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Derek Gregory, Ron Martin, Graham Smith (orgs.) Geografia Humana Sociedade, Espar;o e Ciencia Social Tradu(:iio: My Ian Isaack Ac ~ 09 U.F.M.G.• BIBLIOTECA UNIVERSITARIA Pedro Geiger Gerigrafo/IBGE 1111111111111111111111111111111 II1111133480806 NAo DANIFIQUE EST A ETIQUETA Jorge Zahar Editor Rio de Janeiro Rees, G. e J. Lambert (1986) Cities in Crisis (Londres: Edward Arnold). Relph, E. (1987) The Modern Urban Landscape (Londres: Croom Helm). Rex, J. (1986) Race and Ethnicit.\' (Milton Keynes, Open University Press). Saunders, P. (1981) Social Theory and the Urban Question (Londres: Hutchinson) (2" ed., 1986). Scott, A.J. (1986) 'Industrialization and urbanization: a geographical agenda', Annals, Association of American Geographers, vol.76, p.25-37. Short, 1. (1984) The Urban Arena (Londres: Macmillan). Short, 1. (1989) The Humane City (Oxford: Blackwell). Smith, M.P. (1980) The City alld Social TheOl)' (Oxford: Blackwell). Smith, S.J. 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A geografia hist6rica e um misterio ainda maior; poucos se aventuram alem da cren~a de que se trata de "velhos" mapas, e que talvez ela se preocupe demais com as lendas de marinheiros de antigamente, viajantes medievais e mercadores aventureiros. Outros acham que se trata de uma disparatada tentativa dos ge6grafos em explicar a hist6ria, e pens am que 0 ge6grafo hist6rico esta certamente transgredindo e deveria prova- velmente ser processado. [sto nao e bem assim, 0 ge6grafo hist6rico e um ge6grafo em primeiro lugar, por ultimo e 0 tempo todo (Mitchell, 1954, p.I-2). "Geografia historica" e urn termo que vem sendo empregado ha muito no mundo da lingua inglesa para descrever certas variedades de escritos topograficos, e e urn termo que, nos anos mais recentes, veio a identificar uma subdisciplina aparentemente distinta da geografia academica. Al- gumas dificuldades san associadas a esta subdisciplina, todavia, e os estudantes que se deparam pela primeira vez com cursos de geografia historica ficam confusos de como exatamente esses cursos devem ser diferenciados de outros ministrados nos departamentos de historia e geografia. N a verdade, a geografia hist6rica - ao contrario das geografias mais sistematicas designadas por "economica", "social", "politica", "urbana", "agrfcola", "medica", e assim por diante - nao pode rei- vindicar urn objeto de estudo perfeitamente definido, pois 0 que significa dizer que" historia" e este objeto quando a historia por si e tao hetero- genea e po de ser estudada em tantos aspectos diferentes (e quando os proprios historiadores dividem suas investiga<;:oes em caixas rotuladas "economica", "social", "polftica")? Alem do mais, e evidente que os pesquisadores que se autodenominam geografos historicos se concentram sobre uma diversidade de questoes substantivas, e tambem tendem a fazer uso de uma diversidade de jogos de ferramentas filosoficas e metodologicas sobre uma diversidade de fontes primarias e secundarias. A situa~ao, entao, nao e tanto a de um empreendimento academico uniforme impulsionado pOl' um misto de interesse, teoria e pratica, mas sim de uma compila~ao solta e ecletica de investiga~oes que se somam para 0 que Mitchell (J 954) descreveu como 0 "misterio ainda maior" da geografia historica. Evidentemente, uma observa~ao como essa pode alimental' a conclusao de que nao faz senti do falar sobre uma geografia historica, mas quero me opor a tal conclusao pelo fato de que investigar "0 misterio ainda maior" de Mitchell permite uma compreensao de como a complexa geografia do mundo esta estreitamente Jigada com 0 que acontece em sua historia. Eu poderia desenvolver esta aJega~ao em diversas dire~6es, mas meu argumento principal aqui e que a importancia da geografia historica e fazer com que uma sensibilidade geografica seja introduzida no estudo de todos esses fenomenos do passado - economicos, sociais, polfticos ou qualquer outro - que sao a propria" substancia" da historia e que atrafram a aten~ao dos historiadores (como tambem a de outros estudiosos das ciencias sociais e das humanidades). Considere, por exemplo, um acontecimento historico como 0 do" massacre" de Newport ocorrido no outono de 1839 (ver Williams, 1959, p.234-41) quando varios galeses dos Welsh Chartists, agitadores em prol da reform a polftica, foram baleados e mortos pOI' soldados durante uma rebeliao na cidade de Newport, no Pafs de Gales do SuI. 0 fato de uma regiao como a de Gales do Sui ter experimentado uma atividade dos chartistas reflete uma combina~ao peculiar de dificuldade economica com um certo estilo de radicalismo polftico; 0 fato de uma rebeliao ter ocorrido de todo dependeu da reuniao num mesmo lugar de indivfduos descontentes oriundos de tres centros diferentes e disjuntos (Blackwood, Ebbw Vale e Pontypool); eo fato de que a rebeJiao evoluiu ern confusao e perda de vidas foi, em parte, devido aos homens de Pontypool nao terem chegado a Newport a tempo, uma falha ela mesma relacionada tanto a distancia que eles tin ham de percorrer pOl' terrenos acidentados como ao mau tempo da noite anterior. Isto e obviamente apenas urn diminuto exemplo, mas mostra como um punhado de fatores geograficos - as caracterfsticas economicas e polfticas de uma determinada regiao, a coordena~ao de pessoas em diferentes lugares e 0 movimento de pessoas e de informa~oes aU'aves do espa~o - foram fundamentais a cria<;:ao de um pequeno "peda<;:o" de historia. Essas alega~oes podem, a princfpio, nao parecer suficientemente fortes ou excepcionais, mas sustentar a importancia de uma sensibilidade geografica enaltecida em face de um "historicismo" arraigado - uma tendencia que os estudiosos de quase todos os credos tem de interpretar o mundo social em termos de rela~6es temporais (geralmente cadeias de causas-e-efeitos que se perseguem "atraves dos anos") - e uma tarefa vital mas onerosa (e para um tratamento teorico sistematico desses assuntos, ver Soja, 1989, especial mente 0 capftulo I). Ademais, enquanto minhas alega~6es aqui nao pareceriam estranhas para as gera~6es mais velhas de historiadores e geografos, muitos dos quais estavam atentos ao papel da geografia na historia, eles, na verdade, vao contra 0 que mais recentemente tem sido considerado como 0 nicho da geografia historica na "divisao do trabalho" intelectual. Para ser mais preciso, 0 nicho alternativo que imagino para a geografia historica em meio as ciencias sociais e as humanidades e 0 que os estudiosos uma vez se referiram nao como geografia historica mas como" historia geografica" (e eu explicarei este termo em breve), e, ao externar esta opiniao, nao estou apenas argumentando contra os geografos historicos de hoje, mas tambem nadando de acordo com a mare do que eles real mente fazem em suas pesquisas substantivas. Na segunda se~ao de meu ensaio, consequentemente, examino distin<;:oes mais antigas feitas entre historia e geografia e, pOl' meio desse exame, resgato a no~ao de historia geografica como uma especie de lente atraves da qual podemos observar trabalhos em curso em geografia historica. Na terceira se~ao desenvolvoum exemplo mais detalhado de historia geografica, e neste caso, a historia em questao e a da "]oucura" : de pessoas que foram declaradas " ]oucas" , das institui~oes que as abrigaram e dos medicos que delas trataram. E, na se~ao final, pondero sobre a historia "espacializada" de Michel Foucault, 0 renomado intelectual Frances que frequentemente escreveu sobre assuntos historicos, e ao faze-Io insiro tanto um "tato" por investiga~ao historica como alguns conceitos - que tratam de fenomenos intangfveis tais como conhecimento e poder - que instruem minha visao mais geral de geografia historica (ou historia geografica) e tambem figuram em minha mais focalizada geografia historica da "loucura". Em conjunto, espero que os varios elementos de meu capftulo resultem numa demonstra~ao teorica e substantiva das raz6es para que algo que ainda pode ser chamado de "geografia historica" (mesmo que eu, pessoalmente, preferisse resgatar 0 termo "hist6ria geognifica") continue central para a arena intelectual. A hist6ria ... nao e uma est6ria de eventos consecutivos ou urn relato de mudan~as. Ela nao trata de eventos considerados como tais. Ela e urn estudo dos processos de pensamento que motivaram as a~6es humanas no passado, e nao simplesmente apreciar fen6menos em seus relacionamentos com 0 tempo. 0 conteudo do campo da hist6ria limita-se a objetos particulares, isto e, a~6es humanas que sao as conseqiiencias do pensamento consciente (Beaujeu-Garnier, 1952, p.6). omaterial, ou objetos, do estudo geografico [sao] os aspectos que caracterizam partes diferentes da superffcie da terra. POI' aspectos, quero me referir aqueles fen6menos que podem ser observados seja diretamente a olho nu ou indiretamente pOI' intermedio de urn instrumento ou estatfsticas. Podemos vel' coisas como casas, linhas ferroviarias, nuvens, plantas e morros; pOI' meio de instrumentos podemos observar temperatura, chuva, radia~ao solar; podemos mediI' estatisti- camente 0 numero de pessoas em urn lugar ou a densidade de colheitas em determinada area. Todos eles em conjunto formam os aspectos da superffcie da terra que podem, razoavelmente, compoI' 0 material da geografia (ibid., p.7). melhor as possfveis termos de uma reconcili~<;ao). Afirma-se as vezes que a manobra crucial foi a separa<;ao analftica entre hist6ria como a ciencia de "rela<;6es de tempo" e geografia como a ciencia de "rela<;6es espaciais" que Richard Hartshorne (baseando-se em ge6grafos e fi16sofos alemaes mais antigos) introduziu na literatura geognifica anglo-ameri- cana (Hartshorne, 1939, p.134-44): Esses trechos foram extrafdos de uma palestra proferida pela ge6grafa francesa Jacqueline Beaujeu-Garnier no Ibadan University College, Ni- geria,em 1952, e embora possa parecer estranho desenterrar este discurso ha muito esquecido - fico impressionado que Beaujeu-Garnier tambem explicite aqui uma serie de· discrimina<;6es que influfram bastante na opiniao acerca de geografia hist6rica tanto na epoca como mais recen- temente. Mais particularmente, ela bate numa exposi<;ao mais ampla pela qual varios ge6grafos de meados do seculo buscavam estabelecer os Iimites entre hist6ria e geografia, e que deste modo estavam a ponto de efetivamente escolher em separado 0 que fora a abordagem mais aberta e holfstica para aliar a investiga<;ao hist6rico-geografica apresen- tad a pOI' (digamos) Vidal de la Blache e os Anna/iSles na Fran<;a ou pOI' H.J. Fleure e a Aberystwyth School no Pais de Gales. 0 resultado desta escolha em separado foi 0 de compartimentalizar 0 conhecimento de urn modo nao muito util, assim diria, e produzir uma situa<;ao em que a subdisciplina declaradamente hist6rica da geografia - isto e, a geografia hist6rica - acabou curiosamente divorciada das preocupa<;6es, teorias e metodos da hist6ria. Nao basta fazer esta reclama<;ao, no en tanto, pOl'que e vital compreen- der a exata natureza desta separa<;ao (mesmo que seja apenas para avaliar A descri~ao em conformidade com 0 tempo e Hist6ria, a que esta de acordo com o espa~o e Geografia" ... "A Hist6ria difere de Geografia apenas na considera~ao de tempo e area. A primeira e urn relata de fen6menos que seguem urn ao outro e tern rela~ao com 0 tempo. A segunda e urn relata de fen6menos urn ao lado do outro no espa~o (Kant, 1802, citado em Hartshorne, 1939, p.135). Hartshorne declarou, pois, que para a geografia "0 tempo em geral passa para 0 segundo plano" (ibid., p.184), e afirmou que estudos geograficos que enfatizam a dimensao temporal corriam 0 risco de se tornar estudos em hist6ria (ibid., p.I77-84). Isto significava que sua compreensao da geografia hist6rica envolvia urn certo distanciamento do fator tempo - urn distanciamento que a levou a usaI' 0 termo "hist6rico" simplesmente mais no sentido "do passado" do que inferir, a partir dele, qualquer liga<;ao com 0 campo da hist6ria (ibid., p.185) - e, desse modo, ele confinou a subdisciplina a reconstru<;ao do "presente hist6rico" , urn "atalho" utilizado pOl' urn particular e prefe- rivelmente curto perfodo de tempo (ibid., p.184-8). Deve-se duvidar, pOl'em, da separa<;ao de Hartshorne como uma base para a efetiva pratica da geografia hist6rica em meados do seculo XX, especialmente tendo em vista que, praticamente ao mesmo tempo, Carl Sauer - que e freqiientemente considerado urn ge6grafo hist6rico (Williams, 1983) por seu papel central para a Escola de Berkeley de geografia hist6rica e cultural - foi bastante explfcito em sua enfase sobre as muta<;6es hist6ricas de longo prazo no ambito da cultura material (e ate descreveu seus estudos como parte de uma "hist6ria cultural" mais ampla: vel' Sauer, 1941). Sauer, no entanto, nao teve receio em identificar uma preocupa<;ao pOl' hist6ria como" rela<;6es temporais" no cerne de sua priitica hist6rico-geografica, e ate mesmo 0 ge6grafo britanico hist6rico H.C. Darby, que certamente se preocupava com a compatibilidade l6gica entre hist6ria e geografia, estava preparado a aceitar 0 compromisso de Sauer com a "dimensao de tempo em geo- grafia" (Darby, 1989). E pOltanto revelador que, em sua palestra de 1952, Beaujeu-Garnier tenha delineado a separa<;ao de Hartshorne entre hist6ria e geografia (Beaujeu-Garnier, 1952, p.2-4), mas depois criticou a mesma por deixar de especificar os objetos - 0 conteudo ou 0 material - que comp6em "0 campo da investiga<;:ao geografica", em oposi<;:ao ao da investiga<;:ao historica (ibid., pA-7). Ela se valeu das ideias do historiador R.G. Collingwood, que delimitou a historia como 0 estudo de "processos de a<;:aoque possuem urn lado interior, constitufdo por processos de pensamentos" (citado em ibid., p.5: ver tambem Guelke, 1982), e usou sua defini<;:ao como trampolim para delimitar a geografia como 0 estudo de fenomenos muito mais permanentes, tangfveis e observaveis. Esta distin<;:aoesta claramente estabelecida nos dois trechos de Beaujeu-Garnier citados anteriormente, e em sfntese fica claro que ela considerava historia e geografia como separados nao tanto em termos de uma preocupa<;:ao, seja por "rela<;:6es temporais" seja por "rela<;:6es espaciais", quanta separadas pOl'que uma se concentrava em objetos imateriais (ou "ideais") tais como pensamentos e a<;:6eshumanos, en- quanto a outra se concentrava em objetos materiais tais como" casas, linhas ferroviarias, nuvens, plantas e morros" . Gostaria de lembrar que os geografos humanos de urn modo geral sentiram-se freqiientemente pouco 11vontade em tratar de fenomenos destitufdos de uma materialidade obvia, e que toda uma historia ainda esta por ser escrita do medo "do imaterial" na investiga<;:ao geografica (ver, pOl-em, Philo, 1991; Watson, 1957)_ Tambem parece que 0 tipo de distin<;:ao identificada por Beaujeu-Gamier levou muitos geografos his- toricos a concentrar suas pesquisas em tomo de objetos materiais, e, ao faze-Io, eles se distanciaram dos historiadores que estao mais propensos em falar acerca defenomenos imateriais, nao apenas as" ideias" presentes nas cabe<;:asde pessoas historicas (enfoque de Collingwood) mas tambem de todo urn conjunto de acontecimentos passageiros (guerras, fome), entidades abstratas (institui<;:6es polfticas, movimentos intelectuais) e estruturas mais profundas (as" leis" do capitalismo, a "Iogica" da luta de classes). Na verdade, se pensarmos nas diversas tradi<;:6ese "escolas" de geografia historica poderemos notar esta predile<;:ao pelo mundo material e isto e tao verdadeiro para os norte-americanos como Carl Sauer e Fred B. Kniffen (com seus enfoques sobre cultura material e coisas tao "corriqueiras" como estabulos e moir6es de cerca) quanto 0 e para os pesquisadores britanicos preocupados com as morfologias de povoamentos do passado e sistemas de campo. Ademais, se formos reexaminar 0 classico ensaio teorico de Darby de 1953 (reeditado em 1957), poderemos ver que ele considerava a atividade do geografo historico como basica "para explicar a paisagem" - explicar as con- figura<;:6es (as distribui<;:6es e as associa<;:6es) dentro da paisagem - caso necessario pela lama e 0 suor do trabalho de campo (Darby, 1957, p.650). Sera util deter-nos por urn momenta no ensaio classico de Darby, visto que ele codificou aqui tres possfveis maneiras de reunir as disciplinas de historia e geografia, e, ao tango do processo, ele, de uma maneira questionavel, imprimiu 11geografia historica uma dire<;:aoque a afastou do muito que havia de interessante no campo de historia (0 que certamente nao deve depreciar a substancia de sua propria pesquisa). Em primeiro lugar, ele identificou 0 estudo de "geografias passadas", em que as paisagens de artefatos humanos e atividades associadas com determina- dos perfodos de tempo (" cortes transversais" temporais) tinham de ser reconstrufdas (ibid., p.643-54); e, em segundo lugar, ele identificou a "historia por tras da geografia" em que acontecimentos de tango prazo esculpindo importantes impactos na paisagem (" os temas verticais") tiveram de ser rastreados por dezenas e ate centenas de anos (ibid., p.646-9). Ele aparentemente considerou a primeira dessas possibilidades como a "verdadeira" geografia historica, com a segunda possibilidade desempenhando urn importante papel de apoio, mas a terceira dessa trfade - 11qual ele se referia como a "geografia por tras da historia" - foi vista mais como alheia e como algo que nao poderia ser incorporado "ate mesmo dentro da abrangencia mais ampla de geografia" (ibid., p.643). 0 que Darby chamava de "geografia por tras da historia" eram aqueles estudos em que 0 curso da historia humana se relacionava com con troles postos em a<;:aopelos atributos naturais e humanos da "base geografica" de uma determinada regiao (ibid., p. 640-3) e, ao identificar esta especie de investiga<;:ao intelectual e em seguida banir a mesma do campo da geografia, ele anunciou urn tema que estivera presente na geografia britanica continuamente desde 0 encontro de geografos e historiadores em 1932, quando C.B. Fawcett - captando 0 ambiente do encontro - declarou que qualquer tentativa de usar "fatos geogra- ficos" para explicar "acontecimentos historicos" se constituiria num exercfcio de "Historia, historia geografica e nao geografia" (Geograp- hical AssociationlHistorical Association, 1932, pAO). Neste sentido, na verdade, alguns escritores se referiram ao objeto dos debates como "historia geografica" , e um breve resumo das conclus6es a que se chegou aqui foi apresentado por F.J. Monkhouse em 1955: o relacionamento entre Geografia e Historia pode ser examinado em termos de historia geografica e geografia historica. Historia geografica e a atividade do historiador, que procura seus [sic] proprios interesses com 0 emprego de seus proprios metodos; ele se utiliza da "geografia por tras da historia" a fim de dar uma localiza~ao exata 11 teia de acontecimentos pelos quais ele se interessa ... Mas, inversamente, a geografia hist6rica esta dentro da competencia direta do ge6grafo. 0 ge6grafo hist6rico ocupa-se da reconstru~ao da geografia do passado, a hist6ria da paisagem ... (Monkhouse, 1955, p.19-20). Em outras palavras, desde que os pesquisadores ancorassem seus estudos nos objetos materiais de paisagens do passado (e com isso investigassem onde estavam localizados esses objetos, e como eram combinados), 0 resultado era geografia hist6rica propriamente dita: mas, se desviassem sua aten~ao para acontecimentos, entidades e estruturas mais imateriais da hist6ria, e se taJvez quisessem dizer algo a respeito da geografia pOl' tras desta hist6ria, 0 resultado entao, seria a hist6ria geografica que pertencia a hist6ria e nao a geografia. E manobras como essa exclufram, de fato, muitos estudos mais antigos - como os de Ellsworth Huntington, Ellen Churchill Semple e, mais recentemente, Gordon East (1938) - do corpo geografico, e ao proceder assim tambem exageraram a distancia disciplinar entre os ge6grafos e os escritos fascinantes de historiadores como H.B. George (1901) e Lucien Febvre (1932). Pode parecer urn tanto estranho preocupar-se agora com esses argu- mentos e discrimina~6es mais antigas, mas 0 prop6sito da narrativa acima e de resgatar uma serie de oposi~6es que foram outrora levadas a serio - entre hist6ria e geografia; entre hist6ria geografica e geografia hist6rica - e que podem proveitosamente esclarecer 0 que esta se passando rea/mente em geografia hist6rica hoje em dia (e talvez em geografia humana de urn modo mais geral: vel' tambem Driver, 1988). Simplificando as coisas, ocorre-me que grande parte do que atualmente se faz passar pOI' geografia hist6rica deixou de respeitar as cercas mais antigas, e que estudo ap6s estudo segue atualmente 0 sentido de uma hist6ria geografica onde 0 foco se desviou da materialidade de "fatos geograficos" para a imaterialidade de fenomenos hist6ricos. Nao se deduz daf que ge6grafos hist6ricos do presente nao mexam com feno- menos que tenham uma expressao indelevel sobre a superffcie da terra - como a1deias desertas, igrejas, templos, fabricas, guetos e assim pOI' diante - mas serve para afirmar que pelo menos uma boa parte da pesquisa se voltou para fenomenos com, na melhor das hip6teses, urn impacto mfnimo ou tangencial sobre "0 solo". E, com rela~ao a esta ultima conexao, considere a pesquisa sobre temas tao variados como a difusao de inova~6es, a migra~ao de pessoas e seus sistemas ideol6gicos, o crescimento de associa~6es fraternas e polfticas, 0 embate de classes sociais, 0 funcionamento da maquina estatal, as representa~6es artfsticas de ten'as e mao-de-obra, e assim pOI' diante. A motiva~ao pOI' tras desta pesquisa nao e, evidentemente, urn genulno desejo de reconstruir a materialidade de "geografias passadas": na verdade, a aten~ao se des- garrou dessas geografias como ponto final de investiga~ao para uma agenda estabelecida pOI' historiadores (e pOI'outros estudiosos) domina- dos pOI' questoes e temas tidos como significativos na transforma~ao de antigos sistemas ecol6gicos, economicos, sociais, polfticos, culturais e ideol6gicos. Isto nao quer dizer que a geografia material do mundo tenha desaparecido dos estudos realizados: em vez disso, serve para enfatizar que esta geografia deixou de ser investigada como urn "fim em si", mas e introduzida para apontar a diferen~a crucial que a geografia na hist6ria faz para as questoes e temas especificados na agenda (a primeira vista "ageografica" e "aespacial") dos historiadores. Em outras palavras, se antes eram coisas a ser explicadas, as "geografias passadas" se tornaram parte de uma explica~ao sendo dad a para algo diferente, e aqui este "algo diferente" deve ser encontrado no raio de acontecimentos mais imateriais, entidades e estruturas que pOI' conven~ao sac tratados no campo da hist6ria. Esta manobra deve ser interpretada com muito cui dado, todavia, pois o que ela envolve nao e urn retorno a crassa hist6riageografica inserida no "determinismo ambiental" de Huntington, Semple e outros, nem qualquer simpatia pOI' declara~6es como" a hist6ria e governada pe1a geografia" ou "hist6ria e geografia posta em movimento" (Darby, 1957, p.642). Neste senti do, concordo com Darby que deverfamos ser caute- losos em fazer permutas em hist6ria geografica, mas nao vejo nenhuma razao para supor que todos os esfor~os em escrever hist6ria geografica sejam mal orientados em suas ambi~oes ou rea1iza~6es. E, se recentes trabalhos de geografia hist6rica forem consultados, res tara pouca duvida que a tendencia nao e em dire~ao a algum simples determinismo ambiental mas em dire~ao a uma cautelosa narrativa de como as realidades de espa~o e Jugal' - os contrastes e rela~6es de cidade/campo, padroes regionais de praricas agrfcolas e industriais, modos de vel' e agir em paisagens, disposi~oes internas e ambientes externos de institui~oes como asilos e prisoes, geografias locais de etnia, genero, grupos ocupacionais e de classe (apenas para dar alguns exemplos) - se tornaram todos eles basicos para a forma~ao de acontecimentos hist6ricos fundamentais como o surgimento do capitalismo, as revolu~oes agrfcoJas e industriais, a rapida expansao do urbanismo no mundo ocidental, 0 desenvolvimento de na~oes e estados, a forma~ao de modernos sentidos de auto-identidade humana, e a produ~ao de contlitos raciais, sexuais e baseados em classes (vel', pOI'exempio, Cosgrove, J984; Daniels, 1993; Dennis, 1984; Dodg- son, 1987; Driver, 1993a; Dunford e Perrons, 1983; Gregory, 1982; Harvey, 1985; Langton e Morris, 1986; Mackenzie, 1989; Rose, 1988). A conclusao a ser tirada desses trabalhos nao e que os acontecimentos da historia podem ser reduzidos as complexidades da geografia, mas que e possfvel enriquecer e lan<;ar uma nova luz sobre esses aconteci- mentos historicos ao injetar-lhes urn pouco de sensibilidade geognifica. Esta e a promessa da nova historia geografica: e a promessa de estudos que se recusam a fechar-se em torno da disposi<;ao dos objetos no mundo material, mas que estao preparados a reel aboral' as preocupa<;6es de "mestres" como Darby e Sauer numa tentativa de criar uma subdisciplina em sintonia com os interesses mais amplos das contemporiineas ciencias sociais e humanidades. E tambem a promessa que devo me empenhar agora em exemplificar mais explicitamente, embora deva-se admitir que o debate a seguir nao pode fazer mais do que esbo<;ar 0 potencial de uma historia geognifica cuidadosamente buscada. seus achados numa tela de mudan<;as socio-economicas mais amplas na natureza do mundo ocidental. Ademais, seguindo 0 rastro do pioneiro Historia da loucura (1967), de Michel Foucault, admitiu-se que a historia da loucura e urn momento crucial na historia da razao: na historia de como as pes so as nas sociedades ocidentais vieram a considerar-se - e foram encorajadas a se lornar - indivfduos humanos, "racionais", "normais" e "responsaveis" . POl·tanto, a estoria de como" nos" apren- demos a identificar, internal' e tratar de loucos (com 0 proposito de torna-los "nao-loucos") e, ao mesmo tempo, a estoria de como" nos" constitufmos os ediffcios conceituais de "racionalidade" , "normalidade" e "responsabilidade" dos quais depende todo 0 funcionamento da mo- derna vida social. Manifestamente, entao, os tipos de historias ora sendo pesquisadas aqui respondem quest6es acerca do mundo moderno pelo menos tao importantes quanto as quest6es abordadas pOl' (digamos) historiadores marxistas preocupados com 0 surgimento de uma ordem socio-economica capitalista. Esfor<;os foram devidamente despendidos na realiza<;ao de investiga- <;6es em dimensao historica de "temas de saude mental" , mas conside- ravelmente pouco foi tentado com respeito as conjuntas dimens6es historico-geograficas desses temas, com a conclusao - assim diria eu - de que os estudos empreendidos nao conseguiram realizar tudo 0 que poderiam tel' realizado. Em primeiro lugar, e esta e a reivindica<;ao mais fragil, os historiadores deixaram freqUentemente de notal' as diferen<;as geograficas extremamente reais na maneira como as sociedades do passado identificavam, mandavam internal' e tratavam os loucos. Isto os levou a produzir historias que dao a entender terem os negocios de loucos do passado side muito mais coerentes em seus contextos e conteudos do que 0 eram na realidade, e tambem de retratar mudan<;as historicas como se elas envolvessem tendencias instantfll1eas e em massa de urn conjunto de ideias e praticas para outro. A "verdade" era indubitavelmente muito mais heterogenea e fragmentaria do que essas historias admitem, e, em rela<;ao a isto, e esclarecedor repetir a advertencia de Roy Porter sobre considerar os asilos que apareceram na Inglaterra dos seculos XVIII e XIX como urn "sistema" coerente: Ate recentemente, grande parte da pesquisa no campo da saLide mental era ahist6rica e aespacial. Achamos que 0 tratamento compreensivo de ambos, os assentamentos hist6rico e geognlfico de temas ligados a saLidemental e particu- larmente importante (Smith e Giggs, 1988, p.viii). Nos ultimos anos, trabalhos sobre a historia da "Ioucura" se tornaram bastante comuns, e e possfve! encontrar toda sorte de investiga<;6es historicas preocupadas com indivfduos mental mente perturbados de epocas passadas - as "pessoas loucas", "Iunaticos" e "insanos" de terminologias mais antigas - e, tanto com as institui<;6es que algumas vezes os abrigaram como com os medicos (e outros especialistas) que as vezes trataram deles. Essas investiga<;6es tern com isso resgatado os pensamentos e as experiencias de pessoas loucas do passado; reconstrufdo interpreta<;6es sobre a loucura no passado e as propostas associadas para seu tratamento; debatido as atuais prciticas adotadas em asilos e outros espa<;os institucionais; deparado com os "medicos de loucos" e seus antecedentes; e tern desenredado os contextos demograficos, economicos, sociais e poHticos em que surgiram os especializados "negocios de loucos" (sistemas de institui<;6es e praticas direcionadas para 0 objeto da loucura). Alguns desses estudos eram limitadas "historias psiquiatri- cas" escritas pOl' psiquiatras que proclamavam as realiza<;6es de seus predecessores, mas a maioria dos estudos mais recentes tende a situar o asiJo por fim transformou-se no remedio preferido para a doenc,;a de uma civilizac,;ao. Apesar disso, sua ascensao foi lenta, limitada e gradativa ate 0 fim do seculo XVIII, e e discutfvel se 0 termo "sistema" que ocasionalmente era aplicado a este devenvolvimellto nao seria engallador. Afillal de contas, ate 0 illfcio da era vitoriana, a nac,;aos6 possllfa lima cobertura esparsa de hospfcios, mesmo em areas dellsamente povoadas, e apesar de aprovar a Lei de 1808 que permitia aos condados estabelecerem asilos subvencionados, apenas uma duzia estava em funcionamento ate 1845. 0 mapa dos manic6mios do seculo XVIII mostra menos um sistema coordenado do que uma distribui~ao altamente desigual de inslilui~6es heterogeneas - grandes e pequenas, empreendimentos privados ou de caridade, publicos ou particulares. 0 termo "sistema" sugere uma unifor- midade i1us6ria. A diversidade era 0 ingrediente fundamental (Porter, 1987, p.156). resultado foi deixar em Iiberdade uma comunidade a que Foucault se refere como" os Mesmos" e mandar confinar uma comunidade a que ele se refere como" os Outros" (ver Foucault, 1970, p.xxxiv, onde ele pondera sobre seus objetivos em Historia da loucura). Os detalhes de exatamente quem foi confinado, juntamente com os detalhes de como este confinamento foi interpretado, fundamentado e organizado, obvia- mente variavam muito conforme a epoca e 0 lugar em questao, mas nao resta duvida de que 0 processo de separa<;ao s6cio-espacial foi funda- mental para as hist6rias aqui examinadas. Alem disso, 0 princfpio da separa<;ao s6cio-espacial foi algumas vezes ampliado a medida queas autoridades buscavam transferir as pr6prias institui<;5es para longe dos centros populacionais, resultando daf que os asilos especializados em lumiticos, inaugurados em muitas partes do mundo do seculo XIX, acabassem espacialmente marginalizados. Foram assim instalados no "alto da colina" ou em locais "longe dos olhos, longe do cora<;ao" , e 0 que geralmente acontecia e que esses locais de loucura eram banidos - a semelhan<;a de seus predecessores medievais, as colonias de Ieprosos - para areas rurais bastante afastadas das cidades, povoados ou importantes rodovias. Esta geografia "ruralizada" de asilos refletiu evidentemente uma "inten<;ao de policiar" (para usar uma Frase algumas vezes empregada por contemporaneos) com 0 intuito de alijar pessoas e acontecimentos incomodos do cenario urbano, mas na realidade esta ruraliza<;ao era mais do que uma simples e manifesta pratica de controle social. 0 ponto principal aqui e que as autoridades do seculo XIX estavam empenhadas assaz constrangidamente em usar a paisagem rural juntamente com sua beleza natural e serenidade, para acalmar e, confiantemente, curar as mentes perturbadas dos reclusos em asilos. A estrategia mais ampla entao empregada, conhecida como "tratamento moral" ou "administra<;ao moral", pedia um regime institucional humano em que aten<;ao, afeto e a manipula<;ao detalhada de ambientes locais (dentro e fora do asilo) eram planejadas para reacender nos "pacientes" um controle moral sobre suas tendencias a instabilidade. Este importante ponto de partida na hist6ria da loucura - a institui<;ao de uma resposta "moral" para os loucos a qual ainda hoje ecoa em diversos procedimentos psiquiatricos e de assistencia mental - era, pOl'tanto, estreitamente vincuJado desde 0 infcio a manipula<;ao de geografias institucionais: Ao levar adiante este argumento, Porter exp5e c1aramente uma sen- sibilidade para a geografia desigual do" mapa dos manicomios" , e existe um sentido em que sua perspicacia por este mapa se funde com sua enfase mais geral sobre a "absoluta diversidade dos desenvolvimentos (relacionados com a loucura) durante 0 longo seculo XVIII" (ibid., p.14: voltarei ao assunto ja). Em segundo lugar, e esta e a alega<;ao mais forte, os historiadores da loucura raras vezes apreciaram a propor<;ao em que espa<;o e lugar - as distribui<;5es espaciais e as combina<;6es de fenomenos; a vincula<;ao de fenomenos a determinados locais - fizeram uma diferen<;a crucial exatamente para a elabora<;ao das hist6rias que escrevem. De fato, a pr6pria loucura (ou a popula<;ao de presumfveis loucos) sempre foi um fenomeno com uma geografia definida: ela sempre foi mais predominante em certas regi5es e localidades do que em outras, talvez porque deter- minados tipos de redondezas - e notadamente as circunstancias depres- sivas dos povoados e cidades do florescente seculo XIX -.-- provocavam, na realidade, mais desassossego psicol6gico nas pessoas do que outros tipos de ambientes; ou talvez porque determinados tipos de redondezas tornavam as pessoas menos capazes de lidar com dependentes pertur- bados e mais propensos a entrega-Ios a merce de 6rgaos de "controle social" (inclusive os administradores de asilos) do que antes. Por outro lado, as diversas institui<;5es que surgiram para lidar com a loucura ao longo dos seculos dependeram basicamente da manipula<;ao de espa<;o e lugar, e e por isso que Foucault dedica certa aten<;ao ao que ele chama a "geografia dos lugares ma~-assombrados" (Foucault, 1967, p.57). A simples presen<;a de predios aos quais os loucos eram freqUentemente encaminhados, caracterizados por seus altos e intimidati vos muros, janelas gradeadas e portas aferrolhadas demonstram 0 uso do espa<;o como barreira para impor uma distancia entre uma popula<;ao suposta- mente sa e seus pari as supostamente insanos. Isto significa que 0 processo hist6rico descrito acima - a cria<;ao e 0 subseqUente desmembramento das duas categorias, razao e loucura - foi sustentado por e realizado atraves de uma separa<;ao ao mesmo tempo social e espacial, cujo Colinas, vales, bosques e jardins eram todos destinados a desempenhar um papel na administra~ao moral. Ao contemplar essas paisagens rurais e idflicas da Inglaterra, os IUni:'iticoseram sutilmente impelidos em dire~ao a um padrao cultural. 0 fato de mulheres pacientes recolhidas no Asilo Fisherton para os criminalmente insanos arrancarem toda e qualquer flor no minuto em que esta despontasse acima do solo foi considerado uma psicopatologia muito seria (Showalter, 1985, p.35-6). E evidente que meu exame aqui simplifica demais as coisas, uma vez que, na realidade, havia uma quantidade de diferentes especies de espa~os institucionais que recolhiam os loucos, cada um deles possuindo deter- minados tipos de combina~6es locacionais refletindo tipos especfficos de argumentos a respeito da loucura e seu tratamento apropriado (Philo, 1992a). Porem, como 0 trecho acima de autoria de Elaine Showalter 0 demonstra de forma competente, 0 proprio funcionamento do negocio de loucos no seculo XIX - 0 objetivo desse negocio e como deveria ser atingido - mostra que ele era ao mesmo tempo infJuenciado pelos espa~os e lugares de suas institui~6es competentes e influenciava os mesmos. A primeira coisa a ser notada e que uma das verdadeiras raz6es para a cria~ao da Associa~ao foi a de superar 0 isolamento dos funciomirios de medicina em asilos, muitos dos quais ficavam efetivamente "presos" por seus compromissos de residencia a institui~6es afastadas de centros populacionais (ver a seguir). Em sua circular de 19 de julho de 1841, Dr. Samuel Hitch, do Asilo do Condado de Gloucestershire anunciou que seria criada uma Associa~ao, "uma vez que ja se sentira ha muito ser desejavel que os cavalheiros da medicina ligada a asilos de lunaticos conhecessem melhor um ao outro" (Hitch, 184 I, citado em diversas publica~6es, inclusive Outterson Wood, 1896, p.243). Alem disso, tam- hem com rela~ao a cria~ao da Associa~ao, um tal Dr. Blake fez um comentario sobre 0 quanto poderia ser realizado pOl' uns "poucos homens de boa vontade" unidos para combater 0 inimigo da doen~a mental: pois cada urn vinha trabalhando em isolamento, [quando] cuidar de insanos nao era urn problema que pudesse ser resolvido por urn unico homem. Aqui, mais do que com qualquer outro problema, havia a necessidade de uma combina~ao de uma quantidade de experiencias ao longo de varios anos (Crommelinck, 1843, citado em Walk e Walker, 1961, p.617). Vma reuniao foi realizada de forma improvisada na cidade de Glou- cester em 27 de julho de 184 I, e foi nesta reuniao - e apesar da limitada presen~a de apenas seis pessoas - que a Associa~ao foi formalmente instituida e se estabeleceu 0 primeiro conjunto de regras. No decorrer dos anos seguintes, a existencia da sociedade foi assaz precaria, com um numero reduzido de reuni6es esporadicas e pouco freqiientadas, mas logo tentou-se contornar a dispersao geografica dos membros com a constru~ao de uma biblioteca de "Iivros, esbo~os e folhetos" a cargo do secretario da sociedade (ao qual os membros poderiam encomendar exemplares contanto que arcassem com as des pes as de remessa e devo- lu~ao). Mais tarde, um missivista suficientemente impressionado pOI' este metoda chegou a recomendar que 0 mesmo Fosse reativado sob 0 fundamento de que isso "propiciaria aos membros, especialmente os que residiam em areas remotas, um interesse adicional no trabalho da Associa~ao" (Outterson Wood, 1896, p.249-50). Providencias decisivas para fortalecer a Associa~ao so foram tomadas depois da reuniao de 1852 em Oxford, e a partir desta data ela apresentou um "crescimento progressivo" que acarretou tanto" a amplia~ao de seu ambito como 0 aprofundamento de suas raizes" (Kirkman, 1863, p.312). o detonador do "rejuvenescimento" da Associa~ao (BuckniJl, 1861, pA-6) durante os primeiros anos de ] 850 foi, indubitavelmente, aprodu~ao de um "boletim interno" atraves do qual os membros isolados A fim de ser ainda mais especffico com rela~ao a isto, voltar-me-ei para o que a primeira vista po de parecer uma preocupa~ao improvavel para a investiga~ao academica: isto e, os "medicos de loucos" ou clinicos que historicamente organizavam a maior parte do tratamento dado aos dementes. Os clfnicos (e todos eles eram homens) desempenharam um papel crucial ao desenvolver conceitos de loucura ou administrando os asilos publicos que apareceram durante 0 seculo XIX na Inglaterra e Pais de Gales (e em outras partes do mundo), e um elemento importante no processo pelo qual eles se tornaram uma "profissao" , com pretens6es especiais de atacar a afli~ao mental, foi a cria~ao, em 1841, de uma organiza~ao formal chamada Associa~ao dos Funcionarios de Medicina em Asilos e Hospitais para Insanos (para detalhes sobre esta organiza~ao, vel' Hack Tuke, 1879; Hervey, 1985, p.109-13; Outterson Wood, 1896; Walk, 1978; Walk e Walker, 196 I). A Associa~ao era um fenomeno altamente intangfvel, e envolvia pouco mais do que 0 compromisso de seus membros e de alguns fragmentos de trabalhos escritos, e nem e preciso dizer que seu impacto sobre a paisagem material foi insignificante. E, no entanto, tambem foi um fenomeno com uma geografia definida: uma geografia que foi deliberadamente moldada a medida que a Asso- cia~ao procurava tornar-se um orgao mais integrado, para disseminar mais amplamente a sua influencia e obter favores nos" lugares certos" . Examinemos rapidamente esta geografia. 284 Chris Philo 285 I ,~ podiam manter contato entre si e com os ultimos avanc;os terapeuticos, "' ..• roo ' .;, E legislativos e administrativos (Anon., 1855, p.3-4: para detalhes da ~C') '" . E 'I .0<0 <l.l E'" 00 ~.~ ~ ~.~ a '"c:publicac;ao vel' Philo, 1987; Russel, 1988, p.299-301; Walk, 1953; Walk, .,- ~ ~ '" <l.lE E ca..c ·z ~ a '" •...'" ., LL o E E;! .'::J ~ ~ 0.. 1978, p.532-36). 0 resultado foi 0 Asylum Journal, que apareceu pela '" ~~ g'~Q: <l.lII .g 1~ 0 c: •... ",00'0 '" (f)e~~5: ~primeira vez em novembro de 1853 e logo passou a ser 0 Asylum Journal :;:.~ ro e U~ g :5 .0 .gE~~~.:g -E <l.lof Mental Science (em 1856), e depois simplesmente Journal of Mental OJ '" c: ., §E~8~~a IJ) -- r')Ol « 0 E N Science (em 1859), sendo que as mudanc;as de nome assinalavam 0 Ol «l Il'a '" - C"f«'0 z ~- '-'- -cat'ater cada vez mais academico da publicac;ao e as importantes mudanc;as '" - 0I N ~N ~ - •... I <l.l que aconteciam entao na conceitualizac;ao da perturbac;ao mental. 0 N - E ~~ ,:; N .~ fomento desta publicac;ao pode quase ser descrito como uma deliberada ~ N N N -= .;,~ - 0 '" "estrategia espacial", e ela logrou tanto integral' os membros dispersos ~ N .. :::' 00 0' -., da Associac;ao como promover a difusao geografica das opinioes da 'ro Cli ~ <>, ro l~ Associac;ao. Como 0 Dr. Charles Lockhart Robertson observou ao as- h - 'u <.>00 .S:! sumir 0 cargo de editor em 1862: '" <..l'" 0~ '"ro '"as ideias e 0 tom dos artigos publicados no perfodo [1853-62] elevaram consi- "0 ~ deravelmente a posi~ao da medicina psicol6gica inglesa tanto no pafs como no 0 ~•... exterior. 0 Journal circula agora em nossas co16nias mais distantes, e [oi s6 .0 '"E . 0 neste verao que vim a saber pOl'urn distinto visitante estrangeiro que nao menos <l.l ,g ...E g- -c do que sete exemplares circulavam na Suecia (Robertson, 1863, p.462). ::E .- ~~ g Urn dos presidentes da Associac;ao ate chegou a afirmar que nao existia <l.l '" '""0 '" "discurso ou lingua" no mundo civilizado em que a voz do Journal nao ro~ ~.- ro ~ se fizesse ouvir (Kjrkman, na Reuniao Geral Especial, 1862, p.453-4). g"O 'S'<l.l '" ~ A crescente circulac;ao da publicac;ao caminhava em pat'alelo a cres- '" "'.~ "0 0 ~e", .- •... 'I "'.0.0'" '0 ltl e Ecente entrada de novos membros na Associac;ao, e pelas listas apensas E'" '0.0 a ""Ol- o E ~ '" ~ <l.l \)E E '" 0 a '"as edic;oes da publicac;ao e possivel acompanhar 0 crescimento do numero Wm -2 E'" Ol ~ E ~ ~ ~ 00 .. <l.l '" de associ ados (cerca de 120 em 1854-5 para cerca de 240 em 1863-4) 'U 1m 0 '" Ol o .-",00'0 o 0 .c ro ~;;::.~ rl .0.0 «i E <.>0e mapear a mudanc;a geografica do quadro dos associados (vel' Figura ~ g :0 E E l:: OJ '" c: Ol Ol .0 ~ ~a tIl --9.1). De muitas maneiras, uma comparac;ao dos mapas para 1853 e para Ol « 0 E E f:! 00) «l 1(0 ..• ~ - '" ~1863 fala pOl' si, no que ela demonstra a "ampliac;ao" eo" aprofunda- «'0 z <l.l .-"0 0_"0 ~ mento" do acima mencionado "ambito" da sociedade. Os pontos que ro <l.lg"O figuram nesses mapas representam os enderec;os residenciais dos mem- ~ N ~ - ro 0\- o .- bros da Associac;ao, que na maioria dos casos tambem era onde se u~~ ro -= ;2- '<l.l localizavam asilos publicos, e e interessante observar que os medicos ' ' l::"O, , - <l.l ._ ~ \ '" '" S2<l.l <l.l de loucos estavam conscientes da necessidade de estender sua influencia , •... •... I:l-..- o..~nao s6 a outros asilos mas tambem no dominio publico, alem dos port6es e 0;::?o dos asilos. Que algum sucesso fora alcanc;ado neste senti do foi indicado '-' .cro«i pel0 Dr. W.P. Kirkman (1863, p.315) ao mencionar que as func;oes dos "0.0ro ro "clinicos psicol6gicos" estavam "se tornando, a cada ano, mais intima- u;;:;•• <l.l mente entrelac;adas com vida social", e ao afirmar que a "esfera de ~"Of-_ nossa atividade" estava ficando "menos limitada ao perimetro de um t o roZ] asilo" . 0 A medida que a Associac;:ao crescia para abranger 0 que urn medico chamou de "urn corpo tao disperso" (Monro, em "Report of the Annual Meeting, 1864", p.449), certas tens6es geograficas comec;:aram a apare- eel', todavia, e particularmente, membros da Esc6cia, Irlanda e condados mais longfnquos da Inglaterra comec;:avam a pensar "que a sociedade estava se transformando numa sociedade estritamente metropolitana" (Stewart, em "Report of the Annual Meeting, 1864" , p.451). Este receio nao era infundado, visto que nos primeiros anos da decada de 1860 interesses poderosos dentro da Associac;:ao estavam pressionando por "urn predio que seja s6 nosso" ou "amplas salas" em Londres a fim de proporcionar a sua sociedade "uma existencia mais s6lida do que a atual" (Monro, em "Report of the Annual Meeting, 1864", p.449). Ademais, 0 Dr. Henry Monro - 0 presidente da Associac;:ao em 1864-5 - declarou que a sociedade nao deveria nomear para 0 cargo de presidente os que eram superintendentes de asilos no interior pOl'que eles "moravam longe demais" : tendo em vista que eles residem em diferentes partes do pais e longe de Londres, nao creio que sejam exatamente as pessoas a serem eleitas para preencher 0 cargo de presidente da Associayao ... Acho [que 0 presidente] deve ser urn cavalheiro que more em Londres (Monro, em "Report of the Annual Meeting, 1863" , p.424-5). Tudo isso era bastante conveniente para Monro, que era medico visitante no St. Luke's Hospital em Londres, mas nao era uma recomen- dac;:aoque agradasse uniformemente ao quadro de s6cios. Por exemplo, o Dr. Thomas Harrington Tuke respondeu explicando a "grande vanta- gem" que havia side encontrada na nomeac;:ao de medicos de diferentes regi6es do pafs (Tuke, em "Report of the Annual Meeting, 1863" , p.426), enquanto que 0 sucessor de Monro na presidencia - 0 Dr. William Wood, ele mesmo urn medico visitante do St. Luke's - admitia, ap6s ter side eleito, que teria side mais apropriado caso "algum cavalheiro ligado as regi6es do interior tivesse assumido 0 pr6ximo perfodo" (Wood, em "Report of the Annual Meeting, 1864", p.454). Urn indicador ainda melhor dessa tensao entre simpatias metropoli- tanas e nao-metropo1itanas seria encontrada nas acerbas discuss6es que surgiram em torno do que Wood descreveu "urn assunto de tao grande importancia para a Associac;:ao" (ibid., p.452): a saber, a escolha do local para 0 encontro anual da Associac;:ao. Inicia1mentea sociedade fora afortunadamente "peripatetica" nas escolhas de seus locais de encontro, visto que na reuniao de Gloucester em 1841 havia sido acordado que os encontros deveriam coincidir com" visitas [a] serem feitas anualmente a urn ou mais dos hospitais para insanos no Reino Unido" (citado em diversas publicac;:6es, inclusive Outterson Wood, J 896, p.244; ver tam- bem 0 debate em Walk, 1978, p. 536). Ap6s 0 "renascimento" da Associac;:ao no infcio da decada de 1850 - e apesar de uma infinidade de intrigas e contend as sobre esta questao -, a tendencia fixou-se definitivamente em favor de realizar 0 encontro anual em Londres, e por ocasiao da assembleia de 1851 foi resolvido que "0 encontro anual... seja no futuro realizado em Londres, no segundo sabado de julho de cada ano, na Freemason's Tavern (citado em Outterson Wood, 1896, p.256). E verdade que em 1855 a Associac;:ao aceitara que 0 encontro poderia realizar-se fora de Londres "em algum municfpio ou cidade on de haja urn asilo publico ou onde algum outre faro possa atrair os membros" (Regra XII, acordada no Encontro Anual de 1855, como relatado em Anon., "Amended Rules", 1855, p.222), mas esperava-se que a maioria dos encontros ocon'esse na Freemason's Tavern, em Londres. No entanto, esta tendencia em centralizar as atividades da Associac;:ao nao deixou de ser desafiada, e este foi notadamente 0 caso em 1860, quando sustentou-se que urn encontro em Dublin aumentaria a participac;:ao irlandesa na Associac;:ao e elevaria 0 status (e com isso estenderia a pnltica) da "medicina psicol6gica" por toda a Irlanda (Flynn e Stewart, em "Report of the Annual Meeting, 1860", p.27 -8): voces nos promoveriam, voces elevariam aquele ramo de sua sociedade que vive na Irlanda, fariam urn imenso bem para os pobres lunaticos ao fazer com que f6ssemos reconhecidos como funciomlrios da medicina, e voces evitariam 0 que tern ocorrido algumas vezes - 0 governador de condado nomeando coletores de impostos da baronia, pessoas destituidas de qualquer status (Flynn, em "Report of the Annual Meeting, 1860", p.29). Argumentos semelhantes foram mobilizados quatro anos mais tarde quando oradores se digladiavam para que Edinburgo sediasse urn en- contro, mas e evidente que os pedidos formulados aqui para estender a "esfera de ac;:ao" da Associac;:ao estavam travando uma batalha ingl6ria contra as reivindicac;:6es propostas para uma reuniao habitual em Londres. o argumento a favor de Londres tinha duas motivac;:6es basicas, e a primeira delas refletia a realidade de Londres ser a cidade mais central e acessfvel do reino, e 0 unico lugar que poderia acomodar, de uma s6 vez, urn grande numero de membros. Oradores como 0 Dr. C. Mountford Burnett e William Ley demonstraram ser excelentes "analistas locacio- nais" ao salientar as qualidades de Londres como urn "ponto apropriado" , "um grande ponto central" , uma "posi<;:ao central" , e ate" 0 lugar em que as grandes estradas de ferro se encontram em maior numero do que em qualquer outro lugar" (Burnett e Ley, em "Report of the Annual Meeting, 1860", p.26-8). POI' outro lado, outras localiza<;:6es foram criticadas pOI' sua falta de centralidade e facilidade de acesso, e tanto 0 Dr. Robertson como 0 Dr. Edgar Sheppard se referiram a "deplonivel reuniao" realizada em Liverpool em 1859 como exemplo da "extrema dificuldade em organizar um encon,tro interiOl'ano ao pas so que todo mundo vai a Londres" (Robertson, em "Report of the Annual Meeting, 1862", p.326; Sheppard, em "Report of the Annual Meeting, 1864, pA52). A segunda serie de raz6es para encontrar-se em Londres refletia um desejo de se estar perto das "alavancas do poder": um desejo de ser reconhecido como uma organiza<;:ao grande e capaz pelos burocratas e polfticos mais influentes do pais, e um desejo de usaI' esta circunstiincia como um instrumento para determinar mudan<;:as na legisla<;:ao e 0 incremento de atividades rotineiras pOl' parte do estado no campo da demencia. Em 1858, pOl' exemplo, 0 Dr. Henry Stevens afirmava que: Ainda ha muito a ser feito para alterar as leis que dizem respeito aos insanos, e (isto s6 pode) ser feito a contento na metr6pole onde se reunem os homens da lei. 0 encontro em Edinburgo foi muito agradavel, e nos encontrarmos em Dublin tambem 0 seria, sem duvida; mas esses encontros nao levaram, em compara9ao, a nenhuma finalidade pratica (Stevens, em "Report of the Annual Meeting, 1858", p.68). todos inextricavelmente associ ados com as origens, 0 funcionamento e o empenho da sociedade relacionando-se tanto com 0 ramo do conhe- cimento especializado (0 da "medicina psicoI6gica") como a uma va- riedade particular de poder (0 da "pressao de grupo" profissional). Devemos admitir que abordamos aqui apenas urn pequeno capitulo da vasta e freqUentemente tnigica hist6ria da loucura, mas 0 trecho a respeito dos medicos de loucos continua sendo vital e merece (afinal de contas) a aten<;:aodo "historiador geografico" . Dois anos depois, Burnett salientava que" todas as gran des associa<;:6es se reunem na metr6pole", e deduziu que" deveriamos fazer 0 mesmo se quisermos ser gran des" (Burnett, em "Report of the Annual Meeting, 1860", p.27-8), enquanto quatro anos mais tarde 0 Dr. T. Kirkman recordava 0 papel vivificador que Londres havia desempenhado para a Associa<;:ao "quando os esfor<;:osesponidicos e mais debeis nos condados haviam sido refor<;:ados pel a conexao eletrica do grande centro de comunica<;:ao e reconhecimento" (Kirkman, 1862, pA). o que tudo isto mostra pois e que a Associa<;:ao em q~estao - urn fenomeno obviamente importante para a hist6ria da 10ucura, mas nao urn fenomeno que seria habitualmente estudado pelos ge6grafos - possufa na realidade uma geografia algo complexa. Com efeito, e espero te-Io demonstrado, os aspectos geograficos aparentemente "simples" documentados acima -'- a dispersao e 0 isolamento dos membros da Associa<;:ao, a circula<;:ao do Asylum Journal, a dual "amplia<;:ao" e "aprofundamento" da "area" da Associa<;:ao, 0 uso de lugares como nodos dos quais difundir influenciaou onde cultivar influencia-estavam Uma descri9ao total congrega todos os fen6menos em tomo de urn unico centro _ urn principio, urn significado, uma mentalidade, uma visao de mundo, uma configura9ao global: uma hist6ria geral, ao contrario, exibiria 0 espa90 de uma dispersao (Foucault, 1972, p.l 0), Varios ge6grafos come<;:aram a determinar as implica<;:6es do pensa- mento de Michel Foucault para a reelabora<;:ao tanto da geografia aca- demica propriamente dita como para a teoria social de urn modo mais geral (Driver, 1985; Philo, 1986, 1992b; Soja, 1989, especialmente p.16-21), e urn aspecto-chave do que Foucault tern a oferecer aqui envolve sua pratica do que poderia ser descrito como uma hist6ria "espacializada" ou ate (com alguma reserva) como uma "hist6ria geo- grafica" . Minha base inicial para esta afirma<;:ao deriva da introdu<;:ao a obra A arqueologia do saber (1972), em que Foucault faz uma serie de observa<;:6es sobre a composi<;:ao da hist6ria academica que (assim sustentaria eu) envolve urn" tato" para investiga<;:ao hist6rica que deveria revelar-se agradavel para os ge6grafos. Seus comentarios nesse sentido sao talvez urn tanto polemicos e exagerados, e e 6bvio que alguns historiadores (curiosamente os mais limitados e paroquiais dentre eles) nao garantem os violentos golpes desferidos, mas mesmo assim ainda e esclarecedor apreciar 0 ataque que ele arma ao que denomina de historia total e examinar tambem a alternativa a que ele se refere como historia geral. No que diz respeito a Foucault: o projeto de uma hist6ria total e urn projeto que busca reconstituir a forma global de uma civiliza9ao, 0 principio - material e espiritual - de uma sociedade, a importiincia de uma epoca, a lei responsavel por sua coesao - 0 que metafori- camente e chamado a "face" de uma epoca .., [E] sup6e-se que entre todosos eventos de uma area espa90-temporal bem definida, entre todos os fen6menos dos quais se acharam trac;:os, se possa estabelecer urn sistema de relac;:oes homogeneas (Foucault, 1972, p.9). Este trecho e, c1aramente, urn trecho diffcil, mas a sua mensagem basica e simples: afirma que uma grande quantidade de ensaios historicos trac;:am, efetivamente, uma nftida linha em tomo de uma determinada epoca e de urn determinado lugar (a bem-definida area" espac;:o-tempo- ral"), e depois julgam que de alguma forma todos os eventos e fenomenos encontrados no interior deste espac;:o se relacionam uns com os outros (atraves de urn hipotetico "sistema de relac;:6es homogeneas") ou estao de alguma maneira ligados pOl' "forma", "princfpio", "importancia" ou "lei" com urn a todos. Tome, pOl' exemplo, uma exposic;:ao marxista nao refinada na qual se afirma que (digamos) a Europa do seculo XIII estava sob controle de urn modo feudal de produc;:ao cuja logic a polfti- co-economic a determinava tudo que se passava naquela sociedade (desde o que os camponeses comiam ate as complexidades da teologia medieval): ou tome 0 tosco relato "Whiggish" no qual se conclui que (digamos) a Inglaterra vitoriana foi energizada em cada urn de seus poros pOl' urn zelo cientffico e humanitario destin ado a eliminar todos os remansos de ignorancia e pobreza. As observac;:6es proprias de Foucault lanc;:am alus6es validas para uma serie de possfveis abordagens historicas (mar- xista, "Whiggish", positivista, idealista, estruturalista), mas em cada caso ele assevera que 0 historiador procede postulando urn "nucleo central" para 0 perfodo e 0 lugar sob exame - urn nucleo que poderia en vol vel' as realizac;:6es de uma "grande" figura historica, as tradic;:6es de uma cultura, as polfticas de urn estado, ou algo parecido - para, depois de conjectural' sobre determinados efeitos e influencias que emanam deste nucleo, dar ordem e coerencia a todas as coisas contidas dentro de urn determinado perfodo e lugar. Este projeto de historia total e quase urn anatema para Foucault, visto que os objetivos e estrategias da mesma estao em franca oposic;:ao a sua propria crenc;:a de que" nada e fundamental: e isto que e interessante na analise da sociedade" (Foucault, 1982, p.18). Com isso, ele desaprova a maneira pela qual os historiadores tao freqtientemente suavizam 0 caos e as "arestas" recortadas da historia ao fazer com que as coisas parec;:am nitidamente ordenadas e coerentes, e ele desaprova a maneira como eles patinam sobre as minucias de pequenos detalhes da pequena escala e do dia-a-dia que podem parecer confusos vistos de uma certa distancia (do ponto de vista desinteressado do pesquisador) mas que eram a verdadeira substancia das pr<iticas, lutas, esperanc;:as e receios das pessoas no passado. Sua propria altemativa e, pOttanto, exigir uma "nova historia" - urn novo modo de pensar a ser chamado "historia geral" - que aparente- mente: fale de series, divisoes, limites, diferenc;:as de nfvel, desvios, especificidades cronol6gicas, formas particulares de remanejamento, possfveis tipos de relac;:oes (Foucault, 1972, p.IO). Nao e facil deduzir dessas observac;:6es exatamente como ele pretende impedir os historiadores de "deixar que a animada, fragi! e palpitante 'historia' escape pOl' entre seus dedos" , mas 0 proposito de se falar em "series, divis6es, !imites, diferenc;:as" e provavelmente insistir na acei- tac;:aodas numerosas linhas que efetivamente separam muitos dos eventos e fenomenos tao freqtientemente vistos pelos historiadores como indi- visivos (como elementos nao-diferenciados de urn conjunto mais amplo e homogeneo). E assim, da-se proeminencia a urn senti do de caos e "at'estas denteadas" , de confusao e diversidade. A imagem que Foucault mobiliza para captar 0 carater da historia geral gira em tomo de "desenrolar 0 espac;:o de uma dispersao" (ibid., p.IO), e 0 que ele imediatamente transmite pOl' meio desta imagem espacial nao e urn "nucleo central" irradiando efeitos e influencias (a imagem sugerida pela historia total) mas uma planfcie imaginaria sobre a qual as coisas (eventos e fenomenos) estao dispersos. E neste momento, pois, que a historia de Foucault se toma "espacializada" , visto que, a fim de salientar a diversidade da historia, ele se volta para uma imagem espacial explfcita em que a desigualdade e 0 esparramar de uma "dis- persao" sao "desenrolados" de uma forma bastante deliberada. Consi- dero esta especffica t<itica de Foucault altamente sugestiva, e da mesma maneira acho esclarecedor que 0 historiador Roy Porter escreva sobre o "mapa dos manicomios" - e ao faze-Io sinaliza tanto a "cobertura fragmentada" como "a dissipac;:ao desigual" das instituiC;:6es - quando insiste que a diversidade, mais do que urn sistema coerente, era a "essencia" das condic;:6es dos asilos nos seculos XVIII e XIX (vel' acima). A menc;:ao das importantes investigaC;:6es de Porter levanta inevitavelmente a questao de Foucault estar atento ou nao a dispersao espacial (a diferenciac;:ao geografica ou de area) em seus proprios e substanciais estudos sobre desvio de conduta, doenc;:a e loucura, e - embora em uma entrevista, ele, com efeito, admite a necessidade de "dar precisao ao espac;:o em questao" - a resposta a esta questao deve permanecer amplamente na negati va. N a verdade, Porter realmente cri tica Foucault pela insensibi!idade demon strada em Historia da loucura com respeito as diferen~as de como as pessoas dementes eram tratadas em diferentes partes da Europa pre-moderna (Porter, 1987, p.9). Dito isto, creio que existe de fato uma dimensao na "espacializa~ao" da hist6ria de Foucault que vai um tanto alem do que 0 simples uso de uma imagem, e eu diria que suas observa~6es abstratas acerca "do espa~o de uma dispersao" se conectam diretamente com uma preocu- pa~ao mais conCl'eta por relacionamentos espaciais. Ao afirmar isto e necessario observar que, enquanto sua exposi~ao sobre dispersao visa principalmente enfatizar a diversidade da hist6ria, trata-se tambem de que ele ve nesta dispersao mais do que um simples caos resistente a todos os esfor~os de compreensao. 0 que ele ve, na verdade, sao os relacionamentos espaciais que aparecem na dispersao - embora mo- mentaneamente - entre coisas (eventos e fen6menos) conforme eles OCOlTem ou nao pr6ximos uns dos outros no espa~o ou se eles se juntam uns aos outros de algum modo, ou nao, atraves do espa~o. E isto e talvez por que ele da a entender que vivemos agora na "era do espa~o", visto que, para entender 0 mundo social a nossa volta, devemos pensar espacialmente: Nos nos encontramos na era da simultaneidade: estamos na era da justaposi~ao, a era do perto e do longe, do lado-a-Iado, do disperso. Estamos num momento, creio eu, em que a nossa experiencia do mundo e menos a de uma longa vida que evolui atraves do tempo [a compreensao temporal ou historicista das coisas] do que a de uma rede que une pontos (Foucault, 1986, p.22). Essas insinua~6es ainda poderiam ser interpretadas como pouco mais do que uma metafora sinalizando um estilo particular de "fazer" pesquisa social, e claro, mas a possibilidade de que a insistencia de Foucault na "era do espa~o" signifique mais do que uma metafora esta indicado por suas ideias quanto ao" problema de situar ou localizar" (0 enganosamente simples problema de onde as cria~6es humanas estao situadas no espa~o uma em rela~ao a outra): Esta questao do sftio humane ou do espa~o de vivencia nao reside simplesmente em saber se havera ou nao espa~o suficiente [para os humanos] no mundo - um problema que certamente e bastante importante - mas tambem de saber que rela~6es de proximidade, que tipos de armazenagem, circula~ao, marca~ao e classifica~ao dos elementos humanos deverao ser adotados em uma determinada situa~ao a fim de atingir um determinado objetivo. Nossa epoca e aquela em que o espa~o toma para nos a forma derela~6es entre sftios (ibid., p.23). POltanto, a partir de sua imagem abstrata de "0 espa~o de uma dispersao" passando por suas observa~6es mais conCl'etas acerca de "rela~6es entre locais" no funcionamento do mundo social, Foucault oferece, de fato, urn "tato" por hist6ria que agrada aos ge6grafos. Alem do mais, ate mesmo uma eventual olhada em muitas das substanciais investiga~6es hist6ricas de Foucault sobre fen6menos com- plexos e freqUentemente intangfveis como loucura e razao, doen~a e medicina, desvio de comportamento e disciplina mostra que ele atribui aos relacionamentos espaciais - a distribui~ao e arranjo de pessoas, ideias, atividades, institui~6es e edifica~6es no espa~o - urn papel central nos processos hist6ricos sob exame. Em Historia da loucura, ele tira varias conclus6es do que ele denomina "a geografia de lugares mal-assombrados" (Foucault, 1967, p.57), como brevemente indicado anteriormente, e em 0 nascimento da clfnica (1976) ele trata de tres formas diferentes de "espacializa~ao" envolvidas em nosologias de doen~a, nas priticas de investiga~ao pato16gica e na disponibilidade de instala~6es medicas ou "centros de cura" (e e fascinante especular com que se pareceria uma geografia medica informada por este texto). Enquanto isso, em Vigiar e punir, ele investiga a no~ao de que" disciplina provem da distribui~ao de indivfduos no espa~o" (Foucault, 1977, p.141), e tambem examina detalhadamente 0 controle ffsico e psicol6gico sobre os seres humanos levado a cabo pela manipula~ao de relacionamentos espaciais no famigerado "Panopticon" de Jeremy Bentham (uma insti- tui~ao disciplinar do tipo ideal dos ultimos anos do seculo XVIII que teve grande influencia no projeto de subseqUentes pris6es, casas de corre~ao e asilos). A primorosa disseca~ao de Foucault das estrategias espaciais empregadas por administradores de institui~6es para isolar, maximizar a visibilidade e tratar de modo uniforme as vidas dos internos ja interessou varios ge6grafos (ver Dear, 1981; Driver, 1985, 1993a, 1993b; Philo, 1989), mas menos aten~ao foi dedicada ate 0 momento a sua exposi~ao das (por exemplo) estrategias espaciais empregadas na transferencia de leprosos, luniticos e outros indesejaveis para casas situadas alem dos port6es da cidade ou em "abrir" corpos a um olhar medico atento, no infcio do seculo XIX. Nao posso evidentemente fazer aqui mais do que indicar rapidamente os conteudos dos textos de Foucault, mas gostaria de acrescentar que (ate onde Foucault especifica "princf- pios" mais amplos que organizam suas hist6rias) ele avalia serem os relacionamentos espaciais que exp6e - as inumeras intera~6es e mo- vimentos de pessoas, ideias, atividades e assim pOI'diante - na essencia relacionamentos de conhecimento e poder: relacionamentos envolvidos na produ~ao e na subseqUente difusao de conhecimento a respeito de determinados assuntos, e ao mesmo tempo relacionamentos constitutivos de poder pelos quais grupos sociais especfficos imp6em sua vontade a outros ou (menos declaradamente mas talvez ate mais significativamente) pelos quais uma "visao" geral de ordem e transmitida e inculcada nos membros de uma popula~ao. E este cuidado para com os relacionamentos espaciais construfdos no conhecimento e no poder que informou meu estudo acima sobre os medicos de loucos, visto que meu proposito era mostrar como os medicos de loucos moldavam a sua propria geografia a fim de alimental' a ciencia mental e exercer influencia profissional sobre uma esfera problematica da realidade social (perturba~ao mental e suas tendencias desagregadoras). Nao quero concluir dando a impressao que a obra de Foucault se constitui na ultima palavra sobre 0 que uma historia "espacializada" pode trazer, em parte pOl'que seus esfor~os em tratar de espa~o e lugar nao sao de modo algum consistentes ou sistemaricos. Alem disso, poder-se-ia objetar que ele nao pesa suas observa~6es quanto a espa~o de forma similar a sua aguda percep~ao do lugar, no que - para dar urn exemplo - ele poder ser sensfvel a "geometria" no interior de urn asilo (a configura~ao de quartos, corredores, escadas e janelas), e ainda assim continuar insensfvel a "geografia" externa do asilo (a sua situa~ao em meio de campos ou fabricas; a sua localiza~ao ser mais em uma determinada parte do mundo do que em outra), Essas obje~6es nao tern por objetivo, POl'em, diminuir 0 brilho dos insights de Foucault, nem 0 das varias possibilidades que ele abre para uma forma "espacializada" de investiga~ao historica ciente do que relacionamentos espaciais (se nao tanto associ ados com fugar) rea/mente fazem na historia. Se estou certo em minha avalia~ao geral de que os esfor~os das geografias historicas de hoje em dia estao mais proximos do espirito do que uma vez se chamou de "historia geografica" do que propriamente de uma geografia historica limitadamente concebida, e se isto significa que estamos agora colocando quest6es acerca da influencia da geografia em toda a sua" riqueza" (em sua infinidade de aspectos de espa~o, lugar, ambiente, localiza~ao, regiao, distribui~ao, dispersao), sobre toda sorte de importantes mas nao imediatamente tangiveis processos historicos, entao os geografos historicos terao tanto algo a aprender com os escritos historicos de pessoas como Foucault, como algo a ensinar-lhes tambem. Driver, Derek Gregory, Ron Martin, Miles Ogborn, Jenny Robinson e Graham Smith, Gostaria de agradecer tambem a Maureen Hunwicks e Caron McKee pOI' terem datilografado as minutas deste capitulo e a Miles Edwards pel a prepara~ao dos mapas, Escrever este capitulo nao foi tarefa faci], e devo agradecer a ajuda, estimulo e crftica de diversas pessoas: Alan Baker, 'Sarah Byrt, Felix Anon. (1855) 'Prospectus', Asylum Journal, voU, p.I-7. Anon. (1855) 'Amended Rules of the Association', Asylum Journal, vol.!, p.222. Beaujeu-Garnier, J. (1952) 'The Contribution of Geography', (discurso publicado, Ibadan, Nigeria: Ibadan University Press). Bucknill,J.C. (1861) 'President's Address, 1860' ,Journal of Mental Science, vol.VlI, p.I-23. Cosgrove, D. (1984) Social Formation and Symbolic Landscape (Londres: Croom Helm). Daniels, S. (1993) Fields of Vision: Landscape and Natiollalldentity in England and the United States (Oxford: Polity Press). Darby, H.C. 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