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Eca Pronunciamento do Ministro Gilmar no Seminário

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Pronunciamento do Presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, na abertura do seminário "O Judiciário e os 18 anos do ECA: Desafios na Especialização para a Garantia dos Direitos de Crianças e Adolescentes”, realizado em Brasília (DF), julho de 2008
	Este Seminário integra-se às comemorações pela “maioridade” do Estatuto da Criança e do Adolescente, legislação, sob todos os aspectos – ético, jurídico e político – até hoje tida como referência mundial. Assim, no intuito de informar, esclarecer e mobilizar os brasileiros sobre os inúmeros êxitos obtidos a partir desse avançado diploma, o Judiciário se junta aos órgãos públicos, aos organismos internacionais e à sociedade em geral para também, e mais uma vez, corroborar a defesa inconteste dos direitos infanto-juvenis. 
	Em face da natureza protetiva e preventiva de que se revestiu o texto normativo, em franca oposição ao viés punitivo até então vigente, o Estatuto veio ao encontro das aspirações democráticas da Constituição há pouco promulgada. A um só tempo, preencheu as lacunas surgidas diante das exigências do novo contexto social e viabilizou avanços significativos no tocante à implementação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento adequado, profícuo, bem conduzido dos jovens.
Ninguém desconhece ser a juventude brasileira uma das parcelas mais frágeis, desassistidas e, por isso, vulneráveis da população, o que se revela por si só um verdadeiro contra-senso, porquanto justamente a mais fértil a dar bons frutos em curtíssimo prazo. É quase um truísmo enunciar que investir na juventude será sempre a mais promissora das escolhas de uma nação. 
	O Estatuto, norteando-se pela Doutrina de Proteção Integral, intentou revolucionar o atendimento dispensado às crianças e adolescentes, mudando a orientação adotada pelo autoritário e centralizador Código de Menores, gestado na década de 1970, em plena ditadura militar. A linha mestra desse duríssimo diploma resumia-se a segregar menores tidos como “em situação irregular”, com base na vetusta ideologia de punir por punir. Se aos carentes e abandonados o inoperante Código protegia reprimindo, na forma de intimidação ostensiva, aos “inadaptados” e infratores vigiava, apartando, excluindo, isolando.
	Em guinada radical, a Lei nº 8.069/90, hoje conhecida carinhosamente como ECA, pôs sob os cuidados protetores do Estado todos os menores, agora reconhecidos como autênticos sujeitos de direito e não apenas como objeto da intervenção jurídico-social de um Estado-feitor, autorizado a castigar, em vez de instruir, socializar, incluir.
	Elaborado com a participação de toda a sociedade – dos movimentos sociais à comunidade jurídica e órgãos governamentais executores de políticas públicas, o Estatuto há de ser interpretado sempre à luz dos fins sociais a que se destina, dos direitos individuais, sociais e coletivos insertos na Constituição Federal, tendo em vista a condição peculiar dos menores como pessoas em desenvolvimento, a necessitarem de toda a atenção da família, da comunidade, do Estado, agentes cuja responsabilidade é agora cobrada a cada instante, sob pena de intervenção judicial.
Ontem mesmo a Presidência do Supremo Tribunal Federal indeferiu pedido de suspensão de liminar em ação civil pública na qual, em primeira instância, o Juizado da Infância e Juventude da Comarca de Araguaína/TO concedera liminar, determinando “ao Estado de Tocantins que implante na cidade de Araguaína/TO, no prazo de 12 meses, unidade especializada para cumprimento das medidas sócio-educativas de internação e semiliberdade aplicadas a adolescentes infratores, a fim de propiciar o atendimento do disposto nos artigos 94, 120, § 2º e 124 do Estatuto da Criança e do Adolescente”. A decisão incluía ainda a ordem de que Estado se abstivesse “de manter adolescentes apreendidos, após o decurso do prazo de doze meses, em outra unidade que não a acima referida”, aplicando também multa diária em hipótese de descumprimento.
Ao ajuizar a ação, o Ministério Público argumentou que o Poder Executivo local, ante a inexistência de unidade especializada naquela comarca, estaria encaminhando os adolescentes infratores para o município de Ananás/TO, distante 160 quilômetros daquela localidade, o que dificultaria o contato daqueles com seus familiares. Além disso, a inexistência de unidade especializada em Araguaína/TO obrigaria o encaminhamento de adolescentes infratores ao CASE de Palmas/TO, distante 375 quilômetros daquela comarca, inviabilizando o contato familiar e o próprio sucesso do processo sócio-educativo.
Ademais, os adolescentes infratores estariam alojados em cadeia local, em celas adjacentes a de presos adultos, a permitir contato visual e verbal entre eles, em ambiente inóspito, fato este que teria sido atestado pelo Conselho Tutelar de Araguaína e pelo Diretor do estabelecimento prisional. 
O Estado, por sua vez, defendeu-se argüindo grave lesão à ordem e economia públicas, além de interferência do Poder Judiciário no âmbito de atuação do Poder Executivo, em afronta ao princípio da independência dos Poderes. Alegou também lesão à economia pública estadual, por ausência de previsão orçamentária, exigüidade de prazo para efetivação das medidas, ofensa ao princípio da reserva do possível e vedação legal e constitucional expressas de ordenação de despesas sem autorização legal.
Decidiu-se considerando sobretudo o fato de que o tema da proteção da criança e do adolescente e, especificamente, dos adolescentes infratores é tratado pela Constituição com especial atenção, Tanto no caput do artigo 227 como seu parágrafo primeiro e incisos encontram-se comandos normativos voltados para o Estado. Nesse sentido, destaca-se a determinação constitucional de absoluta prioridade na concretização desses comandos normativos, em razão da alta significação de proteção aos direitos da criança e do adolescente. Ganha relevância a dimensão objetiva do direito fundamental à proteção da criança e do adolescente. 
Segundo esse aspecto objetivo, o Estado está obrigado a criar os pressupostos fáticos necessários ao exercício efetivo deste direito. A efetividade desse direito fundamental à proteção da criança e do adolescente não prescinde da ação estatal positiva no sentido da criação de certas condições fáticas, sempre dependentes dos recursos financeiros de que dispõe o Estado, e de sistemas de órgãos e procedimentos voltados a essa finalidade. 
Refutou-se, no caso, a ofensa do princípio de separação de Poderes, ao argumento de que, nos dias atuais, tal princípio, para ser compreendido de modo constitucionalmente adequado, exige temperamentos e ajustes à luz da realidade constitucional brasileira, num círculo em que a teoria da constituição e a experiência constitucional mutuamente se completam. 
Nesse sentido, afastou-se a ocorrência de grave lesão à ordem pública, por desrespeito ao artigo 2º da Carta. A alegação de afronta à separação dos Poderes não justifica a inércia do Poder Executivo do Tocantins em cumprir o dever constitucional de garantia dos direitos da criança e do adolescente, com a absoluta prioridade reclamada no texto constitucional (artigo 227).
Da mesma forma, não se vislumbrou a ocorrência de grave lesão à economia pública, ressaltando que o Estatuto da Criança e do Adolescente, em razão da absoluta prioridade determinada na Constituição, deixa expresso o dever do Poder Executivo de dar primazia na consecução daquelas políticas públicas. De outro modo, estar-se-ia a blindar, por meio de um espaço amplo de discricionariedade estatal, situação fática indiscutivelmente repugnada pela sociedade, caracterizando-se típica hipótese de proteção insuficiente por parte do Estado, num plano mais geral, e do Judiciário, num plano mais específico.
De fato, não se pode conceber grave lesão à economia do Estado do Tocantins, diante de determinação constitucional expressa de primazia clara na formulação de políticas sociais nesta área, bem como na alta prioridadede destinação orçamentária respectiva, concretamente delineada pelo ECA.
A Constituição indica de forma clara os valores a serem priorizados, corroborada pelo disposto no ECA. Tais determinações devem ser seriamente consideradas quando da formulação orçamentária estadual, pois se tratam de comandos vinculativos.
Destacou-se, na oportunidade, a consonância do entendimento com a jurisprudência desta Corte, no sentido de que se impõe ao Estado a obrigação constitucional de criar condições objetivas que possibilitem, de maneira concreta, a efetiva proteção de direitos constitucionalmente assegurados, com alta prioridade, tais como o direito à educação infantil e os direitos da criança e do adolescente.
Reafirmou-se que não há violação ao princípio da separação dos Poderes quando o Poder Judiciário determina ao Poder Executivo estadual o cumprimento do dever constitucional específico de proteção adequada dos adolescentes infratores, em unidade especializada, pois a determinação é da própria Constituição, em razão da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
A proibição da proteção insuficiente exige do Estado a proibição de inércia e omissão na proteção aos adolescentes infratores, com primazia e preferencial formulação e execução de políticas públicas, de valores que a própria Constituição define como de absoluta prioridade.
Essa política prioritária e constitucionalmente definida deve ser levada em conta pelas previsões orçamentárias, como forma de aproximar a atuação administrativa e legislativa das determinações constitucionais que concretizam o direito fundamental de proteção da criança e do adolescente.
Conquanto consideráveis se mostrem os avanços, a sociedade brasileira acha-se permanentemente desafiada a reavaliar os resultados conseguidos nestas quase duas décadas, de maneira a melhorá-los, sempre. Há muito por fazer até chegar-se ao ponto de parecer longínquo e desnecessário o debate sobre a redução da minoridade penal para 16, 14, 12 anos alijando-se de vez a obsoleta mentalidade do castigo correcional. Ao invés disso, cabe desestimular a delinqüência por meio da oferta de oportunidades, todas alicerçadas, é certo, no esteio sólido da educação, da assistência comprometida – e não paternalista –, da recuperação eficiente do jovem eventualmente infrator. Nunca é demais repetir que, nessa área, a melhor forma de prevenir é educar.
Daí a importância de eventos como este, em cuja pauta figuram temas expressivos, como a criação de varas privativas para a Justiça da Infância e da Juventude, a formação especializada de magistrados que atuam na área, o combate ao seqüestro internacional de crianças ou a implementação do Cadastro Nacional de Adoção, uma das conquistas decorrentes da avançada ideologia que subsidiou o Estatuto.
À riqueza do debate se junta a iniciativa de dar visibilidade à existência dos direitos infanto-juvenis, assegurados constitucionalmente. É realmente preciso que a população conheça o Estatuto para que este se torne instrumento de defesa, proteção e no último caso, de ressocialização de menores infratores. O Estatuto faz as vezes de nota promissória assinada pelo Estado, a garantir que as políticas públicas determinadas pelo legislador sejam cumpridas e não relegadas à condição de mera norma de conteúdo programático. 
Há, sim, algo auspicioso a celebrar, mormente ao se ter em vista o fato de que, não faz muito tempo, o trabalho infantil vinha a ser a única condição de sobrevivência dos grupos familiares mais pobres e a exploração sexual de menores era vício consentido por familiares e autoridades nas regiões mais atrasadas do país. 
Hoje, as naturais exigências da plenitude democrática fazem peremptórias a inclusão definitiva de todas as minorias na rede de proteção do Estado – e com mais razão ainda dessa sensível parcela da população –, a assistência integral à juventude brasileira, o aperfeiçoamento constante de todo o sistema, até conseguirmos finalmente atingir o tão esperado bem-estar social, de modo que nenhum resquício de barbárie – como os citados, que cruelmente lhes roubam qualquer perspectiva de futuro – subsista. Não há modo mais cabal e coerente de comprovar a vigência definitiva, entre nós, do Estado Democrático de Direito.
Muito obrigado a todos.

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