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Apostila Constitucional

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UNIEURO
CENTRO UNIVERSITÁRIO
DIREITO CONSTITUCIONAL 1 – 60h/a
MATERIAL DE APOIO�
PROF. TIAGO LEMANCZUK
INTRODUÇÃO
Teorias do Estado e do Direito
Estado:
O homem, para sobreviver em sociedade, precisou se juntar em grupos sociais e, a partir daí, passou a delegar a uma organização certa parcela de sua liberdade individual para poder conviver em harmonia e em segurança. Surge o Estado, grosso modo, como fruto de um contrato social (defendem os filósofos contratualistas).
 	A concepção moderna de Estado o reconhece a partir da existência de uma autoridade (poder centralizado), de um povo determinado (direitos e deveres uniformes) em um território definido. Isso constitui uma diferenciação da Idade Moderna principalmente pelo fato de o poder carismático dos senhores feudais ter sido substituído pelo poder estatutário de um chefe.
O Estado Moderno surgiu como forma absolutista e, por força das revoluções ocorridas principalmente no século XVIII, tornou-se ao final democrático. O divisor de águas entre eles e as formas medievais de Estado foi a dicotomia público-privado, o que garantia segurança jurídica àqueles que não pertenciam à nobreza ou ao clero.
 Para o modelo contratualista de surgimento do Estado – também chamado de “visão positiva sobre o Estado” –, o Estado é baseado em um consenso. Para os contratualistas, ele é uma criação artificial, um acordo firmado entre a maioria ou a totalidade dos indivíduos que querem atingir determinadas demandas. Pelo contrato, dá-se a passagem do Estado de Natureza para o Estado Civil. 
 O Estado Natural é um estágio pré-político do homem e recebe pelos teóricos do Estado Moderno diferentes contornos teóricos (os principais John Locke, Thomas Hobbes e J.J. Rousseau). Nele haveria uma permanente situação de tensão, segundo Thomas Hobbes, ou uma sociedade de relações pacíficas, como afirmou John Locke. Com o advento do contrato, os homens autorizaram a um único ou a um grupo deles o direito de governar e decidir pelos demais. Daí surgiu o Estado Civil, que consiste na transferência dos interesses individuais, com exceção da vida, para um soberano, acumulando este as responsabilidades por toda uma comunidade. Na sociedade civil, conforme Locke, o homem traz direitos que estavam presentes já no Estado de Natureza, visto que eles inerentes à pessoa humana�.
Outra versão sobre o surgimento do Estado Moderno:
Durante o período no qual duraram os Estados Absolutistas, a burguesia havia sido relegada a um segundo plano. Ela detinha o poder econômico, mas não o político, sendo este privilégio dos aristocratas. Devido a isso, na França, a burguesia se uniu ao povo e, posteriormente, a alguns membros do clero e da nobreza, para derrubar o Rei e poder participar das decisões políticas. Isso culminou, em 1789, na Revolução Francesa, de ideais iluministas, que marcou o início da Idade Contemporânea. O contratualismo foi essencial para os revoltosos, pois eles visavam a criação de uma Constituição (contrato social) para a França. Da luta contra o absolutismo surgiu o liberalismo, uma ideologia de princípios individualistas, que preconizava garantias contra os poderes arbitrários, direitos humanos, liberdade, mobilidade social e, principalmente, a limitação da área de ingerência do Estado, entre outras idéias. Símbolo político da luta foi a Assmbléia Nacional, reunida em 1789. 
 O liberalismo pode ser dividido em três núcleos: moral, político e econômico. O núcleo moral afirma os direitos básicos do ser humano, como vida, liberdade e dignidade. O núcleo político contém os direitos políticos dos indivíduos, que são a representação, o consentimento individual, a soberania popular e o constitucionalismo. O núcleo econômico traz os pilares capitalistas: economia de mercado livre, a competição e a propriedade privada. Como o liberalismo prega a não-interferência do Estado, a não ser em algumas poucas atividades, ele também é entendido como uma ideologia antiestado. 
 No fim do século XIX, o ideário liberal concebeu um novo projeto, que foi chamado de justiça social. Essa justiça consistia em uma ajuda do Estado àqueles indivíduos de baixa autoconfiança e de fraca iniciativa, abatidos pelo mercado. A partir daí surgiu o Welfare State (Estado de bem-estar social).
Dentre as muitas conseqüências do plano liberal – causadas principalmente pela Revolução Industrial, e pelas duas guerras mundiais – é possível mencionar a valorização do indivíduo, o progresso econômico e a criação do proletariado. Cabe lembrar que após a I Guerra Mundial, devido à necessidade da produção de armas e da guarda de suprimentos, chegou-se à conclusão de que havia necessidade do Estado controlar a economia. E foi durante a depressão norte-americana que a máquina pública e a iniciativa privada se reconciliaram. 
 Outros fatores também contribuíram para a desagregação liberal, como a formação de monopólios, as crises de desemprego e a adoção do modelo planificado de economia em países antes capitalistas. 
 Entretanto, mesmo com o Estado tendo adotado o modelo intervencionista, a base do sistema liberal, que é a mais-valia capitalista, continuou. 
 O início da intromissão estatal pode ser explicado por duas razões básicas: o receio dos burgueses das tensões sociais geradas pelo liberalismo e a necessidade, por parte destes burgueses, de que fosse criada uma infra-estrutura com dinheiro público para a concretização de sua prosperidade econômica. Assim, eles lucraram com a concessão de serviços e obras públicas, com a infra-estrutura custeada pelo povo e com a suavização do sistema liberal, abrandando a indignação das pessoas. 
O Estado de Bem-Estar Social surgiu formalmente no México em 1917, e foi fortalecido pelo New Deal nos EUA (governo Roosevelt) e pelas duas guerras mundiais. Ele foi consolidado graças às lutas pelos direitos individuais que garantissem uma vida decente e pela transfiguração do modelo econômico agrário para o formato industrial. Com isso, é atribuída ao Estado uma função social, que se baseia na promoção de ações que garantam condições de vida e dignidade aos habitantes.
 No Brasil, assim como no restante da América Latina, o Estado de Bem-Estar Social não está constituído e nem o estará tão breve. Nesta parte do continente, o intervencionismo estatal serviu apenas para concentrar a renda em uma minoria de pessoas. 
 E é o neoliberalismo que vem sendo aplicado no Brasil. Ao contrário do que estabelece a Constituição – um Estado forte, intervencionista e regulador – existem políticos que defendem o desmonte do Estado, justamente quando ele se faz mais necessário para reduzir as desigualdades sociais. Esse Estado forte, moderno, deve ser implantado com a ajuda do Direito, sem, é claro, esquecer do Executivo e do Legislativo. 
A Democracia no Estado Democrático de Direito
 O conceito de democracia é muito amplo. Ela é uma invenção constante, na qual novos direitos são criados e a definição de justiça é uma incógnita. Em uma determinada visão de mundo, ela é um agrupamento de normas que definem quem está apto a apresentar resoluções coletivas. 
 O regime democrático difere-se dos demais por entender o conflito como algo legítimo e também por ser passível de renovações e transformações. Entretanto, alcançar este regime não é algo simples. Sua conquista ocorreu mediante lutas, inclusive na América Latina. Nesta parte do continente americano foi preciso conviver com ditaduras, eleições fraudulentas e escandalosas alterações constitucionais. 
 O modelo representativo de democracia no Brasil se expressa principalmente por um Congresso Nacional heterogêneo, para que as diversas camadas da população tenham participação nos debates. Esse modelo encontra dificuldades no Brasil, visto que vários segmentos sociais não encontram representação no Parlamento e algumas unidades da federação possuemproporcionalmente mais deputados federais do que outras. 
 Por estar intimamente comprometida com a liberdade, a democracia não pode adotar a perenização de seus princípios. A estabilidade jurídica é imprescindível, mas ela não pode significar o fim da renovação das regras, pois isso se encaminharia para um totalitarismo. 
 O Estado totalitário é aquele que controla completamente a sociedade, tanto no campo político quanto no que condiz aos rumos da economia. Para isso o governante faz uso de força e de aparelhos ideológicos. Desta maneira, ele e seu partido tornam-se os únicos capazes de decidir em quais verdades o povo acreditará.
O Estado de direito é uma situação jurídica, ou um sistema institucional, no qual cada um é submetido ao respeito do direito, do simples indivíduo até a potência pública. O Estado de direito é assim ligado ao respeito da hierarquia das normas, da separação dos poderes e dos direitos fundamentais.
Em outras palavras, o Estado de Direito é aquele no qual os mandatários políticos (na democracia: os eleitos) são submissos às leis promulgadas. O Estado de direito se opõe às monarquias absolutas de direito divino (o rei no antigo regime pensava ter recebido seu poder de Deus e, assim, não admitia qualquer limitação à ele: "O Estado, sou eu", como afirmava Luís XIV) e às ditaduras, na qual a autoridade age frequentemente em violação aos direitos fundamentais. O Estado de direito não exige que todo o direito seja escrito. A Constituição da Grã-Bretanha, por exemplo, é fundada unicamente no costume: ele não dispõem de disposições escritas. Num tal sistema de direito, os mandatários políticos devem respeitar o direito baseado no costume com a mesma consideração que num sistema de direito escrito.
O poder do Estado é uno e indivisível. A função do poder se divide em três grandes funções: a função legislativa, a função judicial e a função executiva
Estado de Direito
O Estado de direito é aquele em que vigora o chamado "império da lei". Este termo engloba alguns significados: Primeiro que, neste tipo de Estado, as leis são criadas pelo próprio Estado, através de seus representantes politicamente constituidos; o segundo aspecto é que, uma vez que o Estado criou as leis e estas passam a ser eficazes (isto é, aplicáveis), o próprio Estado fica adstrito ao cumprimento das regras e dos limites por ele mesmo impostos; o terceito aspecto, que se liga diretamente ao segundo, é a característica de que, no Estado de direito, o poder estatal é limitado pela lei, não sendo absoluto, e o controle desta limitação se dá através do acesso de todos ao Poder Judiciário, que deve possuir autoridade e autonomia para garantir que as leis existentes cumpram o seu papel de impor regras e limites ao exercício do poder estatal.
Outro aspecto do termo "de direito" refere-se a que tipo de direito exercerá o papel de limitar o exercício do poder estatal. No Estado democrático de direito, apenas o direito positivo (isto é, aquele que foi codificado e aprovado pelos órgãos estatais competentes, como o Poder Legislativo) poderá limitar a ação estatal, e somente ele poderá ser invocado nos tribunais para garantir o chamado "império da lei". Todas as outras fontes de direito, como o Direito Canônico ou o Direito natural, ficam excluídas, a não ser que o direito positivo lhes atribua esta eficácia, e apenas nos limites estabelecidos pelo último.
Nesse contexto, destaca-se o papel exercido pela Constituição. Nela delineiam-se os limites e as regras para o exercício do poder estatal (onde se inscrevem as chamadas "garantias fundamentais"), e, a partir dela, e sempre tendo-a como baliza, redige-se o restante do chamado "ordenamento jurídico", isto é, o conjunto de leis que regem uma sociedade. O Estado democrático de direito� não pode prescindir da existência de uma Constituição.
Elementos constitutivos do Estado
 Todo Estado fundamenta-se em algo. No caso do Estado Moderno, seus pilares são o território, o povo, o governo e a soberania.
 O território de um Estado é composto, além do solo no qual a população vive e produz, de subsolo, de espaço aéreo e de uma estipulada extensão marítima. É nessa delimitação que será exercido o poder estatal.
 Os membros do povo são aqueles, dentre toda a população, ligados ao poder estatal. Eles são cidadãos, possuem direitos políticos e legitimam a soberania do governante.
 A soberania significa o poder que o Estado possui para fazer valer as normas constituídas dentro de seu território. Ela tem por características, como citado anteriormente, o fato de ser una�, indivisível, inalienável e imprescritível. Ela pertence ao povo, que a usa para legitimar um governante. Ela é o poder maior dentro da jurisdição do Estado, e, na qualidade de imprescritível, não possui prazo de validade. 
Elementos estruturais do Estado:
Forma de Estado:
Pode ser unitário ou descentralizado, também chamado de composto. No modelo unitário o poder emana de apenas um ente central, enquanto que no modelo descentralizado, a exemplo do Brasil, há divisão de competências a entidades autônomas como a União, os Estados Federados, o Distrito Federal e os Municípios, todas elas com personalidade jurídica própria (artigo 18 da CF). Como dito, a CF limita a autonomia desses entes, como no caso do Distrito Federal, que não possui municípios (artigo 32 da CF) e tem sua competência legislativa cumulativa entre funções de Estado e Municípios, sendo seus poderes, todavia, organizados pela União (artigo 23, inciso XIII da CF) 
A forma de Estado brasileira é uma Federação (artigo 34 e 60, parágrafo 4, da CF). Nela os Estados membros tem autonomia, mas não soberania. A Federação se constitui por pacto indissolúvel entre estados autônomos. 
Uma confederação é diferente. Ela é composta por Estado soberanos e autônomos, formada por um tratado internacional, cuja união é dissolúvel (ex: Mercosul, União Européia).
Forma de governo:
É a relação estabelecida entre governantes e governados, podendo ser Monarquia ou República. O Brasil é República, mas esta condição não é cláusula pétrea, é um Princípio Constitucional Sensível (artigo 34, VII da CF – este Princípio justifica o Decreto de intervenção federal).
Sistema de Governo:
É a relação entre os Poderes Executivo e Legislativo. Os sistemas podem ser Presidencialista (independência entre Legislativo e Executivo) ou Parlamentarista (dependência do Executivo ao Legislativo). No sistema Parlamentarista, por exemplo, o Primeiro Ministro só toma posse se seu plano de governo for aprovado pelo Parlamento.
Regime de Governo:
Define a participação popular no governo, se existente. A divisão se faz entre democracia (direta, indireta e semidireta) e autocracia.
TEORIA DO CONSTITUCIONALISMO
Noção de Constituição
Na Constituição encontramos, como se conceitua atualmente, todos os princípios que regem os diversos ramos do direito. A constituição além de possuir uma posição hierárquica superior, ocupa uma posição nuclear e central irradiando os vetores e princípios que servirão de interpretação de todos os ramos do direito.
A Constituição não se trata apenas de um estatuto do direito público, financeiro,tributário, organizacional do Estado, mas também reflete normas no direito privado, principalmente na forma de princípios constitucionais que também possuem eficácia horizontal (nas relações horizontais entre particulares).
A Constituição pode ser entendida, conforme herança histórica do constitucionalismo, como um conjunto de normas que organiza o Estado e impõe limite de atuação aos poderes dos governantes.
Histórico:
Alguns autores apontam como primeiro documento, ainda não denominado Constituição – Carta Magna - firmada em 1215, na Inglaterra. Tratava-se de um Pacto ou Contrato firmado entre um rei (soberano) que tinha poder absoluto (representante de Deus na terra) e uma determinada classe de súditos, os barões. Esta classeestava exigindo que o rei abrisse mão deste poder absoluto, limitando-o, de forma a não mais instituir impostos sem a concordância dessa classe de súditos (no taxation without representation), em troca de receber deles apoio financeiro para as guerras. É a primeira configuração da limitação do poder absoluto por um contrato estabelecido com os súditos (ou parte deles). Ainda não assume, porém, a feição constitucional moderna, qual seja, o povo (universalmente considerado) reunido para elaborar um estatuto político para si.
Há autores que apontam o surgimento de alguns institutos jurídicos presentes ainda nos dias de hoje, como o habeas corpus, o tribunal do júri, o princípio da anterioridade tributária e o devido processo legal como originados dessa Carta Magna de 1215.
A Constituição nos contornos mais atuais surge no século XVIII. A primeira foi a norte-americana, em 1787, o próprio povo reunido elaborando a sua carta política, o seu estatuto maior. Autores apontam que, naquele momento histórico surgiu o constitucionalismo, tendo o ato uma concepção jurídica de Constituição. Outros movimentos sociais o influenciaram.
“Do ponto de vista formal o constitucionalismo moderno inaugura-se a partir do advento das constituições escritas e rígidas dos EUA, se 14 de setembro de 1787, e da França, de 3 de setembro de 1791” (BULOS, 2011, p. 71).
Podemos dividir estas influências históricas em três ciclos:
1º ciclo – inglês -revoluções 1840/1860 – vão dar poder ao parlamento inglês, permitindo que um parlamentar atue como Chefe de governo na Inglaterra. Momento de ascenção de Oliver Cromwel ao governo inglês.
2º ciclo – independência das colônias – Carta de Virgínia – EUA, momento em que foi criada uma federação. Foi a primeira Constituição escrita.
3º ciclo Francês – Revolução Francesa - 1789 – esta Revolução, em face de seu aspecto universal, ganhou muita importância na divugação de ideais relacionados à liberdade, igualdade e fraternidade, contras as investidas de um poder absoluto que até então era exercido pelos reis da França. A Assembléia Nacional Constituinte se reuniu em 1789 e, em dois anos, ficou pronta a primeira Constituição Francesa. Num primeiro momento, só poderiam votar cidadãos residentes em França com vinte e cinco anos de idade e que pagassem imposto correspondente a três dias de trabalho (BULOS, 2011, p. 72). Naquele momento se iniciaram as proteções aos direitos fundamentais, de cidadania e políticos.
	O Direito Constitucional é entendido, hoje, como um ramo do Direito Público, destacado por ser fundamental à organização e funcionamento do Estado, à articulação de seus elementos primários e ao estabelecimento das bases de estrutura política. O direito constitucional debruça-se sobre o documento jurídico fundamental do Estado que é a constituição.
	O objeto do Direito Constitucional é a constituição política do Estado (estrutura, organização, instituições, órgãos, modos de aquisição e limitação do poder) e a previsão de direitos e garantias fundamentais ao cidadão.
	
Evolução do constitucionalismo
A teoria da separação dos poderes, que será estudada com maior atenção em aulas seguintes, identificava que o Estado exerce três funções básicas interdependentes: legisla, administra e julga. Cada uma destas funções deveria ser atribuída a órgãos/poderes distintos e a nenhum de forma exclusiva, mas sim preponderante, por isso a classificação de função típica e atípica.
Direitos fundamentais:
A concepção de que a Constituição deveria consagrar os direitos fundamentais de primeira geração permaneceu até início do século passado, sem a previsão de intervenção do Estado na economia.
A primeira geração de direitos fundamentais surgida principalmente com as Revoluções dos Estados Unidos e a Francesa, no século XVIII, Revoluções que representaram o instrumento de luta da burguesia contra o Estado Absolutista centralizador e os requícios do feudalismo. Conclamavam os direitos civis, políticos, liberdades públicas, direitos de defesa ou oposição, também a democracia, a liberdade, a igualdade e a fraterniadade. 
São direitos subjetivos atribuídos ao cidadão que permitem impor limites na atuação do Estado. Também chamados de direitos negativos, impõe um não fazer ao Estado. Exemplos em nosso ordenamento: direito a vida, liberdade, propriedade (artigo 5º caput da CF).
No início do século passado ocorreram outros movimentos políticos e sociais (guerras mundiais, revoluções, em especial a revolução industrial, que deflagou forte opressão dos trabalhadores) que motivaram o Estado a se preocupar com tal situação, ficando o constitucionalismo atento à necessidade de o Estado interferir nessas áreas.
Então, o Estado assume a tarefa da seguridade social, interferindo na relação empregado-empregador, surgindo, assim, os direitos sociais – Estado social� – a fim de promover o bem estar do cidadão. Houve mudanças na Constituição para a promoção de outras políticas públicas como direito à habitação, à saúde, etc. Trata-se de uma segunda geração de direitos fundamentais.
Após esta mudança, num primeiro momento, as constituições sofrem uma queda de normatividade, sendo em muitos locais vista como uma “mera folha de papel”, pois não havia como se exigir faticamente um fazer do Estado.
Como consequência a remediar esse problema, criam-se as “normas programáticas”, que estabelecem metas estatais a serem alcançadas em benefício da sociedade. Todavia, tais normas, como serão estudadas a seguir, são destituídas de eficácia imediata e plena, porque só produzem efeitos mediante regulamentação normativa que lhes propiciem aplicabilidade. No momento em que surgiram inexistiam meios de o Estado cumprir de modo satisfatório tantas obrigações assumidas. Na prática, tais normas eram vistas como “promessas políticas” que não podiam ser exigidas juridicamente do Estado.
O próximo passo evolutivo cuidou de garantir a denominada força normativa da Constituição, passando a entender a Constituição como um conjunto de normas que irradiam imperatividade. Há que se criar instrumentos normativos que permitam exigir essas condutas tanto positivas quanto negativas do Estado. Todas as normas constitucionais, na medida do possível, devem produzir eficácia direta e imediata.
Esta força normativa vai tomando o espaço até então ocupado pelas normas de Direito Civil, passando a tutela a se voltar aos grupos sociais. São os direitos coletivos e difusos de um modo geral, como a proteção ao meio ambiente equilibrado, autodeterminação dos povos, defesa dos consumidores, do patrimônio público, etc. Surge, assim, uma terceira geração de direitos fundamentais.
Portanto, a força normativa das Constituições está preocupada em consagrar os direitos fundamentais em todas as suas gerações, junto com direitos sociais em todos os sentidos. As constituições buscaram a força normativa, sendo impulsionadas pelos movimentos históricos e pelas conquistas das gerações dos direitos fundamentais.
As Constituições evoluíram, sendo, inicialmente, o estatuto do Estado, após do cidadão e, por fim, o estatuto da sociedade. 
Para o doutrinador português José Gomes Canotilho, o constitucionalismo é uma técnica específica de limitação do poder com fins garantísticos, mas as constituições só cumprem com suas missões ao concretizarem direitos e garantias fundamentais, não bastando, portanto, a mera previsão em seu texto.
CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES 
Classificação entre escritas e não escritas 
Escritas: como a constituição do Brasil. Chamadas de “constituição instrumental”. Subdividem-se em codificadas (sistematizada em um único documento normativo) ou legais (contida em mais de um documento).
Não escritas: há vários documentos esparsos e fortes costumes como, por exemplo, o governo por parte do primeiro ministro e não por parte do rei – iniciou-se a tradição com o rei George I - ou a garantia de imunidade tributária às igrejas. A Constituição da Inglaterra é um exemplo. Na Inglaterrahá um conjunto de leis ordinárias (esparsas) que tratam de matéria constitucional, compondo, assim, em conjunto, a Constituição.
Classificação quanto ao modo de elaboração:
Históricas ou costumeiras ou consuetudinárias: surgem de um longo processo histórico, da evolução dos costumes da própria sociedade, que recebem aos poucos regulamentação legislativa. Por exemplo: a constituição da Inglaterra.
Dogmáticas: surgem em um determinado momento histórico como um dogma, ou seja, a partir de uma ideologia pré-concebida. Por exemplo: Brasil. Nossa Constituição é dogmática, pois o preâmbulo traz uma ideologia pré-concebida, já que demonstra os valores da sociedade, propondo-se, o texto constitucional, a concretizar esses valores.
OBS: O STF menciona que o preâmbulo da CF não possui conteúdo normativo (ADIn 2076). Menciona que são os valores da sociedade colhidos pelo constituinte originário que através do texto normativo procura satisfazê-la. O preâmbulo tem finalidade interpretativa, a interpretação das normas deve ser com o intuito de atender aos valores fundamentais nele expressos.
Classificação quanto à origem�:
Outorgadas: são referidas como cartas políticas, porque são constituições impostas, cuja elaboração não encontra participação popular. Normalmente quando os detentores do poder impõem ao povo uma nova ordem política e jurídica, uma nova ordem constitucional. Exemplos: CF brasileiras de 1824, 1937, 1967 e EC 01 de 1969.
Promulgadas (populares ou democráticas): há a participação do povo nas decisões políticas fundamentais (participação direta ou participação indireta, representativa). É fruto de uma Assembléia Nacional Constituinte, composta de representantes do povo, eleitos para essa finalidade. Exemplos: CF brasileiras de 1891, 1934, 1946, 1988.
Classificação quanto ao conteúdo
Constituição material (ou substancial)
Concebida como o conjunto de normas, inseridas ou não em um documento escrito, que regulam a estrutura do Estado, organização dos seus órgãos e os direitos fundamentais. São as normas de conteúdo tipicamente constitucional.
Teoricamente, podem-se imaginar normas que tratem de conteúdo constitucional fora da constituição. Nesse caso, teríamos normas materialmente constitucionais, embora não sejam formalmente constitucionais.
Constituição formal (ou procedimental)
Conjunto de normas inseridas no “texto constitucional”, independentemente do conteúdo das normas, se de cunho constitucional ou não�. O que não significa que uma Constituição formal não terá normas materialmente constitucionais (a brasileira, por exemplo, que é formal, em seu artigo 2º, entre tantos outros, demonstra conteúdo constitucional)
A constituição formal é necessariamente escrita e rígida. Espelha o conjunto de normas, reduzidas sob a forma escrita em um ou mais documentos, solenemente estabelecidos pelo poder soberano, através de um processo legislativo mais dificultoso, diferenciado e mais solene do que o processo legislativo de formação das demais normas do ordenamento.
A Constituição formal também revela: 
A força normativa dos preceitos constitucionais, procriados por um poder de maior força impositiva, qual seja, o constituinte originario e;
A superioridade hierárquica de tais preceitos em face das prescrições infraconstitucionais.
 
O STF já se pronunciou na ADIn 815-3� que as normas constitucionais não possuem hierarquia entre si. Todas, independentemente de seu conteúdo, possuem o mesmo nível hierárquico – Tese da idêntica hierarquia das normas constitucionais.
Tradicionalmente, a constituição brasileira é vista como constituição formal.
Não obstante, ganha força, no Brasil, a noção de BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE. Idéia surge originariamente na França, país em cuja constituição não há uma lista de direitos fundamentais. Há, antes do texto normativo da constituição francesa, a incorporação da declaração universal dos direitos do homem e do cidadão. Surge a necessidade de serem tratados esses comandos, que não estão na constituição, como dotados de força constitucional (constrói-se a idéia de bloco de constitucionalidade). No Brasil, os tratados internacionais sobre direitos humanos podem ser considerados normas de direitos fundamentais caso haja a aprovação interna para a vigência desse tratado conforme rito previsto no parágrafo 3º do artigo 5º da CF/88, que estudaremos mais a frente.
MOMENTO HISTÓRICO ATUAL: conquista de nova geração de direitos que estabelece a primazia da norma que melhor cumpre com direitos e garantias fundamentais – seja no âmbito interno, seja no âmbito internacional.
Classificação quanto à estabilidade (ou alterabilidade):
Rígidas: são aquelas que exigem, para reforma do texto constitucional, um processo legislativo distinto do processo legislativo ordinário comum, mais exigente, mais dificultoso, complexo. Em tese, as normas constitucionais são normas mais importantes do Estado e normas não dotadas de mutabilidade.
Flexíveis ou plásticas: não possuem essa exigência. Alteram-se as normas constitucionais pelo mesmo procedimentode alteração de uma lei ordinária, sem distinções no processo legislativo. 
No caso de ordenamentos com normas constitucionais flexíveis, não se pode falar em ordenamento jurídico hierarquizado, não se tem normas superiores e inferiores. Não há normas constitucionais e nem infraconstitucionais. Em consequência, não há um controle de constitucionalidade, já que inexistem parâmetros para tanto.
Constituição mitigada, semi-rígida ou semi-flexível: Há algumas normas que exigem, para elaboração, um processo mais rigoroso e complexo que são as de matéria constitucional/fundamental do Estado, da organização estatal. E há outras se modificam da mesma forma que as normas ordinárias. Ex: Carta imperial de 1824 do Brasil, na qual a própria constituição recusava a natureza constitucional – era uma constituição material, pois era tido como “constitucional” somente o que era essencial ao Estado. 
Conseqüência: quando se encontra matéria constitucional fora da constituição, a matéria absoluta perde esta proteção da Constituição, qualquer lei ordinária poderá revogá-la, mesmo tratando, a lei, de matéria constitucional. 
Classificação quanto à extensão
Constituição sintética (breve, concisa ou negativa): constituição de poucos artigos, prevê somente princípios e normas gerais de estrutura e limitação do poder do Estado. Tendem a ser mais duradouras. Ex: CF dos EUA.
Constituição analítica (longa ou prolixa): regula todos os assuntos que reputar relevante a formação, destinação e funcionamento do Estado. Ex: CF/88 do Brasil.
Classificação quanto à finalidade
Constituição garantia – pretende garantir a liberdade e limitar o poder do Estado pela previsão de direitos e garantias individuais. Ex: Constituição dos EUA.
Constituição dirigente – tenta ser um plano normativo global, que determina tarefas, programas de atuação futura e fins para o Estado. Exige vinculação dos poderes públicos à sua realização. Ex: CF brasileira de 1988 
Classificação quanto à ideologia
Constituição ortodoxa (ou simples) – formada por uma única ideologia. Ex: Constituições soviéticas de 1923, 1936, 1977.
Constituição eclética (pluralista ou compromissória) – alberga diversas ideologias (conciliáveis), sendo a lei maior o resultado do compromisso entre forças políticas diferentes. É o caso da Constituição brasileira de 1988, em que se vêem princípios e valores de esquerda, direita, liberais, sociais, democráticos, de respeito a todas as religiões e cultos, etc.
Classificação quanto ao objeto
Constituição liberal – limitam-se a dispor sobre organização do Estado e a previsão de direitos civis e políticos, não contendo normas relativas a ordem econômica e social. Associada ao estado liberal de Direito. A primeira nesse sentido foi a CF dos EUA de 1787.
Constituição social – contém, também, normas relativas a ordem econômica e social, busca o bem estar social. É associada ao welfare statee aos Estados que adotam a social-democracia (a primeira foi a CF mexicana de 1917).
Classificação quanto à concordância entre normas constitucionais e a realidade política (classificação ontológica)
Constituição normativa – Constituição que possui grande eficácia normativa, uma vez que o poder estatal se submete às normas constitucionais, podendo atuar somente em conformidade com as previsões legais. Ex: Constituição dos EUA.
Constituição semântica – as normas constitucionais não dominam o processo político. Não passam de uma “fachada” para encobrir as reais intenções do governo que pouco se importa com o desejo dos cidadãos envolvidos. Ex: CF brasileiras de 1937 e 1967 e emenda de 1969.
Constituição nominal – as normas constitucionais também não dominam o processo político, mas há uma pretensão de que, no futuro, haja concordância entre as normas constitucionais e a realidade política.
De acordo com alguns doutrinadores, como Uadi Lammêgo Bulos, a CF/88 pretende ser uma constituição normativa, mas está mais próxima da constituição nominal.
 A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA É CLASSIFICADA COMO: FORMAL, ESCRITA, DOGMÁTICA, PROMULGADA OU DEMOCRÁTICA, RÍGIDA, ANALÍTICA, DIRIGENTE, ECLÉTICA, SOCIAL E NOMINAL (apesar de pretender ser normativa).
OBJETO DA CONSTITUIÇÃO:
Tem por objetivo estabelecer:
Estrutura e organização do Estado e da sociedade;
Modo de aquisição do poder e a forma de seu exercício;
Limitação do poder estatal por meio de previsão de direitos e garantias fundamentais;
Regime político e os fins socioeconômicos;
Fundamentos dos direitos econômicos, sociais e culturais.
ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Preâmbulo
É a parte precedente da CF, dizemos que é “uma proclamação de princípio” ou “documentos de intenções”. Não faz parte do texto, não possui força normativa (segundo já declarou o STF na Ação direta de inconstitucionalidade n. 2076�, em 2002, proposta pelo PSL contra a Assembléia Legislativa do Acre).
A relevância do preâmbulo encontra discordância na doutrina. O doutrinador português Jorge Miranda� apresenta três posições doutrinárias distintas sobre o tema: 
Tese de irrelevância jurídica, onde o preâmbulo não se encontra dentro do direito, e sim no campo da política.
Tese de plena eficácia, que reconhece ao preâmbulo a mesma eficácia jurídica das outras disposições constitucionais;
Tese de relevância jurídica indireta, onde o preâmbulo não é considerado norma, mas apresenta um papel relevante na orientação de identificar as características da CF.
A posição do STF é pela primeira corrente, não se situando no âmbito do direito, mas da política, refletindo posição ideológica do constituinte. Não possui portante, relevância jurídica.
Nesses termos, o preâmbulo:
Não se situa no campo do direito constitucional;
Não tem força normativa;
Não é de observância obrigatória pelos Estados-membros para elaboração de suas constituições;
Não serve de parâmetro de inconstitucionalidade das leis;
Não constitui limitação ao poder constituinte derivado ao modificar o texto constitucional.
Para a doutrina, o preâmbulo não é totalmente irrelevante, pois tem valor interpretativo e integrativo de todo o texto constitucional e dos ADCT.
Parte dogmática da Constituição de 1988:
Constitui a parte permanente ou principal do texto constitucional. Integrada por todas as normas essenciais à organização e ao funcionamento estatal, bem como pelas diversas normas programáticas (relativas aos direitos sociais), uma vez que a CF brasileira se trata de constituição dirigente. E, ainda, por ser uma constituição prolixa, traz em seu corpo normas formalmente constitucionais, ainda que não sejam materialmente constitucionais.
A estrutura da Constituição Federal de 1988 divide-se em:
I – Dos princípios fundamentais (artigos 1º ao 4º);
II - Dos direitos e garantias fundamentais (artigos 5º ao 17);
III- Da organização do Estado (artigos 18 ao 43);
IV- Da organização dos poderes (artigos 44 ao 135);
V- Da defesa do Estado e das Instituições democráticas (artigos 136 ao 144);
VI – Da tributação e do orçamento (artigos 145 ao 169);
VII – Da ordem econômica e financeira (artigos 170 ao 192);
VIII – Da ordem social (artigos 193 ao 232);
IX – Das disposições constitucionais gerais (artigos 233 ao 250);
ADCT – Ato das Disposições Constitucionais Transitórias 
Os ADCT são os atos das disposições constitucionais transitórias, que constituem um conjunto de normas que garantiram a transição do regime Constitucional de 1967/69 para a Constituíção de 1988. Após implementação dessas regras, elas têm sua eficácia exaurida�. 
Faz parte do texto constitucional. 
Os ADCT reúnem dois grupos distintos:
O que contem regras necessárias para garantia uma harmonização entre a constituição anterior (CF/69) e a atual (CF/88). Ex: art. 16.
O que contem regras que, embora não estejam relacionadas `a transição, possuem caráter transitório, ou seja, uma vez ocorrida a situação nelas previstas sua eficácia jurídica se esgota. Ex: art. 3º, que estabeleceu regras para realização da revisão constitucional após 5 anos de promulgação da CF.
Em ambas as situações, ocorrida a situação prevista a eficácia jurídica da norma é exaurida.
Embora tenha natureza transitória, os ADCT são formalmente constitucionais, possuindo a mesma hierarquia que as normas encontradas no corpo principal da CF. Ou seja, pode servir de parâmetro para declaração de inconstitucionalidade, e suas modificações só podem ser feitas através de emendas constitucionais. 
Não obstante, algumas regras importantes continuam sendo disciplinadas pela ADCT, exemplo: proteção contra despedida arbitrária ou sem justa causa (art. 10, I, do ADCT), por não ter sido editada LC exigida pelo art. 7º, I, da CF.
CONCLUSÃO:
SÃO DESPROVIDAS de força normativa o preâmbulo e as normas integrantes na ADCT já exauridas.
UNIDADE E SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO
Unidade da Constituição
A CF brasileira é unitária (ou codificada, reduzida ou unitextual), pois se constitui em um texto formal único que exaure as matérias de cunho constitucional.
O direito constitucional material do Estado é posto num único instrumento normativo, inexistindo as chamadas “leis com vigor constitucional”. 
Supremacia da Constituição
A CF possui supremacia formal e material
A supremacia material relaciona-se do ponto de vista sociológico, refere-se ao corpo de “normas fundamentais do Estado”.
Dizer que a constituição é portadora de supremacia material é o mesmo que afirmar a submissão das outras normas infraconstitucionais ao conteúdo de tudo quanto nela está contido. As normas infraconstitucionais não podem tratar de um tema ou assunto que fira a constituição.
Já a supremacia formal é visto pelo ponto de vista eminentemente jurídico, afeto à hierarquia das normas em relação ao resto do ordenamento jurídico (como bem retratado pela pirâmide de hierarquia das normas doutrinada por Hans Kelsen). Esta depende do conceito de rigidez constitucional.
Isto porque a rigidez, ao conceber um procedimento mais solene e dificultoso para modificação da Constituição, acaba protegendo o texto constitucional da legislação ordinária, tornando-o hierarquicamente superior e conferindo-lhe a supremacia no sentido formal.
A supremacia formal é o corolário da rigidez constitucional. Princípio da compatibilidade vertical. Nesse sentido (formal) leva-se em consideração a organização das normas em termos de sua hierarquia, e não em relação à importância dos assuntos, matérias, que tratam�. 
Supremacia constitucional e força normativa da constituição
Força normativa da Constituição é a energia vital que lhe confere efetividade ou eficácia social. É um dos princípios reitores da ordem jurídica que se dessume da lógica do sistema jurídico.
“Por seu intermédio as norma supremas do Estado se concretizam, regulando, no plano da vida, as relações sociais, políticas e econômicasde acordo com o amadurecimento da consciência constitucional”. (BULOS, 2011, p. 132).
PODER CONSTITUINTE
Características:
Poder de elaborar (originário) ou atualizar uma constituição, mediante supressão, modificação ou acréscimo de normas constitucionais (derivado).
A titularidade do poder político pertence ao povo, que o exerce por meio de seus representantes ou diretamente nas hipóteses previstas na CF (iniciativa popular de leis, plebiscito e referendo). 
Poder Constituinte Originário ou Inicial:
É aquele que instaura uma nova ordem jurídica, rompendo por completo com a ordem jurídica precedente.
O objetivo principal é criar um novo Estado, diverso do que vigorava em decorrência da manifestação do poder constituinte precedente. Surge um novo Estado a cada nova constituição, seja proveniente de revolução ou de assembléia popular. Há um rompimento total com a ordem jurídica anterior.
Características:
É inicial, autônomo, ilimitado juridicamente, incondicionado, soberano na tomada de suas decisões.
Inicial pois instaura uma nova ordem jurídica, rompendo por completo com a ordem anterior;
Autonomo, pois a estruturação da nova constituição será determinada autonomamente por quem exerce o poder constituinte originário;
Ilimitado juridicamente no sentido de que não tem que se limitar ao direito anterior;
Incondicionado e soberano na tomada de suas decisões, pois não tem de se submeter a qualquer forma prefixada de manifestação;
OBS: O poder constituinte originário encontra limitações extrajurídicas. Ele não pode ser um poder arbitrário, que não conheça qualquer limitação, uma vez que encontra-se adstrito aos grandes princípios referentes ao bem comum, ao direito natural, da moral e da razão. Canotilho, doutrinador português, bem diz que “é estruturado e obedece a padrões e modelos de conduta espirituais, culturais, éticos e sociais radicados na consciência jurídica geral da comunidade e, nesta medida, considerados como vontade de povo” (CANOTILHO, J.J.Gomes, Direito constitucional e Teoria da Constituição, 7. ed., p. 81).
Formas de expressão:
Outorga – declaração unilateral do agente revolucionário ou do representante do poder político. Ex: Constituições brasileiras de 1824, 1937, 1967 e EC 1/69.
Assembléia Nacional constituinte ou convenção – nasce da deliberação da representação popular. Ex: Constituições brasileiras de 1891, 1934, 1946, 1988.
Poder Constituinte Derivado (ou instituído ou constituído ou secundário ou de segundo grau)
Conceito e espécies:
É aquele criado e instituído pelo poder originário para operar as transformações no texto constitucional criado. Deve obedecer as regras impostas pelo poder originário, sendo limitado e condicionado a seus parâmetros.
É dividido em reformador, decorrente e revisor.
Poder constituinte derivado reformador – artigo 60 da CF/88
Tem a capacidade para modificar a constituição, por meio de procedimento específico, estabelecido pelo poder originário, sem que haja uma revolução e ruptura política. Ocorre através de emendas constitucionais, previstas na CF de 1988 nos arts. 59, I, e 60.
Para alteração requer: quorum qualificado de 3/5 em cada Casa do Congresso Nacional por dois turnos de votação em cada (artigo 60 da CF).
Limitações circunstanciais: Há proibição de alteração da Constituição na vigência de estado de sítio, estado de defesa ou intervenção federal (institutos que serão estudados nas disciplinas Direito Constitucional I e II); 
Limitaçõe materiais: Referem-se às matérias intangíveis, ou seja, impossíveis de serem transformadas - clausulas pétreas previstas no art. 60, §4º, CF/88�.
Limitações implícitas: Não estão expressas, mas limitam o poder reformador também. São elas: a) o rito de aprovação das emendas (o poder constituinte reformador não pode alterar o processo de aprovação das emendas, nem para dificultar); b) O rol de legitimados ao poder constituinte reformador (pessoas com legitimidade para propor uma proposta de EC – incisos I ao III do artigo 60, CF) não pode ser alterado por uma Emenda Cconstitucional. 
Poder constituinte derivado decorrente
Cuida da estruturação das Constituições dos estados membros Ele decorre da capacidade de auto-organização estabelecida pelo Poder originário (art. 25 – autonomia; autogoverno – arts. 27, 28 e 125; autoadministração – art. 18, 25 a 28, todos da CF/88).
Em miúdos, as constituições dos estados membros devem obedecer as diretrizes traçadas na Constituição Federal pelo poder constituinte originário.
Lê-se na ultima parte do art. 25 da CF/88, por exemplo: “... observados os princípios desta Constituição” – demonstra claramente o caráter de derivação e vinculação do poder decorrente em relação ao originário.
Quais são esses princípios constitucionais? 
Segundo Uadi Lammêgo Bulos temos: 
Princípios constitucionais sensíveis (Terminologia de Pontes de Miranda – são os princípios expressos, devendo os estados-membros observar os limites fixados no art. 34, VII, alíneas “a” a “e”, da CF); 
Princípios constitucionais estabelecidos (organizatórios – são aqueles que limitam a atuação do poder constituinte derivado, por exemplo: repartição de competências, sistema tributário, organização dos Poderes, dignidade da pessoa humana, direitos sociais, etc.). Todos devem ser observados pelas constituições estaduais; 
Princípios constitucionais extensíveis (integram a estrutura da federação, por exemplo: forma de investidura nos cargos eletivos, o processo legislativo, etc.).
No caso do Distrito Federal, Municípios e Territórios Federais:
Art. 32, caput , CF/88: O DF será regido por Lei Orgânica (lei que tem natureza de Constituição local, como entende o STF), votada em dois turnos e aprovada por 2/3 da Camara Legislativa, que a promulgará. O DF tem sua autonomia parcialmente tutelada pela União, além de ter competência de estado e de municípios, possuindo, dessarte, regime constitucional diferenciado. Tem submissão direta à CF.
Municípios: elaborarão Leis Orgânicas, cujas delimitações estão no art. 29, caput, da CF. A sua elaboração caberá à Camara Municipal (vereadores). Deve obediência às Constituições Estadual e Federal. Nesse caso não há se falar em poder constituinte derivado decorrente, pois ela observa necessariamente dois graus de imposição legislativa. Assim, o ato local (normativo, administrativo) questionado em face de lei orgânica municipal enseja controle de legalidade e não de constitucionalidade.
Territórios – hoje não mais existem, mas podem ser criados. Têm natureza jurídica de autarquia. Não possuem autonomia, não se falando, portento, em poder constituinte derivado. 
Poder constituinte derivado revisor
É fruto do trabalho de criação do originário, estando a ele vinculado. Trata-se de um poder jurídico, limitado e condicionado.
Art. 3º dos ADCT determinou que a revisão constitucional seria realizada após 5 anos contados da promulgação da Constituição, pelo voto de maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral. No Brasil, esse poder revisor ensejou a elaboração de 6 emendas constitucionais. Não é mais possível nova manifestação do poder constituinte revisor em razão da eficácia exaurida e aplicabilidade esgotada dessa norma prevista pelo constituinte originário.
Poder constituinte supranacional
Busca sua fonte de validade na cidadania em nível universal, diante do pluralismo de ordenamentos jurídicos, na vontade de integração entre as nações.
Poder Constituinte Difuso – etapa de mutação constitucional
Altera os preceitos constitucionais informalmente, sem revisões nem emendas. Quando atua, atualiza e completa as manifestações constituintes originária e derivada.
É um poder de fato em função da latência em que se encontra. Possui, pois, natureza fática, brotando do fato social, político e econômico.
Ele emerge com vigor nos casos de lacunas constitucionais, em que o Executivo, o Legislativo e o Judiciário têm o dever de fazervaler a Constituição. Ele faz com que as lacunas sejam completadas por meio da interpretação, dos usos e costumes.
O fenômeno de alteração informal da Constituição é conhecido como mutação constitucional. O dinamismo da ordem jurídica propicia o redimensionamento da realidade normativa, em que as constituições, sem revisões ou emendas, assumem significados novos, expressando uma temporalidade própria.
Exemplo: interpretação extensiva ao conceito de casa disposto no inciso XI do artigo 5º da CF/88, que designa não só residência, mas qualquer espaço de ocupação determinado e separado, que alguém ocupa com exclusividade (como um escritório, por exemplo). Note-se que o texto constitucional não foi alterado.
Outro exemplo pode ser expresso pelo fenômeno conhecido como “construção constitucional”. Ruy Barbosa e Pedro Lessa desenvolveram raciocínio extensivo ao instituto do habeas corpus durante a vigência da CF de 1891, possibilitando que pudesse ser concedido contra qualquer ato de abuso de autoridade, não só que cerceasse direito de locomoção (o que hoje é resguardado pelo mandado de segurança).
Tanto constituiçõe rígidas como as flexíveis podem sofrer influência dessa mutação informal.
Como essa mutação se faz por meio de interpretação, no Brasil só pode ser operada pelo STF.
SEPARAÇÃO DOS PODERES
Teoria da separação dos poderes em Aristóteles
Em sua obra “Política” vislumbrou três funções distintas exercidas pelo poder do soberano, quais sejam, a função de editar normas gerais a serem observadas por todos, a de aplicar as referidas normas ao caso concreto (administrando) e a função de julgamento, dirimindo os conflitos oriundos da execução das normas gerais nos casos concretos.
As três funções estavam na figura do soberano.
Teoria da separação dos poderes segundo o Barão de Montesquieu
Na obra “O espírito das leis” inovou o pensamento de Aristóteles ao afirmar que as três funções estariam intimamente conectadas a órgãos distintos, autônomos e independentes entre si. Cada função corresponderia a um órgão e não estariam mais concentradas na mão dos soberano.
Assim, cada órgão deveria exercer somente a função que lhe fosse típica.
Idéia de Montesquieu: o homem tende a abusar do poder. Se um só homem ou um órgão só detiver o poder de modo exclusivo, haverá seu uso abusivo.
A separação das funções do Estado (separação de Poderes) possibilita que um órgão fiscalize e controle o outro.
Teoria dos freios e contrapesos (checks and balances)
Segundo esta teoria os atos que o Estado pratica são de duas espécies: atos gerais e atos especiais.
Os atos gerais só podem ser praticados pelo Poder Legislativo, pois constituem na emissão de regras gerais e abstratas. Só depois de emitida a norma geral é que se abre a possibilidade de atuação do Poder Executivo por meio dos atos especiais que são os meios concretos de agir. Estes estão limitados pelos atos gerais e, se houver exorbitância de qualquer dos poderes, surge a ação fiscalizadora por parte do Poder Judiciário.
Abrandamento da teoria de Montesquieu
Permite-se uma maior interpenetração entre os Poderes, atenuando a teoria que pregava a separação pura e absoluta dos mesmos.
Segundo essa concepção, cada Poder possui funções típicas e atípicas. É essa compreensão que permeia a separação dos poderes incidente e presente em nosso ordenamento jurídico atual. 
A separação dos poderes é instituto constitucional importantíssimo, central� à idéia de constitucionalismo, pois que presente nas Constituições Americana e Francesa dos séculos XVIII e XIX. Em nossa CF está previsto logo em seu artigo 2º e no rol das cláusulas pétreas do parágrafo 4º do artigo 60, em seu inciso III (que não podem ser objeto de reforma constitucional, como já visto).
Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário são independentes e harmônicos entre si (artigo 2º da CF/88) e possuem as funções:
Poder Legislativo 
A função típica do Legislativo é legislar de maneira geral e abstrata.
Em sua função típica, complementa e regulamenta a Constituição Federal por intermédio das leis complementares e leis ordinárias. 
As funções atípicas são a executiva, por dispor sobre a sua organização, composição, inclusive atribuições das Mesas diretivas das Casas Legislativas, prover cargos, conceder licenças, etc. E a função jurisdicional, já que o Senado julga o Presidente da República nos crimes de responsabilidade e outras autoridades que com ele comete crimes de responsabilidade em conexão.
Não é propriamente função jurisdicional, mas é importante destacar que as Comissões Parlamentares de Inquérito, segundo parágrafo 3º do artigo 58 da CF/88, possuem poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, encaminhando suas apurações ao Ministério Público para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.
Poder Executivo 
A função típica é a prática de atos de chefia de Estado, de governo e atos de administração.
As funções atípicas são a legislativa, por poder adotar medidas provisórias com força, eficácia e validade de lei, além dos decretos regulamentares, normas secundárias, próprias para estabelecer os modos de execução e gozo dos direitos e obrigação criadas por lei, e resoluções por parte de seus entes da administração indireta como autarquias, fundações e agências reguladoras. Também possui função jurisdicional por julgar recursos administrativos (contencioso administrativo), sem, contudo, fazer coisa julgada de suas decisões face ao Princípio Constitucional da Inafastabilidade de Poder Judiciário.
Poder Judiciário 
A função típica é julgar, exercer a jurisdição (poder de dizer o direito).
As funções atípicas são a legislativa, por criar o regimento interno de seus tribunais, e a executiva ao administrar os seus tribunais e exercer atos administrativos como concessão de licenças e férias aos seus serventuários e magistrados. 
OBS: É de se salientar que os tribunais ligados à Justiça Eleitoral exercem função administrativa típica, já que organizam as eleições, realizam a inscrição de eleitores, organizam o alistamento eleitoral, registram candidaturas, etc. Esses tribunais também legislam por Resoluções, atos normativos primários que a CF prevê como próprios à organização geral das eleições. 
Independência dos Poderes e a indelegabilidade de atribuições
As atribuições asseguradas aos poderes pela CF não poderão ser delegadas de um para o outro. Trata-se do Princípio da Intangibilidade de Atribuições. Um órgão só poderá exercer as atribuições de outro, ou de natureza típica do outro, quando houver expressa previsão e, diretamente, quando houver delegação por parte do poder constituinte originário. Ex. Lei delegada prevista no art. 68 da CF.
Freios e contrapesos	
Além da harmonia entre os poderes, é essencial a atuação no sentido de contrapeso a ser exercido por um poder em relação a outro. Essa orientação está prevista em nosso ordenamento em institutos jurídicos como a escolha de membros dos Tribunais Superiores e do STF pelo Presidente, com sabatina do Senado; o orçamento do Executivo mediante previsão legal; o subsídio dos Ministros do STF por lei de iniciativa do Congresso Nacional; o poder regulamentar a uma lei a ser exercido pelo Executivo; a conversão de medida provisória em lei somente pelo Congresso Nacional, etc.
Há atuações do Poder Judiciário no sentido de suprir as lacunas normativas ocasionadas por omissões do Poder Legislativo, o que é feito no sentido de garantir ao cidadão o exercício de um direito constitucionalmente previsto. Apesar das várias críticas da doutrina, o STF tem adotado posicionamento mais concretista, no sentido de não só apontar omissão legislativa, mas de dar solução concreta ao caso que recebe para análise (exemplo: decisão em Mandado de Injunção sobre o direito de greve dos servidorespúblicos, que ainda não foi regulamentado pelo Legislativo. O STF solucionou a questão determinando aplicação das regras da greve no setor privado, por analogia).
Nova Constituição e a ordem jurídica anterior:
O tema é direito intertemporal lato sensu, ou seja, que estuda a relação do direito com o passado, presente e futuro. 
Sua importância social reside no tocante à segurança dos cidadãos no que concerne ao passado. O respeito ao direito adquirido, à coisa julgada e ao ato jurídico perfeito refletem a proibição da retroatividade da lei, um verdadeiro instrumento de paz social, e que garante que não haverá abuso por parte do poder Estatal.
Recepção:
O que acontece com as normas infraconstitucionais que foram elaboradas antes do advento da nova Constituição?
Todas as normas que forem consideradas incompatíveis com a nova constituição serão consideradas revogadas (ainda que não expressamente), por ausência de recepção. Assim, se forem compatíveis serão recepcionadas, inclusive podendo adquirir nova roupagem, exemplo: CTN – elaborado com quorum de lei ordinária, e foi recepcionado pela CF como lei complementar.
Assim, as normas anteriores à CF podem ser revogadas ou recepcionadas, não se fala em inconstitucionalidade.
Inconstitucionalidade superveniente:
Como se adiantou ao final do tópico anterior, o STF não admite a chamada inconstitucionalidade superveniente em relação ato normativo produzido antes da nova Constituição e perante o novo paradigma constitucional. Ou seja, só se fala em recepção ou revogação – compatibilidade ou não da norma a nova constituição federal.
Para o STF vigora o Princípio da contemporaneidade, ou seja, uma norma só pode ser declarada constitucional ou inconstitucional se for colocada em confronto com a Constituição que vigorava quando da edição da lei.
Constitucionalidade superveniente:
Uma lei que fere o processo legislativo previsto na Constituição, e que nunca foi objeto de controle de constitucionalidade. Surgindo uma nova constituição e esta lei sendo compatível com esta, poderá a lei ser recepcionada?
Bem, o Judiciário ao verificar se uma lei é compatível ou não com a nova Constituição, antes deve verificar se ela é ou não compatível com a Constituição de sua época, pois se ela for incompatível com a constituição de sua época ela é tida como inconstitucional, cujo vício torna a lei nula, ineficaz, não podendo vir a ser “consertada” pela nova constituição. Ou seja, não há a hipótese de constitucionalidade superveniente.
Ainda, segundo o STF, a lei inconstitucional é um ato nulo, portanto não se admite a constitucionalidade superveniente (RE 346.084/PR).
Requisitos para uma lei ser recepcionada:
estar em vigor no momento do advento da nova constituição;
não ter sido declarada inconstitucional durante a vigência do ordenamento anterior;
ter compatibilidade formal e material perante a Constituição anterior;
ter compatibilidade material com a nova constituição, (não importa a compatibilidade formal, pois, como já vimos, lei ordinária como o CTN foi recepcionada como lei complementar. Outro exemplo, os decretos-lei materialmente compatíveis com a nova CF não foram revogados, ainda que a nova CF não preveja essa forma normativa, decreto-lei).
Se incompatível, a lei anterior será revogada, não se falando em inconstitucionalidade superveniente; Neste caso, a técnica de controle ou é pelo sistema difuso ou concentrado através da “ação por descumprimento de preceito fundamental – ADPF” (a ser estudada em disciplina vindoura);
É possível a recepção de somente parte de lei, como artigo, parágrafo, inciso...
A recepção ou revogação acontecem no momento da promulgação do novo texto. Todavia, o STF poderá modular os efeitos da decisão, declarando o momento a partir de quando a sua decisão passa a valer.
Aplicabilidade das normas constitucionais – classificação quanto ao grau de eficácia e aplicabilidade
As normas constitucionais são dotadas de variados graus de eficácia jurídica e aplicabilidade, de acordo com a normatividade que lhes tenha sido outorgada pelo constituinte, fato que motivou grandes doutrinadores a elaborarem diferentes propostas de classificação dessas normas quanto a esse aspecto. 
Essa classificação, portanto, é doutrinária, a partir da anáise do texto constitucional. A CF não define esses graus a partir dos nomes que lhes dão a doutrina.
O Constitucionalismo moderno refuta a idéia da existência de normas constitucionais desprovidas de eficácia jurídica. Reconhece-se que todas as normas constitucionais possuem eficácia�, mas se admite que elas se diferenciam quanto ao grau dessa eficácia e quanto a sua aplicabilidade.
Da constatação dessas diferenças, Ruy Barbosa, inspirado na doutrina norte-americana, já enquadrava as normas constitucionais em dois grupos:
normas "auto-executáveis" (self-executing', self-enforcing; self-acting), preceitos constitucionais completos, que produzem seus plenos efeitos com a simples entrada em vigor da Constituição; e
normas "não auto-executáveis" (not self-executing; not self-enforcing provisions ou not self-acting), indicadoras de princípios, que necessitam de atuação legislativa posterior, que lhes dê plena aplicação.
Além dessa classificação tradicional, apresenta-se, a seguir, a consagrada e bastante referida no Direito brasileiro classificação de José Afonso da Silva. Há doutrinadores, como, por exemplo, Maria Helena Diniz, que apresentam classificação com nomenclaturas distintas, mas que não inovam a ponto de ser necessário o registro neste material de apoio.
Classificação de José Afonso da Silva
O Professor José Afonso da Silva formulou uma classificação das normas constitucionais, que, sem dúvida, é a predominantemente adotada pela doutrina e jurisprudência pátrias.
Para José Afonso da Silva, as normas constitucionais não podem ser classificadas em apenas duas categorias, pois há uma terceira espécie que não se encaixa, propriamente, em nenhum dos dois grupos idealizados pela doutrina americana. 
Dessa forma, o eminente constitucionalista pátrio classifica as normas constitucionais, quanto ao grau de eficácia, em:
normas constitucionais de eficácia plena;
normas constitucionais de eficácia contida;
normas constitucionais de eficácia limitada.
Normas de eficácia plena
As normas constitucionais de eficácia plena são aquelas que, desde a entrada em vigor da Constituição, produzem, ou têm possibilidade de produzir, todos os seus efeitos essenciais, relativamente aos interesses, comportamentos e situações que o legislador constituinte quis diretamente regular.
As normas de eficácia plena não exigem a elaboração de novas normas legislativas que lhes completem o alcance e o sentido, ou lhes fixem o conteúdo, porque já se apresentam suficientemente explícitas na definição dos interesses nelas regulados. São, por isso, normas de aplicabilidade direta, imediata e integral. Exemplo: crime de tortura, já condenável pelo artigo 5º, III, da CF/88, não dependendo da edição de norma infraconstitucional que preveja a punição por essa prática como fato típico.
Normas de eficácia contida
As normas constitucionais de eficácia contida são aquelas em que o legislador constituinte regulou suficientemente os interesses relativos a determinada matéria, mas deixou margem à atuação restritiva por parte da competência discricionária do Poder Público, nos termos que a lei estabelecer ou nos termos de conceitos gerais nelas enunciados.
As normas de eficácia contida são, assim, normas constitucionais dotadas de aplicabilidade direta, imediata, mas não integral, porque sujeitas a restrições - que podem surgir da legislação ou outra fonte - que limitem sua eficácia e aplicabilidade. São normas, portanto, cuja eficácia é “contível”. Essas restrições poderão ser impostas:
pelo legislador infraconstitucional (Ex: art. 5°, incisos VIII e XIII);
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosaou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;
por outras normas constitucionais (Ex: arts. 136 a 141, que, diante do estado de defesa e estado de sítio, impõem restrições aos direitos fundamentais, como no caso do direito de reunião limitado na circunstância do estado de defesa);
como decorrência do uso, na própria norma constitucional, de conceitos ético-jurídicos consagrados, que comportam um variável grau de indeterminação, tais como “ordem pública”, “segurança nacional”, “integridade nacional”, “bons costumes”, “necessidade pública” ou “utilidade pública”, “perigo público iminente” (ao fixar esses conceitos, o Poder Público poderá limitar o alcance de normas constitucionais, como é o caso do art. 5°, incisos XXIV e XXV, que impõem restrições ao direito de propriedade, estabelecido no inciso XXII do mesmo artigo).
Explica o Professor José Afonso da Silva que a peculiaridade das normas de eficácia contida configura-se nos seguintes pontos:
são normas que, em regra, solicitam a intervenção do legislador ordinário, fazendo expressa remissão a uma legislação futura; mas o apelo ao legislador ordinário visa a restringir-lhes a plenitude da eficácia, regulamentando os direitos subjetivos que delas decorrem para os cidadãos, indivíduos ou grupos;
enquanto o legislador ordinário não expedir a norma restritiva, sua eficácia será plena; nisso também diferem das normas de eficácia limitada (explicadas a seguir), de vez que a interferência do legislador ordinário, em relação a estas, tem o escopo de lhes conferir plena eficácia e aplicabilidade concreta e positiva;
são de aplicabilidade direta e imediata, visto que o legislador constituinte deu normatividade suficiente aos interesses vinculados à matéria de que cogitam;
algumas dessas normas já contêm um conceito ético juridicizado (“bons costumes”, “ordem pública” etc.), com valor societário ou político a preservar, que implica a limitação de sua eficácia;
sua eficácia pode ainda ser afastada pela incidência de outras normas constitucionais, se ocorrerem certos pressupostos de fato (como o estado de sítio, por exemplo).
Em regra, as normas de eficácia contida exigem a atuação do legislador ordinário, fazendo expressa remissão a uma legislação futura. Entretanto, a atuação do legislador ordinário não será para tornar exercitável o direito nelas previsto (este já é exercitável desde a promulgação do texto constitucional), mas sim para restringir, para impor restrições ao exercício desse direito.
Um bom exemplo de norma constitucional de eficácia contida é o já citado art. 5°, XIII, CF:
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;
Essa norma assegura, desde logo, o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, mas sujeita-se à imposição de restrições por parte do legislador ordinário, devendo ser interpretada da seguinte maneira: (a) enquanto não estabelecidas em lei as qualificações profissionais necessárias para o exercício de determinada profissão, o seu exercício será amplo, vale dizer, qualquer pessoa poderá exercê-la; (b) em um momento seguinte, quando a lei vier a estabelecer as qualificações profissionais necessárias para o exercício dessa profissão, só poderão exercê-la aqueles que atenderem a essas qualificações previstas em lei. É o caso, entre outros, da exigência de aprovação no exame da OAB para o exercício da advocacia.
Outro exemplo é o direito de propriedade. O inciso XXII do art. 5.° da Constituição garante o direito de propriedade, mas os incisos XXIV e XXV apresentam os elementos de sua limitação, permitindo a desapropriação por necessidade ou utilidade pública ou por interesse social, bem como a requisição de propriedade particular pela autoridade competente no caso de perigo público iminente. Com efeito, embora a Constituição Federal assegure a imediata eficácia do direito de propriedade (art. 5.°, XXII), o mesmo texto constitucional já autoriza a imposição de restrição ao seu gozo, por meio de conceitos jurídicos de larga aceitação, tais como "necessidade ou utilidade pública" e "interesse social" (na hipótese de desapropriação - art. 5.°, inciso XXIV) ou "iminente perigo público" (na hipótese de requisição administrativa - art. 5.°, XXV).
Normas de eficácia limitada
As normas constitucionais de eficácia limitada são aquelas que não produzem, com a simples entrada em vigor, os seus efeitos essenciais, porque o legislador constituinte, por qualquer motivo, não estabeleceu, sobre a matéria, uma normatividade para isso bastante, deixando essa tarefa ao legislador ordinário ou a outro órgão do Estado.
São de aplicabilidade indireta, mediata e reduzida, porque somente incidem totalmente a partir de uma normação ulterior que lhes desenvolva a eficácia.
O Professor José Afonso da Silva ainda classifica as normas de eficácia limitada em dois grupos distintos:
as definidoras de princípio institutivo ou organizativo;
Aquelas pelas quais o legislador constituinte traça esquemas gerais de estruturação e atribuições de órgãos, entidades ou institutos, para que, em um momento posterior, sejam estruturados em definitivo, mediante lei. São exemplos: "a lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos Territórios" (art. 33); "a lei disporá sobre a criação, estruturação e atribuições dos Ministérios" (art. 88); "a lei regulará a organização e o funcionamento do Conselho de Defesa Nacional" (art. 91, §2°); "a lei disporá sobre a constituição, investidura, jurisdição, competência, garantias e condições de exercício dos órgãos da Justiça do Trabalho" (art. 113); artigo 121 da CF também.
as definidoras de princípio programático.
São aquelas em que o constituinte, em vez de regular direta e imediatamente determinados interesses, limitou-se a lhes traçar os princípios e diretrizes, para serem cumpridos pelos órgãos integrantes dos poderes constituídos (legislativos, executivos, jurisdicionais e administrativos), como programas das respectivas atividades, visando à realização dos fins sociais do Estado.
Constituem programas a serem realizados pelo Poder Público, disciplinando interesses econômico-sociais, tais como: realização da justiça social; valorização do trabalho; amparo à família; combate ao analfabetismo etc. Esse grupo é composto pelas normas que a doutrina constitucional denomina normas programáticas, de que são exemplos o art. 7.°, incisos XX e XXVII; o art. 173, §4.°; o art. 216, §3.°.
Finalizando, sintetizamos abaixo, as principais distinções entre normas constitucionais de eficácia contida e normas constitucionais de eficácia limitada:
com a promulgação da Constituição, as normas de eficácia contida têm aplicação direta e imediata, isto é, o direito nelas previsto é imediatamente exercitável; as normas de eficácia limitada têm aplicação indireta e mediata, o que significa que o exercício do direito nelas previsto dependente da edição de regulamentação ordinária;
ambas requerem normatização legislativa, mas a finalidade dessa normatização ordinária é distinta - nas normas de eficácia contida, a normação ordinária imporá limites ao exercício do direito (que, até então, desde a promulgação da Constituição, era amplamente exercitável); nas normas de eficácia limitada, a regulação ordinária virá para assegurar, para tornar viável o pleno exercício do direito, até então não efetivo;
a ausência de regulamentação tem conseqüências distintas - no caso das normas de eficácia contida, enquanto não houver regulamentação ordinária, o exercício do direito é amplo (a legislação ordinária virá para impor restrições ao exercício desse direito); em se tratando de norma de eficácialimitada, enquanto não houver regulamentação ordinária, não há efetivo exercício do direito (a legislação ordinária virá para tornar pleno o exercício desse direito).
Veja o exemplo: Artigo 37, inciso I, CF. Primeira parte: eficácia contida, segunda parte: eficácia limitada.
OBS: Em um mesmo artigo ou mesmo inciso podemos encontrar partes com eficácias diferentes. Veja, por exemplo, no inciso LI do artigo 5º da CF: extradição de brasileiro naturalizado: 1ª hipótese: crime comum antes da naturalização – eficácia plena. 2ª hipótese: envolvimento com tráfico nos termos da lei – eficácia limitada (interpretação do STF). 
Eficácia das normas programáticas
Vimos que as normas constitucionais programáticas são aquelas de eficácia limitada que requerem dos órgãos estatais uma determinada atuação, na consecução de um objetivo traçado pelo legislador constituinte. Como a própria denominação indica, estabelecem um programa, um rumo inicialmente traçado pela Constituição - e que deve ser perseguido pelos órgãos estatais (exemplos: arts. 23, 205, 211, 215 e 218 da Constituição Federal).
As normas programáticas não são normas voltadas para o indivíduo, e sim para os órgãos estatais, exigindo destes a consecução de determinados programas nelas traçados. São as denominadas normas de eficácia limitada definidoras de princípios programáticos, características de uma constituição do tipo dirigente, que exigem do Estado certa atuação futura, em um determinado rumo pré-definido.
Essas normas não produzem seus plenos efeitos com a mera promulgação da Constituição. Afinal, como estabelecem programas a serem concretizados no futuro, é certo que só produzirão seus plenos efeitos ulteriormente, quando esses programas forem, efetivamente, concretizados.
Entretanto, não se pode afirmar que as normas programáticas sejam desprovidas de eficácia jurídica enquanto não regulamentadas ou implementados os respectivos programas. As normas que integram uma Constituição do tipo rígida são jurídicas e, sendo jurídicas, têm normatividade. Afirmar que essas normas não produzem os seus plenos efeitos com a entrada em vigor da Constituição, antes da exigida regulamentação e implementação, não significa que sejam elas desprovidas de qualquer eficácia jurídica.
O constitucionalismo moderno firma que as normas programáticas, embora não produzam seus plenos efeitos de imediato, são dotadas da chamada eficácia negativa, isto é:
revogam as disposições contrárias ou incompatíveis com os seus comandos (o direito infraconstitucional anterior à norma constitucional programática não é recepcionado; diz-se que ela tem eficácia paralisante); e
impedem que sejam produzidas normas ulteriores que contrariem os pro​gramas por elas estabelecidos (a norma programática é paradigma para declaração de inconstitucionalidade do direito ordinário superveniente que lhe seja contrário; diz-se que ela tem eficácia impeditiva).
Além dessa eficácia negativa (paralisante e impeditiva), a norma programática também serve de parâmetro para a interpretação do texto constitucional, uma vez que o intérprete da Constituição deve levar em conta todos os seus comandos, com o fim de harmonizar o conjunto dos valores constitucionais como integrantes de uma unidade.
MÉTODOS, PRINCÍPIOS E LIMITES DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL
Sobre princípios e regras
Princípios Constitucionais
Princípios também são normas (e as normas dividem-se entre princípios e regras). Normas compõem o gênero, das quais são espécies as regras e os princípios.
	Princípios – são mais gerais
Normas jurídicas 	
	Regras – são mais diretas, específicas para uma circunstância
PRINCÍPIOS: alto grau de abstração (não temos a subsunção moldada do fato à norma).
REGRAS: alto grau de concretude, subsunção (a regra molda-se, enquadra-se perfeitamente ao fato social).
O que são Princípios
Os princípios se situam no ponto mais alto de qualquer sistema jurídico, de forma genérica e abstrata (sem relação direta com apenas um determinado caso específico). Eles norteiam todo o sistema de normas de maneira a atingir o fim último do direito que é a busca pela justiça. Rizzato Nunes (2005, p. 178) cita lição de Carlos Maximiliano sobre os Princípios Gerais do Direito, que declara que “todo conjunto harmônico de regras positivas é apenas o resumo, a síntese, o substrato de um complexo de altos ditames, o índice materializado de um sistema orgânico, a concretização de uma doutrina, série de postulados que enfeixam princípios superiores. Constituem estes as ‘diretivas’, idéias do hermeneuta, os pressupostos científicos da norma jurídica”. 
Toda e qualquer norma positiva deve respeitar os princípios que as norteiam. Os princípios informam a marcha da justiça e consagram expectativas de toda a sistemática jurídica. Têm aplicação aos casos concretos direta e indiretamente, ou seja, quando conclamados à resolução de um embate jurídico (como num conflito de normas, por exemplo), ou indiretamente quando da aplicação de norma que traz em seu bojo o espírito principiológico.
O intérprete do Direito vai sempre constatar que o sistema jurídico legal (escrito e não escrito - costumes) está sempre assentado em princípios. Como diz Rizzato Nunes (2005, p. 180), “é como se o sistema jurídico – que no caso brasileiro é quase completamente escrito – fosse um tecido costurado sobre princípios. Ou, dizendo de outro modo, a colcha de retalhos de normas postas está assentada neles. Se essa colcha fosse, por um motivo qualquer, retirada, eles estariam lá, sob ela”. 
O sistema normativo brasileiro, que tem em seu ápice formal a Constituição Federal, consagra tão logo, e neste mesmo texto magno (CF), a orientação do Direito por princípios (objetivos maiores da comunidade jurídica).
Colisão de Princípios
A intensidade de eficácia de cada princípio só será encontrada em face do caso concreto (por interpretação e aplicação do magistrado). O caso concreto impõe uma interpretação cujo esforço pode resultar em choque entre dois princípios. 
Ex.: inciso IV do art.5º (que garante a livre manifestação do pensamento) e o inciso X do mesmo art. 5°, da CF (que protege a intimidade, a honra e a vida privada das pessoas): a colisão é aparente, pois não se pode dizer que um vale e o outro não vale. A aplicação ao caso concreto implica a análise dos princípios em conflito e a mitigação de um em relação ao outro, conforme circunstâncias concretas e fáticas do caso.
Assim, todos os princípios são válidos, o que se busca é a intensidade de eficácia de cada princípio que, por sua vez, não se anula em face do caso concreto (só deixa de ser aplicado com maior ou menor intensidade). Assim pode-se afirmar que nenhum princípio será absoluto. No entanto,observa-se que, diante da colisão de princípios, haverá um juízo interpretativo de ponderação que identificará a intensidade de eficácia de cada princípio.
Nesse contexto, assume importância o princípio da proporcionalidade. Não há Estado Democrático de Direito sem proporcionalidade em seus 3 subprincípios: (a) adequação, (b) necessidade e (c) proporcionalidade em sentido estrito.
Adequação - o primeiro traduz uma exigência de compatibilidade entre o fim pretendido pela norma e os meios por ela enunciados para sua consecução. Trata-se do exame de uma relação de causalidade, ou seja, uma lei somente deve ser afastada por inidônea quando absolutamente incapaz de produzir o resultado perseguido.
Necessidade - diz respeito ao fato de ser a medida restritiva de direitos indispensável à preservação do próprio direito por ela restringido ou a outro em igual ou superior patamar de importância, isto é, na procura do meio menos nocivo capaz de produzir o fim propugnado pela norma em questão. Traduz-se este subprincípio em quatro vertentes: exigibilidade material (a restrição é indispensável), espacial (o âmbito de atuação deve ser limitado), temporal (a medida coativa do poder público não deve ser perpétua) e pessoal

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