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Ciência e Tecnologia dos Materiais Profª. Dr. Kelly Bossardi e-mail: kelly.bossardi@prof.uniso.br IMPERFEIÇÕES DOS SÓLIDOS Até o momento tem sido assumido taticamente que, em uma escala atômica, existe uma ordenação perfeita por todo material cristalino. Entretanto, esse tipo de sólido ideal não existe; todos os materiais contêm grandes números de uma variedade de defeitos ou imperfeições. Muitas das propriedades dos materiais são sensíveis a desvios em relação à perfeição cristalina: a influência não é sempre adversa e características específicas são obtidas pela introdução controlada de defeitos. Defeito Cristalino - irregularidade na rede cristalina com uma ou mais das suas dimensões na ordem atômica, e podem ser: •Pontuais – posições atômicas; • Lineares – unidimensionais; • Interfaciais, contornos – bidimensionais. Tipos de Imperfeições / Defeitos • Defeitos Pontuais - irregularidades que se estendem sobre somente alguns átomos (defeitos adimensionais - dimensão zero), podendo ser lacunas, intersticiais ou substitucionais; • Defeitos lineares - irregularidades que se estendem através de uma única fileira de átomos (unidimensionais), podendo ser discordâncias em hélice ou discordâncias em cunha; • Defeitos planares / interfaciais / superficiais- irregularidades que se estendem através de um plano de átomos (bidimensionais, que incluem as superfícies exteriores e os limites de grão interiores), podendo ser contornos de pequeno ângulo, contornos de grão, interface precipitado - matriz; • Defeitos volumétricos - defeitos macroscópicos tridimensionais se estendem sobre o conjunto dos átomos na estrutura ou no volume. Como exemplos destes defeitos pode-se citar os poros, as fendas, os precipitados e as inclusões. Além desta classificação, os defeitos podem ser divididos nas seguintes categorias: •Intrínsecos: defeitos decorrentes das leis físicas; •Extrínsecos: defeitos presentes devido ao meio ambiente e/ou as condições de processamento. Sendo que a maioria dos defeitos em materiais são extrínsecos. Os defeitos são importantes, mesmo em concentrações muito pequenas, porque podem causar uma mudança significativa nas propriedades de um material. Por exemplo, sem a presença de defeitos: • os metais seriam muito mais resistentes; • os cerâmicos seriam muito mais tenazes; • os cristais não teriam nenhuma cor. As imperfeições nas redes cristalinas são classificadas de acordo com a sua geometria e forma. Podem envolver uma irregularidade na posição dos átomos ou no tipo de átomos. O tipo e o número de defeitos dependem do material, do meio ambiente, e das circunstâncias sob as quais o cristal é processado. DEFEITOS PONTUAIS Lacunas: O defeito pontual mais simples é a LACUNA, ou sítio vago na rede cristalina, que normalmente deveria estar ocupado, mas do qual está faltando um átomo (Lacuna ou Vacância). Todos os sólidos cristalinos contêm lacunas e, na realidade, não é possível criar um material que esteja livre desse tipo de defeito. A necessidade da existência das lacunas aumenta a entropia do cristal. O número de lacunas em equilíbrio (Nl) para uma dada quantidade de material depende da temperatura e aumenta em função desse parâmetro de acordo com: 𝑁𝑙 = 𝑁 exp − 𝑄𝑙 𝑘. 𝑇 Onde: N = número total de sítios ativos 𝑁 = 𝑁𝐴𝜌 𝐴 Ql = Energia necessária para formação de uma lacuna. T = temperatura absoluta em Kelvin K = Constante dos gases (de Boltzmann) = 1,38 x 10−23 𝐽 á𝑡𝑜𝑚𝑜 . 𝐾 O número de lacunas aumenta com a temperatura. Número Avogadro: 6,022 x 1023 á𝑡𝑜𝑚𝑜𝑠/𝑚𝑜𝑙 Massa Específica Peso Atômico Para a maioria do metais, a fração Nl/N em uma temperatura imediatamente inferior á temperatura de fusão é da ordem de 10−4 - a cada 10.000 sítios da rede encontra-se vazio. AUTOINTERSTICIAL: é uma átomo do cristal que se encontra comprimido em um sítio intersticial, que é um pequeno espaço vazio que sob circunstâncias normais não estaria ocupado. Nos metais, um autointersticial introduz distorções relativamente grandes em sua vizinhança na rede cristalina, pois o átomo é substancialmente maior que a posição onde ele está localizado. IMPUREZAS NOS SÓLIDOS Um metal puro formado apenas por um tipo de átomo é simplesmente impossível: impurezas ou átomos diferentes estarão sempre presentes e alguns existirão como DEFEITOS PONTUAIS nos cristais. Mesmo com técnicas relativamente sofisticadas é difícil refinar metais até uma pureza superior a 99,9999%. Neste nível, da ordem de 1022 𝑎 1023 átomos de impurezas estarão presentes em cada m³ do material. A maioria dos metais mais familiares não são altamente puros; ao invés disso são LIGAS, em que intencionalmente foram adicionados átomos de impurezas para conferir características específicas ao material. Ex: aumentar resistência mecânica e a resistência à corrosão. Liga 92,5% de prata e 7,5% de cobre. A prata pura é altamente resistente à corrosão, mas também é muito macia – a formação de uma liga como cobre aumenta significativamente a resistência mecânica. A adição de átomos de impurezas a um metal resultará na formação de uma SOLUÇÃO SÓLIDA e/ou de uma nova segunda fase, dependendo dos tipos de impurezas, das suas concentrações e da temperatura da liga. Solução Sólido Os átomos do soluto são adicionados ao material hospedeiro - a estrutura cristalina é mantida e nenhuma estrutura nova é formada – a composição se mantém “homogênea” – os átomos de impurezas estão distribuídos aleatoriamente e uniformemente no sólido. Soluto – elemento ou composto em MENOR concentração; Solvente – elemento ou composto em MAIOR quantidade - hospedeiro; Os DEFEITOS PONTUAIS, devido à presença de impurezas, são encontrados nas soluções sólidas podendo ser de dois tipos: SUBSTITUCIONAL e INTERSTICIAL. Nos defeitos SUBSTITUCIOANAIS, os átomos de soluto ou átomos de impurezas repõem ou substituem os átomos hospedeiros. Várias características dos átomos do soluto e do solvente determinam o grau no qual os primeiros se dissolvem nos segundos: Distorções significativas na rede e uma nova fase se formará. Um exemplo de solução sólida substitucional é encontrado para o cobre e o níquel. Esses dois elementos são completamente solúveis um no outro, em todas as proporções. Em relação as regras mencionadas que governam o grau de solubilidade: Raios Atômicos: Cobre – 0,128 nm Níquel – 0,125 nm Estrutura: ambos possuem estrutura cristalina CFC; Eletronegatividade: Cobre – 1,9 Níquel – 1,8 Valências: Cobre: mais comum +1 (algumas vezes +2) Níquel: +2 Nas soluções sólidas INSTERTICIAIS, os átomos de impureza preenchem espaços vazios ou interstícios entre os átomos hospedeiros. Para os materiais metálicos que possuem fatores de empacotamento atômico relativamente elevados, essas posições intersticiais são relativamente pequenas. O diâmetro atômico de uma impureza intersticial deve ser substancialmente menor que aquele dos átomos hospedeiros. Mesmo os átomos de impurezas muito pequenos são normalmente maiores que os sítios intersticiais e, em consequência, eles introduzem algumas deformações na rede dos átomos de impurezas. O carbono forma uma solução sólida intersticial quando adicionado ao ferro; a concentração máxima de carbono é de aproximadamente 2%. O raio atômico do átomo de carbono émuito menor que a do ferro: 0,071 nm contra 0,124 nm. Também são possíveis soluções sólidos para os materiais cerâmicos. DEFEITOS LINEARES - DISCORDÂNCIAS Definição - Defeito em uma dimensão ao redor do qual alguns átomos encontram-se desalinhados. São imperfeições da rede que ocorrem ao longo de uma linha. As discordâncias são defeitos lineares. As discordâncias deformam localmente a rede, criando tensões locais compressivas e trativas. Classificação: • Discordância em aresta ou em cunha • Discordância em espiral ou em hélice • Discordância combinada ou mista Nos sólidos cristalinos, os defeitos lineares ou discordâncias são defeitos que originam uma distorção da rede centrada em torno de uma linha. As discordâncias são originadas durante a solidificação dos sólidos cristalinos. Podem também ser originadas por deformação plástica, ou permanente, de sólidos cristalinos, por condensação de lacunas e por desajustamentos atômicos em soluções sólidas. As discordâncias estão associadas com a cristalização e a deformação (origem: térmica, mecânica e supersaturação de defeitos pontuais) A presença deste defeito é a responsável pela deformação, falha e ruptura dos materiais Toda a teoria de deformação e endurecimento de metais é fundamentada na movimentação de discordâncias. DISCORDÂNCIAS EM CUNHA OU ARESTA A discordância em cunha pode ser compreendida como um semiplano de átomos introduzido entre planos cristalinos regulares. O "tê" invertido. , indica uma discordância cunha positiva. O deslocamento dos átomos em torno da discordância é designado por vetor de escorregamento ou vetor de Burgers b e é perpendicular à linha da discordância cunha. As discordâncias são defeitos de não-equilíbrio e armazenam energia na região distorcida da rede cristalina, em torno da discordância. Dentro da região em torno da linha da discordância existe uma distorção localizada da rede cristalina. Os átomos acima da linha da discordâncias são comprimidos uns contra os outros, enquanto que os abaixo da mesma linha são tracionados um para longe do outro: Energia de discordância. Regiões sob compressão (escura) e sob tração (clara) em torno do defeito. DISCORDÂNCIAS EM ESPIRAL OU EM HÉLICE Uma discordância em hélice (espiral) pode ser formada num cristal perfeito aplicando tensões de corte, para cima e para baixo, em regiões do cristal perfeito que foram separadas por um plano de corte. A discordância em hélice pode ser imaginada como sendo o resultado da aplicação de uma tensão de cisalhamento. O vetor de Burgues é paralelo a linha de discordância A-B. DISCORDÂNCIAS MISTAS A maioria das discordâncias encontradas nos materiais cristalinos provavelmente não são nem puramente aresta nem puramente espiral, mas exibirão componentes de ambos os tipos. Finalmente a Figura a seguir ilustra como uma discordância se move através do cristal, sob a aplicação de uma tensão de cisalhamento. A contínua aplicação da tensão levará à movimentação da discordância em etapas repetidas. O resultado final é que o cristal é cisalhado no plano de escorregamento de uma distância atômica. Defeitos Planares / Interfaciais / Superficiais São contornos bidimensionais que separam duas que possuem diferentes estruturas cristalinas e/ou orientações cristalográficas. Os principais defeitos são: •superfícies externas; •contorno de grão; •contornos de macla. Superfícies Externas Um dos contornos mais óbvios é a superfície externa, ao longo do qual termina a estrutura do cristal. Átomos da superfície: •Apresentam ligações químicas insatisfeitas - Não estão ligados ao número máximo de vizinhos próximos; •Estado de energia mais elevado que os átomos do núcleo; •A redução desta energia adicional (tudo tende a menor energia) é obtida pela redução da área superficial. Contornos de Grão Os contornos de grão são defeitos interfaciais, em materiais policristalinos, que separam grãos (cristais) com diferentes orientações. Nos materiais metálicos, os limites de grão formam-se durante a solidificação, quando os cristais, gerados a partir de diferentes núcleos, crescem simultaneamente e se encontram. A forma dos contornos de grão é determinada pelas restrições impostas pelo crescimento dos grãos vizinhos. São superfícies que separam dois grãos ou cristais com diferentes orientações. •Ângulo de desalinhamento é pequena: sub-grão •Ângulo de desalinhamento grande: contorno de grão Assim como na superfície os contornos de grãos não estão ligados com o número máximo de átomos, possuindo mais energia. Essa energia provoca os seguintes fenômenos: •Mais reativos quimicamente •Crescimento dos grãos em altas temperaturas •Acumulo de impurezas. Tamanho do Grão - ASTM Contornos de Maclas Podemos considerar as maclas como um tipo especial de contorno de grão no qual existe uma simetria especular, ou seja, os átomos de um lado do contorno estão localizados em uma posição que é a posição refletida do outro lado. A região de material entre os contornos é chamada macla. As maclas são resultantes de deslocamentos atômicos produzidos por tensões de cisalhamento (maclas de deformação) ou durante tratamento térmico (maclas de recozimento). DEFEITOS VOLUMÉTRICOS
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