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Dados Sociodemográficos, Políticas Públicas e Direitos Indígenas1 
Por Ricardo Verdum2 
 
Se estima existir no Brasil um total de 220 povos indígenas, vários deles submetidos à 
jurisdição de mais de um Estado nacional, como é o caso dos Guarani (Argentina, Bolívia, Brasil 
e Paraguai), Yanomami (Brasil e Venezuela), Tukano (Brasil e Colômbia) e Tikuna (Brasil, 
Colômbia e Peru). Os indígenas estão presentes em todos os estados da Federação e seus 
territórios (“terras indígenas”, no linguajar jurídico do estado brasileiro) somam 
aproximadamente 110,6 milhões de hectares – o equivalente a aproximadamente 13% do 
território nacional e 21% da Amazônia brasileira. Essa população representa uma diversidade 
linguística que ultrapassa o número de 180 línguas, classificadas em 35 famílias linguísticas. 
Em termos demográficos, a população indígena no Brasil foi estimada pelo Instituto Brasileiro 
de Geografia e Estatística (IBGE), por ocasião do Censo Demográfico de 2000, em cerca de 734 
mil pessoas, o que equivaleria à 0,4% da população do país. 
Já a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, chegou 
recentemente a um número aproximadamente 520 mil pessoas sendo atualmente atendidas 
nos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs), distritos esses que compõem o 
subsistema de atenção à saúde indígena, vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS). Desse 
total, 54,2% dessa população tem seus territórios [reconhecidos ou não pelo Estado brasileiro] 
localizados na chamada Amazônia Legal e 26% nos estados que integram a Região Nordeste. 
No âmbito do Governo federal, e envolvendo instituições de pesquisa e organizações não 
governamentais, está em curso uma série de atividades que visam à realização de um 
recenseamento da população brasileira, ai incluídos os povos indígenas. Esse recenseamento 
terá início em agosto de 2010, num processo que deverá estar concluído, impreterivelmente, 
até dezembro desse ano. 
Estar atento a esse processo e aos resultados alcançados é de fundamental importância, visto 
que dele decorrerá uma série de avaliações e propostas de políticas públicas específicas, 
direcionadas para indivíduos ou para coletividades, que pode ser uma comunidade local; um 
conjunto de comunidades locais em um ou mais territórios; o conjunto da população de um 
determinado povo; pode ser políticas destinadas a uma faixa etária específica da população 
(infância, por exemplo) ou para o contingente feminino (saúde da mulher, por exemplo); ou 
mesmo ao conjunto da população indígena no Brasil, independente de gênero ou faixa etária. 
Há também o caso dos indígenas que vivem em cidades, dispersos ou concentrados em 
 
1 Texto elaborado para o Seminário “Orçamento e Direitos”, do Social Watch, realizado no Rio de Janeiro 
de 24 a 26 de agosto de 2009. Esta versão foi publicada originalmente em 
http://www.inesc.org.br/biblioteca/publicacoes/artigos/dados-sociodemograficos-politicas-publicas-e-
direitos-indigenas/ 
2 Dr. Antropologia Social da América Latina e Caribe (UnB). rverdum@gmail.com 
2 
 
determinados bairros, que por sua vez vêm demandando políticas específicas do “subsistema 
de atenção à saúde indígena”.3 
Como os Censos anteriores, os números, dados e informações levantados em 2010 estarão 
informando, por exemplo, o desenho das políticas sociais de saúde, educação e assistência do 
próximo Plano Plurianual (2011-2014), as “metas” a serem alcançadas anualmente e ao final 
do período, e os respectivos orçamentos anuais. Deve informar também políticas de fomento 
e de assistência técnica ao “desenvolvimento indígena” e as chamadas políticas de “inclusão 
social” do Estado nacional. 
Os números do Censo servem de base inclusive no cálculo de representação indígena em 
conselhos e comissões, como foi o caso do cálculo do número de representantes indígenas, 
por região, na Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI), instância política vinculada ao 
Ministério da Justiça, composta por representantes de órgão do governo federal e dos povos 
indígenas e da sociedade civil brasileira. 
Em fim, se produzir dados e informação sociodemográficas sobre a situação dos povos 
indígenas é de fundamental importância para o planejamento e implementação de políticas 
públicas no âmbito do Estado brasileiro, em parceria ou não com organizações da sociedade 
civil e com organizações indígenas, o mesmo se pode dizer em relação a importância de serem 
desenvolvidos e aplicados mecanismos próprios e independentes de geração de informações e 
análises sobre essa população, assim como de indicadores e metodologias para avaliar as 
ações governamentais e seus resultados, á luz do que lhes é assegurado pela Declaração das 
Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas (aprovada em 13 de setembro de 2007) e 
pela Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho, adotada em 27 de junho de 
1989. 
 
3 Sobre a demografia dos povos indígena no Brasil veja: AZEVEDO, M. Diferentes estimativas 
(http://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/quantos-sao/diferentes-estimativas); IBGE/ 
Coordenação de População e Indicadores Sociais, Tendências Demográficas: uma análise dos indígenas 
com base nos resultados da amostra dos censos demográficos 1991 e 2000, Rio de Janeiro, 2005 
(http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/tendencia_demografica/indigenas/); PAGLIARO, 
H; AZEVEDO, M.M.; SANTOS, R.V. (org.), Demografia dos Povos Indígenas no Brasil, Rio de Janeiro, 
Editora Fiocruz e Associação Brasileira de Estudos Populacionais, 2005 
(http://static.scielo.org/scielobooks/qdgqt/pdf/pagliaro-9788575412541.pdf); PAGLIARO, H. A 
revolução demográfica dos povos indígenas do Brasil: a experiência dos Kaiabi do Parque Indígena do 
Xingu – Mato Grosso (1970-1999), Tese de Doutorado, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São 
Paulo, 2002; PAGLIARO, H., Povos indígenas do Brasil. Cad. CRH, 2009, vol.22, n.57, pp. 447-450 
(http://www.scielo.br/pdf/ccrh/v22n57/a01v2257.pdf); WONG, L.L.R., Demografia dos povos indígenas 
no Brasil. Cad. Saúde Pública, 2006, vol.22, n.2, pp. 460-462 
(http://www.scielo.br/pdf/csp/v22n2/25.pdf).

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