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Magistratura e Ministério Público CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Direito Penal Especial Professor: Victor Gonçalves Aula: 13 | Data: 24/06/2015 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO LESÕES CORPORAIS 1. Lesão Corporal seguida de Morte CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL 1. Estupro LESÕES CORPORAIS 1. Lesão Corporal seguida de Morte Artigo 129, §3º, CP. Trata-se de modalidade exclusivamente preterdolosa que pressupõe dolo de lesionar e culpa em relação à morte. Se alguém dá um empurrão sem dolo de lesionar e a vítima acaba escorregando, caindo e morrendo, temos crime de homicídio culposo em razão da inexistência de dolo inicial de lesionar. - Causas de aumento de pena: O §10 do artigo 129 prevê que nas hipóteses de violência doméstica elencadas no parágrafo anterior, a pena da lesão grave, gravíssima ou seguida de morte será aumentada em 1/3. Por sua vez, o §11 do artigo 129 prevê também um aumento de 1/3 da pena se a vítima da violência doméstica for pessoa portadora de deficiência (física ou mental). Pela conjugação do artigo 129, §7º com o artigo 121, §4º, qualquer que seja a lesão dolosa, ela será aumentada em 1/3 se a vítima tiver menos de 14 ou mais de 60 anos; e pela conjugação com o artigo 121, §6º, haverá um aumento de 1/3 até metade se o crime for praticado por milícia a pretexto de prestação de serviço de segurança. - Causas de diminuição de pena (lesão corporal privilegiada): Artigo 129, §4º, CP – as hipóteses de privilégio e as respectivas consequências são idênticas às do homicídio privilegiado e são cabíveis em todas as formas de lesão dolosa. CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL 1. Estupro 1) Estupro Simples Artigo 213, caput, CP. O crime consiste em constranger alguém mediante violência ou grave ameaça à conjunção carnal ou a praticar ou permitir que nele se pratique outro ato libidinoso. A pena é de 6 a 10 anos de reclusão. Página 2 de 4 A atual redação do crime de estupro foi dada pela lei 12.015/2009 que fundiu em um só tipo penal a redação antiga dos crimes de estupro e atentado violento ao pudor. Esta mesma lei revogou o artigo 214 que definia o atentado violento ao pudor, porém, não houve abolitio criminis, mas mero deslocamento para o artigo 213, CP. A mesma lei 12.015/2009 modificou a redação do artigo 1º, V, da lei 8.072, restando claro que o estupro simples tem natureza hedionda. - Objetividade jurídica: a liberdade sexual, a faculdade de livre escolha do parceiro sexual. - Tipo Objetivo: o dissenso da vítima é elementar do crime de estupro, pois está contido no verbo “constranger”. Se uma pessoa mantém uma relação sexual consentida e depois começa a mentir, dizendo que foi estuprada, mas a verdade acaba sendo descoberta durante o transcorrer da ação que apura o estupro, o juiz deve absolver o réu por atipicidade de sua conduta. A falsa vítima praticou o crime de denunciação caluniosa do artigo 339, CP. O estupro se caracteriza: a) pela prática de conjunção carnal: penetração ainda que parcial do pênis na vagina; b) pela prática de qualquer outro ato libidinoso: sexo anal, sexo oral, introduzir o dedo ou passar a mão na vagina, no ânus, passar a mão nas nádegas, nos seios ou no pênis da vítima, esfregar o pênis no corpo da vítima etc. Beijo lascivo (beijo de língua) é considerado um ato libidinoso, e portanto, o emprego de violência ou grave ameaça para obtê-lo tipifica o estupro. A atual redação do crime de estupro torna possível a sua configuração sem que haja contato físico do estuprador com a vítima. São exemplos: 1) introduzir um pênis de borracha na vagina da vítima; 2) obrigar a vítima a fazer sexo com um animal; 3) obrigar duas outras pessoas a fazerem sexo entre si etc. Por sua vez, o crime de estupro pressupõe envolvimento corpóreo da vítima um algum ato sexual. Se alguém emprega grave ameaça para, por exemplo, obrigar a vítima a assistir ato sexual entre outras pessoas, o crime é o de constrangimento ilegal do artigo 146 do CP. A configuração do estupro não tem como requisito que o agente tire a roupa da vítima. Se o ato sexual for forçado existirá o crime de estupro, quer a vítima seja ativa ou passiva na relação, porque o artigo 213, CP, pune quem obriga a vítima a praticar ou a permitir que nela se pratique o ato sexual. Exemplo: a vítima seja obrigada a fazer ou receber sexo oral. É amplamente majoritário o entendimento de que não é pressuposto do crime de estupro, por não constar no texto legal, a intenção de satisfazer a própria lascívia (intenção de se satisfazer sexualmente). Por isso, se o ato é objetivamente de conotação libidinosa (sexo oral, sexo anal) e foi obtido com violência ou grave ameaça, configura- se o estupro. Existe o crime se a finalidade for vingança, aposta, tortura, (pouco importa o motivo) embora na imensa maioria dos casos, a finalidade seja mesmo a de satisfazer a própria lascívia. De acordo com o entendimento jurisprudencial, aqueles que se aproveitam da lotação de ônibus, trem, metrô, para encostar na vítima, cometem a contravenção de importunação ofensiva ao pudor do artigo 61 da LCP. O argumento é que não há agressão ou grave ameaça nesses casos, e, por isso, o crime não seria o de estupro. Página 3 de 4 - Sujeito ativo: qualquer pessoa, homem ou mulher. - Sujeito passivo: após o advento da lei 12.015/2009, mulheres e também homens podem ser sujeito passivo do crime de estupro. A lei 11.106/2005 acrescentou no artigo 226, II um aumento de metade da pena se o crime de estupro for praticado contra cônjuge ou companheiro, de modo que atualmente é pacífico que o marido pode estuprar a esposa (ou o contrário) ou pelo companheiro contra a companheira. A mesma lei 11.106 revogou o inciso III do artigo 226 que agravava a pena do estupro se o agente fosse casado. Cadáveres humanos não podem ser sujeito passivo de estupro. A necrofilia caracteriza crime de vilipêndio a cadáver, artigo 212, CP. - Consumação: no instante em que for concretizado o primeiro ato de natureza sexual. Se o agente pretendia penetrar seu pênis na vagina da vítima e já havia passado a mão no órgão genital dela, o crime já se considera consumado, mesmo que em seguida a vítima fuja e a conjunção carnal não se aperfeiçoe. - Tentativa: é possível quando o agente emprega a violência ou grave ameaça, dando assim início à execução do crime, mas não consegue concretizar nenhum ato sexual. - Concurso de crimes: a) se o agente captura a vítima e a mantém acorrentada por 10 dias em uma chácara, onde a estupra por 10 vezes, responde por 10 crimes de estupro em continuidade delitiva e também por um crime de sequestro qualificado (artigo 148, §1º, V, CP), em concurso material. Como se trata de uma só vítima, aplica-se o artigo 71, caput que traz como consequência do crime continuado a aplicação de uma só pena aumentada de 1/6 a 2/3. Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplicasse- lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art.75 deste Código. b) Caso uma pessoa estupre vítimas diferentes na mesma região e em curto espaço de tempo, caso se reconheça o crime continuado, deverá ser aplicada a regra do parágrafo único do artigo 71 que permite ao juiz até triplicar a pena do réu. Página 4 de 4 c) Como a lei 12.015 unificou no artigo 213 a prática da conjunção carnal e também de qualquer outro ato sexual, caso o agente obrigue a mesma vitima, no mesmo contexto fático a praticar sexo vaginal e sexo anal, ele responderá por crime único e a pluralidade de atos sexuais deverá ser levada em conta pelo juiz na fixação da pena-base. O estupro passou a ser crime com tipo misto alternativo. Este entendimento está pacificado atualmente no STJ. - Ação Penal: A ação penal do estupro simples de acordo com o artigo 225, caput, CP é pública condicionada à representação. Antes da lei 12.015/2009 a ação era privada. 2) Estupro qualificado pela idade: esta figura qualificada que se encontra descrita no artigo 213, §1º, segunda parte, CP, foi introduzida no CP pela lei 12.015/2009 e estabelece uma pena de 8 a 12 anos de reclusão se a vítima tiver menos de 18 e mais de 14 anos de idade. Obs: Se a vítima tiver menos de 14 anos o crime será outro: estupro de vulnerável. De acordo com o parágrafo único do artigo 225 a ação é púbica incondicionada porque a vítima tem menos de 18 anos. O artigo 111, V, CP, com a redação que lhe foi dada pela lei 12.650/2012, estabelece que em todo crime de natureza sexual, do CP ou de leis especiais, a prescrição só começará a correr da data em que a vítima completar 18 anos, salvo se antes disso a ação já tiver sido proposta. Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal. 3) Estupro qualificado pelo resultado: próxima aula.
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