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CIVIL I – AULA 06 OS BENS (arts. 79 a 103 CC) Não há uma definição legal de bens, coube a doutrina fazê-la. As pessoas procuram nos bens, materiais ou imateriais, a satisfação de seus desejos e a realização de suas necessidades, em torno dos quais gravitam os interesses e os conflitos. Um bem pode preencher uma necessidade de ordem material ou imaterial, sem perder o predicativo que a ordem jurídica reconhece como relevante, a exigir tutela. Para um melhor esclarecimento acerca da classificação adotada no Código Civil brasileiro, é importante diferenciar coisas e bens. Maria Helena Diz tratou desse assunto afirmando que os bens são coisas, mas nem todas as coisas são bens. As coisas abrangem tudo que existe na natureza, exceto as pessoas. Bens são as coisas existentes que proporcionam ao homem uma utilidade1 e suscetíveis de apropriação2, constituindo seu patrimônio3. Existem coisas que não são apropriáveis2 embora sejam úteis1, sendo, portanto, denominadas res communes, dentre as quais podemos destacar o ar, a luz, as estrelas, o mar. Assim, as coisas comuns são de todo mundo ao mesmo tempo em que não são de ninguém. Há também as coisas que podem ser apropriadas2, porém não pertencem a ninguém3, como é o caso dos animais de caça, dos peixes e das coisas abandonadas (res derelictae). Tudo o que tem valor e, por esse motivo, adentra no universo jurídico como objeto de direito, é um bem. Evidencia-se, portanto que a utilidade1 e a possibilidade de apropriação2 são o que dão valor às coisas, transformando-as em bens. Bem em o sentido de valor, utilidade ou interesse de natureza material, econômico ou moral, ou, em outras palavras, é tudo aquilo que é protegido pelo Direito, tendo ou não conteúdo ou valoração econômica. Na terminologia jurídica, bens corresponde à res dos romanos, porém, nem sempre bens e coisa podem ser tidos em sentido equivalente, porquanto há bens que não se entendem como coisas, e há coisas que não se entendem como bens. Na compreensão jurídica, somente como bens podem ser compreendidas as coisas que tenham dono, isto é, as coisas apropriadas. Escapam, pois, ao sentido de bens, as coisas se dono (res nulius). Desse modo, toda coisa, todo direito, toda obrigação, enfim, qualquer elemento material ou imaterial, representando uma utilidade ou uma riqueza, integrado no patrimônio de alguém e passível de apreciação monetária, pode ser designado como bens. Difere-se também de patrimônio, que é o conjunto de bens de que alguém é titular, abrangendo todas as relações jurídicas passíveis de avaliação pecuniária e imputável a mesma pessoa. Fazem parte do patrimônio tanto os direitos como os deveres, tanto ativo, como o passivo. Excluem-se: os direitos da personalidade, direito a saúde, a liberdade, ao nome e os direitos de família puros, sem apreciação patrimonial (pátrio poder), incluindo-se os que tenham expressão pecuniária, como o direito aos alimentos. 1. Dos Bens Considerados em si mesmo. 1.1. Bens Corpóreos e Incorpóreos. 1.1.1. Bens Corpóreos ou Tangíveis: são aqueles que têm existência física (material) e perceptível pelos sentidos. Ex: uma casa, um automóvel e etc... 1.1.2. Bens Incorpóreos ou Intangíveis: são aqueles que tem existência meramente abstrata, ideal ou jurídica, ou seja, não são perceptíveis pelos sentidos. Ex: direitos autorais, direito de crédito e etc. 1.2. Bens Imóveis e Móveis 1.2.1. Bens Imóveis (arts. 79 a 81 CC): segundo a doutrina dominante, são aqueles que não se pode transportar sem alteração de sua essência ou de sua substância. Temos que os imóveis podem ter características especiais: a) imóvel por natureza (art. 79 CC). Ex. o solo e tudo aquilo que se incorpora naturalmente a ele (sub-solo, arvores, espaço aéreo) b) imóvel por acessão física, industrial ou artificial (art. 79 CC). É tudo aquilo que o homem incorpora permanentemente ao solo. Art. 79 CC. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente. Art. 1.248 CC. A acessão pode dar-se:∆ I - por formação de ilhas; II - por aluvião (depósito de sedimentos – acréscimo lento de propriedade); III - por avulsão (retirada de sedimentos – diminuição de propriedade); IV - por abandono de álveo (leito da corrente de água que seca – acréscimo de propriedade); V - por plantações ou construções. ∆: ver Decreto 24.643/34 – Código de Águas e arts. 1.249 a 1.259 CC) c) imóvel por acessão intelectual ou por destinação do proprietário. Ex. máquinas, quadros que adornam paredes. d) imóvel por determinação legal (art. 80 CC). Art. 80 CC. Consideram-se imóveis para os efeitos legais: I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram; II - o direito à sucessão aberta. Ressalta o legislador que não perdem o caráter de bens imóveis nas situações previstas no art. 81 CC: Art. 81 CC. Não perdem o caráter de imóveis: I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local; II - os materiais provisoriamente separados de um prédio para nele se reempregarem. 1.2.2. Bens Móveis (arts. 82 a 85 CC): são as coisas móveis caracterizadas como aquelas que têm movimento próprio (semoventes), como animais; ou as removíveis por força alheia, tais como objetos, mercadorias, utensílios, moeda, títulos da dívida pública etc; e semalteração de substância ou destinação econômica ou social. Temos que os imóveis podem ter características especiais: a) móvel por natureza: são aquele sque podem ser transportados sem deterioração de sua substância por força própria ou externa. Art. 82 CC. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social. b) móvel por antecipação: São aqueles bens que, embora ainda incorporados ao solo, são destinados e convertidos e imóveis. Ex. árvores destinadas à corte. c) imóvel por determinação legal (art. 83 CC) Art. 83 CC. Consideram-se móveis para os efeitos legais: I - as energias que tenham valor econômico; II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes; III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações. Art. 84 CC. Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum prédio. Uma situação interessante é a situação dos navios e aviões, apesar de serem bens móveis, para fins de hipoteca, são tratados como bens imóveis. Art. 1.473 CC. Podem ser objeto de hipoteca: VI - os navios∆; VII - as aeronaves∆∆. Art. 138 Lei 7.565 (Cod. Bras. Aeronáutica) ∆∆. Poderão ser objeto de hipoteca as aeronaves, motores, partes e acessórios de aeronaves, inclusive aquelas em construção. Art. 12 Lei 7.652/88∆ (Lei de Registros de Propriedade Marítima). O registro de direitos reais e de outros ônus que gravem embarcações brasileiras deverá ser feito no Tribunal Marítimo, sob pena de não valer contra terceiros. Art. 13 Lei 7.652/88∆. A hipoteca ou outro gravame poderão ser constituídos em favor do construtor ou financiador, mesmo na fase de construção, qualquer que seja a arqueação bruta da embarcação, devendo, neste caso, constar do instrumento o nome do construtor, o número do casco, a especificação do material e seus dados característicos e, quando for o caso, o nome do financiador. Façamos um exercício mental. Compro uma porta para ser instalada em minha casa. Enquanto ela não for instalada, é considerada como um bem móvel. Entretanto, depois de instalada, é considerada bem imóvel, por a cessão industrial. Tempos depois, eu a retiro da parede para uma reforma, para ser recolocada, continua sendo um bem imóvel. Entretanto, se eu não faço a tal reforma e ou a porta fica imprestável para recolocação,ela volta a ser bem móvel. 1.3. Bens fungíveis e não fungíveis (art. 85 CC) 1.3.1. Bens fungíveis: são bens móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. Tem ideia associada à substituição. Ex. dinheiro. 1.3.2. Bens infungíveis: são os bens móveis que não podem substitui-se por outros da mesma espécie e qualidade e quantidade. Ex. bens imóveis, obras de arte. Art. 85 CC. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. Façamos outro exercício mental. Eu tenho um livro de Direito Civil, volume I, edição de 2016, autografado pela Professora Maria Helena Diniz, e nele fiz diversas observações das aulas, e marcações que somente eu consigo “decifrar”. Se um aluno o toma emprestado e perde, mesmo que se comprometa a compra outro, da mesma edição, de nada adiantará. Assim apesar do livro ser um bem fungível, pois é possível comprar outro exemplar da mesma edição, aquele exemplar específico é único, logo insubstituível, portanto um bem infungível. 1.4. Bens consumíveis e não consumíveis (art. 86 CC) 1.4.1. Bens consumíveis: são àqueles que a sua utilização implica na sua destruição ou transformação em outra substância. Ex. uma xicara de açúcar para fazer um bolo. 1.4.2. Bens inconsumíveis: são aqueles que proporcionam reiterada utilização, sem destruição da sua substância. Assim, não é consumível a roupa, de uso de uma pessoa, já que lhe proporciona o uso reiterado. Todavia, a mesma roupa torna-se consumível numa loja, onde se destina à venda. Outro exemplo é o bem de família que deve ser protegido contra dívidas em geral, com algumas exceções. A professora Maria Helena Diniz assevera que a característica de consumível “não decorre da natureza do bem, mas sua destinação jurídico-econômica”, pois a vontade humana “pode tornar inconsumível coisa consumível”. Nesse caso um livro na prateleira é considerado consumível (destinado à alienação), mas para o comprador será considerado inconsumível. Art. 86 CC. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação. Façamos mais outro exercício mental. Temos a comida de um restaurante que, para o dono do estabelecimento, é consumível juridicamente, enquanto que para o freguês a refeição é consumível fisicamente. 1.5. Bens divisíveis e indivisíveis (art. 87 a 88 CC) 1.5.1. Bens divisíveis (art. 87 CC) são as que se podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam. Podem partir-se em porções reais distintas, formando cada qual um todo perfeito Art. 87 CC. Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam. 1.5.2. Bens indivisíveis: são aquelas que não comportam fracionamento ou aquelas que, fracionadas, perdem a possibilidade de prestar serviços e utilidades que o todo anteriormente oferecia. Ex. um diamante lapidado. No sentido reverso do art. 87 CC temos que os animais são indivisíveis fisicamente. Em contrapartida temos exemplo de indivisibilidade jurídica uma dívida/obrigação solidária em face de quatro devedores, que pode ser paga integralmente por um desses devedores, que, por consequência, gera a ele direito de regresso contra os outros três devedores solidários. Art. 88 CC. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por determinação da lei ou por vontade das partes. a) por determinação legal: Ex. módulo rural (menor terreno existente que se destina ao homem do campo) b) por vontade das partes - divisão chamada convencional. E. O dinheiro, via de regra, é um bem divisível, pode tornar-se indivisível por convenção entre as partes 1.6. Bens singulares e Bens coletivos 1.6.1. Bens singulares (art. 89 CC): são aqueles que, embora reunidos, se consideram per si, independentemente dos demais, têm individualidade própria, valor próprio. A singularidade nos remete à unidade. Art. 89 CC. São singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si, independentemente dos demais. 1.6.2. Bens coletivos ou universais (art. 90 e 91 CC): são as que, embora constituídas de duas ou mais coisas singulares, consideram-se agrupadas num todo. Aqui temos a ideia de conjunto de unidades. Pela leitura dos artigs 90 e 91 CC nos leva a entender que os bens coletivos dividem-se: a) universalidades de fato (universitas facti) (art. 90 CC): Ex. esquadrilha, biblioteca, pinacoteca, manada. Outro exemplo, mais específico, é estabelecimento empresarial, que se constitui em pluralidade de bens singulares que, pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária. Ressaltamos que o parágrafo único do art. 90 CC que a “unidade” do “conjunto” pode ser objeto de relação jurídica própria. Ex. venda do livro (singular) de uma biblioteca (coletiva). Art. 90 CC. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que, pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária. Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de relações jurídicas próprias. b) universalidades de direito (universitas juris) (art. 91 CC): uma complexidade de reunião de bens corpóreos e incorpóreos, a qual se credencia a sedimentar o patrimônio, com ativo e passivo, de uma pessoa natural ou jurídica, categorizando-a economicamente. Ex. a herança jacente; massa falida; espólio (composta por todas as relações jurídicas, passivas ou ativas, do ausente/falido/de cujus). Art. 91 CC. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas de valor econômico. Caso Concreto 01: (DPF/DEL/NAC 2004 - adaptada) Em fevereiro de 2004, Jerônimo, de boa-fé, adquiriu da empresa Épsilon, mediante contrato de compra e venda, um veículo usado, que foi pago em seis prestações mensais. Não se tratava de nenhum veículo raro, com características especiais de interesse de colecionadores. No contrato, ficou expresso que o negócio seria desfeito, e o veículo restituído à empresa, no caso de atraso de três prestações consecutivas. Não havia, porém, cláusula referente à responsabilidade pela evicção. O certificado de registro de veículo foi emitido em nome de Jerônimo. Esse veículo pode ser classificado como um bem móvel, divisível, infungível, inconsumível, singular. Considerando a situação hipotética descrita, quanto à classificação do veículo a frase está certa ou errada. Justifique sua resposta em no máximo cinco linhas. Questão objetiva 01: (OAB - X Exame 2013) Os vitrais do Mercado Municipal de São de Paulo, durante a reforma feita em 2004, foram retirados para limpeza e restauração da pintura. Considerando a hipótese e as regras sobre bens jurídicos, assinale a afirmativa correta. a) Os vitrais, enquanto separados do prédio do Mercado Municipal durante as obras, são classificados como bens móveis. b) Os vitrais retirados na qualidade de material de demolição, considerando que o Mercado Municipal resolva descartar- se deles, serão considerados bens móveis. c) Os vitrais do Mercado Municipal, considerando que foram feitos por grandes artistas europeus, são classificados como bens fungíveis. d) Os vitrais retirados para restauração, por sua natureza, são classificados como bens móveis. Questão objetiva 02: (OAB 2009) No que se refere a bens, assinale opção correta: a) Um bem consumível pode tornar-se inconsumível por vontade das partes, o que vinculará terceiros. b) A lei não pode determinar a indivisibilidade do bem, pois esta característica decorre da natureza da coisa ou da vontade das partes. c) Não podem ser considerados móveis aqueles bens que, umavez deslocados, perdem a sua finalidade. d) A regra de que o acessório segue o principal tem inúmeros efeitos, entre eles, a presunção absoluta de que o proprietário da coisa principal também seja o dono do acessório.
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