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LARA BRITO DE MENEZES SISTEMA NACIONAL DE ECONOMIA POLÍTICA – Friedrich List Capítulo XI: Economia Política e Economia Cosmopolítica 1) Economia Política x Economia Cosmopolítica Antes de Quesnay e dos economistas franceses existia apenas a prática da Economia Política, sem analisar as causas da riqueza ou levar em consideração os interesses de toda a humanidade. Dele surgiu a ideia do comércio universal (“os comerciantes de todas as nações formam uma única república comercial” P. 89) e foi o primeiro a estender as investigações econômicas à humanidade inteira, desconsiderando a existência da NAÇÃO. Enquanto a economia política doutrina como determinada nação pode obter a prosperidade, a civilização e o poder nas condições vigentes do mundo por meio da agricultura e do comércio, a cosmopolítica se preocupa em investigar como toda a humanidade pode chegar a isso. “A economia nacional é a ciência que, avaliando corretamente os interesses existentes e as circunstâncias específicas das nações, ensina como cada nação individual pode chegar àquele estágio de desenvolvimento no qual a união com outras nações igualmente desenvolvidas e consequentemente a liberdade de comércio...” P. 93-94 Adam Smith, como Quesnay, pouco se preocupa com a verdadeira Economia Política. A ideia de uma paz perpétua fundamenta os seus argumentos, sendo a guerra apenas um incidente. Demonstra, em sua obra, a ineficácia da Economia Política (ou Nacional) para expor a necessidade de substituí-la pela Economia Mundial. Say, ao denominar, em seus estudos, a economia cosmopolítica como política, dispensa a explicação de como poderia a raça humana, dividida por nacionalidades, culturas e religiões distintas, assumir uma postura econômica de intenção global, quais mudanças seriam necessárias. List claramente discorda dessa inversão. 2) Nação e humanidade A escola cosmopolítica comete o erro de considerar como já existente a união universal e a paz perpétua, ignorando a natureza das nacionalidades, seus interesses e condições específicas. Friedrich era defensor do nacionalismo econômico. Na unidade de pensamento da escola popular (cosmopolita), a nação impede a integração completa e freia os ganhos gerais. Portanto, para os liberalistas HUMANIDADE > NAÇÃO. 3) Resultado da liberdade geral do comércio seria uma sujeição total das nações menos adiantadas List se posiciona contra a união comercial. A liberdade geral do comércio não formaria uma república universal, mas uma sujeição total das nações menos desenvolvidas à supremacia da potência industrial, comercial e naval (no contexto de Friedrich, a Inglaterra, e, como cidadão alemão, isso o preocupa). A república universal só é passível de existir em uma realidade em que um grande número de nações apresenta níveis de desenvolvimento econômico, político e cultural bem semelhante. PARA OS LIBERAIS: Inglaterra e o mundo estão seguindo mesmo caminho e no mesmo passo, cada um se especializando no que é melhor. Adam Smith: expõe que há necessidade de adaptação e ajuste. PARA LIST: não estão “jogando igual”; a Inglaterra está à frente. Rejeita o liberalismo estático que se resume à especialização. Defende o desenvolvimento que promove mudança, avanço e crescimento. 4) Sistema protecionista, igualdade e livre comércio Defende o protecionismo como o único sistema que pode levar as “nações atrasadas” ao mesmo patamar da predominante. “Para permitir à liberdade de comércio operar naturalmente, as nações menos adiantadas devem primeiro, por medidas artificiais, ser levadas ao estado de cultura ao qual foi levada artificialmente a nação inglesa.” P. 96 Havendo a igualdade no desenvolvimento, a República Universal torna-se uma possibilidade mais real e justa e abre espaço para o livre comércio. O PROCESSO: “Em primeiro lugar, excluindo a gradualmente artigos manufaturados estrangeiros de nossos mercados, surgiria nas nações estrangeiras um excedente de mão-de-obra, de talentos e de capital, que precisaria procurar emprego no exterior; em segundo lugar, [...] esse excedente de força produtiva seria induzido a encontrar emprego em nosso país, ao invés de emigrar para países distantes ou para as colônias”, dessa forma, pode-se aumentar a produtividade interna, renda, caracterizando o desenvolvimento da nação em questão. P. 96 CAPÍTULO XIV: Economia Priva e Economia Nacional 1) Crítica à redução feita por Smith da nação e ao indivíduo A escola popular, que começou ignorando os princípios da nacionalidade e dos interesses nacionais, ao final chega ao ponto de negar sumariamente a sua existência, deixando que os indivíduos defendam os interesses da nação como puderem, recorrendo simplesmente a suas forças individuais. Adam Smith: “Os indivíduos como meros produtores e consumidores, não como cidadãos de um Estado ou membros de uma nação.” P. 121 “É evidente que cada indivíduo, na medida em que melhor conhece suas circunstâncias locais e está mais atento à sua ocupação, tem muito mais capacidade de julgar qual a melhor maneira de investir seu capital rendosamente, do que poderia fazê-lo o estadista ou legislador.” P. 115 Friedrich List: “A verdade é outra. Na economia nacional, pode ser sabedoria o que é absurdo na economia privada, e vice-versa. Tampouco pode-se pensar que o indivíduo, simplesmente por ser quem melhor conhece seus próprios interesses e melhor os defende, promoverá sempre os interesses da comunidade, se o abandonarmos a si mesmo.” P. 117 “Em um sem-números de casos o poder do Estado é obrigado a impor restrições à atividade privada.” P.117 o “A escola retorquirá que os casos por nós mencionados se referem a prejuízos ilegais contra a propriedade e às pessoas. O Estado não tem direito algum de colocar restrições. Naturalmente que não, enquanto tais atos e atividades permanecerem inofensivos e úteis; Todavia aquilo que em si mesmo é inofensivo e útil no comércio geral com o mundo pode tornar-se perigoso e prejudicial no comércio interno, e vice- versa.” “Com as proibições e as taxas protecionistas, o Estado não orienta os indivíduos sobre como empregar suas forças produtivas e seu capital (como alega sofisticamente a escola popular). O Estado deixa a critério de cada indivíduo como e onde investir seu capital.” P. 117-118 “O Estado não faz uma coisa que seus cidadãos individuais poderiam compreender e saber fazer melhor que ele; pelo contrário, faz algo que os indivíduos como tais não seriam capazes de fazer, mesmo que soubessem fazê-lo.” P. 118 2) Vantagem do protecionismo: cada indivíduo da nação pode participar dos lucros do mercado interno. A escola cosmopolita alega que o sistema protecionista gera interferências injustas e antieconômicas, por parte do Estado, contra o emprego do capital e do trabalho dos indivíduos particulares. Mas esse argumento se mostra fraco quando Friedrich considera que são os regulamentos comerciais estrangeiros que se criam as práticas de proteção econômica, é por meio delas que o país se defende contra as operações nocivas da política comercial estrangeira. A escola popular sustenta que as taxas protecionistas asseguram às manufaturas nacionais um monopólio que gera desvantagem aos consumidores do país, no entanto, “cada indivíduo da nação tem liberdade de participar dos lucros do mercado interno, isso não constitui de forma alguma um monopólio privado, mas um privilégio assegurado a todos os nossos compatriotas” (P.119).3) Aumento das forças produtivas da nação O objetivo não é aumentar os valores de troca da nação, mas a quantidade de forças produtivas. “A soma das forças produtivas da nação não é a mesma coisa que a soma das forças produtivas de todos os indivíduos [...] a soma total dessas forças produtivas está em função sobretudo das condições sociais e políticas.” P. 119 4) A escola popular enfoca a prosperidade da humanidade “O sistema defendido pela escola popular sempre considera apenas indivíduos que mantêm intercâmbio entre eles sem nenhuma restrição ou limitação, supondo-se que deixe a cada um perseguir seus interesses particulares de acordo com suas próprias inclinações naturais. É evidente que isso não constitui um sistema de economia nacional, mas um sistema da economia privada da humanidade como tal, como essa economia se constituiria, caso não houvesse interferência de nenhum Governo, não houvesse guerras, nem restrições alfandegárias hostis por parte de nações estrangeiras.” P. 119 Não apresenta, contudo, os meios para que se valorizem as forças naturais pertencentes à determinada nação, quais ações devem ser conduzidas para que uma nação pobre e fraca se torne próspera e poderosa. Isso ocorre porque a escola ignora totalmente a política e as condições específicas da nação, levando em conta exclusivamente a prosperidade da humanidade, não das nações individuais. 5) Atividade privada e bem-estar da nação “Sob o pretexto do bem-estar da humanidade, tenta-se inculcar a crença de que as exportações sempre se equilibram espontaneamente pelas importações.” P. 120 Os liberais não reconhecem nenhuma distinção entre as nações que atingiram um estágio superior de desenvolvimento econômico e as que ainda estão em estágio inferior de evolução. A todo o momento procura excluir a ação do Estado e afirma que o indivíduo é capaz de produzir mais quanto menos o Estado interfere. Porém, sendo essa afirmação verdadeira, as nações que, no contexto de List, eram denominadas “selvagens” deveriam se destacar como as mais prósperas e produtivas do mundo, pois nela os indivíduos gozam de grandessíssima liberdade individual e ação do Estado é menos perceptível do que em qualquer território que o conhecimento do autor abrangia. A necessidade de intervenção legislativa e administrativa cresce quanto mais se desenvolve a economia do país. “Assim como a liberdade individual é boa até onde começa a contrariar aos interesses da sociedade. A atividade privada só pode exigir o direito de não sofrer restrições na medida em que não entrar em conflito com o bem-estar da nação." P. 120 "Enquanto outras nações continuarem a subordinar os interesses da humanidade como um todo aos seus interesses nacionais, é loucura falar de livre concorrência entre os indivíduos de nações diferentes." p 120 CAPITULO XV - A nacionalidade e a economia da nação 1) Entre o indivíduo e a humanidade existe a nação O sistema defendido pela escola apresenta três falhas: 1) cosmopolitismo ilimitado (não reconhece o princípio de nacionalidade), 2) o materialismo mortal (considera o simples valor de troca das coisas sem julgar os interesses que circundam a prática) e 3) particularismo e individualismo (que consideram a atividade privada somente como se desenvolveriam em um estado de livre intercâmbio com a humanidade inteira). Entre cada indivíduo e a humanidade inteira, no entanto, existe a nação, com sua língua e literatura específicas, com sua origem e história, com suas maneiras e costumes, leis e instituições e todos esses elementos pedem por autonomia, aperfeiçoamento e continuidade. 2) A nação só pode manter sua existência própria e sua autonomia por meio de sua própria força e seus próprios recursos. complementar ao 1 Cada nação tem o seu território específico. Nele está inserida uma sociedade unida por milhares de vínculos intelectuais e de interesses que, em seu caráter de unidade, opõe-se a outras sociedades semelhantes no que diz respeito à sua liberdade nacional. Por conseguinte, nas atuais condições do mundo, só pode manter sua existência própria e sua autonomia por meio de sua própria força e de seus próprios recursos. Assim como o indivíduo adquire sobretudo por meio da nação e dentro da nação a cultura, capacidade de produção, segurança e prosperidade, o processo de civilização humana só pode ocorrer mediante civilização e desenvolvimento das diversas nações. 3) Definição: constitui tarefa da economia política realizar o desenvolvimento econômico da nação. “É tarefa da política civilizar as nações bárbaras, transformas as nações pequenas e fracas em nações grandes e fortes, e, sobretudo, garantir-lhes a existência e a continuidade. Constitui tarefa Economia Política realizar o desenvolvimento econômico da nação e prepará-la para ser admitida na sociedade universal do futuro.” P. 124 “Sua Constituição, suas leis e instituições devem proporcionar aos seus habitantes um alto grau de segurança e liberdade,devendo promover a religião, a moralidade e a prosperidade.” P.124 “Toda essa infra-estrutura da nação deve ter por objetivo o bem-estar de seus cidadãos.” P. 124 4) Estágios de desenvolvimento econômico: barbárie inicial, estágio pastoral, estágio agrícola, estágio agromanufatureiro, e estágio agromanufatureiro comercial. No tocante à economia as nações devem passar pelos seguintes estágios de desenvolvimento: BARBÁRIE INICIAL, ESTÁGIO PASTORIL, estágio AGRÍCOLA, estágio AGROMANUFATUREIRO e estágio AGROMANUFATUREIRO-COMERCIAL. A transição do estado de barbárie para o estágio pastoril, deste para o agrícola e da agricultura para os primeiros inícios da manufatura e da navegação se inicia com maior rapidez e com maiores vantagens pelo livre cambismo com cidades e países mais evoluídos. Quanto menos desenvolvida a agricultura no país, mais seu comércio exterior dependerá da oportunidade de trocar seus excedentes por artigos manufaturados estrangeiros. Quanto mais mergulhada na barbárie, tanto mais o livre cambismo promoverá sua prosperidade e sua civilização. (a questão do país pequeno dependente do comércio exterior que o professor citou em aula de outro autor) Quanto mais desenvolvida a agricultura, as condições industriais, sociais políticas e municipais de uma nação, menos vantagem haverá no intercâmbio de seus produtos primários por manufaturas estrangeiras e será muito mais desvantajosa a política de livre câmbio, pois essa cria uma forte concorrência manufatureira em seu país e prejudica a sua indústria nacional. (questão do país de economia grande abordada na mesma aula do tópico acima) 5) Só se pode atingir uma atividade manufatureira perfeitamente desenvolvida com a intervenção do poder do estado. complementar à 4 “A mesma história demonstra, porém, que só se pode atingir uma atividade manufatureira perfeitamente desenvolvida, uma importante marinha mercante e um comércio exterior em larga escala, mediante a intervenção do poder do Estado.” P. 125 6) A proteção se justifica até a manufatura doméstica poder competir com a estrangeira Somente no caso da última descrição – nações que possuem todas as condições e meios que favorecem a manufatura própria, mas têm seu progresso retardado pela concorrência de uma potência manufatureira estrangeira – justifica-se a imposição de restrições comerciais para que se possa estabelecer e proteger a força manufatureira nacional. O protecionismo aqui, no entanto, só é justificável até que a força manufatureira seja suficientemente forte para nãomais ser ameaçada pela concorrência estrangeira. “Somente os setores mais importantes requerem proteção especial – os que exigem alto capital para implantação e administração, muita maquinaria...” P.126 7) Dependência e vulnerabilidade das nações agrícolas em relação às agromanufatureiras comerciais. “Uma nação puramente agrícola jamais conseguirá desenvolver notavelmente seu próprio comércio exterior, seus meios de transporte interno, sua navegação internacional, aumentar sua população na devida proporção a seu bem-estar ou fazer progresso notável em seu desenvolvimento moral, intelectual, social e político: nunca conseguirá adquirir um poder político importante nem estar em condições de influenciar o desenvolvimento e o progresso de nações menos desenvolvidas e estabelecer colônias próprias. Um Estado puramente agrícola é uma instituição infinitamente menos perfeita que um Estado agromanufatureiro. Um Estado meramente agrícola será, do ponto de vista econômico e político, sempre dependente dos países estrangeiros que recebem seus produtos agrícolas em troca de bens manufaturados. Tal nação não conseguirá determinar quanto deve produzir, devendo sempre esperar e verificar quanto os outros desejarão comprar.” P. 126 8) Guerra, comércio e produção de manufaturas Guerra e comércio: “As guerras acarretam efeitos perniciosos para as relações comerciais entre uma relação e outra. Em virtude da guerra, o agricultor de um país está forçosamente isolado do manufator que vive em outro país. Todavia, enquanto o manufator (sobretudo se pertence a uma nação que tem poderio naval e bom comércio) prontamente encontra compensação por parte dos agricultores de seu próprio país ou por parte dos agricultores de outros países agrícolas acessíveis, o habitante de uma país sofre duplamente pela interrupção desse intercâmbio.” P. 127 Produção de manufaturas: DOIS ÚLTIMOS PARÁGRAFOS 127 Foi a guerra que deu origem aos recentes sistemas protecionistas. 9) O poder político não somente assegura à nação o aumento de sua prosperidade, mas garante desfrutar de sua prosperidade interna e a sua própria existência. “O poder político não somente assegura à nação o aumento de sua prosperidade por meio do comércio exterior e das colônias estrangeiras, mas também lhe garante desfrutar de sua prosperidade interna, e a sua própria existência, o que é muito mais importante do que a riqueza material.” P. 129 10) Países passíveis de serem protecionistas: Alemanha, França e EUA. Esses três países são passíveis de protecionismo por não serem a potência dominante. Dessa forma, implantam barreiras para evitar que sua economia sucumba e seja sujeita à nação hegemônica (ENG) da forma que prevê List. 11) Centro e periferia em List “No que tange à exportação de bens manufaturados, entretanto, os países da zona temperada (por serem particularmente adequados, por natureza, para a manufatura) têm condições favoráveis para seus esforços de suprir os países da zona tórrida, os quais suprirão os primeiros com produtos de colônia em troca de seus bens manufaturados.” P. 133 “É evidente que, no momento, e mesmo durante bom período de tempo, os países da zona tórrida oferecerão a todas as nações aptas para a indústria manufatureira abundantes materiais de troca.” P. 134 CENTRO: zona temperada, natureza manufatureira. PERIFERIA: zona tórrida, natureza agricultora.