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Considerações Dimitri Dimoulis - Manual de Introdução ao Estudo do Direito Teoria da Norma Jurídica (Lição 6) A norma jurídica é uma norma de caráter imperativo. Toda norma jurídica estabelece uma “dever ser”. - “O certo é que toda norma enuncia algo que deve ser, em virtude de ter sido reconhecido um valor como razão determinada de um comportamento declarado obrigatório”. Miguel Reale Obs: acredito que o dever ser está diretamente relacionado ao caráter hipotético e imputador da norma. - A norma imperativa pode ser desrespeitada; o desrespeito pode causar uma reação ou permanecer sem consequência - Para Reale a norma jurídica não é somente proposta por caráter hipotético, pois há normas que não lidam diretamente com uma hipótese, mas a um fato que ainda assim deve ser constituído. Ex: Art. 18-§1º, pode ser interpretada por: se uma cidade for Brasília, deverá ser capital federal. Definição de norma: norma jurídica é uma proposição de linguagem incluída nas fontes do direito válidas em determinado espaço (texto de norma); seu significado é fixado pela interpretação jurídica; a norma jurídica regulamenta o comportamento social de forma imperativa, estabelecendo proibições e permissões. Na maioria dos casos, o descumprimento da norma está associado a sanção a sanção negativa. Sobre a verdade/validade normativa Muitas vezes o ser ira contrariar o dever ser da norma, mas ainda assim, essa não pode ser considerada falsa ou invalida. Mesmo após milhões de furtos e homicídios, a lei portal continua válida enquanto norma. Uma norma só pode ser válida se positivada for no direito vigente. Ou seja, no ordenamento jurídico. Kelsen: “ A lógica ensina que não é possível avaliar a verdade de uma norma, porque o dever ser é independente do ser. Nenhuma dos dois pode ser deduzido do outro. ” Contrafacticidade Segundo Dimoulis, as normas jurídicas são contrárias aos fatos reais em quatro sentidos: 1. - Porque o dever ser é válido ainda que seja contrário ao ser. Ou seja, quando sua validade persiste mesmo quando a norma contraria a realidade. 2. - Porque exprime um dever ser que objetiva mudar a realidade social; ex: igualdade dos sexos, proibição do trabalho infantil. 3. - Porque manifestam a vontade de manutenção da atual situação – instituições políticas, relações sociais e das posições dos indivíduos. No entanto, o objetivo dessa norma é impedir mudanças na alteração da organização social 4. - Porque seus mandamentos valem mesmo quando contrariam a lógica e o seno comum; ex: sobre as ficções jurídicas impõem considerar como verdadeiro algo que não é. Classificação das normas jurídicas Dimitri Dimoulis classifica as espécies de norma jurídica sobre nove critérios de classificação. Tratando dos critérios do destinatário, do modo de enunciação, da forma de prescrição, da forma de sanção, do âmbito de aplicação, das consequências, da densidade normativa, da função e do modo de aplicação de cada norma. Espécies de normas jurídicas: Destinatários: Toda norma jurídica refere-se ao ser humano, ainda que seja uma lei sobre fauna, flora ou animais e estas remetem ao comportamento humano sobre as tais. A norma tem uma prescrição (imposição ou recomendação feita a alguém – proibição, permitir e obrigar) caracterizada por uma descrição (nesta, tem-se identificado os destinatários da norma) variam conforme o tipo de norma. Referindo-se aos seres humanos em geral ou especialmente: aos nacionais, aos funcionários púbicos, aos aposentados, aos índios, aos presos, até a uma única pessoa. Podemos assim, distinguir entre normas gerais e individuais. Normas gerais: abrangem grupos muito amplos, cujos integrantes são conhecidos no momento de criação de normas. Normas individuais: destinam-se a pessoas previamente conhecidas, podendo ser até um único indivíduo. Modo de Enunciação: As normas podem ser enunciadas escritas ou oralmente, sendo que devido ao constitucionalismo as escritas são vistas com maior prestígio do ponto de vista jurídico. Porém, ainda assim existem normas orais – quando por exemplo o policial aborda alguém – ou até não verbais: no caso de placas, semáforos etc. Forma de Prescrição: A prescrição é um instrumento que define o caráter da norma da norma. Toda norma estabelece uma conduta ao sujeito e à prescrição cabe decidir sobre o caráter desta, sendo então a conduta proibida, permissiva ou obrigatória. Algumas normas têm mais de um caráter prescritivo, pois, enquanto permite o legislativo, obriga o cidadão. Formas de Sanção: A sanção é a consequência jurídica aplicada quando o dever ser prescrito for violado ou infligido. Em tais casos há o que se tem por “sanção negativa” ou consequência jurídica gravosa, no entanto, observa-se que este gênero punitivo é ainda mais eficaz que um simples aviso (recomendação). Há também a consequência jurídica positiva, reconhecida por “sanção positiva”, que se manifesta nos casos de prescrição permitida ou recomendada. Enquanto não há sanção negativa para normas permissivas. “Entre a sanção positiva e a sanção negativa há evidentes diferenças. A sanção negativa estabelece uma consequência gravosa para o indivíduo e aplica-se quando o comportamento está em desacordo com a norma. Inversamente, a sanção positiva estabelece uma consequência favorável a ser aplicada em caso de comportamento de acordo com a norma”. Formas de Prescrição Tipos de Sanção Permissão (Pe) Não há Obrigação (Ob) Negativa (S-) Proibição (Pr) Negativa (S-) Recomendação (Re) Positiva (S+) Hierarquia: Pe < Re < Pr < Ob Consequências: No que diz respeito às consequências jurídicas, estas se dividem em normas de conduta e de sanção. Essa diferença entre as consequências verifica-se bem nas normas de aplicabilidade programática, deixando de lado a questão da prescritibilidade da norma nem todas têm um caráter sancionador estabelecendo apenas uma conduta. Tais normas estão indiretamente associadas a sanção. Densidade: Algumas normas constitucionais (geralmente as programáticas) não apresentam os meios necessários para o que está prescrito, fornecendo somente objetivos/metas de aplicação para serem alcançadas. Porém, a falta descritiva dos de aplicação faz com que a norma seja juridicamente fraca. A ideia de densidade normativa está ligada a descricionalidade da mesma. Tem-se por norma de “alta densidade normativa” aquela que não deixa espaço para a interpretação, sendo unicamente possível a já descrita; já as normas de “baixa densidade normativa” são aquelas onde a descricionalidade deixa espaço para a interpretação subjetiva. “As normas programáticas apresentam a maior grande generalidade e o menor grau de densidade normativa. Isso significa que seu conteúdo é muito concreto e reduzido, necessitando que as normas inferiores concretizem seu sentido e modo de cumprimento. ” Função: Há na constituição normas que versam sobre dois conteúdos: sobre direitos e competências. “Em resumo, as normas que conferem direitos são do tipo C é Pe (conduta descrita é permitida); as normas de competência combinam a permissão e a obrigação: C é Pe e Ob (conduta descrita é permitida e obrigatória) ”. Mas também há no direito normas que representam para o direito o seu aparelho reprodutivo – que consiste nas normas que permitem a criação de novas normas. E essa função (considerada a mais importante do conteúdo normativo) é concedida pelo legislativo. Modo de Aplicação: O primeiro modoapresenta um caráter absoluto, permitindo a resposta de sim ou não devido ao caráter qualitativo da norma (estabelecendo a norma através de uma qualidade). E há o caráter quantitativo que dá a aplicação do direito seu traço comparativo e proporcional. Identificação das Normas Juridicamente Válidas: A questão da validade normativa e relativa pelo ponto de vista e do entendimento que se tem de “direito”, onde por exemplo, a lei de Moisés pode ser considerada como norma válida. No entanto, as normas consideradas válidas hoje não têm tal origem jusnaturalista, sendo tomado por uma norma juridicamente válida aquela que corresponder aos requisitos de formação e competências de norma. “As normas jurídicas são aquelas criadas, sancionadas ou identificadas conforme outras normas jurídicas” – isso remete a ideia de que uma norma só será válida se salva por outra. Assim esse raciocínio se estende até chegar à constituição que por sua vez é fundamentada pela norma hipotética fundamental, que ordena: “obedeça às normas produzidas por determinadas autoridades. Isto será seu direito. ” Aplicação das Normas Jurídicas (Subsunção e Silogismo Jurídico) Definição e estrutura do silogismo: O silogismo é uma palavra que remete ao raciocínio que permita deduzir uma conclusão a partir de uma premissa. Que são as premissas maiores e menores, todas fundamentadas em uma subsunção (significa “acolher algo sob uma categoria mais geral – significa constatar que determinado fato corresponde a uma norma jurídica). Estrutura Lógica do Silogismo Jurídico Premissa Menor de Conduta Certa pessoa faz parte do grupo destinado e encontra-se na condição X Premissa Maior de Conduta Para todos os destinatários que se encontram na condição X, conduta é proibida Conclusão da Norma Individual de Conduta Então, a conduta é proibida para essa pessoa Premissa Menor de Sanção Certa pessoa teve a condita C (conduta descrita na norma) Premissa Maior de Sanção Se houver a conduta descrita, então, levará a uma sanção negativa Conclusão da Norma de Sanção Então, a essa pessoa será aplicada a sanção negativa Limites Lógicos do Silogismo: O silogismo propõe estabelecer consequências a um fato/ato que interessa o direito e para se estabelecer, este precisa aplicar as premissas maiores ou menores. No entanto, essas consequências só funcionam após serem sancionadas pelo aplicador do direito. Logo, isto introduz o silogismo a subjetividade na interpretação das premissas. Fixação das Premissas Pelo Aplicador: As premissas do aplicador devem seguir certo critério que vise uma pré- interpretação das normas jurídicas, investigação da realidade, meios de prova e de produção da mesma, e o modo de avaliação. O silogismo é uma forma lógica que orienta o raciocínio do operador do direito: indica qual a conclusão deve ser tirada de determinadas premissas. Mas não garante que estas premissas sejam corretas. A formula do silogismo deve ser preenchida por conteúdos concretos (o que prevê a leu e o que acontece na realidade). Esses conteúdos são dados pelo trabalho do aplicador e não pela estrutura do silogismo. Críticas ao Silogismo: A primeira crítica ao silogismo jurídico denomina-se “silogismo regressivo”: onde inicialmente é fixada uma conclusão e em seguida o aplicador procura pela premissa para justificar o ato. Ou seja, ao juiz/advogado é permitido essa interpretação/manipulação do direito sob premissa subjetiva. A segunda crítica – que se tem por norma concreta” - questiona os princípios sob o qual desenvolve-se a norma também os quais ela é aplicada. Alegando que o silogismo jurídico permite à norma ser aplicada pelo simples ato de vontade, do aplicador do direito. “O silogismo jurídico vincula o aplicador às normas vigentes e indica a necessidade de respeitar o princípio da legalidade na aplicação do direito. O mesmo permite distinguir as normas concretas que estão em conformidade com a legislação em vigor das normas concretas que desrespeitam a legislação. Assim, o silogismo jurídico obriga os operadores jurídicos a pensar e decidir segundo as normas vigentes e não lhes autoriza expressar uma vontade pessoal”.
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