Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Laura Romeu Behrends ediFüCRS MOVIMENTO AMBIENTALISTA COMO- FONTE MATERIAL DO DIREITO AMBIENTAL o movimenio nmBiEninusin co m o fo nte mnTERim d o d ir e it o am biental Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Chanceler Dom Dadeus Grings Reitor Joaquim Clotet Vice-Reitor Evilázio Teixeira Conselho Editorial Ana Maria Lisboa de Mello Arm ando Luiz Bortolini Bettina Steren dos Santos Eduardo Cam pos Pellanda Elaine Turk Faria Érico João Hammes Gilberto Keller de Andrade Helenita Rosa Franco Jane Rita Caetano da Silveira Jerônim o Carlos Santos Braga Jorge Cam pos da Costa Jorge Luis N icolas A udy - Presidente Jurand ir Malerba Lauro Kopper Filho Luciano Klockner M arília Costa Morosini Nuncia Maria S. de Constantino Renato Tetelbom Stein Ruth Maria Chittó Gauer EDIPUCRS Jerônim o Carlos Santos Braga - Diretor Jorge Cam pos da Costa - Editor-Chefe LAURA ROMEU BEHRENDS o movimenio ambientalista como ronie mnTERim d o d ire ito ambiental £ ediPUCRS Porto Alegre, 2011 © EDIPUCRS, 2011 CAPA Daniel Motta Behrends REVISÃO DE TEXTO do Autor EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Rodrigo Valls £ edipuc EDIPUCRS - Editora Universitária da PUCRS Av. Ipiranga, 6681 - Prédio 33 Caixa Postal 1429 - CEP 90619-900 Porto Alegre - RS - Brasil Fone/fax: (51) 3320 3711 e-mail: edipucrs@pucrs.br - www.pucrs.br/edipucrs. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) B421m Behrends, Laura Romeu O movimento ambientalista como fonte material do direito ambiental [recurso eletrônico] / Laura Romeu Behrends. - Dados eletrônicos. - Porto Alegre : EDIPUCRS, 2011. 87 p. Publicação Eletrônica Modo de Acesso: <http://www.pucrs.br/orgaos/edipucrs/> ISBN 978-85-397-0117-9 (on-line) 1. Direito Ambiental. 2. Movimentos Sociais. 3. Proteção Ambiental. I. Título. CDD 341.347 Ficha Catalográfica elaborada pelo Setor de Tratamento da Informação da BC-PUCRS. TO D O S O S D IR E ITO S R E SE R VA D O S. P ro ib ida a rep ro du ção to ta l ou pa rc ia l, po r qu a lq ue r m e io ou p rocesso , e sp ec ia lm e n te po r s is tem as grá ficos, m icro fílm icos, fo tog rá fico s , rep rográ ficos, fo no g rá fico s , v ide og rá ficos . V eda da a m em orizaçã o e/ou a recu pe ra ção to ta l ou parcia l, bem com o a inc lu são de q u a lq ue r p a rte desta ob ra em qu a lq ue r s is tem a de p ro cessa m e n to de dados. E ssas p ro ib içõe s ap licam -se tam bém às ca ra c te rís tica s g rá ficas da ob ra e à sua ed ito ração . A v io la çã o do s d ire itos a u to ra is é puníve l com o c rim e (art. 184 e pa rág ra fos, do C ód igo Pena l), com pe na de prisão e m ulta , con jun tam e n te com busca e ap ree nsã o e ind en izaçõ es d ive rsa s (arts. 101 a 110 da Lei 9 .610, de 19 .02.1998, Lei dos D ire itos Au to ra is). Dedico esta obra aos meus pais, tios e avós que tanto apoiaram e incentivaram o meu crescimento profissional. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus toda iluminação. Agradeço o meu tio José Alfredo, pelo conselho de cursar Direito, o ambientalista Augusto Car neiro, por ter me emprestado a maioria dos livros para a realização deste trabalho, o amigo Rogério Mongelos, por todos os conselhos, e o Professor Doutor Orci Bretanha Teixeira, pela sua orientação. SUMÁRIO Prefácio...................................................................................................9 1. APRESENTAÇÃO........................................................................ 10 Canção do exílio............................................................................... 13 2. HISTÓRIA DO MOVIMENTO AMBIENTALISTA.......................14 2.1 Período colonial brasileiro...........................................................14 2.2 A evolução de um pensamento..................................................15 2.3 1970, o ano das modificações de atitudes............................... 17 2.4 Estocolmo, primeiro marco internacional..................................18 2.5 Agapan...........................................................................................21 2.6 1980, a década da conscientização ecológica.........................22 2.7 Rio 92, segundo marco internacional........................................28 2.8 COP 3 e o Protocolo de Kyoto..................................................29 2.9 Século XX, o período da inércia................................................30 2.9.1 Rio + 10, terceiro marco internacional......................31 O dia da Terra, o Grito da Terra...................................................34 3. O MOVIMENTO SOCIAL.............................................................35 3.1 A reflexão do homem diante do desconhecido........................35 3.2 O início do movimento social brasileiro - 1970:.........................37 3.3 O mundo unido, 1970; Estocolmo, primeiro marco internacional..40 3.4 Ano de 1980, a campanha ambientalista não para.................45 3.5 Constituição Federal brasileira de 1988.................................. 49 3.6 Reflexão e interesse: Rio 92, segundo marco internacional...51 3.7 Século XXI, período neutro........................................................ 54 Juramento de Henrique Luiz Roessler....................................... 58 4. LEIS, O MANIFESTO SE CONSUMA........................................ 59 4.1 Brasil, período colonial............................................................... 59 4.2 Anos de 1970: o caos virou lei....................................................61 4.3 As diretrizes pós-Estocolmo........................................................63 4.4 Década de 1980: novos rumos, novas perspectivas..................67 4.5 Década de 1990: prudência X progresso................................. 71 4.6 O futuro do meio ambiente após a Rio 92................................72 4.7 Século XXI: o ontem é a consequência do hoje......................75 5. CONCLUSÃO.................................................................................79 REFERÊNCIAS................................................................................. 81 PREFÁCIO Devido às grandes modificações climáticas em nosso planeta, fi camos preocupados em como lidar com elas, o que está ocasionando tantas catástrofes e grandes alarmes, partidos em várias sociedades. É necessário sabermos quando e onde tudo começou, na história do Direito Ambiental, para conseguirmos entender os grandes prejuízos - e quan do começaram a gerar grandes repercussões - e através disso, revertê- los, podendo lidar da melhor maneira possível com a presente situação. O movimento ambientalista inspira o sentimento de um povo re voltado com empresas que a cada dia abrem as portas e poluem cada vez mais o meio ambiente, sem culpa, sem remorsos, muitas vezes sem ter consciência das consequências de seu ato, pautado em um desejo de soberania. 1. APRESENTAÇÃO O meio ambiente pede socorro. O homem observa a natureza e não se reconhece nela, a ponto de destruí-la sem culpa. Precisamos da natureza para sobreviver, dela tiramos nosso sustento, tanto na alimen tação quanto no social. A natureza é a fornecedora primária dos recursos essenciais para o desenvolvimento de qualquer projeto. Através dela, conseguimos o dinheiro para continuarmos crescendo; desmatamos para desenvolver o potencial da sociedade. Quando olhamos para o passado e vemos grandes erros da hu manidade, ficamos horrorizados, mas logo justificamos, dizendo que a sociedade não era desenvolvida, ainda não possuía um conhecimento, um amadurecimento para tudo que colocava em prática, por isso os erros, as ignorâncias. Mas e hoje, quando os erros ainda persistem, e, às vezes, até mais graves? Será que a sociedade ainda não aprendeu como erro do passado? Com as consequências atuais, percebemos, o crescimento, a ga nância, sempre por mais e mais, persistem; todos se solidarizam quando toneladas de peixes morrem nos rios, mas ninguém faz nada quando mais uma indústria abre as portas e começa com mais uma poluição atmosférica. Parece que precisamos de números, de situações catastróficas, para con seguirmos refletir sobre esse absurdo e tentar mudar uma realidade provo cada por nós, que se tornou uma prática cultural e que hoje é fundamental para nossa rotina. Não enxergamos outra solução, outro exercício que não seja desmatar, construir, progredir e, finalmente, obter o retorno: milhões de reais. Apenas paramos para pensar em outra proposta quando a natureza reage de forma negativa ao nosso ato, caso contrário prosseguimos sempre em linha reta sem olhar para outros horizontes. Desta maneira, onde o mundo vai parar? É uma pergunta diária de qualquer homem, um pouco sensível, em relação a tudo o que está acontecendo. Por sorte, não são poucos os que se revoltam e lutam por justiça, por dias melhores. É nestes passos que o movimento ambien talista se desenvolveu, criou raízes e, hoje, tanto jovens como adultos, protestam para que a natureza seja protegida e suas, raridades preser vadas. Um exemplo disto é o Greenpeace, e tantas outras ONGs, com propostas incríveis para a preservação da natureza. O movimento ambientalista como fonte material do direito ambiental Todo esse evoluir está sendo possível porque a sociedade está presente constantemente na busca da harmonia, da evolução de todo um contexto social. Conforme Toennies, "sociedade é o grupo derivado de um acordo de vontades, de membros que buscam, mediante o vínculo associativo, um interesse comum impossível de obter-se pelos esforços isolados dos indivíduos”. Para que todo o objetivo seja alcançado é ne cessária uma estrutura fundada em propósitos positivos. A interpretação organicista da sociedade pode ser explicada por duas teorias, a teoria orgânica e a teoria mecânica; através delas, obtêm-se respostas e so luções para problemas passados, possibilitando-nos lidar positivamente com fatos futuros, sem a criação de barreiras para a evolução. Através da sociedade criamos os movimentos sociais, que repre sentam a luta constante de um povo em busca de melhorias para toda a humanidade, porque a sociedade é forma e ordem, ou seja, a base para que a comunidade consiga atingir os objetivos propostos. Tudo que é importante para a sociedade vira lei, por isso, desde 1916, com o Código Civil Brasileiro, já apresentava sinais de preocupa ção com o meio ambiente, dispondo no seu antigo Artigo 5841 sobre "a proibição de construções capazes de poluir ou inutilizar para o uso ordi nário a água de poço ou fonte alheia”. Nesta época ainda não se falava em ambientalistas, mas sim em ecologistas; eram pessoas preocupadas com os maus-tratos dados aos animais. Os primeiros ecologistas são dos EUA. Não havia um defensor global, mas sim grupos, cada um com tipos de defesas diferentes. Os que protegiam a vegetação, os que pro tegiam os animais, os que protegiam a água. Como a matéria não se desenvolveu de maneira global, o Código Civil de 1916 a apresentava de forma não aprofundada nem específica, porque o tema ainda não alcançava as proporções que hoje se tem. Por ser vista como infinita, a natureza era usada de qualquer forma; não se tinha cuidados específicos para a utilização dos recursos, árvores eram cortadas sem ser repostas, animais eram mortos por hobby de caçadores, as poluições de fábricas não eram medidas, não havia controle. Para que uma fiscalização se o bem é interminável? Não existia essa necessidade. O movimento ecológico é aquele responsável pela melhoria da qualidade de vida da geração presente, e pela garantia desta para as gerações futuras. "Foi através deste pensamento prático que na década 1 Constituição Federal, Código Civil e Código de Processo Civil. 8a. Edição. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2007. 11 Laura Romeu Behrends de 20”,2 foi criado por um órgão federal, o Serviço Florestal, para que houvesse a conservação da natureza. Esse foi um marco histórico por que, a partir dele, foram originados outros movimentos, proporcionando a criação de novas instituições, possibilitando a conscientização de novas pessoas rumo à preservação ecológica. A Sociedade de Amigos das Árvo res é um exemplo disto. Criada em 1930 por Alberto Sampaio, essa socie dade convocou a primeira conferência brasileira de proteção à natureza. Ao passo do desenvolvimento, várias instituições governamentais e não governamentais foram criadas em prol do meio ambiente. Mas o que unificou todo o movimento foi o Roessler.3 Conforme Augusto Carnei ro, ambientalista gaúcho, ele é o fundador da ecologia política no Brasil. Uma de suas frases de grande impacto foi "a história universal comprova que os povos que se desfizeram de seus recursos naturais, cujo maior é a floresta, empobreceram, se tornaram escravos e desapareceram do mundo”.4 Ele nos quis dizer, com essas sábias palavras, que, quando o homem desmata, justificando o ato por causa do progresso, ele está se matando, porque se for destruído o essencial, o complemento fica de fora. O caminhar que fizemos no passado é o mesmo do presente, não regredimos em nada, pelo contrário, cada vez mais andamos acele radamente para frente; a tecnologia nos fascina, o desenvolvimento nos persegue. Esse pensar não é errado, porque o ser humano é curioso, mas devemos utilizar toda a nossa racionalidade prudentemente, e isso começa a se tornar presente quando a natureza se manifesta mostrando ao homem seu caminhar torto. 2 MARCONDES, Sandra Amaral. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005. 3 CENTENO, Ayrton Roessler: O primeiro ecopolítico. Porto Alegre: JÁ, 2006. 4 Entrevista Augusto Carneiro. 12 O movimento ambientalista como fonte material do direito ambiental Canção do exílio Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá; As aves que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá. Minha terra tem palmeiras, Que tais não encontro eu cá; Em cismar - sozinho, à noite - Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde Canta o sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o sabiá.5 5 DIAS, Gonçalves. Coleção Nossos Clássicos. Poesia. 9. Rio de Janeiro: Agiar, 1979 p.11 13 2. HISTÓRIA DO MOVIMENTO AMBIENTALISTA: 2.1 - Período colonial brasileiro: A formação cultural do Brasil é consequência da colonização por tuguesa; a percepção que se tinha era de uma natureza infinita; perante essa ideia, iniciou-se o processo de exploração territorial. Sem ter pre ocupação com os outros habitantes da região, tais como passarinhos, araras, coelhos... a natureza foi degradada e transformada. Essa base negativa influenciou as futuras gerações brasileiras, porque continuam desmatando e desrespeitando todo um ecossistema, com o intuito de proporcionar a todos melhores condições de vida, gerando empregos e lucros para o governo. A maior parte da agressão contra a Natureza, em todo o mundo, tem origem na exploração irracional da ter ra, que começa com a apropriação injusta e a do Bra sil é a mais injusta de todas.6 O deslumbramento de conhecer uma nova terra e explorar suas riquezas encantou demais os velhos aventureiros, a ponto de anularem os moradores das terras e se intitularem donos,7 para terem a possibili dade de explorar sem medo do revés. Aignorância era tanta que tinham a plena convicção de que a natureza renascia: a cada árvore cortada, outra surgia naturalmente. Os colonizadores não conheciam a terra, nem tiveram a chance de conhecê-la. 6 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p.100. 7 Em 22 de abril de 1500 chegavam ao Brasil 13 caravelas portuguesas lideradas por Pedro Álvares Cabral. À primeira vista, eles acreditavam tratar-se de um grande monte e chamaram-no de Monte Pascoal. No dia 26 de abril, foi celebrada a primeira missa no Brasil. Após deixarem o local em direção à Índia, Cabral, com a incerteza de que a terra descoberta era um continente ou uma grande ilha, alterou o nome para Ilha de Vera Cruz. Após exploração realizada por outras expedições portuguesas, foi descoberto que se tratava realmente de um continente, e novamente o nome foi alterado. A nova terra passou a ser chamada de Terra de Santa Cruz. Somente depois da descoberta do pau-brasil, ocorrida no ano de 1511, nosso país passou a ser chamado pelo nome que conhecemos hoje: Brasil. SUA PESQUISA disponível em: <http://www.suapesquisa.com/historia/descobrimentodobrasil/> Acesso em: 20 Ago. 2009. O movimento ambientalista como fonte material do direito ambiental 2.2 - A evolução de um pensamento: No século XVII, a preocupação com a natureza já se estabelecia, porque através dela era possível observar as mudanças de todo um meio físico. O desmatamento descontrolado era uma das transformações mais visíveis, pois é capaz de mudar todo um ciclo de vida de uma determinada região; pássaros migram por não ter mais seus ninhos, consequentemente, toda uma cadeia alimentar a partir das aves se modifica por não encon trar mais, naquela região, o que dependia para sobreviver. Neste período, não existia uma estimativa das consequências dos atos praticados, por isso estudiosos, notando as modificações, se dedicam ao tema ambiental. No Brasil, Frei Vicente Salvador é um destes, com o seguinte pensamento: Pois o pau-brasil não era uma árvore qualquer, mas sim o primeiro elemento da natureza brasileira, possí vel de ser explorado em larga escala, para benefício do mercantilismo europeu.8 O melhor que o homem pode fazer, para seu benefício, é preser var o que é seu, é evoluir, se desenvolver, para que seus atos não se tornem catástrofes futuras. A natureza possui características próprias; se não fosse o homem com rapidez modificá-la, ela própria se transformaria por causa dos efeitos naturais criados por ela mesma. O ser humano agiu rápido, com derrubadas de árvores, com queimadas, aterramento de banhados, fez surgir num breve espaço de tempo uma natureza sem vida. Onde havia pássaros, agora só restavam campos imensos. Devido à grande derrubada de árvores eles rumaram em busca de um habitat parecido com o anterior em que viviam. Em 1939, no auge da navegação fluvial no Rio Grande do Sul, um desconhecido funcionário da Capitania dos Portos, setor do Rio dos Sinos, São Leopoldo, Henri que Luis Roessler, começou a se interessar pela defe sa da Natureza, de forma pioneira no Brasil, intervindo na caça, pesca, desmatamento, poluição e fazendo Educação Ambiental através de boletins.9 8 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 22. 9 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p.15. 15 Laura Romeu Behrends A terra modificada possibilitou que a agricultura se apossasse do espaço, virando grandes campos de plantações; para que a semente vin gasse eram utilizadas substâncias químicas, pois eram muito eficazes no combate a pragas de insetos, devido ao alto índice de desequilíbrio am biental. Animais antes importantes para a biodiversidade10 começaram a se tornar uma ameaça, e atitudes como criações de venenos, principal mente o DDT,11 foram utilizadas no combate de enfermidades. Tornou-se uma atitude perigosa a utilização de venenos nas plan tas, mas ao mesmo tempo decisiva para o homem; caso não combates se as pragas, morreria por causa delas. O surto de mosquitos causador da malária foi uma epidemia mundial e até hoje existente na África. Se antes era motivo de preocupação, virou realidade. A vida se modificou com preventivos de pragas na na tureza, acabando com certas espécies de vida animal. O homem também sente esses maléficos efeitos que ele mesmo compôs. Almejando lucros, destruiu a na tureza e alterou seu mundo.12 Durante o século XX, o mundo viveu uma fase de crescimento, em que o desmatamento e a despreocupação com o meio ambiente re presentavam o desenvolvimento para o progresso. "Isso porque, a po luição era vista como um mal necessário” .13 Com o grande avanço do descaso com a biodiversidade, e os seus efeitos começando a atingir o homem, foi neste momento, na década de 1970, que o mundo começou a se preocupar com danos causados pela poluição. 10 É a diversidade da natureza viva. Este uso coincidiu com o aumento da preocupação com a extin ção, observado nas últimas décadas do Século XX. Pode ser definida como a variedade e a variabili dade existente entre os organismos vivos e as complexidades ecológicas nas quais elas ocorrem. Ela pode ser entendida como uma associação de vários componentes hierárquicos: ecossistema, comuni dade, espécies, populações e genes em uma área definida. BIODIVERSIDADE. in WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Biodiversidade> Acesso em 23 Ago. 2009. 11 É o primeiro pesticida moderno largamente usado após a Segunda Guerra Mundial para o com bate dos mosquitos causadores da malária e do tifo. Trata-se de inseticida barato e altamente efi ciente a curto prazo, porém a longo prazo, de acordo com a bióloga norte-americana Rachel Carson, que denunciou em seu livro Primavera Silenciosa que DDT causava doenças como o câncer e interferia na vida animal causando por exemplo o aumento de mortalidade dos pássaros. DDT. in WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/DDT> Acesso em 23 Ago. 2009. 12 CARSON, Rachel. Primavera Silenciosa. São Paulo: Melhoramentos, 1969. 13 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.131. 16 O movimento ambientalista como fonte material do direito ambiental 2.3 - 1970, o ano das modificações de atitudes: Na década de 70, não existia o termo "Direito Ambiental”, pois ele significa, "o conjunto de normas e princípios tendentes à preservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida”.14 Segundo Augusto Carneiro, o que existiam eram ecologistas.15 O movimento conservacionista surgiu de uma ideia nova: a Ecologia, e, em sua forma e filosofia atuais, é muito recente. O que é novo, é a crise ambiental e, quando esta começou a se tornar explícita e generali zada, aparecem os idealistas que compreenderam que a luta seria global e que teriam que entrar em ação.16 Os estudos, nesta época, eram realizados separados por dife rentes esferas da natureza. A defesa mais em voga se realizava em prol dos animais, porque estes eram muito maltratados; um dos maiores de fensores dos animais foi o norte-americano Henry David Thoreau. A im prudência e o descaso fizeram com que, nessa época, existissem muitos caçadores que praticavam atrocidades com animais indefesos, só por mero prazer. "Os animais eram tratados com a maior estupidez, com a maior monstruosidade”.17 No Brasil, Henrique Luis Roessler é um dos primeiros ambien talistas, ele defende os animais, as plantas e faz a primeira campanha para a diminuição da poluição. Por ser tão presente e preocupado com as atitudes das pessoas, se tornou um alvo fácil diante dos outros, tanto que uma destas um dia lhe enviou um pacote pelo correio, em que constava um pedaço de polenta com 11 cabeças depassarinhos e um bilhete anô nimo, dizendo: "Seu burro, convença-se de que a luta só terminará quando morrer o último passarinho”.18 14 SILVA, De Plácido. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p.463. 15 Ecologia designa a ciência que estuda as relações dos seres vivos com o meio ambiente. SILVA, De Plácido. Vocabulário juríd ico. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p.505. 16 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p.17. 17 Entrevista realizada com Augusto Carneiro no dia 21 de Janeiro de 2009. 18 CENTENO, Ayrtin. Roessler: O primeiro ecopolítico. Porto Alegre: Já, 2006, p.67. 17 Laura Romeu Behrends 2.4 - Estocolmo, primeiro marco internacional: O ano de 1970 é marcado pelo agravamento dos problemas am bientais, pois é o período das grandes transformações no mundo. Re aliza-se em 1972, a Conferência de Estocolmo, com o objetivo de criar novas políticas de gerenciamento ambiental. "Por força das denúncias e debates sobre o assunto, a ONU promoveu em 1972, em Estocolmo, uma reunião mundial”.19 A conferência gerou uma declaração de princípios concernentes a questões ambientais, estabeleceu um plano de ação mundial, pelo qual convoca todos os pa íses, os organismos das Nações Unidas e todas as or ganizações internacionais a cooperarem para a busca de soluções para uma série de problemas ambientais.20 Nesta conferência, o Brasil se mostrou muito confiante em rela ção as suas ideologias, mostrando-se intransigente perante os outros Estados participantes deste encontro. O país estava tão certo de suas atitudes que não se importava com as consequências da sua irrespon sabilidade; na Conferência, a delegação brasileira se pronunciou assim: O Brasil prefere ter um ar menos puro, um solo menos puro, águas menos puras, mas uma indústria que dê condições econômicas ao povo e ao governo para se desenvolver.21 A única preocupação que a política bra sileira tinha, era de, não ficar aquém dos países de senvolvidos. Um caso exemplar foi a mortandade de peixes na Ponta do Hermenegildo. A Borregaard nos anos 70, é um símbolo do descaso com o ambiente.22 19 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p.18. 20 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.189. 21 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p. 65. 22 BONES, Elmar. Pioneiros da Ecologia: breve história do movimento ambientalista do Rio Gran de do Sul. Porto Alegre: Já, 2007, p. 35. 18 O movimento ambientalista como fonte material do direito ambiental A conferência deu origem ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente,23 que estimulou a ONU24 a promover regras internacionais para a proteção do mesmo. O programa criado pela conferência de Esto colmo tem o objetivo de coordenar as ações internacionais de proteção ao meio ambiente. Este programa tem um significado muito grande para todo o mundo, porque ele fez com que diversos países poluentes criassem consci ência e adotassem métodos de preservação ao ecossistema, não deixando que, com isso, suas produções diminuíssem, muito menos seus lucros. O planejamento racional constitui importante tema na Declaração de Estocolmo, pois é por meio de ações planejadas que se podem verificar os impactos am bientais decorrentes e estabelecer as necessárias medidas para evitar a ocorrência de danos.25 Um exemplo desta grande conquista é justamente o Brasil; mesmo contrariado com as propostas recebidas em Estocolmo, mais tarde se cons cientiza da importância de sua terra e adota métodos antipoluentes. "Sirkis afirma que o início do movimento ecopolítico no Brasil foi marcado pelo epi sódio da árvore em que, a 25 de janeiro de 1975, o estudante Carlos Dayrell nela subiu, impedindo sua derrubada”.26 O mais recente sistema adotado foi no Nordeste, obtendo seu primeiro Centro27 de Regeneração de CFC, onde ocorrerá a purificação de gás que danifica a camada de ozônio e agrava o efeito estufa. Estocolmo foi o marco das mudanças em todo o mundo, esti mulando a criação de novos sistemas ecológicos e atitudes preventivas. Independente da posição adotada pelo Brasil na con ferência, o fato é que, logo após essa reunião, o presi 23 O PNUMA, estabelecido em 1972, é a agência do Sistema ONU responsável por catalisar a ação internacional e nacional para a proteção do meio ambiente no contexto do desenvolvimento susten tável. Seu mandato é prover liderança e encorajar parcerias no cuidado ao ambiente, inspirando, informando e capacitando nações e povos a aumentar sua qualidade de vida sem comprometer a das futuras gerações. ONU-BRASIL. Disponível em: <http://www.onu-brasil.org.br/agencias_pnu- ma. php> Acesso em: 27 Ago.2009. 24 A Organização das Nações Unidas (ONU) foi fundada oficialmente a 24 de Outubro de 1945 em São Francisco, Califórnia, por 51 países, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. ONU-BRASIL. Disponível em: <http://www.onu-brasil.org.br/agencias_pnuma. php> Acesso em: 27 Ago.2009. 25 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.34. 26 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p. 92. 27 PNUD. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/meio_ambiente/index.php?lay=mam> Acesso em: 27 Ago. 2009. 19 Laura Romeu Behrends dente da República Emílio Garrastazu Médici assinou o Decreto n° 73.030, em 30 de outubro de 1973, que institui a Secretaria Especial do Meio Ambiente e o uso racional dos recursos naturais no Brasil.28 Esse decreto fez com que milhares de brasileiros mudassem suas atitudes, beneficiando, assim, o meio ambiente. Sua importância reside no fato de que, a partir dele, foram criadas dezoito estações ecológicas, que totalizaram 3,2 milhões de hectares protegidos. Hoje, a Secretaria Especial é conhecida como Ministério do Meio Ambiente; foi criada no governo de Itamar Franco, em 19 de outubro de 1992, e Tem como missão promover a adoção de princípios e estratégias para o conhecimento, a proteção e a recuperação do meio ambiente, o uso sustentável dos recursos naturais, a valorização dos serviços ambientais e a inserção do desenvolvimento sus tentável na formulação e na implementação de po líticas públicas.29 Quando muitos não tinham mais esperanças, já determinando o dia do fim, os seres humanos foram prudentes em seus atos e lideraram a marcha para o progresso. "Eles previram isso porque as agressões eram crescentes, mas de repente nasceu o movimento ecológico que pede aos governos que criem leis restritivas e as leis evitaram isso”.30 Notado o grande desespero, o homem se une e vence. Através de pequenos atos a sociedade superou obstáculos, criou leis e fundou instituições. Os nossos movimentos, em quase todas as manifesta ções, são essencialmente políticos. Havendo contínua atividade ecológica, principalmente reivindicatória, ela é sempre política e geralmente positiva.31 Um dos objetivos da manifestação ambientalista é a recuperação de espaços degradados; são com atitudes que os resultados positivos 28 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.190. 29 AMBIENTE Disponível em: <http://www.ambiente.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo. monta&idEstrutura=88> Acesso em: 29 Ago. 2009. 30 Entrevista realizada com Augusto Carneiro no dia 21 de Janeiro de 2009. 31 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p.31. 20 O movimento ambientalista como fonte material do direito ambiental são conquistados. Sempre que há conscientização, os impactos negati vos são reduzidos; por isso os efeitos aparecem em grande escala. O Instituto Florestal foi criado em 26 de janeiro de 1970 pelo Decreto n° 52.370. Tementre seus objeti vos a proteção, a pesquisa, a recuperação e o mane jo da biodiversidade e do patrimônio natural e cultu ral a ela associados.32 Este instituto sediado em São Paulo foi pioneiro no país, pois criou mecanismos avançados para a preservação do meio ambiente, sendo seus estudos e tecnologias repassados para a esfera federal. Instituto que possui até hoje atividades ligadas à pesquisa e meios de desenvolvimento para melhor adequação de nossos avanços científicos, sem prejudicar o meio físico. No dia 29 de abril de 2009, foi aprovado o Plano33 de Manejo de Estação Ecológica de Assis. 2.5 - Agapan: No Rio Grande do Sul, no dia 27 de abril de 1971, em Porto Alegre, foi criada a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), sendo seu principal fundador José Lutzenberger, para a "conscientização ecológica e a luta, por meio de todos os meios legais possíveis, pela pre servação do patrimônio natural”.34 Ter lógica em seus atos, respeitar o pró ximo e ser apaixonado pelos encantos da sua terra são atitudes básicas de um povo consciente e idealizador de um futuro melhor. Assim, no curso de todas as culturas humanas, mais cedo ou mais tarde, surgem as tendências de prote ção ativa da Natureza; um povo que se descuidasse 32 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 191. 33 É uma atualização do Plano original elaborado em 1995, ao qual foram agregadas informações detalhadas sobre os solos e a fauna, para os quais as informações originais eram deficientes. Para esses levantamentos, o Instituto Florestal contou com recursos de compensação ambiental da ATE - Transmissora de Energia S/A. IFLORESTAL Disponível em: <http://www.iflorestal.sp.gov.br/noti- cias/news10.asp> Acesso em: 30 Ago. 2009 34 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 193. 21 Laura Romeu Behrends desse elemento, teria falta de um requisito essencial da verdadeira cultura humana total, e indigno da terra, como que a pródiga mão do Criador o presenteou.35 Henrique Luis Roessler, há 42 anos, advertia que o problema do desmatamento descontrolado era a contínua mudança de ministros, es colhidos por causa de alianças partidárias e não por terem competência para o exercício de suas atividades. O povo liderado por um ambienta lista ferrenho, José Lutzenberger, fez a diferença para os gaúchos, mos trando-lhes os problemas ambientais, obtendo, assim, a conscientização de muitos para a sua proteção da natureza. A Agapan tornou a luta mais efetiva e de forma justa fez com que o futuro de toda uma nação não ficasse apenas na palavra, e sim que acontecesse de fato. "A história Universal comprova que os povos que se desfizeram de seus recursos naturais, cujo maior é a floresta, empobreceram, se tornaram escravos e desapareceram do mundo”.36 A responsabilidade proporcionou o surgimento de novas gera ções. Fica claro que, quando o povo é unido, fatos supostamente im possíveis tornam-se possíveis, e foi justamente isso que aconteceu na sociedade brasileira. No mesmo passar, demonstrando sua angústia a cada árvore cortada, e quanto a cada animal indefeso sendo caçado, sem ninguém que os protegesse, o homem fez com que direitos antes ignorados fossem observados pela sociedade. 2.6 - 1980, a década da conscientização ecológica: A conscientização ecológica marcou os anos 80. Nesse período foi necessária a implantação de uma instituição de planejamento am biental. Por existirem tantas modificações no mundo, não era suficiente apenas ter um controle do que cada país fazia, foi necessária a criação de um planejamento para que os impactos negativos fossem minimiza dos. "Ler, ler e ler é a solução inicial, só assim poderemos combater os políticos indiferentes ou inimigos declarados”.37 35 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p.79. 36 CENTENO, Ayrton. Roessler, o primeiro ecopolítico. Porto Alegre: Já, 2006. 37 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p. 57. 22 O movimento ambientalista como fonte material do direito ambiental Nessa década surge o termo reciclagem: "reciclar é economizar energia, poupar recursos naturais e trazer de volta ao ciclo produtivo o que é jogado fora”.38 O crescimento descontrolado causou o desequilíbrio ecológico; a prepotência e a ganância das pessoas fizeram com que ignorassem os aspectos desfavoráveis. Os primeiros sinais dados apareceram nos anos de 1980, com o aquecimento global, a chuva ácida, a desertificação e o buraco na camada de ozônio. Em meio a tantos problemas, o Brasil enfrentava manifesta ções de seu povo, para conquistar a democratização no país. Esta con quista fez com que a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente entrasse em vigor, em 1981, no governo de Fernando Collor de Mello. O período de 1980 é o ápice das manifestações populacionais, devido ao grande tempo de censura vivido pelos brasileiros na fase da ditadura, dos anos de 1960 e 1970. "Nós não negamos a miséria do povo, com a qual o governo convive tão bem, como também convive apaticamente com a destruição da Natureza e com a poluição”.39 O movi mento ambientalista torna-se não mais uma manifestação desesperada, atuada por uma população em prantos, vendo seu fruto partido; ago ra, significa a colheita dos louros plantados em décadas passadas. São grupos unidos desenvolvendo trabalhos de conscientização através de ações comunitárias, para a inclusão de uma geração com a outra. A legislação ambiental é a consequência dos movimentos hu manos, em prol da natureza. Antes da Constituição Federal, uma das leis que regiam a proteção ambiental era a Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política e o Sistema Nacional do Meio Am biente. Para a complementação da lei eram utilizados o Código Florestal e o Código das Águas, entre outros. A Lei maior de 1981 teve grande significado no início da década de 80; “propôs as primeiras ações civis públicas”. Nessa época, não existia nenhuma lei que disciplinasse essa ação, por isso, "só mais tarde em 1985, com a Lei 7.347, é que as ações públicas passaram a ser utilizadas com eficácia”.40 Nosso movimento ecológico não é contra a indústria, mas devemos pensar na função social das indústrias e 38 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 201. 39 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p. 59. 40 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. São Paulo: Saraiva, 2009, p.15. 23 Laura Romeu Behrends ver que poluição e progresso não são a mesma coisa. Poluição não é sinônimo de progresso; chegou a hora de se criarem novos conceitos de desenvolvimento. A poluição não devia ser sinônimo de progresso, pois sabemos que a poluição é controlável, e, quando você não controla a poluição, você está transferindo essa poluição para a comunidade global.41 Dia 5 de outubro de 1988, no governo de José Sarney, foi promul gada a Constituição Brasileira, trazendo no seu corpo textual um capítulo inteiro dedicado às questões ambientais. No parágrafo 1° do artigo 225 enumera os deveres do Poder Público, sendo o inciso VI o mais interes sado na continuação da preservação da natureza: "Promover a educa ção ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”.42 A Constituição Federal é o resultado da conquista do povo. Quando há um manifesto existe a esperança de que ele seja ouvido e, principalmente de que o problema seja solucionado. O descaso com a natureza representou uma atrocidade tão grande que a justiça foi feita. A maior felicidade de um manifestante foi dada na promulgação da Cons tituição Federal, e isso significa quea luta não foi em vão, os desejos de reparação foram ouvidos, respeitados. "A vida humana depende dos demais seres vivos para se manter neste planeta. Somos apenas um elo da cadeia biológica”.43 A natureza é vista como uma só; o respeito por ela se estabiliza; não podemos separar uma coisa da outra, porque somos fruto de sua própria criação. Preservação consiste no respeito de cada um diante daquilo que indiretamente lhe pertence. Não somos dono do universo, foi-nos permitida a sua utilização com prudência, e não para causarmos a sua destruição. A vida é um privilégio de todos, não podemos ser egoístas a ponto de não enxergarmos o que está do nosso lado. "Na Amazônia vivem e se reproduzem mais de um terço das espécies existentes no planeta”.44 É a maior floresta tropical do mundo. O desrespeito que até hoje se tem, é devido ao mesmo pensamento da colonização, a terra é 41 FELDMANN, Fábio, advogado das vítimas de Cubatão. Audiência Pública da CMMAD, São Paulo, 1985. 42 Política Nacional de Educação Ambiental - Lei n° 9.795/99. 43 Edward Wilson. MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005. 44 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 209. 24 O movimento ambientalista como fonte material do direito ambiental imensa, nunca se acabará. Precisamos viver dignamente para evoluir, assim, podendo evoluir para viver. Será, então, que a Amazônia representa o equilíbrio da biodiversi dade na Terra? Essa pergunta começou a ser questionada na década de 1980, quando as primeiras modificações climáticas foram sentidas; por cau sa do desmatamento, o nível de carbono aumentou na camada de ozônio, propiciando um ar impuro, resultando em diversas doenças respiratórias. O Brasil, quando descoberto, era como os portugueses diziam, um Éden, ao passo que em Portugal já se tinha uma cidade evoluída, já modificada pelo homem. O Brasil então se torna a esperança de vida para o planeta. Apesar da degradação sofrida, ainda representa a base da existência. Na Amazônia vivem e se reproduzem mais de um terço das espécies existentes no planeta. Ela contém um quinto da disponibilidade mundial de água doce e um patrimônio mineral não mensurado. A Amazô nia possui o maior rio do mundo, tanto em extensão quanto em volume de água, o Amazonas.45 A Mata Atlântica é outro alvo fácil, "ocupando 5% de territoriali dade original, exerce influência positiva para mais de 80% da popula ção brasileira”.46 Nas cidades, áreas rurais, comunidades caiçaras e indígenas, ela regula o fluxo dos mananciais hídricos, assegura a fertilidade do solo, controla o clima e pro tege escarpas e encostas das serras, além de preser var um patrimônio histórico e cultural imenso.47 Sendo de suma importância para o Brasil, no dia 3 de dezembro de 2003, o projeto de lei, criado por Fabio Feldmann foi aprovado, tor nando-se a Lei 11.428 de 22 de dezembro de 2006. "Ela dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, e dá outras providências”.48 A providência demorou a chegar, mas no momen to exato foi instituída, evitando que a última mata fosse riscada do mapa. 45 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 209. 46 Idem, p. 210. 47 Idem, p. 210. 48 Lei 11.428, de 22 de dezembro de 2006. 25 Laura Romeu Behrends A caminhada para a preservação da natureza estava tão evidente na sociedade que não podíamos ficar só com a Constituição Federal, preci sávamos de órgãos do governo motivados, progredindo na mesma direção do povo. Por isso, dia 22 de fevereiro de 1989, a Lei 7.735 deu início aos trabalhos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA49), representando a fusão de quatro secretarias já existentes: a Secretaria do Meio Ambiente (SEMA50), a Superintendência da Borracha (SUBHEVEA51), a Superinten dência da Pesca (SUBEPE52) e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF53). Os objetivos da criação e de sua permanência são: 1 - reduzir os efeitos prejudiciais e prevenir acidentes decorrentes da utilização de agentes e produtos agro- tóxicos, seus componentes e afins, bem como seus re síduos; 2 - promover a adoção de medidas de controle de produção, utilização, comercialização, movimenta ção e destinação de substâncias químicas e resíduos potencialmente perigosos; 3 - executar o controle e a fiscalização ambiental nos âmbitos regional e nacional; 4 - intervir nos processos de desenvolvimento gera dores de significativo impacto ambiental, nos âmbitos 49 IBAMA é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Meio Ambiente (MMA). É o órgão executivo responsável pela execução da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e desenvolve diversas atividades para a preservação e conservação do patrimônio natural, exercendo o controle e a fiscalização sobre o uso dos recursos naturais (água, flora, fauna, solo, etc.) Também cabe a ele realizar estudos ambientais e conceder licenças ambientais para empreendimentos de impacto nacional. IBAMA. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Instituto_Bra- sileiro_do_Meio_Ambiente_e_dos_Recursos_Naturais_Renov%C3%A1veis> Acesso em 30 Ago. 2009. 50 A Secretaria Estadual do Meio Ambiente, criada em 1999, é o órgão central do Sistema Estadual de Proteção Ambiental, responsável pela política ambiental do RS. SECRETARIA ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE. Disponível em: <http://www.sema.rs.gov.br/> Acesso em: 30 Ago. 2009. 51 Decreto n° 77.386 - de 5 de abril de 1976. "Art. 1° A Superintendência da Borracha - SUDHEVEA, autarquia criada pela Lei n° 5.227, de 18 de janeiro de 1967, vinculada ao Ministério da Indústria e do Comércio, com sede e foro no Distrito Federal, tem como finalidade executar a Política Econômi ca da Borracha, em todo território nacional” . 52 Decreto n° 73.632, de 13 de fevereiro de 1974. "Art. 1° - Proibir a pesca de arrasto pelos sistemas de porta e de parelhas por embarcações maiores que 10 TAB (dez toneladas de arqueação bruta), nas áreas costeiras do Estado de São Paulo, a menos de 1,5 (uma e meia) milhas da costa”. 53 O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal era uma autarquia do governo brasileiro vincu lada ao Ministério da Agricultura, encarregado dos assuntos pertinentes e relativos a florestas e afins. Foi extinto por meio da Lei n° 7.732, de 14 de fevereiro de 1989, e transferiram-se seu patrimônio, os recursos orçamentários, extraorçamentários e financeiros, a competência, as atribuições, o pessoal, inclusive inativos e pensionistas, os cargos, funções e empregos para o Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, de acordo com a Lei n° 7.735, de 22 de fevereiro de 1989. INSTITUTO BRASILEIRO DO DESENVOLVIMENTO. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: 01 Set. 2009. <http:// pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Instituto_Brasileiro_de_Desenvolvimento_Florestal> Acesso em: 01 Set. 2009. 26 O movimento ambientalista como fonte material do direito ambiental regional e nacional; 5 - monitorar as transformações do meio ambiente e dos recursos naturais; 6 - executar ações de gestão, proteção e controle da qualidade dos recursos hídricos; 7 - manter a integridade das áreas de preservação permanentes e das reservas legais; 8 - ordenar o uso dos recursos pesqueiros em águas sob domínio da União; 9 - ordenar o uso dos recursos florestais nacionais; 10 - monitorar o status da conser vação dos ecossistemas, das espécies e do patrimônio genético natural, visando à ampliação da representa ção ecológica; 11 - executar ações de proteção e de manejo de espécies da fauna e da flora brasileiras; 12 - promover a pesquisa, a difusão e o desenvolvimento técnico-científico voltados para a gestão ambiental; 13 - promover o acesso e o uso sustentadodos recursos naturais; 14 - e desenvolver estudos analíticos, pros- pectivos e situacionais verificando tendências e cená rios, com vistas ao planejamento ambiental.54 Os anos 80 se formaram pela rebeldia de grupos da sociedade e pela prudência do governo. O sistema era novo, mas as atitudes eram velhas. O povo estava acostumado a só dizer sim, sem saber o porquê, agora fortalece o seu não para os que vos dirigem. Pessoas de astúcias e vontades, atuantes empolgadas, felizes com a liberdade; povo sem noção do espaço, mas livre para estudá-lo. Com novas regras se tiveram muitas modificações, a principal exi gência era a agilidade e o comprometimento do Estado, perante o seu meio físico. "As reivindicações eram feitas para o combate da caça, da preserva ção de florestas, da fauna e uma campanha contra a poda de árvores”.55 Podendo se manifestar, a sociedade não se conforma com a lentidão e o descaso de políticos. É necessário que o cidadão atue de outras formas, não mais só pedindo atenção a poderosos. Em 1992, criou-se a Rede de Organização Não-Governamental da Mata Atlântica (RMA). As ONGs foram fundadas pouco a pouco, e essa atitude finda os anos 80 e dá início aos anos 90. "A fase que se abre nos anos 90 é de intenso envolvimento entre organizações não governamentais ambienta listas, sócioambientais e o setor empresarial” .56 54 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 234 e 235. 55 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p. 83. 56 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 242. 27 Laura Romeu Behrends 2.7 - Rio 92, segundo marco internacional: Foi realizada, em 1992, no Rio de Janeiro, a Conferência das Na ções Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Sua realização foi de extrema importância porque "se constatou que no final do século a questão ambiental ultrapassava os limites das ações isoladas e localizadas para tornar-se uma preocupação de toda a humanidade”.57 O problema é grande, e há tempo o manifesto está sendo feito em prol do meio ambiente, e ainda sofremos com o descaso de muitas pessoas, tanto que os impactos ambientais são sentidos a todo instante. O inverno se tornou um grande outono e no verão há muitas chuvas e catástrofes em zonas de encostas. A conferência Rio 92 une diversos países, para mais uma vez relembrar os ensinamentos e os comprometimentos feitos em Estocolmo: "busca-se, a partir daí, estabelecer uma parceria global mediante a cria ção de novos níveis de cooperação entre os Estados, os setores-chave da sociedade e os indivíduos”.58 Regras existem, planejamento se faz, motivação transborda, mas o respeito se desdenha. Décadas entram e saem, e os problemas ficam; as soluções se tornam cada vez mais difíceis, porque, quanto mais se evolui financeiramente, mais ficamos pobres de espírito. E quem sofre? Nós mesmos. A declaração do Rio sobre o Meio Ambiente59 representa o quan to precisamos de ajuda, para conseguirmos pôr em prática nossos idea- lismos e propostas de salvação do meio físico. Eis que: Nós somos a Terra, os povos, as plantas e animais, as chuvas e oceanos, o respiro das florestas, o fluir dos mares. Honramos a terra como abrigo de todos os se res vivos. Acalentamos a beleza e a diversidade da vida na Terra. Saudamos a capacidade de renovação como fundamento de toda a vida na Terra. Reconhecemos o espaço dos povos Indígenas na Terra, seus territórios, costumes e sua singular relação com a Terra. Ficamos estarrecidos perante o sofrimento humano, a pobreza e 57 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 242. 58 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p. 43. 59 Meio Ambiente é o lugar onde habitam os seres vivos, formando um conjunto harmonioso de condições essenciais para a existência da vida como um todo. (SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Saraiva, 2009, p.39). 28 O movimento ambientalista como fonte material do direito ambiental os desatinos que os desequilíbrios do poder causam à Terra. Sentimo-nos partícipes na responsabilidade de proteger e reabilitar a Terra e em assegurar um uso equi- tativo e sábio dos recursos, almejando um equilíbrio eco lógico e novos valores sociais, econômicos e espirituais. Nessa ampla diversidade, nós configuramos uma uni dade. Nosso lar comum está sempre mais ameaçado60. Com o preâmbulo da Carta da Terra61 citado anteriormente, verifica- se que o ser humano e o meio ambiente são vistos como unos, não há dis tinção de um para o outro. Somos parte do mesmo conjunto, precisamos de toda a biodiversidade para sobreviver; é pensando nela que o homem tem que agir, porque são de pequenos atos que transformamos realidades. A partir de atitudes individuais o sistema se modifica, para melhor ou para pior, dependendo da nossa consciência em buscar o equilíbrio; nossas atitudes têm que ser movidas por esperanças, não deixando uma barreira desmoti var anos de estudos e planejamentos científicos. 2.8 - COP 3 e o protocolo de Kyoto: Durante a COP 3, realizada em Kyoto, no Japão se aprovou o Protocolo de Kyoto62 ''seu objetivo consiste na conservação da diversi dade biológica, no uso sustentável de seus componentes e na repartição justa e equitativa dos benefícios derivados dos recursos genéticos”.63 Significa que tanto países desenvolvidos quando países subdesenvolvi dos têm a obrigação de mudar regras, pondo fim aos gases poluentes, evitando que o efeito estufa progrida e que novas catástrofes ambientais aconteçam. É conscientizando que alcançaremos metas plausíveis. 60 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 247. 61 A Carta da Terra é uma declaração de princípios fundamentais para a construção de uma so ciedade global no século XXI, que seja justa, sustentável e pacífica. REVIVERDE. Disponível em: <http://www.reviverde.org.br/CARTAdaTERRA.pdf>. Acesso em: 01 Set. 2009. 62 O Protocolo de Kyoto é um instrumento internacional, ratificado dia 15 de março de 1998, que visa reduzir as emissões de gases poluentes. Estes são responsáveis pelo efeito estufa e o aqueci mento global. O Protocolo de Kyoto entrou oficialmente em vigor dia 16 de fevereiro de 2005, após ter sido discutido e negociado em 1997, na cidade de Kyoto, no Japão. SUA PESQUISA. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/geografia/protocolo_kyoto.htm>. Acesso em: 02 Set. 2009. 63 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p. 42. 29 Laura Romeu Behrends As áreas naturais, que poderiam representar a maio ria da superfície da Terra, são agora apenas mostras das paisagens que têm valor ecológico e científico, pois são museus e em consequência são laoratórios ao ar livre à nossa disposição, tendo valor educativo e recreativo, e, finalmente, são a nossa herança da Natureza que muitos só pensam em derrubar.64 A natureza é a nossa maior herança. Proporciona os maiores espetáculos, nos fazendo felizes a cada instante. Suas cores, seus movimentos, seus encantos são simples, mas de uma importância sem fim; um pequeno pingo de água faz toda a diferença para a planta recém-germinada; o pequeno passo de uma criança é o início de um recomeço de história. Podemos, sim, reverter o nosso presente e é com atitudes, primeiramente parecendo não ter valor, que farão toda a diferença no amanhã. 2.9 - Século XXI, o período da inércia: O século XXI se estabelece com o comprometimento de pôr em prática regras estabelecidas em conferências passadas. Estocolmo e Rio 92 são as bases iniciais deste novo século. Diferentemente de dé cadas anteriores, agora o Brasil não se preocupa em criar novas regras ou se misturar em rebeldias; semostra mais cauteloso em suas metas. Antes o que importava era a criação de ONGs, conferências, institutos... Hoje utilizamos essas bases e damos vida a novos projetos; o importan te é conscientizar crianças, passar informações a novas gerações, com o objetivo de que elas, sim, revolucionem o mundo. As novas empresas já estão estabelecendo funcionamentos eco lógicos em seus projetos, e antigas instalações começaram a aderir a campanhas ambientalistas, como: preservar a água, reciclar papel, lixo, diminuir o desperdício de energia, entre outras. "A gente sai à rua, con versa sobre Natureza, pureza das águas, sobrevivência dos animais e não encontra um que seja contrário a essas realidades”.65 64 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p. 107. 65 Idem, p. 108. 30 O movimento ambientalista como fonte material do direito ambiental 2.9.1 - Rio + 10, terceiro marco internacional: No ano de 2002 foi realizada a Cúpula Mundial do Desenvolvi mento Sustentável ou Rio + 10, para que os acordos firmados no Rio 92 fossem avaliados. As atitudes dos países envolvidos na conferência são de extrema relevância na caminhada sócioambiental. Já temos toda a base, a estrutura foi sedimentada, o acordo foi feito, portanto, a Rio + 10 serve apenas como impulso de pormos a teoria na prática. Não foi isso que ocorreu. Na verdade, muito pouco foi visto sobre metas determinadas e prazos para cumprimento. O acordo que se chegou com relação à energia gerada com base em fontes renováveis fi cou apenas com o apelo para que se amplie seu uso, sem metas e prazos.66 Os resultados pretendidos não são colhidos como o planejado, porque se exige grande disponibilidade de dinheiro, e tudo que envol ve muito capital, sem lucros significativos para o governo, não vale a pena, pois o que importa é o grande giro de capital em cofres públicos. Infelizmente chegamos ao século XXI com esse pensamento matuto. É verdade, energia renovável, atitudes ecológicas são caras, mas a longo prazo se tornam muito econômicas; mas por que esperar tanto se desmatando eu ganho muito dinheiro no ato de meu comando? A impaciência e o imediatismo são os graves defeitos da hu manidade; a correria em que vivemos nos faz agir sem pensar no futuro, só percebemos a importância daquilo que temos, quando as perdemos. "Um número cada vez maior de plantas e animais está sendo ameaçado ou até mesmo extinto, e a causa principal é a perda de seu ambiente ou habitat” .67 O progresso descompassado nos faz crer que se, só hoje po luirmos, amanhã, respeitarmos as regras o nosso deslize vai ser sana do. Trata-se de in accouting for envirommental assets. “um país pode pôr abaixo suas florestas, erodir seu solo, levar sua fauna silvestre à extinção. Mas os índices de sua performance econômica não serão 66 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 299. 67 Idem, p. 301. 31 Laura Romeu Behrends afetados se esses bens desaparecerem”.68 O empobrecimento será tomado por progresso. Podemos até equilibrar um resultado, mas di ficilmente revertê-lo. Pensando nisso, em 22 de agosto de 2002, Fer nando Henrique Cardoso criou o maior parque de floresta tropical do mundo, cujos objetivos são: Assegurar a preservação69 dos recursos naturais e da diversidade biológica, bem como proporcionar a realização de pesquisas científicas e o desenvolvi mento de atividades de educação, recreação e turis mo da respectiva área.70 Seguindo o exemplo do antigo presidente da república, Luiz Iná cio Lula da Silva, no dia 14 de outubro de 2003, criou a primeira floresta nacional, cujos objetivos são: Promover o manejo de uso múltiplo dos recursos na turais, manter e proteger os recursos hídricos e da biodiversidade, recuperar áreas degradadas, promo ver a educação ambiental e apoiar o desenvolvimento de métodos de exploração sustentável do Cerrado.71 Os dois projetos têm apenas um ano de diferença e as propos tas são as mesmas. A ideia de sustentabilidade é o foco a ser segui do, é a esperança do século XXI. O direito sustentável se resume na ideia de que "o direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente”.72 Preservar, desenvolver, pro teger e promover educação se tornam medidas ecológicas básicas de ambos os governos. O caminho a ser seguido foi dado, agora só nos resta esperar, porque "a semeadura é livre. A colheita é obrigatória”.73 Tantos anos de rebeldia, anos de lutas serviram na conscientização de gerações, seus méritos refletem 68 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p. 125. 69 Proteger de algum dano futuro; Defender; Resguardar. PRESERVAÇÃO. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.wiktionary.org/wiki/preservar> Acesso em: 02 Set. 2009. 70 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 306. 71 Idem, p. 316. 72 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p. 44. 73 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 324. 32 O movimento ambientalista como fonte material do direito ambiental até hoje. Batalhamos por conquistas e obtivemos vitórias; mais dia ou menos dia, o êxito pleno será alcançado e o desespero cessará. “Ofereço estas mal traçadas rinhas, Estas mal traçadas vinhas aos ex-caçadores Que tiveram compaixão de suas vítimas. E por amar tanto o mato e os bichos Conheceram o mato e os bichos E porque existe uma maneira de Amar sem matar. Como fazem os fotógrafos A quem dedico estas mal traçadas, Caprichadas linhas Estas cem traçadas minhas, Já que dez traçadas tinhas. Te espero no chão macio da floresta Com amor, com carinho Com floresta e passarinho”.74 (Antônio Carlos Jobim). 74 Poema de Antônio Carlos Jobim. 33 Laura Romeu Behrends O dia da Terra, o Grito da Terra Na terra ferida, Na terra que nós amputamos Na terra que nós envenenamos Esquecendo que dela vem a nossa vida Sou Gaia75, a Mãe da Terra O único planeta vivo a volta do sol O lar planetário da humanidade Ar, água e terra, atmosfera Os oceanos, rios e lagos As florestas, os campos e os banhados, todos são organismos de um só corpo Por seu intermédio, eu Gaia, Respiro, me alimento e me renovo Não permitas eu sejam consumidas minhas florestas, conspurcadas minhas águas, penetradas minhas entranhas para depósitos de venenos, rasgado meu manto protetor de ozônio Lembra-te A minha vida é tua vida E a vida dos filhos de teus filhos Hoje, amanhã e para todo sempre.76 75 Em 1987 criou-se a Fundação Gaia, que, entre as várias atividades para a promoção do desenvolvimento sustentável, trata da difusão da agricultura regenerativa, educação ambiental e reciclagem de lixo urbano. MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.194. A Fun dação Gaia nasceu da vontade de possibilitar uma ampliação da atuação na luta ambiental de seu fundador e presidente, José Lutzenberger. FGAIA. Disponível em: <http://www.fgaia.org.br/> Acesso em: 03 Set. 2009. 76 BONES, Elmar. Pioneiros da ecologia. Porto Alegre: Já, 2007, p.192. 34 3. O MOVIMENTO SOCIAL: 3.1 - A reflexão do homem diante do desconhecido: O movimento de preservação do meio ambiente foi uma decisão louvável, de sociedades desenvolvidas, que viviam num risco incalculá vel devido à industrialização realizada de maneira errônea. Sem saber os danos que poderiam causar poluindo e desmatando, os Estados Unidos e países da Europa, que se encontram no rol de Estados desenvolvidos, continuaram num ritmo acelerado rumo ao caos total. A conscientização permitiu que atitudes mais prudentes evitassem novosfatos cruéis como desmatamentos ilegais, violência contra os animais, havendo, assim, a conservação do meio em que vivemos. A campanha é global e os resulta dos positivos aparecem a todo o momento; através de leis e regulamentos todos puderam participar e idealizar dias melhores. A proteção do ambiente não faz parte da cultura nem do instinto humano. Ao contrário, conquistar a natu reza sempre foi o grande desafio do homem, espécie que possui uma incrível adaptabilidade aos diversos locais do planeta e uma grande capacidade de uti lizar os recursos naturais em seu benefício. Essas características fizeram com que, ao longo do tem po, a natureza fosse dominada pelo homem que, no entanto, não se preocupou com os danos que esse desenvolvimento causava.77 O interesse em proteger e prevenir as atitudes das pessoas, para o salvamento da natureza,78 era pensando na sua própria sobre vivência. A exploração dos recursos naturais79 existia porque o meio 77 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.20. 78 A expressão natureza aplica-se a tudo aquilo que tem como característica fundamental o fato de ser natural, ou seja, envolve todo o meio ambiente existente que não teve intervenção antrópica. NATUREZA. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Natureza> Acesso em: 05 Set. 2009. 79 Recursos naturais são elementos da natureza com utilidade para o homem, com o objetivo de desenvolver a civilização e garantir a sobrevivência e o bem-estar da sociedade. Podem ser renováveis, como a energia do sol e do vento. Já a água, o solo e as árvores que estão sendo con Laura Romeu Behrends ambiente era visto como algo separado do ser humano, percebida a relação nossa com o ecossistema,80 a mudança se inicia. Notamos o nosso envolvimento com as outras vidas planetárias, quando nossos ataques de descaso por elas são sentidos por nós. "Arriscamos e mui to nossos esforços e não conseguimos moldar a natureza, à nossa satisfação e convivência”;81 um dos primeiros sinais foi a mudança de temperatura, pois não temos mais a percepção clara de uma estação ou outra. O homem, portanto, sente a necessidade de estudar a Terra, pois saber lidar com ela é o melhor jeito de protegê-la. A atual tomada de consciência da necessidade de preve nir-se contra a degradação do meio ambiente forçou os países a reconhecer que, no universo do planeta Terra, existe somente um único meio ambiente e a única ma neira de ter-se uma regulamentação racional em relação a ele seria unificar os vários meios ambientes - local, nacional, regional ou internacional - num único sistema normativo, determinado pelo direito internacional.82 Antes de haver esse cuidado, a terra foi muito explorada, pois não existia conscientização a respeito do assunto. O que vigorava era o desenvolvimento, a determinação em prol da exploração e toda degradação significava progresso, não importando as consequências, o presente era o que interessava. Todo tipo de recurso foi utilizado, não importava a qualidade, mas sim a quantidade; além do uso de inseticidas, que degrada o meio ambiente. As substâncias químicas são os fatores sinistros das radiações e transformação da própria natureza do mundo e a vida que nela palpita, elas saem dos la boratórios aos borbotões, entrando no uso geral, fora siderados limitados, são chamados de potencialmente renováveis. E ainda não renováveis como petróleo e minérios em geral. RECURSO NATURAL. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http:// pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Recurso_natural> Acesso em: 06 Set. 2009. 80 Ecossistema designa o conjunto formado por todas as comunidades que vivem e interagem em determinada região e pelos fatores abióticos que atuam sobre essas comunidades. ECOSSISTEMA. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Ecossistema> Acesso em: 06 Set. 2009. 81 CARSON, Rachel. Primavera Silenciosa. São Paulo: Melhoramentos, 1969. 82 SOARES, Guido Fernando Silva. A proteção internacional do meio ambiente. Barueri, SP. Manole, 2003, p.39. 36 O movimento ambientalista como fonte material do direito ambiental dos limites da experiência biológica; Abusam do uso do DDT e do carbono, causadores de doenças, trans formando-se em agentes de morte.83 A degradação ambiental se desenvolveu, porque o desenvolvi mento econômico, na maioria das vezes, foi colocado em primeiro lugar; o que importa é o presente, a realização de um projeto, as consequên- cias, que se apresentam no futuro, interessam apenas às novas gera ções. Devido a essa ideologia, o meio ambiente não foi respeitado e sofreu enormes prejuízos que na maioria das vezes, infelizmente, não são recuperáveis; a fauna e o solo um dia modificados dificilmente serão recuperados por causa do grande complexo que é o bioma84 natural. 3.2 - O início do movimento social brasileiro - 1970: O movimento social ambientalista reage, não podemos mais viver ignorando o que nos acontece na volta; o descaso com o meio ambien te se torna repugnante. "A fase de denunciar já passou, agora é preciso agir”.85 A falta de cuidados e o desinteresse causam insatisfação. É ne cessário que algo seja feito, para que atos impensados sejam punidos. Se continuarmos agindo sem prudência, pagaremos o preço do descaso com nossas próprias vidas. A iniciativa, para que a modificação seja feita, vem de um novo pensamento, relacionado à Ecologia.86 "O ecologismo se estrutura a partir do cidadão, que reivindica sua participação nas decisões políticas que afetam o seu destino e o destino da humanidade”.87 83 CARSON, Rachel. Primavera Silenciosa. São Paulo: Melhoramentos, 1969. 84 Chama-se bioma a um conjunto de ecossistemas. Mais além, biomas são um conjunto de diferentes ecossistemas. O bioma são as comunidades biológicas, ou seja, as populações de organismos da fauna e da flora interagindo entre si e interagindo também com o ambiente físico chamado biótopo. BIOMA. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Bioma> Acesso em: 07 Set. 2009. 85 BONES, Elmar. Pioneiros da ecologia. Porto Alegre: Já, 2007, p.65. 86 A Ecologia é o estudo das interações dos seres vivos entre si e com o meio ambiente. Foi o cientista alemão Ernst Haeckel, em 1869, quem primeiro usou este termo para designar o estudo das relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem, além da distribuição e abundância dos seres vivos no planeta Terra. ECOLOGIA. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Ecologia> Aces so em: 7 Set. 2009. 87 BONES, Elmar. Pioneiros da ecologia. Porto Alegre: Já, 2007, p.177. Denominação utilizada 37 Laura Romeu Behrends O movimento conservacionista surgiu de uma ideia nova: a Ecologia. Tudo o que houve anteriormen te não caracterizava um movimento ecologista ou movimento conservacionista, aqui ou em qualquer parte do mundo.88 Um dos primeiros revolucionários foi Henrique Luis Roessler, na década de 70, no Rio Grande do Sul. Seu envolvimento com a história ambiental foi de grande valia, porque era um homem determinado e preocupado com a causa ambiental; seu envolvimento foi enorme, seu interesse, e, principalmente, seu amor pela natureza foram as princi pais características que encantaram os adeptos à ideia ambientalista, fazendo com que, seu nome fosse reconhecido internacionalmente e ficasse na história. Sem que se pudesse imaginar, o homem especial fazia acontecer uma guinada para o extremo oposto do pre visto, que surpreendia quem não estivesse acostuma do com seu jeito autêntico e absolutamente incomum.89 Roessler foi um ambientalista incomum capaz de aproximar o homem da natureza sem destruí-la, porque mostrou a ele que a vida ecológica é a forma mais correta de se conhecer sua própria vida. Na mesmaépoca, José Antônio Lutzenberger, ao lado de outros adeptos, funda a Agapan, associação esta, que redobra a luta ecológica. "Foi fundada a Agapan em 27 de abril de 1971”.90 Sem a censura da ditadura, os ambientalistas podiam se manifestar em prol da natureza. Lutzenberger e Carneiro são alguns dos que fundaram a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural. A primeira manifestação vitoriosa da Agapan foi o caso da árvore, em Porto Alegre, em frente à Faculdade de Direito da UFRGS. Um estudante chamado Carlos Alberto Dayrell subiu em uma árvore para que ela não fosse cortada. A prefeitura tinha o intuito de derrubar todas as árvores da João Pessoa para a construção de uma via elevada, com o propósito de amenizar o tráfego de carros que pela FEPAM. 88 Entrevista realizada com Augusto Carneiro no dia 21 Janeiro de 2009. 89 ROESSLER, Maria Luiza. O homem do rio. Porto Alegre: AGE, 1999, p.72. 90 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.193. 38 O movimento ambientalista como fonte material do direito ambiental conforme o horário fica caótico. "A manifestação foi vitoriosa, uma vez que a prefeitura mudou os planos para a construção do viaduto, e a árvore não foi derrubada” .91 No curso de todas as culturas humanas, mais cedo ou mais tarde, surgem as tendências de proteção ativa da natureza. Um povo que se descuidasse desse elemento, teria falta de um requisito essencial da ver dadeira cultura humana total e seria indigno da terra, com que a pródiga mão do Criador o presenteou.92 Outra manifestação social proporcionada pela Agapan foi a respeito das ilhas de Porto Alegre. Em 1974 foi feita uma campanha para que as ilhas do Guaíba não fossem urbanizadas. Foi realizada com o objetivo de preservar diversas espécies que vivem no lugar. Passarinhos e gaivotas eram alguns dos animais ameaçados caso o projeto fosse colocado em prática. Devido ao êxito da instituição e pela ousadia de Hilda Zimmermann, não houve urbanização. Fizemos a primeira campanha para conservação das ilhas. Foi muito importante porque, conjuntamente com os vereadores e deputados, constatou-se que Porto Alegre não tinha direito de urbanizar as ilhas.93 O movimento representa a insatisfação das pessoas perante sua realidade; a Agapan foi de extrema importância para a população brasileira e, principalmente, para o povo gaúcho, já que é uma asso ciação estabelecida no Rio Grande do Sul. Ela demonstrou que se queremos modificar uma realidade é pondo em prática nossas vonta des que conseguiremos os nossos propósitos. Quem vive na inércia não sai da rotina. O envolvimento de adeptos ao ambientalismo dian te de uma causa é o que faz a diferença, e é através de iniciativas que devemos, sempre, fazer o que é mais correto; devemos preservar a natureza e salvar espécies. No Rio Grande do Sul, a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural manifesta suas conquistas e, no mesmo período, 91 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.193. 92 BONES, Elmar. Pioneiros da ecologia. Porto Alegre: Já, 2007, p. 33. 93 Idem, p.163. 39 Laura Romeu Behrends o mundo também está em alerta. É necessária a realização de uma conferência, e assim foi feito, em 1972: Estocolmo foi a sede para a discussão e planejamento sobre o meio ambiente. 3.3 - O mundo unido, 1970; Estocolmo, primeiro marco internacional: A natureza sofre com a degradação, pois o desrespeito e o de senvolvimento descontrolados geram impacto ambiental94 a ponto de sentirmos suas consequências. "A complexidade que os problemas am bientais assumiram fazem que seus contornos e limites escapem a ob- jetivações mais apressadas”.95 É preciso sentir os efeitos nocivos; só as sim é que tomamos o partido para solucionar um problema; a preserva ção ambiental só foi colocada em prática quando deslizamentos de terra ficaram rotineiros, quando os efeitos da poluição começaram a matar as pessoas, ou deixá-las com doenças respiratórias, como a asma. Foi a partir da indicação do Conselho Econômico Social das Nações Unidas, em julho de 1968, que surgiu a ideia de organizar-se um encontro de paí ses para criar formas de controlar a poluição do ar e da chuva ácida, dois dos problemas ambientais que mais inquietavam a população dos países centrais.96 A Conferência de Estocolmo se realizada “em 05 a 16 de junho de 1972”97 tem como objetivo discutir os problemas ambientais no planeta; o descaso com o meio físico era tão grande, que foi necessá rio a realização de uma conferência internacional, para que o mundo 94 Impacto Ambiental é todo efeito no meio ambiente causado pelas alterações e/ou atividades do ser humano. Conforme o tipo de intervenção, modificações produzidas e eventos posteriores, pode-se avaliar qualitativa e quantitativamente o impacto, classificando-o de caráter "positivo” ou "negativo”, ecológico, social e/ou econômico. IMPACTO AMBIENTAL. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Impac- to_ambiental> Acesso em: 08 Set. 2009. 95 SILVA - SÁNCHES, Solange S. Cidadania ambiental: novos direitos no Brasil. São Paulo: Hu- manitas, 2000, p.25. 96 RIBEIRO, Wagner Costa. A ordem ambiental internacional. São Paulo: Contexto, 2000, p.73. 97 SOARES, Guido Fernando Silva. A proteção internacional do meio ambiente. Barueri, SP: Manole, 2003, p.44. 40 O movimento ambientalista como fonte material do direito ambiental ficasse consciente dos problemas, e, com isso, evitasse que novos incidentes ocorressem. Devido ao grande alarde, Estocolmo obtém êxito, conseguindo reunir diversos países, ficando conhecida como o primeiro marco internacional ambientalista. La conferencia destacaba que uno de los principales aportes que la ciencia y la tecnología podían hacer para el desarrollo económico y social de los pueblos consistía en descubrir, evitar y combatir los riesgos que amenazan al medio ambiente y buscar la solución a SUS problemas.98 Um dos propósitos da chamada em Estocolmo era esclarecer a todos a situação crítica pela qual o mundo estava passando, assim como apresentar as possíveis soluções para que todos pudessem se engajar e obter melhores condições para se viver, "Pois o núcleo da atenção não se restringia a um recurso ambiental, ou a uma espécie em perigo, mas abordava o meio ambiente como um todo”.99 O meio ambiente é enfatizado com significativa preocupação, porque, se uma mudança enérgica não ocorresse, o planeta entra ria em um grande processo de extinção, envolvendo várias espécies, ocasionando um desequilíbrio ambiental gravíssimo. Devido ao que foi dito neste evento, mudanças de atitudes de diversos países, que antes agiam de forma equivocada, foram observadas e o meio am biente passou a ser tratado com mais responsabilidade. Entretanto ao contrário do que muitos poderiam pensar, nem todos estavam feli zes com as modificações. Nesta Conferência já se previa um impasse entre países de senvolvidos e países subdesenvolvidos; o desacordo entre os países industrializados com os não industrializados era nítido. Os estados já expandidos não queriam a evolução dos estados que ainda não eram, tudo por uma questão de receio. Nesta época, as pesquisas de impactos ambientais ainda eram muito recentes, se tinha dúvidas, em não mais haver desmatamentos para construção de indústrias ou se isso ainda era possível ou, ainda, sobre até onde esses atos seriam prejudiciais. 98 ECHECHURI, Héctor. Diez anos despues de Estocolmo. Desarrollo, Medio Ambiente y supervivencia. Madri, Espanha, 1983, p.15. 99 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.31. 41 Laura Romeu Behrends Já nas reuniões preparatórias à Conferência de Es tocolmo, ficaria evidente a oposição entre países desenvolvidos e países
Compartilhar