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Pedro A. P. Nascente Universidade Federal de São Carlos Departamento de Engenharia de Materiais 13565-905 São Carlos, SP E-mail: nascente@ufscar.br Transformações de Fases Conceitos Básicos As transformações de fases podem ser dividas em: -Transformações simples que dependem da difusão, mas em que não ocorrem alterações no número ou na composição das fases presentes. Incluem a solidificação de um metal puro, as transformações alotrópicas, a recristalização e o crescimento do grão. -Transformações que dependem da difusão, mas que há alguma alteração nas composições das fases e no número de fases presentes. -Transformações sem a ocorrência da difusão. Cinética de Reações no Estado Sólido A maioria das transformações no estado sólido não ocorre instantaneamente, pois obstáculos impedem o curso da reação e a tornam dependente do tempo. O primeiro processo a acompanhar uma transformação de fases é a nucleação, que consiste na formação de partículas, ou núcleos, muito pequenos da nova fase. O segundo estágio é o crescimento, em que os núcleos aumentam em tamanho. A dependência em relação ao tempo da taxa de transformação, conhecida por cinética de uma transformação, é uma consideração importante para o tratamento térmico de materiais. A fração da reação é medida em função do tempo, enquanto a temperatura é mantida constante. O progresso da transformação é verificado mediante um exame microscópico ou mediante a medição de alguma propriedade física cuja magnitude seja característica da nova fase. O gráfico da fração de material transformado em função do logaritmo do tempo tem a forma de S. A fração da transformação, y, é uma função do tempo, t, de acordo com: y = 1 – exp(-ktn) Por convenção, a taxa de uma transformação, r, é dada pelo inverso do tempo necessário para que a transformação prossiga até a metade da sua conclusão, t0,5, r = 1 / t0,5 Gráfico da fração da transformação em função do logaritmo do tempo, para uma temperatura constante. A temperatura é uma das variáveis em um processo de tratamento térmico que está sujeita a controle, e ela pode ter uma influência profunda sobre a cinética. Para a maioria das reações, e ao longo de faixas de temperaturas específicas, a taxa aumenta em função da temperatura de acordo com: r = A e-Q/RT R é a constante dos gases, T é a temperatura absoluta, A é uma constante independente da temperatura, Q é a energia de ativação. Porcentagem de recristalização em função do tempo, para diversas temperaturas, para o cobre puro. A taxa de aproximação do equilíbrio para sistemas sólidos é tão lenta que estruturas em verdadeiro equilíbrio raramente são atingidas. Na prática, há um deslocamento para temperaturas mais baixas, no caso do resfriamento, e para temperaturas mais elevadas, para o aquecimento. Esses fenômenos são conhecidos por super-resfriamento e sobreaquecimento, respectivamente. Por exemplo, para taxas normais de resfriamento, a reação eutetóide ferro-carbono é deslocada para entre 10 e 20 oC abaixo da temperatura de transformação em condições de equilíbrio. Diagrama de fases para o sistema ferro-carbeto de ferro. Microestruturas para uma liga ferro-carbono de composição eutetóide. Microestrutura perlita, que consiste em camadas alternadas de ferrita e cementita. Perlita A dependência em relação à temperatura para uma liga ferro-carbono com composição eutetóide está indicada na próxima figura, onde estão plotadas curvas em forma de S que mostram a porcentagem de transformação em função do logaritmo do tempo, para três temperaturas diferentes. Para cada curva, os dados foram coletados após se resfriar rapidamente uma amostra composta por 100% de austenita até a temperatura indicada no gráfico; aquela temperatura foi mantida constante durante toda a reação. Para uma liga com composição eutetóide, a fração reagida isotermicamente em função do logaritmo do tempo para a transformação de austenita em perlita. Na próxima figura, os eixos vertical e horizontal representam, respectivamente, a temperatura e o logaritmo do tempo. Duas curvas contínuas estão plotadas: uma representa o tempo necessário a cada temperatura para o início da transformação e a outra representa a conclusão da transformação. A curva tracejada corresponde a um estado com 50% da transformação concluída. A curva em forma de S para 675 oC ilustra como são obtidos os dados. Demonstração de como um diagrama de transformação isotérmica é gerado a partir de medições da porcentagem da transformação do logaritmo do tempo. A temperatura eutetóide (727 oC) está indicada por uma linha horizontal. A uma temperatura acima da eutetóide, a qualquer tempo, apenas a austenita irá existir. A transformação de austenita em perlita ocorrerá somente se uma liga for super-resfriada até abaixo da temperatura eutetóide. O tempo necessário para que a transformação tenha início e termine depende da temperatura. As curvas de início e término são praticamente paralelas, e elas se aproximam assintoticamente da curva eutetóide. À esquerda da curva de início da transformação, apenas a austenita (que é instável) estará presente, enquanto que à direita da curva de término da transformação apenas a perlita existirá. Entre as duas curvas, a austenita se encontra no processo de transformação em perlita, e assim ambos os microconstituintes estarão presentes. Os gráficos como os da figura anterior são conhecidos por diagramas de transformações isotérmicas, ou por gráficos transformação tempo- temperatura (T-T-T). A próxima figura mostra uma curva real de um tratamento térmico isotérmico (ABCD) que está superposta ao diagrama de transformação isotérmica para uma liga ferro-carbono com composição eutetóide. Um resfriamento muito rápido da austenita até uma dada temperatura está indicado pela curva AB, que é praticamente vertical, enquanto que o tratamento isotérmico nessa temperatura está representado pelo segmento horizontal BCD. A transformação da austenita em perlita tem seu início no ponto C (aprox. 3,5 s) e termina no ponto D (aprox. 15 s). Diagrama de transformação isotérmica para uma liga ferro- carbono com composição eutetóide, mostrando a superposição da curva para um tratamento térmico isotérmico (ABCD). A razão entre as espessuras das camadas de ferrita e de cementita na perlita é de aproximadamente 8 para 1. Contudo, a espessura absoluta da camada depende da temperatura na qual é permitido o prosseguimento da transformação isotérmica. A temperaturas imediatamente abaixo da temperatura eutetóide, são produzidas camadas relativamente espessas, tanto para a fase ferrita como para a fase Fe3C; esta microestrutura é conhecida por perlita grosseira. A essas temperaturas, as taxas de difusão do carbono são relativamente elevadas, o que resulta na formação de lamelas grossas. Com a diminuição da temperatura, a taxa de difusão do carbono diminui e as camadas se tornam progressivamente mais finas. A estrutura formada a aproximadamente 540 0C é conhecida por perlita fina. Para ligas ferro-carbono com outras composições, uma fase proeutetóide (ou ferrita ou cementita) coexistirá com a perlita. Assim, devem ser incluídas as curvas adicionais que correspondem a uma transformação proeutetóide, como mostra o próximo diagrama. Micrografias de amostras de (a) perlita grosseira e (b) perlita fina. Ampliação de 3000X. Diagrama de transformação isotérmica para uma liga ferro- carbono com 1,13 %p C: A,austenita; C, cementita proeutetóide; P, perlita. Bainita A transformação austenítica para temperaturas entre 300 e 540 0C causa a formação da bainita superior, cuja microestrutura é constituída por umasérie de ripas paralelas de ferrita que se encontram separadas por partículas alongadas da fase cementita. A fase que está em volta da bainita é a martensita. Micrografia de TEM mostrando a microestrutura da bainita superior. Um grão de bainita passa do canto inferior esquerdo para o canto superior direito da figura. A temperaturas mais baixas, entre 200 e 300 0C, é formada a bainita inferior. Neste caso, a fase ferrita ocorre na forma de placas finas e partículas estreitas de cementita (na forma de bastões ou lâminas muito finas) se formam no interior das placas de ferrita. Micrografia de TEM mostrando a microestrutura da bainita inferior. O detalhe mostra a extremidade de um grão de bainita inferior. Ampliação de 2300X. Diagrama da transformação isotérmica para uma liga ferro- carbono com composição eutetóide, incluindo as transformação da austenita em perlita (A-P) e da austenita em bainita (A-B). Cementita Globulizada Uma microestrutura perlítica ou bainítica aquecida a uma temperatura abaixo da temperatura eutetóide durante um período suficientemente longo, por exemplo, 700 0C a 18-24 horas, transforma-se em cementita globulizada. Este tratamento térmico é conhecido como recozimento subcrítico. A fase Fe3C aparece como partículas com aspecto esférico que estão encerradas em uma matriz contínua da fase . Esta transformação ocorre mediante uma difusão adicional de carbono, sem alterações nas composições ou quantidades relativas das fases. Fotomicrografia de um aço com uma microestrutura de cementita globulizada. Aumento de 1000x. Martensita É a fase formada quando ligas ferro-carbono austenitizadas são resfriadas rapidamente (ou temperadas) até uma temperatura baixa; é uma fase com estrutura tetragonal de corpo centrado que não se encontra em equilíbrio. Qualquer difusão que venha a ocorrer resultará na formação das fases ferrita e cementita. Podem ocorrer duas microestruturas martensíticas diferentes: em ripas e lenticular. Características microestruturais da martensita em ripas ou martensita maciça. Microestrutura martensítica lenticular ou em placas. Aumento de 1220X. Diagrama de transformação isotérmica completo para um liga ferro-carbono com composição eutetóide: A, austenita; B, bainita; M, martensita; P, perlita.
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