956.500.000 litros de água (Tabela 1). População total da cidade Necessidade de água por pessoa por dia (LPCD) Necessidade total de água por dia (litros) Necessidade total de água por ano (litros) 60.000 135 8.100.000 2.956.500.000 Tabela 1 - Demanda anual de água da cidade Fonte: o autor. A análise da qualidade da água para abastecimento deve considerar parâmetros estabelecidos em normas sanitárias, como a Portaria GM/MS nº 888/2021. Essa norma define os valores máximos permitidos para indicadores físico-químicos, como pH, turbidez e cloro residual, bem como microbiológicos, como a ausência de coliformes totais. A turbidez deve estar abaixo de 5,0 UNT para garantir transparência adequada, enquanto o cloro residual, essencial para a desinfecção, deve estar entre 0,2 e 5,0 mg/L. O pH da água deve se manter entre 6,0 e 9,5 para evitar corrosividade e problemas à saúde. Já a presença de coliformes totais em qualquer amostra é um indicativo de contaminação e pode comprometer a potabilidade. Assim, o monitoramento constante desses parâmetros é essencial para assegurar a segurança e qualidade da água distribuída à população (Tabela 2). Parâmetro Limite Máximo Permitido Tipo de Análise pH 6,0 - 9,5 Físico-química Turbidez 5,0 UNT Física Cor aparente 15 uH Física Cloro residual livre 0,2 - 5,0 mg/L Química Fluoreto 1,5 mg/L Química Coliformes totais Ausência em 100 mL Microbiológica Tabela 2: parâmetros físico-químicos e microbiológicos de potabilidade da água, conforme estabelecido pela Portaria GM/MS nº 888/2021 Fonte: o autor. Os dados observados foram confrontados com os padrões estabelecidos pela legislação brasileira. A análise contemplou parâmetros físicos (cor, turbidez), químicos (pH, cloro residual), e microbiológicos (coliformes totais e Escherichia coli), conforme definido na Portaria GM/MS nº 888/2021. O cruzamento das fontes teóricas, empíricas e experimentais, confere robustez à pesquisa e atende aos critérios de validade interna recomendados por Minayo (2001), e Severino (2007). EXPERIMENTO DE FILTRAÇÃO COM FILTRO CASEIRO DE GARRAFA PET Ao abordar o tema da filtração, foi proposta uma atividade prática que consistiu na construção de um filtro caseiro, utilizando garrafas de politereftalato de etileno (PET). O objetivo foi demonstrar o processo de purificação da água por meio de materiais acessíveis e recicláveis. Entre os materiais filtrantes utilizados estão: fibra para enchimento, carvão ativado, areia fina, areia grossa, brita 1 e brita 2 (CETESB, 2021). Para a confecção do filtro, o fundo da garrafa PET foi removido com o auxílio de uma tesoura ou outro objeto cortante, e o gargalo foi vedado com uma porção de fibra. Em seguida, a garrafa foi posicionada de cabeça para baixo, com o gargalo voltado para baixo. Os materiais filtrantes foram previamente lavados com água corrente, o que facilita a passagem da água e melhora o desempenho do processo de filtração (VON SPERLING, 2014). As camadas foram adicionadas na seguinte ordem, de cima para baixo: 1. Carvão ativado 2. Areia fina 3. Areia grossa 4. Brita 1 5. Brita 2 Figura 2 – Imagem ilustrativa de um sistema de filtro caseiro similar ao de uma ETA convencional Fonte: o autor USO DO JAR TEST EM ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA O ensaio de jarros, ou Jar Test, é um método laboratorial essencial no processo de tratamento de água, utilizado para simular, em pequena escala, as condições de coagulação, Garrafa PET floculação e decantação que ocorrem em Estações de Tratamento de Água (ETAs). Sua principal finalidade é determinar a dosagem ideal de coagulantes e auxiliares de floculação, de forma a garantir a máxima remoção de sólidos suspensos, matéria orgânica e outros contaminantes presentes na água bruta. Trata-se de um processo empírico, prático e ajustável, que permite otimizar o tratamento conforme as variações sazonais e qualitativas do manancial. Na prática observada no experimento relatado no documento, o Jar Test foi realizado com cinco béqueres de 1000 mL, cada um contendo concentrações variadas de sulfato de alumínio (10, 12,5, 15, 17,5 e 20 mg). Após a adição do coagulante e a agitação controlada, inicialmente rápida para promover a dispersão e depois lenta para a formação de flocos, observou-se visualmente a velocidade e qualidade da floculação, bem como a eficiência da decantação. A melhor dosagem foi determinada com base no volume e consistência dos flocos sedimentados e na turbidez da água clarificada. Figura 3 – Imagem ilustrativa de um Jar Test Fonte: laboratório Virtual Uniasselvi Esse ensaio é crucial para o sucesso da coagulação, que representa a primeira grande barreira no tratamento de água. Segundo Pivokonský et al. (2022), o jar test oferece uma base sólida para ajustes operacionais em tempo real, ajudando a evitar a subdosagem que compromete a formação de flocos, ou a superdosagem, que pode gerar excesso de lodo e até reestabilizar partículas. Complementarmente, a adição de polímeros durante o teste, como coadjuvantes de floculação, favorece a aglomeração de partículas finas e melhora a sedimentação dos flocos, como demonstrado por Mazloomi et al. (2019). A importância desse processo foi confirmada na simulação do laboratório apresentado, onde os resultados do Jar Test subsidiaram as decisões de dosagem no sistema em escala piloto da miniestação de tratamento. Após a determinação da dosagem ideal de sulfato de alumínio, os mesmos parâmetros foram replicados no processo completo, com a adição de hidróxido de sódio para ajuste de pH, polímero para reforço da floculação, e hipoclorito de sódio para a desinfecção. Além da aplicação prática, a simulação reforçou o rigor necessário nas medições laboratoriais: o uso do pHmetro e do turbidímetro permitiu avaliar, em cada etapa (água bruta, decantada e filtrada), a eficiência do tratamento em termos físico-químicos. A limpeza contínua da cubeta e dos eletrodos foi destacada como essencial para a precisão das leituras, refletindo a realidade operacional das ETAs. Figura 4 – Imagem ilustrativa de um turbidímetro Fonte: laboratório virtual Uniasselvi RESULTADOS E DISCUSSÃO O ensaio de jarros, conhecido como Jar Test, é um procedimento amplamente utilizado em estações de tratamento de água para otimizar o processo de coagulação e floculação. Essa técnica experimental permite simular em escala laboratorial as condições operacionais de uma estação, possibilitando a escolha dos melhores coagulantes, suas dosagens ideais e o pH mais eficiente para a remoção de partículas suspensas e coloidais na água bruta. Segundo Pivokonský et al. (2022), o ensaio de jarros é essencial para testar, investigar e otimizar o desempenho dos reagentes em diferentes condições operacionais, fornecendo dados empíricos valiosos para o controle de qualidade da água. Durante o teste, são utilizadas baterias de agitadores mecânicos com copos (jarros) que simulam os tanques de coagulação e floculação. Inicialmente, é adicionada a água bruta a cada recipiente, seguida pela dosagem de diferentes concentrações de coagulantes, como sulfato de alumínio (alum), policloreto de alumínio (PAC), ou sais de ferro. Após uma agitação rápida para promover a dispersão do coagulante, a velocidade é reduzida para permitir a formação de flocos. Os flocos formados decantam, e a turbidez da água clarificada é então medida. Trinh e Kang (2011), destacam que esse método, embora trabalhoso, é a principal ferramenta para determinar os parâmetros operacionais ideais no tratamento de água. Além do coagulante primário, pode-se aplicar polímeros como auxiliares de floculação, que melhoram a agregação dos flocos e aceleram sua sedimentação. Mazloomi et al. (2019), demonstraram que o uso conjunto de coagulantes e coadjuvantes de floculação, em doses otimizadas, resulta em maior eficiência de remoção de turbidez e redução do índice de volume de lodo (SVI). Os resultados do Jar Test são interpretados por meio de análises da turbidez residual, pH final, tempo de sedimentação e observação visual da compactação dos flocos, sendo esses dados cruciais para ajustar a dosagem real de reagentes na ETA. A importância desse ensaio se evidencia ainda mais em estações que operam com variações sazonais de qualidade da água bruta, como aumento de matéria orgânica ou presença de cianobactérias. Moghaddam et al. (2010), apontam que o Jar Test é eficiente também para validar estratégias de neutralização de cargas e floculação por varredura, métodos que aumentam a estabilidade dos flocos e facilitam sua remoção por decantação ou filtração. Portanto, o ensaio de jarros continua sendo uma ferramenta fundamental na engenharia sanitária para garantir um tratamento eficaz, seguro e economicamente viável da água. A partir da visita técnica realizada à Estação de Tratamento de Água do Residencial Porta do Sol (Figura 1), localizada no município de Mairinque/SP, foi possível observar a aplicação prática das etapas de tratamento de água discutidas na literatura. A estação se caracteriza como uma ETA simplificada, voltada ao abastecimento residencial, operando com processos convencionais como coagulação, floculação, decantação, filtração e desinfecção. Segundo Lopes e Libânio (2005), tais etapas são fundamentais para garantir a remoção eficiente de sólidos em suspensão, patógenos e contaminantes químicos, assegurando o fornecimento de água potável à população. Figura 5: Planta 180º E.T.A Residencial Porta do Sol Fonte: o autor Durante a observação, foi notável a disposição linear dos módulos de tratamento, o que reforça a abordagem técnica de estações compactas, voltadas para comunidades de pequeno porte. Guterres (2023), destaca que sistemas descentralizados e simplificados, quando bem projetados, apresentam desempenho equivalente ao das grandes ETAs, especialmente em regiões com infraestrutura básica consolidada. Além disso, a disposição dos equipamentos evidencia a preocupação com o controle de perdas, manutenção da eficiência hidráulica e viabilidade operacional de longo prazo. A ETA do Residencial Porta do Sol, conforme o relatório técnico (Associação Porta do Sol, 2014), possui capacidade de tratamento de 200 mil litros por hora e armazenamento de até 2.650.000 litros, atendendo cerca de 4.000 moradores, podendo chegar a 50.000 nos finais de semana. A estrutura é composta por captação por barramentos, bombeamento por adutoras, pré-cloração, floculação, decantação, filtração, pós-cloração e correção de pH, o que evidencia um processo completo e sistematizado, alinhado às boas práticas da engenharia sanitária (Figura 4). Figura 6 - Ilustração de um fluxograma de estação de tratamento de água convencional Fonte: o autor A análise da demanda de água da cidade de Mairinque foi realizada com base na população atual estimada de 62.000 habitantes. Considerando o horizonte de 20 anos e um fator de crescimento populacional de 1,2, assim projeta-se uma população futura de aproximadamente 74.400 habitantes. Com base na recomendação de 135 litros per capita por dia, indicada para municípios com rede de esgoto instalada (Gil, 2008), a demanda diária estimada foi de 10.044.000 litros. Esse volume anual equivale a mais de 3,66 bilhões de litros, reforçando a necessidade de planejamento hídrico eficiente. O consumo médio mensal por lote no residencial é de 50 mil litros, totalizando 93,5 milhões de litros no conjunto. Projetando o consumo para 4.800 habitantes no futuro, a demanda será de 648 mil litros diários, ou 236 milhões de litros por ano. Esses dados mostram a importância de políticas de conservação de água e melhoria contínua da infraestrutura de tratamento. Segundo Cirilo (2008), o planejamento deve prever expansão da capacidade de produção e ações preventivas como o desassoreamento de mananciais e combate às perdas hídricas. A Portaria GM/MS nº 888/2021, que atualizou os padrões de potabilidade no Brasil, define os limites máximos permitidos para diversos parâmetros. Entre eles, destacam-se turbidez (até 5,0 UNT), cor aparente (até 15 uH), cloro residual livre (entre 0,2 e 5,0 mg/L), pH (entre 6,0 e 9,5), e ausência de coliformes totais em 100 mL de amostra. Esses indicadores são essenciais para assegurar a potabilidade da água e minimizar riscos à saúde pública. Ventura e Vaz Filho (2019), afirmam que o cumprimento rigoroso desses padrões é o principal fator que define a eficiência de uma ETA, sobretudo em contextos urbanos. Com base nas informações do documento da ETA Residencial Porta do Sol, o modelo de filtro utilizado na estação segue o padrão dos sistemas convencionais de filtração, sendo composto por camadas de seixos rolados porosos, areia e carvão antracito. Esse arranjo é eficaz na remoção de sólidos em suspensão e partículas que não foram eliminadas nas etapas anteriores de tratamento, como decantação e floculação. A combinação de granulometrias distintas permite a retenção progressiva de partículas de diversos tamanhos, aumentando a eficiência do processo e reduzindo a necessidade de retrolavagens frequentes. Para garantir a conformidade com os padrões de potabilidade definidos pela Portaria GM/MS nº 888/2021, que exige turbidez máxima de 5,0 UNT, ausência de coliformes totais e E. coli em 100 mL, e pH entre 6,0 e 9,5, é fundamental que o filtro tenha características adequadas à qualidade da água bruta captada. Sabendo que a água captada no Residencial Porta do Sol vem de lagos represados, classificados como águas de classe 2 (utilizadas para abastecimento público com tratamento convencional), a composição ideal do filtro deve incluir, além dos materiais já utilizados, uma camada adicional de areia de granulometria fina para melhorar a remoção de sólidos finos. Segundo Santos Filho (1981), a utilização de carvão antracito como camada superior permite maior taxa de filtração e menor perda de carga, tornando o sistema mais eficiente. Além disso, filtros com camadas múltiplas, como os de três meios filtrantes (antracito, areia e seixos), apresentam desempenho superior aos filtros de camada única, conforme demonstrado por Hammer (1979). Assim, considerando as características da água bruta da região e os padrões legais, o sistema de filtração atual da ETA está alinhado com as boas práticas e requer apenas manutenções regulares e monitoramento contínuo para manter sua eficácia. A água bruta captada em lagos da ETA Residencial Porta do Sol, classificada como classe 2, exige um sistema de filtração eficiente para atender aos padrões de potabilidade da Portaria GM/MS nº 888/2021, que estabelece turbidez máxima de 5 UNT, ausência de coliformes e pH entre 6,0 e 9,5. Nesse contexto, a configuração ideal do filtro consiste em um leito multimídia com camada superior de antracito (partículas mais grossas e menos densas), uma camada intermediária de areia fina e uma camada inferior de cascalho ou garnet para suporte e drenagem. Essa disposição em gradação de densidade e granulometria proporciona retenção eficaz de partículas desde as maiores até as mais finas, como identificado por Water Tech e PureTec (s/a). Figura 7 – Imagem aérea da captação de água bruta do Residencial Porta do Sol Fonte: o autor Considerando a necessidade de eficiência contínua e a prevenção de coliformes e turbidez residual, esse arranjo de camadas é recomendado para o manancial utilizado. Além disso, o material granulado deve apresentar alta uniformidade e estabilidade química, conforme especificado por Red Flint Sand e Gravel (2022), que destaca a importância do antracito com granulometria controlada para garantir máxima eficiência de filtração. O dimensionamento adequado do leito filtrante e a manutenção por retrolavagem regular garantem conformidade com os padrões sanitários e prolongam a vida útil do sistema (WaterIQ Technologies, 2022). Os dados coletados e observados durante a visita indicaram que a ETA Residencial Porta do Sol atende aos parâmetros exigidos, conforme medido por instrumentos de monitoramento local. A cloração foi destacada como etapa crítica, pois garante a desinfecção final e a manutenção da qualidade da água até o ponto de consumo. De acordo com Lacerda e Räder (2019), a eficiência da desinfecção depende não apenas da dose de cloro, mas também do tempo de contato e das condições físico-químicas da água (Figura 8). . Figura 8: Filtros Residencial Porta Sol Fonte: o autor Os aspectos visuais e sensoriais da água tratada também foram observados, com destaque para a transparência e ausência de odor ou gosto. Tais atributos reforçam a percepção de qualidade pela comunidade atendida. Lopes e Libânio (2005), observam que mesmo parâmetros que não oferecem risco direto à saúde, como sabor e odor, têm impacto significativo na aceitação do serviço de abastecimento. A boa recepção da população está, assim, diretamente relacionada ao desempenho técnico da ETA e à comunicação eficaz dos resultados de potabilidade. A prática observada na ETA também exemplificou a preocupação com o reuso de água de lavagem dos filtros. Embora ainda incipiente, esse tipo de reaproveitamento pode ser fundamental para a eficiência hídrica da unidade. Como destaca Guterres (2023, p. 37), “a água utilizada na lavagem dos filtros pode ser tratada e reutilizada com segurança, desde que submetida a técnicas de filtração adicional e controle microbiológico rigoroso”. Essa prática reduz o consumo total de água e está alinhada aos princípios de sustentabilidade recomendados por autores como Achon, Barroso e Cordeiro (2013). Por fim, os dados obtidos na prática convergem com os autores analisados na fundamentação teórica, indicando que a eficácia de uma ETA depende da integração entre operação técnica, controle de qualidade, adequação às normas legais e gestão ambiental dos resíduos. Cunha (2019), reforça que, além da eficiência do tratamento, é preciso pensar na destinação correta do lodo gerado, que pode conter alta carga orgânica e representar risco ambiental se descartado sem estabilização. RESULTADOS EXPERIMENTO DE FILTRAÇÃO COM FILTRO CASEIRO DE GARRAFA PET O protótipo do filtro foi montado e preparado para o teste de uso, tentando simular um filtro de uma ETA de sistema de tratamento convencional, como o da ETA do Residencial Porta do Sol. Ao despejar a água barrenta na parte superior do filtro, foi possível observar a redução significativa da turbidez. O processo de passagem da água por todas as camadas levou aproximadamente cinco minutos. No final, a água coletada apresentava-se visualmente cristalina, como ilustrado na Figura 9, evidenciando a diferença de cor e transparência entre a água de entrada e a de saída. Figura 9: Filtro de garrafa PET filtrando água barrenta Fonte: o autor Cada camada do filtro possui uma função específica na retenção de impurezas: as areias e britas atuam na remoção de partículas sólidas, enquanto o carvão ativado contribui para a eliminação de substâncias químicas e odores, ainda que não sejam visíveis a olho nu (SANTOS et al., 2020). A fibra no gargalo auxilia na retenção das partículas maiores. É importante destacar que quanto mais espessas forem as camadas filtrantes, melhor será o desempenho do filtro, resultando em uma água mais límpida na saída. No entanto, é fundamental compreender que esse filtro não remove sais dissolvidos nem elimina microrganismos patogênicos. Por exemplo, o sal, por ser uma partícula extremamente pequena e dissolvida, não é retido em nenhuma das camadas filtrantes e exige processos mais complexos para sua separação da água (FUNASA, 2019). Ainda que a água filtrada esteja visivelmente limpa, como demonstrado na Figura 10, ela não está apta para o consumo humano direto. Para torná-la potável, seria necessário submetê-la à fervura e adicionar uma pequena quantidade de hipoclorito de sódio, conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2022). O carvão ativado também desempenha um papel importante na remoção de odores, deixando a água inodora após a filtração. Ressalta-se, ainda, a importância de lavar o filtro com água limpa antes do uso com água barrenta, o que contribui para uma melhor eficiência do sistema. Figura 10 - Resultado da água filtrada Fonte: o autor Este experimento promove não apenas a reutilização da água, mas também a reciclagem de materiais, já que a garrafa PET, ao ser reaproveitada para uma função diferente de sua original, deixa de ser descartada inadequadamente no meio ambiente. Assim, evita-se que esse tipo de resíduo plástico acabe em lixões ou oceanos, contribuindo para a preservação da fauna, especialmente marinha, onde a ingestão de plástico é uma das principais causas de morte de peixes e outros animais aquáticos (UNEP, 2021). Além disso, o tamanho compacto do filtro construído facilita seu manuseio. No entanto, como se trata de um processo de filtração lenta, a eficiência depende de uma vazão reduzida, proporcional à área de filtração, garantindo maior retenção de contaminantes (TCHOBANOGLOUS; BURTON; STENSEL, 2015). Apesar de a água filtrada continuar sendo classificada como poluída, ela não é contaminada no sentido patogênico e, portanto, pode ser utilizada com segurança em atividades como lavagem de quintais, carros, calçadas ou para fins recreativos. O tratamento completo da água envolve uma infraestrutura mais complexa, normalmente provida por sistemas públicos de saneamento básico. As etapas do tratamento convencional incluem: oxidação, coagulação e floculação, decantação, filtração, desinfecção, fluoretação, correção do pH e adição de ortofosfato de sódio (BRASIL, 2014). Conclui-se, portanto, que o experimento atingiu seus objetivos: demonstrou visualmente a eficiência de um filtro caseiro em transformar uma água turva em uma água limpa e transparente, como ilustrado na Figura 10. Embora ainda não apropriada para consumo humano direto, a água filtrada pode ser reutilizada em diversas tarefas do cotidiano, contribuindo para a economia de um recurso tão essencial e finito. Por fim, é essencial reforçar o papel da reciclagem na preservação ambiental. O reaproveitamento de garrafas PET como elemento funcional de um sistema de filtração é uma prática sustentável que ajuda a minimizar o impacto ambiental causado pelo descarte inadequado de plásticos. Este simples filtro, além de sua utilidade prática, representa um pequeno, mas significativo, passo em direção à consciência ecológica. RESULTADOS DO USO DO JAR TEST EM ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA – ANALISE TÉCNICA E APLICADA O Jar Test também se revelou fundamental diante da variabilidade da qualidade da água captada. No caso da ETA Residencial Porta do Sol, analisada no estudo, a água bruta é proveniente de lagos represados (classe 2), com significativa variação na carga orgânica e turbidez em função das chuvas e da atividade antrópica. Assim, o ensaio permite ajustes constantes no processo de coagulação, garantindo que a água final tratada atenda aos parâmetros estabelecidos pela Portaria GM/MS nº 888/2021, como turbidez ≤ 5,0 UNT, pH entre 6,0 e 9,5, e ausência de coliformes em 100 mL. Figura 11 – Imagem Ilustrativa de um Jar Test Fonte: https://www.fusati.com.br Portanto, o Jar Test é uma etapa indispensável na engenharia do tratamento de água, pois assegura que os insumos sejam usados de forma eficiente, econômica e segura. Seu emprego regular, aliado ao monitoramento dos parâmetros de qualidade da água, contribui para o bom desempenho das ETAs e para a entrega de água potável à população, como comprovado tanto na literatura quanto na aplicação prática no laboratório virtual e na ETA Porta do Sol. AVALIAÇÃO DE RESULTADOS LABORATÓRIO VIRTUAL UNIASSELVI 1. Qual foi o papel dos produtos químicos no processo final da água tratada? No experimento de Jar Test, os produtos químicos desempenharam funções específicas e indispensáveis para garantir a eficiência do processo de tratamento da água. O sulfato de alumínio, utilizado como coagulante primário, teve como principal objetivo promover a desestabilização das partículas coloidais presentes na água bruta, permitindo sua aglomeração em flocos maiores durante a etapa de floculação. Essa ação é fundamental para facilitar a remoção de sólidos em suspensão na etapa de decantação, contribuindo diretamente para a redução da turbidez da água. O hidróxido de sódio foi aplicado com o propósito de ajustar o pH da água tratada, visto que a eficiência da coagulação está diretamente relacionada ao intervalo ótimo de pH, geralmente entre 6 e 8, dependendo do coagulante utilizado. O controle adequado do pH é essencial tanto para potencializar a formação de flocos quanto para garantir a conformidade com os padrões de potabilidade estabelecidos pela Portaria GM/MS nº 888/2021. O polímero atuou como coadjuvante de floculação, auxiliando na consolidação e sedimentação dos flocos, especialmente os de menor densidade. Sua função é intensificar a aglutinação das partículas, tornando o processo de decantação mais eficaz e acelerado. Por fim, o hipoclorito de sódio foi aplicado como agente desinfetante, sendo responsável pela inativação microbiológica e pela manutenção da qualidade da água até o ponto de consumo, assegurando a eliminação de patógenos e a conformidade com os parâmetros microbiológicos da legislação vigente. Assim, a aplicação combinada desses produtos químicos foi essencial para transformar a água bruta em água clarificada e segura, contribuindo para a eficiência global do sistema de tratamento simulado no experimento laboratorial. 2. Por que foi necessário realizar uma dupla lavagem do filtro? A necessidade da dupla lavagem do filtro está relacionada à manutenção da eficiência do sistema de filtração e à garantia da qualidade da água tratada. Durante o processo de filtração, partículas sólidas remanescentes das etapas anteriores (coagulação, floculação e decantação), se acumulam nas camadas do leito filtrante, principalmente nas camadas superiores. Esse acúmulo pode comprometer a capacidade de retenção do filtro, aumentar a perda de carga hidráulica e, em casos mais críticos, permitir o rompimento da barreira filtrante, resultando em uma água com turbidez elevada na saída. A primeira lavagem, realizada imediatamente após o período operacional, remove parte do material particulado depositado no filtro. No entanto, devido à estrutura porosa do leito filtrante e à presença de flocos mais finos ou aderentes, uma única lavagem pode não ser suficiente para restaurar totalmente a capacidade filtrante do sistema. Assim, a segunda lavagem, também chamada de retrolavagem complementar, assegura a remoção completa dos resíduos acumulados, impedindo a compactação excessiva do material filtrante e prevenindo a formação de zonas cegas. Além disso, a dupla lavagem é fundamental para evitar a contaminação cruzada e garantir que, ao retornar à operação, o filtro esteja em condições ideais de desempenho. Essa prática é recomendada especialmente quando se utilizam coagulantes em dosagens elevadas, como no caso de águas com elevada turbidez, pois a quantidade de lodo gerado tende a ser maior. Portanto, a dupla lavagem do filtro representa uma medida operacional preventiva que assegura a continuidade do processo de filtração com eficiência, contribuindo diretamente para o atendimento aos padrões de potabilidade da água e para a longevidade do sistema de filtração. CONSIDERAÇÕES Dado o exposto, o presente estudo teve como objetivo central compreender, na prática, o funcionamento de uma Estação de Tratamento de Água (ETA), analisando suas etapas operacionais, parâmetros de qualidade e projeções de demanda hídrica, a partir da visita técnica realizada à ETA do Residencial Porta do Sol, em Mairinque/SP. A integração entre a fundamentação teórica, as simulações laboratoriais e a observação in loco demonstrou a importância da articulação entre conhecimento técnico, operacionalidade e sustentabilidade na gestão de sistemas de abastecimento de água. Os resultados obtidos confirmaram que a estação opera dentro dos padrões legais estabelecidos pela Portaria GM/MS nº 888/2021, fornecendo água potável e segura à população atendida. A avaliação das etapas de tratamento, coagulação, floculação, decantação, filtração e desinfecção, e evidenciou a robustez do sistema e a conformidade com as boas práticas da engenharia sanitária. Além disso, o uso de técnicas como o Jar Test e a preocupação com a reutilização da água de lavagem dos filtros reforçam o compromisso com a otimização de processos e a eficiência hídrica. A construção do filtro caseiro com garrafa PET, proposto como atividade experimental, reforçou a importância da etapa de filtração no processo de purificação da água. Embora simplificado, o modelo demonstrou de forma didática como materiais filtrantes em camadas sucessivas são essenciais para a remoção de sólidos em suspensão e melhoria da qualidade visual da água. Esse experimento serviu como analogia prática ao sistema de filtração da ETA, evidenciando que, mesmo em sistemas complexos, a eficácia da filtragem depende da adequada seleção dos materiais, da manutenção periódica e da correta operação do leito filtrante. A análise prospectiva da demanda, baseada no crescimento populacional e nos indicadores de consumo, revelou a necessidade de planejamento contínuo e de investimentos em ampliação da capacidade de reservação e modernização dos sistemas. Nesse contexto, propõe-se a implantação de um Plano de Segurança da Água (PSA), alinhado às diretrizes da OMS e da ISO 24512, como ferramenta estratégica para mitigar riscos, assegurar a qualidade do produto final e promover a gestão preventiva do sistema. Conclui-se que a eficácia de uma ETA não depende apenas da infraestrutura, mas do equilíbrio entre operação técnica qualificada, controle laboratorial rigoroso, conformidade legal e compromisso ambiental. A experiência relatada neste trabalho reforça a relevância de abordagens interdisciplinares e do ensino técnico voltado para a prática e para a resolução de problemas reais, contribuindo para a promoção do direito universal ao saneamento básico e à saúde pública. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACHON, C. L.; BARROSO, M. M.; CORDEIRO, J. S. Resíduos de estações de tratamento de água e a ISO 24512: desafio do saneamento brasileiro. Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 18, n. 2, p. 111–118, 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/esa/a/ZXVPPthHjP6NZ6HgN8rMD7s. Acesso em: 26 jun. 2025. ASSOCIAÇÃO PORTA DO SOL. Processos de Captação, Tratamento e Distribuição de Água Potável Residencial Porta do Sol. Mairinque, 2014. Documento técnico. BATISTA, D. F.; MICHELAN, D.; BATISTA, I. F. 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