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Iniciando a caminhada... Aula 01. Concepções sobre Cultura... De que se trata? 1.1 Introdução: o que é cultura? Cultura é uma dimensão do processo social, da vida de uma sociedade. É uma construção histórica, seja como concepção ou como dimensão do processo social. E é uma palavra em destaque atualmente. Só o homem possui cultura.A sociedade simples ou complexa, todas possuem sua forma de expressar, pensar, agir e sentir, portanto, todas têm sua própria cultura, o seu modo de vida.Não existe cultura superior ou inferior, melhor ou pior, mas sim culturas diferentes. Ela é repetida nas escolas, na mídia, na Igreja, na rua e em diversos espaços diferentes, com várias definições. Pensar em Cultura parece ser a melhor forma hoje de justificar as diferença entre os povos, de olhar para a diversidade. Apesar disso, continua um desafio conceituar sua complexidade. “Cultura é considerada uma das duas ou três palavras mais complexas de nossa língua, e ao termo que é por vezes considerado seu oposto – “natureza” – é comumente conferida a honra de ser o mais complexo de todos.No entanto, embora esteja atualmente em moda considerar a natureza como um derivado da cultura, o conceito de cultura, etimologicamente falando, é um derivado do de natureza” (EAGLETON, 2003) Cuche (2002) diz que o homem é um ser de cultura, que sua trajetória na humanidade consistiu em passar de uma adaptação genética ao meio natural, a uma adaptação cultural. Estudiosos de diferentes áreas do conhecimento, como a Antropologia, a Sociologia e a Psicologia entre outras ciências tem publicado trabalhos sobre o assunto, mesmo com opiniões contraditórias. Notas importantes... OBJETIVOS: Identificar os conceitos dobre cultura como dimensão social da vida de uma sociedade. Caracterizar a cultura da modernidade e sua singularidade Reconhecer as cinco faces da cultura da modernidade presentes no nosso dia O termo Cultura... Originalmente vem do latim colere e significa Cultivar; No dicionário Ferreira (2000) aparece oito conceitos diferentes de cultura; Genericamente a cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidõesadquiridos pelo homem em família, e em uma sociedade como membro dela. Na Antiguidade, com os romanos a palavra foi usada pela primeira vez para destacar a educação aprimorada, interesse pelas artes, ciências e Filosofia... Então, Cultura pode ser... Conjunto dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições, e de outros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e características de uma sociedade; civilização: a cultura ocidental; a cultura dos esquimós. Um conjunto de mecanismos de controle – planos, receitas, regras. Instruções para governar o comportamento – (GEERTZ, 2000) Atenção... É impossível descrever todos os tipos de conduta que formam uma cultura. Num só país, encontramos usos e costumes diferentes... O Brasil é um exemplo... há culturas regionais... Ao mesmo tempo, a sociedade brasileira tem uma cultura que abrange todo o território e coexiste com outra que é regional. A dinâmica da cultura permite ao longo do curso de sua história a aquisição de novos elementos e o abandono de outros, geralmente por desuso. Cultura na Antropologia é a totalidade dos padrões aprendidos e desenvolvidos pelo ser humano. Assim, a Antropologia procura alcançar ou representar o saber experiente de uma comunidade apreendido através da organização do seu espaço, na ocupação do tempo, na manutenção e defesa das suas formas de relação humana. Os antropólogos chamam de padrões culturais as normas, regras, leis, convenções, condutas e um conjunto de valores que o indivíduo deverá respeitar e obedecer para manter o equilíbrio e o funcionamento normal da sociedade. Cultura em Filosofia é explicada como o conjunto de manifestações humanas que contrastam com a natureza ou o comportamento natural. É uma atitude de interpretação pessoal e coerente da realidade, destinada a posições suscetíveis de valor íntimo, argumentação e aperfeiçoamento. Cultura em Sociologia é tudo aquilo que resulta da criação humana. São ideias, artefatos, costumes, leis, crenças morais, conhecimento, adquirido a partir do convívio social. Para Eagleton (2005), “Cultura” é uma das duas ou três palavras mais complexas de nossa língua. Considera também que o termo “natureza”, que é por vezes considerado seu oposto, é mais complexo ainda. No entanto, afirma que embora esteja atualmente em moda considerar a natureza como um derivado da cultura, o conceito de cultura, etimologicamente falando, é um conceito derivado do de natureza. 1.2 Cultura e Identidade: Compreendemos que o fenômeno cultura está relacionado entre outros enfoques conceituais com as questões identitárias, na medida em que está diretamente ligado à identidade cultural 1 , tema discutido nas teorias sociais atualmente, especialmente quanto à sua descentração. Fazemos referência a esse fato buscando Ignatieff (apud WOODWARD, 2005) por considerar que as concepções de identidade com o social são marcadas por meio de símbolos, o que é constatado e suas representações “[...] a construção da identidade é tanto simbólica quanto social” (ib. id, p. 10); por meio de gênero, realidade bastante evidenciado na produção e consumo de forma intencional e subliminar “[...] os homens tendem a construir posições-de-sujeito para as mulheres tomando a si próprios como ponto de referência” (p. 10). A base da discussão sobre o fato está na tensão entre as perspectivas essencialistas e não-essencialistas quanto à formação da identidade (ib. id. p. 12-13). Uma definição não-essencialista focaliza as diferenças, assim como as características comuns ou partilhadas tanto entre os patriotas quanto por com outros grupos étnicos. 1 Utilizamos o tema identidade na perspectiva elencada por Castells (2006, p. 22) ) como a fonte de significado e experiência de um povo. “[...] no que diz respeito a atores sociais, entendo por identidade o processo de construção de significado com base em um atributo cultural, ou ainda um conjunto de atibutos culturais inter-relacionados, o (s) qual (s) prevalece (m) sobre outras fontes de significado. Para um determinado indivíduo ou ainda um ator coletivo, pode haver identidades múltiplas. No entanto, essa pluralidade é fonte de tensão e contradição tanto na auto-representação quanto na ação social. Uma definição de identidade essencialista afirma existir um conjunto cristalino, autêntico, de características que todos partilham e que não se altera ao longo do tempo, marcando profundamente a forma de ser de uma nação. . Assim, nessa direção para as assertivas sobre identidade, utilizamos as reflexões de Woodward (2005, p. 13) ao sugerir como tratar essas questões de identidades culturais. Elas estão vinculadas a racionalidade, soberania, manipulação, autonomia, atividade, passividade, criatividade, conformismo, indivíduo ou massa, sujeito ou objeto, e a seus contrários, características do consumidor desde os primórdios da modernidade, conforme as reflexões: Precisamos de conceitualizações. Isso significa que para compreendermos como a identidade funciona, precisamos conceituá-la e dividi-la em suas diferentes dimensões. Com freqüência, a identidade envolve reivindicações essencialistas sobre quem pertence e quem não pertence aum determinado grupo identitário, nas quais a identidade é vista como fixa e imutável. Algumas vezes essas reivindicações estão baseadas na natureza; por exemplo, em algumas versões da identidade étnica, na “raça” e nas relações de parentesco. Mais frequentemente, entretanto, essas reivindicações estão baseadas em alguma versão essencialista da história e do passado, na qual a história é construída ou representada como uma verdade imutável. A identidade é, na verdade, relacional e a diferença é estabelecida por uma marcação simbólica relativamente a outras identidades. Na afirmação das identidades nacionais, por exemplo, os sistemas representacionais que marcam a diferença podem incluir um uniforme, uma bandeira nacional. A identidade está vinculada também a condições sociais e materiais. O social e o simbólico referem-se a dois processos diferentes, mas cada um deles é necessário para a construção e a manutenção das identidades. A marcação simbólica é o meio pelo pelo qual damos sentido a práticas e a relações sociais, definindo, por exemplo, quem é excluído e quem é incluído. É por meio da diferenciação social que essas classificações da diferença são “vividas” nas relações sociais. A conceitualização da identidade envolve o exame dos sistemas classificatórios que mostram como as relações sociais são organizadas e divididas. Algumas diferenças são marcadas, mas nesse processo algumas podem ser obscurecidas; por exemplo, a afirmação da identidade nacional pode omitir diferenças de classe e diferenças de gênero. As identidades não são unificadas. Pode haver contradições no seu interior que têm que ser negociadas. Pode haver discrepâncias entre o nível coletivo e o nível individual, tais como as que podem surgir entre as demandas coletivas da identidade e as experiências cotidianas partilhadas. Precisamos, ainda, explicar por que as pessoas assumem suas posições de identidade e se identificam com elas. O nível psíquico também deve fazer parte da explicação; trata-se de uma dimensão que, juntamente com a simbólica e a social, é necessária para uma completa conceitualização da identidade. Todos esses elementos contribuem para explicar como elas são formadas e mantidas. Nessa compreensão de identidade cultural percebo as diferenças entre a visão das sociedades antigas e as atuais quando traço uma comparação quanto à identidade da criança na sociedade da qual faz parte e em relação ao brincar, ao trabalho e à inserção dela no mundo do adulto e à sua identidade social. Slater (2002) volta ao cogito de Descartes para ver essa temática na perspectiva do sujeito e objeto como visão de mundo ocidental “[...] toda a problemática de sujeitos e objetos no pensamento ocidental moderno remonta tradicionalmente – ainda que grosseiramente – ao cogito de Descartes, que vê o mundo em termos de, por um lado, sujeitos humanos (uma mente em consciência que pensa, sabe, acredita e atribui significados e valores ao mundo) e, por outro lado, objetos (o mundo visto como “matéria em movimento”, como um conjunto de coisas que interagem, que podem ser compreendidas sob a forma de fatos, mas que são em si mesmas destituídas de subjetividade, de mente ou espírito, de significados ou essências)”. Essa visão de mundo torna sujeitos e objetos inteiramente distintos e diferentes um do outro. Os sujeitos são pura consciência ou razão, e exteriores à natureza e ao mundo material. 1.3 A Cultura da Modernidade Discutir cultura simboliza tudo o que é aprendido e partilhado pelos indivíduos de um determinado grupo e que confere uma identidade dentro dele. Warnier (2003) considera que a humanidade se construiu dispersando-se sobre quase toda a superfície das terras emersas, que as culturas sempre estiveram em contato e em troca umas com as outras e que a diversidade linguística, social e cultural foi levada ao extremo pelos mais diversos instrumentos. Freud (1976, p.15-16) estabelece uma teoria do nascimento da cultura e da civilização, das condições de seu funcionamento, de seus destinos possíveis. “[...] a civilização humana, expressão pela qual quero significar tudo aquilo em que a vida humana se elevou acima de sua condição animal e difere da vida dos animais – e desprezo ter que distinguir entre cultura e civilização - apresenta, como sabemos, dois aspectos ao observados. Por um lado, inclui todo o conhecimento e capacidade que o homem adquiriu com o fim de controlar as forças da natureza e extrair a riqueza desta para a satisfação das necessidades humanas; por outro lado, inclui todos os regulamentos necessários para ajustar as relações dos homens uns com os outros e, em especial, a distribuição da riqueza disponível”. Faz sentido, portanto, emprestar de Geertz (2002) a definição de cultura como “[...] um conjunto de mecanismos de controle, planos, receitas, regras, instruções para governar comportamentos”. Isso porque para ele, ao nascer a criança está apta a ser socializada em qualquer cultura existente. Desde os primeiros instantes da vida, o indivíduo é impregnado deste modelo, por todo um sistema de estímulos e de proibições formuladas explicitamente ou não. Isto o leva, quando adulto, a se conformar com os princípios fundamentais da cultura, processo que os antropólogos chamam de enculturação 2 . Esta amplitude de possibilidades, entretanto, está limitada pelo contexto real e específico em que de fato ela cresce. Destaca-se esse conceito de cultura como o elemento mediador entre o gênero humano e o indivíduo, o universal abstrato (o homem) e a particularidade concreta (os homens) que é dinâmica. Como exemplo, a cultura na sociedade contemporânea é permeada por transformações no mundo do trabalho onde observamos a conversão do trabalhador físico em trabalhador do conhecimento. Cada cultura é dotada de um “estilo” particular que se exprime através da língua, das crenças, dos costumes, da arte, afirmam os estudiosos do assunto. Cuche (2002) diz que “[...] este estilo, este “espírito” próprio a cada cultura influi sobre o comportamento dos indivíduos”. Todos os pontos de vista sobre cultura chegam a um ponto comum que é relacioná-la cultura ao modo de vida total de um povo, o legado social que o indivíduo 2 Processo pelo qual a sociedade condiciona seus membros para que assimilem a cultura dominante e participem da evolução da sociedade. adquire de seu grupo, um modo de pensar, sentir e crer, uma abstração ou um mecanismo para a regularidade normativa do comportamento. As crianças parecem ser o veículo das mudanças culturais pela forma como vivem e se constituem ao mesmo tempo na fonte, no fundamento da mudança cultural e no mecanismo que assegura a conservação da cultura (MATURANA e ZOLLER, 2004). A cultura de acordo com a visão de Tylor (1971) é a expressão da totalidade da vida social do homem que se caracteriza por suas dimensões coletivas, por aquisição e sem dependência de hereditariedade biológica. Essa afirmativa está vinculada também ao pensamento de Cuche (2000) quando diz que o homem é essencialmente um ser de cultura. Para ele o longo período de hominização, consistiu fundamentalmente na passagem de uma adaptação genética ao meio ambiente natural, portanto, a uma adaptação cultural. Pode-se trazer para essa discussão Valsiner (1988) por entender o conceito de cultura referindo-se à organização estrutural de normas sociais, rituais, regras de conduta e sistemas de significado compartilhados pelas pessoas que pertencem a um certo grupo etnicamente homogêneo. Nesse entendimento para ele há duasfaces da cultura: entidade coletiva e pessoal, em que os significados são socializados. A cultura moderna corresponde a uma nova configuração surgida com a mudança de paradigma econômico-social. Alguns teóricos não admitem a existência contemporânea dela enquanto outros dizem que estamos vivenciando um processo acelerado de mudanças e que, portanto, estamos na pós-modernidade, como se a modernidade tivesse envelhecido e superada. E assim, instituem uma série de pós para o período que vivemos: pós-burguesia, pós-industrialização, pós-cristandade, pós- civilizatória, pós-metafísica, pós-estrutural e pós-teorias, para negar a modernidade (SOUZA, 1999). Complementando Souza (2005) diz que o termo modernidade é usado e abusado de forma imprecisa. Tanto no discurso técnico como por via de consequência, na linguagem do nosso cotidiano, pois há uma série de confusões com sérias complicações. “[...] a palavra “Modernidade” permanecendo com seu uso semanticamente confusa, nela confundindo-se conceitos e significados, acima de tudo sendo usada como sinônimo para “modernização” e “moderno” atira sobre nós a nevoa da perplexidade”. A essa panorâmica traçada da sociedade em que vivemos atualmente, cheia de encontros e desencontros, de certezas e incertezas, de aceleração do tempo histórico, de novos processos sócio-econômicos, de crise de valores, intitulamos de cultura da modernidade emprestando de Souza (Ib. Id.) essa compreensão. Ele aponta cinco faces que caracterizam esse momento, que seria a característica da cultura da modernidade (ib. id. p. 17) (QUADRO 1): Quadro 1 – Cinco faces da cultura da modernidade 1. O homem e seu número O dilema do crescimento demográfico: seis bilhões de seres humanos, seis vezes mais do que no início do século XIX; 2. O homem e seu equilíbrio com a natureza O drama ecológico derivado, por um lado, deste crescimento, por outro, de um consumo induzido a forçar o ecossistema por todos os lados, como fornecedor de matérias-primas perecíveis e como escoadoro de lixo químico, industrial e orgânico; 3. O homem e suas relações com a sociedade O drama das desigualdades sociais, do desequilíbrio socioeconômico, dos conflitos de etnias, idéias, religiões, ambições e grupos de interesse; 4. O homem e as tensões inerentes a seu novo habitat social A megalópole moderna e seu aparato funcional burocratizado e anônimo; 5. O homem e sua convivência consigo mesmo e com a vida Desorientação emocional, vícios, fugas, distúrbios psicológicos, ansiedade, medo. Fonte: SOUZA, Nelson Mello e / 1999, p. 17 A cultura é, portanto, um movimento dialético de contradições que se reflete na produção, sob o ponto de vista da ideologia, das representações, valores instituídos pela indústria e significados nos modelos de brinquedos construídos, representativos do trabalho, da influência midiática e do cinema, como parte do conjunto de vivências do homem e sua história que está profundamente relacionado com o modo de vida contemporâneo. Isso representa uma versão individualizada e privatizada da modernidade em que pelo fato de ser fluida produziu profundas mudanças na sociedade, que para Bauman (ib.Id.) se iniciaram quando o espaço e o tempo foram separados da prática da vida e entre si, podendo ser categorizadas de forma distintas e mutuamente independentes da estratégia e da ação, deixando de ser entrelaçados. Esperamos que o exposto neste capítulo tenha dado uma leitura sobre o que é cultura, os diversos olhares que se debruçam sobre ela e a dinâmica em que ela está inserida na modernidade. Agora construa o seu conceito se Cultura, considere o que leu e pesquise mais sobreo tema. Construa um conceito seu sobre cultura, colocando no espaço abaixo.
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