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FIXAÇÃO BIOLÓGICA E ASSIMILAÇÃO DE NITROGÊNIO Patrícia G. Morgante - pgleydes@ib.usp.br www.quimica10.com.br I- INTRODUÇÃO O nitrogênio é o quarto elemento mais abundante nas plantas, sendo superado apenas pelo carbono, pelo oxigênio e pelo hidrogênio. É constituinte essencial de aminoácidos, proteínas, bases nitrogenadas, ácidos nucléicos, hormônios e clorofila, entre outras moléculas. A maioria das plantas obtém o nitrogênio do solo sob a forma de íon nitrato (NO3 -), havendo algumas que o absorvem sob a forma de íon amônio (NH4 +). O nitrogênio pode ser um nutriente crítico para as plantas porque seu suprimento no solo é limitado e, além disso, ele também é utilizado pelos microrganismos que habitam esse solo. O ar atmosférico também possui nitrogênio. Cerca de 78% da constituição gasosa da atmosfera é formada por nitrogênio molecular ou dinitrogênio (N2). No entanto, os organismos eucariontes são incapazes de absorver o N2 e convertê-lo a uma forma assimilável. Assim, o N2 move-se para dentro da planta através dos estômatos, saindo logo em seguida, sem que possa ser utilizado. Os átomos encontram-se unidos de uma maneira muito estável na molécula de nitrogênio e por esse motivo para que o N2 possa ser convertido a uma forma assimilável é necessário o fornecimento de temperatura e pressão muito elevadas (fixação industrial) ou a presença de um sistema enzimático apropriado (fixação biológica) . A fixação industrial do N2, chamada de processo de Haber-Bosch, utiliza temperaturas em torno de 400-600 oC e pressões em torno de 100-200 atm, sendo dispendiosa do ponto de vista energético. Reação: N2 + 3 H2 ---> 2 NH3 A fixação biológica do N2 ocorre graças a uma enzima, denominada nitrogenase, presente apenas em alguns organismos procariontes. Do ponto de vista energético, ela também é dispendiosa para o organismo que a realiza . No entanto, devido a presença de um sistema enzimático, a reação pode ocorrer à temperatura ambiente e pressão atmosférica. Reação: N2 + 16 ATP + 8 e - + 8H+ ---> 2 NH3 + H2 + 16 ADP + 16 Pi. (onde e- simboliza elétron e Pi simboliza o fosfato inorgânico). II- CICLO DO NITROGÊNIO Cerca de 10% do nitrogênio atmosférico que é trazido para o solo, sob a forma de NO3 - ou NH4 +, foi convertido a tais formas iônicas através de três processos diferentes (Fig.1). • Os resíduos da combustão industrial, a atividade vulcânica e a queima de florestas liberam compostos gasosos na atmosfera. Dentre eles está a amônia, que em contato com a água da chuva é convertida em íon NH4 + e acaba por atingir o solo. • Pode ocorrer a oxidação do N2, tanto pelo O2 como pelo O3, na presença de energia de raios ou radiação ultravioleta. Assim, alguns óxidos de nitrogênio são formados e originam o NO3 - quando em contato com a chuva, sendo transportados para o solo. • Os oceanos lançam aerossóis no ar. Quando a água desses aerossóis evapora, os sais permanecem em suspensão e são levados ao sabor dos ventos. Com as chuvas, alguns desses sais podem ser depositados na terra como ocorre com o NO3 -. Esses processo recebe o nome de "sais cíclicos" porque, normalmente, os sais são depositados em terras da faixa costeira, retornando à sua origem, o mar. Além disso, o N2 pode ser fixado pela indústria (processo de Haber-Bosch) ou por organismos procariontes (fixação biológica) como visto anteriormente (Fig.1). O processo industrial contribui com cerca de 15% do nitrogênio atmosférico colocado no solo, enquanto que o processo biológico se encarrega de obter os 75% restantes. Portanto, a fixação biológica é de suma importância para a nutrição nitrogenada dos solos. A matéria orgânica também é fonte de nitrogênio para o solo. Nela, o nitrogênio está insolúvel, mas graças a atuação de organismos decompositores (fungos e bactérias) ele é convertido em NH4 + , no processo conhecido como amonificação (Fig.1). FIGURA 1: Ciclo do nitrogênio (adaptado de Salisbury & Ross, 1992). Ainda considerando o ciclo do nitrogênio, é importante lembrar que o NH4 + presente nos solos é, freqüentemente, convertido a NO3 - (Fig.1). O processo, conhecido pelo nome de nitrificação, ocorre em duas etapas e conta com a atuação de bactérias nitrificantes. Inicialmente, o NH4 + é convertido a NO2 - (nitrito) pela ação de bactérias do gênero Nitrosomonas. Em seguida, o NO2 - é convertido a NO3 - a graças a bactérias Nitrobacter. Fechando o ciclo do nitrogênio, observamos que o nutriente pode ser perdido do solo (Fig.1). Perdas são devidas à lixiviação ou à desnitrificação. III- ORGANISMOS FIXADORES DE NITROGÊNIO A fixação biológica do nitrogênio é realizada por determinados procariontes, denominados organismos fixadores de nitrogênio, que possuem a enzima nitrogenase. Os organismos fixadores podem ser de vida livre (Tab.1) ou viver em associações (Tab. 2). TABELA 1: Exemplos de organismos de vida livre fixadores de nitrogênio. Bactérias Autotróficas - Thiobacillus ferrooxidans - Rhodospirillum rubrum - Gloeothece, Oscillatoria, Plectonema, Anabaena, Nostoc Bactérias Heterotróficas - Clostridium pasteurianum - Klebsiella pneumoniae - Azotobacter vinelandii Fonte: adaptado de Smith & Gallon, 1993. A fixação de nitrogênio efetuada pelos organismos de vida livre está estimada em menos de 5 kg/ha/ano. Nesse grupo encontram-se bactérias autotróficas e heterotróficas, as quais distinguem-se quanto à eficiência do processo de fixação. Destacam-se as cianobactérias ou cianofíceas (Gloeothece, Oscillatoria, Plectonema, Anabaena, Nostoc) que realizam a fotossíntese de uma maneira muito semelhante aos vegetais superiores, havendo a liberação de O2 e, a bactéria Klebsiella pneumoniae, na qual foram identificados e estudados os primeiros genes nif. TABELA 2: Exemplos de organismos fixadores de nitrogênio que formam associações. Azorhizobium, Bradyrhizobium, Rhizobium Papilionoideae, Caesalpinioideae, Mimosoideae e Parasponia (Ulmaceae) Actinomycetales Frankia Plantas Actinorrizas Elaeagnus, Myrica, Alnus, Casuarina Cianobactérias Anabaena, Nostoc Angiospermas (Gunnera), Gimnospermas (Macrozamia), Pteridófitas (Azolla), Briófitas (Sphagnum), Diatomáceas (Rhizosolenia), Fungos (liquens) e Esponjas (Siphonochalina) Azospirillum Beijirinckia Bacillus Azotobacter Gramíneas Fonte: adaptado de Gibson, 1990 e de Smith & Gallon, 1993). As associações entre organismos fixadores e eucariontes serão estudadas a seguir. A relação Rhizobiaceae-leguminosas é a mais conhecida e talvez a mais importante das associações. Por esse motivo, será analisada ao final e mais minuciosamente. IV- Frankia E AS PLANTAS ACTINORRIZAS A bactéria filamentosa do gênero Frankia associa-se com plantas de 20 gêneros diferentes, pertencentes a 9 famílias vegetais. Em conseqüência, durante muito tempo acreditou-se que essa bactéria fosse a mais promíscua dentre os organismos fixadores que realizam associações . Essa visão tende a ser modificada, uma vez que estudos filogenéticos recentes têm mostrado a existência de uma grande proximidade entre as 9 famílias em questão. As plantas hospedeiras são chamadas de actinorrizas e os exemplos mais comuns são as arbóreas, não leguminosas, como o pinheiro australiano (Casuarina) e membros da família Rosaceae. A bactéria habita o solo, vivendo saprofiticamente enquanto em liberdade. Ao encontrar uma planta hospedeira, ela penetra suas raízes para formar os nódulos, no interior dos quais passará a fixar o nitrogênio atmosférico. Nessa simbiose, as plantas fornecem os produtos da fotossíntese, enquanto as bactérias fornecem o nitrogênio fixado (sob a forma de NH4 +). Os nódulos radiculares são constituídos de hifas vegetativas alongadas e vesículas septadas fixadoras de nitrogênio. As vesículasestão envolvidas por um envelope lipídico que tem a função de proteger contra a inibição causada pelo O2 . V- CIANOBACTÉRIAS E SUAS ASSOCIAÇÕES Embora muitos gêneros de cianobactérias sejam organismos fixadores de vida livre, os gêneros Anabaena e Nostoc podem ser encontrados em associações com eucariontes pertencentes a diferentes Reinos. Uma união bastante conhecida é a da Anabaena com a pteridófita aquática Azolla. Na Ásia, o cultivo do arroz costuma ser feito em consórcio com o de Azolla para garantir a nutrição nitrogenada das plantas. Tanto as formas de vida livre como as associadas fixam nitrogênio somente quando o ambiente é pobre em nutrientes nitrogenados. As cianobactérias que formam associação podem invadir os tecidos do hospedeiro eucarionte ou As cianobactérias que formam associação podem invadir os tecidos do hospedeiro eucarionte ou permanecerem externamente localizadas. Para contornar os efeitos inibitórios do excesso de O2 as cianobactérias adotaram estratégias muito interessantes e eficazes: • as formas unicelulares realizam uma separação temporal da fotossíntese (fonte de O2) e da fixação de nitrogênio. Assim, a fotossíntese ocorre durante o período luminoso, acumulando reservas de carbono e, a fixação de nitrogênio ocorre durante o período escuro. Há exceções como observado no gênero Gloeothece, que realiza a fixação de nitrogênio mesmo na presença de luz, juntamente com a fotossíntese. Nesse caso, é necessário o desenvolvimento de pesquisas que possam elucidar quais mecanismos possibilitam a ocorrência simultânea de ambos os processos. • as formas filamentosas, como Anabaena e Nostoc, realizam uma separação espacial da fotossíntese e da fixação do nitrogênio. Ao longo do filamento encontram-se células vegetativas normais e células especializadas na fixação de nitrogênio, os heterocistos . As células normais possuem a função de realizar a fotossíntese e suprir as necessidades de energia dos heterocistos. Esses, por sua vez, fixam o nitrogênio e fornecem os produtos nitrogenados para as demais células do filamento. VI- A SIMBIOSE COM AS GRAMÍNEAS Algumas gramíneas de interesse econômico, como milho, arroz e trigo, podem estar associadas com bactérias do gênero Azospirillum. Outros exemplos importantes seriam a associação de bactérias do gênero Beijirinckia com cana-de-açúcar, Azotobacter paspali com a grama batatais (Paspalum notatum) e determinados cultivares de trigo com espécies do gênero Bacillus. Nessa simbiose não ocorre, aparentemente, a invasão dos tecidos vegetais pela bactéria e nem a formação de uma estrutura especializada para a fixação do nitrogênio (não há formação de nódulos, por exemplo). Os produtos da fotossíntese são liberados pela planta, sendo absorvidos pelas bactérias que habitam a rizosfera. As bactérias fixam o nitrogênio e transferem o NH4 + para a planta. Trabalhos realizados com trigo em associação com Azospirillum evidenciaram que as bactérias ligam-se à superfície externa da raiz para colonizar a rizosfera. Além disso, certos estudos realizados com aplicação de 15N2 (nitrogênio atmosférico radioativo) demonstraram que ocorre a passagem de produtos nitrogenados da bactéria para a planta. Esses dados confirmam a existência de uma interação estreita entre planta e bactéria fixadora. VII- FIXAÇÃO SIMBIÓTICA DE NITROGÊNIO EM LEGUMINOSAS Os efeitos benéficos promovidos pelo crescimento de plantas leguminosas no solo têm sido observados por séculos. Teofrasto, que viveu no terceiro século a.C., escreveu que os gregos usavam a fava (Vicia faba) para enriquecer os solos. Já no século passado, em 1818, Sir Humphrey Davy escreveu no "Agricultural Chemistry" que ervilhas e feijões pareciam preparar a terra para o plantio do trigo e, que o nitrogênio (chamado azoto) existente na matéria das duas leguminosas parecia derivar da atmosfera. De fato, em locais no quais plantas leguminosas crescem, algum nitrogênio extra pode ser liberado no solo, tornando-se disponível para outros vegetais. Na agricultura moderna, é prática comum fazer a rotação de uma planta cultivada não leguminosa, como o milho, com uma leguminosa, como a alfafa. Por vezes utiliza-se a rotação milho, soja e então trigo. Quando as leguminosas são colhidas, suas raízes ricas em nitrogênio permanecem no solo, enriquecendo-o. O papel dos microrganismos na fixação biológica do nitrogênio atmosférico, responsável por essas antigas e freqüentes observações, foi descoberto por H. Helbuegel e H. Wilfarth em 1888. gênero Azorhizobium com o gênero Sesbania, Bradyrhizobium japonicum com Glycine max (soja), Rhizobium meliloti com Medicago sativa (alfafa), Rhizobium leguminosarum biovar viciae com Vicia faba e com Pisum sativum (ervilha) e, Rhizobium leguminosarum biovar phaseoli com Phaseolus vulgaris (feijão). As bactérias vivem saprofiticamente no solo quando em liberdade. A presença de uma planta hospedeira é percebida por sinais químicos, principalmente pelos flavonóides liberados pelas raízes. Devido à ação dos flavonóides, as bactérias são atraídas em direção às raízes, por um quimiotactismo positivo e, produzem um composto denominado Fator NOD (fator de nodulação). O Fator NOD é responsável, entre outras coisas, pelo reconhecimento entre bactéria e planta hospedeira e pela indução de uma intensa divisão celular na córtex da raiz. As bactérias colonizam a rizosfera, multiplicando-se ao redor dos tricomas (pêlos) radiculares. Os tricomas enrolam-se, envolvendo grupos de bactérias (Fig. 2 e 3). Em seguida, as bactérias degradam uma porção da parede celular do tricoma e a plasmalema começa a se invaginar. As bactérias invadem o tricoma, utilizando o canal formado pela invaginação da plasmalema, originando o cordão de infecção. O cordão de infecção cresce em direção às células em divisão na córtex da raiz. No interior do cordão, as bactérias continuam se multiplicando (Fig. 2 e 3). FIGURA 2: Início da formação de nódulo radicular em uma planta leguminosa. A região da córtex da raiz, com intensa divisão celular, recebe o nome de nódulo primário. Ao chegar nas proximidades do nódulo primário, o cordão de infecção se ramifica para invadir as células vegetais (Fig. 2 e 3). Pequenos grupos de bactérias, contidas no interior de vesículas membranosas, são liberados dentro do citoplasma das células vegetais do nódulo primário. Dessa maneira, o citoplasma da célula invadida conterá vários grupos de bactérias, individualizados por uma membrana derivada da membrana do cordão de infecção. A partir desse início de estabelecimento do nódulo radicular, as bactérias, que se encontram dentro das células radiculares hospedeiras, param de se multiplicar, aumentam de tamanho e sofrem várias alterações bioquímicas para se transformarem em bactérias especializadas na fixação de nitrogênio, os bacterióides. FIGURA 3: Desenvolvimento de nódulo radicular em alfafa. Para diferenciar as duas fases da vida desses microrganismos, convencionou-se que o nome bactéria seria utilizado enquanto não ocorressem as transformações bioquímicas que iniciam o processo de fixação de nitrogênio. Portanto, quando os microrganismos passam a fixar nitrogênio são chamados de bacterióides. Os nódulos radiculares desenvolvidos possuem uma organização própria de tecidos (Fig. 3). Eles apresentam um meristema responsável pela formação das células da região de invasão , uma região central e conexões vasculares com o xilema do cilindro central da raiz. Envolvendo e delimitando toda essa estrutura está o parênquima do nódulo. As células das raízes da planta, bem como os próprios bacterióides, precisam de O2 para a respiração celular . As estratégias desenvolvidas para evitar o excesso de O2 nos nódulos radiculares, prevenindo contra a conseqüente inibição da nitrogenase, foram duas: • estratégiaanatômica: o parênquima do nódulo funciona como uma barreira de difusão do O2. Os espaços intercelulares são pequenos e pouco numerosos, podendo ser preenchidos com água. Logo, a entrada de O2 no interior do nódulo é muito dificultada. • estratégia bioquímica: as células vegetais da região central do nódulo produzem a leghemoglobina (hemoglobina das leguminosas). Essa molécula é um carregador de O2, que garante que os bacterióides recebam o O2 necessário para sua respiração, evitando que o gás circule livremente no nódulo. VIII- A NITROGENASE E A REAÇÃO DE FIXAÇÃO DE NITROGÊNIO A reação de fixação do nitrogênio caracteriza-se pela redução do N2 à NH3. Portanto, para que a reação ocorra, é necessário que haja um transporte de elétrons, mediado por moléculas aptas a realizá-lo. A enzima nitrogenase é formada por duas unidades protéicas, a Ferro-proteína (Fe-proteína) e a Molibdênio-Ferro-proteína (MoFe-proteína), ambas capazes de transportar elétrons. Durante a reação de redução do N2, a nitrogenase é auxiliada por uma terceira molécula transportadora de elétrons, a ferridoxina (Fig. 4). FIGURA 4: Modelo da reação de fixação do nitrogênio, mediada pela enzima nitrogenase. O modelo proposto para a evolução da reação pode ser entendido do seguinte modo: • a ferridoxina, na sua forma reduzida , transfere um elétron para a unidade Fe-proteína da nitrogenase. • a Fe-proteína, então reduzida, doa o elétron recebido para a MoFe-proteína. • a MoFe-proteína acumula os elétrons. Após 8 transferências, essa unidade terá acumulado 8 elétrons e, então, fará a redução do N2 à NH3. • para cada elétron transferido da Fe-proteína para a MoFe-proteína são consumidos 2 ATPs. Para reduzir uma molécula de N2 são necessários 8 elétrons e, portanto, 16 ATPs. Como conseqüência da reação de fixação, para cada molécula de N2 fixada é produzida uma molécula de H2. A produção do H2 durante o processo é inevitável e acaba por consumir parte dos elétrons que poderia ser utilizada na fixação de N2. O H2, devido a sua natureza gasosa, é perdido para a atmosfera. No entanto, determinados organismos fixadores possuem uma enzima, a hidrogenase, que oxida o H2 antes que ele seja perdido, formando H2O e ATP. O ATP gerado pode ser utilizado para a fixação de nitrogênio. Logo, as bactérias portadoras da hidrogenase são menos prejudicadas e, até mesmo, mais eficientes na fixação do nitrogênio porque possuem uma fonte adicional de ATP. IX- GENES ENVOLVIDOS NA FIXAÇÃO BIOLÓGICA DO NITROGÊNIO Organismos fixadores de vida livre Os primeiros genes envolvidos na fixação do nitrogênio foram identificados e estudados utilizando-se a bactéria Klebsiella pneumoniae. São conhecidos cerca de 20 genes, denominados genes nif. Eles são responsáveis pela produção da nitrogenase e pela produção de moléculas que regulam o processo, como a própria ferridoxina. Organismos fixadores que formam associações Como base para os estudos da genética da fixação de nitrogênio nas associações têm sido utilizadas as bactérias da família Rhizobiaceae, com destaque para o gênero Rhizobium. Sabe-se que as bactérias fixadoras simbiontes possuem dois grupos distintos de genes: nif e fix. Os genes nif, aparentemente estão envolvidos com a síntese da nitrogenase, enquanto os fix produzem as moléculas que regulam o processo de fixação. Por exemplo, sabe-se que o gene fix X codifica a ferridoxina nessas bactérias. No processo da formação de nódulos em plantas leguminosas, induzidos por bactérias Rhizobiaceae, mais dois grupos de genes são considerados: nod e NOD. Os genes nod (nodulação) são encontrados na bactéria, sendo responsáveis pela produção da proteína que recebe o sinal químico da planta hospedeira (os flavonóides) e pela produção das enzimas que sintetizam o fator de nodulação. Os genes NOD são encontrados na planta leguminosa, sendo responsáveis pela síntese de proteínas denominadas nodulinas. As nodulinas desempenham papel importante na formação e manutenção do nódulo radicular. O exemplo mais conhecido de nodulina é a leghemoglobina, produzida pelas células vegetais da região central do nódulo. X-ASSIMILAÇÃO DO NITROGÊNIO Assimilação do NH4 + produzido nos nódulos A fixação do nitrogênio atmosférico dá origem à amônia (NH3), que em contato com o substrato aquoso do citoplasma dos bacterióides é convertida, rapidamente, em íon amônio (NH4 +). O NH4 + inibe a fixação do nitrogênio, não podendo acumular-se no interior dos bacterióides. Assim, logo depois de ser formado, ele é retirado dos bacterióides, atingindo o citoplasma da célula vegetal hospedeira, célula da região central do nódulo radicular (Fig. 5). FIGURA 5: Assimilação do NH4 + produzido na fixação do N2 nos nódulos radiculares de leguminosas. Para as células vegetais, o NH4 + também é prejudicial, promovendo a dissociação entre a formação de ATP e o transporte de elétrons na respiração e na fotossíntese. Logo, o NH4 + que atinge o citoplasma das células vegetais da região central do nódulo precisa ser assimilado em moléculas que não possuem efeito tóxico. Duas enzimas, a glutamina sintetase (GS) e a glutamato sintase (GOGAT), são responsáveis pela conversão do NH4 + em aminoácidos. Os aminoácidos gerados pela ação dessas enzimas são a glutamina e o glutamato. Sabe-se que leguminosas de origem temperada (ex. ervilha), normalmente, sintetizam um terceiro tipo aminoácido, a asparagina, que será utilizado para a exportação de nitrogênio para o restante da planta (através das conexões vasculares que unem o nódulo ao xilema do cilindro central da raiz). Da mesma forma, as leguminosas de origem tropical (ex. soja), freqüentemente, produzem ureídeos para a exportação do nitrogênio ao longo do organismo vegetal (Fig. 5). Assimilação do NH4 + absorvido do solo pelas raízes As plantas que não encontram-se associadas às bactérias fixadoras de nitrogênio precisam absorvê-lo a partir do solo. Alguns vegetais adquirem o nitrogênio sob a forma de NH4 +. Como já mencionado, o NH4 + é tóxico para as plantas. Assim, logo que é absorvido pelas raízes, esse íon é assimilado pelas enzimas GS e GOGAT, formando os aminoácidos glutamina e glutamato. Nas plantas não leguminosas, é principalmente sob a forma de glutamina que o nitrogênio é exportado para os órgãos vegetais, a fim de ser incorporado nas moléculas nitrogenadas. Assimilação do NO3 - absorvido do solo pelas raízes A maioria das plantas que não realizam associação com organismos fixadores, absorvem o nitrogênio do solo sob a forma de nitrato (NO3 -). A assimilação do NO3 - é um processo de redução, que culmina com a formação de NH4 +, no qual duas enzimas estão envolvidas: a nitrato redutase (enzima citoplasmática) e a nitrito redutase (enzima existente nos plastídeos ou cloroplastos ). Inicialmente, o NO3 - é reduzido a nitrito (NO2 - ) pela ação da nitrato redutase e, em seguida, esse é reduzido a NH4 + pela ação da nitrito redutase. Uma vez produzido o NH4 +, este será assimilado pelas enzimas GS e GOGAT, como visto para as plantas não leguminosas. O processo de assimilação do NO3 - pode ocorrer nas próprias raízes que o absorveram ou nas folhas. Aparentemente, um fator importante que controla em que local será a assimilação é o conteúdo de NO3 - no solo. Quando o nutriente está escasso no solo, ele é assimilado preferencialmente nas raízes; quando está abundante, nas folhas. XI- BIBLIOGRAFIA BÁSICA 1. HOPKINS, W. G. Introduction to plant physiology. New York, John Wiley & Sons, 1995. 464 p. 2. RAVEN, P. H.; EVERT, R. F. & EICHHORN, S. E. Biologia Vegetal. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1996. 728 p. 3. SALISBURY, F. B. & ROSS, C. W. Plant physiology. Belmont, Wadsworth Publ. Co, 1991. 682 p. XII-BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICA 1. BARON, C. & ZAMBRYSKI, P. C. Notes from the underground: highlights from plant-microbe interactions. Trends Biotechnol., 13: 356-361, 1995. 2. FOSKET, D. E. Plant growth and development: a molecular approach. Academic Press, 1994, 580 p. 3. GLICK, B. R. & PASTERNAK, J.J. Molecular biotechnology : principles and applications of recombinant DNA. Washington, D.C., ASM Press, 1994. 4. MYLONA, P.; PAWLOWSKI, K. & BISSELING, T. Symbiotic nitrogen fixation. The Plant Cell, 7:869-885, 1995. 5. LEA, P. J. & LEEGOOD, R. C. (Ed.). Plant biochemistry and molecular biology. John Wiley & Sons, 1993. I- INTRODUÇÃO II- CICLO DO NITROGÊNIO III- ORGANISMOS FIXADORES DE NITROGÊNIO IV- Frankia E AS PLANTAS ACTINORRIZAS V- CIANOBACTÉRIAS E SUAS ASSOCIAÇÕES VI- A SIMBIOSE COM AS GRAMÍNEAS VII- FIXAÇÃO SIMBIÓTICA DE NITROGÊNIO EM LEGUMINOSAS VIII- A NITROGENASE E A REAÇÃO DE FIXAÇÃO DE NITROGÊNIO IX- GENES ENVOLVIDOS NA FIXAÇÃO BIOLÓGICA DO NITROGÊNIO X-ASSIMILAÇÃO DO NITROGÊNIO XI- BIBLIOGRAFIA BÁSICA XII- BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICA
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