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Código Napoleão

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Thiago José de Souza Oliveira, Graduado em História, Bacharelando em Direito pelo Centro Unisal Lorena.
Professora Orientadora: Luiza Helena Lellis Andrade de Sá Sodero Toledo, Advogada, Mestre em Direitos Sociais e Cidadania, Especialista em Direito Público, Professora Universitária e da Pós-Graduação, Competência nas áreas do Direito Civil, Teoria Geral do Direito, Direito Previdenciário, Direito de Família, Direito de Sucessões, Introdução do Estudo do Direito, História do Direito, Hermenêutica Jurídica, Teoria Geral do Processo, Direito Processual Civil e Direitos Sociais e Direito das Minorias.
Napoleão e o Código Civil Brasileiro:
França e Brasil num mesmo ideal
Fevereiro 2011
Resumo
A França possui uma legislação sólida e totalmente diversificada da razão das demais sociedades, não dispondo assim da constante modificação ou reformulação do Sistema Judiciário, exemplo é a codificação Civil, que permanece desde 1804, idealizada por Napoleão Bonaparte.
Cabe, portanto, indagar por que a França, diferente dos demais países do mundo, permitiu enraizar sua codificação, não tendo necessidade de repensar sua legislação, estando esta totalmente atual e moderna, mesmo passando por inúmeras crises e por uma Revolução que derrubou o modo de governabilidade absolutista? Uma legislação sólida seria a solução para o problema judiciário brasileiro? Questões estas, fazem jus a principal problemática do Sistema Judiciário Brasileiro, tanto no setor Civil quanto Penal.
Palavras-Chave: Código Napoleão. França. Código Civil. Brasil. América Latina.
Sumário: 1. Introdução. 2. A codificação como conceito. 3. O Código Civil Francês. 4. O Brasil Napoleônico: a codificação dos direitos civis. 5. Conclusão. 6. Referências.
Abstract 
France has a law firm and fully diversified because of other societies, Civil example is the encoding that remains since 1804, created by Napoleon Bonaparte.
It is, therefore, to ask why France, unlike other countries in the world, has allowed its root coding, no need to rethink their laws, and this totally current and modern, even going through several crises and a revolution that overthrew the way absolutist governance? A law firm would be the solution to the problem the Brazilian judiciary? These issues, are entitled to the main issue of the Brazilian judiciary system, both in the Civil and Criminal.
Keywords: Code Napoleon. France. Civil Code. Brazil. Latin America.
Contents: 1. Introctution. 2. The coding and concept. 3. The French Civil Code. 4. The Napoleonic Brazil: the codification of civil rights. 5. Conclusion. 6. References.
1. Introdução 
Se o Código Civil Brasileiro de 1916 perdurou por oitenta e seis anos, sendo revogado pela codificação de 2002, acarretando atualmente, o Código de Processo Civil, a uma nova formulação, o Código de Napoleão promulgado em 21 de março de 1804 permanece sólido e, completa neste ano duzentos e sete anos.
Este complexo paradigma orientou e influenciou a legislação de inúmeros países ao longo de dois Séculos, irradiando força na Ásia, América, África e demais países da Europa, sendo o primeiro Código moderno europeu que marcou decisivamente na evolução do Direito Privado.
Em pesquisas acarretadas a respeito da formação e instituição dos Sistemas Legislativos, é de relevante importância observar que o “Código Napoleão” dispôs de referência ao modo de codificação, Código Modelo, mas, muito mais do que isto, uma inspiração. Quase todos os países da América Latina tomaram-no por modelo: Argentina, Paraguai, México, Bolívia, Peru, Venezuela, Chile e Brasil.
Guiado, o Código de Napoleão, pelas ideias iluministas e pela vontade revolucionária francesa, estruturou-se pelo tripé: liberdade, igualdade e fraternidade, revelando, até nossa atual sociedade, surpreendente modernidade e adaptabilidade à razão social, acompanhando as reformulações da população, principalmente francesa que, em dois séculos passou de uma sociedade patriarcalista à afirmação igualitária entre homens e mulheres.
Este artigo não dispõe de um caráter doutrinário muito menos em um trabalho aprofundado a respeito do Sistema Judiciário Brasileiro, mas, apresenta uma breve introdução historiográfica sobre a estruturação da Codificação Civil do Brasil, no qual dispôs utilizar por base ideológica os entendimentos civilistas francês caracterizado pelo então Imperador Napoleão Bonaparte.
Qual a importância em falar sobre um modelo jurídico antigo, ou sobre a estruturação social de um país como a França? O que dispõe o Brasil em caráter legislativo a França? Fato é que, muito mais que em simples termos judiciários, a França atuou fortemente no país auxiliando em sua formação e estruturação, agindo por vieses político, econômico, cultural e também legislativo. A França esta muito mais interligada a razão social brasileira que qualquer outro país.
2. A codificação como conceito
Em razões primárias, a codificação é um movimento jurídico decorrente do Século XIX no Ocidente, no qual se subdividia em duas bases centrais, o Direito Continental (Direito Codificado) que, teve por inicio o Código de Napoleão, e o Sistema de Common Law (Grupo Anglo-Americano).
Código, na linguagem latina, Codex ou Caudex, denotava tábua, prancha de madeira. O termo significa, no entanto, o material no qual se escreviam as leis, posteriormente passou a designar a própria lei, independentemente do material em que estivesse escrita, como exemplo, a grande pedra em que Hamurabi, há mais de quatrocentos anos mandou gravar as leis do seu império é chamada igualmente de Códigos.[1: GOMES, Orlando. Raízes Históricas e Sociológicas do Código Civil Brasileiro. In Revista AJURIS: Porto Alegre, Março 1977, v. 9.]
Mas há relevante dispersão sobre o conceito de código, entre a razão de conjunto de normas separado por certa ordem e, “a priori” o código em si. O código pretende representar um sistema homogêneo, unitário, racional, aspirando a ser uma construção lógica completa, erigida sob o alicerce de princípios que se supõem aplicável a toda a realidade que o direito deve disciplinar.[2: VELLOSO, Andrei Pitten. Mutações Paradigmáticas da codificação: Do código civil de 1916 ao código civil de 2002. In. Revista da Procuradoria-Geral do Estado, Porto Alegre – págs. 9-52, 2004.]
No entanto, não se resume o código a uma obra perfeita. Os códigos ficam velhos, dispondo da necessidade de serem emendados por leis dispersas, chegando a um ponto em que deve ser substituído por outro, por não mais atender a razão social e, por ter se transformado em colcha de retalhos, em virtude das novas leis que lentamente o reformaram.
Via de regra, a codificação idealizada por Napoleão Bonaparte chama a atenção, não por ser de vontade de um imperador, mas, por mesmo sofrendo inúmeras alterações, persistiu a temporalidade mantendo, conservando, sua estrutura original. Seu espírito reflete a mentalidade individualista da época. Foi considerado o Código da Burguesia, por ter atendido aos interesses e aspirações desta classe, não se redigiu no propósito de ser uma lei de privilégios, ao contrário, a intenção foi elaborar um código impessoal, expressão eterna das coisas, para ser aplicado sem distinção de classe, e sem limite de tempo; contudo, o Código Napoleão marca a Era das Codificações, definindo-se como a frequente elaboração de códigos, sobretudo nos estados europeus, a partir do Século XVIII, tendo forte relação de influência, uns acarretando na criação de outros.
3. O Código Civil Francês
	Entre o período de 1799 e 1815, a política europeia estava centrada na figura carismática de Napoleão Bonaparte, que de general vitorioso se tornara imperador da França, com o mesmo poder absoluto da realeza que a Revolução Francesa, em 1789, derrubara.
	Depois de ter se destacado na guerra contra a Itália e na Campanha do Egito, Napoleão é escolhido para chefiar o golpe que depõe o Diretório, em 18 Brumário. O golpe de 18 Brumário retoma princípios do Antigo Regime e encerra dezanos de lutas revolucionárias que influenciariam profundamente os movimentos de independência na América Latina e a organização dos países da Europa. Em 1804 Napoleão cria o Império, uma espécie de monarquia vitalícia que se sustenta pelo êxito das guerras e reformas internas.
Neste período de reconstrução das bases sociais da França, é promulgado o Código Napoleônico, que garante a liberdade individual, a igualdade perante a lei, o direito à propriedade privada, o divórcio e incorpora o primeiro código comercial.
Após um plebiscito, Napoleão coroa-se imperador, em 1804, com o nome de Napoleão I. Intervém em toda a Europa, derrotando as tropas austríacas, prussianas e russas, e passa a controlar a Áustria, Holanda, Suíça, Itália e Bélgica. Avança para a Espanha, enfrentando resistências de guerrilheiros locais. Temendo a expansão napoleônica, a família real portuguesa foge em 1808 para o Brasil, sua colônia na América. Em 1812 o Império Napoleônico incorpora 50 milhões dos 175 milhões de habitantes do continente europeu e introduz as reformas burguesas nos demais países da Europa, quebrando as estruturas feudais remanescentes. Impõe o sistema métrico decimal, implanta o direito moderno e difunde amplamente as ideias de liberdade e igualdade da Revolução Francesa.
A revolução francesa muda à forma de governo e as leis tornam-se claras, sistemáticas e objetivas. Antes conhecido como código civil da França, de 1804, o Código de Napoleão teve como ponto de partida os sistemas anteriores, ou seja, todos os direitos anteriores seriam analisados sob o critério da razão. Caso aprovados pela racionalidade, os direitos eram adicionados ao Código de Napoleão, que, depois da filtração dos melhores aspectos dos demais direitos, passaria a conter o melhor direito, que seria resultado da aglomeração, da essência dos demais. No entanto, Napoleão Bonaparte determina que somente suas leis fossem cumpridas, sendo totalmente esquecidas as antigas.
O Código Civil Francês, Código Napoleão, seguido de uma série de outros (Processo Civil, Comercial, Criminal e Penal), promulgados entre 1804 e 1811, foram às manifestações jurídicas da vitória da jovem burguesia francesa sobre a antiga nobreza fundiária e seus privilégios feudais. Foi o redesenho de toda uma sociedade saída do rescaldo da grande revolução de 1789, do incêndio que destruía boa parte do Antigo Regime.
Para a execução do grande propósito convocou, a partir de 12 de agosto de 1800, a colaboração de quatro grandes juristas da república: Tronchet Presidente da Cour de Cassation, antigo e respeitado processualista, Portalis membro do Tribunal de Presas, advogado e grande jurista, Bigot de Préameneu Comissário do Governo junto ao Tribunal de Cassation e Malleville Juiz da Cour de Cassation, os grandes sábios das leis da época. Napoleão somente se fez presente para acompanhar as discussões que travavam das questões do direito de família. O primeiro-cônsul, descendente de um clã da Córsega, os Buonaparte, originados da Itália, foi férreo defensor da autoridade paterna e da herança dos filhos legítimos (chegou a reduzir a parte dos filhos naturais, ainda que tendo a paternidade reconhecida), supervisionando a transição jurídica da autoridade do patriarca feudal para o pater familia burguês, desconhecendo-se, todavia, outras intromissões diretas dele na elaboração final do texto.[3: François Denis Tronchet nasceu em 23 de março de 1723 em Paris, Morreu em 10 de março de 1806, Paris; filho de um Procurador do Parlamento Francês. Après de solides études, il devient avocat au Parlement de Paris en 1745 , jurisconsulte et homme politique français .Depois de estudar, ele se tornou um advogado no Parlamento de Paris em 1745, advogado e político francês. Disponível em: http://www.universalis.fr/encyclopedie/francois-denis-tronchet/ Acesso: 27/02/2011.][4: Jean-Etienne-Marie Portalis, nascido em 01 de Abril 1746 e morreu em Paris em 25 agosto 1807, Advogado, estadista, jurista, filósofo do Direito francês, membro da Academia Francesa e Grande Águia da Legião de Honra (1805). Disponível em: http://www.britannica.com/EBchecked/topic/471046/Jean-Etienne-Marie-Portalis Acesso: 27/02/2011.][5: Felix Jean Julien Bigot de Préameneu nascido em 26 de Março de 1747 em Rennes, faleceu em 31 julho 1825 em Paris. Disponível em: http://fr.wikipedia.org/wiki/F%C3%A9lix_Julien_Jean_Bigot_de_Pr%C3%A9ameneu Acesso: 27/02/2011.][6: Não há referência biográfica disponível.][7: VILELA, Tulio. Depois da Era Napoleônica, a Europa nunca mais foi a mesma. Disponível em: http://educacao.uol.com.br/historia/ult1690u45.jhtm Acesso: 28/02/2011. ]
O texto, conhecido sob o nome de “Projeto do Ano VIII”, foi submetido ao trabalho do Conselho de Estado, sob o controle de Cambaceres, segundo Cônsul. 
Dentro do Código de Napoleão estava todo o Direito, mas não quer dizer que constituíam todas as leis. Para as novas situações que surgiam sem uma lei específica para julgá-las, ocorreria uma interpretação gramatical do Direito que constitui o Código de Napoleão. Se essa interpretação não fosse suficiente, far-se-ia o uso da interpretação lógica das ideias trazidas pelas leis. Caso essa última interpretação também não fosse suficiente, faria-se utilizar da interpretação sistêmica, em que se analisaria todo o sistema jurídico para se chegar a uma conclusão, que era um conjunto que seguiria o mesmo sentido.
Toda a estrutura do Código foi dividida em três grandes partes, sendo, a que trata do estatuto privado (Das pessoas); a das coisas pertinentes à propriedade (Dos Bens) e, por último, a que visava à compra e venda da mesma (Da Aquisição da Propriedade), confirmando o desaparecimento da aristocracia feudal e a ampla adesão aos princípios sociais conquistados pela Revolução de 1789.
Os seus pilares básicos foram os direitos da pessoa (liberdade individual, liberdade de consciência, liberdade de trabalho etc...), com plena isonomia de todos frente à lei; a hegemonia da propriedade, entendido como um direito anterior à sociedade, absoluto e individualista, tendo o dono estatuto de soberania plena sobre os bens móveis e imóveis, estendido inclusive sobre o restante da sua família, estando o próprio matrimônio na compreensão como de um negócio “un affaire d´argent”, sendo submetido à lógica dos contratos e à regência dos notários ; os interesses do Estado, secular e laico, se sobrepunham aos da propriedade na questão do direito ao subsolo e das necessidades de desapropriação para fins de utilidade pública, bem como o supervisionador legal da faculdade de testar. Além de legalizar definitivamente o divórcio, pondo fim à concepção sagrada do matrimônio adotada pela Igreja Católica, sustentou a igualdade de todos os filhos frente à herança paterna (instrumento jurídico voltado a eliminar os direitos da primogenitura herdado dos tempos medievais e coluna que sustentava a transmissão integral do patrimônio da aristocracia feudal).[8: Interessante ressaltar que, Karl Marx, na obra Manifesto Comunista de 1848, faz crítica mordaz ao mundo burguês emergente presente no Código Civil Francês, Código Napoleão, “A burguesia, onde ascendeu ao poder, destruiu todas as relações feudais, patriarcais, idílicas. Rasgou sem compunção todos os variegados laços feudais que prendiam o homem aos seus superiores naturais e não deixou outro laço entre homem e homem que não o do interesse nu, o do insensível ‘pagamento em dinheiro’”. ]
Para tanto, o Código Napoleão foi concebido como um conjunto de leis que regulamentam as relações entre os cidadãos. É o Código das gentes, desenvolvido em torno do indivíduo. Apoiou-se, portanto, em três pilares fundamentais: a propriedade, o contrato e a responsabilidade civil.
O código, no entanto, pouco se preocupou com as questões industriais, afinal as fábricas ainda eram incipientes na França na transição dos séculos XVIII para XIX, ou com o que era pertinente ao trabalho. Aos operários, por exemplo, continuaram interditas quaisquer tipos de coalizões para evitar a continuidade dascorporações de oficio, associações que contradiziam com os princípios da liberdade de trabalho.
Ao sedimentar os princípios da unidade do direito, abolindo definitivamente com os foros feudais, fazendo com que ele fosse aplicado indistintamente a todos os habitantes do mesmo território, que doravante houvesse uma unidade da fonte jurídica, obrigando a que todos os litígios fossem submetidos e regulados por um só em um mesmo direito, ao tempo em que obedecia a orientação da independência do judiciário, tão querida e proclamada por Montesquieu, manifestando ainda aberto às transformações provocadas pela mudança de mentalidade, o código civil dos franceses ganhou a territorialidade mundial.
O que o Código Napoleão fortemente representa para a sociedade mundial, é justamente as influencias decorrentes a razão da vida social. “O casamento, ao ver diminuída a sua aura sagrada cultivada pelo cristianismo, deslocou-se da esfera do altar e da liturgia matrimonial para o âmbito magistral, denotando em um contrato. Ao invés do matrimônio arranjado por acordos pré-nupciais orientados pelos interesses familiares ou dinásticos, como era o costume entre os nobres, abriu-se o caminho para a livre escolha dos nubentes, dominada pelos sentimentos”.[9: SCHILLING, Voltaire. Napoleão e as partes do código. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/2003/06/24/000.htm Acesso: 27/02/2011.]
	A propriedade da terra deixou de ser entendida como um patrimônio específico de uma classe social, da aristocracia fundiária que vivia de rendas, protegida por uma legislação costumeira que vinha dos tempos medievais, para estar sujeita aos interesses gerais do mercado, objeto de compra e venda regulado pela lei dos contratos.
	O antigo conceito de renda foi substituído pelo do lucro, ao tempo em que se rompiam definitivamente as amarras que prendiam os camponeses às herdades dos nobres, e com toda a gama de obrigações que acompanhava a situação deles; num conjunto, em que as guerras Napoleônicas e a disseminação das novas leis por boa parte da Europa Ocidental, foram fundamentais na liberação dos trabalhadores da terra do jugo feudal, permitindo que milhares deles pudessem, depois, ao longo do século XIX, emigrar para os países do Novo Mundo.
Está em vigor, o Código Napoleão, desde o Império até a Quinta República atual, servindo de referência para inúmeros legisladores de outros países ao longo dos séculos XIX e XX. Esse estatuto permaneceu quase inalterado durante mais de um século, exceto a abolição do divórcio com a Lei de 8 de maio de 1816. 
O que se verifica de mais curioso é, embora a França tenha posto em vigor mais de dez constituições ao longo dos dois últimos séculos, sendo a Constituição de 4 de outubro de 1958, regente do funcionamento das instituições da Quinta República a última delas, sempre conservou o Código Civil de 1804, convertido agora em verdadeiro monumento da cultura jurídica e política do povo francês e gozando de grande prestígio internacional por tudo que representa.
“Sua sobrevivência histórica é um convite par refletir sobre sua dimensão simbólica, sobre sua influência como modelo jurídico e sobre os valores fundamentais da civilização que encarna, pois o Código Civil sempre foi instrumento de afirmação de direitos e de valores aos quais numerosos países reconheceram caráter universal”.[10: MIGUEL LOBATO GÓMEZ. O Código Bicentenário. Revista da Emerj: Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, v. 7, n. 26, 2004, p. 19-23.]
4. Brasil Napoleônico: A codificação dos direitos civis
	O Brasil, a partir da chegada dos portugueses em 1500, dispusera em vigência as Ordenações do Reino de Portugal, não tendo a nova colônia noções de codificação, mantidas mesmo após a Independência. Sendo que, em 1867, Portugal pôs a lume um Código Civil, inspirado no modelo francês, estando o Brasil libertado do seu domínio, de modo que esse estatuto aqui não vigorou.
	O Direito português vigente no Brasil, estando contidas nas Ordenações Reais, fora constituída como, 1º: Ordenações Afonsinas, 1500-1514, nascente do séc. XV, atribuídas a João Mendes, Rui Fernandes, Lopo Vasques, Luís Martins e Fernão Rodrigues. Foram elaboradas sob os reinados de João I, Duarte e Afonso V. Como o trabalho foi terminado no reinado de Afonso V, recebeu o nome de Ordenações Afonsinas em 1446; Compunham-se de cinco livros, compreendendo Direito Penal, Direito Civil, Direito Comercial, Organização Judiciária, Competências, Relações da Igreja com o Estado, Processos Civil e Comercial.
	2º: Ordenações Manuelinas, 1514-1603, compilação determinada pela existência de vultoso número de leis e atos modificadores das Ordenações Afonsinas. Foram seus compiladores: Rui Boto, Rui da Grá e João Cotrim. Iniciaram o trabalho em 1501, no reinado do rei de D. Manuel I, e terminaram-no mais ou menos, em 1514. Contendo as mesmas matérias das anteriores Ordenações.
	3º: Ordenações Filipinas, que, juntamente com as Leis Extravagantes, leis avulsas não integradas nas Ordenações, tiveram vigência no Brasil de 1603 até 1916. Esta compilação data do período do domínio espanhol, sendo devida aos juristas Paulo Afonso, Pedro Barbosa, Jorge de Cabedo, Damião Aguiar, Henrique de Sousa, Diogo da Fonseca e Melchior do Amaral, que começaram seus trabalhos no reinado de Felipe I, Rei da Espanha de 1581-1598; terminaram-no em 1603, no de Felipe II, 1598-1621.
	Relevante nestas Ordenações é que não constituíam Códigos, mas, compilações de leis, atos e costumes. Perduraram no nosso País as Ordenações do Reino até 1916 quando, então, nasceu o Código Civil, cujo anteprojeto foi elaborado pelo notável jurista cearense Clóvis Beviláqua. 
	Não é recente a ideia de se condensar as normas jurídicas de um sistema em um livro ou modelo organizado. A codificação do direito civil foi pioneira em dois códigos: o francês (Código Napoleão) e o alemão (Burgerlich Gesetzbuch - BGB). O primeiro exerceu grande influência em todos os códigos do Século XX. O alemão, por sua vez, influenciou regiões distantes e povos com culturas diversas, como a japonesa. Os principais seguidores do código alemão foram os suíços e os helênicos.
	No Século XX, vários países codificaram suas leis civis, enquanto outros as substituíram. As codificações mais importantes do Século XX foram: Suíça, 1912, Brasil, 1913, México 1928, Peru 1936, Venezuela 1942, Itália 1942, Turquia 1926, Grécia 1945, Tailândia 1935, Egito 1949, Portugal 1967.
	O modelo de Código Civil Brasileiro de 1916 teve como principal influência o BGB, Bürgerlisches Gesetzbuch, em vigor desde 1900, do qual Clóvis Beviláqua era profundo conhecedor. Fiel a esse paradigma, adotou a classificação germânica das matérias.
	Em 1890 o Governo entregou a Coelho Rodrigues à tarefa de apresentar um anteprojeto de uma Codificação, que por sua vez também foi vetado pela alegação de falta de originalidade e que não expressava a realidade nacional. O anteprojeto que foi transformado na Lei Nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916; o Código Civil Brasileiro fora, no entanto, elaborado pelo grande jurista Clóvis Beviláqua. O anteprojeto foi muito discutido no Congresso Nacional e sofreu numerosas emendas. Sendo perceptível no código grande influência das codificações francesa, portuguesa e alemã.
	Não obstante, Clóvis Beviláqua, apresentou pontos de afinidade entre o Código Civil de 1916 com o Código Francês, no que se refere à aplicação temporal da norma, pois, ficou preservada a regra consagrada no Código Napoleão segundo a qual a lei dispõe para o futuro, não podendo retroagir.
	Não se pode negar que, no fundamental campo da responsabilidade civil, o Código Napoleão de 1804 foi suporte e modelo para o nosso estatuto civil, sendo certo que a regra moral e paradigmal do neminem laedere, segundo a qual a ninguém é permitido causar lesão a outrem. 
	“Quanto aos fatores jurídicos e morais, o direito brasileiro pertence, como todos os da América do Sul, ao grupo do direito francês. Ele se prende à mesma tradição do direitoromano e aos mesmos preceitos do cristianismo e da civilização ocidental, mas se apresenta com incontestável originalidade”.[11: ARNOLDO WALD. A evolução da responsabilidade civil e dos contratos no direito francês e brasileiro. Conferência proferida na Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro no dia 04.06.2004. Revista da Emerj: Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, v. 7, n. 26, 2004, p. 100.]
	A influência do Código Francês no direito civil brasileiro decorreu menos do seu texto escrito do que do seu contexto essencial e axiomático e da sua excelência epistemológica, descobertos pela notável doutrina francesa e vistos pelos olhos da jurisprudência, através de um rico trabalho de interpretação criativa e expansiva, de modo a adaptar e a fazer subsumir a lei às novas tendências e, principalmente, às necessidades decorrentes da revolução industrial e da evolução da sociedade no plano das relações humanas.
	Mas tanto na França, como no Brasil, o Direito incorporou sucessivas teorias, como a da culpa in eligendo e in vigilando, despertando à presunção de culpa e instituindo a responsabilidade objetiva como exceção.
	O Código Napoleão nasceu sem disciplinar questões fundamentais no plano da responsabilidade civil; não obstante, mercê de excepcional trabalho de interpretação da doutrina e dos tribunais, e da integração de outras normas, mostrando-se atual e paradigma, ainda nos dias de hoje.
	O Brasil, embora não tenha se inspirado no Código Civil Francês para redigir e idealizar a codificação de 1916, pois se adotou o modelo do Código Civil Alemão (BGB – Bürgerlisches Gesetzbuch), se inspirou na classificação germânica das matérias.
Portanto, a influência do Código Napoleão em institutos pontuais do Direito Civil Brasileiro até o final do século passado foi evidente, sensível e enriquecedor, embora no campo da responsabilidade civil tenha abolido a distinção francesa entre delitos e quase delitos para tratar de ambos como sendo atos ilícitos. Manteve-se a influência do Código Civil Alemão, inclusive a sua estrutura orgânica e a classificação germânica das matérias, evidentemente com aprimoramentos e soluções mais condizentes com a realidade social, abandonando o individualismo para priorizar a função e o sentido social da norma.
5. Conclusão
	No período em que afloraram a razão das codificações, constituía-se num instante histórico conturbado pelo desejo dominante da divisão dos poderes, separando da visão social a ideologia absolutista. O Estado se fragmentou, o pensamento racionalista e a vontade de se garantir a unidade política do Estado, conspiraram a favor da urgência das codificações.
	Dessa forma, a sociedade mundial observou as causas e essências da vivencia em comunidade, e os perigos e principalmente, a necessidade em possuir regras que garantissem a ordem sem a utilização da força do governo absoluto.
	No entanto, o Código Napoleão tivera relevante papel no modo de ordenamento social, pois, proporcionou de maneira clara e objetiva a organização da malha estrutural do país, sendo esta o principal fator de influência nos demais países.
	O Código de 1804 foi o responsável pela unificação da legislação civil e pelo sepultamento do pluralismo jurídico, admitindo apenas um único direito vigente para qualquer membro da sociedade. Ademais, fazendo parte e sendo o principal código da codificação capitaneada por Napoleão Bonaparte, é um marco na positivação do direito, como sistema, em que não se admitem lacunas, devido ao fato de abranger de forma clara e objetiva todo o direito vigente na sociedade francesa. Além disso, ganha envergadura o princípio da univocidade do direito, em que se destaca a postura de defender a existência de apenas um sistema jurídico, justamente aquele imposto pela ordem estatal.
	Contudo, a importante presença do Código Napoleão para a sociedade mundial é resumida na obra “Memorial de Santa Helena” redigida pelo próprio Napoleão Bonaparte no período em que estava no exílio na ilha de Santa Helena: "Minha verdadeira glória não foi ter vencido quarenta batalhas; Waterloo apagará a lembrança de tantas vitórias. O que ninguém conseguirá apagar, aquilo que viverá eternamente, é o meu Código Civil".[12: MACIEL, José Fabio Rodrigues. O código civil francês de 1804. Jornal Carta Forense, 1 de Dezembro de 2006. Disponível em: http://www.cartaforense.com.br/Materia.aspx?id=562 Acesso: 02/03/2011.]
6. Referências
AGUIAR DIAS, José de. Da responsabilidade civil. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, v. 2. 
BARROS MONTEIRO, Washington de. Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva. 
BEVILÁQUA, Clóvis. Código Civil, v. 5.
CARVALHO SANTOS. Código Civil Brasileiro Interpretado. 2. ed. Rio de Janeiro, v. 20, 1940.
GÓMEZ, J. Miguel lobato. O Código Bicentenário. Revista da Emerj: Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, v. 7, n. 26, 2004.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
KARL MARX. O manifesto comunista. 1848.
LUZ, Christine da. Como o Código Civil Francês se adaptou ao longo do tempo. Revista da Emerj: Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, v. 7, n. 26, 2004.
MACIEL, José Fabio Rodrigues. O código civil francês de 1804. Jornal Carta Forense, 1 de Dezembro de 2006. 
PONTES DE MIRANDA. Tratado de direito privado. Rio de Janeiro: Bookseller. TOMO 1, 2009.
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