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ARTIGO - O PROFESSOR DEVE SER UM ABRIDOR DE CAMINHOS

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“O PROFESSOR DEVE SER UM ABRIDOR DE CAMINHOS: DEMOCRACIA NA HISTÓRIA É ISSO” 
 
Com 75 anos, dezenas de livros publicados e disposição para o trabalho que inclui jornalismo, 
ensino e serviço público, este último como assessor de literatura da SECULT, o paraibano José 
Octávio de Arruda Mello é um dos mais atives intelectuais da província. 
Integrante dos IHGB e IHGP, APL, API e Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o 
Desenvolvimento, além de professor aposentado das UFPB e UEPB e titular do UNIPÊ, J.O. tornou-
se, sobretudo, coordenador do Grupo José Honório Rodrigues. Este, fundado em 1967, resume a 
práxis da fusão da História com a Democracia: 
 
 Quando eu, Lenildo Corrêa, Plauto de Andrade, Pontes da Silva, Aníbal Peixoto, Mrcos 
Trindade, Eilzo Matos, Otinaldo Lourenço, Marcos Odilon, Átila Almeida, Damião Ramos e 
mais alguns colegas do ensino médio constituímos o GJHR, o ensino da História havia caído 
muito baixo na Paraíba. Firmamos, então, positiva reação contra o que acontecia. 
 
 Rocha100: E o que acontecia à época? 
 
 Não só os professores mais independentes estavam sendo afastados - condição que me 
alcançou em 1969 - como historiadores como Leôncio Basbaum e Nelson Werneck Sodré 
eram retirados das estantes da FAFI. 
 
Nesta – continua o autor de História da Paraíba – Lutas e Resistência (12ª Ed., 2013) – 
vigorava verdadeira Inquisição. Autores como Amaro Quintas, Edson Carneiro, Paulo 
Cavalcante, Octávio Ianni e Fernando Henrique eram evitados. Nós não fazíamos 
proselitismo, mas entendíamos que esses cientistas sociais deveriam ser colocados ao lado 
dos mais conservadores para o cotejamento. A opção não deve nunca pertencer ao docente, 
mas ao discente. 
 
 Rocha100: A democracia na História para v. reduz-se a isso? 
 
 Não se reduz a isso, mas parte daí. O lente de História não deve agir como ideólogo - como 
diz Norberto Bobbio, isso é coisa de profetas – mas deve funcionar como cidadão aberto, 
sem preconceitos ou temas e autores proibidos. Em suma, o professor deve representar um 
abridor de caminhos. Rigorosamente, não é para lecionar nada, mas abrir caminho para 
todas as formas de conhecimento. 
 
 Rocha100: Tal não equivale a neutralismo já ultrapassado? 
 
 De forma alguma. Não me considero neutro, mas tampouco engajado, como portador das 
definitivas certezas de uma causa. Entre o engajamento sectário e o neutralismo alienado, 
avulta a História participante a que me filio. 
 
 Rocha100: Poderia comprovar isso com exemplos? 
 
 Perfeitamente. Em 1967, os donos do poder desejavam que propagássemos a Doutrina de 
Segurança Nacional, da ESG, como alicerce do modelo de 1964. Nós de forma exclusivista, 
totalitária. Ensinar não é proceder a lavagem cerebral. Por isso era preciso temperá-la com 
outros sistemas, como o católico, o marxista, o nacional-desenvolvimentismo do ISEB que 
havia sido fechado. 
 
Partiríamos – prossegue J.O. – de pensadores como José Bonifácio, Euclides da Cunha, 
Alberto Torres e Oliveira Vianna, para chegar ao presente como destinação da História, mas a 
direção do Liceu e a UFPB consideravam isso como subversão. 
 
 Rocha100: Mas você revelava uma predileção, não? 
 
 Sim, à época, devido à influência de Hélio Jaguaribe, Cândido Mendes e Anísio Teixeira, eu 
me fazia adepto do bismarquismo-napoleonismo do ISEB. Por volta de 1995, corrigi-me. A 
proximei-me ainda mais do liberalismo radical, sensível às mais diversas concepções e capaz 
de discuti-las todas. 
 
 
 Rocha100: Para encerrar, de que maneira? 
 
 Substituindo os conceitos pelas indicações, ou seja, recusando a última palavra dogmática. A 
visão de um professor deve ser crítica, decompromissada. Diante uma questão das 
alternativas. É assim que o historiógrafo serve à democracia, regime político pluralista e não 
monista, de uma concepção só.

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