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Nélson Jahr Garcia conscientização via Internet

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Nélson Jahr Garcia: conscientização via Internet 
 
 
Lívio Sakai 
Mestrando no curso de pós-graduação em 
Comunicação Social pela UMESP 
 
 
 
Resumo: 
 
O estudo da Comunicação persuasiva e de propaganda ideológica no Brasil 
passa obrigatoriamente pelas obras de Nélson Jahr Garcia. Em suas obras, o foco foi 
direcionado para a propaganda ideológica no governo populista de Getúlio Vargas e 
para o período marcado pela ditadura militar brasileira. Em seus textos percebe-se, além 
de uma inclinação marxista, o interesse numa exposição didática e conscientizadora dos 
fatos. Foi o mais importante autor que tratou sobre propaganda ideológica tomando 
como modelo para análise a sociedade brasileira e que, encontrando na Internet o meio 
ideal para difusão das suas idéias, colocou suas obras na rede como de domínio público 
e livre distribuição. 
 
Palavras-chave: propaganda ideológica, comunicação persuasiva, propaganda política. 
 
 
 
1. Nélson Jahr Garcia 
 
 
Nélson Jahr Garcia, natural de São Paulo, nascido em outubro de 1947. Fez o 
ensino básico até a pós-graduação no ensino público. Formou-se em direito pela 
Faculdade de Direito do Largo São Francisco e advogou por quase dez anos. 
Fez mestrado e doutoramento em Ciências da Comunicação na Escola de 
Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. 
Escreveu cinco livros, três em papel e dois eletrônicos, sem contar centenas de 
artigos e crônicas. 
Foi cronista de “O Atibaiense”, maior jornal da cidade onde morava em seus 
últimos anos de vida, a qual considerava “um pedaço do céu na terra”. 
Apaixonado pela Internet, criou um site dedicado à comunicação persuasiva, 
inclusive reproduzindo obras clássicas relacionadas direta ou indiretamente ao tema. 
Todas as obras de acesso gratuito. Justificava dizendo que sempre estudou por conta do 
Estado, portanto, nada seria mais justo que retribuir parte do conhecimento que este lhe 
proporcionou. 
Sua coleção de obras, batizada de COLEÇÃO RIDENDO CASTIGAT MORES, 
é composta por obras suas e outras traduzidas por ele. Friedrich Engels, Adolf Hitler, 
Augusto Comte, Marx, Voltaire, Rousseau, Shakespeare, George Orwell são apenas 
alguns dos autores que tiveram suas obras traduzidas e adicionadas a esta coleção. 
Nélson Jahr Garcia faleceu em novembro de 2002 em Atibaia, com 53 anos. 
 
 
 
2. Introdução 
 
 
A vida de Nélson Jahr Garcia não pode ser descrita no âmbito das suas escolhas 
profissionais, uma linha reta. Porém, percebe-se claramente que, descoberto seu 
objetivo profissional e de vida, trilhou este caminho com determinação. A partir deste 
ponto sim, sua carreira passou assumiu uma forma retilínea. Ao ingressar no campo da 
comunicação social, encontrou nela um modo de colocar em prática um projeto de vida. 
Segundo Nélson, sua experiência adquirida na Escola de Comunicação e Artes da USP 
conseguiu superar um pouco do ”espírito barroco e burocrático que a Faculdade de 
Direito lhe havia incutido”.1 
O interesse no lado social de seus trabalhos o conduziu para a Comunicação 
Social, onde se especializou em Comunicação Persuasiva e a Propaganda Ideológica. 
Investiu-se nestes temas na sua dissertação de mestrado e sua tese de doutorado e em 
inúmeros artigos publicados em revistas da área e principalmente na Internet. 
Este último veículo era tido por ele com otimismo: um lugar de acesso público, 
onde a cultura e a informação estariam gratuitamente disponíveis, bastando apenas 
alguns cliques para que ela chegasse até o lar do internauta. Para ele, um canal mais 
valioso que um simples meio de comunicação: uma maneira democrática de incitar uma 
 
1
 GARCIA, Nélson Jahr, Comunicando Comunicação I (São Paulo, Rocket E-Books, 2000), p.3. 
revolução com a simples conscientização da sociedade pela exposição das relações de 
exploração decorrentes do capitalismo. Provavelmente, a Internet era para ele, marxista 
convicto, uma falha no sistema que poderia modificar toda a ordem estabelecida. 
Assim, em 1992 abandonou o método Gutenberg, passou a publicar e atualizar 
suas obras exclusivamente na Internet. Traduziu obras clássicas – já consideradas 
patrimônio da humanidade e sem direitos autorais - do alemão e inglês para o português. 
A maioria para conduzir o leitor a uma reflexão sobre a sociedade, desmistificando 
relações ocultas ou visíveis somente através de um questionamento mais profundo. 
Outras foram escritas em português simplesmente pelo seu mérito literário, segundo o 
tradutor, obras que deveriam ser lidas por todos os seres humanos. 
Uma busca simples no site de buscas mais popular, o www.google.com.br, pelo 
seu nome revelará mais de 310 referências sobre o autor, principalmente ligadas às suas 
traduções e livros, mas também em participações dando sua opinião sobre novos 
serviços na Internet, crítica de layout, cinema, utilidade, etc.. Já uma procura mais 
específica no mesmo endereço por propaganda ideológica, encontrará 1660 referências 
ao assunto, sendo 109 tratadas por NJG ou tendo suas obras como referencial. 
A sua forte presença na Internet, seus livros, artigos e traduções convergem para 
um único fim: a crença de que a cultura aliada ao senso crítico aprimorado pelo 
conhecimento dos mecanismos de persuasão das mídias tradicionais poderia criar uma 
população de cidadãos ativos que acabassem por transformar a sociedade em outra mais 
justa. 
 
 
 
3. Produção acadêmica 
 
 
A essência de toda a produção de Nélson Jahr Garcia encontra-se em seu livro 
“O que é Propaganda Ideológica”, disponível na Internet. 
Seu trabalho de mestrado e doutorado bem como sua produção de artigos 
alicerçou-se sempre nos conceitos de propaganda ideológica e na força do capital nas 
relações de dominação. A simplicidade desta afirmação esconde uma pesquisa 
minuciosa e altamente crítica nos campos da economia, cultura e comunicação. 
Na sua dissertação de mestrado, publicada em livro, Nélson Jahr Garcia faz a 
sua primeira incursão no campo da comunicação persuasiva. Ao contrário do que se 
espera da primeira atuação, o trabalho apresenta sólida estrutura teórica e um excelente 
resgate histórico do período em pauta. 
Na obra, Nélson contraria historiadores como Thomas Skidmore, que viam os 
acontecimentos deste período como caprichos do ditador Getúlio Vargas, com uma 
força independente que tomou posse sem qualquer organização ou processo anterior. 
Jahr aborda o Estado Novo como resultado de um longo processo iniciado com o fim da 
sociedade escravocrata culminando com a revolução de 1930 que consagra Getúlio 
Vargas como novo governante do país, tendo como linha mestra dos acontecimentos o 
capital, mediado por personagens ou classes. 
Portanto a formação social tem papel tão importante no estudo quanto a 
ideologia e a propaganda e, o vínculo entre estes três objetos fundamentará o trabalho. 
Este foi dividido em três partes, sendo que o resgate histórico focado na sociedade 
capitalista e suas transformações foram o tema para a primeira parte; na segunda o autor 
discorre sobre o que autores que trabalharam o tema, mesmo que tangencialmente, 
tenham conseguido e na última parte os conceitos de propaganda ideológica são 
aplicados na realidade brasileira do período. 
No quesito formação social repete-se na linha do tempo abordada os conflitos 
entre classes sociais, alternando-se apenas seus protagonistas. Proprietários de engenhos 
e escravos, latifundiários da cafeicultura e empregados, industriais e funcionários. 
Para os setores dominantes, em uma sociedade, a presença de grupos com 
posições e interesses diversos constitui uma possibilidade de redução de seu espaço. 
Para o capital, a presença de novas forças sociais, bem como as tensões e conflitosdela 
resultantes, longe de serem recebidos como componentes naturais das relações sociais e 
como fator de desenvolvimento, são consideradas exceções patológicas, óbices a serem 
neutralizados.2 
O Estado Novo se estabelece num momento em que o mercado, ou o capital 
carecia de mudanças rápidas que defendessem a frágil economia brasileira, dependente 
da agroexportação. A retenção de capital estrangeiro, que com a depressão dos anos 30 
escoava para o estrangeiro, e a necessidade de se desenvolver a indústria brasileira 
 
2
 GARCIA, Nélson Jahr. Estado Novo, Ideologia e Propaganda política (São Paulo, Rocket E-Books, 
1992) p.23. 
resultaram na criação de um falso nacionalismo, encarnado por Getúlio Vargas, que, 
empunhando a bandeira das reformas impõe um governo autoritário. 
As primeiras atitudes de Getúlio consistiram na eliminação das chamadas 
tensões sociais com a eliminação de instituições que oferecessem qualquer tipo de 
resistência ao novo governo, que agora acumulava além do poder executivo o 
legislativo. 
O interesse das classes dominantes da época, ainda composta majoritariamente 
por latifundiários, foi respeitado e, portanto estas não reagiram diante das ameaças do 
autoritarismo. As leis trabalhistas de Getúlio, por exemplo, não configuraram despesas 
ou cessões por parte dos produtores rurais tendo em vista que os trabalhadores rurais 
não foram contemplados pelas leis. Os industriais, uma classe menos representativa na 
época, foram então incumbidos de fornecer argumentos que caracterizassem o Estado 
Novo como governo popular. 
A população entorpecida por idéias autoritaristas de livros italianos sobre o 
fascismo e do novo Estado português, revistas baseadas em idéias antiliberais e por 
grupos movidos por ideários monarquistas, fascistas e corporativistas acabou por 
recebeu o novo governo autoritário com júbilo e ainda e a desinformação sobre o 
período alcançou dimensões tão grandes que ainda existem resquícios na sociedade 
atual. 
A estrutura de comunicação do novo governo cuidou para a manutenção desta 
ideologia. O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) ficou famoso por cuidar da 
imagem do governo e do presidente utilizando técnicas importadas do nazismo alemão 
com a criação de slogans, a utilização da foto de Getúlio em escolas, bares, repartições 
públicas, moedas com sua efígie, nomeação de ruas, colocação de bustos em locais 
públicos e a utilização de fotos do presidente beijando crianças. 
Estes fatos não estão tão claros em livros de história e obras de outros 
pesquisadores que tratam do assunto. Jahr os critica por atribuírem, numa lógica 
simples, o autoritarismo da época a um acidente e não a um processo que pudesse ser 
desconstruído e analisado no tempo, com sujeitos definidos e organizados. 
Estes, representados pelo Estado, utilizaram a máquina de propaganda estatal 
para difundir as idéias oficiais a todas as camadas da sociedade, almejando uma coesão 
que possibilitasse a manutenção da produção. 
As classes ou indivíduos que se opuseram à idéia dominante, foram ou 
cooptados ou silenciados pelo uso da força. A eficácia da propaganda ideológica pode 
ser medida pela reversão da tendência de mobilização de trabalhadores da indústria da 
época. 
Jahr ainda ressalta que, exatamente este estado de efervescência entre os 
trabalhadores urbanos é que aumentava a tensão entre as classes e que resultaram numa 
reação das classes dominantes, que, em suma, reagiram com uma propaganda ideológica 
que aparentemente coloca o trabalhador em primeiro plano e consegue assim, com 
pequenas concessões, neutralizar uma classe que começava a perceber o poder 
reivindicatório desta classe unida. 
Foi justamente essa situação que determinou o surgimento do "populismo" no Brasil. 
Ao final do Estado Novo, para que se pudessem manter, as classes dominantes tiveram 
que ceder um espaço para a participação das classes subalternas no processo político. E 
elas o ocupariam por quase duas décadas.3 
 
A última frase da conclusão da dissertação de mestrado já revela o próximo 
passo do autor. Duas décadas mais tarde, o período de 1964 a 1980 representou anos de 
significativos choques sociais, também marcado por forte investimento na disseminação 
de ideologias partindo agora de um governo militar imposto pelo golpe e, 
secundariamente de grupos de esquerda e opositores do governo. 
O cenário econômico da época já seguia os padrões capitalistas internacionais, 
liderados pelos EUA e representados no Brasil pelas grandes corporações que haviam 
feito grandes investimentos no Brasil e que contavam com um suporte político favorável 
à acumulação e ao envio de lucros ao exterior. 
O modelo econômico concentrador no Brasil teve conseqüências devastadoras 
para as classes dominadas. A situação dos trabalhadores urbanos e rurais sofreu um 
constante declínio. Enquanto o produto interno bruto beneficiava-se das altas taxas de 
crescimento do país, em 1970 o poder de compra do salário mínimo equivalia a 50% do 
mesmo em 1940, ano de sua criação. 
O flagrante descontentamento popular com o governo resultou na eleição de 
Jânio Quadros em 1962 que pregava uma política distributiva, entre outros. Com sua 
renúncia assume João Goulart que atacou duramente o interesse das classes dominantes 
com medidas consideras radicais, como o forte controle sobre os investimentos 
 
3
 GARCIA, Nélson Jahr. Estado Novo, Ideologia e Propaganda política (São Paulo, Rocket E-Books, 
1992) p.61. 
estrangeiros, o que irritou não somente interesses de investidores estrangeiros, mas 
também de industriais e latifundiários brasileiros. 
Este é o momento em que a propaganda ideológica das classes dominantes tem 
seu clímax: os militares empunhando a bandeira da moralidade e de instituições 
tradicionais tomam o poder. 
Simplificando uma divisão entre classe dominante e dominada, teremos no 
primeiro lado os latifundiários, corporações internacionais e industriais interessados no 
maior lucro possível e, no lado mais numeroso que representa a grande maioria da 
população os assalariados, pequenos produtores rurais e outros. 
É importante ressaltar que a classe desfavorecida é composta por excluídos da 
sociedade: analfabetos, semi-analfabetos e outros com nível cultural e senso crítico 
limitado pela sua educação precária e acesso à cultura restrito. Exceções a esta regra são 
alguns artistas e operários que gozavam de situação privilegiada que conferia a eles um 
nível intelectual suficiente para perceberem a propaganda ideológica do Estado, a qual 
foi inicialmente difundida por rádio e impressos e cresceu gradativamente na televisão 
que teve seu potencial ampliado com o apoio do governo. 
O sucesso desta empreitada traduziu-se numa fusão dos interesses das classes 
dominantes e dominadas sintetizadas na propaganda anticomunista e no 
restabelecimento da ordem. 
O governo de João Goulart, que insistia nas reformas de base que favoreciam 
claramente os mais pobres e os interesses nacionais, foi recebido curiosamente pela 
população com protestos em marchas que reuniam milhares de pessoas como na 
“Marcha com Deus e a Família pela Liberdade”. 
A facilidade com que a ideologia foi difundida explica-se exatamente pela falta 
de senso crítico da população sem educação e cultura. Além disso, os militares 
utilizaram técnicas propagandísticas adaptando as mensagens ao nível intelectual dos 
receptores otimizando os resultados. 
Houve resistência principalmente por parte de jornalistas, artistas e membros das 
classes operárias, mas estas foram reprimidas ora pela violência ora por limitações 
criadas, como a censura prévia e a declaração da ilegalidade de grevese manifestações 
populares sem prévia autorização. 
Os meios de comunicação passaram a sofrer fortes censuras com veto de 
matérias consideradas subversivas ou simplesmente de conteúdo que contrariasse o 
interesse do governo. Assim qualquer notícia que mostrasse descontentamento popular, 
que mostrasse imagens de um Brasil miserável ou aquelas que ofendessem instituições 
empunhadas como bandeiras da revolução como a família e a ordem eram previamente 
impedidas de serem divulgadas pelos veículos de comunicação. 
Passeatas e protestos organizados principalmente por operários de São Paulo não 
foram divulgados pela mídia e foram duramente reprimidos. Os líderes foram presos e 
não raras vezes torturados e assassinados. 
A produção artística também foi censurada e bastante limitada em todos os 
campos. Com criatividade muitos músicos, escritores e cineastas passaram a modificar a 
linguagem de suas obras com mensagens implícitas com tal habilidade que a prévia 
censura imposta pelos militares agia somente semanas após a difusão das obras. Com 
isso, alguns artistas passaram a ter suas obrar automaticamente censuradas sem qualquer 
avaliação do conteúdo. 
No cinema a linguagem dos diretores e redatores oposicionistas ao governo 
tornou-se tão hermética que os censores não foram capazes de perceber mensagens 
consideradas subversivas, mas ao mesmo tempo estas também não chegavam ao grande 
público, incapaz de decifrá-las. 
 As revoltas armadas foram reduzidas rapidamente pelo controle do Estado, que 
impôs um esquema de segurança que criou um clima de medo na população a ponto de 
limitar o comportamento das mesmas e impossibilitar associações e principalmente 
entre guerrilheiros e ativistas políticos cuja sobrevivência dependia da confiança, já que 
tais associações eram constantemente perseguidas. 
A contra-propaganda existiu, mas não teve um orquestramento centralizado 
como a oficial, aparecendo de forma irregular e limitada principalmente na forma de 
panfletos e jornais não oficiais. 
A conquista pelo convencimento já começava a se enfraquecer em virtude da 
fragilidade das mensagens e a coerção pela força tornava-se mais necessária. No 
governo de Castello Branco, na transição, a violência foi utilizada com relativa 
moderação e reforçadas principalmente nos governos de Costa e Silva e Médici. 
O isolamento da população rural e as condições dos pequenos agricultores e 
empregados das grandes fazendas impossibilitavam qualquer participação na política, 
porém, destaca-se o trabalho realizado por religiosos da igreja católica. 
Os padres organizavam as comunidades rurais com o intuito de resolver 
problemas locais pela ação dos próprios camponeses, como no caso ra realização de 
mutirões para construção de escolas e outros e para reivindicações junto ao governo. 
Essas atividades tiveram sucesso principalmente por permitir que os problemas e 
soluções partissem dos próprios camponeses e pela ausência de líderes definidos, 
mesmo que os membros da igreja tivessem participação mais ativa. Essas atitudes da 
igreja católica comprovam uma mudança de posição em relação à revolução a qual 
apoiaram inicialmente, principalmente por causa da ameaça comunista. 
Entretanto o contraste da percepção do mundo físico com as imagens divulgadas 
pelo governo tornava as mensagens oficiais cada vez mais frágeis e passíveis de 
questionamento de qualquer pessoa. 
A imposição da ideologia militar não tinha a mesma fixação na população que 
aquela conseguida na Escola Superior de Guerra, que dependia de tempo e condições 
específicas para serem assimiladas e quase atingiam níveis de ressocialização. 
A revolta popular tornou-se tão ampla e numerosa que impossibilitava a 
repressão. Os meios de comunicação, organizações como a Igreja, Ordem dos 
Advogados do Brasil e outros passaram a se expressar abertamente contra o Estado. 
Com isso o governo militar conseguiu prolongar sua sobrevivência sinalizando o 
retorno da democracia com o governo Figueiredo, que promoveu a anistia e o retorno 
Estado de Direito. 
 
 
 
4. Conclusão 
 
 
Nélson Jahr Garcia explorou a comunicação social buscando em outros ramos da 
ciência reflexões que atribuíam mais consistência ao seu trabalho e ao mesmo tempo 
explicitava a comunicação como parte de um processo amplo de inter-relações entre 
a história, economia e cultura, enriquecendo, pela sua visão panorâmica, todos os 
campos abordados. 
A construção de um contexto histórico amplo e a definição isolada dos conceitos de 
propaganda ideológica na realidade brasileira conferiu uma certa intimidade ao 
tema, até então exemplificados com formações sociais alienígenas como a revolução 
industrial inglesa ou o nazismo alemão. Nestes últimos casos, mesmo que a 
propaganda tenha se desenvolvido com alguma semelhança com aquelas 
promovidas durante o Estado Novo e a Ditadura Militar brasileira, as diferenças 
econômicas, culturais e sociais entre estes países são enormes. 
Oportunamente, seus estudos sobre o Estado Novo e a Ditadura Militar são 
amplamente utilizados em pesquisas que abordam estes períodos históricos e 
também na comunicação social, principalmente em temas que envolvam propaganda 
política e ideológica. Destacam-se as categorias de análise definidas em seus 
estudos: elaboração, codificação, controle ideológico, contrapropaganda, difusão e 
efeitos da propaganda ideológica, que como seus livros, passaram a ser parâmetros 
de análise em muitos outros trabalhos científicos. 
Estes conhecimentos foram colocados em prática com requintes de estratégia 
arrojados: em primeiro lugar, utilizou a Internet como principal canal de 
comunicação e, em segundo lugar traduziu inúmeras obras, nem sempre científicas, 
vendo em seus conteúdos pensamentos que esclarecessem relações sociais 
complexas e formas de comunicação persuasiva. Ditados populares por se tratarem 
de excelentes meios de difusão de ideologias; Shakespeare por criar personagens 
que dominavam a arte da persuasão; Marx e Engels por explicarem os conflitos de 
classes e Adolf Hitler por ter em sua obra, Mein Kampf, o que Jahr considera a 
melhor propaganda contra o nazismo, o máximo do senso comum. 
O acesso a suas obras ainda é pequeno, menor que a tiragem de seus livros, mas ele 
estava ciente da altura de sua aposta. Ele mesmo dizia: “Não há perspectiva positiva, 
senão em longo prazo: se começarem algum dia”. 
 
 
 
5. Bibliografia 
 
 
GARCIA, Nélson J. O que é propaganda ideológica. São Paulo: Brasiliense, 1982. 
(coleção Primeiros Passos). 
GARCIA, Nelson Jahr, Sadismo, sedução e silencio: propaganda e controle 
ideológico no Brasil, São Paulo, Loyola, 1990. 
GARCIA, Nelson Jahr, Estado Novo, Ideologia e Propaganda Política, São Paulo, 
Rocket E-Books, 1992. 
GARCIA, Nelson Jahr, Comunicando Comunicação I, São Paulo, Rocket E-Books, 
2000. 
GARCIA, Nelson Jahr, Comunicando Comunicação II, São Paulo, Rocket E-Books, 
2001. 
GARCIA, Nelson Jahr, Lavagem Cerebral e Política Ideológica: a mistificação de 
uma velha prática, Propaganda, São Paulo, 1984. 
MARQUES DE MELO, José; GOBBI, Maria Cristina. Gênese do Pensamento 
Comunicacional Latino-Americano: o protagonismo das instituições pioneiras. São 
Bernardo do Campo. Cátedra Unesco/UMESP. 1999.

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