Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
2 Professora Ms. Maria Lucimar Pereira EspEcialização Em GEstão social, políticas públicas, REdEs E dEfEsa dE diREitos O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL UNOPAR - Londrina SEPC - Sistema de Ensino Presencial Conectado Rua Tietê, 1208 - Vila Nova 86025-230 - Londrina - PR Tel: (43) 3371-7461 / 3371-7416 Fax: (43) 3371-7459 Universidade Responsável: UNOPAR - UNIVERSIDADE NORTE DO PARANÁ SEPC - Sistema de Ensino Presencial Conectado Chanceler Prof. Marco Antonio Laffranchi Reitora Profa. Wilma Jandre Mello Pro-Reitora de EAD Profa. Elisa Maria Assis Especialização em Gestão Social, Políticas Públicas, Redes e Defesa de Direitos Coordenador: Prof. RODRIGO ZAMBON Diagramação: Melissa Zuan 3 Professora Ms. Maria Lucimar Pereira EspEcialização Em GEstão social, políticas públicas, REdEs E dEfEsa dE diREitos O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL “Um lugar conhece outro é por calúnias e falsos levantados; as pessoas tam- bém, nesta vida. Sendo isto. Ao doido, doideiras digo. Mas o senhor é homem sobrevindo, sensato, fiel como papel, o senhor me ouve, pensa e repensa, e rediz, então me ajuda. Assim, é como conto. Antes conto as coisas que forma- ram passado para mim com mais pertença Vou lhe falar. Lhe falo do sertão. Do que não sei. Um grande sertão! Não sei. Ninguém ainda não sabe. Só umas raríssimas pessoas — e só essas poucas veredas, veredazinhas. O que muito lhe agradeço é a sua fineza de atenção” (GRANDES SERTÓES VEREDAS). 1 INTRODUÇÃO Historicamente, na história das políticas sociais brasileiras, a discussão acerca da questão territorial para elaboração de políticas públicas, nem sempre foi de relevância. É recente na nossa história a orientação para consideração das desigualdades e potencialidades existentes nas cinco grandes regiões e nos municípios de diversos portes: pequeno médio, grande e metrópole. Essa discussão ganhou destaque em meados das décadas de 80 e 90 do século passado após a aprovação da Constituição Federal de 1988. A orientação da diretriz da descentralização política administrativa se faz necessários à ampliação do debate, envolvendo em especial trabalhadores e usuários. Dessa forma os municípios passam a ser refletidos a partir da compreensão do local onde se implantam e operacionalizam as políticas sociais, Cria-se então a necessidade de pensar as necessidades de cada localidade, ou seja, dos territórios brasileiros. Entretanto para que de fato ocorram as ações das políticas públicas nos territórios é imperativo o desenvolvimento de espaços, bem como criar mecanismos para a gestão destas políticas, considerando as necessidades específicas dos territórios redimensionando e alterando as antigas práticas e relações entre Estado e Sociedade Civil. O processo da globalização exige novas adequações no funcionamento da sociedade. A ‘determinação’ do crescimento polarizado e centralizado invade as regiões, confronta-se com a imagem de fragmentação econômica, social e territorial. A ameaça da existência de um núcleo globalizado desconsidera a existência de grupos sociais. O Brasil tem alta densidade populacional em seus 5.5641 municípios e, considerando a sua heterogeneidade e desigualdades econômicas, sociais, políticas e culturais entre suas regiões, é urgente e necessário pensar as ações da Política de Assistência Social na perspectiva socioterritorial. (BRASIL, 2005 a) Sposati (2008) acrescenta que o país apresenta diversidade na habilidade de gestão destes municípios, acentuada pelos níveis de desigualdade do desenvolvimento econômico social entre eles. A definição de prioridades na elaboração de programas, projetos e serviços a partir do princípio de que todos os municípios se encontram em situações semelhantes não responde às diversas demandas diante da presença das marcas da desigualdade social, assim, devem-se associar as diversas informações acerca da realidade demográfica e sócio-territorial (BRASIL, 2005b). Koga (2003) reforça essa importância, devido à ênfase dada à descentralização e municipalização das políticas públicas a partir da Constituição Federal de 1988. Assim, é fundamental a discussão e reflexão acerca destas políticas, o que nos remete à importância da regulação ampla e, ainda, a defesa de universalização do direito, não se permitindo a focalização ou a desresponsabilização do Estado em 1Fonte: Tese de Doutorado em Serviço Social de Sonia Regina Nozabielli, 2008. 4 Professora Ms. Maria Lucimar Pereira EspEcialização Em GEstão social, políticas públicas, REdEs E dEfEsa dE diREitos O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL garantir estes direitos. O princípio da descentralização está previsto na Constituição, reafirmado nas regulamentações das Políticas Públicas. No caso da Política da Assistência Social, consta na Lei Orgânica da Assistência Social e, em seu Art. 6º: “As ações da área de assistência social são organizadas em sistema descentralizado e participativo, constituído pelas entidades e organizações de assistência social abrangidas por esta Lei, que articule meios, esforços e recursos, e por um conjunto de instâncias deliberativas compostas pelos diversos setores envolvidos na área”. (COLIN, 1999, p. 39). A criação de condições para o desenvolvimento dos municípios e territórios locais consiste em potencializar e fortalecer o desenvolvimento socioeconômico a partir da mobilização dos recursos locais, como humanos e financeiros, dessa forma possibilitando os resultados – financeiros – ficarem no próprio município. O esforço para enfrentar o direcionamento da globalização é expresso através do aumento de experiências inovadoras de desenvolvimento econômico local, exemplificadas por pequenos empreendimentos, associativismo, mercado popular, entre outras iniciadas ainda na década de 1990. No que se refere à elaboração da Política de Assistência Social, considerando as situações de vulnerabilidades e potencialidades da população, é necessário, além da leitura territorial, também a construção de ações, juntamente com as demais políticas públicas na perspectiva de enfrentar e/ou prevenir situações de risco. A Leitura territorial é o exercício da competência técnica dos profissionais, que devem buscar as informações acerca do território, utilizando as informações dos serviços socioassistenciais e dos serviços governamentais. Devem compor também a essas informações as observações de como as relações acontecem nestes espaços. O saudoso Professor e Geógrafo Milton Santos define como Leitura Territorial como “expressão do conjunto das relações, condições e acessos que interpreta a cidade com significado vivo a partir dos atores que dele se utilizam” (BRASIL, 2005a, p. 43). As ações da Política de Assistência Social, de forma descentralizada, possibilitam o fortalecimento da relação entre o Estado e a sociedade civil, a participação dos usuários através do exercício do controle social, além de propiciar a informação mais rápida, monitoramento, avaliação e a sistematização dos resultados. Koga destaca ainda: “Pensar na política pública a partir do território exige também um exercício de revisita à história, ao cotidiano, ao universo cultural da população que vive nesse território, se o considerarmos para além do espaço físico, isto é, como toda gama de relações estabelecidas entre seus moradores, que de fato o constroem e reconstroem” (KOGA, 2003, p. 26). Pensar/respeitar e considerar a cultura do território não é limitar-se a acreditar que as relações de solidariedade comunitária sejam suficientes para lutar e enfrentar as situações de exclusão social sentidas pela população, mas também deve ser principalmente da responsabilização do Estado e o reconhecimento de que as pessoas, as famílias e o território têm especificidades e particularidades que devem ser respeitadas e valorizadas no processo de desenvolvimento, assim como: A simples presença de uma política pública pode não revelar sua capacidade de interferência nas situações de exclusão social, visando colocar os sujeitos na condição de protagonistas a caminho da inclusão social. Faz-se fundamental o modo pelo qual a política pública opera, levando em conta a cultura, a geografia da própria popu- lação com o qual trabalha e a participação dos cidadãos (KOGA, 2003, p. 28). Para Koga (2003), a compreensão acerca do território deve superar o campo da geografia, devendo ser concebido e utilizado também pelas ciências sociais, políticas, econômicas. 5 Professora Ms. Maria Lucimar Pereira EspEcialização Em GEstão social, políticas públicas, REdEs E dEfEsa dE diREitos O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Sposati (2008) coloca que o território não é apenas a definição física: Território não é um terreno no sentido de uma dimensão de terra. Território é dinâmica, pois para além da topografia natural, constitui uma ‘topografia social’ decorrente das relações entre os que nele vivem e suas relações com os que vivem em outros territórios. Território não é gueto, apartação, ele é mobilidade. Por isso discutir medidas de um território é assunto bem mais complexo de que definir sua área com densidade. Implica considerar o conjunto de forças e dinâmicas que nele operam (SPOSATI, 2008, p. 9). Para Santos, apud Koga (2003), o território pode ser entendido a partir da perspectiva de uma categoria de análise, uma vez que seu entendimento não é de um conceito estanque e/ou cristalizado, pois possui uma plasticidade e dinâmica que converge para seu entendimento juntamente com outros aspectos, por exemplo, a população local, demográfica, aspectos geográficos e topográficos, cultura local, história do território, identidade dos moradores, demandas, rede e bens de serviços: “O território em si, para mim, não é um conceito. Ele só se torna um conceito utilizável para a análise social quando o consideramos a partir do seu uso, a partir do momento em que o pensamento juntamente com aqueles atores que dele utilizam” (SANTOS apud KOGA, 2003, p. 35). A interpretação dessa relação possibilita a compreensão do funcionamento da dinâmica e da vida das pessoas de um determinado lugar. Sposati coloca: “A concretização do modelo de proteção social sofre forte influência da territorialidade, pois ele só se instala, e opera, a partir das forças vivas e de ações com sujeitos reais. Ele não flui de uma fórmula matemática, ou laboratorial, mas de um conjunto de relações e de forças em movimento” (SPOSATI, 2009, p. 17). No caso específico da Política de Assistência Social, no nível de proteção básica, torna-se necessário que a mesma seja prestada de forma territorializada, considerando que essa forma é o contraponto de ações centralizadas, facilitando o diálogo com variedades de sujeitos e a delegação de poder, em função de seu caráter preventivo e do baixo nível de complexidade (SPOSATI, 2008). O Sistema Único da Assistência Social - SUAS – traz, como um dos princípios a territorialização. Sposati faz importante contribuição acerca dessa temática: Territorialização – é uma dimensão da política que supõe o reconhecimento da heterogeneidade dos espaços em que a população se assenta e vive bem como o respeito cultural aos seus valores, referência e hábito. Tem como perspectiva a inserção do cidadão e a manutenção da expressão de indivíduo. Também por entendimento e identificação das efetivas condições de vida do território onde ele vive com sua família. Certamente, o nível de qualidade de um território pode ser fator de proteção e/ou desproteção (SPOSATI, 2009, p. 45). Uma das estratégias para operacionalização desse princípio é a implantação do Centro de Referência de Assistência Social - CRAS - nos territórios de vulnerabilidade dos municípios. Essa nova forma de fazer a gestão da Política de Assistência Social, em especial a territorializada, traz novos desafios, como a necessidade de instrumentalizar a sociedade para exercer a vigilância sobre os serviços. O CRAS, nesta perspectiva, exerce a função de referência da Política de Assistência Social no território, detecta as demandas das situações de vulnerabilidade e risco social, devendo criar condições de garantir ao usuário acesso à renda, serviços, programas, projetos e benefícios, a partir das diferentes demandas, além de exercer a contra referência, nos casos de encaminhamentos para os serviços de níveis de maior complexidade, e para os serviços de outras políticas. Esses encaminhamentos se efetivam e têm mais resolutividade quando há articulação entre o CRAS e a rede socioassistencial. Essa articulação significa a construção de um processo de aproximação entre diferentes organizações no território, a partir da socialização, compreensão e pactuação das formas de funcionamento, dinâmicas, responsabilidades e objetivos, de forma a associar interesses distintos destas 6 Professora Ms. Maria Lucimar Pereira EspEcialização Em GEstão social, políticas públicas, REdEs E dEfEsa dE diREitos O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL organizações e o fortalecimento dos interesses comuns. A articulação das políticas públicas, entidades e organizações, que ofertam ações de proteção para a população em situação de vulnerabilidade na área de abrangência do CRAS, consiste no estabelecimento de contatos, combinados, alianças, fluxos de encaminhamentos e informações entre o Centro de Referência de Assistência Social e os outros serviços/equipamentos da proteção social básica e proteção especial, com a intencionalidade de criar condições de acesso aos direitos socioassistenciais e direitos sociais, fortalecer vínculos e possibilitar troca de experiências e a busca de apoio entre os diversos serviços setoriais, como a escola, unidade básica de saúde, grupos sociais, organizações comunitárias. O desafio está colocado: A operacionalização da política de assistência social em rede, com base no território, constitui um dos caminhos para superar a fragmentação na prática dessa política. Trabalhar em rede, nessa concepção territorial, significa ir além da simples adesão, pois há necessidade de se romper com velhos paradigmas, em que as práticas se con- struíram historicamente pautadas na segmentação, na fragmentação e na focalização, e olhar para a realidade, considerando os novos desafios colocados pela dimensão do cotidiano, que se apresenta sob múltiplas formatações, exigindo enfrentamento de forma integrada e articulada (BRASIL, 2005a, p. 44). A Política Nacional de Assistência Social - PNAS - de 2005 caracteriza os municípios do país, a partir do porte demográfico, associado aos indicadores socioterritoriais. Essa política utiliza como referência a classificação dos municípios como de pequeno, médio e grande porte23 e Metrópole: • Municípios de pequeno porte 1 – entende-se por municípios de pequeno porte 1 aquele cuja população chega a 20.000 habitantes (até 5.000 famílias em média. Possuem forte presença de população em zona rural, correspondendo a 45% da população total. Na maioria das vezes, possuem como referência municípios de maior porte, pertencentes à mesma região em que estão localizados. Necessitam de uma rede simplificada e reduzida de serviços de proteção social básica, pois os níveis de coesão social, as demanda potenciais e redes socioassistenciais não justificam ser- viços de natureza complexa. Em geral, esses municípios não apresentam demandas significativa de proteção especial, o que aponta para a necessidade de contarem com a referência de serviços dessa natureza na região, mediante prestação direta pela esfera estadual, organização de consórcios intermunicipais, ou prestação por municípios de maior porte, com co-financiamento das esferas estaduais e federal. • Municípios de pequeno porte 2 – entende-se por municípios de pequeno porte 2 aqueles cuja população varia de 20.001 a 50.000 habitantes (cerca de 5.000 a 10.000 famílias em média). Diferenciam-se dos pequenos porte 1 especialmente no que se refere à concentração da população rural que corresponde a 30% da população total. Quanto as suas características relacionais mantêm-se as mesmas dos municípios pequeno 1. • Município de médio porte – entende-se por municípios de médio porte aqueles cuja população está entre 50.001 a 100.000 habitantes (cerca de 10.000 a 25.000 famílias). 2Esta classificação por porte dos Municípios foi utilizada a partir da definição do IBGE 7 Professora Ms. Maria Lucimar Pereira EspEcialização Em GEstão social, políticas públicas, REdEs E dEfEsa dE diREitos O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Mesmo ainda precisando contar com a referência de municípios de grande porte para questões de maior complexidade, já possuem mais autonomia na estruturação de sua economia, sediam algumas indústrias de transformação, além de contarem com maior oferta de comércio e serviços. A oferta de empregos formais, portanto, aumenta, tanto no setor secundário como no de serviços. Esses municípios necessitam de uma rede mais ampla de serviços de Assistência Social, particularmente na rede de proteção social básica. Quanto à proteção especial, a realidade de tais municípios se assemelha a dos municípios de pequeno porte, no entanto, a probabilidade de ocorrerem demandas nessa área é maior, o que leva a se considerar a possibilidade de sediarem serviços próprios dessa natureza ou de referência regional, agregando municípios de pequeno porte no seu entorno. • Municípios de grande porte – entende-se por municípios de grande porte aqueles cuja população é de 101.000 habitantes até 900.000 habitantes (cerca de 25.000 a 250.000 famílias). São os mais complexos na sua estruturação econômica, polos de regiões e sedes de serviços especializados. Concentram mais oportunidades de emprego e oferecem maior número de serviços públicos, contendo também mais infra-estrutura. No entanto, são os municípios que, por congregarem o grande número de habitantes e, pelas suas características em atraírem grande parte da população que migra das regiões onde as oportunidades são consideradas mais escassas, apresentam grande demanda por serviços das várias áreas de políticas públicas. Em razão dessas características, a rede socioassistencial deve ser mais complexa e diversificada, envolvendo serviços de proteção social básica, bem como uma ampla rede de proteção especial (nos níveis de média e alta complexidade). • Metrópoles – entende-se por metrópole os municípios com mais de 900.000 ha- bitantes (atingindo uma média superior a 250.000 famílias casa). Para além das características dos grandes municípios, as metrópoles apresentam o agravante dos chamados territórios de fronteira, que significam zonas de limites que configuram a região metropolitana e normalmente com forte ausência de serviços do Estado (BRA- SIL, 2005a, p. 45-46). A definição dessa classificação tem como propósito identificar algumas características mais importantes dos municípios para que seja possível a construção da leitura e da interpretação das realidades, considerando as particularidades e especificidades dos territórios, além de contribuir para a organização do SUAS a partir do porte do município. No entanto, independente da classificação do porte, os municípios devem oferecer, para sua população, serviços da Proteção Social Básica da Política de Assistência Social. As demais ações da Proteção Social Especial, de média e alta complexidade, dependerão de alguns fatores como a classificação do porte (NOZABIELLI, 2008). Para a utilização da territorialidade na Política de Assistência Social, Silveira e Colin expressam que: Permite afirmar que os territórios vividos expressam, essencialmente: uma realidade social particular a uma re- alidade geral, que explicita parte de suas demandas relativas às necessidades sociais por meio de indicadores; redes socioassistenciais; e força sócio-política, no sentido da organização, resistência e luta. Assim, a dimensão da territorialidade pode se realizar como movimento que faz emergir, na produção e reprodução das relações sociais, 3Forma de definição utilizada no Plano de Assistência Social, tomando como base a divisão do IBGE (BRASIL, 2005a). 8 Professora Ms. Maria Lucimar Pereira EspEcialização Em GEstão social, políticas públicas, REdEs E dEfEsa dE diREitos O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL processos geradores das necessidades sociais (SILVEIRA, COLIN, 2006, p. 27). Para assegurar os direitos socioassistenciais, o CRAS tem, sob sua atribuição, a leitura de vulnerabilidade territorial, a articulação da rede, a gestão do benefício, a oferta de acompanhamento sociofamiliar e convivência comunitária. Portanto, no processo de análise, serão considerados os avanços no sentido de implantar este serviço dentro das proposições a ele referentes. A análise dos serviços prestados pela Política de Assistência Social - PAS - em nível de proteção social básica não poderia deixar de considerar este caráter descentralizado e territorializado da rede de serviços, que apresenta diferentes configurações, determinadas pelo porte das cidades e pelas características dos locais nos quais os CRAS foram instalados. A descentralização e territorialização da P.A.S., através da implantação do CRAS, possibilitaram a aproximação com o usuário, facilitando o atendimento neste nível de proteção. Outro fator que a territorialização facilita é a intersetorialidade, tornando os serviços mais complementares e instalando uma forma de gestão, como defende Menicucci em Brasil: “O novo paradigma para a gestão pública articula descentralização e intersetorialidade, uma vez que o objetivo visado é promover inclusão social ou melhorar a qualidade de vida, resolvendo os problemas concretos que incidem sobre uma população em determinado território” (BRASIL, 2005a, p. 44). No âmbito da Política Pública de Assistência Social – PNAS, em processo de implantação desde 2004, tem demonstrado um esforço coletivo pela perspectiva de uma política que de fato seja comprometida com aqueles que necessitam e são sujeitos de direitos. Entretanto torna-la de fato operacional a todos os municípios brasileiros ainda é um dos seus maiores desafios a ser conquistados. Lembrando a importância da incorporação da proposta da PNAS de todos os envolvidos no processo da gestão – trabalhadores, usuários, gestores, conselheiros – nos mais diversificados 5.564 cidades do Brasil. Além da quantidade dos municípios brasileiros outro fator importante é a dinâmica destes considerando seus portes, como coloca Koga: A dinâmica da vida em uma metrópole possui um ritmo diferenciado, que interfere nas conexões com o próprio espaço urbano, de definição de acessibilidade intraurbano. O tempo e os recursos financeiros que se gasta em deslocamento para o acesso aos serviços, às várias dimensões relacionais faz toda diferença na organização das populações residentes em áreas metropolitanas. Milton Santos já apontava em sua análise sobre a diferenciação dos “homens lentos” se movendo nas cidades marcadas pela alta velocidade contemporânea. Já nas cidades pequenas, a relação de tempo-espaço se rege por outros parâmetros de acessibilidade, por exemplo, na medida do rural-urbano (KOGA, 2009, p. 50). Durante todo o trajeto deste trabalho, destacamos a importância do território enquanto um elemento novo – pós-Constituição Federal de 1988 – para a reflexão, elaboração e implementação de políticas sociais públicas em situações de desigualdades sociais, em que as relações de exclusão expressa o cotidiano nas vidas das famílias. Além das políticas serem pensadas e operacionalizadas de forma descentralizada nos territórios, é de supraimportância que as pessoas que nele estão tenham a condição de exercer o papel de sujeitos destas políticas. Como diz Couto “afirmar a assistência como direito é tarefa de uma sociedade, e essa tarefa dó pode ser realizada com a presença forte de toda essa sociedade [...] Assim, a assistência social começara a ser inscrita como direito social produzido por uma participação ativa da população, com o Poder Executivo responsável e permeado por um controle social que definirá os caminhos a ser percorridos pela política” (COUTO, 2008, p. 187). 9 Professora Ms. Maria Lucimar Pereira EspEcialização Em GEstão social, políticas públicas, REdEs E dEfEsa dE diREitos O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 2 TERRITÓRIO, REDE DE PROTEÇÃO E FAMÍLIA 2.1 TERRITÓRIO O Território é um dos eixos importantes do trabalho social orientado pelo Sistema Único de Assistência Social. Essa proposta vem ao encontro de uma nova perspectiva de se fazer a gestão de políticas públicas, que significa a superação de antigas formas de se planejar e de executar. De acordo com a História, as decisões acerca das políticas sociais eram pensadas por equipe de técnicos do governo central. A nova gestão do território atende ao princípio constitucional da Descentralização do Sistema Único de Assistência Social e tem como objetivo: “[...] promover a atuação preventiva, disponibilizar serviços próximos do local de moradia das famílias, racionalizar as ofertas e traduzir o referenciamento dos serviços ao CRAS em ação concreta, tornando a principal unidade pública de proteção básica uma referenciamento para a população local e para os serviços setoriais” (BRASIL, 2009, p. 20). A nova gestão social das políticas públicas exige um olhar para as demandas, vulnerabilidades e a rede de proteção, ou a identificação da ausência de proteção. O princípio da territorialização, que embasa também outras políticas sociais, identifica a presença de vários fatores que levam famílias a se expor a situações de vulnerabilidade; esses fatores são econômicos, políticos e sociais. Tais famílias devem acessar a proteção social oferecida pela rede de serviços governamentais e da sociedade civil organizada por meio das entidades sociais. Na perspectiva da elaboração, implantação e ou implementação das políticas sociais nos territórios com objetivo de oferecer proteção social, é necessário o reconhecimento da responsabilidade das ações, já que este é o “chão das políticas públicas”, pois é nele que se manifestam as expressões das questões sociais. Para que a ação profissional atenda as necessidades das famílias do território é importante: • o conhecimento da realidade territorial a partir das estatísticas oficiais, como diz Koga (2003), ter as medidas do território: o Acessar os indicadores de informações do território, usando os sistemas de infor- mações disponíveis, como por exemplo o CADUNICO; o Nº populacional / habitantes do território, classificando por faixa etária e sexo; o Realidade sócioeconômica e cultural das famílias (história/valores/crenças) – iden- tificando as formas e as estratégias de sobrevivência e renda das famílias; o Economia predominante do território – de onde advém a renda das famílias (mercado formal, informal); o Mapeamento dos serviços das políticas sociais públicas com unidades no território; o Mapeamento da rede de serviços da sociedade civil (pastorais, organizações comu- nitárias, grupos de apoio, Conselhos locais, etc.); o Orçamento de cada política; o Mapeamento da rede dos serviços socioassitenciais (CRAS, CREAS, Serviço de Acolhimento, Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, Grupos de Eco- nomia solidária, etc.); o Nº de famílias no Cadastro Único; 10 Professora Ms. Maria Lucimar Pereira EspEcialização Em GEstão social, políticas públicas, REdEs E dEfEsa dE diREitos O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL o Famílias Beneficiadas por Programas sociais do Governo Federal, Estadual e Mu- nicipal; • As características geográficas, sociais e culturais, sendo muitas destas adquiridas pelos profissionais a partir da vivência no território, observando como que se dão as relações no seu cotidiano; • Outra importante fonte de informações acerca do território é o diálogo com os pro- fissionais dos serviços com lideranças locais, banco de dados de outras organizações governamentais e não governamentais, com os conselhos tutelares, com os conselhos de direitos. A partir destas informações elementares, do conhecimento da realidade territorial e das famílias que nele vivem - quem são, quantos são, o que fazem, como vivem, como utilizam dos serviços do território – é que as políticas públicas podem propor ações de enfrentamento das situações de risco e de potencialização dos serviços e ações existentes. Outro grande desafio das políticas sociais é a proposição de ações articuladas e integradas que visam a proteção das famílias nos seus território. Como afirma Menicucci: “[...] o novo paradigma para a gestão pública articula descentralização e intersetorialidade, uma vez que o objetivo visado é promover a inclusão social ou melhorar a qualidade de vida, resolvendo os problemas concretos que incidem sobre uma população num determinado território” (MENICUCCI, 2002 apud BRASIL, 2005, p. 44). 2.2 REDE DE PROTEÇÃO Pensar em um trabalho em rede é pensar em articulação, conexão, vínculos, ações complementares, parcerias e integralidade na perspectiva de garantir proteção aos segmentos sociais em situação de vulnerabilidade. A articulação entre os serviços das políticas sociais descentralizadas e dos serviços socioassistenciais, possibilitam as famílias do território o acesso efetivo aos programas, projetos, serviços e benefícios ofertados; divulga e publica competência de cada unidade de serviço; possibilita a gestão unida dos serviços e a qualificação destes a serem ofertados a população. A implantação do trabalho articulado contribui para a construção de um diálogo da política de assistência social com as demais políticas, organizações do território e com as famílias beneficiárias dos serviços: “A articulação é o processo pela qual se cria e mantém conexões entre diferentes organizações, a partir da compreensão do seu funcionamento, dinâmicas e papel desempenhado, de modo a coordenar interesses distintos e fortalecer os que são comuns”. (BRASIL, 2009, p. 21). GUARÁ (1998, p. 18 – 32) considera os tipos de redes que podem ser identificadas no território: REDE SOCIAL ESPONTÂNEA: constituída pelo núcleo familiar, pela vizinhança, pela comu- nidade e pela Igreja. São consideradas as redes primárias, sustentadas em princípios como cooperação, afetividade e solidariedade. REDES SÓCIO-COMUNITÁRIAS: constituídas por agentes filantrópicos, organizações comu- nitárias, associações de bairros, entre outros que objetivam oferecer serviços assistenciais, organizar comunidades e grupos sociais. REDE SOCIAL MOVIMENTALISTA: constituída por movimentos sociais de luta pela garantia dos direitos sociais (creche, saúde, educação, habitação, terra...). Caracteriza-se por defender 11 Professora Ms. Maria Lucimar Pereira EspEcialização Em GEstão social, políticas públicas, REdEs E dEfEsa dE diREitos O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL a democracia e a participação popular. REDES SETORIAIS PÚBLICAS: são aquelas que prestam serviços e programas sociais consagrados pelas políticas públicas como educação, saúde, assistência social, previdência social, habitação, cultura, lazer, etc. REDES DE SERVIÇOS PRIVADOS: constituídas por serviços especializados na área de educação, saúde, habitação, previdência, e outros que se destinam a atender aos que podem pagar por eles. REDES REGIONAIS: constituídas pela articulação entre serviços em diversas áreas da política pública e entre municípios de uma mesma região. REDES INTERSETORIAIS*: são aquelas que articulam o conjunto das organizações gover- namentais, não governamentais e informais, comunidades, profissionais, serviços, programas sociais, setor privado, bem como as redes setoriais, priorizando o atendimento integral às necessidades dos segmentos vulnerabilizados socialmente. É possível observarmos nos diferentes municípios formas de organizações das redes que a existência de uma não exclui a outra, mas ainda é necessário o avanço no sentido de organizar redes intersetoriais, para que se possa otimizar as ações dos serviços públicos para o enfrentamento das expressões da pobreza e exclusão. É importante alterar os modelos vigentes, formando e reeducando os atores envolvidos para o desenvolvimento de ações que tenham objetivos comuns, superando o olhar setorial, onde cada envolvido detém uma parte do conhecimento e da informação. Para o trabalho intersetorial é necessário que as pessoas envolvidas abram mão do poder, pois neste trabalho não há chefe, todos estão no mesmo nível, a relação não é de hierarquia é de parceria. Mas antes de qualquer estabelecimento de qualquer parceria é fundamental que cada unidade de serviços cumpra o que é estabelecido como sua função e que isso esteja claro para os demais parceiros e para a população. O trabalho intersetorial por si só é uma forma de ampliação de conhecimento: A intersetorialidade desenvolve um saber resultante de integração ou das áreas de contato. O que move, sob o princípio da convergência é o pacto de uma ação coletiva, integrada para um objetivo. Ela causa mudança na cultura da gestão e na cultura dos agentes institucionais. A ideia de pacto de gestão vai além as solução de prob- lemas ou do aumento da capacidade de resolução. Produz uma nova inteligência institucional, um novo domínio da realidade e traz o debate da inovação, superando o modelo de resposta pronta e única (SPOSATI, 2008, p. 140). É importante de se ter claro que a Política de Assistência Social não é a responsável pelo trabalho de articulação intersetorial. Para que esta forma de trabalhar seja operacionalizada é necessária a participação ativa do poder executivo municipal, como o grande responsável pela articulação entre as diversas secretarias municipais, que têm unidades de serviços descentralizadas nos territórios, como por exemplo a orientação do governo municipal em articular as políticas de educação, saúde e assistência social. O diálogo entre os serviços das políticas sociais citadas é fundamental para que a intersetorialidade ocorra e tenham estabelecido o objetivo comum de: “Proporcionar a melhoria das condições de vida das famílias, possibilitando o acesso a serviços especialmente para os que se encontram em situação de maior vulnerabilidade social. Deve fortalecer a troca de experiências e a busca de apoio de soluções para problemas comuns, de maneira a constituir uma rede de proteção social” (BRASIL, 2009, p. 26). Concluindo este texto, devemos enfatizar que devemos repensar o direcionamento das ações das políticas sociais públicas destinadas às famílias em seus territórios, com especial atenção a criança e ao 12 Professora Ms. Maria Lucimar Pereira EspEcialização Em GEstão social, políticas públicas, REdEs E dEfEsa dE diREitos O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL adolescente. Para isso é necessário enfrentar o desafio da construção de redes a partir do trabalho da intersetorialidade, capaz de responder as demandas na perspectiva da garantia dos direitos fundamentais. Da população que casa vez mais empobrecida pelo processo histórico da exclusão social. 2.3 FAMÍLIA A dificuldade da capacidade da família em responsabilizar-se pela assistência de seus membros faz com que as pessoas buscam estratégias de sobrevivência, passando mais tempo fora de casa, ampliando suas relações no mundo do trabalho, propiciando também novas formas de organizações como sindicatos, movimentos, organizações, contato com pessoas com desejos e necessidades semelhantes, e consequentemente ampliando o acesso a uma politização quanto aos direitos sociais. Atualmente, as políticas descentralizadas buscam formas de programas sociais que estimulem a participação popular; exemplos mostram que as famílias incluídas nesses programas podem participar ativamente da elaboração, execução e fiscalização. Pereira - Pereira (2006) coloca ainda que no Brasil a família sempre fez parte da proteção social de seu povo, assegurado por duas vias; a primeira através da participação da figura masculina no mercado de trabalho e consequentemente no sistema previdenciário; e a segunda, pela participação da mulher nas tarefas de cuidados e apoios aos velhos, crianças e doentes, e na reprodução das atividades domésticas não remuneradas. Há no contexto atual um crescente interesse por parte das políticas sociais pelos espaços familiares, enquanto local de bem estar, proteção, cuidado, e inclusão social. A família esta sendo cada vez mais chamada a ser parceira nas ações sociais. Um dos motivos é pelo fato da constatação que as intervenções destas políticas interferem direta e indiretamente, além das famílias expressarem as mudanças que ocorrem na sociedade e bem como atuam sobre estas mudanças. Carvalho (2003) observa que a família exerce funções semelhantes a das políticas públicas, ou seja, “ambas visam dar conta da reprodução e da proteção social dos grupos que estão sob sua tutela”. Tanto o Estado como a família exercem papel fundamental para mediar as relações entre os indivíduos, estabelecem normas, impõem direitos de propriedade, direitos e deveres de proteção e assistência. Sem esse controle exercido a organização do sistema capitalista não seria instituída. São muitos os conceitos sobre família. Muitos dos quais estereótipos dos papeis familiares, reforçado por um padrão, que gera uma expectativa muito grande quanto ao papel que deve ser cumprido por um pai e por uma mãe, sem considerar fatores importantes como a adolescência, condições econômicas, sociais, culturais. Pereira - Pereira (2006, p. 38) destaca esta avaliação: [...] constatação de que há vários tipos de famílias... Isso porque a tradicional familiar nuclear – composta de um casal legalmente unido, com dois ou três filhos, na qual o homem assumia os encargos de provisão e a mulher, as tarefas do lar -, que ainda hoje serve de referência para os formuladores de política social, está em extinção. E um importante fator responsável pelo seu esgotamento foi a ampla participação da mulher no mercado de trabalho e na chefia da casa. Atualmente, muitos domicílios não contam sequer com a presença do homem como fonte de sustento ou de apoio moral. Hoje, no Brasil, segundo o Censo 2000, as mães solteiras chefiam uma de cada três casas em cidades como Brasília e Rio de Janeiro. Até recentemente eram muito comuns discursos que tratavam “como a família deve ser”, baseados em um padrão burguês de família, defendidos por instituições, como as igrejas, Estado e meios de comunicações. Há muitos discursos que expressam superar esta concepção, mas as práticas e ações demonstram ainda formas tradicionais e conservadoras, reforçando esses padrões que se tentam reverter. 13 Professora Ms. Maria Lucimar Pereira EspEcialização Em GEstão social, políticas públicas, REdEs E dEfEsa dE diREitos O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Não há conceito de família, mas sim conceitos de famílias, que se organizam de formas, organizações, feições, modelos dinâmicos, conforme as necessidades e circunstâncias. No processo de elaboração deste trabalho, constatamos alguns conceitos que valem a pena serem colocados, cabe aos executores das políticas a compreensão dessas formas de família, evitando barreiras, no plano da convivência social e ao acesso a bens e serviços públicos: • “Família é um espaço de pessoas, empenhadas umas com as outras, com relações com outras esferas, Estado, Mercado, Associações, Movimentos (FONSECA, 2002)”; • “Fonte de todo bem e todo mal” (WANDERLEY, 2004); • “Família é provedora de cuidado de seus membros e, como tal precisa também de cuidados e proteção do Estado” (BRASIL, 2005a); • “Família é espaço insubstituível de proteção e socialização primárias, independente dos formatos, modelos e feições que tem assumido com as transformações econômicas, sociais e culturais contemporâneas”. (BRASIL, 2005a). Muitos são os conceitos acerca da família, mas uma coisa é falar de famílias com condições de vida e sobrevivência garantida. O grande desafio é falar de famílias empobrecidas, em condições de vulnerabilidade, cuja questão de sobrevivência se coloca em primeiro lugar, e propor um conjunto de ações para o fortalecimento para o enfrentamento das situações. Nas últimas décadas tem aumentado gradativamente a realização de pesquisas e produção de dissertações, teses, monografias, entre outros sobre família. Observa-se, também que este tema tem ocupado espaço de prioridade nas políticas sociais, em especial a Política de Assistência Social. Com as orientações do SUAS, para que as ações sejam na direção do cumprimento do princípio da centralidade na família, tem aumentado a necessidade de se discutir família e famílias. A população brasileira, vitimizada pela pobreza e suas consequências, exige ações efetivas que lhe permita o seu empoderamento para enfrentar e superar essa situação. Faz-se necessária a construção de propostas teóricas e operacionais capazes de reduzir suas vulnerabilidades e fortalecer suas potencialidades. A reflexão e construção destas propostas constituem-se em desafios para os profissionais e gestores da área social, que possibilitem a transformação das orientações teóricas em pressupostos operacionais, ou seja, em técnicas e ações. Uma das estratégias para a eficácia deste trabalho deve ser pensada e executada na lógica da intersetorialidade: implicando um conjunto de ações das políticas públicas, de forma descentralizada e participativa, ou seja, junto à população no território de vida, ações em redes com os vários sujeitos, organizações e grupos de interesse, paralelamente com o desenvolvimento de habilidades e capacidades da população e do território, na perspectiva do desenvolvimento local. Outra estratégia, não menos importante, tem sido o trabalho de ação socioeducativo com famílias incluídas nos programas sociais, em especial de transferência de renda, considerando as demandas coletivas identificadas nos atendimentos e a necessidade do cumprimento de um dos direitos socioassitências da convivência familiar e comunitária. Baseado em Guimarães: “Nascemos, crescemos e nessa vivência somos partícipes da vida em grupo, seja em família, na escola, no trabalho, etc.” (GUIMARÃES, 2006), mas isso ainda não nos é suficiente para sabermos os métodos e instrumentos necessários para desenvolver o trabalho em grupo. É importante que se ampliem os estudos, utilizando-se de outras conhecimentos como educação, sociologia, antropologia e psicologia, para a construção de instrumentos teóricos e metodológicos, ou seja, condições para operacionalização dos princípios e diretrizes em pressupostos operacionais. 14 Professora Ms. Maria Lucimar Pereira EspEcialização Em GEstão social, políticas públicas, REdEs E dEfEsa dE diREitos O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL As experiências nesta linha têm ampliado gradativamente os resultados que já temos indicam que este processo devem ser coletivo com amplo processo de estudo, discussões e debates, com envolvimento dos profissionais, gestores e especial as famílias atendidas. As ações desenvolvidas para as famílias deve ser no sentido de garantir proteção social através das seguranças previstas pelo SUAS, como escuta e acolhimento, de renda, de autonomia e de convívio. A proteção social que o SUAS preconiza mobiliza uma série de serviços, ações e atenções, que extrapola a governabilidade da assistência social, envolvendo educação, cultura, habitação, trabalho, esporte, lazer, justiça, previdência social entre outras. Para que haja a complementariedade dessas intervenções, faz-se necessário o diálogo institucional para pactuar ações e serviços e concentrar esforços e recursos. A articulação deve também integrar a outros atores sociais como os movimentos sociais, representantes da sociedade civil e entidades prestadoras de serviços. Este é o maior ou um dos maiores desafios que se coloca para as políticas públicas e a todos os profissionais envolvidos, em especial para os gestores, na construção de mecanismos estratégicos para a gestão intersetorial, ou seja, a proposta da intersetorialidade das políticas configura como uma proposta de gestão política, estabelecidas por pactos entre as forças políticas. A intersetorialidade, enquanto um dos direitos socioassistencial, é o principal desafio para a implementação de políticas que contribuam de fato com a inclusão e proteção social das famílias, através da mudança de paradigmas do trabalho com a soma dos membros para o enfoque grupo-família. Historicamente, as políticas sociais no Brasil sempre foram executadas por órgãos de diferentes naturezas, de forma fragmentada, centralizada, descontínua e pouco avaliada, inibindo possibilidades do exercício do controle social, execução de ações efetivas às necessidades de demandas sócio-familiares, além das ações serem implementadas em função dos indivíduos e não das famílias. Por isso abordamos a exigência de formatação de novos conceitos e fluxos de trabalho, através da organização de uma rede intersetorial. Tomando a Construção do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, enquanto institucionalização dos direitos socioassitencial, processa enquanto possibilidade de resposta às demandas de proteção social. Dessa forma, o trabalho desenvolvido com famílias devem colaborar para a inclusão das famílias, criar condições para facilitar a recuperação e ou a conquista da capacidade de agir, ou seja, o processo de tomada de decisão quanto às suas vidas, em especial no âmbito das relações familiares e comunitárias. NÃO RECEIE CRESCER DEVAGAR; SÓ TENHA MEDO DE PERMANECER IMÓVEL (Ditado Chinês). 15 Professora Ms. Maria Lucimar Pereira EspEcialização Em GEstão social, políticas públicas, REdEs E dEfEsa dE diREitos O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. Política Nacional de Assistência Social – PNAS/2004 e Norma Operacional Básica – NOB/ SUAS. Brasília, DF, 2005a. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. SUAS – Sistema Único de Assistência Social: manual informativo: versão resumida da Política Nacional de Assistência Social. Brasília, DF, 2005b. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Orientação técnica para o Centro de Referência de Assistência Social. Brasília, DF, 2006. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. SUAS: Sistema Único de Assistência Social. Brasília, DF, 2007a. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Rede SUAS: gestão e sistema de informação para o Sistema Único de Assistência Social. Brasília, DF, 2007b. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Linha de base do monitoramento dos CRAS. Brasília, DF, 2008a. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Tipificação dos serviços da proteção social básica. Brasília, DF, 2008b. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Orientações técnicas centro de referência de assistência social. Brasília: Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome: 2009. Disponível em: <http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s &source=web&cd=1&cts=1331145430664&ved=0CCUQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.mds. gov.br%2Fassistenciasocial%2Fpublicacoes-para-impressao-em-grafica%2Forientacoes-tecnicas- centro-de-referencias-de-assistencia-social-cras%2Farquivos%2Fcaderno-do-cras-internet. pdf%2Fdownload&ei=LKpXT8D1B4PcggfA4Y3YDA&usg=AFQjCNE5D76VgMTuHdbZvJVGw7IsFtjquQ >. Acesso em: mar. 2012. CARVALHO, Maria do Carmo Brant de. A família contemporânea em debate. São Paulo: EDUC/Cortez, 2003. COLIN, D. R. A.; FOWELER, M. B. LOAS: Lei Orgânica da Assistência Social Anotada. São Paulo: Veras, 1999. 16 Professora Ms. Maria Lucimar Pereira EspEcialização Em GEstão social, políticas públicas, REdEs E dEfEsa dE diREitos O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL COUTO, B. R. O direito social e a assistência social na sociedade brasileira: uma equação possível?. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2008. FONSECA, M. T. N. M. Famílias e políticas sociais: subsídios teóricos e metodológicos para a formulação e gestão das políticas com e para famílias. 2002. Dissertação (Mestrado em Administração Pública) - Escola de Governo Fundação João Pinheiro, Belo Horizonte, 2002. GUARÁ, Isa M. Ferreira da Rosa et. al. Gestão Municipal dos serviços de atenção à criança e ao adolescente. São Paulo: IEE/PUC – SP; Brasília: SAS/MPAS, 1998. GUIMARÃES, Rosamélia Ferreira. Famílias: uma experiência em grupo. Serviço Social e Sociedade, nº71,Especial. São Paulo: Cortez, 2006. KOGA, D. Medidas da cidade: entre territórios de vida e territórios vividos. São Paulo: Cortez, 2003. KOGA, D. (Org.). Cidades e questões sociais. São Paulo: Terracosta, 2009. NOZABIELLI, S. R. Entre permanência e mudanças: a gestão municipal da política de Assistência Social na região de Sorocaba (SP). Tese (Doutorado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008. PEREIRA – PEREIRA, Potyara Amazoneida. Mudanças Estruturais, Política Social e Papel da Família: crítica ao pluralismo de bem-estar. In: SALES, M. A.; MATOS, M. C.; LEAL, M. C. Política social, família e juventude: uma questão de direitos. São Paulo, Cortez, 2006. SILVEIRA, Jocimeri Isolda. COLIN, Denise Arruda. Centro de Referencia Social: Gestão Local na Garantia de Direito. In: SUAS/PR - Sistema Único de Assistência Social – Caderno I. Curitiba: SETPS/PR, 2006. SPOSATI, Aldaiza. Territorialização e desafios à gestão pública inclusiva: o caso da Assistência Social no Brasil. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DEL CLAD SOBRE LA REFORMA DEL ESTADO Y DE LA ADMINISTRACION PÚBLICA, 13., 2008, Buenos Aires. Anais... . Argentina, 2008. Disponível em: <http://www.planejamento.gov.br/hotsites/seges/clad/documentos/sposati.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2009. SPOSATI, Aldaiza. Modelo brasileiro de proteção social não contributiva: concepções fundantes. In: BRASIL. Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Concepção e gestão da proteção social não contributiva no Brasil. Brasília, DF: UNESCO, 2009. WANDERLEY, Mariângela Belfiore. OLIVEIRA, Isaura I. de Melo Castanho e Oliveira. Trabalho com Família: metodologia e monitoramento. São Paulo: IEE-PUC, 2004.
Compartilhar