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Resumo Processo Penal - Inquérito Policial

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PROCESSO PENAL I - 2º Bimestre
Do Inquérito Policial
Conceituação
O inquérito é um procedimento administrativo preliminar, presidido pela autoridade policial, integrante da Polícia Judiciária, na figura do delegado da PCF ou da PCE (art. 144 da CF), que objetiva apurar a autoria e a materialidade da infração.
De mesma forma, refere Avena:
Por inquérito policial compreende-se o conjunto de diligências realizadas pela autoridade policial para obtenção de elementos que apontem a autoria e comprovem a materialidade das infrações penais investigadas, permitindo ao Ministério Público (nos crimes de ação penal pública) e ao ofendido (nos crimes de ação penal privada) o oferecimento da denúncia e da queixa-crime.
Nesse mesmo sentido, Capez conceitua o IP como "... o conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária para a apuração de uma infração penal e de sua autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo (CPP, art. 4 º)".
O inquérito policial é utilizado nos crimes de maior potencial lesivo; em contrapartida, para os crimes de menor potencial lesivo - crimes com pena de até 2 anos de detenção, as contravenções penais e aqueles crimes em que a causa não for complexa - o rito é sumaríssimo, e instaura-se o Termo Circunstanciado de Ocorrência.
Ainda assim, muito embora o crime seja de pena de até 2 anos, se não houver autoria expressa ou se a causa for complexa (analisa-se a dificuldade na produção de provas e a quantidade de pessoas envolvidas para averiguar a complexidade da causa), instaurar-se-á o Inquérito Policial.
Características
Procedimento Inquisitivo: isso porque, no IP, não se fala em contraditório ou ampla defesa, uma vez que o seu objetivo é o de demonstrar autoria e materialidade para futura denúncia (MP) ou queixa-crime (Ação Penal Privada). A exceção a essa característica ocorre quando da instauração de IP pela PF, a pedido do Ministro da Justiça para expulsão de estrangeiro, quando se permite, obrigatoriamente, o contraditório.
Procedimento Discricionário: o delegado tem liberdade para conduzir a investigação adaptando o inquérito à realidade do crime investigado. Ou seja, a discricionariedade implica na liberdade que o delegado tem em determinar ou postular todas as diligências que lhe convier para o melhor andamento da investigação. Assim, o delegado pode deferir e indeferir diligências requisitadas pela vítima ou suspeito, exceto se a diligência requerida for a perícia de exame de corpo de delito, por força do art. 158 do CPP. 
Procedimento Sigiloso: a autoridade assegurará, no inquérito, o sigilo necessário à elucidação do fato. O sigilo é de responsabilidade do delegado, devendo por ele ser garantido. No entanto, o advogado tem condições de consultar os autos do inquérito, por força do art. 7º, XIV, do EOAB, mas tão somente aos atos já documentados, por força da Súmula Vinculante nº 14 do STF - se negado pelo delegado, cabem 3 remédios: mandado de segurança, habeas corpus e reclamação constitucional.
Procedimento Escrito: o inquérito policial será obrigatoriamente escrito. Assim, ainda que hajam testemunhos e demais provas produzidas oralmente, todas deverão, necessariamente, ser reduzidas a termo. Segundo o STF, quanto às gravações telefônicas e filmagens, somente deve ser degravado aquilo que interessa para indiciar o investigado, devendo, todavia, a mídia ficar disponível para consulta.
Procedimento Indisponível: o inquérito policial é indisponível, ou seja, o delegado NÃO PODE, de oficio, arquivar o Inquérito Policial. Gize-se que, sob NENHUMA hipótese, de ofício, pode o delegado arquivar o inquérito, sob o fundamento de que toda a investigação deve ser concluída e encaminhada ao juízo - ainda que se constate atipicidade durante a investigação. De mesma forma, tampouco podem fazê-lo o juiz ou o MP; contudo, a requerimento do MP, pode o juiz determinar o arquivamento do inquérito, o que não pode é fazê-lo de ofício.
Procedimento Oficioso e Oficial: quanto à oficiosidade, o inquérito policial é, via de regra, instaurado ex officio pela autoridade policial sempre que ela detiver conhecimento da prática de algum delito, configurando como exceção a essa regra os casos de ação penal pública condiciona à representação e ação penal privada. No que tange à oficialidade, o inquérito policial será realizado somente por autoridade integrante de quadro público, sendo vedada a atividade investigatória particular. Também, cumpre informar que é vedado tanto ao juiz quanto ao promotor de justiça presidir o inquérito policial, sendo de competência exclusiva da autoridade policial. Podem esses dois sujeitos realizar diligências apenas. Por fim, o IP não se confunde com o Inquérito Civil, que pode ser presidido pelo Ministério Público e, evidenciado ilícito penal, nada obsta que o Ministério Público dê início à persecutio criminis.
Procedimento Dispensável: o inquérito policial tem por objetivo a averiguação de autoria e materialidade do crime. Portanto, se a autoridade pública, Ministério Público, detiver prova mínima de autoria do crime e de sua materialidade, não será necessária a instauração do Inquérito Policial, uma vez que, ao final, é procedimento dispensável para a deflagração do processo judicial.
Valor Probatório
Em suma, o inquérito policial tem valor probatório relativo.
Isso porque, o inquérito policial serve de base para a inicial acusatória, não se prestando sozinho para fundamentar uma futura condenação.
Ou seja, ninguém será condenado tão somente com base no inquérito, isso por que os elementos colhidos no inquérito não foram submetidos ao contraditório e à ampla defesa (procedimento inquisitorial). Aliás, tal fundamento encontra respaldo na legislação processual penal, no art. 155, que dispõe:
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
Vícios
Ainda que o IP seja eivado de vícios, a exemplo de um delegado que suborna testemunhas e age à margem da lei, tal inquérito não será nulo.
Esta afirmativa advém de uma jurisprudência consolidada do STF, que diz que, por mais que existam vícios no IP, por ser um procedimento dispensável, de valor probatório relativo e ser um mero procedimento informativo destinado à formação da denúncia/queixa-crime, os vícios ali existentes não têm o condão de prejudicar o processo penal.
Vale dizer que o disposto acima pelo STF não exclui a necessidade de se combater os vícios do IP, mas tão somente afirma que, por ser procedimento dispensável, de valor probatório relativo e meramente informativo à formação da denúncia/queixa-crime, não têm condão de contaminar e prejudicar o futuro processo.
Da polícia judiciária
Primeiramente, sabe-se que o inquérito policial é presidido apenas pela polícia judiciária, mas o que é a polícia judiciária? Antes de adentrar no mérito das espécies do inquérito, vale discorrer acerca das atribuições de cada polícia para a realização deste procedimento.
Existem duas espécies de polícia: a administrativa e a judiciária. A polícia administrativa é aquela incumbida de prevenção de crimes, como a brigada militar; já a polícia judiciária é aquela que presta auxílio à justiça, que atua quando a polícia preventiva(administrativa) não logrou êxito.
Dito isso, a polícia judiciária, portanto, é aquela incumbida de atribuição para a realização do inquérito policial (apuração de autoria e materialidade), dentro de sua circunscrição. Todavia, a polícia judiciária é subdividida em Polícia Civil Federal e Polícia Civil Estadual, e se faz necessária a distinção de atribuição e circunscrição entre ambas, uma vez que há tal distinção expressamente na constituição.
Pois bem. À Polícia Federal, é atribuída as funções de polícia judiciária da União, isto é, quando tiver envolvimento da União, será atribuição da PF. Isso estádisposto no art. 144, §1º, e incisos da CF. Cabe, assim, à PF, a apuração dos crimes relacionados à política, crimes cometidos à distância, crimes contra os Direitos Humanos (quando houver omissão do Estado), crimes envolvendo tratados e convenções internacionais dos quais o Brasil é signatário, crimes interestaduais e, por fim, todos os crimes cometidos no âmbito da União, suas autarquias, empresas e fundações públicas.
Já à Polícia Civil (Estadual), por sua vez, são atribuídos todos os crimes que não são atribuídos à PF, e não sejam de competência da Justiça Militar e Justiça Eleitoral. Dessa narrativa chega-se à conclusão de que a atribuição da Polícia Civil é muito mais ampla que a da Polícia Federal. Isso vem disposto no art. 144, §4º, da CF. Lá refere-se que cabe à PC a apuração de todos os crimes que não sejam de atribuição da PF ou da justiça militar (onde instaura-se o IPM). Assim, como dito, cabe à PC tudo que não couber à PF e não for de competência da Justiça Militar ou Eleitoral. Soma-se a isso os crimes envolvendo as Sociedades de Economia Mista Federais e Sociedades Anônimas (Banco do Brasil, Petrobras...) que sejam caracterizados como Contravenções Penais (observação: instaura-se aqui, como se verá, o TCO).
Das espécies de Inquérito Policial
Do Inquérito Policial e do TCO
Como dito acima, o IP somente é realizado pela polícia judiciária, na figura do delegado da Polícia Federal ou Polícia Estadual.
O inquérito policial é instaurado somente em casos de crime de maior potencial lesivo, ou de médio potencial lesivo. Para tanto, à primeira hipótese temos o rito ordinário, visando o conhecimento da autoria e materialidade de infrações que, no CP, têm previsão de pena restritiva de liberdade maior de 4 anos; de outra banda, à segunda hipótese, temos o rito sumário, visando o conhecimento da autoria e materialidade das infrações que, no CP, têm previsão de pena restritiva de liberdade até 4 anos.
Quanto às contravenções penais e os crimes de menor potencial lesivo, que, no CP, têm previsão de pena restritiva de liberdade menor que 2 anos - e que não forem causa complexa ou que sua autoria já seja conhecida - aplica-se o rito sumaríssimo, instaurando-se o Termo Circunstanciado de Ocorrência. Como já visto, ainda que a pena seja menor que 2 anos, se a causa for complexa (dificuldade de obtenção de provas, nº de investigados...) instaurar-se-á o IP.
Dos Inquéritos Extrapoliciais
1.No que concerne aos crimes ambientais, será sempre instaurado, dependendo da gravidade da infração, o IP ou o TC; todavia, se a infração for meramente administrativa, como uma degradação ao meio ambiente mas que não se configura como crime, haverá a investigação por parte do órgão administrativo, como IBAMA ou SEMA;
2. Inquérito Policial Militar: ocorre quando cometido algum crime que seja de competência de Justiça Militar. Tais crimes vêm dispostos no art. 9º do CPPM e, em suma, são aqueles dispostos no CPM (diferentemente dos dispostos no CP) e os crimes cometidos por militar e contra militar em situação de atividade e demais especificações ali presentes. Aqui, a atribuição é da Polícia Judiciária Militar;
3. Inquérito Parlamentar: as investigações serão realizadas pela CPI (Comissões Parlamentares de Inquérito), que terão poderes próprios da autoridade judicial, além de eventuais outros poderes conferidos pelos regimentos das câmaras. Realizar-se-á mediante requerimento de 1/3 dos seus membros e por um período de tempo determinado, limitando-se ao teto de 4 anos;
4. Inquérito Civil Público: é instaurado pelo MP para proteção do patrimônio público e social, meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (como caso do CDC).
Da atribuição e circunscrição e da lavratura do Auto de Prisão em Flagrante
Atribuição, no âmbito do IP, equivale-se à competência no âmbito processual, ou seja, são os poderes à autoridade policial inerentes para a pratica dos atos de que necessita para a investigação policial. 
A circunscrição, por outro lado, equivale-se à jurisdição no âmbito judicial, ou seja, são os limites territoriais aos quais o delegado de polícia, investido de atribuição, está atrelado. Assim, mais de uma cidade pode fazer parte da circunscrição de uma DP, bem como podem existir várias DPs dentro de uma cidade. Em ambos os casos, há definição de limite territorial para a investigação. Nesse sentido, cada delegado somente pode atuar dentro da circunscrição a ele delimitada, sendo que, se necessário, para efetuar diligências em outras circunscrições, deve utilizar-se das cartas precatória(em outras circunscrições em território brasileiro) e rogatória(em território estrangeiro).
Quanto ao auto de prisão em flagrante, via de regra, ocorre no local da prisão.
A exceção recai sob as seguintes hipóteses:
- ocorra quando não houver delegado na cidade em que for preso, o apreendido será apresentado no local em que tiver delegado mais próximo, e lá será lavrado o APF;
- em caso de fuga, seja preso em cidade de circunscrição de outro delegado, o APF será lavrado naquela cidade, e o preso será removido até a circunscrição devida; e
- ocorra em local onde o delegado ali presente não detiver competência para o IP (crime de competência da JF, preso por delegado da JC); será lavrado o auto pelo delegado ali presente, e encaminhado o preso à DPF que abranja aquele município. 
Das pessoas do Inquérito Policial
1. Do delegado
O delegado é a pessoa incumbida de atribuição para presidir o inquérito policial dentro de uma determinada circunscrição. O delegado pode ser tanto da polícia civil quanto da polícia federal.
Para que a pessoa possa ser delegado, necessita bacharelado no curso de Direito e, essencialmente, a aprovação em concurso público, uma vez que não há ascensão funcional para este cargo. De forma contrária ao juiz e promotor, não necessita de 3 anos de prática jurídica, mas tão somente a colação de grau e a aprovação em concurso público. O delegado adquire a estabilidade após 3 anos de estágio, apenas perdendo o cargo em virtude de sentença judicial transitada em julgado.
O delegado goza de certas garantias, tais como: a) remoção somente fundamentada; b) afastamento da presidência do IP somente por avocação ou redistribuição; c) poder de requisitar quaisquer informações que necessitar para o seguimento do inquérito; e d) aposentadoria especial.
2. Do juiz
O juiz no inquérito policial, diferentemente do processo judicial, tem atuação meramente secundária, uma vez que a ele é vedado presidir o inquérito, podendo, tão somente, realizar diligências incidentes sobre determinadas matérias, quando, e se, houver necessidade.
O juiz, no inquérito, age, via de regra, por provocação, quando for necessária sua autorização para a prática de algum ato. Ao juiz é vedado, inclusive, solicitar o arquivamento do inquérito, podendo fazê-lo somente mediante requisição do MP. 
Contudo, pode, de oficio, mesmo antes de iniciada a ação penal, solicitar a produção antecipada de provas, observando os requisitos presentes no art. 156 do CPP.
3. Do Ministério Público
De mesma forma que o juiz, o MP tem atuação secundária no IP, haja vista que também é a ele vedado presidir o IP, podendo, contudo, solicitar diligências a serem realizadas, bem como pode solicitar o arquivamento do IP - que será feito mediante autorização do juiz.
No IP o MP atuará como custos legis, como controlador da atividade policial, ao passo que, no âmbito processual, será, via de regra, o autor da ação criminal.
4. Da vítima
A vítima nada mais é do que a pessoa física ou jurídica que sofreu diretamente a violação da norma penal. É, assim, o titular do bem juridicamente protegido e violado.
Nessa fase investigatória, o depoimento da vítima conta como meio de prova, de tal forma que não pode ser confundida com a figura da testemunha.
Já no âmbito processual, a vítima configura-se como um terceiro interessado, que pode habilitar-se como assistente da acusação. A vítima, como sujeito passivo que é, pode ser tantomaior quanto menor de idade e, nesse último caso, deverá ser representada por seu representante legal que, não o tendo, será nomeado curador especial pelo juiz.
5. Do curador especial à vítima 
Haverá de ser nomeado curador especial à vítima quando esta não tiver representante legal, ou, ainda que o tenha, seus interesses sejam conflitantes (pai, representante legal do filho, sendo indiciado por crime cometido contra ele).
É facultado ao curador aceitar tal encargo.
6. Pessoas casadas
Sabe-se que, pelo C.C., a maioridade plena adquire-se aos 18 anos, mas há a possibilidade de emancipação, após os 16, o que confere ao menor a realização de determinados atos da vida cível que, se não fosse emancipado, não poderia fazer.
O casamento é uma das formas de emancipação; todavia, confere direitos estritamente cíveis, e não penais. Ou seja, ainda que emancipada, a vítima casada deverá ter representante legal, devendo ser representada por um dos seus pais e não pelo cônjuge, haja vista este não adquirir esta qualidade pelo casamento.
7. Pessoas jurídicas
Pessoas jurídicas de Direito Público e Privado podem ser vítimas, sendo representadas por seus representantes, constante em seus estatutos, que deverão, obrigatoriamente, ser ouvidos.
8. Testemunha
Toda a pessoa pode ser testemunha, que se caracteriza por ser um terceiro desinteressado.
A testemunha tem obrigação de depor, não podendo eximir-se de sua responsabilidade, sob pena de delito de falso testemunho ou falsa perícia.
A exceção recai sobre duas hipóteses: a primeira, caso a testemunha seja cônjuge ou afim em linha reta (incluí-se o irmão, ainda que não o seja), podem recusar-se a prestar depoimento, somente não sendo aceita a recusa se for este o único meio de prova; a segunda, as pessoas que, em razão da função ou profissão, devem guardar segredo, também podem se recusar a depor, salvo se desobrigadas pela parte interessada ou quiserem dar seu testemunho.
Aos que se defere tal compromisso, e aos deficientes e menores de 14 anos, não responderão pelo delito de falso testemunho.
9. Perito criminal
É auxiliar técnico do delegado de polícia, sendo necessário apenas um, que, obrigatoriamente, deve ter nível superior.
Caso não seja possível sua atuação, poderá o delegado nomear pessoas para realização das pericias que precise. Deve nomear, para tanto, no mínimo dois peritos, que devem, também, ter nível superior, preferencialmente na área da realização da perícia.
O perito oficial não precisa prestar compromisso, diferentemente daqueles nomeados pelo delegado, que, a cada perícia, devem prestar compromisso.
10. Intérprete
O intérprete será utilizado quando houver necessidade de ouvir pessoa que não fale o idioma nacional ou o surdo-mudo.
11. Do indiciado
O indiciado é o suspeito da autoria do crime, e é sobre quem recaem os atos de indiciamento à vista dos atos diligenciais.
Caso o indiciado for menor de idade, não poderá ser objeto de investigação via inquérito policial, devendo seus atos infracionais ser investigados via procedimento especial constante no ECA. Assim, somente poderá ser indiciado no inquérito quem for maior de idade.
O indiciado goza de todas as garantias constitucionais, exceto aquelas referentes ao contraditório e à ampla defesa. Não obstante, poderá ele, à semelhança da vítima, requerer quaisquer diligências que serão apreciadas e deferidas, ou não, pelo delegado, exceto se for requerido o exame de corpo de delito.
O indiciado não será interrogado, mas ouvido, e deve a ele ser lidos todos os seus direitos antes de se iniciar a oitiva. O indiciado pode optar pelo direito de silêncio, haja vista a vedação de fazer prova contra si mesmo.
Vale lembrar que qualquer declaração dada à imprensa, conversas formais e etc não tem valor probatório, a não ser que tenham sido lidos os seus direitos antes de dadas as informações.
O mesmo vale para o fato de haver câmeras de monitoramento no local, com aviso de que elas existem. Se o indiciado não for previamente avisado de seus direitos, não terão força probatória quaisquer que sejam suas declarações.
12. Do advogado
A presença de advogado durante a fase investigatória é facultativa.
Nesse sentido, a defesa técnica, obrigatória no processo judicial, não se faz necessária no procedimento administrativo.
O advogado pode, no IP, comunicar-se com seus clientes, mesmo sem procuração, podendo colher prova ou informação útil ao seu exercício profissional, podendo, inclusive, efetuar reclamações verbais ou por escrito contra inobservâncias de lei pela autoridade.
Como referido antes, o advogado também pode ter acesso aos autos, desde que já documentados, podendo realizar cópias das peças que considere importante para a defesa do seu constituinte.
Não se fala aqui de capacidade postulatória ou defesa técnica, uma vez que são características inerentes à ampla defesa, que somente é assegurada ao réu em processo judicial.
Assim, as provas requisitadas pelo advogado podem ser indeferidas pelo delegado, exceto se o pedido constituir-se em requerimento de exame de corpo de delito.
13. Do assistente técnico e à acusação
Ambos assistente técnico e assistente à acusação inexistem na fase investigatória, somente tomam lugar durante a fase processual.
O assistente técnico, no processo, atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais.
Já o assistente à acusação somente existirá em ação penal pública, assistindo ao Ministério Público.
Do Procedimento do Inquérito Policial
Dos prazos
O prazo, nesses casos, conta-se conforme o Direito Penal: incluí-se o dia da prisão e excluí-se o dia do final. Ex.: Com prazo de 10 dias para terminar o IP, inicia-se no dia 10 e termina no dia 19.
O inquérito policial tem prazos diferentes para a Polícia Federal e Estadual, e é analisado em duas hipóteses: quando o investigado estiver preso e quando o investigado estiver solto.
1. Investigado preso: quando o investigado estiver preso (ter sido preso em flagrante), no que tange ao delegado de polícia ESTADUAL, este terá o prazo de 10 dias para terminá-lo, tal prazo é improrrogável; no que tange ao delegado de polícia FEDERAL, este terá o prazo de 15 dias, prorrogável uma vez por igual período, devendo tal prorrogação ser oriunda de decisão judicial;
2. Investigado solto: tanto para o delegado de polícia Federal quanto para o Estadual, na hipótese de o investigado estar solto, o prazo para conclusão do IP será de 30 dias, prorrogável por quantas vezes e quanto tempo for necessária à conclusão do inquérito, devendo, também, advir tal prorrogação de decisão judicial.
Do início do Inquérito Policial
Da Notitia Criminis
Em suma, é a notícia da infração penal, levada ao conhecimento da autoridade policia, e se subdivide em 3 espécies:
Notitia Criminis de cognição direta (imediata): ocorre quando a autoridade policial tomar conhecimento da ocorrência de um crime de forma direta, ou seja, por meio de suas atividades funcionais rotineiras. Ainda, também se configura por meio de notícia vinculada na imprensa ou por meio de denúncias anônimas (que, por si só, não tem força de instauração).
Notitia Criminis de cognição indireta (mediata): ocorre quando a autoridade policial tomar conhecimento da ocorrência de um crime por meio de algum ato jurídico de comunicação formal do delito. Tal ato pode ser o requerimento da vítima ou de qualquer pessoa do povo (famoso x9), a requisição do juiz ou MP, a requisição do Ministro da Justiça (casos de crimes contra a honra do Presidente da República) ou a representação do ofendido. 
Notitia Criminis de cognição coercitiva (delatio criminis): ocorre na hipótese de prisão em flagrante delito, em que a autoridade policial lavra o respectivo auto, quando será configurada como direta. E será indireta quando particular realizar a prisão em flagrante.
 
- Ação Penal Pública Incondicionada
Pode ocorrer de ofício ou por requisição da autoridade judiciária ou MP.
Deofício: tão logo tiver conhecimento da pratica de algum delito, deve o delegado instaura o inquérito policial por meio de uma Portaria, que deverá conter um síntese dos fatos, local, data, vítima e ofensor, testemunhas, e o artigo penal que embasa o delito.
Por requisição da autoridade judiciária ou do MP: quando a autoridade judiciária ou o MP detiverem conhecimento de algum ilícito; porém, mesmo assim, não detiverem as informações suficientes para a apresentação de denúncia, requisitarão à autoridade judiciária a instauração do inquérito policial. Se for indeferido, caberá recurso aos superiores do delegado, tanto no âmbito estadual quanto federal. A requisição acima referida implica em obrigatoriedade; todavia, o seu não cumprimento pelo delegado não se configura como crime de desobediência, mas, sim, uma infração administrativa.
 
- Ação Penal Pública Condicionada
Ocorre somente mediante a representação do ofendido ou de seu representante legal. 
Aqui, o inquérito será instaurado tão somente mediante a requisição do ofendido/representante, isso porque a denúncia também está condicionada à representação. Caso o delegado indefira o pedido, caberá recurso ao delegado-chefe.
- Ação Penal Privada
Aqui também, vide disposto no art. 5º, §5º, do CPP, há necessidade de requerimento da vítima para instauração do inquérito policial.
Somente será instaurado posteriormente à requisição. Quando findada a investigação, os autos do inquérito serão remetidos ao juízo, ao qual aguardará o comparecimento da vítima para que, se quiser, apresente a queixa-crime.
Dos atos e providências 
1. Da portaria: ocorre quando instaurado ex officio, é a peça procedimental escrita, onde consta a descrição do fato a ser apurado e as diligências a serem realizadas;
2. Instaurado o inquérito, o delegado deverá dirigir-se ao local do crime, e preservar o estado das coisas até a chegada da perícia. A exceção a essa não alteração recai sobre as hipóteses de acidente automobilístico, onde a via deva ser desobstruída (art. 6º, I, CPP);
3. Apreender os objetos e instrumentos do crime após a liberação da perícia. Não é necessária uma diligência de busca e apreensão. É válido lembrar que as garantias constitucionais de inviolabilidade do domicílio devem ser respeitadas (à noite e ao dia não se pode adentrar domicílio alheio sem convite/autorização, flagrante delito, prestação de socorro e desastre, e ao dia sem autorização judicial) (art. 6º, II, do CPP);
4. Colher todas as provas que servirem de esclarecimento ao fato, tais como provas documentais, oitiva de testemunhas e exame de corpo de delito (art. 6º, III, CPP);
5. Ouvir o ofendido (art. 6º, IV, do CPP);
6. Interrogatório. O indiciado deverá ser qualificado, cientificado do teor da acusação e informado do seu direito ao silêncio antes do início das perguntas. Quanto às perguntas, inicialmente ser-lhe-á questionado sobre sua vida pessoal e posteriormente ser-lhe-á questionado sobre a acusação.
Do indiciamento
O indiciamento consiste no ato de atribuir a alguém a autoria de um delito, passando, assim, dali em diante, o foco das investigações àquele alguém especifico.
Assim, deve o indiciamento ser um ato solene, por escrito, e com prova de que o principal interessado (indiciado) teve ciência inequívoca de seu indiciamento.
Da incomunicabilidade
É majoritário o entendimento, tanto da doutrina quanto da jurisprudência, de que a Constituição Federal não recepcionou o art. 21 do CPP; em outras palavras, é inconstitucional tal artigo, sendo, atualmente, vedada a incomunicabilidade do preso.
Ainda assim, a incomunicabilidade somente poderia ser decretada pelo juiz, por um prazo máximo de 3 dias e sendo permitido ao preso acesso a advogado.
Do encerramento do IP
Para encerrar o IP, o delegado deverá apresentar um relatório, onde, nesse relatório, deverá constar qual a conclusão a que se chegou: se há, ou não, indícios de materialidade e de autoria da infração - o delegado não pode fazer juízo de valor.
Feito isso, o relatório será remetido ao juízo competente, ou seja, ao representante do Poder Judiciário (o juiz), que, então, dará vistas ao MP para que, dependendo da hipótese, dê início à ação penal. 
Tão logo chegue o relatório ao MP, este deverá:
1- Apresentar a denúncia, se do relatório do IP puder se extrair indícios de autoria e materialidade da infração;
2- Solicitar novas diligências a serem realizadas pela autoridade policial, desde que haja a hipótese de se extrair tais indícios a partir dessas diligências. Se for indeferido pelo magistrado, cabe a correição parcial; e
3- Solicitar o arquivamento do IP, se do seu relatório não se puder extrair indícios de autoria e materialidade da infração. O juiz poderá homologar o arquivamento ou indeferi-lo. Quando isso ocorre, os autos do IP são remetidos ao Procurador Geral (art. 28 CPP) que poderá: a) oferecer ele mesmo a denúncia; b) designar outro membro do MP para oferecer a denúncia (este não poderá ser o mesmo que solicitou o arquivamento e deverá, obrigatoriamente, oferecer a denúncia); e c) requerer o arquivamento, estando, aí, o juiz obrigado a fazê-lo. Isso tudo no âmbito da Justiça Comum. Quanto à JF, todavia, difere-se da JC, isso porque, caso haja divergência entre o juiz e o promotor, os autos do IP serão remetidos à Câmara de Coordenação e Revisão do MPF que poderá insistir no arquivamento ou designar novo procurador para ofertar a denúncia (não pode a própria câmara ofertá-la).
O arquivamento do IP, via de regra, não faz coisa julgada material, uma vez que, em observância à Súmula nº 524 do STF, caso surgirem novas provas, poderá o promotor solicitar seu desarquivamento, ofertando, portanto, a denúncia. Todavia, como exceção a essa regra, fará coisa julgada material o IP que for arquivado mediante prova de atipicidade do crime ou extinção de punibilidade (prescrição).
Se o pedido de arquivamento for feito pelo Procurador Geral de Justiça ou pelo Procurador Geral da República, o IP deverá ser arquivado, sem exceção (chama-se de arquivamento originário).
Ocorrerá o arquivamento implícito quando o MP, frente a um IP com mais de um indiciado ou mais de um crime, omitir-se quanto a um deles, ofertando uma denúncia contra apenas parte dos indiciados/crimes presentes no IP. Dessa forma, restará implicitamente arquivado o IP. O juiz, nesse caso, poderá aceitar o arquivamento ou, à exigência de novas provas, encaminhar o IP ao PGJ. Cabe ressaltar, e com cuidado, que o arquivamento implícito não é adotado na prática pelo STJ e tampouco pelo STF.
Por fim, ocorre o arquivamento indireto quando houver discrepância de entendimento entre o juiz e o MP acerca da competência do juízo para julgar a denúncia. Ou seja, o MP requer que os autos do IP sejam remetidos a outra esfera (JF para JC, por exemplo), e o pedido é indeferido pelo juiz. Nesse caso, ocorre o arquivamento indireto, momento ao qual o juiz aplicará o art. 28, remetendo os autos do IP ao PGR.

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