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Teorias da Industrialização Brasileira

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Industrialização Brasileira: Principais Teorias Interpretativas
São quatro as principais teorias explicativas da industrialização brasileira:
1. Choques Adversos
2. Industrialização Liderada pela Expansão das Exportações
3. Capitalismo Tardio
4. Industrialização Intencionalmente Promovida por Políticas do Governo
Referência Bibliográfica: SUZIGAN, Wilson. Indústria Brasileira: origem e desenvolvimento. São Paulo: Hucitec, 1997.
1. Teoria dos Choques Adversos
A teoria do Choques Adversos entende a industrialização brasileira como impulsionada por crises no setor exportador, guerras ou crises econômicas internacionais (Choques Adversos). Tais adversidades, ocorridas no setor externo da economia, afetam a economia brasileira impondo dificuldades à exportação.
Em sua versão extrema, representada pelos economistas da CEPAL e por Roberto Simonsen principalmente, tal teoria seria de aplicação geral. Para Roberto Simonsen a indústria nacional teria reagido positivamente à I Guerra Mundial. Para Celso Furtado e Maria da Conceição Tavares, a crise do café e a Grande Depressão dos anos 30 seriam fundamentais para nosso desenvolvimento industrial.
O posicionamento do Brasil na Divisão Internacional do Trabalho seria de fornecedor de alimentos e matérias-primas (desde o seu período imperial). Dessa forma, o centro de decisão dos países periféricos, como o Brasil, por exemplo, está fora desses países, o que determina uma economia reflexa e dependente. Sendo um país cuja economia se baseava na especialização agrícola, essa economia seria incapaz de estimular o desenvolvimento industrial, dependendo, portanto, de estímulos externos.
A industrialização seria um ajuste aos desequilíbrios externos (I Guerra Mundial, Grande Depressão dos anos 30 e II Guerra Mundial). Em reação a tais crises surge um novo modelo de crescimento voltado para dentro, posterior aos anos 30. A variável endógena investimento industrial substituiu a variável exógena procura externa como principal fonte de dinamismo e crescimento. Ou seja, o centro de decisão do país se volta para dentro. 
Em resumo, com uma economia de base agrícola, pautada nos setor agroexportador, o Brasil não teria como estimular o desenvolvimento industrial. Este seria impulsionado por fatores externos, os choques adversos, tais como as duas grandes guerras, a crise do café e a grande depressão dos anos 30.
Wilson Suzigan critica a teoria dos choques adversos em diversos pontos. Ele aponta para o fato de que houve crescimento da indústria brasileira nos períodos de expansão das exportações, não sendo somente uma reação à períodos de crise. Para Suzigan, Celso Furtado e Maria da Conceição Tavares estudaram somente a década posterior a 1930, não entendendo que no período anterior a industrialização era induzida pelo crescimento da renda interna, ocorrendo uma dependência do setor exportador, sendo estimulada por esse setor, portanto. Isso se daria com o crescimento da renda aumentando o mercado e, portanto, a demanda por produtos para consumo
Hirschman entende a produção interna como “devoradora de importações”, ou seja, o crescimento da produção industrial depende do crescimento do mercado interno que, por sua vez, depende da expansão do setor exportador. Para acabar com essa dependência, o setor industrial deveria sofrer uma diversificação, criando sua própria demanda, o que só seria possível na Primeira República com incentivos do governo, o que não ocorreu. 
Para Tavares e Furtado houve uma interdependência entre setor exportador e o setor industrial, apesar desses autores focalizarem seus estudos somente no pós-30. Já para a CEPAL, havia antagonismo entre esses dois setores.
No pós-30 ocorreu a industrialização substituidora de importações, estimulada pelos choques adversos – crise do café e Grande Depressão dos anos 1930. O setor exportador teria sido determinante no crescimento da renda, colocando tal setor como estratégico para a capacidade de importar os bens de capital necessários para investimentos na indústria. Os investimentos em atividades econômicas ligadas ao mercado interno teriam diversificado a economia atuando como determinante para o crescimento da renda interna. 
A industrialização substituidora de importações foi uma resposta para os choques adversos.
2. Teoria da industrialização promovida pela Expansão das Exportações:
Representa uma visão diferente de Celso Furtado e Maria da Conceição Tavares por estabelecer uma relação direta entre o desempenho do setor exportador e o desenvolvimento industrial. A base dessa teoria é a ideia que a expansão do setor exportador traz bom desempenho para a indústria; por outro lado, uma crise do setor exportador traz retração da indústria.
Seus principais autores são Dean, Nicol, Peláez e Leff.
Peláez critica a versão dos choques adversos, apesar de apenas estudar a década de 1930 (critica a versão de Furtado). Este autor acredita que as Políticas Econômicas que são adotadas para combater a crise, como por exemplo o incentivo ao setor exportador com as políticas de valorização do café, atrasaram o desenvolvimento industrial brasileiro.
Para Leff há apoio mútuo entre o setor exportador e o setor industrial, não havendo necessidade de choque adverso, ou seja, de incentivo externo. A industrialização brasileira para Leff não dependia das condições econômicas externas.
Já para Dean e Nicol há uma relação direta entre a expansão das exportações de café e desenvolvimento industrial de São Paulo, sendo essa relação válida para o período anterior a 1930 e, depois, veio a industrialização substituidora de importações.
Warren Dean é contrário à ideia de que a crise favoreceu o crescimento industrial dos anos 1930. Para esses dois autores (Dean e Nicol) o café promoveu a monetização, o crescimento da renda interna, criando mercado para os produtos manufaturados nacionais. Além disso, desenvolveu a infraestrutura (estradas de ferro e portos) ampliando e integrando o mercado. Eles acreditam que o comércio de importação e exportação de produtos agrícolas contribuiu para a criação de um sistema de distribuição de produtos manufaturados. Também a imigração e o aumento da oferta de mão-de-obra (via abolição) e, ainda, os recursos em moeda estrangeira para importação de bens de capital foram gerados pelo café principalmente.
Eles discordam quanto ao papel do Estado e do capital estrangeiro. Warren Dean estuda as origens do capital industrial e do empresariado. Para ele, os cafeicultores investiram em bancos, estradas de ferro, imigração e etc. de forma direta, além do processo de linkage promovido pelo café.
As críticas de Suzigan são as seguintes: Dean ignora mudanças estruturais e Nicol aplica a teoria apenas ao período anterior a 30. Ambos ignoram mudanças qualitativas da I Guerra Mundial, apesar de ser de grande contribuição às conexões entre o setor exportador e o industrial para eles. 
Já Pélaez estuda somente o período posterior a 1930 e Leff desconsidera a importância do comportamento do mercado externo.
3. Teoria do Capitalismo Tardio
Os principais autores desta teoria são Silva, Mello, Tavares, Cano e Aureliano. Eles pretendem uma revisão da tradicional teoria cepalina, com discordância do caráter reflexo das economias latino-americanas. Para esses autores o desenvolvimento latino-americano é capitalista, determinado primeiramente por fatores internos e secundariamente por fatores externos.
A transição da mão-de-obra escrava para livre na economia primário-exportadora marca a emergência de um novo modo de produção – o capitalista. A partir daí, o crescimento industrial se dá pela acumulação de capital no setor agrícola exportador, que depende de procura externa. Eles discordam da visão cepalina tradicional de que há crescimento voltado para fora até 1929 e transição, a partir de 1930, para um crescimento voltado para dentro (crise no setor exportador). Como interpretação da industrialização no Brasil, aparece a ideia que esta seria fruto da transição da economia colonial para a mercantilescravista nacional e, depois, para a capitalista. A fase de 1880/1920 aparece como a de origem e consolidação do capital industrial, que teria origem na rápida acumulação gerada pelo café. 
A introdução da máquina de beneficiar e das estradas de ferro trouxeram melhorias na qualidade do café e redução dos custos de transportes e estimularam a acumulação de capital, aumentando a procura por mão-de-obra. O emprego de mão-de-obra remunerada cresceria cada vez mais por parte dos cafeicultores por considerarem o trabalho escravo oneroso e escasso. A promoção da imigração favoreceu a transição para a economia capitalista, criando condições para a emergência do capital industrial e conhecimento técnico, além da acumulação de capital para investimentos na indústria. O processo imigratório teria colaborado também com a formação de trabalho livre, criação de mercado interno e capacidade de importar bens.
Para essa teoria o capital industrial é extensão do capital cafeeiro, que por sua vez, é parte do complexo agroexportador de café (transportes, comércio de importação e exportação e serviços bancários). O vazamento do capital cafeeiro para a indústria ocorreu em períodos de expansão das exportações (numa relação não-linear), ou seja, uma crise no setor exportador reduz a capacidade de importar, gerando crescimento da indústria nacional.
O capital industrial depende do capital cafeeiro que, por sua vez, depende do capital internacional. A relação entre capital cafeeiro e capital industrial está principalmente na capacidade de importar máquinas e na criação de mercado consumidor. Já a relação entre capital cafeeiro e capital internacional está condicionado a demanda externa por café. 
O desenvolvimento do capitalismo baseado no comércio de café estimulou e impôs limites ao desenvolvimento industrial. A demanda por bens de consumo era interna e demanda por bens de capital era dirigida ao centro. A indústria interna de bens de capital não se desenvolveu e, com isso, impediu a autonomia da acumulação de capital industrial, que dependia do mercado externo.
O crescimento do setor industrial é específico e retardatário (periférico). Por isso a filiação de um “Capitalismo Tardio”.
A Política econômica do governo beneficia a indústria indiretamente, mas não se dirige especificamente como incentivos à ela. Algumas medidas como a depreciação da taxa de câmbio beneficia a indústria indiretamente. 
A acumulação baseada no café foi rompida pela crise do café e Grande Depressão dos anos 1930.
As políticas da década de 1930 (expansionistas) e a redução da capacidade de importar estimularam o crescimento da produção de bens de consumo (já estabelecidos) e a industrialização substituidora de importações. Somente em meados de 1950 é que a acumulação de capital industrial tornou-se predominantemente e endogenamente determinada (indústrias pesadas).
Suzigan concorda que a expansão das exportações traz a expansão da indústria; que o capital industrial originou-se de atividades direta ou indiretamente relacionadas ao setor exportador (não apenas o café, mas principalmente). Concorda também que a crise do café e Grande Depressão dos anos 1930 são marcos no desenvolvimento industrial brasileiro e que a política econômica teve, ocasionalmente, efeitos positivos sobre a indústria.
As principais críticas se dirigem aos seguintes pontos: 
a acumulação de capital teve início bem antes de 1880 
antes de 1930 os investimentos têm relação direta entre setor exportador e industrial 
há participação efetiva dos cafeicultores no estabelecimento de indústrias, mas, a regra geral é de que importadores (comerciantes) e imigrantes constituíram a origem da burguesia industrial 
a indústria já tinha sofrido diversificação antes da I Guerra Mundial.
4. Teoria da industrialização liderada por Políticas do Governo
Essa teoria é defendida principalmente por Flávio Versiani e Maria Teresa Ribeiro de Oliveira (ex-Versiani). Para esses autores o governo teria incentivado a industrialização com proteção tarifária e concessão de incentivos e subsídios à indústria. Eles buscam contestar a minimização do papel do Estado no processo de industrialização.
A proteção alfandegária teria sido deliberada, desde a tarifa Alves Branco e os incentivos e subsídios foram oferecidos para indústrias específicas. Versiani e Versiani estudam as indústrias de tecidos de algodão, observando ocorrer alternância de períodos de aumento dos investimentos com períodos de expansão da produção. A Tarifa alfandegária foi o mais importante fator de proteção para o desenvolvimento da indústria de tecidos de algodão.
As críticas são muitas a esta teoria. Para Suzigan, a proteção para defesa do mercado interno (indústria) não pode ser baseada nas tarifas alfandegárias somente. Há pelo menos quatro componentes que devem ser levados em consideração: 
1) Direitos aduaneiros 2) Taxa de câmbio 3) Preços das importações 4) Preços internos.
As alternâncias na taxa de câmbio alteram o desenvolvimento industrial. Os subsídios e incentivos são sistemáticos somente para a indústria do açúcar. Os créditos foram oferecidos em 1892 (pós-encilhamento) e 1918 para a indústria de algodão.
Difícil uma política de incentivos e subsídios para a indústria, de forma abrangente, numa economia agroexportadora. Basta observar as políticas voltadas para o setor agroexportador durante a República Velha.
Para os Versiani, as políticas do governo não eram antiindustrialistas, o que é verdade. Mas não significa que fossem industrializantes. As políticas econômicas não incentivavam deliberadamente o setor industrial, sendo incentivos à indústrias específicas depois da I Guerra Mundial, como por exemplo, o aço. A escassez de matéria-prima e insumos foi o que estimulou essa mudança no papel do Estado durante a I Guerra Mundial (soda cáustica, aço, óleo de algodão). Em 1920 é estendida ao cimento, papel, produtos de borracha, fertilizantes e fios e tecidos de seda. 
A diversificação não ocorre principalmente pelos incentivos e subsídios do governo, visto que não houve generalização para todos os setores da indústria. Os incentivos foram ineficazes para papel e celulose, produtos de borracha e óleo de algodão, fios e tecidos de seda e carnes industrializadas e outros setores não tiveram incentivos. Antes da I Guerra Mundial só havia incentivos para a indústria do açúcar e após a I Guerra Mundial só para setores específicos.

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