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Oratória Forense

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ORATÓRIA FORENSE
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EDILSON MOUGENOT BONFIM, NA OBRA “JÚRI: DO INQUÉRITO AO PLENÁRIO”, EXALTA O EFEITO (IMPACTO) DA BOA ORATÓRIA: 
 
“A lume, a lembrança: dezesseis verdes anos. Engatinhante-palmilhador dos primeiros passos do curso de direito... Assistente curioso de um julgamento pelo Tribunal do Júri.
O promotor, sisudo, explorava minuciosa e cansativamente todas as provas dos autos. Mas fazia-o como recitar as “Catilinárias” de Cícero, demorada e fastidiosamente, entremeada por densas lições doutrinárias para o leigo órgão colegiado....
Os jurados já não viam mais a mosca azul de Machado de Assis, mas sucumbiam bocejantes às ferretoadas da tsé-tsé africana.
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De outra parte, o advogado embasava sua pretensão não somente no direito, mas na psicologia, na literatura, na poesia e na “vida”, e vez que outra transpassava sua oratória com fios de fino humor, embalados por reptos lancinantes ao “ex adversu”.
Angariava a simpatia dos jurados, da assistência e, perdoem-me – “mea maxima culpa” – a minha também!
O primeiro, o promotor, falava como autômato. O segundo, o advogado, lidava com a alma. O primeiro, cumpria uma função; o segundo, exercia uma vocação. O primeiro sim, pedia justiça, mas faltava-lhe o fervor da fé; o segundo, desenhava-a, ao acalanto de uma prece. Tinha, ao menos, aparentemente, credo.
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Absurda, incrível e escandalosa absolvição ao final. 
Lá fora, os que conheciam o caso – mas não haviam presenciado o papel e o enfadonho papelão – blasfemavam contra a instituição. Murmurei a respeito do que antes ouvira: o Júri será mesmo um teatro?
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Passa-se o tempo. Muitos plenários e anos depois, somente aceito o Júri como “teatro”, em figura de linguagem tartufa, metáfora imerecida usada pelos que não compreendem a essência da instituição.
O Júri inteligente, das decisões verticais, construtor de exemplos, argamassado na fé dos que comungam a óstia da verdade sob os cânticos de versículos da lei, é um sacrário.
Não um teatro. Seus defensores são templários, peregrinos devotos de uma causa santa. Se é “teatro”, não o é de falsa ensenação; jamais de hipocrisia, nunca de mercancia. Themis da justiça, não Hermes do comércio. Teatro? Somente na saudável acepção da palavra, quando competentes humanos vivem necessários papéis porque neles legalmente investidos”.
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O discurso forense, especificamente a oratória desenvolvida no Tribunal do Júri, não é ato de mero improviso, como pode parecer aqueles que assistem um julgamento.
Existe uma técnica própria, chamada “oratória forense”, a qual estabelece a ESTRUTURAÇÃO do discurso do “Tribunal do Júri”.
O emprego desta técnica auxilia o operador do direito e determina a qualidade do seu discurso. 
Diferencia o VERDADEIRO ORADOR do SIMPLES FALADOR.
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A estrutura normal da fala tecnicamente bem-feita, é a seguinte: 
1.) exórdio;
2.) afirmação;
3.) prova; e 
4.) peroração. 
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EXÓRDIO 
Nesta fase o orador inicia suas palavras conquistando a atenção, a simpatia e a benevolência dos ouvintes.
Normalmente os operadores do direito demoram um pouco nos cumprimentos e menções gerais, não adentrando diretamente na análise do caso “sub judice”.
Se o exórdio não for perfeitamente realizado, provavelmente o orador encontrará resistência dos jurados quanto a tese sustentada.
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Uma boa maneira de conseguir êxito no exórdio, é:
· mostrar-se preocupado com os problemas do ouvinte. Para isto devemos conhecer detalhes sobre o Universo do nosso ouvinte (uma pesquisa prévia para conhecimento da realidade).
· demonstrar conhecimentos estatísticos sobre o problema que vivencia o ouvinte.
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· demonstrar sensibilidade para as questões que o afetam preocupam ou são objetivos para o ouvinte.
· acima de tudo: demonstrando humildade, e envolvendo os ouvintes com o pronome mágico: "nós"; jamais conte vantagens e utilize "eu" - você pode tornar-se pedante. 
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AFIRMAÇÃO
 
É o momento em que o orador com poucas palavras expões "seu pensamento completo" a respeito do assunto que vai falar. É a idéia central que norteará toda a sua fala. 
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Recomendações:
· continue utilizando o pronome nós;
· deixe claro que a afirmação não é puro achismo e sim acompanhamento e Estudos do Problema e das provas dos autos por métodos científicos de Pesquisa (é o gancho que entra na próxima fase) 
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PROVA
É dividida em 2 partes:
a.) A primeira é a confirmação, onde é a hora de provar que a nossa afirmação é verídica, motivo de concordância e desejável pela assistência;
b.) A segunda parte é a refutação: onde, mostramos que o ponto de vista contrário ao seu, não é bom, não é certo, não tem lógica, está fora da realidade, está sendo imposto e não é desejável ou aconselhável.
Passaremos a analisar cada uma das duas fases...
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1ª. FASE – CONFIRMAÇÃO (como dito, tem por finalidade provar a afirmação):
Para isso podemos nos valer do seguinte:
· demonstre conhecimento das provas dos autos, atrelando-as a idéia central (tese sustentada no julgamento);
· questione: se a sua idéia central, já estivesse colocada em prática, será que a situação atual seria a mesma?
· exemplifique através de situações detectadas que a sua afirmação não vem sendo adotada, e que ela é desejável e necessária ao problema da audiência. 
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2ª. FASE – REFUTAÇÃO (demonstrar que a tese da parte contrária não é boa, ou seja, não pode prevalecer sobre a sua afirmação)
Formas para conseguir isto:
· demonstre conhecimento do ponto de vista contrário ao seu, citando dados estatísticos;
· critique o ponto de vista contrário ao seu através de conseqüências detectadas pela ação dele;
· responda às dúvidas e às objeções da audiência de forma diplomática - confirmando seu pensamento. 
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PERORAÇÃO 
É a última fase. É a hora de realmente ganhar a audiência.
Divide-se em 3 partes: 
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1°.) Resumo da Prova (confirmação x refutação)
· a nossa idéia é necessária para resolver o problema da audiência, ao passo que a outra idéia está fora da realidade da audiência. 
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2°.) Reafirmação (repetição da nossa idéia central)
 devemos enfatizar a necessidade da adoção de nossa idéia 
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3°.) Reforço (apelo às emoções)
· fechando nossa fala, devemos resgatar os valores despertados no exórdio: simpatia e benevolência dos ouvintes;
· deixar claro que nosso trabalho / nossa fala foi no sentido de contribuir para a resolução do problema identificado (vivido pela audiência), e que esperamos ter conseguido passar esta nossa.

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