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Migração, direito e capitalismo - Luiz Felipe Osório e Vanessa Berner
Migrantes
· Pessoa que se desloca voluntariamente de seu país de origem para outro.
· Objetivo: estabelecer-se temporária ou definitivamente no país de acolhida.
· Exemplo legal no Brasil: nacional de outro país ou apátrida que trabalha ou reside no país
Asilados Políticos
· Critério principal: perseguição política no país de origem.
· Condições:
· Não pode ter cometido crimes comuns nem estar aguardando julgamento por eles.
· Modalidades de asilo no Brasil:
3. Asilo territorial – proteção concedida enquanto a pessoa está em território brasileiro.
3. Asilo diplomático – solicitado em embaixada ou consulado no país de origem; o indivíduo fica protegido dentro da representação diplomática.
1. Decisão de concessão: exclusivamente do Estado, em relação direta com o indivíduo
Refugiados
· Critério principal: perseguição ou risco amplo, não apenas política.
· Motivos: raça, religião, nacionalidade, grupo social, convicção política, guerra ou conflito interno.
· Diferença fundamental para o asilo:
· Refugiado faz parte de um grupo em risco, não sendo uma decisão puramente política do Estado.
· O acolhimento deve seguir o regime internacional de proteção, como a Convenção de Genebra de 1951 e o Protocolo de 1967.
Direito Internacional dos Refugiados
O Direito Internacional dos Refugiados (DIR) tem como marco fundante e principal a Convenção de Genebra de 1951 (“Convenção sobre o Estatuto de Refugiado”) e seu Protocolo de 1967. A partir dessas normas estabeleceram-se a definição da pessoa refugiada, os princípios reitores de sua proteção e a abrangência temporal e espacial de sua aplicação, constituindo o regime internacional do refúgio, tendo o Alto Comissariado das Nações para Refugiados (ACNUR) e os Estados partes da Convenção e do Protocolo como principais atores e sujeitos de sua implementação. Com base no regime internacional, desenvolveram-se marcos jurídicos regionais, como o da América Latina (Regime de Cartagena), assim como foram aprovadas legislações nacionais que regulam o tema em âmbito doméstico. 
Antecedentes: 
Com o surgimento dos Estados nacionais no século XV, o controle de fronteiras restringiu a circulação, ao passo que se desenvolveu o conceito de asilo, inicialmente ligado à inviolabilidade de templos e locais religiosos, evoluindo para o direito internacional à proteção de indivíduos perseguidos.
A evolução do Direito Internacional dos Refugiados (DIR) pode ser dividida em três etapas: da Antiguidade à Liga das Nações (SdN); a fase de transição durante a Segunda Guerra Mundial; e o pós-guerra, com a criação do ACNUR e a Convenção de Genebra de 1951.
Após a Primeira Guerra Mundial, milhões de pessoas ficaram apátridas. A SdN, por meio do Alto Comissário Fridtjof Nansen, introduziu o Passaporte Nansen, conferindo proteção legal mínima a refugiados. A Segunda Guerra Mundial ampliou o reconhecimento dos direitos humanos e do direito de asilo, consagrados na Carta da ONU (1945) e na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), que garante a todo ser humano perseguido o direito de buscar asilo, exceto em casos de crimes comuns ou contra os objetivos da ONU.
Na América Latina, o asilo ganhou características próprias, incluindo o asilo territorial e diplomático, reconhecidos internacionalmente pelo Caso Haya de la Torre (1950). Em 1950, a ONU criou o ACNUR para apoiar a proteção de refugiados. A Convenção de Genebra de 1951 definiu claramente quem pode ser reconhecido como refugiado e os critérios de proteção internacional.
Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados – Direito Internacional Humanitário e dos Refugiados
Asilo e refúgio são institutos de caráter humanitário que têm como objetivo a proteção da pessoa em razão de uma perseguição. São institutos que se complementam na proteção à pessoa humana.
O refúgio é concedido ao imigrante por fundado temor de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas. Trata-se de um instituto apolítico, que não depende do princípio da reciprocidade para ser aceito. Dessa forma, entende-se que o refúgio é um instituto convencional e de caráter universal.
No conceito de refúgio fica clara a distinção para o conceito de asilo. No asilo, o motivo que enseja a perseguição é político.
Segundo o princípio da não devolução (non refoulement ou proibição do rechaço), o refugiado não pode ser entregue ao Estado perseguidor.
A proteção do refúgio pode cessar caso a pessoa:
· recuperou a nacionalidade voluntariamente ou voltou a se valer da
proteção do país de que é nacional;
· adquiriu nova nacionalidade e, consequentemente, a proteção do país cuja
nacionalidade adquiriu;
· voltou a estabelecer-se, voluntariamente, no país que abandonou;
· deixaram de existir as circunstâncias em consequência das quais a pessoa foi
reconhecida como refugiada.
As regras da convenção não serão aplicadas àqueles que cometerem crime contra a paz, um crime de guerra ou um crime contra a humanidade, que cometeram um crime grave de direito comum fora do país de refúgio antes de serem nele admitidos como refugiados
e que se tornaram culpados de atos contrários aos fins e princípios das Nações Unidas.
Correto seria usar “migrantes”
 “Estrangeiro”: aquele que não é nacional (consequentemente só existe estrangeiro quando passa a existir Estado Nação) - não tem direitos políticos, mas obtém direitos civis;
 “Apátridas”: pessoas sem nacionalidade
2º G.M. - faz uma “bagunça geográfica” onde as pessoas fugiam da guerra. Depois houve maior atenção aos refugiados.
Os refugiados emigram por 5 motivos segundo a Convenção de Genebra de 1951 – que houve para mitigar os danos do caos geográfico na Europa. Trouxe Normas Gerais e deixou os Estados trazerem também. Em 1966 houve o Protocolo para os Direitos dos
Refugiados.
a) Raça;
b) Nacionalidade;
c) Religião;
d) Grupo Social;
e) Opinião Política.
1997 - Lei dos Refugiados 94374/97 amplia o que classifica os motivos de um refugiado.
No Brasil o refúgio é um direito desde que preenchido os requisitos mínimos.
2017 - Lei 13445/17, que permitiu a venda de imigrantes estrangeiros que viessem por refúgio, criando um visto para a regularização do próprio.
Refúgio é diferente de asilo
Tratados Regionais: Convenção Americana de Cartagema
Estatuto do Refugiado no Brasil
Século XXI - Relações internacionais enfrentam a tragédia das mortes e da miséria das migrações
Cerne da questão migratória, atrelando diretamente ao capitalismo
Milhões de pessoas circulam pelo mundo em busca de condições melhores de vida. O movimento migratório, contudo, nem sempre consegue ser exatamente preciso, pois ocorre frequentemente em meio a condições precárias, sem a devida legalização e sistematização
O conceito de migração em voga é bem determinado: Refere-se a trabalhadores ocupantes de postos com menor remuneração e normalmente oriundos da periferia do sistema internacional para o centro (Sul-Norte) ou da periferia para a periferia (Sul-Sul)
O conceito carrega consigo um inextrincável caráter classista: estrutural e constituinte de uma dinâmica na qual se baseia o sistema de Estados
Desfazer por completo a ilusão: Com ou sem legislação mais progressista, o grosso das violações permanece e a explicação disso está na estruturação do sistema de Estados
O fim completo das violações de direitos e a erradicação do preconceito e da xenofobia somente serão alcançados quando ruir a engrenagem internacional (reflexão sobre a questão judaica de Karl Marx)
São nas relações internacionais, entendidas como tal somente no capitalismo, que se desdobram as práticas materiais que insculpem a face das migrações 
O capitalismo constitui-se em sua forma mais desenvolvida no sistema internacional
O Estado capitalista não surge isoladamente, mas em coletivo, enquanto um sistema de Estados, sendo essa multiplicidade um traço estrutural do capitalismo. O espaço geográfico do capital não é o das fronteiras estatais, senão o internacional
Por isso as migrações só podem ser debatidaspor um viés atento à estrutura e à dinâmica do capitalismo global e do sistema de Estados
Dois elementos estruturais do âmbito internacional:
1. A acumulação capitalista 
2. A forma política específica do capitalismo: a organização política em uma coletividade de Estados, individualizados que se põem em relação de concorrência permanente
Os Estados se relacionam no plano jurídico como se fossem iguais. Uma vez reconhecidos, todos têm a mesma condição legal: são sujeitos de direito internacional e possuem soberania, o que lhes garante liberdade e igualdade para firmar tratados
Essa igualdade formal esconde desigualdades materiais que aparecem tanto na política quanto na economia
A forma política internacional não funciona como um Estado único, com um aparato centralizado e superior. Em vez disso, é formada por vários Estados, sendo, portanto, plural, e marcada pela concorrência entre eles
Embora um Estado muitas vezes siga interesses de uma classe ou de certos grupos ligados à valorização do capital, não existe uma coincidência total entre Estado e capital. Pelo contrário, há uma engrenagem complexa, com dinâmica própria e cheia de contradições
Existem dois vetores que sempre se cruzam e se influenciam: a política dos capitais e a política dos Estados
Neste ambiente de materialidades distintas e elevados antagonismos sociais, o Estado tem na dinâmica de reprodução do capital o seu elemento constituinte fundamental. Por isso, a dinâmica internacional é central em sua estrutura, visto que garante um trunfo em meio à correlação de forças internas
A acumulação internacional cria uma cadeia que beneficia o próprio aparato estatal
A política dos capitais passa pela intermediação dos Estados, quando esses interferem juridicamente, politicamente, economicamente e militarmente na luta de classes
Porém as unidades estatais não têm como um único objetivo a reprodução do capital.
Os Estados são constituídos pela sociabilidade capitalista, mas vão além: Vinculam-se a classes, grupos, nações, povos, crenças, valores e interesses estratégicos que não se confundem e, frequentemente, estão em oposição à lógica capitalista
Mediante o desenvolvimento desigual próprio da dinâmica capitalista, que quase nunca ocorre somente pela política dos capitais ou pela política dos Estados, mas conjugado na interface dos vetores, hierarquizam-se os Estados
Uma vez que os Estados também se desenvolvem assimetricamente, a busca por menos obstáculos ao processo de valorização capitalista não ocorre sem que haja fortes tensões e resistências
As coalizões em torno de tratados de liberalização de comércio, a formação de blocos econômicos e mercados comuns e a consolidação de instituições multilaterais travam-se permeadas por discussões e polêmicas internas e internacionais, haja vista que se voltam frequentemente para a majoração das explorações internas e o bloqueio ao processo de unificação das classes trabalhadoras pelo mundo
A existência de um sistema de Estados nacionais é uma característica inerente do desenvolvimento espaço-temporal desigual do capitalismo
Cada aparato estatal é constituído e, ao mesmo tempo, intermedia um amálgama de classes que se dividem entre exploradoras e exploradas. A emergência da nação reluz em meio de relações econômicas já assentadas e nelas interfere diretamente
O capitalismo não se basta nas fronteiras demarcadas. Com isso, o Estado agrega não apenas as relações sociais concretas de exploração interna, como também se desdobra na interface imediata, de choque ou harmonia, da articulação interna com os capitais, classes e grupos sociais estrangeiros
A fragmentação política do mercado mundial em Estados individualizados permite aos capitais circulantes de beneficiar se da concorrência dos locais de investimentos
Terreno em que ocorrem as migrações: do sistema capitalista de Estados
O que significa que as migrações se desdobram:
1. Pelo prisma dos capitais: em um espaço tomado e unificado pelo modo de produção capitalista, cujas relações de produção são preponderantes e estruturantes nos variados espaços nacionais. Como o capitalismo carrega consigo a tendência inerente de internacionalização o espaço internacional é a atmosfera na qual se atinge a forma mais plena de sua existência
2. Pelo prisma dos Estados: em um ambiente composto por uma multiplicidade de unidades políticas fragmentadas, cada qual com suas restrições e particularidades nacionais, com barreiras políticas erigidas pelos limites territoriais e burocráticos, que se relacionam em uma dinâmica de permanente concorrência. A coletividade de Estados é um elemento estrutural desse cenário
Nesse cenário os Estados são livres para circular e esgarçar as economias nacionais, enquanto que o trabalho (mão de obra não qualificada) esteja amarrado às mais variadas barreiras políticas e burocráticas de cada país
Na fase atual do modo de desenvolvimento capitalista: Pós-fordismo: o capitalismo passa de um regime de acumulação voltado para dentro para outro cada vez mais internacionalizado
Nesse contexto, as migrações se intensificam e ganham mais destaque, acompanhando a expansão global das relações de produção
O pós-fordismo é uma desconstrução e, simultaneamente, reconstrução dos parâmetros capitalistas
É a partir do final da Guerra Fria com a dissolução das experiências socialistas no Leste Europeu, que o ciclo pós-fordista se sedimenta: Isso porque esse período marca a consolidação e difusão pelo mundo do novo regime de acumulação que tece a nova face do padrão de desenvolvimento capitalismo
O cenário atual das relações internacionais intensifica o fenômeno das migrações: Com crises cada vez mais frequentes e próximas no tempo, a mão de obra busca alternativas por meio do deslocamento, sobretudo da periferia para o centro e também da periferia para países emergentes
Em meio à atual crise da acumulação global, as políticas migratórias deixam de disfarçar seus limites legais e revelam abertamente a xenofobia e o ódio que sempre estiveram no centro do tema
A precarização do somada ao aumento da informalidade, define as tendências atuais. Paralelamente ao enfraquecimento do trabalho, cresce a financeirização da economia
O capital sempre teve caráter internacional, expansivo e global. O que marca o momento atual é a forma intensificada da internacionalização da produção. Com a liberalização comercial, o fim das restrições financeiras, a livre circulação de capitais e novas tecnologias de comunicação e transporte, formou-se uma rede ampla e flexível de valorização do capital, cada vez menos dependente do trabalho
O capitalismo sempre pressionou pela globalização, mas o padrão pós-fordista se distingue pelas novas condições estruturais de acumulação e regulação que tornam esse processo ainda mais profundo
O deslocamento do eixo de acumulação do mercado interno para o espaço internacional quase sem restrições é acompanhado pelo neoliberalismo como modo de regulação. Isso não elimina a mediação estatal, mas redefine seu papel
O antigo Estado de segurança, marcado por burocracia, controle e normatização, dá lugar ao Estado concorrencial, que promove a competição e o livre mercado
O antigo modelo de bem-estar social deu lugar à desregulamentação e à precarização das condições de vida. Com a redução da intervenção estatal nas relações de produção, as políticas sociais e econômicas tornaram-se mais vulneráveis às oscilações internacionais
O neoliberalismo passou a definir os contornos da regulação
Ao contrário do senso comum, o neoliberalismo não representa a retirada do Estado da economia. A oposição entre Estado e mercado é ilusória, pois o capitalismo depende estruturalmente do Estado. O que ocorre no neoliberalismo é um redirecionamento das funções estatais para novas prioridades
Com a intervenção, ou omissão, dos Estados, o conflito distributivo e as desigualdades sociais se intensificaram. Cresceu a repressão a políticas e culturas contrárias ao neoliberalismo, enquanto sistemas de seguridade social foram reduzidos ou privatizados. O consumismo voltou-separa novas tecnologias e produtos descartáveis. Houve aumento da xenofobia, do controle migratório e um esvaziamento das lutas sociais e movimentos coletivos. Além disso, pautas ambientais e culturais passaram a disputar espaço com as questões econômicas tradicionais
Embora a intervenção estatal seja criticada quando se trata do capital, o Estado atua de forma evidente no controle do mercado de trabalho. Ao limitar a circulação da força de trabalho, o Estado reforça a exploração capitalista, pois mantém e reproduz diferenças de renda e de condições de vida no mercado mundial. Isso, por sua vez, abre novas fronteiras para a valorização dos capitais
O que se observa é um tratamento desigual entre capital e trabalho no mundo capitalista, algo estrutural nas relações internacionais e sustentado pelo sistema capitalista de Estado
A crise das migrações não é um evento isolado, mas a própria norma: a miséria migratória é central nesse mecanismo, independente da liberdade de ação dos Estados ou de sua suposta boa vontade normativa 
No início do capitalismo, a mão de obra era obtida principalmente pela mobilização forçada nas colônias
As migrações internacionais se tornaram um importante sistema de oferta de trabalho com a economia global. A mundialização do trabalho e a inclusão de regiões periféricas estruturaram as migrações modernas
O sistema econômico favorece a migração como oferta de trabalho, enquanto o Estado garante que o trabalho do imigrante seja tratado como uma categoria distinta na força de trabalho
O trabalhador imigrante sofre diferenciação institucional na reprodução e controle da força de trabalho, ficando vulnerável, sobretudo em países altamente industrializados
A alocação da mão de obra migrante é o reflexo da recomposição do capital no nível mundial. Resultado das exigências de acumulação de capital
A globalização e novas formas de produção enfraquecem as estruturas tradicionais de trabalho assalariado e não remunerado, gerando migrantes e limitando sua capacidade de retorno às áreas de origem
A absorção desses fluxos ocorre de forma específica: a produção para exportação cria concentrações de empregos nas novas zonas industriais dos países em desenvolvimento, enquanto a transformação econômica nos países altamente industrializados concentra postos de serviços mal remunerados
Esses fluxos migratórios trazem diversos desafios aos países envolvidos, principalmente por esse movimento ser um dos fatores de desenvolvimento econômico e social desses Estados
Antes, a imigração era vista como prejudicial aos países de origem, especialmente quando envolvia trabalhadores qualificados (brain drain), causando perdas econômicas e sociais
As atenções estão voltadas, atualmente, para o papel potencial positivo da imigração no desenvolvimento dos países de origem desses imigrantes. São aspectos positivos da imigração: as remessas de dinheiro, as remessas sociais e o brain circulation 
As remessas financeiras enviadas pelos imigrantes ajudam a reduzir a pobreza em famílias de baixa renda nos países de origem, mas não promovem crescimento econômico nem aumentam arrecadação fiscal (não configura uma estratégia de desenvolvimento) 
As remessas sociais envolvem a circulação de ideias, comportamentos, identidades e capital social entre países de destino e origem, funcionando como uma forma de difusão cultural 
Nem toda transferência de valores pelos imigrantes é positiva. Aqueles em situações de risco, como trabalhadores em condições análogas à escravidão, podem não transmitir valores construtivos
A importação de atitudes do Norte para o Sul nem sempre é útil, como demonstram os fracassos das teorias modernizadoras 
Além disso, a ideia de “facilidade de imigrar” transmitida à comunidade de origem pode estimular a migração e gerar efeitos negativos a longo prazo
O brain drain ou brain circulation pode prejudicar economicamente e socialmente os países de origem ao privá-los de profissionais qualificados. Porém, quando esses trabalhadores retornam, ocorre transferência de tecnologia e conhecimento. O mesmo vale para estudantes que se formam no exterior, contribuindo para o desenvolvimento científico e tecnológico ao retornarem aos países de origem
Muitos estudiosos discutem se o desenvolvimento econômico dos países de origem reduziria a migração, associando-a apenas à pobreza e ao desemprego. Porém, o desenvolvimento pode aumentar a migração, pois é necessário ter recursos para se deslocar. A maioria dos imigrantes vem de regiões em transformação social e econômica, enquanto os mais pobres migram apenas em situações extremas, como conflitos ou desastres, geralmente para países vizinhos. Assim, a relação entre migração e desenvolvimento é complexa e não admite generalizações.
A questão migratória no mundo contemporâneo reside basicamente na expansão econômica, na necessidade de mão-de-obra permanente em grande quantidade, baseada, muitas vezes, na imigração
Durante muito tempo, empregadores, poder público, partidos e sindicatos consideraram os instrumentos jurídicos nacionais e internacionais suficientes, vendo os imigrantes como fonte de crescimento econômico e correção demográfica
Mesmo relegados aos níveis inferiores da sociedade, os imigrantes tiveram por décadas um estatuto “permanente, porém provisório”: reconhecidos por sua utilidade econômica e social, mas também vistos como um possível “custo social” para a sociedade
Diante dessas contradições, os imigrantes passaram a reivindicar todos os seus direitos, não apenas os trabalhistas. Assim, na prática, a imigração só é tolerada quando os benefícios, especialmente econômicos, superam os custos sociais e culturais, que devem ser evitados a todo custo
A regulamentação da imigração tem como objetivo principal definir quem é considerado imigrante de acordo com as necessidades e circunstâncias de cada momento, alterando-se conforme as oscilações populacionais
Estatuto do estrangeiro no Brasil 
No Brasil, as políticas migratórias historicamente priorizaram o desenvolvimento econômico. No século XIX, o governo incentivou a imigração para consolidar a ocupação colonial, promovendo a naturalização de estrangeiros. A legislação imperial era seletiva, favorecendo imigrantes brancos por meio de isenção de impostos e concessões de terras, visando principalmente o desenvolvimento agrícola
Após a abolição da escravidão em 1888, a escassez de mão de obra afetou a produção cafeeira. A política migratória passou a incentivar a imigração europeia, buscando o “embranquecimento” e substituindo a mão de obra africana 
Com o êxodo de imigrantes do campo para as cidades devido à crise do café e à modernização agrícola, surgiu preconceito contra eles, vivendo em pobreza e sem trabalho. A política migratória tornou-se mais restritiva, com cotas de entrada e contratação de estrangeiros. Nas leis dos anos 1930, durante a Era Vargas, a xenofobia prevaleceu, e normas restritivas foram mantidas nas Constituições de 1934, 1937, 1946
Até então, o Brasil não tinha uma lei específica para estrangeiros. Essa regulamentação só surgiu no final do regime militar com o Estatuto do Estrangeiro, vigente até 2017, que era muito restritivo, condicionando direitos à segurança nacional e impondo diversas limitações aos imigrantes
O histórico da proteção normativa no Brasil segue o da maioria dos países, se não for até mais progressista. Tendo em vista que a Convenção de Genebra de 1951 deixa à discricionariedade dos Estados a regulação de questões mais específicas sobre asilo e refúgio, e que o Brasil é signatário da Convenção Interamericana de Caracas sobre Asilo Político e da sobre Asilo Diplomático, o Estatuto do Estrangeiro, de 1980, vai à contramão das orientações gerais internacionais, tratando o estrangeiro sempre como um elemento de ameaça à soberania e segurança nacional. Logo, pelos seus dispositivos é possível encontrar exigências ultrapassadas e de tom até preconceituoso. Sendo um monumento normativo do período da ditadura civil-militar o diploma mostrou-se, com os anos, incompatívelcom a realidade da redemocratização (RESUMIR E PESQUISAR DIFERENTES TIPOS DE ASILO) 
A Lei de Migrações de 2017 substituiu o Estatuto do Estrangeiro, oferecendo um tratamento humanitário, digno e multidisciplinar aos migrantes, alinhado às necessidades atuais. Apesar de retrocessos na regulamentação posterior e do contexto conservador, a lei representa inovação e vanguarda, incorporando diretrizes avançadas elaboradas por juristas progressistas
A Lei nº 13.445/2017, em vigor desde novembro de 2017, difere do Estatuto do Estrangeiro ao basear-se em direitos humanos, inclusão social e integração dos povos da América Latina, além de proteger brasileiros no exterior. Enquanto o Estatuto priorizava a proteção da mão de obra nacional, a Lei de Migrações incentiva a integração laboral do imigrante por meio de políticas públicas
O Estatuto do Estrangeiro não detalhava os direitos dos imigrantes, aplicando-os de forma fragmentada e subordinada aos “interesses nacionais”, proibindo-lhes manifestação e participação política. A Lei de Migrações de 2017, no artigo 4º, lista direitos garantidos a todos os imigrantes, inclusive os em situação irregular, como abrir conta bancária e acessar serviços públicos básicos, representando um avanço significativo na proteção desses indivíduos
A nova lei amplia os documentos de viagem aceitos, incluindo autorização de retorno, salvo-conduto, carteiras de identidade de marítimo, inscrição consular, certificados de tripulação aérea e outros reconhecidos em regulamento. Também modifica a lista de estrangeiros impedidos de obter visto, retirando proibições a quem foi expulso, condenado por crimes dolosos ou que não atenda às condições de saúde do Ministério da Saúde
A lei institui o visto de visita, abrangendo turismo, trânsito, negócios, atividades artísticas ou esportivas e outras hipóteses regulamentadas. Os vistos temporários passam a incluir pesquisa, ensino, extensão acadêmica, tratamento de saúde e acolhida humanitária
A Lei de Migração, aprovada em período de grande turbulência, representa um avanço significativo na proteção dos direitos dos migrantes no Brasil. Aprovada por unanimidade no Senado, reforça a imagem internacional do país, alinhando a legislação migratória às obrigações assumidas em tratados de direitos humanos e ao compromisso do Brasil na economia global
Em outubro de 2017, o governo federal apresentou uma proposta de regulamentação da Lei de Migração que gerou perplexidade e apreensão. O decreto parecia alheio ao debate que acompanhou a elaboração da lei, desvirtuando seu espírito e ameaçando direitos dos migrantes e a capacidade do Estado de formular políticas adequadas
A Comissão destacou como inovação da Lei de Migração a concessão de visto temporário para migrantes que vêm ao Brasil em busca de trabalho. A entrada regular traz três vantagens: evita trajetórias perigosas e exploração por redes criminosas; reduz a necessidade de assistência a migrantes em situação precária; e aumenta a segurança e permite ao Estado planejar políticas públicas compatíveis com a demanda laboral
O texto final da nova lei piorou a proposta original ao exigir uma oferta de trabalho formalizada por pessoa jurídica no Brasil, excluindo muitos migrantes vulneráveis que ainda não têm oferta de emprego. A situação se agrava no regulamento proposto, que contraria a própria lei ao definir que a oferta de trabalho deve ser comprovada por contrato de trabalho. Contudo, um contrato não é uma oferta, mas sim a formalização de uma relação já existente, o que torna muito mais difícil para migrantes obterem o visto
O Brasil prioriza a importação de mão de obra especializada, mas não possui uma política migratória clara, perdendo a chance de definir diretrizes futuras. Além disso, continua sendo o único país da América do Sul a negar direitos políticos a imigrantes
As políticas migratórias devem ser concretas e atuar tanto no âmbito nacional quanto internacional. A imigração deve ser vista como questão política que afeta vínculos sociais e políticos. O imigrante não é obstáculo ao desenvolvimento, mas sua integração — com regulamentação clara, legalização laboral, direitos reconhecidos e estabilidade jurídica — combate ilegalidade, exclusão e xenofobia, reforçando os direitos humanos
O capitalismo se sustenta politicamente pelo Estado, que também se duplica ideologicamente como nação. A ideologia nacional cria um espaço simbólico que unifica as classes, fazendo o indivíduo se identificar primeiro como cidadão da nação. Isso desarticula as classes trabalhadoras e exploradas internacionalmente
A competição entre Estados fortalece a unidade entre nacionais e cria oposição aos estrangeiros. O rechaço ao estrangeiro tem forte base classista: investimento externo é bem-vindo, mas mão de obra estrangeira é vista como ameaça
Convenção de Genebra:
As Convenções de Genebra e seus Protocolos Adicionais são os principais tratados do Direito Internacional Humanitário (DIH), que regulam a condução de conflitos armados e limitam seus efeitos. Protegem pessoas que não participam das hostilidades — civis, médicos e trabalhadores humanitários — e aquelas que já não participam, como combatentes feridos, náufragos e prisioneiros de guerra
A Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados, adotada em 28 de julho de 1951, surgiu para enfrentar a situação dos refugiados na Europa pós-Segunda Guerra Mundial. O tratado define quem é considerado refugiado e estabelece direitos e deveres entre refugiados e Estados de acolhimento
A Convenção consolida instrumentos legais anteriores e fornece a codificação mais abrangente dos direitos dos refugiados, estabelecendo padrões básicos de proteção, sem restringir a liberdade dos Estados de ampliar ou detalhar esse tratamento
Definição central: refugiado é toda pessoa que, em razão de acontecimentos anteriores a 1º de janeiro de 1951, tem fundado temor de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, pertencimento a grupo social ou opiniões políticas, encontra-se fora do país de sua nacionalidade (ou de residência habitual, se apátrida) e não pode ou não quer se proteger ou retornar
Elementos essenciais da definição incluem: perseguição, fundado temor e extraterritorialidade. O mesmo artigo prevê cláusulas de exclusão, impedindo o reconhecimento de quem comete crimes contra a paz, crimes de guerra, crimes contra a humanidade ou atos contrários aos objetivos das Nações Unidas
Os princípios fundamentais da proteção internacional de refugiados são:
1. Não devolução (non-refoulement): proíbe o Estado de enviar a pessoa refugiada de volta ao país de origem.
2. Não sanção por entrada irregular: permite ingressar por vias não oficiais sem penalização.
3. Não discriminação: assegura tratamento igualitário, sem políticas seletivas.
4. Não expulsão: garante que refugiados ou solicitantes não sejam removidos do território do Estado de acolhimento.
5. Documentação e auxílio administrativo: obriga o Estado a fornecer documentos de identidade e apoio aos trâmites de permanência.
O regime internacional de proteção de refugiados, criado pela Convenção de Genebra de 1951, nasceu com viés eurocêntrico, limitado pelas cláusulas temporal e espacial. O processo de descolonização nas décadas de 1950 e 1960 trouxe novos Estados independentes à ONU e exigiu a ampliação da proteção internacional. Assim, o Protocolo de 1967 levantou essas limitações, permitindo a aplicação integral do regime de proteção das pessoas refugiadas
Na América Latina, o asilo desenvolveu-se de forma própria, anterior ao instituto do refúgio, com uma tradição histórica de hospitalidade que se consolidou a partir do século XIX em normas e costumes de asilo político. Na década de 1980, diante de graves crises humanitárias provocadas por conflitos internos na América Central durante a Guerra Fria, o ACNUR articulou com governos e acadêmicos a realização do Colóquio de Cartagena (1984), que resultou na Declaração de Cartagena e na criação do Regime de Cartagena.
A Declaração ampliou a definição de refugiadoda Convenção de Genebra de 1951, incluindo pessoas que fugiam por violência generalizada, agressão estrangeira, conflitos internos, violação massiva de direitos humanos ou perturbação grave da ordem pública. Essa definição ampliada permitiu que milhares de pessoas em situação de risco fossem protegidas e passou a ser incorporada em legislações nacionais, especialmente nos países do Mercosul, com exceção da Venezuela

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