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fichamento “O Caso dos Exploradores de Cavernas Suprema Corte de Newgarth – Ano 4300”

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ 
INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS 
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO 
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO 
 
 
 
 
 
 
Allayne Pereira de Andrade 
Eric José Silva de Souza 
Ingred Abreu Cavalheiro 
José Eduardo Trovão 
Talitha de Souza Moreira 
Werlem Afonso Pinto do Carmo 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Caso dos Exploradores de Caverna 
Lon L. Fuller 
 
 
 
 
 
 
 
 
Paragominas - PA 
2016 
Fichamento 
 
FULLER, Lon L. O Caso dos Exploradores de Caverna. Tradução de Plauto 
Faraco de Azevedo. Porto Alegre (RS): Editora Fabris, 1976. 
 
 
 
 “O Caso dos Exploradores de Cavernas Suprema Corte de Newgarth – Ano 
4300”. (p. 6) 
 “Processados e condenados à morte pela forca, os acusados recorreram da 
decisão do Tribunal de Condado de Stowfield à Suprema Corte de Newgarth. 
Os fatos em que se louvou a sentença condenatória são os que a seguir 
enuncia o Presidente desse alto Tribunal em seu voto”. (p. 6) 
 
Presidente Truepenny, C.J. 
 Responsável por apresentar o caso, informa a clausura dos mineiros, a 
operação de resgate, o contrato firmado entre eles, a morte de Whetmore e a 
condenação à forca. (p.6) 
 “Os quatro acusados adentraram dentro de uma caverna, juntamente com a 
vítima Roger Whetmore, após desmoronamento ficaram reclusos aguardando 
o resgate”. (p. 6) 
 Durante o tempo em que ficaram presos, os exploradores usavam um rádio 
para manter comunicação, e numa das conversas que tiveram com um 
médico descobriram que eram mínimas as chances de sobreviverem sem 
alimento. (p. 7) 
 A vítima Roger Whetmore propôs tirarem a sorte, para que um dos cincos 
exploradores servisse de alimento aos demais, “sendo a sorte adversa a 
Roger Whetmore”. (p.7) 
 Roger Whetmore foi morto e servido como alimento, e os sobreviventes 
foram resgatados após 33 dias. (p. 7) 
 Após recuperação, os sobreviventes foram acusados pelo homicídio de Roger 
Whetmore, considerados culpados e condenados à forca, devido à parte na 
lei que deixa expresso que “quem quer que intencionalmente prive outrem da 
vida será punido com a morte”. (p. 7,8) 
 Membros do júri e o juiz enviaram ao chefe do executivo uma petição para 
que a sentença fosse substituída por prisão de seis meses. “Porém, nada 
resolveu o Executivo, aparentemente esperando pela nossa decisão no 
presente recurso”. (p. 8) 
 O presidente do Tribunal, Truepenny, vê com certa simpatia a clemência 
executiva, e incentiva os seus colegas a solidarizar-se com as petições 
enviadas ao chefe do Poder Executivo, substituindo a pena pela prisão de 6 
meses (Fl.8); 
 Caso as solicitações de clemência sejam acatadas, Truepenny afirma que “ a 
justiça será realizada sem debilitar a letra ou o espírito da lei e sem propicia 
qualquer encorajamento a sua transgressão” (p.8) 
 
Foster, J. 
 O Juiz Foster inicia sua manifestação criticando a solução proposta pelo juiz 
presidente Truepenny, o qual classifica como sórdido e simplista, e compara 
esse recurso ao da lei do país de não pretender fazer justiça. (p.8) 
 O Juiz também manifesta seu receio de que o Tribunal, com uma decisão que 
considere os réus culpados, contrarie o senso comum. (p.8) 
 O magistrado apresenta seu posicionamento no qual considera os réus 
inocentes das acusações de assassinato e fundamenta a sua conclusão em 
duas premissas independentes ao qual considera “suficiente para a 
absolvição dos acusados”. (p. 9) 
 Foster apresenta a primeira premissa de sua conclusão, momento em que 
discorre sobre o direito natural. No seu entender, no momento em que 
ocorreu a morte de Roger Whetmore, os réus estavam em um "estado de 
natureza" sendo inaplicável a eles o direito positivo de Newgarth, justificando 
este argumento através do princípio da limitação territorial, pois da mesma 
forma que não é possível se aplicar uma lei em casos que ocorrem fora dos 
limites geográficos do Estado, não se aplicaria qualquer norma ao caso dos 
exploradores, que se encontravam fora da esfera de uma ordem jurídica, 
segundo ele, tanto por razões de ordem moral quanto por razões de ordem 
geográfica. (p. 9) 
 Foster destaca o acordo firmado entre os acusados, o qual foi proposto pela 
própria vítima, ressaltando que dentro da situação peculiar em que viviam 
tornou-se necessário a elaboração de um espécie de constituição apropriada, 
e que “a morte de Whetmore se deu em cumprimento a um contrato firmados 
por todos”. (p.10) 
 É levantada uma reflexão a respeito do valor da vida humana. Foster 
argumenta que “há muito de ilusório nesta concepção” e questiona sobre o 
que seria justo ou injusto, visto que nos trabalhos de remoção das rochas 
para o resgate dos exploradores, dez operários perderam as suas vidas para 
salvar cinco ao passo que os exploradores salvaram quatro vidas em 
detrimento de uma. (p.11) 
 O Juiz Foster apresenta o segundo fundamento de seu voto onde 
hipoteticamente, segundo sua convicção, coloca o caso dos exploradores de 
caverna a luz do direito positivo, ou seja, o ato praticado no interior da 
caverna,viola a expressão literal da lei, portanto os mesmos teriam cometido 
assassinato. Nestas circunstâncias, Foster afirma que um homem pode 
infringir a letra da lei sem violar a própria lei e que a lei deve ser interpretada 
de modo racional, segundo seu propósito evidente. Como exemplo, menciona 
o caso Commonwelth v. Staymore, onde o acusado teve sua condenação 
reformada pelo próprio Tribunal, embora tenha infringido a lei de trânsito que 
limita o tempo máximo de duas horas para permanecer estacionado, no 
entanto a infração foi causada por um evento público que o impediu de mover 
o seu veículo. Outro caso que esteve no Tribunal e foi destacado por Foster 
foi o caso Fehler v. Neegas, que envolveu um erro de digitação claro, e o 
Tribunal não tomou uma interpretação literal. (p.11) 
 Foster argumenta que não há na Lei, dispositivo que sugira uma exceção de 
matar alguém em legítima defesa apesar de ser aceita esta excludente de 
culpabilidade baseado na jurisprudência. O Magistrado discute o raciocínio 
por trás das exceções de autodefesa, argumentando que a lei não pode 
impedir de matar em legítima defesa, onde a vida de uma pessoa é 
ameaçada e aplica esse raciocínio para os exploradores, pois assim como a 
lei não cria um impedimento para pessoas confrontadas por um agressor de 
se defender, ela não cria um impedimento significativo para pessoas 
confrontadas com a fome. (p.12) 
 Foster discute, brevemente, a usurpação judicial e reconhece sem reservas 
que o Tribunal é obrigado à obedecer as leis do País, mas defende a 
interpretação judicial e colocando o que ele chame de questão da distinção 
entre a fidelidade inteligente e fidelidade não inteligente. (p.12) 
 O Juiz Foster conclui que a condenação deve ser anulada. (p. 13) 
 
Tatting, J. 
 
 O Juiz Tatting analisa o voto que terminou de enunciar seu colega Foster, 
sentindo que está minado por contradições e falácias. 
 Comecemos por expor a primeira proposição de Foster, quando este diz: 
"estes homens não estavam sujeitos a nossa lei porque não se encontravam 
em um 'estado de sociedade civil' mas em 'estado de natureza'”. (p. 13) 
 Tatting questiona esse posicionamento argumentando da seguinte maneira: 
"se estes homens passaram da jurisdição da nossa lei para aquela 'lei da 
natureza', em que momento isto ocorreu? Foi quando a entrada da caverna 
se fechou? Quando a ameaça de morte por inanição atingiu um grau 
indefinido de intensidade? Ou quando o contrato para o lanço de dados foi 
celebrado?" Estas incertezas que emergem da doutrina proposta por seu 
colega Foster, a seuver, são capazes de causar reais dificuldades. Suponha-
se, por exemplo, que um desses homens tenha feito seu vigésimo primeiro 
aniversário enquanto estava aprisionado no interior da montanha. Em que 
data teríamos que considerar que ele completou a maior idade - quando 
atingiu os vinte e um anos, no momento em que se achava, por hipótese, 
subtraído dos efeitos de nossas leis, ou quando foi libertado da caverna e 
voltou a submeter-se ao império do que seu colega denomina nosso "direito 
positivo". Estas dificuldades, no entanto, servem para revelar a natureza 
fantasiosa da doutrina que é capaz de originá-las. (p. 13) 
 O juiz questiona “com qual autoridade aquela se transformou em um Tribunal 
da natureza? Se esses homens na verdade se encontravam sob a lei natural, 
de onde vem a autoridade deles para estabelecer e aplicar aquela lei? 
Certamente eles não estão em um estado de natureza”. (p. 13) 
 Diante do caso, Tatting não pode nem aceitar sua noção de que estes 
homens encontravam-se regidos por um código de leis naturais, que o 
Tribunal estaria obrigado a aplicar-lhes, nem pode admitir as regras odiosas e 
desnaturadas que Foster pretende que este código contenha. (p. 14) 
 Tatting argumenta que a doutrina ensinada nas escolas de seu país, 
memorizadas por gerações de estudantes de Direito, diz o seguinte: a lei 
referente ao homicídio requer um ato "intencional". O homem que atua para 
repelir uma ameaça agressiva a sua própria vida não age "intencionalmente", 
mas em resposta a um impulso profundamente enraizado na natureza 
humana. (p.15) 
 Mas a explicação familiar para a excludente da legítima defesa que ele 
terminou de expor obviamente não pode ser explicada por analogia aos fatos 
deste caso. (p.15) 
 O Juiz ainda identifica outra dificuldade na proposta de seu colega Foster de 
estabelecer uma exceção da lei em favor deste caso, embora novamente 
nenhuma dúvida transpareça em seu voto. “Qual será o alcance da exceção”? 
No caso, os homens tiraram a sorte e a própria vítima no início concordou 
com o que foi contratado. “O que decidiríamos se Whetmore tivesse recusado 
desde o começo a participar do plano? Permitir-se-a que uma maioria 
decidisse contra a sua vontade? Ou suponha-se que nenhum plano fosse 
adotado e que os outros simplesmente conspirassem para causar a morte de 
Whetmore, e à guisa de justificativa dissessem que ele estava em condição 
física mais débil. Ou, ainda, que um plano de seleção, baseado numa 
justificativa diferente daquela aqui adotada, fosse seguido, como por exemplo, 
se os outros fossem ateus e insistissem que Whetmore deveria morrer porque 
era o único que acreditava na vida além da morte. Esses exemplos poderiam 
ser multiplicados, mas se sugeriu o suficiente para revelar as inúmeras 
dificuldades ocultas contidas no raciocínio de meu colega”. (p. 15) 
 Ele crê que quase toda a consideração que interessa à solução do presente 
caso é contrabalanceada por outra oposta, conduzindo em uma direção 
também oposta. Seu colega Foster não lhe propiciou, nem ele pode descobrir 
por si próprio, nenhuma fórmula capaz de resolver as dívidas que por todos 
os lados lhe cercavam. (p. 16) 
 Quando ele senti-se inclinado a aceitar o ponto de vista de seu colega Foster, 
detém-se a impressão de que seus argumentos são intelectualmente 
infundados e completamente abstratos. De outro lado, quando se inclina no 
sentido de manter a condenação, choca-se o absurdo de condenar estes 
homens à morte quando a salvação de suas vidas custou as de dez heroicos 
operários. (p. 16) 
 Defende que se existisse um dispositivo legal capitulando como crime o fato 
de comer carne humana, esta teria sido uma acusação mais apropriada. Se 
nenhuma acusação adequada aos fatos deste caso podia ser formulada 
contra os acusados, teria sido, preferível, pensa, não tê-los pronunciado. 
 “Infelizmente, entretanto, estes homens foram processados e julgados e, em 
decorrência disto, os membros daquela corte se viram envolvidos por este 
infeliz litígio”. (p. 16) 
 Finaliza dizendo que uma vez que se revelou completamente incapaz de 
afastar as dúvidas que lhe assediavam, lamentou anunciar algo que 
acreditava não ter precedentes na história deste Tribunal. Recusou-se a 
participar da decisão deste caso. (p. 16) 
 
Juiz Keen, J. 
 
 Logo de início, o juiz Keen deixa claro existirem duas questões relacionadas 
ao caso, que ao ver dele, podem ser ignoradas. 
 “Eu gostaria de começar deixando de lado duas questões que não são da 
competência deste Tribunal.” (p.16) 
 A partir de então, ele discorre sobre essas questões, sendo a primeira em que 
fala sobre a clemência pedida anteriormente pelo Presidente Truepenny, 
onde Keen reprova abertamente a atitude do mesmo, pois afirma que esse 
tipo de atitude apenas serve para alimentar uma confusão de funções 
governamentais. 
 Ele afirma também que, se fosse chefe do Poder Executivo, concederia 
perdão total aos réus. Entretanto, ressalta que esta observação é feita em sua 
condição privada de cidadão e não como juiz. 
 “Desaprovo, portanto, aquela passagem do voto do presidente deste Tribunal 
em que ele efetivamente dá instruções ao chefe do Poder Executivo acerca 
do que deveria fazer neste caso e sugere alguns inconvenientes que adviriam 
se tais instruções não fossem atendidas. Esta é uma confusão de funções 
dos poderes estatais – uma confusão em que o judiciário deveria ser o último 
a incorrer.” (p.16) 
 “Desejo esclarecer que se eu fosse o chefe do Poder Executivo, iria mais 
longe no sentido da clemência do que aquilo que lhe foi requerido. Eu 
concederia perdão total a estes homens, pois creio que eles já sofreram o 
suficiente para pagar por qualquer crime que possam ter cometido. Quero ser 
compreendido por esta observação ter sido feita na minha condição particular 
de cidadão que, por razão de seu ofício, adquiriu um íntimo conhecimento dos 
fatos deste caso.” (p.16) 
 Já na segunda questão abordada, Keen afirma que não há necessidade em 
discutir sobre a moralidade do ocorrido, pois, ressalta que tal fato possui 
pouca importância no decorrer do cumprimento de sua função como juiz. 
 Ressalta que há a possibilidade de se ignorar também a primeira parte dos 
argumentos desenvolvidos por Foster. 
 “A segunda questão que desejo colocar de lado diz respeito a decidir se o que 
estes homens fizeram foi justo ou injusto, mau ou bom. Esta é outra questão 
irrelevante ao cumprimento de minha função, pois, como fui empossado como 
juiz para aplicar, não minhas concepções morais, mas o ordenamento jurídico 
deste país.” (p. 17) 
 “Ao colocar esta questão de lado, penso que posso também excluir sem 
comentário a primeira e a maior porção poética do voto do meu colega 
Foster.” (p.17) 
 Já neste trecho, alega haver apenas uma questão com devida importância 
para ser resolvida. Além de reforçar seu positivismo ao trazer o texto exato da 
lei. 
 “A única questão que se apresenta para ser decidida por nós consiste em 
saber se os acusados privaram intencionalmente da vida Roger Whetmore. O 
texto exato da norma é o seguinte: Quem quer que, intencionalmente, prive a 
outrem da vida será punido com a morte. Agora, eu devo supor que qualquer 
observador imparcial, que queira extrair destas palavras o seu significado 
natural, concederá imediatamente que os acusado privaram intencionalmente 
Roger Whetmore da vida.” (p.17) 
 Neste parágrafo, Keen ressalta a importância de não se deixar influenciar por 
questões mal definidas entre os aspectos legais e morais, afirma também que 
todos devem deixar suas predileções de lado e agir de acordo com a lei 
positiva e não moral. “Nem a mim isto não causa prazer, mas, à diferença de meus colegas, eu 
respeito o dever de um cargo que requer que se deixem as predileções 
pessoais de lado, ao interpretar e aplicar a legislação deste País.” (p.17) 
 Neste ponto, Keen aprofunda seu parecer e reafirma seu ponto de vista em 
que deve-se julgar de acordo com a lei positiva e não com a moral. 
 “Mas eu penso que a problemática atinge nível ainda mais profundo. Duvido 
muito que nossa legislação, ao conceber o homicídio como crime, tenha 
realmente um propósito em qualquer sentido ordinário deste termo. 
Primeiramente, tal norma reflete uma convicção humana profundamente 
enraizada, segundo a qual o assassinato é injusto e que algo deve ser feito 
ao homem que o comete.” (p.18) 
 Há um extremo aprofundamento neste momento onde Keen fala sobre 
legítima defesa e se esta cabe ou não no caso. 
 “Mas, outra vez, o problema real é mais profundo. Tanto no que se refere à 
legislação, como no que respeita à exceção, questão não está no suposto 
propósito da legislação, mas no seu alcance. No que concerne à extensão da 
legítima defesa, tal como tem sido aplicada por este Tribunal, a situação é 
clara: ela se aplica aos casos de resistência a uma ameaça agressiva à 
própria vida de uma pessoa. Está, portanto, demasiado claro que este caso 
não se situa no âmbito da exceção, posto que é evidente que Whetmore não 
fez nenhuma ameaça contra a vida dos réus.” (p.19) 
 Novamente, Keen fala sobre Foster e no que se resultou a tentativa do 
ministro Tatting em combinar o moralismo e sentimento de fidelidade à norma 
escrita. 
 “O caráter essencialmente ardiloso da tentativa do meu colega Foster de 
encobrir sua reformulação da legislação escrita com uma aparência de 
legitimidade mostra-se tragicamente no voto de meu colega Tatting. Neste, o 
ministro Tatting debate-se ardorosamente para combinar o vago moralismo de 
seu colega com seu próprio sentimento de fidelidade à norma escrita. O 
resultado desta luta não podia ser outro senão o que ocorreu – um completo 
fracasso no desempenho da função judicial. É de todo impossível ao juiz 
aplicar uma norma tal como está redigida e, simultaneamente, refazê-la em 
consonância com seus desejos pessoais.” (p.19,20) 
 A partir de então, começa a explicar seus últimos pontos acerca do caso 
abordado em questão, sempre levando em consideração o Direito Positivo e 
salientando aos demais colegas julgadores para deixar de lado as preleções 
pessoais e interpretarem a lei coerentemente. 
 “Uma decisão rigorosa nunca é popular. Juízes têm sido exaltados na 
literatura por seus ardilosos subterfúgios destinados a privar um litigante de 
seus direitos nos casos em que a opinião pública julgava errado fazê-los 
prevalecer. Mas eu acredito que a exceção ao cumprimento da legislação, 
levada a efeito pelo Poder Judiciário, faz mais mal a longo prazo do que as 
decisões rigorosas. As sentenças severas podem até mesmo ter certo valor 
moral, fazendo com que o povo sinta a responsabilidade em face da 
legislação, que, em última análise, trata-se de sua própria criação, bem como 
relembrando-lhe que não há nenhum princípio de perdão pessoal que possa 
aliviar os erros de seus representantes.” (p. 20) 
 “Na verdade, irei mais distante e direi que os princípios por mim expostos são 
mais sadios para as nossas condições atuais; e mais, nós teríamos herdado 
um sistema jurídico bem melhor de nossos antepassados se estes princípios 
tivessem sido observados desde o início. Por exemplo, com respeito à 
excludente da legítima defesa, se nossos tribunais tivessem permanecido 
firmes na letra da norma, o resultado teria sido, indubitavelmente, a sua 
revisão legislativa. Naturalmente, tal revisão teria suscitado a colaboração de 
filósofos e psicólogos, e a regulamentação da matéria, daí resultante, teria 
uma base compreensível e racional, ao invés da miscelânea de verbalismos e 
distinções metafísicas que emergiram do tratamento judicial e 
profissional.”(p.20) 
 “Essas conclusões finais estão, naturalmente, além dos deveres que devo 
cumprir relativamente a este caso, mas as enuncio porque sinto de modo 
profundo que meus colegas estão pouco conscientes dos perigos implícitos 
nas concepções sobre a magistratura defendidas pelo meu colega Foster.” 
(p.20) 
 “Minha conclusão é a confirmação da sentença condenatória.” (p.20) 
 
Handy, J 
 O Juiz Handy, J, começa seu discurso ressaltando que os demais juízes 
apenas discorreram sobre as distinções entre direito positivo e direito natural, 
a letra e o propósito da lei, funções judiciais e executivas, legislação oriunda 
do judiciário e do legislativo, e afirmando que todos esqueceram a questão da 
natureza jurídica do contrato celebrado na caverna. (p. 20) 
 Em seguida, ele alega que o caso em questão precisa ser “decidido sobre 
uma questão de sabedoria prática baseada em realidades humanas” e 
argumenta que o governo é um assunto humano, e que os homens são 
governados não por palavras sobre o papel ou por teorias abstratas, mas por 
outros homens, assim como faz uma diferenciação entre um bom e um mau 
governo, momento em que afirma que afirma que um governo bom é quando 
seus governantes compreendem os sentimentos e concepções do povo. (p. 
21) 
 Posteriormente, Handy diz que juízes cumpririam melhor seus deveres se 
considerassem as formalidades e os conceitos abstratos como instrumentos e 
começa a discorrer sobre as vantagens deste método de governo, afirmando 
que ele permite cumprir as tarefas diárias com eficiência e senso comum, 
além de preservar a flexibilidade essencial se quiser manter as ações da 
magistratura em correspondência com os sentimentos da sociedade que está 
submetida as autoridades. (p. 21, 22) 
 Para Handy, quando se “introduz uma cunha entre a massa do povo e 
aqueles que dirigem sua vida jurídica, política e econômica, a sociedade é 
destruída”, por isso ele considera que nem a lei da natureza abordada por 
Foster, nem a fidelidade à lei escrita de Keen, não servirão de mais nada. (p. 
22) 
 O argumento que Handy mais leva em consideração é de fato, a opinião 
pública. Dessa forma, ele cita a pesquisa de opinião feita sobre o que as 
pessoas desejavam que fosse feito com os exploradores de cavernas, no qual 
noventa por cento expressaram a opinião de que os acusados deveriam ser 
perdoados ou deixados em liberdade, com uma espécie de pena simbólica. 
(p. 22) 
 Portanto, o juiz defende que há a necessidade de preservar a harmonia entre 
a opinião pública e a decisão do Tribunal, pois no seu entendimento absolver 
os réus não é uma forma de desvirtuar a lei. (p. 22) 
 Logo depois, Handy ressalta que “está convicto de que seus colegas ouvirão 
com espanto seus argumentos que sugerem que o Tribunal leve em conta a 
opinião pública, pois dirão que a opinião pública é emocional e caprichosa, 
que se baseia em meias verdades e que ouve testemunhas que não estão 
sujeitas a novo interrogatório. Eles dirão ainda que a lei cerca o julgamento de 
um caso como este de cuidadosas garantias, destinadas a assegurar que a 
verdade será conhecida e que qualquer consideração racional referente às 
possíveis soluções do caso será tomada em consideração. Advertirão que 
todas estas garantias de nada servem se for permitido que a opinião pública, 
formada fora deste quadro, tenha qualquer influência na decisão”. (p. 22) 
 Novamente o Juiz Handy cita que noventa por cento das pessoas pretende 
que a Suprema Corte deixe os acusados em inteira liberdade ou que se lhes 
aplique uma pena meramente nominal e diz que os dez por cento restantes 
constituem um grupo de composição singular com as mais curiosase 
divergentes opiniões e chama atenção para o fato de que embora quase 
todas as variedades e matizes de opiniões concebíveis estivessem 
representadas no grupo da pesquisa, não havia ninguém que dissesse: 
“penso que seria de bom alvitre que os tribunais condenassem estes homens 
à forca e que, em seguida, outro poder do Estado os absolvesse”. Mas, afirma 
que foi uma solução que de certo modo dominou as discussões e que o 
presidente do Tribunal propôs como um caminho através do qual eles 
poderiam evitar de cometer uma injustiça e ao mesmo tempo preservar o 
respeito à lei. (p. 23) 
 Em seguida, Handy justifica o motivo de ter mencionado o problema acima 
citado enfatizando o perigo que há de os juízes se perderem nos esquemas 
de seus próprios pensamentos e esquecer que estes esquemas 
“frequentemente não protejam a mais tênue sombra sobre o mundo exterior”. 
(p. 24) 
 Logo após, ele confessa que, quanto mais velho se torna, mais perplexo fica 
ante a recusa dos homens em aplicar o senso comum aos problemas do 
direito e do governo; e diz que este caso verdadeiramente trágico aprofundou 
seu sentimento e desânimo e consternação a este respeito. (p. 24) 
 E por fim, conclui que os réus são inocentes da prática do crime que constitui 
objeto da acusação e afirma que depois de ouvi-los sente-se bastante 
fortalecido em sua convicção de que não deve participar da condenação do 
devido caso. (p.24) 
 
Sentença da Suprema Corte 
 
 “Ocorrendo, destarte, empate na decisão, foi a sentença condenatória do 
Tribunal de primeira instância confirmada. E determinou-se que a execução 
da sentença tivesse lugar às 6 horas da manhã, dia 2 de abril do ano 4300, 
ocasião em que o verdugo público procederia com toda a diligência até que 
os acusados morressem na forca.” (p. 26) 
 
Análise Crítica 
A obra do livro “O Caso dos Exploradores de Caverna” é uma história fictícia 
que teve sua primeira publicação no ano de 1949, tendo como autor o professor de 
Direito da Universidade de Havard, Lon L. Fuller. A história tem como pano de fundo 
o julgamento de quatro integrantes de uma organização amadorística de exploração 
de cavernas sobreviventes de um acidente que os reteve por trinta e três dias em 
uma caverna e que os obrigou a matar um companheiro que com eles se encontrava 
para poder se alimentar no vigésimo dia de aprisionamento, o que fez com que não 
padecessem de inanição e pudessem escapar vivos desse horrível incidente. 
A história acerca do livro trata basicamente do embate jurídico entre o direito 
natural e o positivismo jurídico. Pois, esses conceitos serão arduamente utilizados 
como forma de argumentação para justificar diferentes pontos de vista. 
Por ser o Direito uma ciência da argumentação, determina entendimentos 
contrários sobre pontos específicos, dessa maneira, determinadas situações postas 
ao judiciário, como é o caso da história do livro supracitado, geram soluções 
antagônicas. Mostra também a dificuldade na aplicação do Direito frente a um caso 
que é muito complexo como é o caso dos exploradores de caverna. 
Dessa forma, nota-se que essa situação faz brotar um sério problema de 
hermenêutica, que é a interpretação do Direito, que se põe aos aplicadores deste 
com maior frequência do que imaginamos. 
Ser estrito ao que dispõe a letra da Lei ou tentar interpretá-la baseado na 
realidade social e fática? Deve-se procurar fazer do Direito um instrumento de justiça 
e não, por vezes, um impedimento a ela. 
Sob o ponto de vista da legislação brasileira, provavelmente, os réus não 
seriam condenados, visto que estavam inseridos no estado de necessidade, em que 
há exclusão de ilicitude. Há a inserção nesse excludente, a saber: havia perigo 
iminente; a situação era natural, não forjada por nenhuma das partes; a preservação 
de um bem dependia da destruição dos demais, no caso, a vida dos exploradores; 
os agentes precisaram decidir, baseados no senso comum, o que seria salvo. 
Apesar dos contra argumentos, já expostos no presente trabalho, essa solução seria 
a mais prudente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
FULLER, Lon L.O Caso dos Exploradores de Caverna.Tradução de Plauto Faraco 
de Azevedo. Porto Alegre (RS):Editora Fabris, 1976. 
 
MENDEZ, Silmara Y.Resumo da Obra O Caso dos Exploradores de Caverna. 
Disponível em:<http://monografias.brasilescola.uol.com.br/direito/resumo-obra-caso-
dos-exploradores-caverna.htm>. Acessado em 13 julho 2016. 
 
SILVA, Tania de Oliveira.O caso dos Exploradores de Caverna.Disponível em: < 
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura& 
artigo_ id=10609>. Acessado em 12 julho 2016.

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