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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE METODOLOGIA DE ENSINO - MEN Curso: Pedagogia Disciplina: MEN 7152 - Organização dos Processos na Educação Infantil II Professora: Patrícia de Moraes Lima Alunas: Natalia do Nascimento Gomes e Rayssa de Souza Nos ordenamentos legais e na prática, caminhos para uma educação antirracista desde o berçario O presente trabalho, tem como objetivo sintetizar de forma reflexiva a temática das questões raciais e os bebês, utilizando como base o texto de Dornelles e Marques: “Quem disse que as questões raciais não afetam os bebês?”, abordando como os documentos nacionais tratam deste tema e utilizando as contribuições de como podemos tratar sobre as culturas africanas e afro-brasileiras com os bebês. O racismo estrutural está presente em nossa sociedade e suas práticas se manifestam em todas as instâncias, inclusive dentro das creches e escolas. A história do nosso país foi marcada pela invasão dos português que realizaram ações e promovem "discursos monoculturais e eurocêntricos" (DORNELLES e MARQUES, 2018) que estão presentes em nossa sociedades até hoje. De acordo com os dados do IBGE, mais da metade da população brasileira se declara como negra e/ou parda. O ensino que ocorre dentro das instituições escolares deve-se pautar nessa realidade social e cultural para promover uma educação antirracista. A Constituição Federal, prevê punição para qualquer tipo de discriminação racial. O Estatuto da Criança e dos Adolescente protege, defendendo que nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de descriminação. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação aborda sobre uma educação que tenha como finalidade o pleno desenvolvimento da educação, seu preparo para o exercício da cidadania considerando a diversidade étnico-racial. A Lei 11.645/08, tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio. A legislação é importante, pois oficializa através dos documentos o dever de assegurar institucionalmente a defesa contra qualquer tipo de discriminação e a promoção da diversidade étnico racial nas instituições escolares. Contudo, haver a lei não é o suficiente (DORNELLES E MARQUES, 2018). O que está expresso nos documentos necessita refletir nas ações e práticas pedagógicas que ocorrem em todas as instâncias de nossa sociedade. No contexto escolar é preciso construir práticas pedagógicas embasadas nos documentos, com objetivos expressos e atividades que utilizem toda a diversidade cultural presente para o combate contra o racismo e a discriminação. De acordo com a as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, devem ser garantidas às crianças de 0-5 anos, a apropriação das contribuições histórico culturais dos diferentes povos que constituem a nação brasileira, bem como o combate ao racismo e discriminação. O tema deve ocupar posição de destaque, apesar das crianças pequenas serem descritas como imaturas e incapazes pelo senso comum. Há muitos estudos que demonstram a potência das crianças, o quanto elas podem ser ágeis, inventivas, sensoriais, sensíveis, e seu poder de escolher e tomar decisões através de experiências cada vez mais complexas (RICHTER E BARBOSA, 2009, p.30). As crianças constituem significados do mundo, através da sua interação com meio, entre outras crianças e com os adultos. Dessa relação, surge a importância de construir e apresentar uma proposta pedagógica baseada em uma educação antirracista para a infância (DORNELESS E MARQUES, 2018). Utilizando e valorizando todo o acervo cultural disponível, desde livros, músicas, filmes, pinturas, vestimentas, brinquedos e brincadeiras para que sejam construídos significados livres de preconceitos e discriminações. Marques e Dornelles em sua pesquisa nas escolas, buscam produzir um levantamento acerca do modo como as culturas afro-brasileiras são apresentadas aos bebês e às crianças pequenas. Os dados apontam que existe um mito de que “a educação infantil é um lugar isento de preconceito” (DORNELLES E MARQUES, 2018, p.52), deste modo não foi observado que esta temática está contemplada nos projetos pedagógicos e planejamentos das professoras. Outro discurso propagado em relação ao que é proposto às crianças de 0-3 anos, é de que elas são muitos pequenas e “incapazes de perceber as diferenças raciais” (DORNELLES E MARQUES, 2018) e justificam o fato de não haver nenhum bebê negro na turma. Esta justificativa não deve ser levada em conta, pois mesmo tendo poucos ou nenhuma criança negra na sala, as questões raciais devem ser trabalhadas, para que todos conheçam e aprendam sobre a história do povo africano e afro-brasileiro, estabelecendo relação de respeito ao diferente. Sendo assim percebe-se que se trata de uma concepção a ser superada pois os estudos contemporâneos “apontam para a potência dos bebês e crianças pequenas em suas relações com o mundo que os cerca.”(DORNELLES E MARQUES, 2018) A pesquisa aponta ainda que nas escolas os recursos para trabalhar as questões raciais possuem um acervo limitado. Sendo que os únicos materiais disponíveis ficam guardados e só são usados em momentos específicos. As questões raciais devem fazer parte do currículo de forma que esteja sempre presente nas práticas pedagógicas, não somente como algo feito eventualmente. Desta forma, devemos nos empenhar em produzir materiais didáticos para tratar sobre as culturas africanas e afro-brasileiras com as crianças. A pesquisa nos traz exemplos de materiais didáticos que podemos tratar esta temática. Na pesquisa as alunas produziram diversos materiais como bonecas bonecas, fantoches, dedoches, quebra-cabeças, tapetes, móbiles, cortinas, etc. E também materiais não estruturados, como panos e lenços, em que confeccionaram junto às crianças as roupas de princesas africanas criando penteados afros, tranças e dreadloks enfeitados com laços, turbantes coloridos, tic-tacs, piranhas e flores. Outras atividades que podem ser feitas, é a confecção da boneca “Abayomi”, que segundo a lenda, foi criada pelas mães negras que vieram da África para o Brasil em navios negreiros, as bonecas eram feitas de nós dados em tecidos rasgados das roupas das mães e entregues às crianças como forma de acalento para elas. A confecção é uma forma de ter contato com as histórias do povo africano e representatividade. Pode-se também fazer rodas de cantigas, histórias e brincadeiras de origem africana. Diante dessas questões entende-se que em uma sociedade culturalmente racista, se torna extremamente necessário que crianças negras se sintam representadas, conheçam as histórias de seus ancestrais, sintam orgulho da sua cor e do seu cabelo e que lidem bem com a sua autoestima, e que as crianças não negras possam aprender a respeitar o próximo, suas características individuais e diferentes culturas e saberes. Sendo assim, as questões raciais devem sempre estar presentes no cotidiano escolar, desde o berçário, entendendo o bebê como um ser social que aprende na relação com os pares, desmistificando a ideia de que as crianças pequenas não compreendem o que acontece à sua volta, e criar situações que explorem sua curiosidade, respeitando as especificidades da criança pequena. Desta forma, compreende-se que a busca para criar meios de trabalhar questões raciais com os bebês deve ser constante e que rompa com tradições que não levam em conta a luta anti racista. Referências MARQUES, Circe M; DORNELLES, Leni V. Quem disse que as questões raciais não afetam os bebês? Revista Teias v. 19, n. 52, 2018 (Jan./Mar.): Estudos da infância - diálogos contemporâneos. PEREIRA, Meiry. História de Esperança: ABAYOMI, IBFE - Instituto Brasileiro de Formaçãode Educadores, 2017. Disponível em: . Acesso em: 11, ago de 2021. https://www.ibfeduca.com.br/campinas/blog/historia-de-esperanca-abayomi/