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Direio Penal Especial Aula 2 11 Material de Apoio Magistratura

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Magistratura e Ministério Público 
CARREIRAS JURÍDICAS 
Damásio Educacional 
MATERIAL DE APOIO 
 
Disciplina: Direito Penal Especial 
 Professor: Victor Gonçalves 
Aula: 11 | Data: 15/06/2015 
 
 
ANOTAÇÃO DE AULA 
SUMÁRIO 
 
ABORTO 
1. Auto-aborto 
2. Consentimento para o Aborto 
3. Provocação de aborto com o consentimento da gestante 
4. Provocação do aborto sem o consentimento da gestante 
 
LESÕES CORPORAIS 
1. Lesões Dolosas Leves 
 
ABORTO 
 
(Continuação) 
 
Existem quatro modalidades de aborto criminoso no CP: 
 
1. Auto-aborto 
 
Aula passada. 
 
2. Consentimento para o Aborto 
 
Nesta modalidade pune-se a gestante que consente que terceira pessoa nela realize o ato abortivo. Trata-se de 
crime próprio porque o sujeito ativo é a gestante. 
 
Aqueles que incentivarem a conduta da gestante ou que pagarem para a realização do aborto em uma clínica serão 
partícipes do crime de consentimento para o aborto. O sujeito passivo é o produto da concepção. 
 
3. Provocação de aborto com o consentimento da gestante 
 
Artigo 126 do CP. Estamos aqui diante de uma exceção a chamada Teoria Unitária/Monista, segundo a qual todos 
os envolvidos em um ato ilícito devem responder pelo mesmo crime. A exceção reside no fato de que a gestante 
que consente comete crime menos grave previsto no artigo 124, CP, cuja pena é de detenção de 1 a 3 anos. Por sua 
vez, quem realiza o ato abortivo com a prévia autorização da gestante, pratica este crime do artigo 126 que tem 
pena um pouco maior: reclusão de 1 a 4 anos. Este crime é comum, pode ser praticado por qualquer pessoa, sendo 
médico ou não. 
 
Um médico que realize a curetagem é autor deste crime, o delito é provocar aborto com o consentimento da 
gestante, enquanto outras pessoas que trabalham na clínica são partícipes. 
 
Se for montada uma clínica de aborto para a prática reiterada de delitos dessa natureza, haverá também punição 
por crime de associação criminosa do artigo 288, desde que haja a associação de três ou mais pessoas para tal fim. 
 
 
 
 
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O sujeito passivo é o produto da concepção. 
 
4. Provocação do aborto sem o consentimento da gestante 
 
Artigo 125, CP. Pena de reclusão de 3 a 10 anos. 
 
Este crime pode ocorrer em duas situações: 
 
a) quando realmente não existe nenhum consentimento da gestante. 
Exemplo: chutar o ventre da gestante, colocar substancia abortiva sorrateiramente em sua medicação ou 
alimentação. 
 
b) quando existe o consentimento, mas ele é considerado nulo, o que ocorre em 5 hipóteses elencadas no artigo 
126, parágrafo único: 
 
I- se o consentimento foi obtido com o emprego de violência; 
 
II- se o consentimento foi obtido com o emprego de grave ameaça; 
 
III- se o consentimento foi obtido com o emprego de fraude (exemplo: companheiro para o médico para dizer que 
trata-se de gravidez de risco e que terá que ser feito o aborto); 
 
IV- se o consentimento é prestado por gestante não maior de 14 anos; 
 
V- se o consentimento é prestado por gestante deficiente mental. 
 
No caso de gestante doente mental ou menor de 14 anos, pode-se concluir que ela foi vítima de estupro de 
vulnerável. Por isso, se o aborto for feito com médico e com autorização do representante legal, o aborto não 
constitui crime, nos termos do artigo 128, II, CP. Por outro lado, se o aborto for feito apenas com base no 
consentimento da gestante menor ou deficiente mental, o crime será o do artigo 125, CP. 
 
O crime em estudo é comum, pode ser praticado por qualquer pessoa e admite coautoria e participação. 
Existe duplo sujeito passivo: o produto da concepção e a gestante. 
 
Quem dolosamente mata uma gestante, provocando com isso a morte do feto, incorre em homicídio e no crime do 
artigo 125, CP. 
 
 Observações Gerais - regras aplicáveis à todas as formas de aborto criminoso: 
 
a) objetividade jurídica: a vida humana intrauterina; 
 
b) elemento subjetivo: dolo direto ou eventual. Não existe crime de aborto culposo; 
Exemplo: Alguém culposamente atropelou uma gestante e ela perde o bebê: não responde por crime de aborto 
culposo, a punição será por lesão corporal culposa em que o sujeito passivo é a gestante. 
Exemplo: gestante dirige com imprudência, bate e mata o bebê: caso a conduta culposa causadora do aborto seja 
da própria gestante, o fato será considerado atípico. 
 
 
 
 
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c) abortamento de gêmeos: no caso de aborto de gêmeos, teremos dois crimes somente se ficar demonstrado que 
o agente sabia que eram gêmeos, pois, caso contrário, haveria responsabilidade objetiva; 
 
d) o crime de aborto em todas as suas modalidades se consuma no momento da morte do feto; 
 
e) todas as modalidades de aborto são compatíveis com o instituto da tentativa. É possível a tentativa quando 
realizado o ato abortivo, mas o feto venha a sobreviver, quer permaneça no útero da mãe, quer seja expelido com 
vida e sobreviva; 
 
f) haverá crime impossível por absoluta impropriedade do objeto se for realizado um ato qualquer, visando a 
provocação do aborto, mas ficar demonstrado que a mulher não estava grávida ou que o bebê já estava morto por 
causas naturais. Por sua vez, se for feito uso de alguma substância supostamente abortiva, mas posteriormente for 
feita prova de que não ocorreu o aborto porque referida substância não tinha qualquer poder abortivo, o fato é 
também atípico, mas por absoluta ineficácia do meio. 
 
 Figuras qualificadas do Aborto 
 
Artigo 127, CP. Neste dispositivo, em verdade, estão previstas duas causas de aumento de pena aplicáveis ao 
terceiro que provoca o aborto com ou sem o consentimento da gestante. A pena será aumentada em 1/3 se em 
razão do aborto ou dos meios empregados a gestante sofrer lesão grave. Além disso, a pena será aplicada em dobro 
se a gestante morrer. Essas figuras são exclusivamente preterdolosas (dolo no aborto e culpa na morte). Quando 
alguém mata dolosamente a gestante que provoca o aborto, responde por homicídio doloso e pelo crime do artigo 
125, CP. 
 
Exemplo: é realizado um aborto numa gestante de 8 meses, o feto sobrevive e a mãe morre: apesar de se tratar de 
crime preterdoloso, admite-se, excepcionalmente, a figura da tentativa, pois é possível na prática que o feto seja 
expelido com vida e sobreviva (tentativa de aborto) e que a gestante morra como decorrência culposa da manobra 
abortiva. 
 
 Aborto Legal 
 
O artigo 128 elenca duas hipóteses em que a provocação dolosa do aborto não constitui crime: embora o fato seja 
típico, essas duas hipóteses são causas de excludente de ilicitude. Possuem natureza jurídica de excludentes 
específicas da ilicitude: 
 
I- Aborto necessário ou terapêutico: possui dois requisitos para que não seja crime: 
a) que seja feito por médico; 
b) que não haja outro meio, senão o aborto, para salvar a vida da gestante. 
Exemplo: gravidez tubária: o crescimento do óvulo causaria a morte da gestante. 
 
Nesta figura não há necessidade do risco atual, bastando que o médico constate pelos exames que o 
prosseguimento da gestação poderá causar a morte. Quando a hipótese é de risco atual, qualquer pessoa pode 
realizar o aborto para salvar a gestante e, nesse caso, existe a excludente do estado de necessidade de terceiro. 
 
Neste inciso I o texto legal não exige consentimento da gestante. 
 
 
 
 
 
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II- Aborto sentimental ou humanitário: artigo 128, II, possui três requisitos: 
a) seja feito por médico; 
b) que a gravidez seja resultante de estupro; 
c) que exista autorização da gestante ou do represente legal se ela for incapaz. 
 
Não é necessária autorização judicial. Para regulamentar o tema, o Ministério da Saúde editou a portaria nº 1.145, 
do ano de 2005, determinando a autorização de um procedimento de justificação e autorização para o aborto,no 
qual devem ser realizados exames clínicos, a gestante deve ser ouvida e deve ser colhida a sua autorização ou do 
representante legal, e se os médicos concluírem que houve efetivamente o estupro, realizarão o aborto. 
 
 Aborto eugênico ou eugenésico 
 
É aquele aborto feito motivado pela constatação de alguma anomalia genética. Se esta anomalia não tornava 
inviável a vida após o parto, estará presente a infração penal. Se, todavia, tratar-se de anencefalia, o fato será 
considerado atípico, conforme decisão do plenário do STF se abril de 2012, no julgamento da ADPF nº 54. De acordo 
com o STF, o fato é atípico porque a ausência do anencéfalo leva à conclusão de que o feto não tem vida própria. 
De acordo com o STF não é necessária autorização judicial, mas é necessária autorização da gestante. 
 
 
LESÕES CORPORAIS 
 
Podem ser dolosas ou culposas. A lesão dolosa, por sua vez, pode ser leve, grave, gravíssima ou seguida de morte, 
bem como cada um delas pode ser privilegiada. 
 
1. Lesões Dolosas Leves 
 
Artigo 129, “caput”, CP. O crime consiste em ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem e a pena é de 
detenção de 3 meses a 1 ano, é infração de pequeno potencial ofensivo e julgada pelo JECRIM. De acordo com o 
artigo 88 da lei 9.099, na lesão leve a ação penal depende de representação. 
 
A lei não define quando a lesão é leve, mas apenas quando ela é grave ou gravíssima, de modo que é por exclusão 
que se sabe que uma lesão tem natureza leve. 
 
O tipo penal é misto alternativo (ofender a integridade corporal ou a saúde). Ofensa à integridade corporal é a 
agressão que provoca dano anatômico na parte externa ou interna do corpo (exemplo: fraturas, cortes, 
queimaduras, hematomas, escoriações etc). 
 
Dor não é lesão. 
 
Equimose é lesão? 
É lesão porque surge como consequência de uma forte pancada que rompe pequenos vasos sanguíneos sob a pele, 
provocando coloração roxa. 
 
Eritema não é lesão, trata-se de vermelhidão momentânea da pele, decorrente de mero deslocamento de sangue 
no local, podendo ser originado por um tapa, um beliscão etc. quem provoca um eritema, em regra, responde pela 
 
 
 
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contravenção de vias de fato (agressão sem intenção de lesionar), exceto se havia intenção de lesionar e o sujeito 
só conseguiu provocar o eritema por circunstâncias alheias a sua vontade, responderá por tentativa de lesão 
corporal. 
 
Ofensa à saúde é a provocação de perturbação fisiológica ou mental. Perturbação fisiológica é o desarranjo de 
algum órgão ou sistema (provocar vômito, diarréia, pressão alta, cansaço físico etc).

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