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Nome: João Victor Lima Ferreira 1. O texto “Falar aos Brancos”, de Davi Kopenawa, tem grande relevância para a prática do psicólogo comunitário porque propõe uma postura ética e política de escuta sensível, diálogo intercultural e reconhecimento do outro como sujeito de saber. Kopenawa fala aos brancos não apenas para denunciar a violência histórica e o genocídio contra os povos indígenas, mas também para afirmar uma forma de conhecimento que foi silenciada pela lógica colonial e pela ciência ocidental. Ele nos convida a rever a posição do “saber hegemônico”, deslocando o olhar do especialista para o da escuta, uma escuta que reconhece a legitimidade dos saberes locais e a potência da oralidade e da experiência vivida. Essa perspectiva dialoga diretamente com as ideias centrais de Araújo (1995) em “O processo de inserção em Psicologia Comunitária: ultrapassando o nível dos papéis”. O autor defende que a inserção do psicólogo na comunidade não deve se limitar ao cumprimento de funções técnicas ou institucionais, mas sim à construção de vínculos e à convivência cotidiana com o povo do lugar. Essa convivência é essencial para que o psicólogo compreenda a realidade comunitária em sua complexidade, valorizando tanto o saber popular quanto o saber científico numa relação de troca, e não de hierarquia. Ao “falar aos brancos”, Kopenawa propõe justamente o rompimento dessa hierarquia, uma crítica decolonial ao conhecimento dominante, semelhante à que Araújo sugere quando afirma que o psicólogo deve ultrapassar o papel de especialista e tornar-se significativo para a comunidade, participando de seus modos de vida e reconhecendo seus próprios limites como “estrangeiro” naquele contexto. Ambos os textos convergem na ideia de que a escuta, a humildade epistemológica e o diálogo horizontal são condições para uma prática realmente transformadora, capaz de superar o assistencialismo e promover a autonomia comunitária. Assim, tanto Kopenawa quanto Araújo apontam que o psicólogo comunitário deve deixar de ser um transmissor de verdades e passar a ser um mediador de sentidos, comprometido com o reconhecimento das diferenças culturais, com a construção coletiva de saberes e com a luta contra todas as formas de opressão e silenciamento. 2. A psicologia na comunidade, nas décadas de 1960 e 1970, surgiu como resposta à crise dos modelos teóricos importados da Europa e dos Estados Unidos, que não correspondiam à realidade social brasileira. Seu objetivo era aproximar a psicologia das camadas populares, atuando em favelas, bairros periféricos e movimentos sociais, buscando uma prática engajada e voltada à transformação social. Nesse período, o foco era deselitizar a profissão e assumir um compromisso político diante da desigualdade e da repressão do regime militar. Já na década de 1980, consolidou-se a psicologia da comunidade, articulada ao movimento da reforma sanitária e à construção do SUS. Essa fase integrou a psicologia às políticas públicas e à saúde coletiva, enfatizando a participação popular, a emancipação e o fortalecimento dos laços comunitários. Compreender essas fases é essencial para pensar o papel atual do psicólogo nas políticas públicas, promovendo uma atuação comprometida com os direitos humanos e a justiça social. 3. A chamada “crise de referência” da psicologia, nos anos 1970, marcou uma ruptura com o paradigma positivista e individualista predominante até então. Nesse contexto, profissionais e pesquisadores começaram a questionar o distanciamento da psicologia em relação às reais condições de vida da população latino-americana, fortemente marcada pela desigualdade e pela repressão política. A partir dessa crise, emergiu uma nova perspectiva baseada no materialismo histórico e na abordagem sócio-histórica, que compreende o sujeito como ser histórico, social e transformador da realidade. Essa mudança deu origem à Psicologia Social Comunitária, voltada para a emancipação e a participação popular. Assim, a crise de referência foi decisiva para redefinir o papel do psicólogo como agente de mudança social e não apenas de adaptação. 4. Para Martín-Baró, o fatalismo é uma crença difundida nas sociedades oprimidas que leva os indivíduos a aceitar a realidade de sofrimento e injustiça como algo natural e imutável. Essa visão reforça a passividade e a dependência, impedindo a ação coletiva e a transformação social. Quando o psicólogo reproduz essa lógica em sua prática, corre o risco de adotar uma postura assistencialista, tratando os sujeitos como incapazes e reforçando relações de dominação. O principal desafio diante desse contexto é superar o fatalismo por meio de uma práxis libertadora, que promova a conscientização, a autonomia e o protagonismo das pessoas e grupos oprimidos. O psicólogo comunitário deve atuar como facilitador de processos de emancipação e fortalecimento coletivo, estimulando a participação ativa da comunidade na construção de alternativas para sua realidade.