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Princípios Institucionais do Ministério Público1 Leonardo Garcez Guns2 Resumo: Este artigo tem o objetivo de provocar o leitor a visualizar a importância dos princípios, esses que presentes implícita ou implicitamente servem como pedra fundamental, no sentido de base estrutural, para a fundamentação das normas que norteiam o Direito. No tocante aos princípios institucionais do Ministério Público, que aqui dissertaremos, o leitor entenderá a sua importância fazendo esta ligação com a própria atuação do parquet concluindo o porquê das garantias e vedações, o que necessitará de um estudo mais aprofundado que não será o objeto deste artigo, e por consequência tendo a visão mais definida da instituição como um ente essencial a Justiça. A doutrina mesmo que brevemente aborda o assunto com uma básica definição o que nos fez buscar fontes em outros artigos. Optaremos em aqui estruturar nosso texto com uma breve definição do ente, passando pela sua origem até chegarmos nos princípios em sentido amplo para assim os definirmos individualmente usando argumentos de doutrinadores por vezes divergentes mas para que essa contradição possa se tornar fonte de reflexão ao leitor desde trabalho. Palavras-chaves: Ministério Público; Prerrogativas da Função; Princípios Constitucionais; Autonomia e independência funcional; Limites da atuação. Sumário: Introdução. 1 – Quanto a Origem e a Natureza Jurídica do MP. 2 – Princípios Institucionais do MP. 2.1 – Princípio da Unidade. 2.2 – Princípio da Indivisibilidade. – 2.3 – Princípio da Independência Funcional. 2.4 – Princípio do Promotor Natural. 3 – Considerações Finais. 4 – Bibliografia. INTRODUÇÃO O Ministério Público por expressa definição constitucional, é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do estado, incumbida da defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. O exposto aludido no artigo 127 do texto constitucional de 1988 nos traz uma pequena definição do que venha a ser o Ministério Público, porém a amplitude da importância deste ente essencial da justiça, e por alguns considerado como sendo o quarto poder, ultrapassa as expectativas do âmbito judiciário. 1 Artigo apresentado como requisito para nota do G2, disciplina Direito Constitucional II do Curso de Direito, do CESUCA – Complexo de Ensino Superior de Cachoeirinha- Faculdade INEDI, sob a orientação do Mestre Emerson de Lima Pinto. 2 Acadêmico do Curso de Direito do Cesuca – Complexo de Ensino Superior – Faculdade INEDI, disciplina de Direito Constitucional II. O Ministério Público é uma instituição destinada a preservação dos valores fundamentais do Estado enquanto comunidade. É o Estado Social de direito que se caracteriza fundamentalmente pela proteção ao fraco (fraqueza que vem de diversas circunstancias como a idade, estado intelectual, inexperiência, pobreza, impossibilidade de agir ou compreender) e aos direitos e situações de abrangência comunitária e, portanto transindividual, de difícil preservação por iniciativa dos particulares também a função a defesa da ordem jurídica, os interesses sociais e individuais indisponíveis e o regime democrático, possui independência e autonomia,3 é o garantidor e fiscalizador da Separação dos Poderes. A Constituição Federal de 1988 introduziu o Ministério Público como órgão de defesa da sociedade, sem dúvida alguma uma das maiores novidades trazidas pela nossa Constituição Cidadã, pois passou a sociedade a dispor de um órgão público legitimado a lutar pelos seus interesses contra os detentores do poder político e econômico, abrangendo inclusive o próprio Estado e seus agentes. No tocante a este ponto o Ministério Público atua como o ente que substituirá a ação do Judiciário, sendo este regido pelo princípio da imparcialidade e inerte em relação ao exercício da função jurisdicional conforme o exposto pelo autor abaixo: “Para a consolidação do Estado Democrático de Direito previsto na Constituição brasileira não basta a imparcialidade do Poder Judiciário. É indispensável a existência de um órgão independente que o movimente na defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Essa é a razão pela qual o Ministério Público é considerado “essencial à função jurisdicional do Estado.”4 Essa definição do Ministério Público se faz precisa para que o leitor venha a entender a importância da atuação do órgão e venha a compreender a relevância dos princípios, conforme será elucidada, na sua atuação. Um breve histórico sobre a origem da instituição se faz necessária para que se compreenda como veio o ente a surgir e como veio a se tornar com o passar dos tempos essencial à função jurisdicional. (Grifos meus) 3 Os membros do Ministério Público são agentes políticos — ou seja, órgãos independentes do Estado, situados no topo da esfera hierárquica de suas áreas de competência, como o são os membros do Poder Executivo, Legislativo ou Judiciário. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 29º edição. São Paulo: Malheiros, 2004. Página 73. 4 PINHO, Rodrigo Cezar Rebello. Da organização do estado, dos poderes e histórico das constituições, 9º edição. São Paulo: Saraiva, 2008. Página 135. 1 – QUANTO A ORIGEM E A NATUREZA JURÍDICA DO MP Há um desafio de se indicar a sua precisa origem, pois, rondam estudos que no Egito Antigo funcionários do Rei eram encarregados em nome dele de reprimir os rebeldes e proteger os cidadãos pacíficos. Para outros eram os, procuratores caesaris, responsáveis pela administração dos bens do imperador em Roma. Há os que situam as raízes do MP na Idade Média aludindo a figura do parquet a um “comum acusador”, figura germânica que exercia a acusação quando o particular não perseguia o seu ofensor. “Em meados do século XIV, na França, surgiu a figura dos procureurs du roi, também chamados de les gens du roi. Nomeados pelo governante, tinham obrigação de defender os interesses daquele junto aos tribunais. Naquela época, portanto os membros do Ministério Público defendiam o próprio governo e seus integrantes. Para efetivação de tal defesa, o membro do Ministério Público se dirigia ao juiz sobre um tablado de madeira, chamado parquet, cuja tradução livre é assoalho. Daí o nome de parquet, utilizado até hoje para designar os membros do Ministério Público.”5 A doutrina converge como origem mais provável a Ordenança Francesa de 25 de março de 1302, de Felipe IV, onde exigia-se dos Procuradores do Rei que prestassem o mesmo juramento dos juízes, o que os impedia de patrocinar outras causas além das de interesse real. Com o passar do tempo o Ministério Público foi se afastando das funções de defender interesses governamentais passando a ser responsável pela defesa dos interesses da sociedade, como por exemplo a propositura das ações penais no ordenamento jurídico atual. Referente ao MP brasileiro, prende-se mais ao direito português, pois segundo o autor Hugo Mazzilli, desde as Ordenações Afonsinas de 1447 já se podem surpreender rasgos da instituição que foi sendo posteriormente mais bem conformado. O MP não recebeu menção na Constituição do Império, este fora somente aludido na Constituição de 1891 tocante ao procurador-geral e sua iniciativa na revisão criminal pro réu. Ao longo da história o Ministério Público fora tratado no capitulo do poder judiciário, como ocorrerá na Constituição de 1967, com a emenda passando a figurar no capítulo do poder executivo. Na Constituição de 1946 a instituição aparece em tópico autônomo,como 5 HADDAD, José Ricardo. JUNIOR, Luiz Guilherme da Costa Wagner. JACOB, Luiz Guilherme de Almeida Ribeiro. JUNIOR, Roberto Mendes de Freitas. FILHO, Sérgio Carvalho de Aguiar Vallim. Poder Judiciário e Carreiras Jurídicas. 4º edição. São Paulo: Editora Atlas. 2012. Página 103 ocorrera em 1934, porém com a nossa Constituição Federal de 1988, como já aludido, o Ministério Público passa a figurar no capítulo dos entes essenciais à justiça ao lado da Advocacia e da Defensoria Pública, dentro do título destinado à organização dos poderes, o que remete ao princípio deste artigo onde menciona-se que há quem o considere um quarto poder. Sendo o Ministério Público uma instituição autônoma não fará este, parte da estrutura de nenhum dos poderes políticos, devendo ser tratado como uma instituição a parte gozando de autonomia financeira e administrativa conforme disciplinado no artigo 127, §2º da Constituição Federal. 2 – PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS DO MP Do disposto até agora, cabe-nos iniciar ao objeto foco deste artigo, os princípios institucionais do Ministério Público. A nomenclatura nos remete a algo em sentido de começo, origem vindo esta do latim principium, porém, no sentido jurídico tem-se princípio como o alicerce de alguma coisa, sendo neste âmbito o conjunto de regras ou preceitos que servirão de normas a todo o ordenamento jurídico, contudo estes exprimem sentido mais relevante que o da própria norma ou regra jurídica, convertendo-se em perfeitos axiomas, e neste sentido é que eles se inscrevem nas leis para serem essenciais à prática do direito. “A palavra princípio é termo análogo, isto é, suscetível de inúmeros sentidos, todos, porém, ligados pelo menos por um ponto de contato comum. Princípio é, antes de tudo, ponto de partida. Princípios de uma ciência são as proposições básicas, fundamentais, típicas que condicionam todas as estruturações subsequentes. Princípio, neste sentido, são os alicerces, os fundamentos da ciência”.6 Toda matéria constante da Constituição Federal é portadora de uma supremacia perante a legislação infraconstitucional, ou seja, o conteúdo supremo não pode ser atingido igual aquele que se modifica como qualquer outro texto legislativo. Tocante a este ponto temos as denominadas cláusulas pétreas, que, foram eleitas pelo constituinte como normas intocáveis que não podem ser modificadas, amparadas por maior rigidez, salvo um novo processo constituinte. 6 DANTAS, Ivo. Princípios Constitucionais e Interpretação Constitucional. São Paulo: Editora Lumem Juris, 1995. Página 56. “Vale observar que ao lhe dar a qualidade de instituição permanente e essencial à Justiça, a Constituição afastou a possibilidade de supressão do Ministério Público por futuros textos legislativos. Trata-se, pois, de cláusula pétrea da Constituição Federal, que não pode sofrer alterações, sequer por emendas constitucionais.”7 No caso da Constituição Brasileira de 1988, tais princípios coincidem em quase totalidade com o disposto do artigo 60 tocante ao processo de modificação do texto constitucional e em seu parágrafo 4º referente as cláusulas pétreas. Os princípios são categoria lógica e quando incorporados a um sistema jurídico, como no caso o próprio texto constitucional, esses princípios refletem a própria estrutura ideológica do Estado, representando seus valores consagrados frente a uma sociedade. “...a violação de um princípio constitucional importa em ruptura da própria Constituição, representando por isso mesmo uma inconstitucionalidade de consequências muito mais graves do que a violação de uma simples norma, mesmo constitucional. A doutrina vem insistindo na acentuação da importância dos princípios para iluminar a exegese dos mandamentos constitucionais”.8 Com o advento da Constituição de 1988 estabeleceu-se no seu artigo 127, §1º que o Ministério Público seria regido por três princípios institucionais: unidade, indivisibilidade e independência funcional, sendo estes considerados bases estruturais onde a supressão deles significaria a impossibilidade de existência do próprio Ministério Público, como o órgão que se destina à promoção de Estado Democrático de Direito. “Desse modo, pode-se dizer que os princípios institucionais desempenham funções. A primeira é a função de constituição, onde os princípios institucionais identificam-se com a existência e conceituação do Órgão, manifestando-se como expressão de sua estrutura. A segunda função é a de diretrizes de atuação. Por essa, suas atividades são regulamentadas e dirigidas de modo a satisfazer o interesse público, garantindo-o, portanto.”9 7 HADDAD, José Ricardo. JUNIOR, Luiz Guilherme da Costa Wagner. JACOB, Luiz Guilherme de Almeida Ribeiro. JUNIOR, Roberto Mendes de Freitas. FILHO, Sérgio Carvalho de Aguiar Vallim. Poder Judiciário e Carreiras Jurídicas. 4º edição. São Paulo: Editora Atlas. 2012. Página 103 8 DANTAS, Ivo. Princípios Constitucionais e Interpretação Constitucional. São Paulo: Editora Lumem Juris, 1995. Página 59. 9 SILVA, Redson Rodrigo de Souza. Aspectos Gerais dos Princípios Institucionais do Ministério Público: Unicidade, Indivisibilidade e Independência Funcional. Artigo cientifico: http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,aspectos-gerais-dos-principios-institucionais-do-ministerio- publico-unicidade-indivisibilidade-e-independencia,35905.html 14/06/16 O próprio interesse público será o fundamento jurídico desses princípios, pois conforme asseverou o autor acima, MAZZILLI, o “Ministério Público não é um fim em si mesmo, mas Instituição que, na democracia contemporânea, adquiriu relevo fundamental para garantir o respeito à ordem jurídica. Logo, os princípios que norteiam sua atuação justificam-se para a realização de anseios transcendentes e primários”. 2.1 – Princípio da Unidade Tocante a este primeiro princípio entende-se o conceito de uno, ou seja, o órgão não comporta divisão funcional, o que ocorre, no entanto, e cabe aqui salientar já que o tema é alvo de confusão é que o ministério público é dividido por atribuições, como por exemplo: o Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Militar ou Ministério Público Eleitoral. A concepção clássica de unidade é aquela que diz ser o Ministério Público: ...um só órgão, sob uma mesma direção do Procurador-Geral da República, na esfera federal, e do Procurador-Geral de justiça, na estadual.”10 Porém o que se assevera é que o verdadeiro conteúdo desse princípio não é no sentido estrutural ou de divisão administrativa única, mas de comunhão de objetivos e finalidades, pois quando o membro do Ministério Público atua não há uma representatividade do órgão por um de seus membros, mas sim a atuação do próprio órgão de fato. “Ressalta-se, logo, que não se confunde unidade funcional com unidade orgânica. De fato, não há unidade orgânica no parquet. A forma federativa adotada pelo Brasil reflete-se na distribuição de competências do Poder Público, de sorte que, a fim de melhor trabalhar, o Ministério Público está divido em órgãos. É o caso do Ministério Público da União e do Ministério Público dos Estados, que detêm, inclusive, autonomia administrativa e financeira.”11 10 PINHO, Rodrigo Cezar Rebello. Da organização do estado, dos poderes e histórico das constituições, 9º edição. São Paulo: Saraiva, 2008. Página 137. 11 SILVA, Redson Rodrigo de Souza. Aspectos Gerais dos Princípios Institucionaisdo Ministério Público: Unicidade, Indivisibilidade e Independência Funcional. Artigo cientifico: A consequência desse desdobramento é a de repartir as atribuições por critérios, sendo eles: de matéria, de pessoa ou de extensão do interesse, por exemplo, temas que sejam de interesse apenas de determinada região serão de competência de atuação do Ministério Público Estadual, como regra; já se a pessoa envolvida for a União, ou se o objeto da questão for de âmbito internacional, como o tráfico de entorpecentes, será do Ministério Público Federal o interesse. MAZZILLI destaca que antes de ser objeto consagrado constitucionalmente ou em lei, o princípio da unidade tinha caráter doutrinário importado do parquet francês, lembrando que a França é estado unitário diferentemente do Brasil, que conforme destacado anteriormente tem sua forma federativa o que implica numa necessária organização dos poderes descentralizada devido à sua extensão territorial, uma opinião deste que vos lhe escreve, saliente-se. “Há, pois, uma certa liberdade em sustentar a unidade do Ministério Público brasileiro, quando sabemos que, em cada Estado-membro, o respectivo Ministério Público tem carreira própria e autonomia funcional e administrativa, e esses diversos Ministérios Públicos unidade alguma mantêm entre si ou com os vários ramos do Ministério Público da União. Assim, somente será possível admitir a unidade do Ministério Público nacional no que diz respeito à sua função, abstratamente considerada diante da lei.”12 Essa leitura abstrata refere-se a sua função como o ente essencial à função jurisdicional do Estado, incumbido de ser o guardião da defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Uma leitura atenta se faz necessária para compreender os exatos contornos dos princípios da unidade e da indivisibilidade do Ministério Público, o que me faz brevemente ressaltar o início da institucionalização destes princípios já que, MAZZILLI, ao relatar sobre o processo constituinte descreve que: “Comecemos por lembrar que, em vez da regra que hoje consta do art. 127, § 1º, da Constituição (que consagra, como princípios institucionais do Ministério Público, a unidade, a indivisibilidade e a independência http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,aspectos-gerais-dos-principios-institucionais-do-ministerio- publico-unicidade-indivisibilidade-e-independencia,35905.html 14/06/16 12 MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo, 26º edição. São Paulo: Saraiva, 2013. Página 418. funcional), durante os trabalhos constituintes chegou a ser proposto que os princípios institucionais seriam unidade, indivisibilidade e hierarquia, e o próprio Anteprojeto Afonso Arinos13 falava em independência funcional sem prejuízo da unidade e da indivisibilidade da instituição e, ao cuidar da inamovibilidade, alçava o poder de designação do procurador-geral a limites incontroláveis.”14 Não entraremos, como já exposto anteriormente, no âmbito das garantias e vedações nos atendo somente aos princípios. De fato, ao se falar em unidade e indivisibilidade funcional, o que a lógica remete é para a questão hierárquica do órgão, como no modelo clássico francês, brevemente citado anteriormente, entretanto, como destaca o autor acima, outros, ao se referirem nas mesmas unidade e indivisibilidade, a estas, se justapõe a independência funcional, particularidade do Ministério Público brasileiro, que será retratada no decorrer deste trabalho. A Constituinte de 1988 adotou o princípio da independência preferido pelo Ministério Público nacional desde a Carta de Curitiba (1986),15 prevalecendo na Constituição os três princípios que aqui neste trabalho estão elencados: os princípios da unidade, indivisibilidade e independência funcional. O princípio do promotor natural não está elencado neste rol pois será feita apenas uma breve abordagem para que qualquer menção não passe desentendida. 2.2 – Princípio da Indivisibilidade 13 Em setembro de 1986, alguns meses antes de a Assembleia Nacional Constituinte iniciar seus trabalhos - o que aconteceu em fevereiro de 1987 -, uma comissão provisória criada pelo Executivo concluiu a elaboração de um anteprojeto de Constituição que, no entanto, acabou não sendo enviado oficialmente ao Congresso. Embora tivesse o nome de Comissão Provisória de Estudos Constitucionais, o grupo ficou conhecido como Comissão Afonso Arinos, pois seu presidente foi o jurista, ex-deputado federal e ex senador Afonso Arinos de Melo Franco. http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2008/10/01/comissao-afonso-arinos-elaborou- anteprojeto-de-constituicao 14/06/16. 14 MAZZILLI, Hugo Nigro. Princípios Institucionais do MP. http://www.mazzilli.com.br/pages/artigos/princinst.pdf 14/06/16. 15 Buscando um consenso no Ministério Público nacional, sobre os principais instrumentos de trabalho, direitos, deveres e garantias para a instituição, após diversos trabalhos preparatórios, em junho de 1986 realizou-se em Curitiba um encontro das lideranças políticas e institucionais de todo o Ministério Público do país. Nessa ocasião, como fruto de um trabalho desenvolvido em Congressos Nacionais do Ministério Público, Grupos de Estudos, Seminários, teses, anteprojetos, pesquisas, etc. - elaborou-se um documento, por todos acolhido, que consubstanciou as principais aspirações do Ministério Público nacional com vistas à Assembleia Nacional Constituinte. Esse documento foi chamado, na ocasião, de a “Carta de Curitiba”, que é um anteprojeto de texto constitucional do capítulo que diz respeito ao Ministério Público. http://www.mazzilli.com.br/pages/autor/cartilha87.pdf 14/06/16. O princípio da indivisibilidade, decorre da possibilidade, conforme já aludida, de um membro se fazer representar por outro sem que haja nenhum prejuízo para o processo não implicando em descontinuidade da atividade. Parte da doutrina diz que tal possibilidade decorre do desdobramento da unicidade. GILMAR MENDES, em sua obra constitucional, admite essa substituição desde que seja por integrantes da mesma carreira, segundo as prescrições legais, a respeito disso, citação constante do HC85.137/MT, Diario de Justiça de 28/10/2005: “A propósito, o STF já decidiu que o ato processual de oferecimento da denúncia praticado, em foro incompetente, por um representante, prescinde, para ser válido e eficaz, de ratificação por outro do mesmo grau funcional e do mesmo Ministério Público, apenas lotado em foro diverso e competente, porque o foi em nome da instituição, que é una e indivisível. ”16 Deve-se reiterar que quem está presente no processo é sempre o Ministério Público, não apenas um representante como já aludido, ainda que seja por intermédio de um determinado promotor ou procurador de justiça. Pelo princípio da Indivisibilidade esta expressão "representante do Ministério Público" não será tecnicamente adequada, pois, o referido princípio permite que os membros do Ministério Público possam ser substituídos uns por outros no processo, não de uma maneira arbitrária, salvo em casos legalmente previstos, como por exemplo, a promoção, remoção, aposentadoria ou morte, sem que isso influa em qualquer alteração no andamento processual. “Estes princípios são constitucionais, e, portanto, precisam ser interpretados de modo a assegurar para a atuação ministerial uma efetividade de fato, à qual chamamos de obrigação de resultado. A unidade e a indivisibilidade não podem conduzir a um divórcio com a efetividade do processo. Logo, aose dar início a ações criminais ou civis públicas particularmente relevantes, faz-se necessário planejar integradamente a atuação ministerial desde a propositura da ação até os futuros recursos nos tribunais superiores.”17 16 MENDES, Gilmar Ferreira. COELHO, Inocêncio Mártires. BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 4º edição. São Paulo: Saraiva 2009. Página 1039. 17 CAMPOS, Hélio Sílvio Ourém. SIQUEIRA, Beatriz Costa. Ministério Público Federal local versus Ministério Público Federal regional: um esforço de integração e de efetividade no processo - ou a relação processual como uma obrigação de resultado. http://www.arcos.org.br/artigos/ministerio-publico-federal-local- versus-ministerio-publico-federal-regional-um-esforco-de-integracao-e-de-efetividade-no-processo-ou- a-relacao-processual-como-uma-obrigacao-de-resultado/da-unidade-e-da-indivisibilidade 14/06/16. Estando em jogo os interesses já aqui neste trabalho especificados, o Ministério Público estará legitimado a defende-lo, o que fará ora como órgão agente, ora como órgão interveniente, como no exemplo de incapazes, o que se ressalta, como sustenta HUGO MAZZILI, é que não pode o membro do Ministério Público estadual exercer função de membro do Ministério Público Federal.18 A indivisibilidade não é incompatível com o princípio do promotor natural, princípio este que iremos brevemente destacar no decorrer deste artigo para que o leitor possa tirar suas conclusões. 2.3 – Princípio da Independência Funcional Os membros do Ministério Público no exercício de suas funções atuam de forma independente e autônoma, ou seja, não há, como já definimos, um vínculo hierárquico em relação à funcionalidade do órgão ou chefia. Como último princípio institucional previsto no texto constitucional, a independência funcional torna cada membro do Ministério Público vinculado apenas pelas suas convicções, ou seja, sua consciência jurídica no que tange a sua atividade funcional, e pelas leis que assim o regem. “Com efeito, a estruturação em órgãos resulta no escalonamento de atividades administrativas, é daí, a necessidade de chefia, visto que há aparente contradição entre esse princípio e a existência de “chefes”. Ora, o Ministério Público está organizado em carreiras. Tal subordinação administrativa, portanto, não ofusca o princípio da independência funcional.”19 Neste exposto temos que somente no plano administrativo se pode reconhecer a hierarquia nos membros do Ministério Público em relação à Chefia ou aos órgãos de direção superior da Instituição. No tocante ao plano funcional estará o membro do Ministério Público, em relação aos seus atos, submetido à apreciação judicial apenas nos casos de abuso de poder que possam lesar direitos, uma pequena limitação que se faz necessária em casos, por exemplo, fraudulentos. 18 MAZZILLI, Hugo. Regime Jurídico do Ministério Público. São Paulo: Saraiva 1993 19 SILVA, Redson Rodrigo de Souza. Aspectos Gerais dos Princípios Institucionais do Ministério Público: Unicidade, Indivisibilidade e Independência Funcional. Artigo cientifico: http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,aspectos-gerais-dos-principios-institucionais-do-ministerio- publico-unicidade-indivisibilidade-e-independencia,35905.html 14/06/16. “Vale salientar que, apesar dessa independência, e até mesmo por causa dela, os membros do Ministério Público podem ser responsáveis pelo exercício irregular da função. Assim, responderão por abusos ou erros que cometerem, não apenas no campo civil e penal, mas também sob o aspecto disciplinar (prazos, forma e requisitos dos atos etc.). Porém, não respondem quando do exercício regular das funções; nesta hipótese, mesmo que causem danos, só responsabilizam o Estado.”20 A responsabilidade nesse caso é objetivo necessitando que haja uma relação de dolo na conduta do parquet para que esse possa ser responsabilizado. Retornando ao princípio em tela, essa independência funcional permite, inclusive, ao membro do Ministério Público oficiar perante tribunal de segunda instância recorrendo de decisão neste proferida, mesmo este em seu acórdão coincidir com o que se haja preconizado o integrante do Ministério Público com atuação em primeiro grau de jurisdição. A respeito do exposto: “A independência prevalece para resolver questões em que se verificam manifestações diferentes de membros do Ministério Público atuando no mesmo grau de jurisdição. Se o promotor, por exemplo, em sede de alegações finais, argumenta em prol da absolvição do réu, isso não impede – dada a garantia da independência – que outro promotor, ante sentença absolutória, contra ela interponha apelação.”21 A independência neste caso é o oposto a hierarquia funcional. Reiterando, a chefia do Ministério Público envolve apenas a direção administrativa da instituição que designa, na forma da lei, a disciplina funcional e a solução de conflitos de atribuições. Os poderes do procurador-geral encontram limite nas hipóteses legais e no próprio princípio da independência funcional dos membros da instituição que devem, acima de tudo, servir aos interesses da lei e da sociedade, o que, conforme aludido no decorrer deste trabalho, nem sempre converge com os interesses do Ministério Público, dos governantes, ou do próprio Estado. Em decorrência desses princípios conclui-se que... “a) O Ministério Público exerce seu oficio sem ater-se a ordens ou injunções de outras instituições ou órgãos do Estado, quaisquer que sejam, 20 CAMPOS, Hélio Sílvio Ourém. SIQUEIRA, Beatriz Costa. Ministério Público Federal local versus Ministério Público Federal regional: um esforço de integração e de efetividade no processo - ou a relação processual como uma obrigação de resultado. http://www.arcos.org.br/artigos/ministerio-publico-federal-local- versus-ministerio-publico-federal-regional-um-esforco-de-integracao-e-de-efetividade-no-processo-ou- a-relacao-processual-como-uma-obrigacao-de-resultado/da-unidade-e-da-indivisibilidade 14/06/16 21 MENDES, Gilmar Ferreira. COELHO, Inocêncio Mártires. BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 4º edição. São Paulo: Saraiva 2009. Página 1040. subordinando-se apenas à Constituição e às leis; b) seus membros exercem os misteres que lhe são próprios, sem ater-se a ordens ou injunções funcionais de outros membros da própria instituição, nem mesmo do procurador-geral ou dos demais órgãos de administração ou execução.”22 2.4 – Princípio do Promotor Natural Esse princípio consagra uma garantia da ordem jurídica, pois, se destina tanto a proteger o membro do ministério público, na medida em que lhe assegura o exercício pleno e independente do seu oficio, quanto a tutelar a própria coletividade, que é a quem se reconhece o direito de ver atuando. Este princípio fundamenta-se nas cláusulas da independência funcional, já dissertada neste artigo, e na da inamovibilidade dos membros da instituição, garantia expressa no artigo 128, §5º, I, b da Constituição Federal que assegura aos membros do Ministério Público a não transferência compulsória de seus cargos, salvo por motivos de interesse público, mediante decisão do órgão colegiado por maioria absoluta dos votos assegurando-se a ampla defesa. GILMAR MENDES em sua obra assevera que... “A partir do princípio da independência funcional, e tendo em mira resguardá-lo, veio a ser deduzida a doutrina do promotor natural, como meio de defesa do membro do Ministério Público até mesmo em face do chefeda instituição.”23 Qualquer analogia em relação a este princípio e o do juiz natural, muito utilizado na área processualista, não estará errada pois conforme estabelece o texto constitucional no seu artigo 5º, LIII, “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”. “ A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público estabelece as hipóteses excepcionais em que o Procurador-Geral poderá designar membro do Ministério Público para atuar em determinado procedimento, devendo a escolha recair sobre membro da instituição com atribuição, em tese, para oficiar no feito, segundo as regras ordinárias de distribuição de serviços. 22 MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo, 26º edição. São Paulo: Saraiva, 2013. Página 418. 23 MENDES, Gilmar Ferreira. COELHO, Inocêncio Mártires. BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 4º edição. São Paulo: Saraiva 2009. Página 1040. Trata-se, por exemplo, da hipótese da designação de um Promotor de Justiça para acompanhar um inquérito policial ainda não distribuído em juízo.”24 Diante disto, inclusive tocante ao devido processo legal, há critérios objetivos de distribuição de atribuições que devem ser previamente fixadas, o Procurador-Geral não pode escolher aleatoriamente um Promotor para atuar em certo processo nem poderá o parquet na devida atuação da sua atividade ser limitado, salvo as hipótese já elencadas neste trabalho. 3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto é fundamental a atuação do Ministério Público no âmbito Judiciário como defensor da ordem jurídica, porém, o que se vira é que o tempo trouxe estes contornos que melhor foram se definindo. Viu-se que originariamente a figura que retratava o Ministério Público era tido em funcionários que serviam o Rei, no caso o próprio Estado, esta atividade passou no decorrer dos tempos se afastando dos interesses governamentais e se aproximando a defesa da sociedade. Mas, para que estes, interesses da sociedade, pudessem ser defendidos, se fazia necessária uma autonomia, no sentido de garantias, para o exercício da função do parquet. Os princípios não só delineiam estas garantias como eles mesmos impõem vedações, são como trilhas que norteiam o parquet durante sua atividade de modo que este possa cumprir o seu papel sem o receio de represálias, visto que, conforme aludido nos princípios: o ente não depende de outros entes pois tem sua autonomia completa, não reprimindo-se a ordens de outros órgãos e inclusive de outros membros, tendo em face que o parquet trabalha em prol da ordem jurídica fazendo jus à sua consciência jurídica e representando a sociedade na defesa dos seus interesses, não podendo assim, dentro deste âmbito de defesa da coletividade, sofrer limitações na sua atuação e nem mesmo prejuízos ao processo. Sem sombra de dúvidas que a configuração dada ao Ministério Público pela Constituição Federal 1988, resultou em grande conquista para a sociedade ao elencar os princípios que aqui trabalhamos ao nível de norma constitucional. 24 PINHO, Rodrigo Cezar Rebello. Da organização do estado, dos poderes e histórico das constituições, 9º edição. São Paulo: Saraiva, 2008. Página 137 e 138. 4 – BIBLIOGRAFIA PINHO, Rodrigo Cezar Rebello. Da organização do estado, dos poderes e histórico das constituições, 9º edição. São Paulo: Saraiva, 2008. HADDAD, José Ricardo. JUNIOR, Luiz Guilherme da Costa Wagner. JACOB, Luiz Guilherme de Almeida Ribeiro. JUNIOR, Roberto Mendes de Freitas. FILHO, Sérgio Carvalho de Aguiar Vallim. Poder Judiciário e Carreiras Jurídicas. 4º edição. São Paulo: Editora Atlas, 2012. DANTAS, Ivo. Princípios Constitucionais e Interpretação Constitucional. São Paulo: Editora Lumem Juris, 1995. MENDES, Gilmar Ferreira. COELHO, Inocêncio Mártires. BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 4º edição. São Paulo: Saraiva, 2009. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 29º edição. São Paulo: Malheiros, 2004. MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público. 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Ministério Público Federal local versus Ministério Público Federal regional: um esforço de integração e de efetividade no processo - ou a relação processual como uma obrigação de resultado. http://www.arcos.org.br/artigos/ministerio-publico-federal-local-versus-ministerio- publico-federal-regional-um-esforco-de-integracao-e-de-efetividade-no-processo-ou-a- relacao-processual-como-uma-obrigacao-de-resultado/da-unidade-e-da-indivisibilidade
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