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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO Allayne Pereira de Andrade Eric José Silva de Souza Ingred Abreu Cavalheiro José Eduardo Trovão Talitha de Souza Moreira Werlem Afonso Pinto do Carmo O Caso dos Exploradores de Caverna Lon L. Fuller Paragominas - PA 2016 Fichamento FULLER, Lon L. O Caso dos Exploradores de Caverna. Tradução de Plauto Faraco de Azevedo. Porto Alegre (RS): Editora Fabris, 1976. “O Caso dos Exploradores de Cavernas Suprema Corte de Newgarth – Ano 4300”. (p. 6) “Processados e condenados à morte pela forca, os acusados recorreram da decisão do Tribunal de Condado de Stowfield à Suprema Corte de Newgarth. Os fatos em que se louvou a sentença condenatória são os que a seguir enuncia o Presidente desse alto Tribunal em seu voto”. (p. 6) Presidente Truepenny, C.J. Responsável por apresentar o caso, informa a clausura dos mineiros, a operação de resgate, o contrato firmado entre eles, a morte de Whetmore e a condenação à forca. (p.6) “Os quatro acusados adentraram dentro de uma caverna, juntamente com a vítima Roger Whetmore, após desmoronamento ficaram reclusos aguardando o resgate”. (p. 6) Durante o tempo em que ficaram presos, os exploradores usavam um rádio para manter comunicação, e numa das conversas que tiveram com um médico descobriram que eram mínimas as chances de sobreviverem sem alimento. (p. 7) A vítima Roger Whetmore propôs tirarem a sorte, para que um dos cincos exploradores servisse de alimento aos demais, “sendo a sorte adversa a Roger Whetmore”. (p.7) Roger Whetmore foi morto e servido como alimento, e os sobreviventes foram resgatados após 33 dias. (p. 7) Após recuperação, os sobreviventes foram acusados pelo homicídio de Roger Whetmore, considerados culpados e condenados à forca, devido à parte na lei que deixa expresso que “quem quer que intencionalmente prive outrem da vida será punido com a morte”. (p. 7,8) Membros do júri e o juiz enviaram ao chefe do executivo uma petição para que a sentença fosse substituída por prisão de seis meses. “Porém, nada resolveu o Executivo, aparentemente esperando pela nossa decisão no presente recurso”. (p. 8) O presidente do Tribunal, Truepenny, vê com certa simpatia a clemência executiva, e incentiva os seus colegas a solidarizar-se com as petições enviadas ao chefe do Poder Executivo, substituindo a pena pela prisão de 6 meses (Fl.8); Caso as solicitações de clemência sejam acatadas, Truepenny afirma que “ a justiça será realizada sem debilitar a letra ou o espírito da lei e sem propicia qualquer encorajamento a sua transgressão” (p.8) Foster, J. O Juiz Foster inicia sua manifestação criticando a solução proposta pelo juiz presidente Truepenny, o qual classifica como sórdido e simplista, e compara esse recurso ao da lei do país de não pretender fazer justiça. (p.8) O Juiz também manifesta seu receio de que o Tribunal, com uma decisão que considere os réus culpados, contrarie o senso comum. (p.8) O magistrado apresenta seu posicionamento no qual considera os réus inocentes das acusações de assassinato e fundamenta a sua conclusão em duas premissas independentes ao qual considera “suficiente para a absolvição dos acusados”. (p. 9) Foster apresenta a primeira premissa de sua conclusão, momento em que discorre sobre o direito natural. No seu entender, no momento em que ocorreu a morte de Roger Whetmore, os réus estavam em um "estado de natureza" sendo inaplicável a eles o direito positivo de Newgarth, justificando este argumento através do princípio da limitação territorial, pois da mesma forma que não é possível se aplicar uma lei em casos que ocorrem fora dos limites geográficos do Estado, não se aplicaria qualquer norma ao caso dos exploradores, que se encontravam fora da esfera de uma ordem jurídica, segundo ele, tanto por razões de ordem moral quanto por razões de ordem geográfica. (p. 9) Foster destaca o acordo firmado entre os acusados, o qual foi proposto pela própria vítima, ressaltando que dentro da situação peculiar em que viviam tornou-se necessário a elaboração de um espécie de constituição apropriada, e que “a morte de Whetmore se deu em cumprimento a um contrato firmados por todos”. (p.10) É levantada uma reflexão a respeito do valor da vida humana. Foster argumenta que “há muito de ilusório nesta concepção” e questiona sobre o que seria justo ou injusto, visto que nos trabalhos de remoção das rochas para o resgate dos exploradores, dez operários perderam as suas vidas para salvar cinco ao passo que os exploradores salvaram quatro vidas em detrimento de uma. (p.11) O Juiz Foster apresenta o segundo fundamento de seu voto onde hipoteticamente, segundo sua convicção, coloca o caso dos exploradores de caverna a luz do direito positivo, ou seja, o ato praticado no interior da caverna,viola a expressão literal da lei, portanto os mesmos teriam cometido assassinato. Nestas circunstâncias, Foster afirma que um homem pode infringir a letra da lei sem violar a própria lei e que a lei deve ser interpretada de modo racional, segundo seu propósito evidente. Como exemplo, menciona o caso Commonwelth v. Staymore, onde o acusado teve sua condenação reformada pelo próprio Tribunal, embora tenha infringido a lei de trânsito que limita o tempo máximo de duas horas para permanecer estacionado, no entanto a infração foi causada por um evento público que o impediu de mover o seu veículo. Outro caso que esteve no Tribunal e foi destacado por Foster foi o caso Fehler v. Neegas, que envolveu um erro de digitação claro, e o Tribunal não tomou uma interpretação literal. (p.11) Foster argumenta que não há na Lei, dispositivo que sugira uma exceção de matar alguém em legítima defesa apesar de ser aceita esta excludente de culpabilidade baseado na jurisprudência. O Magistrado discute o raciocínio por trás das exceções de autodefesa, argumentando que a lei não pode impedir de matar em legítima defesa, onde a vida de uma pessoa é ameaçada e aplica esse raciocínio para os exploradores, pois assim como a lei não cria um impedimento para pessoas confrontadas por um agressor de se defender, ela não cria um impedimento significativo para pessoas confrontadas com a fome. (p.12) Foster discute, brevemente, a usurpação judicial e reconhece sem reservas que o Tribunal é obrigado à obedecer as leis do País, mas defende a interpretação judicial e colocando o que ele chame de questão da distinção entre a fidelidade inteligente e fidelidade não inteligente. (p.12) O Juiz Foster conclui que a condenação deve ser anulada. (p. 13) Tatting, J. O Juiz Tatting analisa o voto que terminou de enunciar seu colega Foster, sentindo que está minado por contradições e falácias. Comecemos por expor a primeira proposição de Foster, quando este diz: "estes homens não estavam sujeitos a nossa lei porque não se encontravam em um 'estado de sociedade civil' mas em 'estado de natureza'”. (p. 13) Tatting questiona esse posicionamento argumentando da seguinte maneira: "se estes homens passaram da jurisdição da nossa lei para aquela 'lei da natureza', em que momento isto ocorreu? Foi quando a entrada da caverna se fechou? Quando a ameaça de morte por inanição atingiu um grau indefinido de intensidade? Ou quando o contrato para o lanço de dados foi celebrado?" Estas incertezas que emergem da doutrina proposta por seu colega Foster, a seuver, são capazes de causar reais dificuldades. Suponha- se, por exemplo, que um desses homens tenha feito seu vigésimo primeiro aniversário enquanto estava aprisionado no interior da montanha. Em que data teríamos que considerar que ele completou a maior idade - quando atingiu os vinte e um anos, no momento em que se achava, por hipótese, subtraído dos efeitos de nossas leis, ou quando foi libertado da caverna e voltou a submeter-se ao império do que seu colega denomina nosso "direito positivo". Estas dificuldades, no entanto, servem para revelar a natureza fantasiosa da doutrina que é capaz de originá-las. (p. 13) O juiz questiona “com qual autoridade aquela se transformou em um Tribunal da natureza? Se esses homens na verdade se encontravam sob a lei natural, de onde vem a autoridade deles para estabelecer e aplicar aquela lei? Certamente eles não estão em um estado de natureza”. (p. 13) Diante do caso, Tatting não pode nem aceitar sua noção de que estes homens encontravam-se regidos por um código de leis naturais, que o Tribunal estaria obrigado a aplicar-lhes, nem pode admitir as regras odiosas e desnaturadas que Foster pretende que este código contenha. (p. 14) Tatting argumenta que a doutrina ensinada nas escolas de seu país, memorizadas por gerações de estudantes de Direito, diz o seguinte: a lei referente ao homicídio requer um ato "intencional". O homem que atua para repelir uma ameaça agressiva a sua própria vida não age "intencionalmente", mas em resposta a um impulso profundamente enraizado na natureza humana. (p.15) Mas a explicação familiar para a excludente da legítima defesa que ele terminou de expor obviamente não pode ser explicada por analogia aos fatos deste caso. (p.15) O Juiz ainda identifica outra dificuldade na proposta de seu colega Foster de estabelecer uma exceção da lei em favor deste caso, embora novamente nenhuma dúvida transpareça em seu voto. “Qual será o alcance da exceção”? No caso, os homens tiraram a sorte e a própria vítima no início concordou com o que foi contratado. “O que decidiríamos se Whetmore tivesse recusado desde o começo a participar do plano? Permitir-se-a que uma maioria decidisse contra a sua vontade? Ou suponha-se que nenhum plano fosse adotado e que os outros simplesmente conspirassem para causar a morte de Whetmore, e à guisa de justificativa dissessem que ele estava em condição física mais débil. Ou, ainda, que um plano de seleção, baseado numa justificativa diferente daquela aqui adotada, fosse seguido, como por exemplo, se os outros fossem ateus e insistissem que Whetmore deveria morrer porque era o único que acreditava na vida além da morte. Esses exemplos poderiam ser multiplicados, mas se sugeriu o suficiente para revelar as inúmeras dificuldades ocultas contidas no raciocínio de meu colega”. (p. 15) Ele crê que quase toda a consideração que interessa à solução do presente caso é contrabalanceada por outra oposta, conduzindo em uma direção também oposta. Seu colega Foster não lhe propiciou, nem ele pode descobrir por si próprio, nenhuma fórmula capaz de resolver as dívidas que por todos os lados lhe cercavam. (p. 16) Quando ele senti-se inclinado a aceitar o ponto de vista de seu colega Foster, detém-se a impressão de que seus argumentos são intelectualmente infundados e completamente abstratos. De outro lado, quando se inclina no sentido de manter a condenação, choca-se o absurdo de condenar estes homens à morte quando a salvação de suas vidas custou as de dez heroicos operários. (p. 16) Defende que se existisse um dispositivo legal capitulando como crime o fato de comer carne humana, esta teria sido uma acusação mais apropriada. Se nenhuma acusação adequada aos fatos deste caso podia ser formulada contra os acusados, teria sido, preferível, pensa, não tê-los pronunciado. “Infelizmente, entretanto, estes homens foram processados e julgados e, em decorrência disto, os membros daquela corte se viram envolvidos por este infeliz litígio”. (p. 16) Finaliza dizendo que uma vez que se revelou completamente incapaz de afastar as dúvidas que lhe assediavam, lamentou anunciar algo que acreditava não ter precedentes na história deste Tribunal. Recusou-se a participar da decisão deste caso. (p. 16) Juiz Keen, J. Logo de início, o juiz Keen deixa claro existirem duas questões relacionadas ao caso, que ao ver dele, podem ser ignoradas. “Eu gostaria de começar deixando de lado duas questões que não são da competência deste Tribunal.” (p.16) A partir de então, ele discorre sobre essas questões, sendo a primeira em que fala sobre a clemência pedida anteriormente pelo Presidente Truepenny, onde Keen reprova abertamente a atitude do mesmo, pois afirma que esse tipo de atitude apenas serve para alimentar uma confusão de funções governamentais. Ele afirma também que, se fosse chefe do Poder Executivo, concederia perdão total aos réus. Entretanto, ressalta que esta observação é feita em sua condição privada de cidadão e não como juiz. “Desaprovo, portanto, aquela passagem do voto do presidente deste Tribunal em que ele efetivamente dá instruções ao chefe do Poder Executivo acerca do que deveria fazer neste caso e sugere alguns inconvenientes que adviriam se tais instruções não fossem atendidas. Esta é uma confusão de funções dos poderes estatais – uma confusão em que o judiciário deveria ser o último a incorrer.” (p.16) “Desejo esclarecer que se eu fosse o chefe do Poder Executivo, iria mais longe no sentido da clemência do que aquilo que lhe foi requerido. Eu concederia perdão total a estes homens, pois creio que eles já sofreram o suficiente para pagar por qualquer crime que possam ter cometido. Quero ser compreendido por esta observação ter sido feita na minha condição particular de cidadão que, por razão de seu ofício, adquiriu um íntimo conhecimento dos fatos deste caso.” (p.16) Já na segunda questão abordada, Keen afirma que não há necessidade em discutir sobre a moralidade do ocorrido, pois, ressalta que tal fato possui pouca importância no decorrer do cumprimento de sua função como juiz. Ressalta que há a possibilidade de se ignorar também a primeira parte dos argumentos desenvolvidos por Foster. “A segunda questão que desejo colocar de lado diz respeito a decidir se o que estes homens fizeram foi justo ou injusto, mau ou bom. Esta é outra questão irrelevante ao cumprimento de minha função, pois, como fui empossado como juiz para aplicar, não minhas concepções morais, mas o ordenamento jurídico deste país.” (p. 17) “Ao colocar esta questão de lado, penso que posso também excluir sem comentário a primeira e a maior porção poética do voto do meu colega Foster.” (p.17) Já neste trecho, alega haver apenas uma questão com devida importância para ser resolvida. Além de reforçar seu positivismo ao trazer o texto exato da lei. “A única questão que se apresenta para ser decidida por nós consiste em saber se os acusados privaram intencionalmente da vida Roger Whetmore. O texto exato da norma é o seguinte: Quem quer que, intencionalmente, prive a outrem da vida será punido com a morte. Agora, eu devo supor que qualquer observador imparcial, que queira extrair destas palavras o seu significado natural, concederá imediatamente que os acusado privaram intencionalmente Roger Whetmore da vida.” (p.17) Neste parágrafo, Keen ressalta a importância de não se deixar influenciar por questões mal definidas entre os aspectos legais e morais, afirma também que todos devem deixar suas predileções de lado e agir de acordo com a lei positiva e não moral. “Nem a mim isto não causa prazer, mas, à diferença de meus colegas, eu respeito o dever de um cargo que requer que se deixem as predileções pessoais de lado, ao interpretar e aplicar a legislação deste País.” (p.17) Neste ponto, Keen aprofunda seu parecer e reafirma seu ponto de vista em que deve-se julgar de acordo com a lei positiva e não com a moral. “Mas eu penso que a problemática atinge nível ainda mais profundo. Duvido muito que nossa legislação, ao conceber o homicídio como crime, tenha realmente um propósito em qualquer sentido ordinário deste termo. Primeiramente, tal norma reflete uma convicção humana profundamente enraizada, segundo a qual o assassinato é injusto e que algo deve ser feito ao homem que o comete.” (p.18) Há um extremo aprofundamento neste momento onde Keen fala sobre legítima defesa e se esta cabe ou não no caso. “Mas, outra vez, o problema real é mais profundo. Tanto no que se refere à legislação, como no que respeita à exceção, questão não está no suposto propósito da legislação, mas no seu alcance. No que concerne à extensão da legítima defesa, tal como tem sido aplicada por este Tribunal, a situação é clara: ela se aplica aos casos de resistência a uma ameaça agressiva à própria vida de uma pessoa. Está, portanto, demasiado claro que este caso não se situa no âmbito da exceção, posto que é evidente que Whetmore não fez nenhuma ameaça contra a vida dos réus.” (p.19) Novamente, Keen fala sobre Foster e no que se resultou a tentativa do ministro Tatting em combinar o moralismo e sentimento de fidelidade à norma escrita. “O caráter essencialmente ardiloso da tentativa do meu colega Foster de encobrir sua reformulação da legislação escrita com uma aparência de legitimidade mostra-se tragicamente no voto de meu colega Tatting. Neste, o ministro Tatting debate-se ardorosamente para combinar o vago moralismo de seu colega com seu próprio sentimento de fidelidade à norma escrita. O resultado desta luta não podia ser outro senão o que ocorreu – um completo fracasso no desempenho da função judicial. É de todo impossível ao juiz aplicar uma norma tal como está redigida e, simultaneamente, refazê-la em consonância com seus desejos pessoais.” (p.19,20) A partir de então, começa a explicar seus últimos pontos acerca do caso abordado em questão, sempre levando em consideração o Direito Positivo e salientando aos demais colegas julgadores para deixar de lado as preleções pessoais e interpretarem a lei coerentemente. “Uma decisão rigorosa nunca é popular. Juízes têm sido exaltados na literatura por seus ardilosos subterfúgios destinados a privar um litigante de seus direitos nos casos em que a opinião pública julgava errado fazê-los prevalecer. Mas eu acredito que a exceção ao cumprimento da legislação, levada a efeito pelo Poder Judiciário, faz mais mal a longo prazo do que as decisões rigorosas. As sentenças severas podem até mesmo ter certo valor moral, fazendo com que o povo sinta a responsabilidade em face da legislação, que, em última análise, trata-se de sua própria criação, bem como relembrando-lhe que não há nenhum princípio de perdão pessoal que possa aliviar os erros de seus representantes.” (p. 20) “Na verdade, irei mais distante e direi que os princípios por mim expostos são mais sadios para as nossas condições atuais; e mais, nós teríamos herdado um sistema jurídico bem melhor de nossos antepassados se estes princípios tivessem sido observados desde o início. Por exemplo, com respeito à excludente da legítima defesa, se nossos tribunais tivessem permanecido firmes na letra da norma, o resultado teria sido, indubitavelmente, a sua revisão legislativa. Naturalmente, tal revisão teria suscitado a colaboração de filósofos e psicólogos, e a regulamentação da matéria, daí resultante, teria uma base compreensível e racional, ao invés da miscelânea de verbalismos e distinções metafísicas que emergiram do tratamento judicial e profissional.”(p.20) “Essas conclusões finais estão, naturalmente, além dos deveres que devo cumprir relativamente a este caso, mas as enuncio porque sinto de modo profundo que meus colegas estão pouco conscientes dos perigos implícitos nas concepções sobre a magistratura defendidas pelo meu colega Foster.” (p.20) “Minha conclusão é a confirmação da sentença condenatória.” (p.20) Handy, J O Juiz Handy, J, começa seu discurso ressaltando que os demais juízes apenas discorreram sobre as distinções entre direito positivo e direito natural, a letra e o propósito da lei, funções judiciais e executivas, legislação oriunda do judiciário e do legislativo, e afirmando que todos esqueceram a questão da natureza jurídica do contrato celebrado na caverna. (p. 20) Em seguida, ele alega que o caso em questão precisa ser “decidido sobre uma questão de sabedoria prática baseada em realidades humanas” e argumenta que o governo é um assunto humano, e que os homens são governados não por palavras sobre o papel ou por teorias abstratas, mas por outros homens, assim como faz uma diferenciação entre um bom e um mau governo, momento em que afirma que afirma que um governo bom é quando seus governantes compreendem os sentimentos e concepções do povo. (p. 21) Posteriormente, Handy diz que juízes cumpririam melhor seus deveres se considerassem as formalidades e os conceitos abstratos como instrumentos e começa a discorrer sobre as vantagens deste método de governo, afirmando que ele permite cumprir as tarefas diárias com eficiência e senso comum, além de preservar a flexibilidade essencial se quiser manter as ações da magistratura em correspondência com os sentimentos da sociedade que está submetida as autoridades. (p. 21, 22) Para Handy, quando se “introduz uma cunha entre a massa do povo e aqueles que dirigem sua vida jurídica, política e econômica, a sociedade é destruída”, por isso ele considera que nem a lei da natureza abordada por Foster, nem a fidelidade à lei escrita de Keen, não servirão de mais nada. (p. 22) O argumento que Handy mais leva em consideração é de fato, a opinião pública. Dessa forma, ele cita a pesquisa de opinião feita sobre o que as pessoas desejavam que fosse feito com os exploradores de cavernas, no qual noventa por cento expressaram a opinião de que os acusados deveriam ser perdoados ou deixados em liberdade, com uma espécie de pena simbólica. (p. 22) Portanto, o juiz defende que há a necessidade de preservar a harmonia entre a opinião pública e a decisão do Tribunal, pois no seu entendimento absolver os réus não é uma forma de desvirtuar a lei. (p. 22) Logo depois, Handy ressalta que “está convicto de que seus colegas ouvirão com espanto seus argumentos que sugerem que o Tribunal leve em conta a opinião pública, pois dirão que a opinião pública é emocional e caprichosa, que se baseia em meias verdades e que ouve testemunhas que não estão sujeitas a novo interrogatório. Eles dirão ainda que a lei cerca o julgamento de um caso como este de cuidadosas garantias, destinadas a assegurar que a verdade será conhecida e que qualquer consideração racional referente às possíveis soluções do caso será tomada em consideração. Advertirão que todas estas garantias de nada servem se for permitido que a opinião pública, formada fora deste quadro, tenha qualquer influência na decisão”. (p. 22) Novamente o Juiz Handy cita que noventa por cento das pessoas pretende que a Suprema Corte deixe os acusados em inteira liberdade ou que se lhes aplique uma pena meramente nominal e diz que os dez por cento restantes constituem um grupo de composição singular com as mais curiosase divergentes opiniões e chama atenção para o fato de que embora quase todas as variedades e matizes de opiniões concebíveis estivessem representadas no grupo da pesquisa, não havia ninguém que dissesse: “penso que seria de bom alvitre que os tribunais condenassem estes homens à forca e que, em seguida, outro poder do Estado os absolvesse”. Mas, afirma que foi uma solução que de certo modo dominou as discussões e que o presidente do Tribunal propôs como um caminho através do qual eles poderiam evitar de cometer uma injustiça e ao mesmo tempo preservar o respeito à lei. (p. 23) Em seguida, Handy justifica o motivo de ter mencionado o problema acima citado enfatizando o perigo que há de os juízes se perderem nos esquemas de seus próprios pensamentos e esquecer que estes esquemas “frequentemente não protejam a mais tênue sombra sobre o mundo exterior”. (p. 24) Logo após, ele confessa que, quanto mais velho se torna, mais perplexo fica ante a recusa dos homens em aplicar o senso comum aos problemas do direito e do governo; e diz que este caso verdadeiramente trágico aprofundou seu sentimento e desânimo e consternação a este respeito. (p. 24) E por fim, conclui que os réus são inocentes da prática do crime que constitui objeto da acusação e afirma que depois de ouvi-los sente-se bastante fortalecido em sua convicção de que não deve participar da condenação do devido caso. (p.24) Sentença da Suprema Corte “Ocorrendo, destarte, empate na decisão, foi a sentença condenatória do Tribunal de primeira instância confirmada. E determinou-se que a execução da sentença tivesse lugar às 6 horas da manhã, dia 2 de abril do ano 4300, ocasião em que o verdugo público procederia com toda a diligência até que os acusados morressem na forca.” (p. 26) Análise Crítica A obra do livro “O Caso dos Exploradores de Caverna” é uma história fictícia que teve sua primeira publicação no ano de 1949, tendo como autor o professor de Direito da Universidade de Havard, Lon L. Fuller. A história tem como pano de fundo o julgamento de quatro integrantes de uma organização amadorística de exploração de cavernas sobreviventes de um acidente que os reteve por trinta e três dias em uma caverna e que os obrigou a matar um companheiro que com eles se encontrava para poder se alimentar no vigésimo dia de aprisionamento, o que fez com que não padecessem de inanição e pudessem escapar vivos desse horrível incidente. A história acerca do livro trata basicamente do embate jurídico entre o direito natural e o positivismo jurídico. Pois, esses conceitos serão arduamente utilizados como forma de argumentação para justificar diferentes pontos de vista. Por ser o Direito uma ciência da argumentação, determina entendimentos contrários sobre pontos específicos, dessa maneira, determinadas situações postas ao judiciário, como é o caso da história do livro supracitado, geram soluções antagônicas. Mostra também a dificuldade na aplicação do Direito frente a um caso que é muito complexo como é o caso dos exploradores de caverna. Dessa forma, nota-se que essa situação faz brotar um sério problema de hermenêutica, que é a interpretação do Direito, que se põe aos aplicadores deste com maior frequência do que imaginamos. Ser estrito ao que dispõe a letra da Lei ou tentar interpretá-la baseado na realidade social e fática? Deve-se procurar fazer do Direito um instrumento de justiça e não, por vezes, um impedimento a ela. Sob o ponto de vista da legislação brasileira, provavelmente, os réus não seriam condenados, visto que estavam inseridos no estado de necessidade, em que há exclusão de ilicitude. Há a inserção nesse excludente, a saber: havia perigo iminente; a situação era natural, não forjada por nenhuma das partes; a preservação de um bem dependia da destruição dos demais, no caso, a vida dos exploradores; os agentes precisaram decidir, baseados no senso comum, o que seria salvo. Apesar dos contra argumentos, já expostos no presente trabalho, essa solução seria a mais prudente. REFERÊNCIAS FULLER, Lon L.O Caso dos Exploradores de Caverna.Tradução de Plauto Faraco de Azevedo. Porto Alegre (RS):Editora Fabris, 1976. MENDEZ, Silmara Y.Resumo da Obra O Caso dos Exploradores de Caverna. Disponível em:<http://monografias.brasilescola.uol.com.br/direito/resumo-obra-caso- dos-exploradores-caverna.htm>. Acessado em 13 julho 2016. SILVA, Tania de Oliveira.O caso dos Exploradores de Caverna.Disponível em: < http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura& artigo_ id=10609>. Acessado em 12 julho 2016.
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