Buscar

sbs2011 GT13 Simoa Borba Lins

Prévia do material em texto

1 
 
 
XV CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA 
26 a 19 de julho de 2011 
Curitiba - PR 
 
 
 
GT: Movimentos Sociais na atualidade: reconfigurações das práticas e novos 
desafios teóricos 
 
 
 
 
 
Movimento Estudantil e novas formas de atuação política: a 
relação com partidos políticos na Era Lula. 
 
 
 
Autora: Simoa Borba Lins 
 
 
 
 
Universidade Federal da Bahia 
2011 
 
 
 
 
 
 
2 
 
Movimento Estudantil e novas formas de atuação política: A relação com Partidos Políticos 
na Era Lula. 
 Simoa Borba Lins* 
 
Durante toda a nossa história republicana, os movimentos sociais vêm se diversificando, de acordo 
com as mudanças institucionais do Estado. Desde os anos 30, o processo de incorporação das 
massas urbanas à participação política se inicia seguido da ativação populista que traz à cena 
novos atores urbanos, por via de suas práticas e do corporativismo de Estado, chegando ao Golpe 
de 1964. Essa fase é o começo de um período de repressão política que intimida a “ativação do 
setor popular”, mas por outro lado, eclodem movimentos de contestação ao novo regime; como é o 
caso do movimento estudantil. A partir daí, percebe-se o “renascimento” da sociedade civil, 
possibilitado pelo surgimento dos “Novos Movimentos Sociais” (NMS) no bojo da transição do 
regime da década de 70 até a abertura do sistema político. No decorrer dos anos 80, os 
movimentos sociais no Brasil passaram do plano da atuação concreta para o plano das análises de 
seus próprios feitos, da fase do otimismo para a perplexidade e depois para a descrença. Vários 
fatores contribuíram para essas mudanças, com destaque para as alterações nas políticas públicas 
e na composição dos agentes e atores que participaram de sua implementação, chegando assim à 
conjuntura política da década de 90. 
 
No final dos anos 80, o Partido dos Trabalhadores (PT) ascende ao poder em várias prefeituras 
municipais, criando uma redefinição das posturas políticas. Em 2003, chega à presidência da 
República um dos maiores líderes populares do país, um ex-operário, líder sindical e fundador do 
PT, Luís Inácio Lula da Silva. Dentre os vários fatores que contribuíram para a sua vitória está uma 
redefinição da postura política adotada até então pelo PT e Lula, mudança essa já afirmada durante 
a campanha de 2002, com a publicação da “Carta ao povo brasileiro”, onde o futuro presidente dá 
sinais de que uma gestão mais liberal da macroeconomia deveria ser adotada, caso eleito. 
 
Nesse artigo analiso o Movimento Estudantil (ME) a partir de um tripé estabelecido (Governo, 
Partido e Movimento Social), em sintonia com as novas conjunturas mundiais que exercem 
particular influência na sua atuação. Veremos que as categorias antes dadas são reformuladas 
frente a um contexto específico, renovando as formas de atuação que ora se posicionam para o 
mais inovador possível ora refletem as mesmas práticas tradicionais do passado. Construiremos a 
análise a partir do relacionamento do movimento estudantil com os partidos políticos1, em um 
contexto específico: o primeiro mandato do governo petista, observando principalmente a relação 
 
1
 Refiro-me particularmente aos partidos de esquerda tais como PT, PC do B, PSB e PSTU, por estar vinculados durante o período 
estudado ao Diretório Central dos Estudantes, principal instituição analisada nesse trabalho. 
3 
 
em termos de submissão de um polo ao outro, da mútua equivalência entre ambos ou mesmo a 
posição de rejeição, como propõem os enfoques que destacam a sua autonomia. Tento entender se 
a relação „partido e movimento‟ realmente exprime o sentido de incorporação de interesses e dos 
conflitos pertinentes (o que parece ser a opção para um relacionamento positivo entre os atores em 
questão) ou se o partido político possui uma estrutura que decide em nome do suposto sujeito a 
que diz representar e educar para a vida política2, evitando dessa forma a autonomia do movimento 
estudantil. 
 
A conjuntura política se tornou fundamental neste trabalho diante das transformações ocorridas, 
após a eleição de Lula, em 2002. Por sua história, ele foi se apropriando do lugar de fala3 da 
mudança e não por sua faceta continuísta, relacionando assim sua vitória à produção dessa 
mudança. Isso nos dá melhores condições para entender a dimensão das expectativas criadas e os 
comportamentos políticos iniciados durante o seu governo (ALMEIDA, 2007). 
 
Dessa forma, compreendo a tendência para a formação de grupos autônomos, a partir das 
seguintes hipóteses levantadas: a) Existe um escoamento da própria sociedade para relações mais 
espontâneas e menos hierarquizadas, como abordam os teóricos dos novos movimentos sociais e 
os considerados “pós-modernos” (TOURAINE, 1999, SANTOS, 1995); b) Acredita-se que esse 
movimento político-cultural é resultado da massificação da ideologia neoliberal, durante as décadas 
de 70 e 80, como defendem alguns autores como Boron (2004) e Nogueira (2004); c) Esse 
comportamento se dá a partir da crise de representação nas democracias contemporâneas, pois 
como observa de Leydet (2004), essas democracias não são capazes de assegurar as novas 
demandas que surgem a partir dos anos 70; d) Tendemos a acreditar que esse quadro de 
autonomia dos movimentos sociais em relação aos partidos políticos está relacionado a um fator 
novo, no qual o governo de petista do presidente Lula é o principal agente, por ter provocado 
“frustrações” a alguns segmentos de militância da esquerda. 
 
A pesquisa que originou esse artigo se concentrou no estudo das ações coletivas e nas demandas 
do movimento estudantil do DCE da UFBA, durante o primeiro mandato do presidente Lula (2003-
2006). O campo empírico central para a análise foi o grupo que se autoconsidera apartidário 
chamado O Coletivo, que ganhou as eleições para o DCE, em 2005, em pleno período de crise do 
 
2
 Parto da concepção gramsciana de partido que tem como uma de suas atribuições propagar e organizar uma reforma intelectual e 
moral, no qual segundo Gramsci significa “(...) criar o terreno para um desenvolvimento ulterior da vontade coletiva nacional-
popular no sentido de alcançar uma forma superior e total de civilização moderna.” (GRAMSCI, p.1976, p.8). Cf. Maquiavel a 
Política e o Estado Moderno sobre o conceito de vontade coletiva. 
3
 Segundo Almeida, o “Lugar de fala político-programático” é o lugar “discursivo que dá a possibilidade de um ator político 
entrar em cena com autoridade, qualificação e legitimidade pré-estabelecida para defender uma causa, assumir uma 
responsabilidade e tomar uma posição num determinado contexto histórico.”. 
4 
 
governo Lula, o que já é apontado como um indicativo para a hipótese que consiste na interferência 
deste nas práticas do movimento estudantil, especificamente no tocante à sua relação com os 
partidos políticos. 
 
Alguns autores acreditam que o Partido dos Trabalhadores (partido do presidente Lula) nasce com 
a bandeira de ser o catalisador dos movimentos sociais, através da sua ótica participativa, cuja 
dimensão é fundamental para eles. Todavia esse discurso sofre um impacto ao assumir o poder e 
altera a visão das formas de participação direta junto com o pretendido controle do poder pela base 
da sociedade. Além do mais, a interpretação da continuidade ou prolongamento dos movimentos 
sociais, passando pelo partido até chegar ao poder e ao quadro partidário, recebe muitas críticas. 
Entre estas, as dificuldades dos movimentos de passar à esfera política e de agir sobre o jogo 
políticoinstitucional (RUCHEINSKY, 1998). Esse tipo de abordagem está presente neste estudo 
como referência para analisarmos os estudantes que seguem o discurso da autonomia. 
 
É importante destacar que o governo Lula, apesar de ser um governo vinculado mais a setores 
populares, adotou medidas principalmente de cunho econômico com caráter mais liberal, afastando-
se das concepções ideológicas tradicionais do seu partido, o PT. Quanto a isso, Bourdieu analisa as 
lutas que têm lugar em cada partido e observa que uma de suas práticas mais constantes do campo 
político, é: 
(...) a que se estabelece entre os que denunciam os compromissos necessários ao 
aumento da força do partido (portanto daqueles que dominam), mas em detrimento 
da sua originalidade, quer dizer, mediante o abandono das tomadas de posição, 
distintas, originais, nativas e que reclamam por um regresso às raízes, por uma 
restauração da pureza original e, quer dizer, o alargamento da clientela, nem que 
seja à custa de transações de concessões ou mesmo de uma baralha metódica de 
tudo que as tomadas de posição originais do partido podem ter de demasiado 
„exclusivo‟. (1998, p.184). 
 
Sobre esse aspecto Haber (1996) confere o decréscimo e a crise de mobilização dos movimentos 
sociais à incapacidade de algumas lideranças, antes ligadas aos movimentos, de criar ou 
implementar políticas sociais, após ascenderem pelo voto a cargos no poder, levando assim à 
descrença popular. Haber afirma que algumas delas até ajudaram a programar políticas de cunho 
neoliberal, políticas essas que têm gerado desemprego e exclusão social. Por outro lado, há 
autores que possuem uma visão distinta da concepção de Haber, já que consideram que os 
movimentos sociais seriam a expressão da crise das instituições políticas, mormente no que tange 
à fragilidade do ato de cidadania, afirmado através do pleito eleitoral e da representação política 
(RUCHEINSKY, 1998). Isto quer dizer que as mobilizações proporcionadas pelos movimentos 
sociais se apresentam como uma nítida manifestação da crise em que estão envolvidas as 
5 
 
instituições políticas. Essa crise afetaria tanto os partidos políticos, na sua perspectiva de 
representação nos diversos níveis do poder de decisão quanto às outras instituições políticas. 
 
O fato é que, dentro do movimento estudantil universitário baiano, a ampliação de grupos 
“autônomos”, durante o período estudado, tornou-se cada vez maior e a força política deles seguiu 
o mesmo ritmo. 
 
Portanto, questiono a possibilidade da manutenção da autonomia política e cultural, a influência e 
consolidação de alianças, tendo ao mesmo tempo presente o acesso às instâncias nas quais se 
tomam decisões, posto que, o sistema político moderno requer para seu funcionamento, o exercício 
da representação política proporcionada fundamentalmente por meio da organização partidária. 
Assim como é questionado se a tendência à busca de representação política por parte dos 
movimentos autônomos será reconhecida pela disputa democrática e mais, se a tênue participação 
e exercício democrático no interior do movimento podem vir a influenciar efetivamente os partidos 
que se pautam por regras, hierarquias e burocracias. 
 
Os efeitos da globalização e do neoliberalismo nos movimentos sociais. 
 
O mundo moderno encontra-se hoje em meio a um processo de mudança acelerado que acaba 
deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades, assim como está abalando os 
quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social. Muitas 
dessas mudanças devem-se à globalização, pois se referem àqueles processos atuantes numa 
escala global que atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e 
organizações em novas combinações de espaço-tempo, tornando o mundo, em realidade e em 
experiência, mais interconectado. Segundo Giddens, “A globalização implica um movimento de 
distanciamento da ideia sociológica clássica de „sociedade‟ como um sistema bem delimitado e sua 
substituição por uma perspectiva que se concentre na forma como a vida social está ordenada ao 
longo do tempo e do espaço” (Apud, HALL, 2002, p.68). 
 
É diante desse contexto mundial que cabe a pergunta: como fica a sociedade civil organizada? 
Parece óbvio que os processos de globalização tendem a solapar a capacidade dos Estados para o 
exercício das funções cruciais de controle e regulação da economia e da sociedade. Junto a isso, 
existe o fantasma do neoliberalismo que provocou mudanças tão profundas para a sociedade 
quanto à globalização. O neoliberalismo deixou como legado dentre outros fatores a destruição da 
intervenção social do Estado em nome e benefício do mercado. 
6 
 
O peso dado à sociedade civil se torna cada vez maior, teóricos da democracia, por exemplo, 
depositam suas esperanças na sociedade civil para gerar solidariedade, tornar públicas as grandes 
questões e democratizar a ordem mundial vigente (COHEN, 2003). Alguns autores, por exemplo, 
enfatizam o aspecto dinâmico, criativo e contestador da sociedade civil, percebendo as associações 
informais e os movimentos sociais como um fenômeno distinto das associações e instituições 
voluntárias mais formalizadas e das organizações de classe (Melucci, 1986; Touraine. 1999). 
Segundo Cohen, o reconhecimento dessa dimensão nos permite articular duas perspectivas: 
 A sociedade civil como fonte dinâmica e inovadora para a tematização de novos 
problemas; formulação de novos projetos; criação de novos valores e novas 
identidades coletivas; e a sociedade civil como autonomia cívica institucionalizada. 
Permite também considerar que, por sua capacidade dinâmica (ação coletiva), o 
formato institucional da sociedade civil e da sociedade política pode se tornar alvo 
de lutas pela democratização. (2003, p.6). 
 
Diante da globalização, a sociedade civil organizada sofre os mais graves efeitos, a soberania do 
Estado começa a tornar-se parcialmente desagregada, propondo assim uma sociedade civil global 
diante de modelos e normas internacionais. Outro efeito está associado à questão de identidade, ou 
seja, as velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo social estão em declínio, 
fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um 
sujeito unificado. É o que chamam de “crise de identidade”; essas fragmentações são referentes às 
paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que no passado 
tinham nos fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais (HALL, 2002). Essas categorias 
sociais são atributos possíveis, que se tornam visíveis e relativamente fixos, quando reconhecidos 
publicamente pelo outro. “Esse conceito abarca a dimensão intersubjetiva de redes sociais: Cada 
rede representa um repertorio mais ou menos delimitado de reconhecimento coletivo, que dá 
sentido e direção aos laços sociais” (MISCHE, 1997, p. 139). 
 
Sob o ponto de vista do neoliberalismo, que surge a partir das ideias de Hayek como saída para a 
crise do Keynesianismo nos anos 70 e 80, percebemos que a teoria encontra-se hoje em fase de 
transição. Os ideais neoliberais de Estado mínimo, privatizações, mercantilização do Estado, 
desregulamentação e ajustes de clara orientação monetarista, entre outros, provaram ao longo do 
tempo ser incompatíveis com o sistema democrático que se tornou o único sistema legitimo nos 
últimos anos (BORON, 2004; NOGUEIRA, 2004). Ainda assim, segundo Boron, há um claro triunfo 
ideológico e cultural do neoliberalismo, que influenciou os demais setores da sociedade, inclusive 
os movimentos sociais. 
 
Como legado, podemos observar que à medida que as políticas neoliberais avançaram foramsurgindo outros modelos de contestação, a exemplo dos movimentos contra as reformas estatais, a 
7 
 
ação da cidadania contra a fome, movimento de desempregados, ações de aposentados, lutas de 
algumas categorias profissionais informais que emergiram no contexto de crescimento da economia 
informal. Algumas dessas ações coletivas surgiram como resposta à crise socioeconômica, atuando 
mais como grupos de pressão do que como movimentos estruturados. 
 
Outro aspecto, que se encontra hoje no centro do atual debate da teoria política, está relacionado a 
um discurso que aponta que o neoliberalismo deixa como legado a decadência das instituições 
representativas, a chamada “crise de representatividade”. Ela se deve principalmente a ideia de que 
o Estado passou para segundo plano em nome da proclamada virtude do mercado e pela opinião 
crescente da favorável substituição do Estado pela sociedade civil no encaminhamento de soluções 
para os diferentes problemas sociais (NOGUEIRA, 2004). Essa crise, segundo Leydet (2004), pode 
ser apontada a partir de alguns sintomas que testemunham o mal-estar que padece o sistema 
representativo. O primeiro sintoma consiste na reivindicação de direitos específicos de 
representação em favor de grupos historicamente marginalizados. O segundo reflete-se mais na 
pretensão de grupos oriundos da sociedade civil, de acreditarem representar mais autenticamente a 
vontade popular do que o Parlamento. Já o terceiro, consiste na popularidade de medidas que 
permitem aos cidadãos fazer ouvir diretamente sua voz, como, por exemplo, os referendos. Para 
Leydet, essa crise pode ser pensada a partir da incapacidade dos sistemas (que tanto pode ser o 
liberal quanto o republicano) e sua rigidez em dar conta desses novos movimentos sociais que 
disseminaram nos anos 70, e que testemunharam a força de novas preocupações com o meio 
ambiente, com as reivindicações dos grupos feministas, étnicos, de jovens, etc. Assim, a sociedade 
civil aparece como o lugar possível de um verdadeiro projeto democrático, ao passo que a 
legitimidade democrática do Estado, considerada antes de tudo um aparelho burocrático que busca 
seus próprios fins, é questionada. 
 
A disseminação da ideia de que é nas associações voluntárias da sociedade civil que se torna 
maior a participação dos cidadãos na vida pública de seus países, faz da sociedade civil, em 
detrimento do Estado, o lugar de expressão autêntica das aspirações democráticas dos cidadãos. 
Porém, segundo Leydet, os movimentos sociais, as associações voluntárias que formam essa 
sociedade civil, não sendo eleitas pelo conjunto de cidadãos, dificilmente podem pretender uma 
melhor representatividade que a dos eleitos, criando assim um verdadeiro paradoxo. 
 
 Essa pretensão ecoa na evolução da própria teoria democrática que, sem 
esperança de poder pensar a reforma efetiva das instituições políticas formais, 
pensa no deslocamento do centro da gravidade da democracia da assembleia 
representativa para a sociedade civil, o espaço púbico. Os defensores da teoria 
deliberativa da democracia, na verdade, cientes do declínio das instituições 
representativas oficiais, tentam pensar na realização do princípio de deliberação 
8 
 
pública, não mais primeiramente no seio dos parlamentos, mas, antes nas 
associações voluntárias da sociedade civil. (LEYDET, 2004, p.82). 
 
Leydet acredita que a questão da representatividade dos grupos diversos da sociedade civil nas 
deliberações públicas se coloca, porque muito desses grupos reivindicam para a sociedade civil, os 
representantes autênticos da vontade popular. Essa pretensão é exemplificada nos discursos de 
vários grupos antiglobalização que recusam aos governos o direito de falar em nome de seus 
eleitores e nutrem-se da consciência que as próprias autoridades políticas têm da fraqueza de sua 
legitimidade e também do fato de que uma boa parte dos cidadãos não se reconhece mais no jogo 
político oficial e não se sente representada. 
 
Mas Leydet acredita também, que essas mudanças transformariam o Estado, na melhor das 
hipóteses, em um aparelho institucional que refletiria as particularidades da sociedade civil, 
permitindo que os compromissos instáveis, por definição, sejam realizados entre interesses 
diversos para preservar certa forma de paz civil; logo a política não seria mais negociação e se 
tornaria algo pré-político. Assim a crise de representação, da qual resulta na pretensão da 
sociedade civil de representar no sentido eminente a vontade popular, produz problemas 
importantes, porque contribui para tornar a autoridade política incapaz de desempenhar o papel 
próprio que lhe é atribuído na democracia, o de formar uma vontade comum. 
 
Toda essa movimentação, segundo Nogueira (2004), faz parte da crescente preocupação com a 
estruturação do aparelho do Estado. A problematização a respeito da reforma do Estado, aos 
poucos foi perdendo a convicção de que ele poderia ser reformado rapidamente a partir de 
parâmetros tecnocráticos e economicistas, indiferentes à dimensão humana, fazendo com que se 
voltassem às atenções para a sociedade civil. Buscou-se compensar a inoperância governamental 
e a subsunção do Estado ao capital, com uma aposta categórica na potência reformadora da 
sociedade civil. Entretanto, segundo o próprio autor, a sociedade civil que emerge dessa visão é 
despolitizada: “(...) não se dispõe como um espaço de organização de subjetividade, no qual pode ocorrer a 
elevação política dos interesses econômico-corporativos ou, em outros termos a „catarse‟, a passagem dos 
interesses do plano „egoístico-passional‟ para o plano „ético-político.” (2004, p.102). O que significa que a 
sociedade civil não é a extensão mecânica da cidadania política ou da vida democrática, suas 
dimensões políticas precisam ser construídas, e para Nogueira, só a partir de laços orgânicos com 
o Estado é que isso seria possível, pois sem isso a sociedade civil não consegue aparecer como 
terreno no qual se luta pela hegemonia. 
 
Já para Touraine (1999), o papel do Estado, agente central ao mesmo tempo da modernidade e das 
reformas, foi há muito tempo substituído pelo par, às vezes conflituoso e dinâmico, formado pela 
9 
 
economia de concorrência e pelos movimentos sociais, que procuram libertar-se do patronato do 
poder público, enquanto combatem aqueles que se conformam a uma lógica propriamente 
capitalista. Para ele, o apelo ao Estado enfraquece os agentes econômicos e entrava a formação de 
novos atores sociais. 
 
Mas não é de mais Estado ou de mais mercado que precisamos, mas sim de menos 
Estado e menos mercado, e de mais iniciativas, negociações, projetos, conflitos 
propriamente sociais, por meio dos quais construir-se-ão as relações indispensáveis 
(e constantemente mutáveis) entre as obrigações e as possibilidades da economia e 
as demandas ou a resistência dos atores sociais. Não é à toa que a „classe política‟ 
é severamente julgada pelo público: nem o parlamento, nem os sindicatos, nem os 
debates de opinião, parecem ter desempenhado um papel decisivo numa história 
reduzida ao lento esboroamento da economia planejada, sob os golpes da 
concorrência internacional e das inovações tecnológicas. Todas as lutas sociais, das 
mais defensivas às mais inovadoras, são positivas na medida em que ampliam o 
campo político, entendido no sentido amplo, ou seja, o espaço público. (ibid, p.110) 
 
Para Touraine, os movimentos sociais se efetuarão de fato a partir da reconstrução de nossa 
capacidade de ação política, o que passa primeiro pela formação de novos movimentos sociais. 
São esses novos movimentos sociais que vêm criando uma alternativa ao modelo liberal e à 
globalização, com sua lógicaincludente baseada em questões identitárias e culturais. Contudo, é 
importante destacar que esses movimentos ora influenciados pelas políticas econômicas e sociais 
adotada pelos governos ora pelas manifestações que surgiram a partir da década de sessenta e 
setenta, possuem características específicas no que se refere aos modelos democráticos de 
participação e representação. 
 
É nesse aspecto da relação dos movimentos sociais com as formas convencionais de 
representação que me concentrarei a partir de agora, sobretudo na sua relação com os partidos 
políticos, relação essa que se torna cada vez mais ambígua ou até mesmo contraditória, conforme 
apontam alguns teóricos. 
 
 Representação política, movimentos sociais e partidos políticos. 
 
Segundo o filósofo político Norberto Bobbio, existe um debate secular sobre representação política 
que conduz a uma dupla proposta conflitante entre si, que resulta em duas perguntas fundamentais. 
Uma diz respeito aos PODERES DO REPRESENTANTE (como representa?) e o outro ao 
CONTEÚDO DA REPRESENTAÇÃO (que coisa representa?). Para Bobbio, da primeira pergunta 
podemos retirar duas respostas, uma é se o indivíduo representa no sentido de delegado ou no 
sentido fiduciário, ou seja, se é delegado ele é pura e simplesmente porta-voz. Se, ao invés disso, 
ele é fiduciário ele tem o “poder de agir com certa liberdade em nome e por conta dos 
10 
 
representados, na medida em que, gozando da confiança deles, pode interpretar com discernimento 
próprio de seus interesses” (BOBBIO, 1986, p. 46). Na segunda pergunta (que coisa?) também 
podem ser dadas duas respostas: ou o individuo pode ser representante dos interesses gerais dos 
cidadãos ou ele apenas representa os interesses particulares. Sendo assim, Bobbio acredita que se 
o representante é convocado para representar interesses gerais não é necessário que ele pertença 
à mesma categoria profissional (Daí a categoria dos políticos profissionais). Se, ao invés disso, a 
representação for para interesses específicos de uma categoria “normalmente ele pertence à 
mesma categoria” (Ibid.). 
 
Bobbio observa que os movimentos estudantis foram os pioneiros a seguir essa lógica pelo seu 
caráter contestador, rompendo dessa maneira com a política vista até então. Segundo Bobbio, 
 
 Foram os movimentos estudantis os primeiros a mandar pelos ares os seus 
organismos representativos pelo fato de que os representantes eram fiduciários, e 
não delegados, e a impor através de suas assembleias o princípio do mandato 
imperativo. Imediatamente ficou claro que se tratava de uma representação 
orgânica, isto é, dos interesses particulares, isto é, daquela representação na qual o 
representante deve pertencer à mesma categoria do representado. (Ibid., p.47). 
 
Nesse caso, Bobbio levanta de um lado, a relação que existe entre a figura do representante como 
delegado e da representação dos interesses particulares e do outro, a relação entre a figura do 
representante como fiduciário e a representação de interesses gerais. Sob essa lógica, os partidos 
políticos teriam uma relação de fiduciário ou de delegado diante dos movimentos sociais? Tentarei 
analisar essa questão ao longo da análise, mas por ora questiono as distintas interpretações 
realizadas. 
 
Retomando a análise de Leydet sobre representação, já que para ela a ideia de que os grupos que 
têm interesses distintos apenas podem ser representados adequadamente por seus próprios 
representantes, o que ela chama de “exigência de presença” é na verdade uma radicalização que 
surge a partir do sentimento de decepção experimentado pelos grupos marginalizados, diante de 
poucas mudanças concretas conseguidas, após o sufrágio e a elegibilidade. Ela acredita que isso 
cria algumas questões que precisam ser resolvidas: uma, seria a ideia de que os representantes 
nesse modelo possuem uma característica de ativistas que defendem que a causa dos seus é 
positiva somente numa determinada situação, onde o número de representantes que não se 
considera assim deva ser substancialmente superior, para assegurar uma representatividade 
completa, já que uma assembleia de ativistas, segundo Leydet, não seria capaz de lidar com os 
compromissos necessários para resolver as desavenças que caracterizam a vida política. A outra, é 
que a radicalidade da “exigência de presença” para ela, é uma regressão, pois não se pode 
11 
 
considerar que um homem, por exemplo, não tenha a capacidade nem vontade de representar 
adequadamente os interesses específicos de uma mulher. Assim, essa radicalidade, vista na 
democracia contemporânea, conduz ao questionamento da capacidade do parlamento para 
assegurar essa forma de representatividade. 
 
Bourdieu, no seu estudo sobre a representação política (1998), faz uma interpretação bastante 
enriquecedora sobre a conduta das instituições políticas em relação aos seus representados. Ao 
referir-se aos partidos políticos, particularmente aos de esquerda, Bourdieu enfatiza a questão do 
autoritarismo dos representantes por possuírem os instrumentos de produção dos interesses 
políticos, como podemos verificar nesse trecho de sua obra, 
 
 Os que dominam o partido e têm interesses ligados com a existência e a 
persistência desta instituição e com os ganhos específicos que ela assegura, 
encontram na liberdade, que o monopólio da produção e da imposição dos 
INTERESSES POLÍTICOS INSTITUIDOS lhes deixa, a possibilidade de imporem os 
seus interesses de mandatários como sendo os interesses dos seus mandantes. 
Isso se passa sem que nada permita fazer a prova completa de que os interesses 
assim universalizados e plebiscitados dos mandatários coincidam com os interesses 
não expressos dos mandantes, pois os primeiros têm o monopólio dos instrumentos 
de produção dos interesses políticos, quer dizer, politicamente expressos e 
reconhecidos, dos segundos. (BOURDIEU, 1998, p.169). 
 
Nesse sentido, Bourdieu considera os partidos políticos como monopolistas, por concentrarem o 
capital político nas mãos de um grupo. Por sua vez, os movimentos sociais que possuem uma 
conduta alternativa a essa prática, travam uma árdua batalha contra as formas tradicionais de luta 
política e representação para poderem legitimar as suas posições dentro de um campo político 
tradicional. Assim, ao referir-se à crise de representação, ele acaba por caracterizá-la como um 
caráter “apolítico” da sociedade, e confere ao monopólio dos interesses políticos a culpa pela sua 
existência. Ele acredita que ela é refletida na crise das instituições políticas. 
 
É com respeito a essa crise que hoje atinge as instituições que se fundamenta a análise das 
relações dos movimentos sociais com os partidos políticos. Os governos atuais, sobretudo os de 
esquerda com suas contradições práticas – ideológicas, corroboram para a criação de movimentos 
sociais que não querem servir de base para os partidos políticos, criando um quadro novo, tanto 
para a formação desses movimentos quanto para a reestruturação dos partidos considerados 
populares que mantinham na base de suas práticas políticas o diálogo com esses movimentos 
sociais. 
 A política de esquerda, em 1981, levou ao cúmulo da irresponsabilidade, e desde 
então, os governos, de esquerda como os de direita, foram obrigados a adotar 
políticas econômicas realistas, sem contudo convencerem a maioria da nação, e 
talvez a si próprios, de que a adaptação à economia globalizada não impossibilitava, 
de modo algum, uma política de proteção social (...) Esse atraso político e intelectual 
12 
 
não mereceria atenção, se não nos impedisse de compreender corretamente as 
reivindicações, protestos e revoltas atuais que são não só fundadas,como devem 
também assegurar o nascimento de novos movimentos sociais e de novas forças 
políticas, sem os quais novas instituições representativas não poderão revitalizar-se 
e nossa democracia continuará a enfraquecer-se. (TOURAINE, 1999, p.105). 
 
Para Touraine, os movimentos sociais assumirão uma forma que certamente não está baseada nos 
movimentos operários de antigamente, pois os movimentos sociais de hoje mostram que a 
democracia representativa é incapaz de aceder a realidades propriamente sociais e que a ação 
social organizada é quase sempre exterior aos sistemas políticos. Os movimentos sociais atuais 
têm coberto áreas do cotidiano de difícil penetração por outras entidades como instituições 
partidárias, sindicatos ou igrejas. Aspectos referentes à subjetividade dos indivíduos, relativos a 
sexo, crenças e valores têm encontrado mais tolerância dentro da sociedade civil organizada do 
que nas entidades políticas tradicionais. Demandas tipo, políticas de ações afirmativas para negros, 
política pública para as mulheres e gays, estão entre as principais reivindicações da agenda política 
do movimento estudantil atual, mostrando que o ME é um movimento que marca um campo 
empírico aberto a novas indagações teóricas e práticas por se manter no “entre - lugar” entre 
formas tradicionais e inovadoras de militância. 
 
O espaço de atuação dos movimentos sociais pode ser interpretado também do ponto de vista do 
cenário em que os atores estabelecem relações, de um campo de atuação ou medindo forças com 
outros atores sociais ou apostando no consenso. No decorrer do desenvolvimento dessas relações, 
tende a ocorrer a conjunção ou a tensão de forças políticas. Se na história, segundo Gramsci: 
 
 O resultado dos embates entre forças sociais em conflito não está dado de 
antemão e, portanto, se as decisões e vontade política exercem um papel importante 
na construção dos acontecimentos, então faz sentido apresentar o papel do partido 
como educador das vontades, como intelectual orgânico e coletivo, trabalhando com 
os mais diferentes níveis de concepção de mundo (GRAMSCI apud 
RUSCHEINSKY, 1998, p. 78). 
 
Dessa forma, a relação entre movimentos sociais e partidos políticos pode ser interpretada pelo 
encaminhamento da ação política. Gramsci realça a importância do partido político na estruturação 
de dimensões como o político, o cultural, o social e a ética dos setores subalternos na luta pelos 
direitos civis e sociais. Porém isso não significa que os partidos possam substituir os movimentos 
sociais ou que o último sucumba ao outro. Para ele, os movimentos sociais e partidos possuem 
papéis e objetivos diferentes, quanto à consolidação do poder de decisão na sociedade, mas 
podem conectar-se de forma frutífera em campos e momentos determinados. 
 
13 
 
Sobre outro ângulo, Melucci (1989) e Boaventura (1995) possuem uma argumentação que distancia 
os movimentos sociais das esferas institucionais como o Estado ou os Partidos. Melucci levanta a 
abertura de novos espaços de atuação, além da distinção tradicional entre Estado e sociedade civil, 
ele defende um “espaço público intermediário”, cuja função é para ele “(...) não institucionalizar os 
movimentos, nem transformá-los em partidos, mas fazer a sociedade ouvir suas mensagens e 
traduzir suas reivindicações na tomada de decisão política, enquanto o movimento mantém suas 
autonomia” (Ibid, p.64). Para o sociólogo Boaventura Santos, os Novos Movimentos Sociais (NMS) 
ocorrem no marco da sociedade civil e não no marco do Estado e em relação ao Estado mantêm 
uma distância calculada e simétrica da que mantêm em relação aos partidos e aos sindicatos 
tradicionais. Ele acredita que a novidade maior dos NMS não reside na recusa a política, mas, ao 
contrário, no alargamento da política para além do marco liberal da distinção entre Estado e 
sociedade civil. 
 
Seguindo essa mesma linha, Alain Touraine (1989) acredita que o campo da ação dos movimentos 
sociais localiza-se no seio da sociedade e eles se contrapõem a institucionalização política não sem 
consolidar, entretanto, na maioria das vezes, um relacionamento com a institucionalidade, que pode 
vir a usurpar a condição do sujeito da ação social. Nesse sentido, por serem populares, esses 
movimentos só podem organizar-se dentro da estratégia política da esquerda. Porém tendem a se 
distanciar e a se manter independentes dos partidos políticos existentes, seja de direita ou de 
esquerda, sem aderir a quadros partidários. 
 
Diante dessas análises, é necessário levantar a discussão sobre a concepção da autonomia, que 
ocorre dentro do contexto no qual se destaca o assunto sobre a crise institucional e também se 
configura com uma base histórica clara. Sob essa perspectiva, Claus Offe (1983) ao enfatizar a 
abordagem dos novos movimentos sociais afirma que eles englobam elementos culturais e políticos 
e, para sua expressão social e sua visibilidade coletiva, não utilizam canais institucionais já 
existentes. 
 “Os canais tidos como tradicionais no campo político, tais como sindicatos e os 
partidos políticos, tendo exaurido sua capacidade de expressão das reivindicações, 
são preteridos e substituídos por outras formas de encaminhamento das 
reivindicações. O sistema partidário perde em funcionalidade e credibilidade, por que 
não oferece os espaços nos quais as demandas podem ser processadas.” (OFFE, 
1983, p.97). 
 
Assim, permite-se uma leitura de que as mobilizações populares incrementam a ação política pela 
esfera da participação em detrimento da esfera representativa. Desse modo, na condição coletiva, 
fruto das demandas de interesses comuns, os partidos deixam de ser referências importantes como 
canais de expressão política de interesse. A participação direta definirá o limite da ação política, 
14 
 
pois através dela os agentes sociais instituem novos caminhos e espaços nos quais circunscrevem 
a identidade dos atores. 
 
Contudo, há autores que concentram suas análises na ação coletiva, na medida em que elas se 
institucionalizam. Autores como Boschi (1989), mostram em que sentido e com que intensidade os 
movimentos tendem a direcionar-se rumo à ação institucional, e não a sua rejeição. Para eles, uma 
interpretação pela ótica institucional dá conta de aspectos importantes que envolvem os 
movimentos, tornando-os mais abrangentes e duradouros. Sendo assim, o intuito de atingir a 
representação política via uma ação integrada junto à institucionalidade assegura formalmente os 
direitos dos movimentos sociais. 
 
Nesse mesmo contexto, ao analisar os movimentos na ótica da ação institucional, Ruth Cardoso 
(1994) alerta para o fato de que as interpretações sobre a institucionalização estão quase sempre 
ligadas à ideia de refluxo dos movimentos, sem que se faça uma interpretação mais aprofundada a 
respeito do contexto político em que eles estão inseridos “(...) a institucionalização, ocorre num 
outro contexto político. É outra fase não porque se desenvolva autonomamente pela dinâmica dos 
próprios movimentos, mas porque, na verdade, representa um novo contexto político no qual os 
movimentos vão atuar” (CARDOSO, 1994, p. 83). 
 
O Coletivo e o Governo Lula 
 
Formado durante a greve estudantil da UFBA, que durou mais de três meses no ano de 2004, o 
grupo Coletivo4 tinha como principal reivindicação mudanças na Reforma Universitária proposta 
pelo governo Lula. Seus integrantes acreditavam que a reforma se originava dentro de uma 
estrutura capitalista de clara hegemonia neoliberal5. 
 
É também durante a greve que a relação dos estudantes com os partidos políticos começa a ficar 
abalada, a partir das Assembleias Estudantis, onde os grupos partidários começam ase posicionar 
contra a greve, desrespeitando o posicionamento das Assembleias Estudantis dentro do Conselho 
Universitário, demonstrando inclusive já sinais da interferência do governo Lula nessa relação. 
 
É importante relembrar que Governo Lula, já nos primeiros anos, a partir das reformas propostas 
como a reforma da previdência e a reforma universitária abriu margem para uma forte oposição, ao 
 
4
 O nome Coletivo veio na campanha para o DCE, em 2005, mas para maior facilitação denominaremos este nome desde a 
formação do grupo, que é denominado de M-15 (Movimento 15 de julho), nome que faz referência à data da greve de 2004. 
5
Ata de Reunião Ordinária do Conselho Universitário de 28 de julho de 2004 e 02 de agosto de 2004. 
15 
 
seu governo, entre os setores mais esquerdistas, incluindo os movimentos sociais. Essa oposição 
se reflete dentro dos Movimentos Sociais também, como um agravante da crise de representação 
que as instituições políticas vêm passando a exemplo dos partidos políticos. 
 
No período da greve estudantil da UFBA, o DCE mantinha a regra da proporcionalidade, no qual as 
chapas que participavam da eleição obtinham um número de cargos proporcional à sua votação. 
Portanto, o DCE era composto na época pela UJS (União da Juventude Socialista – ligada ao PC 
do B), Articulação de Esquerda (Corrente do PT), Contraponto (grupo ligado a Força Socialista, 
futura APS – também corrente do PT) e Flores de Maio (Corrente onde seus participantes tinham 
forte vinculação com o PT, apesar de negarem essa relação partidária)6, não obtendo assim uma 
unicidade dentro do DCE. 
 
A partir da greve, o grupo dos independentes (O Coletivo) se fortalece com um discurso de 
autonomia e independência em relação aos partidos, governos e reitoria e em defesa da 
majoritariedade (sistema no qual a chapa eleita assume todas as diretorias), garantindo assim a 
vitória para o DCE da UFBA, em 2005, numa eleição com recorde de votação com mais de 8000 
votos e com uma margem de votação em relação ao segundo colocado de aproximadamente 1000 
votos7. Eles acreditavam que os partidos políticos se relacionavam com o ME sobrepondo seus 
interesses partidários em detrimento às demandas do ME, e que a proporcionalidade na gestão do 
DCE descentraliza as tomadas de decisão onde cada partido ou tendência priorizaria os interesses 
de suas organizações políticas, tornando-se uma gestão sem metas. 
 
 O M.E é um Movimento Social organizado que deve ter autonomia, por isso não 
aceitamos que continue sendo utilizado como correia de transmissão de partidos políticos 
ou qualquer outra organização que visam apenas seus próprios interesses. Entendemos 
que as nossas entidades (DCE e UNE) devem se aproximar dos estudantes, pois a 
realidade atual é um distanciamento absurdo entre os representantes e representados. A 
consequência disso é visível – direções que afirmam falar e agir em nome dos estudantes, 
quando na verdade priorizam a defesa dos projetos dos seus grupos. Defendemos fóruns 
amplos e democráticos e direções que respeitem esse espaço, não ferindo os princípios 
construídos pelos estudantes. (Panfleto distribuído durante a campanha em 2005). 
 
O discurso de oposição do grupo Coletivo aos grupos partidários dentro do ME, está fortemente 
baseado na relação destes com Governo Lula. Eles acreditavam que os grupos partidários tinham 
sofrido uma espécie de “anestesia”, após a eleição do novo presidente, já que os partidos dos quais 
eles faziam parte são parte da base de apoio ao Governo. De fato, tomando como referência as 
Atas do Conselho Universitário, comparando-as com o período anterior a eleição do presidente Lula 
 
6
 A Flores de Maio se estabelecia dentro do DCE como uma corrente vinculada ao Reitor da UFBA Naomar, o que lhe garantiu 
bastantes críticas durante a greve. 
7
 Isso pode ser uma evidência de uma tentativa de mudança do eleitorado estudantil, já desgastado com os grupos partidários, 
principalmente durante o período que foi realizado a eleição, em pleno auge da crise do “mensalão” do governo Lula. 
16 
 
(Governo Fernando Henrique Cardoso) pode se perceber a diminuição das reivindicações do DCE 
(que naquele momento estava em regime de proporcionalidade, ou seja, dividindo a sua diretoria 
com grupos ligados ao PT e ao PC do B) no que se refere ao Governo Federal. 
 
 Pautas reivindicatórias do ME no Conselho Universitário. 
Pauta Reivindicatória Período FHC Período Lula 
Política 33,3% 16,9% 
Acadêmico/Administrativo 61,3% 77% 
Cultural 5,3% 5.3% 
Total 100% 100% 
 Dados tirados a partir das Atas do Conselho Universitário do período que vai de 2000 -2005. 
 
É possível perceber uma queda de 16,4% nos níveis de reivindicações políticas que estão 
relacionadas diretamente como pautas de cunho mais ideológico, referentes às questões mais 
amplas de estrutura econômica e política. Há também, principalmente em 2003 (primeiro ano do 
Governo Lula), a ausência total de discursos do ME que façam referência ao governo federal, 
durante as reuniões do Conselho Universitário. Isso acontece mesmo quando outros conselheiros 
questionam a necessidade de pressionar o governo federal para adquirir mais verbas para a 
universidade. O mesmo não pode ser dito durante o período de FHC, onde os estudantes faziam 
fortes críticas ao governo. 
 
Além de um discurso de oposição à relação do partido com o ME, há também um forte sentimento 
de desconfiança perante as entidades de representação estudantis tradicionais tal como a UNE, 
esse sentimento ocorre também pela forte influência dos partidos na direção dessas entidades. 8 
Nesse sentido, o antagonismo entre partido político e movimento estudantil se baseia na ideia de 
que tipo de representação o ME quer pra si. Retomando a análise de Bobbio das distintas formas 
de representação (delegado ou fiduciário), verifica-se que o ME reivindica uma representação de 
delegado, ou seja, de porta-voz, o que não ocorre, já que os partidos políticos detêm pra si a 
liberdade de agir em nome e por conta dos representados, baseando-se no discurso de que eles 
possuem o discernimento próprio para agir, segundo os interesses da categoria, isto é, uma 
representação fiduciária. 
 
 
8
 Cf. Meninos com Asas: Uma análise sobre as ações estudantis que paralisaram Salvador em 2003 – Entre o Espontaneísmo e as 
instituições. Monografia da autora sobre A Revolta do Buzú, onde analisa a forte rejeição do movimento estudantil em relação às 
entidades estudantis justamente pela sua relação com os partidos políticos. 
 
17 
 
Contudo, apesar de levantar a bandeira da autonomia, não demora muito para que o grupo seja 
atraído pela sedução do discurso partidário (mesmo não o reconhecendo). Após estarem à frente 
do DCE há mais ou menos três meses, alguns de seus membros mais influentes entram na corrente 
O Trabalho, apesar de pertencer ao PT, e acreditam que não estavam sendo usurpados por 
nenhuma força partidária. Essa corrente, mesmo sendo integrante do Partido dos Trabalhadores, 
possui forte resistência a sua institucionalização, aos direcionamentos do Governo Lula, não 
assumindo cargos no governo, possuindo assim uma visão muito crítica a esse governo. Essa visão 
é muito parecida inclusive com o posicionamento que o grupo O Coletivo tem do governo Lula, uma 
posição que exige a ruptura do governo com as agências internacionais, alianças políticas não 
ideológicas e com a continuidade do modelo econômico do governo Fernando Henrique Cardoso. 
 
Cabe lembrar que,a mudança do discurso do presidente Lula exemplificada na “Carta ao povo 
brasileiro”, influenciou a relação do ME da UFBA com os partidos, que consequentemente acentuou 
a chamada crise de representação, já discutida anteriormente. A emergência do PT com a vitória de 
Lula foi saudada como uma possibilidade de mudança no quadro da representação política, como 
partido de origem popular, de procedimentos e com métodos de ação de cunho participativo, que 
sugeria uma nova maneira de fazer política, inclusive como a utopia de que através dele os 
excluídos acreditavam que alcançariam voz e vez e poderiam criar instrumentos que permitissem 
falar por si mesmos. 
 
Entretanto, ao lançar um projeto de poder referente a toda sociedade brasileira, o governo cria um 
distanciamento logístico de interesses corporativos em relação a interesses de alguns movimentos 
sociais, provocando frustrações e um novo dimensionamento das relações. Essa mudança foi 
sentida, a partir das novas configurações de forças estabelecidas, após o período Lula, como 
mostra essa entrevista com um ex-integrante do PT, hoje filiado ao PSOL, quando perguntado 
sobre como ele vê o ME, após a eleição de Lula: 
 
Infelizmente, muito fragmentado depois da era Lula. Antes nós brigávamos, mas 
tínhamos o inimigo comum: FHC e seus aliados. Depois da eleição de Lula, a 
esquerda se fragmentou muito, dada as diferentes interpretações sobre o governo, e 
o movimento refletiu isso, tendo crônicas dificuldades de unificar-se por pautas 
mínimas, já que todas as alianças são baseadas em ser contra ou a favor do 
governo Lula. 
 
O sentido dessa afirmativa pôde ser percebido, durante a greve de 2004, já discutida anteriormente, 
onde os direcionamentos dos grupos que participaram dependiam do tipo de relação que estes 
mantinham com o Governo, passando obviamente pela via partidária. Nesse sentido, reconhece-se 
a influência do governo Lula na relação do ME com os partidos políticos seja ao nível de 
18 
 
contestação criando uma nova ótica de participação seja na interferência dos posicionamentos 
tomados no cotidiano, durante a atuação política. 
 
A partir da entrada de dirigentes no Trabalho, acusações são feitas referentes à forte influência 
dessa corrente na prática do DCE, levando o grupo a um racha entre seus diretores, que causa um 
desgaste a imagem do grupo. 
 
A opção pela via partidária no interior do movimento social ou enquanto militante deste, pode ser 
vista, segundo Rucheinky (1999), como resultante do exercício de um comprometimento, de uma 
cultura política determinada. Inclusive pode implicar o empenho pela alteração do contexto que 
envolve a coletividade de modo a implementar os objetivos do comprometimento. 
 
“A opção pelo apoio a um partido político ou a relação complexa no sentido de 
somar esforços em determinados assuntos e ocasiões, tende a ser uma perspectiva 
de junção de esforços para consolidar a representação política e atuar sobre a 
instância institucional no intuito de transformar as relações sociais.” 
(RUSCHEINSKY, 1999, p. 34). 
 
 
Portanto, o que se observa é uma forma híbrida de relacionamento entre dois atores sociais, que 
obviamente está associada dentro de um contexto pós-moderno onde os indivíduos estão à procura 
de outras formas de relacionamento e experimentações. Vivencia-se um quadro histórico marcado 
por novas configurações das identidades culturais do sujeito, referentes a um processo de formação 
da identidade que em vez de ser algo dado, acabado, se desenvolve ao longo do tempo, 
continuamente, estando o sujeito “sempre a formando”. Esta característica soma-se a um “jogo de 
identidade”, onde o sujeito não mais apresentaria uma “identidade mestra”, mas várias. O sujeito 
pós-moderno não seria mobilizado por apenas uma “viga mestra” (MISCHE, 1996; HALL, 2002). 
 
As profundas transformações que veem ocorrendo em virtude do processo de 
globalização exigem um entendimento adequado do modo pelo qual se constituem 
as identidades políticas coletivas e as possíveis formas de emergência dos 
antagonismos, dentro de uma variedade de relações sócias. De fato, é fundamental 
dar-se conta de que o político não é algo que tem localização específica, 
determinada, na sociedade e que todos os tipos de relações sociais podem tornar-se 
palco de conflitos políticos. (MOUFFE, 2001) 
 
Enquanto o discurso da autonomia reforça a tese de uma crise das instituições políticas tradicionais 
(LEYDET, 2004; TOURAINE, 1991), há após a inserção do grupo no poder um restabelecimento 
das formas tradicionais, que reforça a concepção gramsciana de conceber o partido como um 
unificador de interesses gerais que atua junto ao movimento social como um agregador de 
interesses (GRAMSCI, 1976). Ou seja, no início da formação do grupo há a existência de uma forte 
19 
 
rejeição às instituições políticas formais, onde o discurso autônomo atrai uma parte dos estudantes 
menos simpáticos a essas formas tradicionais de atuação política e a relação que esses grupos 
partidários mantinham com o Governo Lula, principalmente durante a greve onde as reivindicações 
sobre a Reforma Universitária deixaram bastante explícita essa posição. 
 
Porém, após um período de práticas dentro da gestão, percebe-se que o partido político é um ator 
que fortalece a luta de classe e consegue dar amplitude à visão do movimento. As causas para 
essas mudanças estão relacionadas à visão que o grupo adquiriu e que estão pautadas no princípio 
gramsciano do partido como educador da vontade coletiva. Para Gramsci, o partido tem como uma 
de suas atribuições propagar e organizar uma reforma intelectual e moral, que significa “(...) criar o 
terreno para um desenvolvimento ulterior da vontade coletiva nacional-popular no sentido de 
alcançar uma forma superior e total de civilização moderna.” (GRAMSCI, p.1976, p.8). Isto é, os 
militantes do grupo coletivo sentiram necessidade de ter uma base intelectual que lhes orientasse a 
fim de dar continuidade a sua organização, tendo uma base política de apoio. 
 
Nesse sentido, o apartidarismo não se sustenta por não criar discussões mais amplas dentro do 
cenário político, limitando-se apenas a questões internas do movimento, ou seja, os movimentos 
sociais não têm como se manter se não tiverem uma orientação programática para seguir. 
 
Cabe lembrar que a própria dinâmica do Movimento Estudantil reforça essa posição, já que uma 
das características principais do ME é de alta rotatividade dos seus membros, isto é, o fato do ME 
ser um movimento onde seus atores não perduram ao longo dos anos, fortalece a necessidade dos 
grupos formados de garantir a sua existência a partir de uma estrutura programática, além de seus 
limites da universidade. Nesse aspecto, o partido político se torna o principal agente para exercer 
esse papel. 
 
Segundo Boschi (1985), o direcionamento dos movimentos sociais para a ação institucional leva 
esse movimento a aspectos importantes como no caso de alicerçar uma forma organizativa, 
efetuada pela consciência jurídica e que reforça os laços entre os membros mobilizados. Importa 
reter da diversidade desse enfoque institucional uma possível tendência à institucionalização dos 
movimentos sociais mais abrangentes e duradouros. 
Isto quer dizer, referenciar-se pelo sistema institucional não se apresenta necessariamente como 
um fato alheio à cultura política e à vida social mediada pelos movimentos. Sendo assim, o intuito 
de atingir a representação política via ação num partido constitui uma aproximação integradora 
junto à institucionalidade, a qual, por sua vez, pretende ser a forma de assegurar formalmente os 
direitos sociais requeridos. 
20 
 
 
Considerações FinaisO governo Lula ao declarar-se comprometido com uma política econômica conservadora e liberal, 
cria nos diversos setores populares da sociedade civil organizada, um clima de decepção em face 
de toda a sua trajetória política do passado. Esse fator atua diretamente numa reconfiguração das 
formas do diálogo entre os movimentos sociais e o partido político, trazendo à tona a ideia do 
desgaste da representação política via partidária. Esse discurso foi bastante utilizado pelo grupo 
estudado O Coletivo na tentativa de angariar representatividade no ME da UFBA, (durante o 
período da greve estudantil de 2004) ao aproveitar-se das disputas políticas internas e partidárias 
(seja entre tendências ou não), naquele período. A relação que esses grupos mantinham com a 
esfera partidária e consequentemente como o Governo atuou decisivamente para o fortalecimento 
de um discurso apartidário, no momento onde a maior questão reivindicativa do ME era a Reforma 
Universitária proposta pelo Governo Federal. 
 
Nesse sentido, o grupo O Coletivo “surfou” na onda da decepção provocada pelo governo Lula, 
aproveitando-se desse quadro para o seu fortalecimento, principalmente durante a campanha para 
o DCE, em 2005, em pleno auge da crise do “mensalão”, possuindo um discurso de autonomia 
frente ao Governo, Partido e Reitoria, como se percebe no discurso de um dos panfletos 
distribuídos na campanha: “Estamos num momento de efervescência do país, onde percebemos 
claramente que precisamos agir com organização para uma transformação social deste sistema 
corrupto e desigual.” 
 
Isso não quer dizer que a atuação dos grupos vinculados aos partidos que fazem parte da base do 
Governo não tenha sido modificada, principalmente ao compararmos com o período FHC (Fernando 
Henrique Cardoso). De fato, é possível perceber que existiu principalmente no primeiro ano do 
Governo Lula, uma ausência de reivindicações do ME no que se refere ao governo federal e 
durante a greve de 2004, uma tentativa de poupar esse governo de críticas face às pautas 
apresentadas, o que, como disse antes, fortaleceu e muito o crescimento do grupo independente. 
 
Entretanto, a entrada de alguns membros do grupo O Coletivo na corrente O Trabalho do PT, dá 
uma reviravolta na análise pretendida nesse estudo, isso porque ao iniciar a pesquisa, o grupo 
ainda não tinha tido nenhuma aproximação orgânica com partidos. Através de fluxos e refluxos, a 
construção do relacionamento apresenta contradições que a pesquisa levou em consideração ao 
delineá-la. Ao longo do período estudado, foram perceptíveis as mudanças nas relações 
conflitantes entre um conjunto de mobilizações e a institucionalidade. Tais mudanças oscilam entre 
21 
 
a defesa da autonomia e independência em face dos meandros partidários e do aparelho estatal e 
uma postura de vínculo partidário e comportamento de alinhamento com a corrente a qual se 
aproximou, seguindo em direção à esfera institucional. 
 
O que é teoricamente inovador e politicamente crucial é a necessidade de passar além das 
narrativas de subjetividades originárias e iniciais e focalizar aqueles processos que são produzidos 
na articulação dos diferenciados contextos. Ao considerar a relação entre os movimentos sociais, a 
administração pública e as instituições partidárias, podemos concluir que o movimento aqui 
estudado não se configurou como possuindo autonomia, porém tampouco o partido representou 
uma forma superior de consciência social e de organização, no sentido de ser o educador que se 
dirige aos movimentos sociais, pois, se isso fosse verdade, o discurso autônomo nem mesmo 
existiria. O que houve foi uma relação pragmática entre o ME e o partido, que vem da necessidade 
do movimento de perdurar ao longo dos anos. Portanto, é desconstruída a necessidade de um 
antagonismo, em detrimento dos interstícios ou sobreposições, já que os atores não mais se 
estabelecem como possuindo uma identidade única, como é o caso do grupo “Coletivo” que inicia 
sua formação, defendendo o discurso da autonomia e tendo a maioria dos seus membros 
escolhido, na gestão, um ponto de vista positivo sobre a presença dos partidos políticos. 
Poderíamos falar de um retorno às formas tradicionais, possuindo, contudo, novos espaços de 
sociabilidade, ou seja, os estudantes não foram atraídos pelas velhas formas de atuação política, 
mas sim este movimento se “reciclou” para garantir um melhor diálogo com as distintas formas de 
militância. 
 
Outro aspecto conclusivo nesse trabalho se refere à superação da fase em que se insistia na 
unidade de interesses entre mobilização popular e oposição ao governo, assim como se reinterpreta 
o fato de que a fragmentação dos movimentos sociais adviria do influxo dos partidos políticos. A 
relação estabelecida entre as instâncias governamentais e o quadro partidário não se confunde com 
a forma peculiar de superar o caráter localista dos movimentos, pois seria manter uma visão 
estanque em dois campos. A complexidade do relacionamento instrumental consiste em que este 
implique ora em apoio ora em pressão. 
 
 
 
 
*Simoa Borba Lins é Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia. 
22 
 
 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÀFICA: 
 
 
ALMEIDA, Jorge. Evolução de imagem do governo Lula e comportamento eleitoral em 2006. Política & 
Sociedade, Salvador, n. 10, abril de 2007. 
___________. Estado, hegemonia, luta de classes e os dez meses do governo Lula. 2007.
 
 
 
BOAVENTURA e AVRITZER. Democratizar a democracia: os caminhos da democracia participativa. 
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. 
 
BOBBIO, Nobert. O futuro da democracia: Uma defesa das regras do jogo. 2 ed. Rio de Janeiro: Paz e 
Terra, 1986. 
 
BORON, Atílio. Os “novos Leviatã”. E a pólis democrática: neoliberalismo, decomposição estatal e 
decadência da democracia na América Latina. Pós-neoliberalismo II: Que Estado para que democracia? 4º 
ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2004. 
 
BORJA, Jordi. Movimientos sociales urbanos. Buenos Aires, SIAP, 1975. 
 
BOSCHI, Raul. A arte da associação: Política de base e democracia no Brasil. Rio de Janeiro: 
IUPERJ/Vertice. 1989. 
 
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Tradução Fernando Tomaz. 2 ed, Rio de Janeiro: Beltrand Brasil, 
1998. 
 
_______. A Trajetória dos movimentos sociais. Anos 90 Política e sociedade no Brasil. Evelina Dagnino 
(org.). São Paulo: Brasiliense, 1994 
 
CASTELLS, Manuel. Movimentos sociales urbanos. México: Siglo XXI, 1976. 
 
_______. Cidade, democracia e socialismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. 
 
COELHO, Teixeira. Cultura e cultura política dos jovens. Revista USP, São Paulo: v.32, p. 156- 164, Dez/ 
Fev, 1996- 1997. 
23 
 
 
COHEN, Jean. Sociedade civil e globalização: Repensando Categoria. Revista Dados, Rio de Janeiro, 
vol.46, n.3, 2003. 
 
COUTO, Cláudio G. O desfio de ser Governo: O PT na prefeitura de São Paulo (1989-1992). Rio de 
Janeiro: Paz e Terra, 1995. 
 
CRUZ, Sebastião. 1968 – Movimento estudantil e crise na política brasileira. In._____. O presente como 
historia: Economia e política no Brasil pós 64. Campinas: IFCH. 1997, cap. 8, p. 279-312 (coleção 
trajetória 3). 
 
FONTES, Leandro. Feridas Abertas: PT vs. PT. Carta Capital, ano. XIII, n. 431, p.20-25, 14 de fev. 2007. 
 
FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Petrópolis: Vozes, 1972. 
 
GOHN, Maria da Glória. Teoria dos movimentos sociais: Paradigmas clássicos e contemporâneos. 3 ed. 
São Paulo: Loyola, 1997, 383 p. 
 
____________. Movimentos sociais no inicio do século XX: Antigos e novos atores sociais. Petrópolis- 
RJ: Vozes, 2003 
 
ESPIÑEIRA, Maria Victória. Estudantes universitários:Entre as novas e velhas formas de participação. 
ÁGERE: Revista de educação e cultura. Salvador, v.2, n.3, p.91-103, Jun./ Jul. 2001. 
 
________ . Democracia e cultura política dos universitários brasileiros. 2002. Tese (Doutorado em 
Ciência Política) - Universidade Nacional de Santiago de Compostela. 
 
GOMEZ, José Maria. Política e democracia em tempo de globalização. Rio de Janeiro: Vozes, 2000. 
 
GRAMSCI, Antonio. Maquiavel a política e o Estado moderno. 2º ed.Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 1976. 
 
HABER, P. L. Processo político e identidade. vol.31, n.1. 1996. 
 
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Silva e Guacira Louro. 7º 
ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. 101p.Titulo Original: The question of cultural identity. 
24 
 
 
HELLER, Agner; FEHÉR, Ferenc. A condição política pós-moderna. Rio de Janeiro: Civilização, 1998. 
 
LEYDET, Dominique. Crise de Representação: O modelo republicano em questão. Retorno ao 
republicanismo. Sergio Cardoso (org.). Belo Horizonte: UFMG, 2004. 
 
LOJIKNE, Jean. O Estado capitalista e a questão urbana. São Paulo: Martins Fontes, 1981. 
 
JORNAL, O Trabalho. site: http://www.jornalotrabalho.com.br/quemsomos.html 
 
MELUCCI, Alberto. Um objetivo para os movimentos sociais?. Lua Nova Revista de Cultura e Política, 
São Paulo, n.17, p.49-64, Jun.1986. 
 
MISCHE, Ann. De estudantes a cidadãos: rede de jovens e participação política> Revista Brasileira de 
Educação, n.5 e 6, p.134-150, 1997. 
 
________. Rede de jovens. In: Tendências e Debates, nº31, abr/maio/jun de 1996. Disponível em: htto:// 
www2.fpa.org.br/portal/modules/news/article.php?storyd=2106 
 
MOUFFE, Chantal. Globalização e cidadania democrática. Tradução de conferencia do Programa de pós-
graduação em Direiro da PUCPR, em 19/03/2001. 
 
NAVARRO, Caio. As esquerdas e a redescoberta da democracia. Anos 90 Política e sociedade no Brasil. 
Evelina Dagnino (org.). São Paulo: Brasiliense, 1994. 
 
NOGUEIRA, Marco Aurélio. Um estado para a sociedade civil: Temas éticos e políticos da gestão 
democrática. São Paulo: Cortez, 2004. 
 
OFFE, Claus. A democracia partidária competitiva e o Welfare State Keynesiano: Fatores de estabilidade e 
desorganização. Dados- Revista de Ciências Sociais, vol. 26, n.1. 1983. 
 
PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resoluções de Encontros e Congresso. São Paulo: Editora 
Fundação Perseu Abramo, 1998. 
 
PATARRA, Ivo. O Governo de Luiza Erundina. São Paulo: Geração editorial, 1996. 
 
25 
 
RUCHEINSKY, Aloísio. Nexo entre atores sociais:Movimentos sociais e partidos políticos. Rio de 
Janeiro: BIB, n.46, p.73-112, 1998. 
 
SADER, Emir. Lula: Uma oportunidade perdida? Disponível em: 
http://resistir.info/brasil/oportunidade_perdida.html 
 
SANTOS, Boaventura. Pela mão de Alice: O social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 
1995. 
 
SINGER, André. O PT. Coleção Folha Explica. São Paulo: Publifolha, 2001. 
 
SINGER, Paul. Um governo de esquerda para todos: Luiza Erundina na prefeitura de São Paulo (1989-
1992), São Paulo: Brasiliense. 1996. 
 
THERBORN, Göran. As teorias do Estado e seus desafios no fim de século. SADER, Emir (org.). Pós-
neoliberalismo II: Que Estado para que democracia? 4º ed.Petrópolis: Vozes, 1999. cap.3, p.79-89. 
 
TOURAINE, Alain. Palavra e Sangue. Política e Sociedade na América Latina. Campinas: UNICAMP/ 
Traj. Cultura, 1989. 
 
____________. Como sair do liberalismo. Bauru, SP: EDUSC, 1999.

Continue navegando

Outros materiais