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ENEM AVALIAÇÃO OU SELEÇÃO

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ENEM: Avaliação ou Seleção?
Os Desafios do Ensino Médio
Maria Helena G. de Castro
O problema
Principal objetivo do Enem original: estabelecer um padrão de referência para o ensino médio e avaliar o que o aluno realmente aprendeu. 
Os resultados podiam ser usados por universidades em seus processos de seleção e também pelas escolas para avaliar o desempenho de seus alunos e identificar aspectos importantes para melhorar o ensino.
Principal mérito do ENEM original: tirar o foco da avaliação dos conteúdos disciplinares e enfatizar a avaliação de competências pessoais básicas, que deveriam ser desenvolvidas por meio deles. 
Expectativas: ao final da Educação Básica, os alunos deveriam demonstrar capacidade de expressão e de compreensão, de argumentação e de decisão, de contextualização e de imaginação. 
De acordo com a LDB, que estabelece o Ensino Médio como etapa final da Educação Básica, o projeto do ENEM original visava avaliar a formação pessoal dos alunos, não sendo adequado sua utilização como processo seletivo, muito menos para a avaliação de escolas. 
 
 
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O PROBLEMA
O “novo” ENEM descaracteriza o ENEM original:
Substitui os exames vestibulares e transforma-se em seleção de alunos. 
2. Utilização do ENEM para a construção de rankings de escolas, com enorme discrepância no numero de participantes, sem considerar o mínimo de 80% por escola. 
3. Em 2009, a contagem dos pontos era de 0 a 100, 70 escolas tiveram resultados entre 64 e 65 pontos. Em 2010, o número de pontos foi estendido para 1000 , de modo incompreensível para os avaliados, e as 50 melhores escolas tiveram notas entre 749 e 701. As diferenças entre algumas delas são tão relevantes quanto uma nota 7,4 é diferente de 7,3. 
4. Em 2011: a confusão do vazamento no pré-teste e problemas graves na correção da redação. Em 2012, mudam os critérios de correção da redação.
O PROBLEMA
Enem original: visava romper os vínculos tradicionais do ensino médio com o vestibular. 
O novo Enem: recupera o sentido de uma educação básica comprometida com o ensino superior ao se tornar um vestibular nacional. Recuperou-se o aspecto competitivo, excludente e discriminatório de qualquer processo seletivo. 
A prova: grande número de questões e diversificação dos conteúdos em função dos novos objetivos da seleção. Conhecer o conteúdo da prova antes do exame, comprar e burlar informações privilegiadas passaram a ser importantes. 
As competências, como expressão dos níveis de desenvolvimento dos alunos para responderem a certos estímulos, inferidas pelos indicadores ou matriz de referências perderam o foco. 
Precisamos deste Enem, com este formato? Que vantagens e problemas ele traz? Não existem outras maneiras melhores de fazer isso?
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Experiência Internacional
Exames de avaliação final do ensino médio existe em muitos países.
Dois modelos principais: 
 Na Europa: avaliações de conteúdo; os estudantes podem escolher as áreas em que querem ser avaliados, além das exigências comuns a todos. 
A Level na Inglaterra (criado em 1951) e BAC na França (criado em 1808): as provas exigem que os alunos dominem certo nível de conhecimento da língua e de matemática e depois oferecem varias opções: ciências, artes, geografia, etc. As universidades usam os resultados em função dos interesses dos departamentos. 
Nos EUA: predomina o SAT (Scholastic Aptitude Test), que avalia competências gerais em áreas de pensamento crítico, língua e matemática; exames on line, descentralizados. 
Logística mais racional: na Inglaterra, 5 instituições encarregadas de elaborar as provas, os “examination boards”. Nos EUA, o “College Board” e ETS aplicam varias vezes ao ano. 
O Novo ENEM e o Ensino Médio
O Novo Enem é uma combinação perversa dos 2 modelos:
É fortemente baseado em conteúdos para atender às demandas das universidades e substituir os vestibulares;
Não oferece opções aos alunos: prevalece a pressão programática das universidades mais competitivas. 
Logística absurda: 5 milhões de alunos fazendo prova no mesmo dia. 
Múltiplas finalidades: vestibular único nacional, certificação de conclusão do EM; PROUNI e FIES; ranking de escolas. 
O novo ENEM contraria a necessidade de criar alternativas ao formato do ensino médio. 
Nosso ensino médio é único, todos são obrigados a estudar tudo, inclusive os que cursam o técnico. 
Um currículo megalomaníaco: 14 disciplinas. 
Resultados? A grande maioria sai da educação básica sem dominar as competências básicas e o novo ENEM reforça este modelo. 
As Respostas do MEC
1998: Diretrizes Curriculares do Ensino Médio:
 4 áreas do conhecimento e implantação do ENEM voluntário para avaliar competências básicas do indivíduo. 
2009: currículo do E. Médio atrelado ao novo ENEM. 
Janeiro de 2012: resolução do CNE: EM Inovador:
4 áreas de conhecimento e 9 disciplinas obrigatórias com “especificidade e saberes próprios” subdivididas em 12 disciplinas, atendida a Formação Geral; mais 800 horas. 
Cursos técnicos: currículo acadêmico geral mais disciplinas especificas. 
Agosto de 2012: o MEC anuncia nova reforma do EM: currículo centrado nas 4 áreas do ENEM, professores e livros didáticos por área de conhecimento. 
ENEM obrigatório para todos os alunos. A ideia é, portanto, manter a mesma lógica: um único currículo igual para todos sem a oportunidade de aprofundamento numa área e fazer escolhas. 
O Ensino Médio em números 
85% dos alunos que concluem o nível médio têm desempenho abaixo do básico esperado no 9º ano em matemática; em língua portuguesa, este índice chega a 75%. 
30% dos alunos da rede pública se evadem nos dois primeiros anos do EM e apenas 50% concluem o curso. 
40% dos egressos da escola pública ingressa no nível superior; dos que vão para o ensino técnico, 2/3 ingressam em escolas privadas. 
Em 2011, o índice de reprovação no ensino médio publico e privado foi de 13,1%. 
Apenas 35% das pessoas com ensino médio completo podem ser consideradas plenamente alfabetizadas (INAF)
Novo Debate sobre o Ensino Médio
Por que o PISA avalia estudantes de 15 anos?
Como se organizam os sistemas educacionais bem sucedidos?
Um novo debate sobre a arquitetura do ensino médio brasileiro:
Currículo de formação geral para todos até os 15 anos de idade;
Diversificação e flexibilização curricular nos anos finais;
Inovação e aprofundamento de poucas disciplinas ou áreas do conhecimento;
Introdução de novas disciplinas eletivas;
Nova articulação EM X Cursos técnicos 
O problema do Ensino Médio é Global
Diversos estudos no Reino Unido mostram que a grande maioria dos jovens não tem interesse pela escola; 
Segundo estatística no Reino Unido 3,3% dos alunos de Inglês faltam às aulas com frequência; 
Na França, nas escolas de 2º ciclo do ensino médio mais afetadas pela falta às aulas, a proporção de alunos ausentes pode chegar a 15% no ensino regular e 30% no profissionalizante. 
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Por que a indiferença?
Em geral, as aulas são dominadas por um professor que ministra aulas expositivas 
Disciplinas acadêmicas demais que parecem não ter relação com a vida dos alunos
Cultura dos jovens bem diferente da cultura da escola. 
Com a globalização do acesso ao ensino médio houve uma mudança no perfil do aluno, mas não da escola. 
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Debate Contemporâneo 
Diversificação do ensino médio e do profissional
Consenso: garantir a todos os jovens as mesmas oportunidades
Dificuldade: qual seria o núcleo comum, além da língua e conhecimentos básicos de matemática?
Diferentes culturas, diferentes caminhos...
EUA: “High Schools” e “Community Colleges”
Reforma do Sistema Alemão: 4 tipos de escolas de nível médio, diferentes regras e caminhos de acesso ao superior. 
Debate Contemporâneo 
França: preocupação com a rigidez do sistema tradicional muito estratificado. O desafio é eliminar as fronteiras entre as diferentes carreiras e cursos vocacionais, permitindo que os alunos transitem de uma a outra. 
Austrália:
sistema muito diferenciado de ensino médio e técnica, autonomia dos estados e criação de mecanismos nacionais de acreditação e coordenação.
Debate atual: Principais Tendências
Todos têm direito e devem ter as mesmas oportunidades de completar o ensino médio.
Não é possível ter uma escola de qualidade que pretende ensinar um pouco de tudo; 
As pessoas podem optar e se concentrar nas áreas que mais gostam. 
As diferentes opções não podem ser socialmente estratificadas, nem levar a sistemas estanques. 
Para garantir as mesmas oportunidades, o sistema deve ter varias vias de acesso ao superior, e não uma única como o atual ENEM centralizado. 
Dilemas do ENEM
O Enem não pode ser uma ferramenta de acompanhamento longitudinal do aprendizado dos alunos e ao mesmo tempo um vestibular único nacional. 
“O vestibular é seleção de alunos, o acompanhamento longitudinal tem outra finalidade e contribui para avaliar o sistema e as escolas” (F. Soares)
Desafio: o que queremos do ENEM? Selecionar alunos para o ensino superior ou avaliar o sistema e as escolas? 
A MATRIZ DO ENEM ATUAL 
Referências:
Lista de habilidades a serem avaliadas, indicadas pela “Comissão de Governança”
Quatro áreas de Conhecimento, 30 habilidades e 45 questões de prova em cada área, duas áreas por dia em dois dias de provas.
Introdução de conteúdos requeridos pelas universidades 
Nenhuma vinculação teórica ou metodológica à estrutura dos exames anteriores a não ser a referência à habilidades.
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ÁREAS DE CONHECIMENTO
COMPETÊNCIAS DO SUJEITO
I
Domínio de Linguagens
II
Construção de Conceitos
III
Resolução de Problemas
IV
Argumentação Consistente
V
Intervenção / Criatividade
Competências
de Área
conforme
Diretrizes do
Ensino Médio
1
= 45 Habilidades
2
3
4
.
.
.
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Matrizes de Referência do ENCCEJA
Sugestões ao ENEM atual 
Voltar ao formato de uma prova geral de competências centrais aplicada de forma descentralizada e por computadores;
Introduzir avaliações por áreas de conhecimento, conforme os interesses dos estudantes e das universidades que queiram utilizar essas informações, administradas de forma descentralizada;
Rever os documentos técnicos e as matrizes de referência para as diferentes áreas em avaliação;
Atribuir a implementação do Enem a uma ou mais instituições especializadas. 
 Qual Formação Geral?
Consenso: todos deveriam desenvolver bem o domínio da língua e da matemática até o final da educação fundamental; os estudantes devem chegar ao ensino médio com esta formação pronta. 
Desafio: Como avançar no entendimento sobre o que, realmente, todos os estudantes precisariam aprender ? Como construir um debate sério e corajoso sobre o ensino médio ? 
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helenaca@uol.com.br
MUITO OBRIGADA!

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