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ORIGENS DA RETÓRICA → A retórica é anterior à sua história. Antes mesmo da invenção da retórica (técnicas e teorias retóricas) na Grécia os homens já utilizavam a linguagem para persuadir. → Desde a sua invenção quase nada mudou. Houve um período muito grande de estagnação. Desse modo, quando se fala em evolução da retórica retornamos ao seu surgimento com os gregos. → Temos duas datas referências para marcar a origem da retórica: 1º) 480 a.C. batalha da Salamina, em que os gregos triunfaram sobre os persas, iniciando o grande período da época clássica. 2º) 399 a.C., morte de Sócrates. ORIGEM JUDICIÁRIA → A origem da retórica é judiciária, quando em 465 a.C., após a expulsão dos tiranos na Sicília grega, os cidadãos despojados reclamavam seus bens. → CÓRAX, discípulo do filósofo EMPÉDOCLES, e o seu próprio discípulo TÍSIAS publicaram a “Arte Oratória”, coletânea de preceitos práticos que orientavam os indivíduos como recorrer à justiça. → A retórica não argumenta a partir do verdadeiro, mas a partir do verossímil (EIKOS). → GÓRGIAS, nascido em 485 a.C., Siciliano e discípulo de EMPÉDOCLES criou a retórica estética e literária. → GÓRGIAS é um dos fundadores do discurso EPIDÍCTICO, ou seja, elogio público. → Os retóricos e os sofistas não buscavam a verdade, mas o belo. → PROTÁGORAS fundador da ERÍSTICA (dialética) mestre itinerante. Partindo do princípio de que todo argumento pode-se opor outro, que qualquer assunto pode ser sustentado ou refutado, ele ensina a técnica erística, arte de vencer uma discussão contraditória (erística vem de “éris”, controvérsia). → Com os sofistas a retórica ganha os primeiros esboços da gramática e um ideal de prosa ornada e erudita. Deve-se a eles a ideia de que a verdade nunca passa de um acordo entre interlocutores. A eles de deve a insistência no KAIRÓS, momento oportuno, ocasião que se deve agarrar na fuga incessante das coisas, ao que se dá o nome de espírito da oportunidade ou réplica vivaz, que é a alma da retórica viva. → A finalidade dessa retórica não é a busca da verdade ou do verossímil, mas convencer, vencer o interlocutor e deixa-lo sem réplica. Fica-se no poder e não no saber. → ISÓCRATES, ateniense, 436-338 a.C., propõe uma retórica mais moral que a dos sofistas. Professor de arte oratória. ARISTÓTELES (384-322) A RETÓRICA E A DIALÉTICA → Foi discípulo de Platão por 15 anos. Depois fundou seu próprio Liceu. → GÓRGIAS celebra o poder da retórica, ARISTÓTELES destaca a utilidade. Ambos, como ISÓCRATES admitem que ela pode ser usada desonestamente (ADIKÔS), o que em nada subtrai seu valor. → Para ARISTÓTELES a retórica não se reduz ao poder de persuadir, no essencial é a arte de achar os meios de persuasão que cada caso comporta. → Em outras palavras, o bom advogado não é aquele que promete a vitória a qualquer custo, mas aquele que abre para a sua causa todas as probabilidades de vitória. ARGUMENTAÇÃO – CAP. V – página 91-112 p.91 → A argumentação se situa entre a demonstração científica ou lógica e a ignorância pura e simples. → A argumentação é um dos pilares da retórica. A retórica se compõe de dois elementos: argumentativo e oratório. → Segunda tese: a importância da oratória é maior quanto mais urgente for a questão, mais restrito o acordo prévio, e menos acessível à argumentação lógica o auditório. p.92 AS CINCO CARACTERÍSTICAS DA ARGUMENTAÇÃO → ARGUMENTO: uma proposição destinada a levar à admissão de outra. Alguns argumentos são demonstrativos (considerando os fatos como estão...) outros são argumentativos (pois, de fato, etc.) → Argumentação é uma totalidade que só pode ser entendida em oposição a outra totalidade: a demonstração. → ARGUMENTAÇÃO distingue-se da DEMONSTRAÇÃO por cinco características essenciais: - dirige-se a um auditório; - expressa-se em língua natural; - suas premissas são verossímeis; - sua progressão depende do orador; - suas conclusões são sempre contestáveis. O AUDITÓRIO PODE SER “UNIVERSAL” ? → Sempre se argumenta diante de alguém. Esse alguém pode ser um grupo, um indivíduo ou uma multidão. p.93 → O conceito de auditório estende-se aos leitores. → Um auditório é diferente de outros. Competência, crenças e emoções são fatores que diferem os auditórios. → Sempre há um ponto de vista que a argumentação irá pretender modificar. → FALAR DO AUDITÓRIO UNIVERSAL E PARTICULAR. → O auditório universal poderia ser apenas uma pretensão, ou mesmo um truque retórico. Mas achamos que ele pode ter função mais nobre, a do ideal argumentativo. → O orador sabe bem que está tratando com um auditório particular, mas faz um discurso que tenta superá-lo, dirigido a outros auditórios possíveis que estão além dele, considerando implicitamente todas as suas expectativas e todas as suas objeções. → O auditório universal é um princípio de superação e por ele se pode julgar da qualidade de uma argumentação. p.94 LÍNGUA NATURAL E SUAS AMBIGUIDADES → Na demonstração é grande o interesse de se utilizar uma língua artificial, por exemplo, da álgebra e da química. A Argumentação desenrola-se sempre em língua natural, por exemplo, língua portuguesa. → Utilizar língua natural significa utilizar com grande frequência termos polissêmicos e com fortes conotações, como democracia, que está longe de ter o mesmo sentido e o mesmo valor para todos os oradores. → O HOMEM É O LOBO DO HOMEM. Lobo – metáfora de cruel, porém solitário ou em matilha? É – sempre ou na maioria das vezes? O – refere-se ao homem em sua essência, ao homem natural anterior à cultura ou ao homem de hoje? → O adágio tem tantas armadilhas quanto as campanhas publicitárias, mas porque está em língua natural nos dá a impressão de ser muito claro, quando nos é apenas familiar. → Outra observação: a argumentação escrita se difere da argumentação oral. Na oral existem dois inimigos mortais: desatenção e esquecimento. p.95 → A argumentação oral é menos lógica e mais oratória que a escrita. → A expressão “se pelo menos pudéssemos explicar pessoalmente” comprova que falta alguma coisa à argumentação escrita, que a oral tem um valor insubstituível. PREMISSAS VEROSSÍMEIS: O QUE É POSSÍVEL → O fato de o auditório ser sempre particular, parece decorrer o caráter vero-símil das premissas, que não são evidentes em si, mas parecem verdadeiras a esse auditório. → Porém a verossimilhança não se liga ao auditório, mas ao objeto. p.96 → Quando se trata de questões jurídicas, econômicas, políticas, pedagógicas, éticas e filosóficas não se lida com o verdadeiro ou falso, mas com o mais ou o menos verossímil. → Verossímil é tudo aquilo em que a confiança é presumida. Por exemplo: os juízes nem sempre são independentes, os médicos nem sempre são capazes, os oradores nem sempre são sinceros, Mas presume-se que sejam, e, se alguém afirmar o contrário, cabe-lhe o ônus da prova. → O simples fato de invocar premissas verossímeis equivale a apelar para a confiança do auditório, para a sua presunção e comporta um aspecto oratório. UMA PROGRESSÃO QUE DEPENDE DO ORADOR → Se as premissas não são verossímeis, a progressão dos argumentos nada tem a ver com uma demonstração. → Argumentação: série de argumentos, todos tendentes à mesma conclusão. (NÃO É BOA) SÉRIE – dá uma ideia de linearidade: A – B – C – D .... → Z Argumentação: B A C Z D → Argumentação: fuso de argumentos independentes uns dos outros e convergentes a mesma conclusão.p.97 → A ordem de apresentação dos argumentos não é lógica, mas psicológica. Vai depender do auditório e o orador deve estar atento. CONCLUSÕES SEMPRE CONTROVÉRSAS → Na argumentação a conclusão representa o acordo entre os interlocutores. Por isso deve ter as seguintes características: - Deve ser mais rica que as premissas; - a conclusão é utilizada pelo orador como algo que vem para encerrar o debate. Porém o auditório não está obrigado a aceitá-la, neste ponto é que pode-se afirmar que a conclusão é controversa. p.99 → A argumentação é dirigida ao homem total, ao ser que pensa, mas que também age e sente. O QUE É UMA BOA ARGUMENTAÇÃO → Uma “boa” argumentação é a mais eficaz ou a mais honesta? → Segundo quais critérios pode-se avaliar a honestidade de uma argumentação? → Um critério seria a causa. Uma argumentação valeria pela causa que serve. Este critério supõe que o valor da causa seja conhecido antes da argumentação encarregada de estabelece-lo: o que equivale a julgar antes do processo, a eleger antes da campanha eleitoral, a saber antes de aprender. Não existe dogmatismo pior. p.100 → Outro critério: respeitar os elementos demonstrativos, lógicos que a argumentação comporta. Agir de modo que ela não seja sofística. OS SOFISTAS E A ARGUMENTAÇÃO → SOFISMA: um raciocínio cuja validade é apenas aparente e que ganha adesão por fazer crer em sua lógica. Pode servir para legitimar interesses, amor-próprio e paixões. → Portanto, é pela forma que um raciocínio é sofístico e não por seu conteúdo. → VER OS EXEMPLOS NAS PÁGINAS 100 E 101. p.102 → Um entimema é sofístico quando conclui mais do que deve. p.104 ARGUMENTAÇÃO PEDAGÓGICA, JUDICIÁRIA E FILOSÓFICA DO PEDAGÓGICO AO JUDICIÁRIO → O ensino não pode prescindir da pedagogia, toda pedagogia é retórica. → O professor é um orador que, como todos os outros, deve atrair e prender a atenção, ilustrar os conceitos, facilitar as lembranças, motivar ao esforço. p.105 → Ensinar uma matéria é conferir-lhe uma clareza, uma coerência que ela não tem necessariamente como ciência. → Justificativa do poder docente: O ensino é, pois, uma relação assimétrica que trabalha por sua abolição, para que o aluno se torne, se possível, igual ao mestre. p.106 → No judiciário tem-se o debate polêmico, em que o objetivo não é convencer a parte adversária, mas uma terceira parte, o tribunal. → A finalidade do advogado é fazer de tudo para tornar válida a causa de seu cliente, para lhe dar todas as oportunidades de vitória. UMA CONTROVÉRSIA JUDICIÁRIA: OS EXPROPRIADOS E A DESVALORIZAÇÃO → (EXEMPLOS NAS PÁGINAS 108 E 109) p.109 ARGUMENTAÇÃO FILOSÓFICA: ONDE ESTÁ O TRIBUNAL? p.110 → À pretensão de que os filósofos sejam demonstradores se opõem três argumentos: 1ª) os filósofos chegam a doutrinas muito diferentes, muitas vezes opostas, embora a demonstração só possa redundar numa verdade única. 2º) a estrutura da demonstração não são as mesmas segundo se trate de filósofos diferentes. Há uma só matemática, enquanto existem várias filosofias. 3ª) na verdade os filósofos recorrem em maior ou menor grau à argumentação. → O propósito do filósofo é encontrar, e não ensinar o que outros encontraram, ainda que muitas vezes se encontre ensinando. → Assim sua tarefa não é defender uma causa, mas sustentar uma tese. p. 112 → Uma causa exige um juízo “hic et nunc” – aqui e agora. Uma tese visa a uma explicação de alcance universal. A tese não responde à pergunta: Catilina é injusto?, mas a outra diferente: "O que é justo ou injusto?” → O que distingue o filósofo do político e do advogado é que ele sustenta ao mesmo tempo o pró e o contra, é que ele é ao mesmo tempo o advogado e seu adversário. → Mas qual o tribunal? Em cada um de nós. → A argumentação existe como meio de prova distinto da demonstração, mas sem incidir na violência e na sedução. APODÍCTICO Arte de demonstrar a verdade de um princípio por meio do simples raciocínio, sem recorrer a provas de fato. Var: apodítica. APÓSTROFE é uma figura de linguagem caracterizada pela evocação de determinadas entidades, consoante o objetivo do discurso. Caracteriza-se pelo chamamento do receptor, imaginário ou não, da mensagem. Nas orações religiosas é muito frequente ("Pai Nosso, que estais no céu", "Ave Maria" ou mesmo "Ó meu querido Santo António" são exemplos de apóstrofes). Em síntese, é a colocação de um vocativo numa oração. DREYFUS No dia 12 de julho de 2006, a França celebrou 100 anos da reabilitação do capitão Alfred Dreyfus. O jovem oficial judeu foi protagonista do infame e mundialmente conhecido "Caso Dreyfus".Acusado de espionagem a favor da Alemanha, o militar foi julgado sumariamente por alta traição, submetido à degradação militar, em 1895, e condenado à prisão perpétua na famigerada prisão na Ilha do Diabo (na Guiana Francesa). Apesar das contundentes provas de sua inocência, é condenado por um tribunal militar, pela segunda vez, em 1899, sendo em seguida indultado. Sua inocência só foi verdadeiramente reconhecida em 1905 e, no ano seguinte, foi reabilitado pelo governo francês. Na verdade, Dreyfus foi vítima flagrante do anti-semitismo fortemente arraigado na sociedade e Forças Armadas francesas. Sua primeira condenação, baseada em provas forjadas, foi puramente "ideológica". Para o exército, ele se encaixava "como uma luva" no papel de culpado, ou seja, o perfeito bode expiatório. Ainda mais grave, foi o fato de que quando a verdade veio à tona, oficiais franceses de alta patente tudo fizeram para a ocultar. O Caso Dreyfus foi, sem sombra de dúvida, uma das mais escandalosas fraudes judiciais da história moderna da França. ENTIMEMA É substantivo masculino, de origem grega - enthýmema - que da Lógica Silogística contém uma só premissa, dando-se por subentendida a segunda. Assim, em O homem tem direitos, logo tem deveres, é possível subentender que quem tem direitos, tem também deveres. Em outras palavras, entimema é argumento que contém pelo menos uma premissa não explícita, quase sempre tida como uma premissa implícita, subentendida ou oculta. Desse modo, em Fulano é advogado, logo Fulano tem formação universitária, este caracteriza a premissa não formulada de que advogados têm formação universitária. Pode ser ainda entendida como sendo silogismo em que só há antecedente e consequente. EPIDÍCTICO ETHOS consiste na credibilidade do orador. Na sua magnificência, cultura, estado social, capacidade intelectual e em como se poderá usar estas qualidades intrínsecas para levar um auditório a acreditar numa verdade. HEURÍSTICA é um método ou processo criado com o objetivo de encontrar soluções para um problema. É um procedimento simplificador (embora não simplista) que, em face de questões difíceis envolve a substituição destas por outras de resolução mais fácil a fim de encontrar respostas viáveis, ainda que imperfeitas. Tal procedimento pode ser tanto uma técnica deliberada de resolução de problemas, como uma operação de comportamento automática, intuitiva e inconsciente LOGOS representa o raciocínio lógico através do qual se convence o público de uma verdade. PATHOS representa o jogo com as paixões e emoções dos ouvintes. A forma como o orador se dispõe a conquistar os corações do seu público, fazendo-o prescindir do controle racional das opiniões.
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