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A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), sediada em Washington D.C. - USA, Comissão esta que integra o Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos (SIPDH), apresentou o caso de número 12.237 denominado “Damião Ximenes Lopes” à Corte Interamericana de Direitos Humanos, sediada em San José – Costa Rica, contra o Brasil no dia 01/10/04. A CIDH expôs esse caso com a finalidade de que a Corte ponderasse sobre uma possível responsabilidade do Brasil pela infringência dos artigos 4º (direito à vida), 5º (direito à integridade pessoal), 8º (garantias judiciais) e 25º (proteção judicial) da Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), - também conhecida como Pacto de San José da Costa Rica, Convenção esta que o Brasil se obrigou a respeitar ao ratificá-la através do Decreto Presidencial nº 678 de 06/11/92, passando assim a estar submisso ao que estabelece o artigo 1º inciso 1 (obrigação de respeitar os direitos) da referida CADH -, contra o cidadão Damião Ximenes Lopes, portador de doença mental, pelas prováveis condições cruéis e pelos citados desrespeitos a sua integridade física e moral por parte dos funcionários da Clínica de Repouso Guararapes em ocasião de sua hospitalização; por sua subsequente morte enquanto em tratamento na referida clínica, e também como pela falta de investigação e garantias judiciais por parte do Estado Brasileiro. História do caso Damião Ximenes Lopes nasceu em 25/06/69, no Ceará, filho de D. Albertina. Na adolescência desenvolveu uma deficiência mental que lhe comprometeu o bom funcionamento do cérebro. No dia 01/10/99, sua mãe, D. Albertina decidiu interná-lo na Casa de Repouso Guararapes (CRG), em Sobral - CE. Ele foi recebido na CRG e teve seu tratamento custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Na ocasião de sua internação ele não apresentava nenhum sinal de qualquer lesão pelo corpo e nem se mostrava agressivo. Três dias depois, D. Albertina foi a CRG para visitá-lo e o encontrou em um estado lastimável: ele estava seminu, sujo de sangue, fezes e urina, além de muito machucado, com respiração falha e totalmente desesperado. D. Albertina ao ver a situação que seu filho se encontrava suplicou que alguém a ajudasse a dar um banho em seu filho e que um médico cuidasse dele. O médico em questão era o diretor da CRG, Francisco Ivo de Vasconcelos, que mesmo sem submeter Damião a algum exame, receitou-lhe um remédio injetável desconhecido e foi embora. No instante que Damião Ximenes Lopes veio a óbito, não havia nenhum médico responsável na CRG. Inconformada com as circunstâncias da morte de seu Damião, Irene Ximenes, denunciou a situação à CIDH, no dia 22/11/99, pela internet. Alguns dias após a denúncia, em 14/12/99, a CIDH iniciou o processo. No dia 04/06/06, a CIDH reconheceu, mesmo que de parcialmente a responsabilidade do Brasil pelo desrespeito aos direitos à vida e à integridade pessoal de Damião Ximenes Lopes. Reconheceu também que o Estado infringiu o direito à integridade pessoal, às garantias judiciais e à proteção judicial da família Ximenes Lopes. A CIDH determinou como forma de punição que o Brasil deveria garantir que o processo judicial no Brasil destinado a investigar e punir os responsáveis tivesse um resultado o mais rápido possível, que o Estado deveria tentar consertar os malefícios causados e indenizar de maneira bastante satisfatória os possíveis sobreviventes da CRG e/ou a família vítimas falecidas; deveria fazer com o capítulo relativo aos fatos provados desta sentença fosse publicado no DOU e em outro jornal que tivesse uma grande circulação nacional e que o Brasil também desenvolvesse um programa que tivesse como objetivo a formação e capacitação para o pessoal médico, de psicologia, psiquiatria , enfermagem e para todos que de alguma forma estão relacionados ao atendimento de pessoas com problemas mentais. Após a decisão da CIDH o Estado Brasileiro reconheceu seus erros e foi criada a Lei nº 10.216/2001 que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, fazendo com que instituições dedicadas ao cuidado de paciente como Damião Ximenes Lopes passassem a obedecer aos termos da Declaração de Direitos do Paciente Mental da ONU de 1991.
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