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20 anos da Constituição o avanço da democracia

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20 anos da Constituição: o avanço da democracia
Gilmar Mendes(
Ao fazermos um balanço dos fatos que conformaram a nossa vida constitucional nestes últimos 20 anos, temos um inegável saldo positivo. Vivenciamos o mais longo período de estabilidade institucional de nossa história republicana. Em termos de tradição democrática, temos algo de relevante a comemorar.
Sabe-se que, antes do advento da Constituição de 1988, o desenvolvimento institucional do País passou por instabilidades e turbulências que, não raras vezes, obstaram a prática democrática. 
No período republicano, iniciado em 1889, a experiência democrática brasileira sofreu sucessivas interrupções. A Velha República foi marcada por significativos fatores de desestabilização política. A “política dos governadores”, o “coronelismo” e “as degolas” – que singularizaram esta época da história brasileira – foram determinantes para que o processo eleitoral sofresse inúmeras contestações. A Constituição de 1891 teve sua vigência cessada com a chamada Revolução de 1930, que se realizou, como todos sabem, em nome, dentre outras causas, da verdade eleitoral.
Essa Constituição ou esse movimento foi institucionalizado em 1934; e, já em 1937, essa Constituição foi superada pela chamada Constituição Polaca, porque inspirada na Carta do General Pilsudski da Polônia.
O governo ditatorial duraria até 1945, ano em que Vargas, acuado pelo clima de redemocratização, baixou a Lei Constitucional n° 9, que previa eleições diretas para Presidente da República, Governadores de Estado e para o Congresso Nacional. 
O restabelecimento da normalidade institucional sofreria significativas alterações já em meados da década de 1950 e início dos anos 60. Com os tumultos institucionais que antecederam a posse de Juscelino na Presidência (1955), a ordem constitucional de 1946 conseguiu regular nossa vida institucional até 1961, quando adveio a renúncia do Presidente Jânio Quadros. 
A posse do vice-presidente foi antecedida, como se sabe, por alteração na nossa forma de Governo (do presidencialismo para o parlamentarismo). Em seguida, nova mudança, decorrente de um plebiscito: do parlamentarismo ao presidencialismo, em 1963, com a aprovação de 82,25% da população. 
Com todas essas distorções, referida ordem teve sua vigência cessada em 1964, com o advento do Governo Militar. O regime autoritário estendeu-se, de forma inequívoca, até 1985. 
A Constituição de 1988, aprovada num contexto econômico e social difícil, faz clara opção pela democracia e sonora declaração em favor da superação das desigualdades sociais e regionais.
Trata-se de um texto analítico, detalhado, que integra ou procurou integrar as mais diversas expectativas e que, por isso, deu ensejo a sucessivas alterações.
Lembro-me de um episódio vivenciado pelo Senador Marco Maciel, já no momento final do processo constituinte. 
Diz o Senador Marco Maciel que teve que sair do Congresso Nacional para participar de uma reunião no Ministério da Justiça. Diante do atraso de seu motorista, tomou um táxi. Foi quando o taxista procurou entabular uma conversa que envolvia uma análise do processo constituinte. 
Disse, então, o taxista ao Senador:
- Senador, esta Constituição está toda errada.
E o Senador quis saber o porquê, quando o taxista respondeu algo mais ou menos assim:
- Esta Constituição está tratando de todo mundo, do índio, do garimpeiro e do seringueiro, mas ainda não tratou do taxista.
Era a percepção do homem comum de que o texto albergava as mais diversas pretensões e que, certamente, daria ensejo a modificações, como já foi destacado aqui. O chamado “fenômeno do emendismo constitucional”, que é fruto do modelo de analitismo constitucional que nós trilhamos.
E a Constituição de 1988 abre-nos, nesse sentido, um espaço para “um quantum de utopia”, na medida em que, ao incorporar tanto o “princípio-responsabilidade” (Hans Jonas) – fala-se hoje, inclusive, na idéia da Lei de Responsabilidade Fiscal - como o “princípio-esperança” (Ernst Bloch), permite que nossa evolução constitucional ocorra entre a ratio e a emotio�. 
Por viver em salas de aula muitas vezes sou perguntado por alunos sobre o nosso modelo constitucional; e muitos apontam nossos déficits, a partir da própria doutrina, por mirar num modelo americano, esquecendo que se trata também de um processo singular. É preciso apontar também as nossas virtudes. 
Alguém diz, por exemplo: o texto constitucional deveria conter uma regulação sobre salário-mínimo? O texto constitucional deveria ter uma regra sobre salário-mínimo para os pensionistas da Previdência Social? Certamente o interlocutor que faz essa pergunta já espera a resposta negativa; e eu digo: - Deveria, porque o texto constitucional deve espelhar a sociedade para a qual ele pretende ter regulação e vigência. Nesse caso, entre nós, trata-se de um direito fundamental, ligado à idéia da dignidade da pessoa humana. É preciso ter essa visão.
Por isso que não se pode considerar falhas essas ausências ou regulações detalhadas. Na verdade, trata-se de uma Constituição adequada para o Brasil, País marcado por tantas desigualdades.
Digo eu, então: Apesar de seu inegável caráter analítico, a Carta Política de 1988 constitui uma ordem jurídica fundamental de um processo público livre, caracterizando-se, nos termos de Häberle�, como uma “constituição aberta”, que torna possível a “sociedade aberta” de Popper�, ou uma “constituição suave” (mitte), no conceito de Zagrebelsky, “que permite, dentro dos limites constitucionais, tanto a espontaneidade da vida social como a competição para assumir a direção política, condições para a sobrevivência de uma sociedade pluralista e democrática”�. 
E os vinte anos experimentados sob a Carta de 1988 têm demonstrado que esta Constituição tem capacidade regulatória, propiciando, inclusive, a alternância do poder dentro das regras do devido processo legal.
Além disso, não é por mera coincidência que a Constituição de 1988 possui um dos mais extensos catálogos de direitos e garantias fundamentais do mundo. Cuida-se de clara defesa do Estado Democrático de Direito e do equilíbrio institucional, caracterizado pelo exercício simultâneo e harmonioso do poder por diversos agentes políticos.
Nesse contexto, as conquistas alcançadas com o modelo democrático estabelecido em 1988 estimulam sua contínua expansão. E o quadro formal da democracia conta com uma vantagem específica entre nós, que é a inexistência de adversários radicais ao modelo.
Há uma crença no modelo democrático, até porque as vias democráticas de conciliação têm-se mostrado mais lucrativas que aquelas do conflito e da ruptura.
A democracia brasileira parece ter adquirido autonomia funcional, vez que todas as forças políticas relevantes aceitam– e não há outra alternativa – submeter seus interesses e valores às incertezas do jogo democrático.
É claro que há necessidade de aperfeiçoamento. Mas é preciso registrar o inédito período de estabilidade democrática com a consolidação cotidiana e reiterada dos direitos dos cidadãos.
Decorridos mais de vinte anos de sua promulgação e muitas reformas subseqüentes, feitas em quadro de absoluta normalidade, é certo que a Constituição tem mantido sua capacidade regulatória, a despeito das mais diversas dificuldades.
Ressalte-se que foram mais de duas décadas de paciente aprendizado, de eficaz negociação, até a conquista lenta, mas definitiva, dos direitos básicos que certificam a existência do Estado Democrático de Direito.
E, tal como apontado, não se cuida de experiência vivida sob um clima de absoluta tranqüilidade econômica e política. O País passou por dificuldades políticas e econômicas graves, mas nem a inflação descontrolada e os desvarios da desordem econômica por ela causada, nem os sérios casos de corrupção no estamento político deixaram de ser equacionados dentro dos marcos institucionais mais ortodoxos, sem qualquer contestaçãoou reclamo relevante.
Seria muito fácil dizer que esta Constituição tem essa capacidade regulatória, exatamente porque regula um País num quadro de ascensão econômica incontornável; mas não foi essa a experiência que colhemos a partir de 1988. 
Ao contrário, o País passou por dificuldades políticas e econômicas graves. Nem a inflação descontrolada e os desvarios da desordem econômica por ela causada, nem os sérios casos de corrupção no estamento político deixaram de ser equacionados dentro dos marcos institucionais mais ortodoxos, sem qualquer contestação ou reclamo relevante.
Não é pouco, principalmente se pensarmos na superação do menosprezo de outrora da comunidade internacional e da nossa própria maltratada auto-estima, diante da desconfortável situação de membro do círculo de ditaduras do Cone Sul.
O mais importante a festejar, neste momento, é a certeza de que no Brasil, nesse ponto, a história jamais haverá de se repetir, nem como farsa, sobretudo em face do inegável amadurecimento político do povo brasileiro.
Nesse contexto, refira-se não só ao papel singular do Poder Judiciário, ou de instituições como o Ministério Público, mas também aos organismos vitais da democracia, como a imprensa livre e as associações e organizações que formam a base de uma sociedade aberta e plural. 
Certamente há muitas perguntas a serem feitas para se estabelecer as causas dessa estabilidade institucional. Muitos dirão que reside, talvez, na atividade do Congresso, na independência do Judiciário, no esforço cotidiano do Executivo, mas não se pode esquecer todos esses outros poderes que não são explícitos, como, por exemplo, o Ministério Público, a autonomia de polícia, a independência da imprensa, todos eles formando esse eixo complexo, essa verdadeira poliarquia responsável pelo equilíbrio institucional. 
Destaque-se a importância do Judiciário independente neste modelo institucional. Em verdade, no Estado constitucional, a independência judicial é mais relevante do que o próprio catálogo de direitos fundamentais.
Conhecemos estados ditatoriais com amplos catálogos de direitos fundamentais; e conhecemos estados sem catálogos de direitos fundamentais formais, mas que respeitam o estado de direito, por conta da independência judicial. 
É fundamental que valorizemos este elemento, que é uma pedra central da Constituição de 1988.
Não há dúvida, portanto, de que, a partir da Carta de 1988, afiguram-se, entre nós, aquelas condições que a ciência política enuncia como pressupostos para que a democracia plena seja atingida, dentre as quais a existência de uma cultura política e de convicções plenamente democráticas.
MGM/VP/26AGO2008
( Presidente do Supremo Tribunal Federal do Brasil; Presidente do Conselho Nacional de Justiça – CNJ; Professor de Direito Constitucional nos cursos de graduação e pós-graduação da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília-UnB; Mestre em Direito pela Universidade de Brasília - UnB (1988), com a dissertação Controle de Constitucionalidade: Aspectos Políticos e Jurídicos; Mestre em Direito pela Universidade de Münster, República Federal da Alemanha - RFA (1989), com a dissertação Die Zulässigkeitsvoraussetzungen der abstrakten Normenkontrolle vor dem Bundesverfassungsgericht (Pressupostos de admissibilidade do Controle Abstrato de Normas perante a Corte Constitucional Alemã); Doutor em Direito pela Universidade de Münster, República Federal da Alemanha - RFA (1990), com a tese Die abstrakte Normenkontrolle vor dem Bundesverfassungsgericht und vor dem brasilianischen Supremo Tribunal Federal, publicada na série Schriften zum Öffentlichen Recht, da Editora Duncker & Humblot, Berlim, 1991 (a tradução para o português foi publicada sob o título Jurisdição Constitucional: o controle abstrato de normas no Brasil e na Alemanha. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, 395 p.). Membro Fundador do Instituto Brasiliense de Direito Público – IDP. Membro do Conselho Assessor do “Anuario Iberoamericano de Justicia Constitucional” – Centro de Estudios Políticos y Constitucionales - Madri, Espanha. Membro da Academia Brasileira de Letras Jurídicas. Membro da Academia Internacional de Direito e Economia – AIDE. 
� HÄBERLE, Peter. El Estado Constitucional. Trad. Héctor Fix-Fierro. México D.F: Universidad Autónoma de México; 2001, p. 7. 
� VERDÚ, Pablo Lucas. La Constitución abierta y sus enemigos. Madrid: Ediciones Beramar, 1993. 
� POPPER, Karl. A sociedade aberta e seus inimigos. 3a ed. São Paulo: Itatiaia, Universidade de São Paulo; 1987. 
� ZAGREBELSKY, Gustavo. El derecho dúctil. Ley, derechos, justicia. Madrid: Trotta, 2003, p. 14. 
� PAGE �4�

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