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Evolução do ensino FSE

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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Fundamentos Sociológicos da Educação
Trabalho de avaliação 2014/2
Evolução do Ensino 
De como o ensino médio foi em meados dos anos 80 até os dias atuais com a influência dos vestibulares.
Armando Nabuco
Michele Martins
Rio de Janeiro, dezembro de 2014 
“Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda.”
Paulo Freire
Introdução
Nas ultimas décadas pode-se perceber que o ensino médio sofreu mudanças significativas de aprendizagem. 
A ideia central dessa dissertação tem como objetivo visar como evoluiu a metodologia de ensino do professor, ou seja, de como ele apresenta o conteúdo da matriz curricular, que concilia entre as décadas, e de como é a aprendizagem pelos alunos. 
O comum entre as décadas relatadas nesse conteúdo é que o ensino evoluiu e evolui de acordo com as metas prioritárias dos jovens que é, em grande parte, imposta pelas situações e necessidades em geral que a sociedade apresentou ou apresenta.
Com isso a perspectiva do ensino também foi se adequando a sociedade e suas mudanças. É considerável a influencia do crescimento da globalização e consolidação do sistema econômico capitalista nas escolas e até mesmo na postura do aluno.
Projetos de ensino da década de oitenta – A importância da inserção no Mercado de trabalho.
Nesse período a ideia principal era uma educação profissional, visando preparar o aluno para atividades de pouca qualificação e ingresso imediato no mercado de trabalho.
O campo curricular educacional da época favoreceu a adoção dos pressupostos do materialismo com base em Marx, a começar pelas discussões sobre o trabalho como princípio educativo. Resultando um processo de elaboração de propostas curriculares para o Ensino Médio/Profissional.
Era notório perceber que a as propostas para a escola média brasileira expressavam um caráter hegemônico da sociedade capitalista. Na época eram comumente escolas regulares do segundo seguimento oferecer cursos técnicos e profissionalizantes aos alunos, pois as políticas educacionais eram voltadas ao ensino profissionalizante. 
Pode-se notar que metas dos alunos e professores eram diferentes dos dias atuais. Na década de 80, A ideia de se continuar a estudar e prosseguir para um curso de graduação era comum em classes mais altas da sociedade. Indiscutivelmente ingressar na universidade, de uma forma geral detinha de um prestígio junto à sociedade.
É claro que devemos ressaltar dentro deste contexto, a figura do professor. As relações entre alunos e professores em meados dos anos 70-80 são bem diferentes do que se conhece atualmente. Apesar da pratica de ensino imposta, ela era valorizada e enaltecida por alunos e seus familiares. 
Mesmo com uma geração de jovens com engajamento político, participantes dos movimentos sociais, jovens gerados pela ditadura, que detinham pouca liberdade e democracia ainda em construção; havia uma posição de respeito e superioridade entre o professor e o aluno que também se refletia aos pais e familiares. 
Um reflexo imediato deste reconhecimento era a boa remuneração dos docentes deste segmento e as melhores condições de trabalho.
Mudança no contexto do ensino na década de noventa - A ideia de curso superior cresce entre a sociedade em geral.
Na década de 90, observou-se outro momento de aproximação à integração entre ensino e trabalho direcionando toda a escola média para o Ensino Médio de formação geral. Nesta nova proposta, a Educação Profissional passa a integrar a Educação Básica, como modalidade da etapa de Ensino Médio.
Entretanto houve mudanças significativas entre as perspectivas do aluno em relação aos estudos. A entrada na universidade assumiu para o jovem brasileiro um caráter de tarefa evolutiva em si mesmo. A ideia de seguir ao ensino superior deixa de ser privilegiada e começa a crescer e se tornar mais comum entre os alunos da escola média.
Essa inserção fez com que aumentasse a quantidade de cursos pré-vestibulares. Começam a surgir novos, a crescer os existentes e ganhar novos adeptos a esse novo contexto de ensino.
A ideia principal do curso era preparar o aluno para as provas obrigatórias de ingresso no ensino superior. E geralmente ele era realizado por um formando e principalmente por um recém-formado do curso de nível médio.
Toda essa mudança pode ter sido estimulada pelo desemprego em massa que atingiu a sociedade, principalmente entre os pobres e a classe média. Fazer um curso de nível superior seria um diferencial no mercado de trabalho e a garantia de um emprego com melhores salários.
Mesmo tendo essa visão nova por uma boa parte social, ainda sim não há essa presença forte de se inserir no ensino superior nas escolas da rede publica de ensino. Nessa época ainda é forte, entre a grande maioria dos alunos, inserir-se rapidamente no mercado de trabalho até mesmo antes de concluir seu curso de formação geral do ensino médio. 
Talvez tais comportamentos diversificados podem estar associados à situação socioeconômica dos estudantes de escolas públicas, já que a entrada imediata no mercado de trabalho subentende o aumento da renda familiar.
A virada do século – Os anos 2000 e a crescente influência no ensino superior na escola média. 
Atualmente pode se dizer que muitos alunos incorporam a ideia de como se o ingresso na educação superior fosse a única alternativa disponível de inserção no mundo do trabalho. Essa valorização da educação superior, principalmente dos cursos mais tradicionais, vem exercendo influência nos alunos a optarem por tal escolha.
A importância atribuída ao ingresso na educação superior por alunos concluintes do ensino médio fez com que as expectativas traçadas pelos alunos sejam escolher continuar os estudos através da educação superior e se apresentam como meta prioritária. O que anda ocorrendo leva em detrimento as outras possibilidades de formação, principalmente a profissional, ou do ingresso imediato no mercado de trabalho.
Exemplificando uma situação em que demonstra claramente essa ideia fixada entre os alunos, foi uma experiência vivida em uma escola técnica, o Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET/RJ. Todos os alunos fazem cursos técnicos profissionalizantes e uma grande parte também o ensino médio. Mesmo encaminhados ao mercado de trabalho, a maioria dos alunos pretendem ingressar no ensino superior logo ao terminar o ensino médio. 
“Fiz curso técnico de eletrônica nessa escola entre 2010 e 2012. Entre todos os alunos que participavam do curso comigo, a grande maioria, cerca de 90%, pretendia cursar o ensino superior logo que terminasse o curso e não sequer praticar a carreira. Muitos pretendiam seguir no mesmo seguimento, mas fazendo um curso de graduação da mesma área. Por parte dos professores, até que tentavam convencer os alunos a praticar a carreira técnica e não se preocupar tanto com vestibulares. Mas a ideia era fixa por grande parte dos alunos, inclusive por mim que nem a carreira que fiz segui.” 
Michele Martins – Ex-aluna do curso técnico de eletrônica do CEFET/RJ.
Decorrente dessa situação relatada acima nota-se a grande preocupação em seguir com os estudos ao ensino superior por parte dos alunos em geral. A preocupação com a aprovação no vestibular tem empobrecido o desenvolvimento de projetos profissionais entre os jovens.
É de suma importância também ressaltar o papel da escola a cerca desses valores apontados. Essa valorização da educação superior, principalmente das escolas mais tradicionais e pré-vestibulares renomados, vem exercendo influência negativa sobre as verdadeiras diretrizes do ensino médio. 
O currículo escolar ficou bastante influenciado com os vestibulares. As escolas começaram a adequar o ensino de acordo com os exames prestados no vestibular. Ou seja, começaram a “inserir” o pré-vestibular no curso de formação geral da escolamédia. 
A escola começou a ter uma visão mais técnica e objetiva 
que vem deixando de lado seu papel de preparar do jovem para o mundo adulto, e passando a ser um veículo de preparação para os vestibulares.
Observa-se muito clara e nitidamente a presença empresarial nas escolas. Começa a surgir certa dicotomia na educação: escola com traços de empresa. Professores passam a ser chamados de “colaboradores” do ensino e estes não são mais responsáveis, por exemplo, pela elaboração das avaliações de seus próprios alunos que são impostas de forma seriada e imperativa. 
“Os materiais didáticos passam a ser confeccionados pelas próprias escolas, em geral por um coordenador de área, não importando qualquer tipo de opinião por parte do professor na feitura deste material. O professor é obrigado a cumprir metas de aprovação e de desempenho de seus alunos, ele passa a ser avaliado constantemente, por seus coordenadores e diretores e também por seus próprios alunos. Atualmente tem escolas que os professores são avaliados duas vezes ao ano por seus alunos, que preenchem uma planilha onde ao professor são atribuídas notas.”
Armando Nabuco – Professor de uma escola com ênfase no vestibular no ensino e cursos pré-vestibulares.
É evidente então que diante deste cenário, o professor não tem mais a notoriedade que se observava nas épocas áureas dos anos 80; ele passa a ser considerado como se fosse um “pião da educação” ficando totalmente a mercê das escolas. Atualmente pode-se dizer que o professor não é reconhecido mais com seu verdadeiro papel de educador. Pode-se comparar a ideia atual da como uma enorme engrenagem e o professor é somente uma peça desse sistema, que se por ventura der defeito, rapidamente é substituída por outra qualquer.
	
O ensino público diante dessa nova perspectiva, de ensino de ênfase nos vestibulares, está “atrasado” em virtude de não idealizar essa ideia como foco nas suas praticas de ensino. A ideia de escola normal ainda é exposta, e seria a ideal se não houvesse outras problemáticas no ensino publico.
A escola pública conta com uma deficiência no ensino decorrente a diversas mudanças ocorridas com passar dos anos. A falta de investimento e verbas e a má distribuição comprometem muito a qualidade do ensino. Outros fatores também influenciam como a base fundamental dos alunos serem baixas ao ponto de comprometer todo desenvolvimento do ensino médio.
“Apesar de todos os problemas, os professores se dedicam a passar para os alunos todo conhecimento necessário para se tornarem cidadãos. Infelizmente o aluno não esta preparado de forma correta no nível que seria a escola média. Há alunos com potenciais, mas que devido a má formação, comprometem seu aprendizado. São poucos alunos que tem condições de competir por uma vaga no vestibular, não porque não são capazes e sim porque não possuem preparo e estrutura para tentar. E as cotas? Acredito que a grande maioria vá para colégios da rede publica renomeados como os federais. No ano em que estudei lá, havia um método com a tentativa de preparar os alunos para concursos vestibulares. Consistia em avaliar os alunos através de avaliações com padrões dos exames vestibulares. A ideia era boa e bem feita, mas não havia realmente um preparo implementado”
Michele Martins – Ex-Aluna do Colégio Estadual Antonio Prado Junior
Apesar de qualquer tentativa por parte de algumas escolas de trazerem esse novo método para os alunos à rede publica. O ensino em si ainda é muito déficit e outras muitas questões.
A influência do exame nacional do ensino médio na escola
A chegada do exame nacional do ensino médio (ENEM) está dando contribuição preponderante para a universalização do ensino. A influencia do exame conseguiu ser ainda maior que dos vestibulares, visto que atualmente grande parte das universidades públicas e federais adotam o Enem como vestibular para ingresso.
Atualmente acontece que grande parte as escolas se tornaram verdadeiros pré-vestibulares, ou melhor, dizendo, pré-enem. Preparam seus alunos para o exame (Enem) desde o inicio do curso e induz um currículo novo para os seus alunos baseado no exame.
Em uma entrevista à folha dirigida o professor Araken de Abreu e Silva respondeu sobre essas questões dando sua opinião a cerca do assunto.
Muitas escolas tem a preocupação de preparar seus alunos apenas para passar no Enem ou no vestibular. Qual a opinião do senhor sobre isso?
“Isso é um absurdo, não tem cultura geral. Eu acho que esses programas têm todos que ser reformulados. Se perguntar na televisão: o que você aprendeu de Matemática que você aplica? As quatro operações básicas? Cálculo de juros, uma regrinha de três...? Eles te enchem com uma porção de coisas que você não vai precisar, em vez de dar uma base sólida naquilo que vai utilizar. Antigamente, uns iam para Letras, Direito, e faziam um curso, e os outros, que queriam ir para Engenharia, Química, iam para outro. Era o segundo grau, porém, com mais ênfase em determinadas matérias. Eu acho que tínhamos que concentrar esses cursos em propiciar uma base maior em Matemática, em Português, em Geografia e História brasileira. Se eu não me engano, aqui é o país recordista em mudança de legislação pertinente à educação. A única coisa que tinha organizada neste estado era o ensino normal. O que eles fizeram? Tiraram até o nome de Escola Normal. Eu não entendo...”
Uma consequência dessa situação são os altos índices de evasão escolar na educação superior que começam a se tornar um grave problema. 
Já há uma mudança no perfil do aluno universitário que entra hoje nas universidades federais por causa desta mudança ocorrida na grade curricular. A matriz desse problema é a nesse novo modelo adotado, pois há muito conteúdo que não é passado da forma correta porque não é do currículo do exame (Enem).

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