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* * * ORATÓRIA FORENSE * * * EDILSON MOUGENOT BONFIM, NA OBRA “JÚRI: DO INQUÉRITO AO PLENÁRIO”, EXALTA O EFEITO (IMPACTO) DA BOA ORATÓRIA: “A lume, a lembrança: dezesseis verdes anos. Engatinhante-palmilhador dos primeiros passos do curso de direito... Assistente curioso de um julgamento pelo Tribunal do Júri. O promotor, sisudo, explorava minuciosa e cansativamente todas as provas dos autos. Mas fazia-o como recitar as “Catilinárias” de Cícero, demorada e fastidiosamente, entremeada por densas lições doutrinárias para o leigo órgão colegiado.... Os jurados já não viam mais a mosca azul de Machado de Assis, mas sucumbiam bocejantes às ferretoadas da tsé-tsé africana. * * * De outra parte, o advogado embasava sua pretensão não somente no direito, mas na psicologia, na literatura, na poesia e na “vida”, e vez que outra transpassava sua oratória com fios de fino humor, embalados por reptos lancinantes ao “ex adversu”. Angariava a simpatia dos jurados, da assistência e, perdoem-me – “mea maxima culpa” – a minha também! O primeiro, o promotor, falava como autômato. O segundo, o advogado, lidava com a alma. O primeiro, cumpria uma função; o segundo, exercia uma vocação. O primeiro sim, pedia justiça, mas faltava-lhe o fervor da fé; o segundo, desenhava-a, ao acalanto de uma prece. Tinha, ao menos, aparentemente, credo. * * * Absurda, incrível e escandalosa absolvição ao final. Lá fora, os que conheciam o caso – mas não haviam presenciado o papel e o enfadonho papelão – blasfemavam contra a instituição. Murmurei a respeito do que antes ouvira: o Júri será mesmo um teatro? * * * Passa-se o tempo. Muitos plenários e anos depois, somente aceito o Júri como “teatro”, em figura de linguagem tartufa, metáfora imerecida usada pelos que não compreendem a essência da instituição. O Júri inteligente, das decisões verticais, construtor de exemplos, argamassado na fé dos que comungam a óstia da verdade sob os cânticos de versículos da lei, é um sacrário. Não um teatro. Seus defensores são templários, peregrinos devotos de uma causa santa. Se é “teatro”, não o é de falsa ensenação; jamais de hipocrisia, nunca de mercancia. Themis da justiça, não Hermes do comércio. Teatro? Somente na saudável acepção da palavra, quando competentes humanos vivem necessários papéis porque neles legalmente investidos”. * * * O discurso forense, especificamente a oratória desenvolvida no Tribunal do Júri, não é ato de mero improviso, como pode parecer aqueles que assistem um julgamento. Existe uma técnica própria, chamada “oratória forense”, a qual estabelece a ESTRUTURAÇÃO do discurso do “Tribunal do Júri”. O emprego desta técnica auxilia o operador do direito e determina a qualidade do seu discurso. Diferencia o VERDADEIRO ORADOR do SIMPLES FALADOR. * * * A estrutura normal da fala tecnicamente bem-feita, é a seguinte: 1.) exórdio; 2.) afirmação; 3.) prova; e 4.) peroração. * * * EXÓRDIO Nesta fase o orador inicia suas palavras conquistando a atenção, a simpatia e a benevolência dos ouvintes. Normalmente os operadores do direito demoram um pouco nos cumprimentos e menções gerais, não adentrando diretamente na análise do caso “sub judice”. Se o exórdio não for perfeitamente realizado, provavelmente o orador encontrará resistência dos jurados quanto a tese sustentada. * * * Uma boa maneira de conseguir êxito no exórdio, é: · mostrar-se preocupado com os problemas do ouvinte. Para isto devemos conhecer detalhes sobre o Universo do nosso ouvinte (uma pesquisa prévia para conhecimento da realidade). · demonstrar conhecimentos estatísticos sobre o problema que vivencia o ouvinte. * * * · demonstrar sensibilidade para as questões que o afetam preocupam ou são objetivos para o ouvinte. · acima de tudo: demonstrando humildade, e envolvendo os ouvintes com o pronome mágico: "nós"; jamais conte vantagens e utilize "eu" - você pode tornar-se pedante. * * * AFIRMAÇÃO É o momento em que o orador com poucas palavras expões "seu pensamento completo" a respeito do assunto que vai falar. É a idéia central que norteará toda a sua fala. * * * Recomendações: · continue utilizando o pronome nós; · deixe claro que a afirmação não é puro achismo e sim acompanhamento e Estudos do Problema e das provas dos autos por métodos científicos de Pesquisa (é o gancho que entra na próxima fase) * * * PROVA É dividida em 2 partes: a.) A primeira é a confirmação, onde é a hora de provar que a nossa afirmação é verídica, motivo de concordância e desejável pela assistência; b.) A segunda parte é a refutação: onde, mostramos que o ponto de vista contrário ao seu, não é bom, não é certo, não tem lógica, está fora da realidade, está sendo imposto e não é desejável ou aconselhável. Passaremos a analisar cada uma das duas fases... * * * 1ª. FASE – CONFIRMAÇÃO (como dito, tem por finalidade provar a afirmação): Para isso podemos nos valer do seguinte: · demonstre conhecimento das provas dos autos, atrelando-as a idéia central (tese sustentada no julgamento); · questione: se a sua idéia central, já estivesse colocada em prática, será que a situação atual seria a mesma? · exemplifique através de situações detectadas que a sua afirmação não vem sendo adotada, e que ela é desejável e necessária ao problema da audiência. * * * 2ª. FASE – REFUTAÇÃO (demonstrar que a tese da parte contrária não é boa, ou seja, não pode prevalecer sobre a sua afirmação) Formas para conseguir isto: · demonstre conhecimento do ponto de vista contrário ao seu, citando dados estatísticos; · critique o ponto de vista contrário ao seu através de conseqüências detectadas pela ação dele; · responda às dúvidas e às objeções da audiência de forma diplomática - confirmando seu pensamento. * * * PERORAÇÃO É a última fase. É a hora de realmente ganhar a audiência. Divide-se em 3 partes: * * * 1°.) Resumo da Prova (confirmação x refutação) · a nossa idéia é necessária para resolver o problema da audiência, ao passo que a outra idéia está fora da realidade da audiência. * * * 2°.) Reafirmação (repetição da nossa idéia central) devemos enfatizar a necessidade da adoção de nossa idéia * * * 3°.) Reforço (apelo às emoções) · fechando nossa fala, devemos resgatar os valores despertados no exórdio: simpatia e benevolência dos ouvintes; · deixar claro que nosso trabalho / nossa fala foi no sentido de contribuir para a resolução do problema identificado (vivido pela audiência), e que esperamos ter conseguido passar esta nossa.
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