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Fundamentos_Teóricos_e_Metodológicos_para_o_Ensino_História_I

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Fundamentos 
Teóricos e 
Metodológicos 
para o Ensino 
da História 
 
Circulação Interna 
0
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A história é uma 
apelação dos erros 
contemporâneos 
aos juízos da 
posteridade. 
(Louis Philippe de 
Ségur) 
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Unidade I: Breve Histórico do Ensino de História ................................... 3 
l. 1 - O ensino da História: do Império a República ........................ ..........3 
1.2- O ensino de História: da década de 50 aos nossos dias.............. 4 
ATIVIDADE COMPLEMENTAR.................................................................6 
 
Unidade II: Conceitos Históricos Fundamentais ...................................... 7 
2.1- Sobre história ........................................................................ .... ....7 
2.3- - A palavra história ........................................................................ ....7 
2.4- O que é História? Para que serve e para quem é a História............ .....8 
2.4. A História da História ........................................................................ 9 
ATIVIDADES DE APROFUNDAMENTO.................................................12 
 
Unidade III: Fundamentos Teóricos e Metodológicos 
para a Produção do Conhecimento Histórico ......................................... 15 
3.1- Uma questão de método .............................................................. 15 
3.2 - As fontes históricas ........................................................................ 16 
3.3 - O tempo e a história ............................................ ......................... 17 
ATIVIDADES DE APROFUNDAMENTO..................................................18 
 
Unidade IV: Os Campos de Abordagens Históricas ............................... 19 
4.1- Os múltiplos campos do saber histórico .............. .......................... 19 
4.2- História da cultura e história das mentalidades ................................ 20 
ATIVIDADE COMPLEMENTAR...............................................................22 
Unidade V: Proposta do PCN para o Ensino de 
História na Educação Fundamental ........................................................ 23 
5.1 — Quando surgiram os PCNs? ........................................................ 23 
5.2 — O conceito de história trabalhado pelo PCN ............................... 25 
5.3 - Orientações didáticas gerais para o primeiro e segundo ciclos..26 
ATIVIDDAES DE APROFUNDAMENTO.................................................27 
 
Unidade VI: Relatos de Experiências........................................................28 
6.1- Educação Histórica: Perspectivas de 
Aprendizagem da História no Ensino Fundamental .......... ............... ......28 
6.2 - Trabalhando História do Brasil no Ciclo I do 
Ensino Fundamental...................................................................................35 
Referências..................................................................................................43 
ATIVIDADES AVALIATIVAS......................................................................45 
Sumário 
 
 
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1.1. O ENSINO DA HISTÓRIA: DO IMFÉRIO A REPÚBLICA 
Resgatar a história do ensino da História no Brasil não é tarefa simples, pois os registros 
existentes, para os períodos históricos recuados, muitas vezes, silenciam o percurso dessa disciplina, ou a 
mostra do ponto de vista oficial, ou seja, através de leis e decretos. Apesar dessa dificuldade, podemos, 
no entanto, inferir e deduzir as práticas pedagógicas comuns ao ensino da história em diferentes períodos 
de nossa formação histórica. Começaremos então pelo Império. Lembrando, apenas, que o ensino da 
disciplina Histórica está fortemente relacionado a cultura de cada época. 
Dessa maneira, no período do Império prevaleceu a presença do ensino da História articulada à 
História sagrada, religiosa. O ensino da História não era autônomo. Obviamente, que essa articulação 
respondia ao desejo do estado vigente, pois utilizava-se do conhecimento histórico para catequizar e 
homogeneizar a moral cristã. O objetivo era legitimar à aliança entre o Estado e a Igreja. Sabemos que a 
Igreja Católica foi um dos pilares do Império Português no Brasil, desde o descobrimento. 
A História nesse tempo aparecia como disciplina optativa do currículo das escolas elementares. 
Os planos de estudos das escolas elementares das províncias, na maioria das vezes, instituíam “noções de 
geografia e de história, principalmente, a nacional, como disciplinas permitidas pelas autoridades e 
consideradas facultativas ao ensino elementar. 
A constituição da História como disciplina autônoma, só ocorreu em 1837, com a criação do 
Colégio Pedro II, o primeiro colégio secundário do país, que apesar de público era pago e destinado às 
elites. A História Universal, acabou predominando no currículo, mas se manteve, ainda, a História 
Sagrada. A ênfase na História Universal, obedecia uma certa influência francesa, no currículo brasileiro, 
pois se estudava as grandes guerras, revoluções e os grandes heróis universais. O conceito de Brasil e 
nação ainda estavam em gestação, de forma que nesse período se importava os modelos internacionais. E 
o da França era o mais pungente. 
Por volta, de 1870, sob a influência das concepções cientificistas que travaram um embate com 
os setores conservadores ligados a um ensino moralizante dominado pela Igreja Católica, os programas 
curriculares das escolas elementares foram sendo ampliados com a incorporação das disciplinas de 
Ciências Físicas, de História Natural, e a inclusão de tópicos sobre História do Brasil e História Regional. 
A atmosfera abolicionista que ganhava o Brasil, no final da década de 1870, também se fez sentir 
no ensino da História, pois foram feitas novas reformulações dos currículos das escolas primárias visando 
criar um programa de História Profana e eliminar a influência da História Sagrada. Esse desejo reflete as 
transformações da época, que além de trazerem à tona as idéias abolicionistas, evidenciavam também, a 
transformação do regime político do Império para a República e a retomada dos debates sobre ensino 
laico, visando a separação entre o Estado e a Igreja Católica. 
Com a fim da escravidão e a implementação da República, no final do século XIX, novo cenário 
se anuncia para o ensino da História no país. A crescente busca pela racionalização das relações de 
trabalho, fez com que ganhassem força as propostas que apontavam a educação, em especial a elementar, 
como forma de realizar transformações no país. As disciplinas escolares forma obtendo maior autonomia 
e formando um corpo próprio de conhecimentos. A História passou a ocupar no currículo duplo papel: o 
civilizatório e o patriótico, formando, ao lado da Geografia e da Língua portuguesa, o tripé da 
nacionalidade, cuja missão na escola elementar seria o de modelar um novo tipo de trabalhador: o cidadão 
patriótico. 
A História da Civilização substitui a História Universal. Com isso completava-se o afastamento 
entre o laico e o sagrado na História, deslocando-se o motor dos acontecimentos da religião para o 
processo civilizatório, identificado com os próprios desígnios divinos. O estado passou a ser visto como o 
UNIDADE I 
Breve Histórico do Ensino da História 
 
 
 
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principal agente histórico condutor das sociedades ao estágio civilizatório. Para isso abandonou-se a 
periodização da História Universal, que identificava os Tempos Antigos
com o tempo bíblico da criação, 
com o predomínio do sagrado sobre o tempo histórico, e passou-se ao estudo da Antiguidade do Egito e 
da Mesopotâmia, momento da gênese da Civilização com o aparecimento de um Estado forte, 
centralizado e uma cultura escrita 
A moral religiosa nesse período foi substituída pelo civismo. Desenvolveram-se nas escolas, 
práticas e rituais como festas e desfiles cívicos, eventos comemorativos, celebrações de culto aos 
símbolos da 
Pátria. 
Não poderíamos deixar de mencionar, que as primeiras décadas da República, constituiu-se num 
momento de fortalecimento do debate em tomo dos problemas educacionais. Nesse cenário surgiram 
propostas alternativas ao modelo oficial de ensino, logo reprimidas pelo governo republicano, como as 
escolas anarquistas. Essas escolas criaram um currículo e métodos próprios de ensino, no qual a História 
identificava-se com os principais momentos das lutas sociais, como a revolução francesa, a comuna de 
paris e a abolição. 
Com a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública, em 1930, acentuo-se o fortalecimento 
do poder central do Estado e do controle sobre o ensino. O ensino de História era idêntico em todo o país, 
dando ênfase ao estudo da História Geral, sendo o Brasil e a América apêndices da civilização ocidental. 
Ao mesmo tempo refletia- se na educação a influência do movimento americano escolanovista, que 
propunha a introdução dos chamados Estudos Sociais, no currículo escolar, em substituição a História e 
Geografia, especialmente para o ensino elementar. 
Ao longo desse período, poucas mudanças aconteceram em nível metodológico. Apesar das 
propostas dos escolanovistas, de priorizar as aulas mais dinâmicas, centrada nas atividades do aluno, o 
que predominava era a memorização e as festividades cívicas. A prática da sala de aula continuou sendo 
a de recitar as lições de cor, com datas e nomes dos personagens considerados mais significativos da 
História. Soma-se a isso, o aumento constante dos exames finais de admissão ao ginásio ou ao ensino 
superior, o que acabavam por priorizar uma seleção tradicional dos conteúdos que eram vistos como a 
garantia de um bom desempenho dos alunos nesses exames. 
1.2 . O ENSINO DE HISTÓRIA: DA DÉCADA DE 50 AOS NOSSOS DIAS 
Ao longo das décadas de 50 e 60, sob inspiração do nacional desenvolvimentismo e da presença 
americana na vida econômica brasileira, o ensino de História, no nível secundário, voltou-se 
especialmente para os espaços americanos, fortalecendo o lugar da História da América no currículo, 
com a predominância da História dos Estados Unidos. A temática econômica ganhou espaço na 
disciplina como o estudo dos ciclos econômicos. A História era entendida a partir da sucessão linear dos 
centros econômicos hegemônicos da cana-de-açúcar, mineração, café e industrialização. Os estudos, em 
última instância foram baseados nos modos de produção, sob a influência da historiografia marxista. 
Durante o governo militar, ocorreu a consolidação dos Estudos Sociais em substituição a História 
e a Geografia, com isso os conteúdos de História e Geografia foram esvaziados ou diluídos, ganhando 
contornos ideológicos de um ufanismo nacionalista destinado a justificar o projeto nacional organizado 
pelo governo militar implantado no país, a partir de 1964. 
As transformações ocorridas durante o governo militar não se limitaram às mudanças no 
currículo e nos métodos de ensino. O fim do exame de admissão e o ensino obrigatório de oito anos da 
escola de primeiro grau trouxeram mudanças significativas no público escolar. Todavia, à medida que 
eram ampliadas as oportunidades de acesso à escola para a maioria da população, ocorria uma paradoxal 
deteriorização da qualidade do ensino público. E para atender a demanda de profissionais na área de 
Estudos Sociais, os governos militares autorizaram a criação de cursos de Licenciatura Curta, o que de 
certa forma, contribuiu para o avanço das entidades privadas no ensino. Além disso, os Estudos Sociais 
priorizam os saberes puramente escolares, o que favoreceu o afastamento entre as universidades e as 
escolas de primeiro e segundo graus. 
E os professores de História se calaram nesse período? Sabemos que muitos tiveram sua fala 
 
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amordaçada. E aqueles que tentarem manifestar qualquer opinião contrária as determinações dos 
militares perderam seus registros, no entanto, a repressão não foi suficiente para impedir a luta dos 
professores pela autonomia da disciplina histórica. No decorrer dos anos 70 as lutas de profissionais, 
desde a sala de aula até as universidades, ganharam maior expressão com o crescimento das associações 
de historiadores e geógrafos (ANPUH e AGB) que se abriram aos docentes, e seu engajamento pela volta 
da História e Geografia aos currículos escolares. 
No processo de redemocratização, dos anos 80, os conhecimentos escolares passaram a se 
questionados e redefinidos. Essas mudanças passaram a ser discutidas pelos diversos agentes 
educacionais. Os professores tornaram-se uma importante voz na configuração do saber escolar. A 
História e a Geografia voltam a fazer parte do currículo escolar, a partir das séries iniciais. Os diálogos 
entre pesquisadores e docentes foram reforçados, ao mesmo tempo em que assistia-se a uma expansão 
dos cursos de pós-graduação em História, com presença significativa de professores do primeiro e 
segundo graus. 
O centro das análises históricas também se modificaram. Os historiadores voltaram-se para a 
abordagem de temas ligados a História Cultural, Social e do Cotidiano. A história chamada 
“tradicional”sofreu diferentes contestações. Suas vertentes historiográficas de apoio quer sejam o 
positivismo, o estruturalismo e o marxismo ortodoxo, produtoras de grandes sínteses, constituidores de 
macrobjetos, estruturas ou modo de produção foram colocadas sob suspeição. 
Como isso se explica? Por que na década de 50 e 60, os historiadores marxistas dominavam a 
produção historiográfica e a partir da década de 80, passaram a receber críticas? Primeiramente devemos 
buscar as respostas no próprio tempo histórico e nas modificações temporais da época. Lembramos que 
em plena década de 80, a URSS já estava caminhando para a abertura econômica, e em 1989 o muro de 
Berlim ruiu, e junto com ele a experiência comunista. O capitalismo, a economia de mercado passou a ser 
um discurso e uma prática hegemônica. Se a URSS era o ícone de sistema que se contrapunha ao 
capitalismo, a partir da década de 80, deixou de existir. A bandeira que muitos intelectuais de esquerda 
levantaram ficou sem haste, sem sustentação. Observamos então, que as pesquisas na área das Ciências 
Humanas, tomou novos rumos. Os historiadores, pedagogos, psicólogos voltaram suas análises para os 
aspectos culturais, até então relegados pelos marxistas, que acreditavam que os elementos da cultura 
pairavam sobre uma superestrutura, cuja base material era as relações econômicas, em outras palavras, o 
modo de produção da sociedade. Para Marx, a economia determinava em última instância as relações 
sociais. Mas, caros alunos, vamos refletir, será que isso deixou de ser verdade? A situação econômica do 
indivíduo não importa em nossa sociedade? Vou emitir aqui, minha opinião, pode não ser determinante, 
mas que é fundamental, ah! Isso continua sendo. E nesse particular, acho que Marx ainda está com a 
razão. Claro, que há exeções. Quantas pessoas conhecemos que mudou sua trajetória de vida através da 
luta e do esforço, no entanto, sabemos também, que quem está à margem da economia; pode até vencer, 
mas o caminho é bem mais árduo. Quem consegue cursar medicina, por exemplo? Qual é a classe social 
que abocanha as vagas dos cursos mais concorridos das Universidades Federais? São questionamentos, 
apenas, caros alunos. Mas, vamos voltar
ao ensino de História. 
Os currículos foram ampliados com conteúdos de História a partir das escolas de educação 
infantil e nos primeiros anos do ensino fundamental. Os conteúdos passaram a ser avaliados quanto às 
necessidades de atender um público cada vez mais diversificado. 
Paralelamente às análises historiográficas, ocorreram novos estudos no âmbito das ciências 
pedagógicas, especialmente no campo da psicologia cognitiva e social. Nesse campo, os alunos são 
considerados como participantes ativos do processo de construção do conhecimento. Abre-se uma nova 
perspectiva para o ensino da História, pois o aluno é visto como construtor de sua história. Valoriza-se a 
história local e do indivíduo, em consonância com a visão de alguns educadores sobre as propostas 
construtivistas. 
Os professores passaram a perceber a impossibilidade de se transmitir nas aulas o conhecimento 
de toda a História da humanidade, e passaram a buscar alternativas nas suas práticas em sala de aula. 
Alguns optaram por trabalhar com temas geradores e, nessa perspectiva desenvolveram-se as primeiras 
propostas de ensino por eixo temático. Na atualidade os métodos tradicionais têm sido questionados com 
maior ênfase e os livros didáticos também passaram a ser questionados; tanto na sua organização, quanto 
na sua utilidade. O que percebemos é que o ensino da História atualmente está em processo de constantes 
 
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mudanças em seu conteúdo e em seu método. Vejamos o que diz os parâmetros, em relação ao ensino 
fundamental: 
 
ATIVIDADE COMPLEMENTAR 
1) Faça um breve resumo, com suas palavras, da história do ensino de história 
no Brasil, levando em conta os itens 1.1 e 1.2. da Unidade I. 
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2) Você acha que o aspecto econômico ainda tem importância para o entendimento da sociedade? 
Justifique sua resposta e dê sua opinião a respeito do tema discutido no item 1.2 da presente Unidade. 
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3) Leia, novamente, a última citação dos PCNs (p. 13) e de acordo com sua experiência, responda a 
provocação do último parágrafo. 
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Muitas vezes no ensino fundamental, em particular nas escolas primárias, a História tem 
permanecido distante dos interesses do aluno, presa às formulas prontas do discurso dos livros 
didáticos ou relegada a práticas esporádicas determinadas pelo calendário cívico. Reafirmar sua 
importância no currículo não se prende somente a uma preocupação com a identidade nacional, 
mas sobretudo no que a disciplina pode dar como contribuição específica ao desenvolvimento 
dos alunos como sujeitos conscientes, capazes de entender a História como conhecimento, como 
experiência e prática de cidadania. 
 
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2.1. SOBRE A HISTÓRIA 
O estudo da História enfatiza, principalmente, duas características fundamentais: 
A. O desenvolvimento da noção de história como processo, como movimento que se 
apreende a partir de sua própria dinâmica; 
B. Afirmação da história como campo de atuação dos homens. 
Essas características estão de tal forma inter-relacionadas que se pode afirmar que estudar 
História é, para cada pessoa, uma forma de se descobrir e de se situar no mundo. 
A elaboração dessas noções exige a correção de algumas distorções difundidas acerca da 
História. 
Ela não é a ciência que estuda o passado, nem os heróis, nem mesmo os países ou as nações. Para 
Elza Nadai, “história estuda os homens e se identifica com o processo de construção humana, através 
do qual os homens organizam a sua vida em comum formam as sociedades e constituem a si 
próprios, tais como se apresentam em diferentes épocas”. 
Ao longo desse processo de construção os homens geraram todos os recursos e meios para a sua 
sobrevivência e reprodução. Ao mesmo tempo em que constroem material e concretamente a sua vida, os 
homens formulam idéias (teorias) sobre ela, forjando assim concepções, explicações, interpretações sobre 
o mundo, sobre a sociedade e sobre o próprio homem. 
Esse processo é global e integrado, ou seja, desenvolve-se em todos os sentidos, abrangendo 
todas as atividades. Porém não é uniforme nem linear; à medida que se desenvolve ele se diversifica, 
torna-se cada vez mais complexo, promove avanços, sofre recuos. 
O processo de construção humana é global também na medida em que envolve todos os 
homens. Porém, em um período considerado, os homens não atuam nem participam igualmente da 
construção da história. Os homens se dividem e se agrupam nas mais diversas formas: famílias, clãs, 
tribos, povos, constituindo, ao longo dos tempos, as diversas sociedades. No interior de cada sociedade 
os grupos humanos se diversificam, dando lugar ao surgimento de classes sociais, que correspondem às 
diferentes posições que os grupos ocupam na organização social da riqueza coletiva. 
Desse modo é possível distinguir-se, no processo histórico, os diferentes povos e as suas 
variadas formas de organização, e identificar os diferentes campos de atividade humana: a economia, a 
arte, a religião, a política, a ciência, a técnica, o esporte. 
E essa diversidade, em toda a sua complexidade e especificidade que constitui o objeto dos 
estudos da História. 
2,2, A PALAVRA HISTÓRIA 
O estudo da História se ocupa de toda a complexidade
da existência humana, inclusive com as 
reflexões e as concepções acerca dessa mesma existência. Por isso é muito problemático defini-la, pois 
qualquer que seja a definição dada, ainda que correta, corre-se o risco de restringir-se a aspectos limitados 
da realidade. 
Uma das definições mais comuns apresenta a História como sendo o estudo do passado. Porém, 
a história se ocupa do tempo, em todos os desenvolvimentos (passado, presente, futuro) e com todos os 
entrelaçamentos que ele comporta. Se é correto que os estudos históricos buscam no passado, remoto ou 
próximo, fatos, ações, dados, informações que constituem matérias para suas elaborações, é o presente 
que fornece os conceitos, categorias, critérios e sobretudo problemas, a partir dos quais e por causa 
dos quais os elementos do passado são buscados e analisados. O futuro, para a história como qualquer 
UNIDADE II 
Conceitos Históricos Fundamentais 
 
 
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outro estudo, fornece indagações, preocupações, expectativas... esperanças. Portanto, passado, presente 
e futuro são três categorias temporais necessárias ao estudo da história. 
As dificuldades para se definir a História aparece também quando se consideram os diversos 
sentidos que a palavra História tem na nossa linguagem.ela é de origem grega e foi empregado, 
inicialmente, com o sentido de busca, investigação, pesquisa; depois passou a designar também o relato 
resultante da pesquisa. Mais tarde os romanos passaram a utilizar a palavra História para designar as 
narrativas que se ocupavam dos acontecimentos reais, distinguindo-as das lendas. Ainda hoje, em 
português, permanecem os três sentidos possíveis: a realidade histórica em si, o conhecimento 
histórico acerca da realidade e o relato escrito, isto é, uma obra da história. 
 
2.4 O QUE É HISTÓRIA? PARA QUE SERVE A HISTÓRIA? PARA QUEM É A HISTÓRIA? 
Diferentemente das ciências da natureza, como a Física ou a Química, a História ocupa-se da 
existência humana. O objeto de investigação, de análise, do historiador é o homem, (todos os homens e 
mulheres), na sua relação com a natureza, com a sociedade e com os outros homens. Conduzido por um 
estudo metódico, orientado por objetivos claros e conforme normas técnicas o pesquisador contribui para 
o avanço cientifico, ao produzir o conhecimento histórico. A complexidade do real abre um campo muito 
vasto de investigação. Mas e fundamental que o pesquisador tenha afinidade com seu objeto de pesquisa. 
A posição do historiador tradicional frente ao documento é a do leitor que busca revelar, pôr às 
claras, trazer à superfície o seu conteúdo. Os historiadores positivistas do século XIX cunharam a 
expressão consagrada de “deixar o documento falar por si mesmo”. É uma postura de humildade do 
historiador frente ao que ele toma como o fundamento científico de seu trabalho. O sujeito (historiador) 
se anula enquanto tal para fazer aparecer o objeto (documentos, fontes, eventos). Essa idéia de 
objetividade (negação do sujeito) foi sendo superada, considerada como algo impossível de ser atingido. 
Assim, a pretensão de “resgatar” o passado ou de “narrar o que realmente aconteceu” se mostrou 
inviável, porque nem as fontes são neutras nem o sujeito (historiador) é um elemento passivo. 
O historiador Keith Jenlcis, no seu livro A História Repensada, ao refletir sobre o que é história, 
afirma que ela é um dentre os vários discursos a respeito do mundo e o pedacinho de mundo que é o 
objeto de investigação do historiador é o passado. Mas a história enquanto discurso se situa numa 
categoria diferente do passado, ou seja, existe uma distinção entre passado e história É, portanto, 
fundamental que esta diferença fique clara porque a palavra “história” cobre ambas as coisas, o vivido e o 
elaborado. 
O passado já passou, já aconteceu e a história é o que os historiadores produzem sobre ele 
mediado pelas fontes. História conhecimento é, portanto, o ofício do historiador, este, por sua vez, elabora 
as ferramentas analíticas e metodológicas para extrair dos vestígios, dos fragmentos, as suas maneiras 
próprias de lê-las e falar a seu respeito. Assim, a história escrita, documentada, distingue-se do vivido, 
passado, ela é uma leitura, uma representação, enfim um discurso. Paul Veyne, no seu livro Como se 
escreve a história, reflete sobre os limites e possibilidades do historiador: 
(...) em nenhum caso, o que os historiadores chamam um evento é apreendido de uma maneira 
direta e completa, mas, sempre, incompleta e lateralmente, por documentos e testemunhos, ou 
seja, por indícios.(...) Por essência, a história é conhecimento mediante documentos. Desse modo, 
a narração histórica situa-se para além de todos os documentos, já que nenhum deles pode ser o 
próprio evento; ela não é um documentário em fotomontagem e não mostra o passado vivo “como 
se você estivesse lá”. (VAYNE, 1995, p. 12) 
 
Do passado não se deduz uma única interpretação: mude o historiador e/ou os pressupostos e 
surgirão novas interpretações. Todos os relatos históricos são elaborados a partir de fontes, de indícios, 
enfim de fragmentos do passado. Um grande historiador Francês, Georges Duby afirma que “cada 
geração de historiadores efetua uma escolha, descura certos vestígios exuma outros. Além de fazer a 
escolha da documentação o historiador lança um olhar, interroga as fontes escolhidas. Nesse sentido, 
continua o autor, “o olhar que lançamos sobre esses detritos é já subjetivo(DUBY, 1989, p.37) 
Muito se tem discutido sobre a necessidade de se re-escrever a história, conforme reflete Jenkis: 
O fato de a história propriamente dita seja um constructo ideológico significa que ela está sendo 
 
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constantemente retrabalhada e reordenada por todos aqueles que, em diferentes graus, são 
afetados pelas relações de poder pois os dominados, tanto quanto os dominantes, têm suas 
próprias versões do passado para legitimar suas respectivas práticas, versões que precisam ser 
tachadas de impróprias e assim excluídas de qualquer posição no projeto do discurso dominante. 
Nesse sentido, reordenar as mensagens a serem transmitidas (...)é algo que precisa ser 
continuamente elaborado, pois as necessidades dos dominantes/dominados estão sempre sendo 
retrabalhadas no mundo real à medida que eles procuram mobilizar pessoas para apoiarem seus 
interesses. (JENKIS, 2001, p.40-41) 
 
A história tende a ser problemática porque ela está a serviço de interesses variados. Orwel no seu 
romance 1984 escreveu que quem controla o presente, controla o passado e o futuro. Isso parece ser 
válido também na história. Até bem pouco tempo, final do século XX, as mulheres, as crianças, negros, 
etc, não estavam presentes nos livros de história porque a produção do conhecimento histórico era feita, 
em sua grande maioria, por homens que escreviam sobre os homens. Tudo isso tem mudado e os 
excluídos da história tem ganhado maior visibilidade. Mas o importante é que você compreenda que a 
história não é um discurso neutro, pelo contrário, ela é fruto de relações de poder, é um campo de batalha 
onde pessoas, grupos, classes sociais produzem o conhecimento histórico, ou seja, “verdades” sobre o 
passado, com algum objetivo. 
Maria Odila Dias, no seu livro Quotidiano e Poder em São Paulo no Século XIX1, trás para a 
cena histórica agentes sociais antes relegados, as mulheres das classes oprimidas, livres, escravas ou 
forras, no processo de urbanização incipiente da cidade de São Paulo e valoriza-lhes o saber e a 
experiência de vida, respondendo a demandas de conhecimento feitas por movimentos sociais de 
mulheres, de trabalhadores, de pobres e outros. Veja, a produção do conhecimento histórico esta, 
portanto, marcada, condicionada, pelas questões colocadas pelo
presente do historiador. Assim, quando o 
historiador olha para o passado, lê a documentação, ele desempenha um papel ativo, pois é sempre do 
presente, de seu lugar social, da necessidade de dar legitimidade às lutas desse presente, é que ele olha 
para o passado. 
2.5 A HISTÓRIA DA HISTÓRIA 
A preocupação com o conhecimento histórico sistemático nem sempre existiu e nem é comum a 
todos os povos. A busca só surge como necessidade imposta pelo próprio movimento histórico. A forma 
como esse conhecimento é concebido e elaborado, atualmente teve origem na Grécia, há quase dois mil 
anos. A partir dessa base, e no decorrer de longa e complexa trajetória os estudos históricos tomaram-se 
um dos principais componentes da cultura ocidental (européia). O estudo da constituição da ciência 
histórica é um dos campos de trabalho dos historiadores, que é de suma importância para a compreensão 
do saber histórico, porque permite conhecer, além do próprio saber, a forma como ele foi produzido e os 
interesses de sua reprodução. 
O surgimento da pesquisa, da investigação sobre a História está ligado aos trabalhos realizados 
por Heródoto, que viveu no século V a.C. e escreveu sobre as guerras entre os gregos e os persas. 
Heródoto chamou sua obre de “HISTÓRIA” e acabou recebendo o cognome de “pai da história”. Na 
Grécia eram comuns as narrativas que se ocupavam da exposição dos acontecimentos, poemas em geral, 
sendo as mais célebres as epopéias atribuídas a Homero: Ilíada e Odisséia. Na Ilíada, é retratada a história 
da guerra de Tróia; e a Odisséia ocupa-se da volta de Ulisses, herói de Guerra de Tróia, para sua terra 
natal, a ilha de ítaca. Na maioria das vezes esses poemas eram redigidos a partir da tradição oral. 
Chamavam-se aedos a uma espécie de “cantadores” populares que se apresentavam nos locais públicos, 
recitando as antigas lendas , em geral de fundo religioso. A fixação desses poemas por escrito acabou por 
criar um gênero narrativo que se tornou a forma empregada tanto nas novelas (literatura) como nas 
narrativas (História). 
A grande inovação de Heródoto foi exatamente quanto ao objeto da narrativa. Ele ocupou-se com 
os acontecimentos, com as ações, enfim, com a existência dos homens. Na história de Heródoto aparecem 
Historiografia: estudo que se ocupa em analisar a ciência da História, bem como as obras produzidas 
por essa ciência. 
 
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misturados com fatos reais, alguns elementos lendários que são tratados pelo autor como se fossem dados 
da realidade concreta. Isso demonstra o quanto a mentalidade da época era impregnada pelo pensamento 
mítico- religioso, mas não retira da obra o seu caráter de investigação sobre as ações humanas. 
Heródoto inicia seus escritos afirmando que ao escrever sua história Heródoto de Halicarnasso 
teve em mira evitar que os vestígios das ações praticadas pelos homens se apagassem com o tempo e que 
as grandes e maravilhosas explorações dos gregos, assim como as dos bárbaros, permanecessem 
ignoradas; desejavam ainda, sobretudo, expor os motivos que os levaram a fazer guerra uns aos outros. 
Heródoto define a posição de historiador (investigador) como sendo eqüidistante com relação aos 
envolvidos nos fatos estudados. Isso não quer dizer que a obra fosse isenta de intenções. Como ele mesmo 
disse o objetivo era evitar que as ações dos gregos se apagassem com o tempo. 
A partir de Heródoto, a História tornou-se um tipo de estudo permanente na sociedade grega. É 
importante destacar que os primeiros historiadores gregos se preocupavam com os períodos e 
acontecimentos mais recentes, sobre os quais eles pudessem, inclusive, se colocar como testemunhas 
oculares. A História surgiu, pois, como um estudo das ações humanas do presente. 
Depois do século II a.C., os gregos foram substituídos pelos romanos no predomínio sobre a 
região mediterrânea. Os autores romanos podem ser considerados herdeiros e continuadores das tradições 
historiográficas gregas. Com o desaparecimento do Império Romano que marcou o fim da Antiguidade, a 
História, enquanto '‘observação subjetiva do movimento do mundo”, sofreu um certo retrocesso. 
A História foi substituída pela crônica. Ela perdeu o seu caráter de pesquisa para tornar-se 
narrativa que, apesar de ter como objeto a realidade, enaltecia e exaltava as pessoas e as ações daqueles 
que contratavam os serviços dos cronistas. 
Os cronistas normalmente estavam a serviço dos reis e de senhores feudais poderosos. Esses 
relatos obedeciam à seqüência cronológica e sua preocupação maior não era a de buscar no passado 
explicações para o presente, mas a de fixar para a posteridade a lembrança dos acontecimentos que 
presenciaram. 
Apesar da limitação, o período medieval contribuiu para o pensamento historiográfico com a 
primeira visão de síntese da história, graças à criação de um sistema cronológico de valor universal. 
A concepção de um novo sistema cronológico deveu-se à elaboração dos escritos cristãos, cujo 
pensamento passou a predominar na Europa medieval. Essa cronologia deixava de basear-se na História 
de Roma para baseava-se na Bíblia e, a partir daí, organizar uma periodização que abrangia toda a 
humanidade, numa visão global e sintética. 
O marco seguinte no desenvolvimento da ciência histórica se deu com o Renascimento, fase de 
transição da Idade Média para a Idade Moderna. Verificou-se, nessa época, certa preocupação com a 
retomada dos valores da cultura clássica greco-romana. Essa retomada não significou volta ao passado, 
mas a busca de um novo vigor, que se verificou na criação das técnicas modernas da história 
constituindo- se o que se poderia chamar de um método científico para ser aplicado à História. O avanço 
científico se deveu ao desenvolvimento da erudição e da crítica. 
Essas qualidades do conhecimento histórico se deveu ao surgimento das ciências auxiliares da 
História: 
Tais como: 
O cristianismo apresentou-se como uma religião universal que devia englobar todos os homens; por 
isso o seu predomínio acabou por impor uma visão global do mundo e da história. 
-Erudição: domínio de amplo conhecimento; capacidade dos estudiosos para acumular grande 
quantidade de informações necessárias para sedimentar o conhecimento histórico. 
-Crítica: possibilitava-lhes o julgamento da veracidade, ou “distinguir o verdadeiro do falso na 
história”. 
 
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Durante o período renascentista os eruditos trabalhavam mais para o seu prazer pessoal ou para 
manter discussão entre os intelectuais da época. Para o púbico não especializado, a história que se fazia 
era mais uma manifestação literária, tratando os personagens e os acontecimentos à moda das tragédias 
clássicas. A ciência da história elaborada no Renascimento constitui a base da ciência atual, modificada e 
enriquecida pelo avanço do próprio conhecimento científico, sobretudo a partir do século XIX. 
O século XIX foi considerado pelos especialistas como o século da história, pois nele ela se 
definiu e se consolidou metodologicamente. Era a época do cientificismo: o acentuado avanço do 
pensamento científico. A base do cientificismo provinha das ciências exatas e naturais, que vinham desde 
o Renascimento desenvolvendo os chamados métodos experimentais, que lhes garantiam possibilidades 
de rigor científico. 
No campo das ciências sociais ou humanas a principal expressão do cientificismo foi representada 
pelo positivismo, o qual pretendia para a história a objetividade das ciências naturais. 
O verbete da História, segundo a Grande Enciclopédia, significa “o estudo e a representação 
dos fatos passados; é, antes de tudo, uma obra científica, na qual o historiador deve seguir, tanto 
quanto os fatos o comportem, as regras e os métodos das ciências experimentais”.
A elaboração científica da História pressupunha o estabelecimento de leis, uma vez que, no 
encadeamento dos fenômenos sociais, muitas relações de sucessão repetem-se com persistência e 
uniformidade suficientes para que um grande número de fatos particulares possa ser explicado através de 
causas gerais e parecem regidos por lei. Esse tipo de afirmação gerou controvérsias, tais como: 
- poderia o homem ser tão objetivo quanto refletir sobre as coisas da natureza? 
- por mais que haja semelhança no decorrer do processo histórico, nunca se verificam repetições e 
constâncias que permitam o estabelecimento de leis. 
- discussão sobre a verdadeira natureza do campo de conhecimento que tem por objeto desvendar 
a existência humana: arte ou ciência? 
Além do rigor científico, a historiografia do século XIX apresenta outras características 
relacionadas às condições da época. Os Estados Nacionais haviam se consolidado e formado seu poderio 
e, em função disso, a História das Nações e, sobretudo, História Política. 
Esse período também foi marcado pela ascensão social e política da burguesia. O predomínio 
burguês está presente na produção histórica que expressa a visão de mundo dessa classe, identificando a 
História com a história da classe burguesa em detrimento das classes populares. 
O predomínio nacional e burguês ocorria sob os princípios do Liberalismo, que estabelecendo a 
livre iniciativa, da concorrência, da propriedade privada e da garantia das liberdades individuais 
(pensamento, expressão, de ir e vir, etc.), superestimava a os indivíduos, especialmente os que ocupavam 
os postos de direção, os governantes. Por isso os estudos históricos continuavam privilegiando os 
indivíduos como agente da história. O século XIX produziu também o recurso para contestar e rever as 
distorções dessa historiografia “positivista” trata-se do pensamento marxista. 
A primeira contribuição do marxismo relaciona-se à sua abordagem teórico-metodológica 
consubstanciada no materialismo histórico. Pela concepção materialista da história foi possível rever e 
reavaliar as diferentes forças atuantes no processo histórico, superando o quase exclusiva consideração 
-Arqueologia: estudo dos monumentos, dos fragmentos e dos objetos materiais das civilizações 
antigas, já desaparecidas. 
-Numismática: estudo de moedas. 
-Filatelia: estudo dos selos (importantes para identificação de documentos). 
-Heurística: método para estabelecer a veracidade dos fatos relatados nas fontes. 
-Filologia: estudo das línguas (útil para a compreensão da sociedade). 
-Diplomática: estudo dos documentos tendo em vista o estabelecimento da sua autenticidade. 
-Paleografia: estudo de manuscritos antigos. 
Positivismo: corrente de pensamento filosófica criada por Augusto Comte, filósofo francês 
que viveu de 1798 a 1857. Ele é também considerado o criador da Sociologia, ciência destinada ao 
estudo da sociedade ou do homem nas suas relações sociais. 
 
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aos indivíduos e aos acontecimentos singulares e isolados. De forma simplificada pode-se afirmar que o 
marxismo é responsável pela demonstração da importância do fator econômico na História. 
A análise marxista da História permite estabelecer a base material concreta sobre a qual se 
organiza a sociedade e, apreender a complexa rede de inter-relações que se verificam entre a base 
material, considerada a estrutura da sociedade (economia e suas inter-relações), e os demais níveis de 
organização social: política, religião, cultura, idéias, arte que formam o que se chama de superestrutura 
social. 
O emprego destas noções de análise das sociedades tem como resultados mais expressivos a 
visualização das forças e relações sociais que atuam no processo histórico. De forma concreta, a 
abordagem marxista faz aflorar a importância das grandes massas populares constituídas basicamente 
pelos trabalhadores, a divisão da sociedade em classes e a luta permanente entre classes dominante e 
dominada. Revela também a natureza e o papel das instituições criadas pelos homens e, sobretudo os 
compromissos que vinculam as instituições (Estado, Igreja, por exemplo) às classes sociais. 
Em resumo, o marxismo desvenda, para a compreensão da História, os homens que, a partir de 
condições históricas concretas (reais), atuam na organização e na reprodução da sociedade pela produção 
da sua base material; resumindo: que fazem a História. 
O marxismo não é uma corrente historiográfica Homogênea. Ao Contrário, desde o seu 
surgimento, tem havido o mais acirrado debate entre os seus seguidores. Já no tempo dos seus criadores 
(os alemães Karl Marx e Friedrich Engels), registravam as mais variadas e controvertidas interpretações, 
desde aquelas que reduziram ao estudo dos fatos e fatores econômicos até as que o propunham como uma 
concepção de análise histórica que é, sobretudo, um guia de estudo. 
O pensamento marxista, por sua vez, apesar da sua relevância, não eliminou as demais correntes. 
De modo que a história conta, hoje em dia, com uma extensa gama de concepções responsáveis por uma 
vastíssima produção de obras cada vez mais diversificadas. Entre elas destaca-se a Nova História, que se 
originou entre os historiadores franceses, integrantes da Escola dos Annales, fundada por Lucien Febvre e 
Marc Bloch. Com isso os estudos de História se tomaram cada vez mais complexos, quando se pretende 
abranger a totalidade da produção historiográfica. 
Em contrapartida esse estudo é cada vez mais fascinante. Principalmente quando se tem presente 
que a cada concepção científica corresponde a um determinado compromisso com a realidade e o 
movimento histórico. 
Assim, considerando-se as duas concepções analisadas: o positivismo e o marxismo, o primeiro 
representou um comprometimento com a sociedade burguesa, liberal, capitalista; o segundo representou o 
comprometimento com a construção de uma sociedade igualitária e socialista que pressupõe o predomínio 
dos trabalhadores. 
Como vimos, estudar História significa, enfim, posicionar-se em relação ao processo histórico e, 
sobretudo, comprometer-se com a sua construção e o seu devir. 
 
ATIVIDADES DE APROFUNDAMENTO 
Caro aluno, 
Vários são os conceitos utilizados com freqüência, para definir História. Iremos 
apresentar, para análise, algumas definições de História para que você, após 
analisá-los, possa elaborar o seu próprio conceito, a partir das idéias, 
argumentos e opiniões de outros autores. 
É comum na linguagem corrente, a distinção entre História (com H maiúsculo) para indicar o processo 
histórico, a ciência que o estuda ou a disciplina (matéria) nos currículos escolares, e história (com 
inicia! minúscula) para designar os produtos da fantasia ou da ficção; às vezes aparece com esse 
sentido a palavra estória. Os historiadores tendem a utilizar apenas o substantivo comum, uma vez que 
para os,estudos históricos essa distinção nas expressões utilizadas não é relevante, já que está sempre 
referindo ao processo histórico e ao seu conhecimento. Aliás, mesmo as fábulas fazem parte da 
história. 
 
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1-“A História é a ciência dos atos humanos do passado e dos vários fatores que neles influíram, vistos na 
sua sucessão temporal”. (BESSELAR, José V. D. Introdução aos Estudos Históricos. 3.ed., São Paulo, 
1970) 
Este é um conceito bastante conhecido. O autor o publicou em 1956 e são muitos os historiadores que o 
adotam. Sobre esse conceito, responda: 
a) A História, para o autor, deve-se ocupar do presente ou do passado? 
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b) De que forma os fatos devem ser estudados? 
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2) “História é a ciência dos homens no tempo.” (Marc Bloch) 
O historiador Marc Bloch também considera o tempo muito importante. O autor deixa claro que a 
História não deve se preocupar apenas com o passado. Explique esse conceito. 
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3) “A História é a disciplina que se refere aos homens, a tantos homens quanto possível, a todos os 
homens do mundo enquanto se unem entre si em sociedade, e trabalham, lutam e se aperfeiçoam a si 
mesmos.” (Antonio Gramsci) 
Para Gramsci a história não deve ficar restrita aos chamados grandes homens (reis, presidentes, 
generais). Nesse sentido podemos afirmar que: eu faço, tu fazes, ele faz, nós fazemos a História. Ainda 
nesse sentido, afirma Ferreira Gullar: 
 
“A história humana não se desenrola apenas nos campos de batalha e nos gabinetes presidenciais. 
Ela se desenrola também nos quintais entre plantas e galinhas, nas mas de subúrbios, nas casas de 
jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas.” 
 
Comumente os livros e os historiadores apresentavam a idéia de que a história se referia 
preferencialmente aos aspectos políticos e aos feitos dos “grandes homens”, aqueles que em determinado 
momento tinham o poder de decidir sobre o destino de um grupo grande de pessoas, um país ou uma 
região. Hoje essa concepção vem progressivamente sendo abandonada e à produção historiográfica vem 
sendo incorporado novos sujeitos, novos objetos e principalmente novas fontes de informação sobre o 
passado. Isso tem possibilitado uma revisão da história e de suas possibilidades de produção. 
Acreditamos que você, agora, tem condições de elaborar a sua definição de História. Afinal você 
pôde ler conceitos e opiniões que foram dados por historiadores, poetas e pensadores. Para você 
elaborar o seu conceito seria importante que você relesse os textos e anotasse em uma folha separada 
 
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tudo aquilo que você considera importante e que deve ser incluído na sua definição. Depois, com base 
nos conceitos apresentados acima, elabore um conceito de história e apresente nele aqueles que fazem 
parte da história. 
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Para que você compreenda ainda melhor, leia atentamente o texto e responda: 
"A principal finalidade de um livro de História consiste em apresentar (...) o que se conhece, com bastante 
segurança, sobre a vida da humanidade (...). 
milhares de homens, curiosos e ativos, em todas as partes do mundo, vêm se dedicando, há séculos, a curiosas 
pesquisas sobre os acontecimentos, os costumes e as instituições de outros tempos. Em consequência dos 
seus esforços, contamos hoje com uma infinidade de tratados, ensaios, revistas e livros sobre os seus 
progressos e retrocessos, as conquistas do espírito e da arte e, também, infelizmente, sobre as constantes 
lutas que os homens vem travando entre si. 
 Nenhuma pessoa, por mais extraordinárias que fossem a sua memória e: uma centésima parte, sequer dessa 
incalculável quantidade de dados. Vários intelectuais, entretanto, vem se esforçando por selecionar, entre as 
lembranças de outras eras os fatos mais importantes na evolução da espécie humana. (...). A História pesquisa 
e reconstitui esses fatos cruciais e, de modo gerai, deve ser encarada como um esforço visando o mais lúdico 
conhecimento possível do passado, para melhor compreensão dos problemas do presente’.” (HADDOCK 
LOBO, R., História Universal. São Paulo: Melhoramentos, v. 1, p.07.) 
Para esse autor, o estudo do passado é um dos principais objetivos da História. Segundo ele, a 
pessoa, de um modo geral, não tem condições de se lembrar de tudo que aconteceu no passado, cabendo 
ao historiador selecionar os fatos mais importantes. Há algum tempo atrás os historiadores só se 
preocupavam com os grandes acontecimentos políticos. 
Assim nos livros de História, nós só encontrávamos nomes de reis e presidentes, datas e os 
principais fatos históricos, como o descobrimento, a Guerra do Paraguai, a Segunda Guerra Mundial, a 
Revolução Francesa e outros. Com base no texto, responda: 
a) Para o autor, qual a principal finalidade de um livro de história? Você concorda? Justifique. 
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b) Segundo o autor qual seria a função da História? 
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3.1. UMA QUESTÃO DE MÉTODO 
A História vale repetir, ocupa-se com o movimento das sociedades. A apreensão desse 
movimento dá-se por meio do estudo das ações humanas situadas concretamente, ou sejas no meio 
específico e peculiar que não se restringe ao particular, mas se articula numa totalidade. 
A tradição erudita, reforçada pelo cientificismo positivista, generalizou a noção de fatos 
históricos como sendo os objetos de estudo da história. Essa noção vem sendo modificada à medida 
que a produção do conhecimento histórico se inova. 
A idéia inicial e predominante em diversas concepções de História considerava o fato o elemento 
básico constitutivo da História e que poderia ser assimilado pela ciência tal como realmente aconteceu. 
Essa convicção da lugar, atualmente à percepção do fato como produto da elaboração e da seleção do 
próprio historiador. 
Além disso, a concepção que restringia os fatos aos “grandes” acontecimentos praticados pelos 
“grandes” homens, que marcavam e modificavam a história, deu lugar à definição de fato como toda e 
qualquer ação praticada por frações ou pelo conjunto dos homens na sua tarefa comum de 
construção do movimento da História. 
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais: 
Os fatos históricos podem ser traduzidos, por exemplo, como sendo aqueles relacionados aos 
eventos políticos, às festas cívicas e às ações de heróis nacionais, fatos esses apresentados de 
modo isolado do contexto histórico em que viveram os personagens e dos movimentos de que 
participaram. 
Em uma outra concepção de ensino, os fatos históricos podem ser entendidos como ações 
humanas significativas, escolhidas por professores e alunos, para análises de determinados 
momentos históricos. Podem ser eventos que pertencem ao passado mais próximo ou distante, de 
caráter material ou mental, que destaquem mudanças ou permanências ocorridas na vida coletiva. 
Assim, por exemplo, dependendo das escolhas didáticas, podem se constituir em fatos históricos 
as ações realizadas pelos homens e pelas coletividades que envolvem diferentes níveis da vida em 
sociedade: criações artísticas, ritos religiosos, técnicas de produção, formas de desenho, atos de 
governantes, comportamentos de crianças ou mulheres, independências políticas de povos. 
(Parâmetros Curriculares Nacionais - Secretaria de Educação -1998) 
 
Analise o texto abaixo e em seguida elabore em um bloco de anotações, um pequeno texto onde você 
apresenta a sua própria concepção de fato histórico. 
 
O que é fato histórico? 
A tentativa de uma história definitiva, que se baseie em fatos tão indiscutíveis quanto qualquer 
objeto físico palpável é falaciosa. Os fatos históricos tendem a ser visto pelo senso comum de modo 
bastante peculiar, como eventos imutáveis e consensuais dos quais se pode extrair significados absolutos, 
mas para qualquer observador atento isso è claramente absurdo. Nem mesmo existem fatos 
consensualmente tidos como importantes, um historiador pode selecionar um evento para estude que 
passe totalmente desapercebido por outro, ou seja, não apenas a interpretação é -pessoal, mas a própria 
escolha dos fatos. Sobre essa preocupação cc o fato histórico, Paul Veyne reflete que: 
(...) basta admitir que tudo é histórico para que em problema, torne-se ao mesmo tempo, evidente 
e inofensivo; sim, a história não é senão resposta a nossas indagações, porque não se pode, 
materialmente, fazer todas as perguntas, descrever todo o porvir, e porque o progresso do 
questionário histórico coloca-se no tempo e é tão lento quanto progresso de qualquer ciência; sim, 
a história é subjetiva pois não se pode negar que a escolha de um assunto para um livro de história 
seja livre. (VAYANE, 1995. P.26) 
UNIDADE III 
Fundamentos teóricos e metodológicos para a 
produção do conhecimento histórico 
 
 
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Para este e vários outros historiadores todas as ações humanas são acontecimentos históricos, daí 
a impossibilidade de romper com a subjetividade, já que é o historiador que escolhe o que vai pesquisar e 
quais os instrumentos metodológicos que utilizará para melhor analisar as fontes escolhidas. 
 
3.2. AS FONTES HISTÓRICAS 
O historiador não se apropria do seu objeto de estudo diretamente. Ele o faz através dos vestígios 
ou dos registros concretos da atuação humana, que constituem, por isso, as fontes para os estudos de 
História. 
As fontes privilegiadas para os estudos históricos, principalmente a partir da fixação dos métodos 
de erudição e da crítica, têm sido os documentos escritos. Sua utilização determina, inclusive, a primeira 
grande divisão metodológica nos estudos históricos, ou seja, a separação entre Pré-história e História: 
antes e depois do surgimento da escrita. 
E um equívoco supor que os estudos históricos possam dispensar os registros ou os vestígios não 
escritos. O conhecimento dos períodos mais remotos, bem como muitos aspectos da vida cotidiana, 
exigem que destaque aos produtos materiais que, mais ou menos preservados, testemunham a ação 
humana. 
Também para a fase mais recente da História verifica-se o crescimento da importância dos 
registros ou dos documentos não escritos. Notadamente após o desenvolvimento dos meios e recursos 
tecnológicos de comunicação: rádio, cinema, televisão, computador, bem como os diversos recursos de 
gravação e reprodução em massa dos registros: filmes, discos, fitas; assiste-se ao surgimento de uma 
imensa quantidade de documentos merecedores da atenção dos historiadores. 
Os historiadores, contudo, ainda podem ser considerados especialistas no trato das fontes escritas, 
da mesma forma que o resultado das suas investigações são ainda quase que exclusivamente, obras 
escritas. O tratamento das fontes não escritas exige o concurso de especialistas em outras áreas, desde o 
arqueólogo até o especialista em informática. De todo modo a imensa matéria-prima da história se 
adquire força. 
Não podemos nos esquecer de que, embora os documentos escritos continuem sendo os mais 
utilizados pelos historiadores eles são produzidos por pessoas, que tem uma intenção. E ao escrever esse 
documento ele carrega a sua visão de mundo e do momento em que ele é produzido. 
Vamos conhecer um pouco mais sobre as fontes. Isto é, os registros do passado que chegam até o 
presente. Elas são a matéria-prima do historiador. São elas que fornecem: as pistas para revelar alguns dos 
aspectos do passado. É através delas que o historiador constrói a sua interpretação sobre um determinado 
acontecimento, do passado ou do presente. 
Faça agora a leitura atenta do texto sobre as fontes históricas. 
Quais são as fontes da história? 
 
O historiador no seu trabalho de pesquisa pode e deve usar fontes variadas. O conhecimento 
histórico se produz com tudo o que demonstra a presença humana. São inúmeras fontes da história. Entre 
alas destacam-se as fontes textuais (jornais, documentos, livros, etc), materiais (objetos, fotografias, 
pinturas, arquitetura, etc) e orais (debates, entrevistas etc). Ao refletir sobre as formas utilizadas pelos 
historiadores George Duby, na sua entrevista para o livro Diálogos Sobre a Nova História ressaltou que: 
Não tenho qualquer intenção de ocultar a subjetividdae do meu discurso (...) Penso que temos de 
partir do concreto, da maneira de fazer, de trabalhar- na oficina. Eis o que se passa: os homens de que me 
ocupo, que viveram no séc. XIX deixaram alguns vestígios. Alguns desses vestígios são inteiramente 
“concretos” estão inscritos na paisagem; são objetos materiais que a arqueologia revela (...). Depois há 
outros vestígios que são vestígios de discursos. Discursos que os próprios contemporâneos produziram 
sobre si próprios (...). Mas há também textos mais
elaborados, mais sofisticados, mais carregados de 
ideologia: relatos de acontecimentos, crônicas e reportagens (...). Estes vestígios são raros (...) gastos pelo 
tempo, muito degradado, é um tecido amarrotado, coçado, rasgado. Com enormes buracos (...). O que eu 
tento fazer, com bases nesses testemunhos, é estabelecer relações avulsas entre esses vestígios. A partir 
 
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desse momento, a imaginação intervém. Tento preencher essas lacunas, lançar pontes, preencher essas 
falhas (...). (Duby, 1989. P.36-37) 
Além da fontes materiais e textuais tem-se o cada vez mais ampliado a utilização de fotografias e 
da fonte oral. Sem dúvidas, a maior recorrência dos historiadores a esta fonte, tem garantido a produção 
de um conhecimento histórico menos excludente, ao promover a inserção de experiências de diferentes 
sujeitos sociais na história e ampliado os objetos de pesquisa. 
De todo modo a imensa matéria-prima da história só adquire a forma de conhecimento quando 
elaborada pelo historiador. E ele seleciona, organiza, analisa e interpreta criticamente a partir de 
pressupostos teóricos que constituem a sua concepção de mundo e de história. O estudo da História pode 
ser entendido, portanto, como a interação entre o historiador e os fatos, resultando não na mera repetição 
descritiva “daquilo que aconteceu”, mas na produção de algo novo, ou seja: o conhecimento histórico. 
Essa característica do conhecimento histórico como algo novo deve estar presente em todos os 
níveis de estudo, mesmo os mais elementares. 
Cada estudante de história deve se incumbir do espírito crítico do investigador, de modo que seu 
aprendizado resulte de um lado na compreensão e no posicionamento ante o conhecimento histórico (já 
elaborado) e, de outro, na produção de um conhecimento novo, pois é fruto de sua investigação e criação 
e não apenas de incorporação passiva de um conhecimento transmitido. 
 
3.3. O TEMPO E A HISTÓRIA 
A História, como já se afirmou, é a ciência do tempo. A percepção da noção de tempo pelos 
homens variou muito até ser elaborada a concepção do tempo como duração infinita, contínua, linear e 
irreversível. 
Todavia, a noção de tempo linear pressupõe, além da duração e da irreversibilidade, as noções 
de simultaneidade e de sucessão; ou seja, as ações são múltiplas (contemporânea entre si, embora com 
durações variadas) e podem também ser escalonadas, guardando certa sucessão. Daí a importância da 
cronologia. 
Essa é a concepção que vigora nas sociedades modernas e é em função dela que o tempo é 
mensurado, contado e delimitado no calendário. 
O calendário em vigor, de base solar, considera o ano equivalente a 365 dias 5 horas, 48 minutos 
e 40,7 segundos; dividido em 12 meses cujas durações são variadas: 7 meses de 31 dias, 4 meses de 30 
dias e um mês de 28 dias. Como essa organização pressupõe todos os dias com duração igual a 24 horas, 
o ano do calendário marca apenas 365 dias; a fração de cada dia restante é acumulada, a cada 4 anos o 
mês de 28 dias (fevereiro) é acrescentado em mais um, ocasionando o ano bissexto. Confira: 
1 ano = 365 dias e 5 horas, 48 minutos e 40,7 segundos (6 horas, aproximadamente). 
A cada ano sobram, portanto, aproximadamente 6 horas. Assim, ao final do período de 4 anos 
sobraram 24 horas, o que corresponde a mais um dia, formando o ano bissexto. 
Esse calendário foi organizado entre os romanos na época e por ordem de Júlio César, daí ser 
chamado de Calendário Juliano. 
Quando o cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano, o calendário, sem ser 
modificado, foi alterado na sua delimitação: considerou-se o ano do nascimento de Cristo como o ano 
1 de uma nova era - a Era Cristã - e o tempo, nas sociedades cristãs, 
passou a ser contado da seguinte forma: 
Sabe-se que os povos primitivos, bem como as crianças em geral, não concebem o tempo 
como duração linear, contínua e irreversível. Crianças pequenas confundem ontem com amanhã e 
A noção do tempo linear não deve ser entendida como sinônimo de uniformidade. O historiador 
Femad Braudel sistematizou as noções de fato, conjuntura e estrutura para indicar respectivamente o 
tempo breve (o da História, política e/ou do jornalista), o tempo com certa duração, mais ou menos 50 
anos, o da conjuntura e o da longa duração. O que está em jogo é histórico, que deve ser compreendido 
na pluralidade de durações e não na uniformidade ou na homogeneidade. 
 
 
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podem para o pai, por exemplo, “quando você for pequeno ou grande”, expressando uma concepção 
de tempo acíclica. Em 1582, o papa Gregório XIII, determinou outra reforma, que vigora até hoje, 
surgindo a Calendário Gregoriano. 
O calendário cristão é, atualmente, recente aceito pela maioria dos povos e é usado nas 
transações internacionais, embora os judeus e os muçulmanos continuem, internamente, datando o 
tempo pelos seus calendários próprios. 
A adoção de um calendário universal é, praticamente, recente. Por isso é muito complicado o 
estabelecimento de datas precisas e rigorosas para os períodos mais antigos, quando a diversidade de 
povos correspondia a diversidade de calendários. Alguns historiadores têm inclusive, o cuidado de 
alertar para a variação de critérios para o estabelecimento de datas anteriores ao uso do Calendário 
Juliano. Muitas vezes um mesmo acontecimento, ou período, aparece datado com diferenças até 
superiores a um século, conforme sejam os critérios adotados pelos estudiosos. 
A par com a preocupação de demarcar o tempo houve sempre também a tentativa de delimitar 
os períodos da História. 
O processo histórico, ao contrário do tempo físico, apresenta- se aos seus estudiosos como 
descontínuo, não linear, e, embora em permanente mudança, marcado por avanços ou recuos, por 
rupturas bruscas ou longos períodos de estagnação. Por isso, a delimitação da História envolve 
complicações que não estão presentes nos calendários. Enquanto essa elaboração se rege pela precisão 
regular dos astros, a periodização histórica se organiza segundo a mutabilidade irregular, imprecisa e 
muitas vezes ilógica das ações humanas. 
Todas as sociedades que se ocuparam da História como campo do conhecimento criaram 
sistemas de periodização. 
A periodização utilizada atualmente pela historiografia de origem ou base européia (a brasileira 
aí incluída) foi estabelecida no Renascimento. Os eruditos da época viam o seu próprio período como a 
culminância de um processo tripartite da História e identificaram três idades: a Idade Antiga, período da 
primeira civilização clássica - a greco-romana; a Idade Moderna, período da nova civilização clássica; 
entre as duas a Idade Média, considerada como um intervalo entre os dois períodos de civilização. 
No início do século XIX, os historiadores franceses, avaliando a revolução liberal (Revolução 
Francesa de 1789) com um novo marco nos rumos da História, completaram a periodização renascentista 
acrescentando-lhe a Idade Contemporânea, iniciada em 1789 com o desenvolvimento das pesquisas 
históricas no decorrer do século XIX, a periodização francesa foi generalizada. 
A periodização histórica é comumente representada por uma frisa histórica ou linha do tempo. 
É preciso salientar que a periodização, por mais rigorosa que seja, é uma convenção criada ou 
adotada pelos estudiosos, não é pois uma expressão objetiva da realidade. A cronologia, com calendários 
e periodizações, municia os historiadores com importantes instrumentos, graças aos quais podem dar 
clareza, ordenação e sistematização aos conhecimentos por eles produzidos. 
 
ATIVIDADES DE APROFUNDAMENTO 
1) O que você entende por subjetividade? 
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2) Você acha que é possível ao historiador ser totalmente imparcial na produção do conhecimento 
histórico. Justifique. 
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4.1. OS MÚLTIPLOS CAMPOS DO SABER HISTÓRICO 
A história, assim como a pedagogia, a psicologia, a geografia e tantas outras ciências está 
dividida em inúmeras modalidades. A multiplicação dos saberes históricos guarda relações diretas com 
a crescente especialização dos saberes e com as crises dos paradigmas totalizantes de compreensão do 
mundo. Podemos constatar que no cerne da constante fragmentação dos saberes, está uma série de 
acontecimentos políticos que marcaram a década de 60, sobretudo o desencantamento progressivo da 
esquerda ocidental com o modelo soviético. Como nos diz Perry Anderson, a crise do marxismo 
Ocidental desempenhou papel relevante nas viragens historiográficas, onde a tradição do pensamento 
racional e científico também sofreu abalos. 
O modelo de análise marxista propunha uma análise mais estrutural, em que os elementos 
econômicos eram determinantes em relação as outras esferas do conhecimento. O aspecto político e 
cultural faziam parte de uma superestrura moldada pelos sistemas econômicos, em diferentes épocas 
da história. A medida que o modelo marxista começou a ser questionado, foram surgindo diferentes 
domínios dentro da história. 
Não podemos falar de ’uma’ viragem historiográfica sem apontar também, ainda que 
rapidamente, a importância do movimento dos Annales, pois a história-problema foi bandeira de luta dos 
integrantes da revista dos Annales, antes mesmo da crise do modelo explicativo marxista. 
Esclarecemos um pouco mais sobre esse movimento. O Annales foi um revista fundada pelos 
historiadores Marc Bloch e Lucien Febvre, na França, em 1929. Em pouco tempo, esse revista tornou-se 
reduto das manifestações mais efetivas e duradouras contra uma historiografia dita tradicional, centrada 
em trazer à tona os grandes homens, as grandes batalhas e os grandes acontecimentos políticos. Contra 
esse tipo de história, o movimento dos Annales propunha uma história-problema, viabilizada pelo 
diálogo com as demais ciências humanas, num constante processo de alargamento de objetos e 
aperfeiçoamento metodológico. A interdisciplinaridade serviria, desde então, como base para a 
formulação de novos problemas, métodos e abordagens da pesquisa histórica. 
Nesse contexto surge uma nova concepção de história — a nova história - agrupada em torno da 
Revista Annales:economia, sociedade, civilização. De acordo com Peter Burke, a nova história pode ser 
definida por uma via negativa, em outras palavras, defini-la em termos do que ela não é, daquilo a que se 
opõe seus estudiosos. “Os historiadores tradicionais pensam na história como essencialmente uma 
narrativa dos acontecimentos, enquanto a nova história está mais preocupada com a análise das 
estruturas.” (BURKE: 1992, 12) Ou seja, a nova história não estuda épocas, mas estruturas particulares. 
Aqui reside o conceito de ‘‘História de Longa Duração”. 
Segundo Braudel, a história situa-se em três escalões: a superfície, uma história dos 
acontecimentos que se insere no tempo curto (concepção positivista); a meia encosta, uma história 
conjuntural, que segue um ritmo mais lento; em profundidade, uma história estrutural de longa duração, 
que põe em causa os séculos. Nesse sentido, a nova história, isto é, a história sob a influência das 
ciências sociais realizou uma revolução epistemológica quanto ao conceito de tempo histórico. Não 
obstante, a pesquisa histórica dentro do quadro do tempo longo, consiste em um esforço de superação do 
evento e de seus corolários: a história contínua, progressiva e irreversível da realização de uma 
consciência humana capaz de uma reflexão total. 
Sob influência das ciências sociais, a história também sofreu uma mudança no campo das 
técnicas e dos métodos. Se antes a documentação era relativa ao evento e ao seu produtor, agora ela é 
relativa ao campo econômico-social: ela se torna massiva, serial e revela também o duradouro, a 
permanência, as estruturas sociais. “Os documentos se referem à vida cotidiana das massas anônimas, à 
sua vida produtiva, à sua vida comercial, ao seu consumo, às suas crenças, às sua diversas formas de vida 
social.” (REIS: 1994, 126) Portanto, a nova história privilegia a documentação massiva e involuntária em 
UNIDADE IV 
Os campos de abordagens histórica 
 
 
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relação aos documentos voluntários e oficiais. Nesse sentido, os documentos são arqueológicos, 
pictográficos, iconográficos, fotográficos, cinematográficos, numéricos, orais, enfim, de todo tipo. 
Não obstante, a nova história recusa a hipótese de um tempo linear, cumulativo e irreversível, até 
então defendido pelos historiadores tradicionais. Para os historiadores novos ahistória não pode ser 
conhecida e não pode sobretudo ser produzida com base em uma compreensão especulativa e 
revolucionária do tempo histórico. Para controlar esse tempo acelerado, a história deveria enfatizar o 
lado repetitivo, cíclico, resistente, inerte, constante, da vida dos homens. Para realizar essa mudança de 
perspectiva proposta pelas ciências sociais, a história deveria se tornar outra que a tradicional, por uma 
revisão radical de sua concepção de tempo histórico. Foi o que compreendeu a nova história'. a 
construção de uma outra concepção de história e de seu tempo. 
Vimos, ainda que de forma resumida, que a subdivisão da história em variadas especialidades 
internas é essencialmente o resultado das variadas transformações da sociedade e dos próprios 
desenvolvimentos da historiografia a partir do século XX. Se na década de 50 e 60, os trabalhos que 
predominavam nas academias era os que se integravam ao campo da história econômica com forte 
influência do marxismo, após todas as transformações apontadas, o que se verifica é uma predomínio, 
hoje em dia, dos trabalhos que se inserem no campo da história cultural e das mentalidades. Nesse 
sentido, a produção acadêmica, influencia, a produção dos livros didáticos e os temas que devem ser 
levados em conta. Quantos de vocês não estudaram a história, através dos modos de produção? Eu fui 
uma delas. Percebemos, que esse conceito é caro, aos marxistas. Hoje o que predomina são os estudos 
das identidades e dos grupos sociais, preocupações típicas da história da cultura. 
Para registramos algumas exemplificações, podemos dizer que o primeiro grupo de critérios que 
gera divisões internas na disciplina histórica, corresponde àquilo que o historiador traz para o primeiro 
plano no seu exame de uma determinada sociedade. Por exemplo: a política, a cultura, a economia, a 
demografia, e assim por diante. Desta maneira, teríamos na história econômica, na história social, na 
história política, na história cultural ou na história das mentalidades campos do saber históricos relativos 
as dimensões ou aos enfoques do historiador. Para esclarecermos um pouco mais, um historiador cultural, 
estuda, os

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