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Bases Ecológicas para Biotecnologia 2015 Prof: Fabio A. Chinalia Biotecnologia Ambiental ICS-C42 © UFBA Page 1 Ecologia e Biotecnologia Biotecnologia não é uma prática nova. A pratica da agricultura que estuda a qualidade dos grãos e parentesco entre as plantas pode ser considerada como uma forma de biotecnologia. Existem relatos que catalogam esse tipo de informação já com os sumérios há aproximadamente 10.000 anos com a revolução Neolítica. As técnicas de reprodução animal e vegetal foram utilizadas para melhorar a agropecuária mesmo antes de se entender os mecanismos de hereditariedade primeiramente descritos por Gregor Mendel e Charles Darwing no final do século XIX. A posterior descoberta da natureza dos genes permitiu o desenvolvimento da biotecnologia moderna que se baseia em técnicas de transferência de características fenotípicas entre as espécies animais e vegetais. Com a adição dessa nova técnica de manipulação aumentou-se os mecanismos de controle para: Melhorar o rendimento agropecuário Controlar pestes e doenças Desenvolver novos produtos No entanto, o aumento na capacidade de manipulação das características individuais e populacionais dos seres vivos aumenta a preocupação com questões ecológicas. A manipulação ambiental descontrolada pode resultar em sérios a diversos “serviços ecológicos”. O que são serviços ecológicos? Serviço Ecológico O papel e o modo de ação que as espécies desempenham em um ecossistema ou comunidade pode ser chamado de “serviço ecológico” quando este tem um valor econômico definido. Portanto, as características estruturais como diversidade de espécies são menos importantes que as medidas de interação entre os organismos e o ecossistema. Um exemplo didático é a polinização. Sem a polinização muitas plantas não produzem frutos. Para que essa função ecológica possa acontecer depende de vários fatores como: (i) a presença de polinizadores sadios, (ii) planta sadia ou em florada a ser polinizada e (iii) condições ambientais favoráveis. O sucesso da polinização depende que pelo menos esses 3 fatores ecológicos funcionem em conjunto. Como o sucesso da polinização pode ser medido através do número de frutos gerados, é possível, portanto, saber como esse “serviço ecológico” está produzindo resultados naquele ambiente especifico. Na verdade é possível ainda calcular um “valor” econômico para tal serviço ecologico baseado na rapidez e produtividade de polinização daquele ambiente. Portanto, esse tipo Bases Ecológicas para Biotecnologia 2015 Prof: Fabio A. Chinalia Biotecnologia Ambiental ICS-C42 © UFBA Page 2 de estudo tem sido muito utilizado para medir o valor da contribuição do ambiente para a atividade econômica humana. As pessoas podem não dar valor ao ecossistema, mas, com certeza entendem o valor dos serviços prestados pelo ecossistema na produção de alimento e na manutenção da qualidade da agua, ar e solos. O estudo dos “serviços ecológicos” objetiva informar economistas e gerenciadores com fatos científicos que sintetizam a importância do equilíbrio ambiental para a economia a nível local, nacional e internacional. Portanto, ao invés de listar o descrever a fauna e a flora, os trabalhos que focam nos “serviços ecológicos” tendem a discutir: i. o valor econômico dos recursos naturais ii. gerenciamento ambiental iii. potenciais riscos ao equilíbrio ambiental em relação aos serviços prestados. Kinzig A., C. Perrings and R.J. Scholes (2009) Ecosystem Services and the Economics of Biodiversity Conservation, ecoSERVICES Group Working Paper, Phoenix. Vale a pena salientar que os valores humanos e sociais são o centro dos estudos sobre “serviços ecológicos” por isso podem ser divididos em áreas como (Figure 1, acima): i. Provisão: agua potável, comida, fibras, etc. ii. Serviços reguladores: controle de pestes, enchenes, secas, etc. iii. Cultural: informação, bem estar espiritual, etc. Assim, todas essas atividades são passiveis de serem medidas e comparadas para gerar um Sistema que sintetize ou organize a informação na forma de um valor econômico definido. Bases Ecológicas para Biotecnologia 2015 Prof: Fabio A. Chinalia Biotecnologia Ambiental ICS-C42 © UFBA Page 3 Função ecológica E.P. Odum é comumente o pesquisador creditado pelo uso do termo “função ecológica” dentro de uma visão holista e integradora dos fatores ambientais. Desde 1940 ele trabalhou em definir vários conceitos ecologicos utilizados até hoje. Um desses conceitos é a definição de "Função Ecológica”. O que é função? Esse termo tem sido usado para definir “trabalho”. Todo trabalho tem uma característica especifica. Um carpinteiro transforma um pedaço de madeira em uma estante que serve para acomodar livros. Da mesma forma o ambiente consegue transformar o CO2 presente na atmosfera em matéria orgânica acumulada no solo das florestas que serve de reserva de nutrientes para o crescimento das arvores. Quem são os agentes que transformam o CO2 em matéria orgânica? Todos os organismos autotróficos conseguem, geralmente com a ajuda da luz, transformar o CO2 em matéria orgânica. Essa matéria eventualmente pode ser depositada no solo e assim acaba se transformando em um “banco” ou “deposito” de nutrientes no solo. Portanto, de uma maneira simplificada, a função (ou trabalho) de acumular nutriente no solo é resultado das atividades dos “autotróficos”. Não existe a necessidade de descrever os tipos de espécies ou diversidade de autotróficos para “medir” o trabalho dos autotróficos. Essa caracterização quantitativa pode ser feita medindo a quantidade de matéria orgânica acumulada em um período determinado de tempo (kg/dia). Existem dois tipos básicos de “funções ecológicas”: Fluxo de Energia A energia do sol é transformada em energia química pelos fotoautotróficos e essa energia é transferida para os outros organismos vivos via cadeia alimentar. O fluxo de energia é uma função unidirecional do ecossistema. Ciclagem de Matéria Acompanhe o átomo de carbono do CO2 presente na atmosfera. Esse átomo é transformado em matéria orgânica da planta, passa para o gafanhoto e sapo no ato de alimentação, é transformado novamente em CO2 pelos decompositores e volta a se transformar em planta. Portanto, uma outra função do ecossistema é reciclar a matéria para sustentar as transformações biológicas. Bases Ecológicas para Biotecnologia 2015 Prof: Fabio A. Chinalia Biotecnologia Ambiental ICS-C42 © UFBA Page 4 O efeito das leis da termodinâmica nas Funções Ecológicas Primeira lei: No sistema termodinâmico nada se cria ou desaparece, tudo se transforma. Segunda lei: Todo sistema termodinâmico tende ao equilíbrio energético com seu entorno (entropia). Para entendermos melhor a respeito da termodinâmica se faz necessário definirmos alguns conceitos importantes: i. Sistema termodinâmico. No caso do estudo ecológico pode ser o “Ecossistema”, ou seja, esse sistema pode ser um espaço ou região definido por limites reais ou imaginários. Um refrigerador é um exemplo de um sistema não imaginário. ii. Estado de um sistema. É a quantidade de energia dentro desse sistema. Este será descrito pelo conjunto de propriedades físicas do sistema, como a temperatura, pressão, volume, massa, entropia, etc. O estado é uma condição momentânea do sistema. iii. O processo. Um processo é o caminho que um sistema usa para percorrer sucessivos estados termodinâmicos. A energia presente nas ligações químicas da matéria orgânica de um ser fotoautotrófico originou-se na energia contidana luz solar. A energia contida na biomassa dos herbívoros e carnívoros também se originou na luz solar, mas, essa teve antes que ser transformada pelos fotoautotroficos. Dessa forma, a energia no ecossistema não se criou, ela veio de uma fonte conhecida, o sol. Toda a energia presente dentro de um ecossistema veio do sol e se dissipa pelo espaço infinito vazio e frio. Portanto, toda a transmissão de energia dentro de um ecossistema acontece por causa do processo de “transformação” da energia já existente. Dessa forma toda a transformação energética acontece com perdas, esse é o resultado da segunda lei da termodinâmica. No exemplo abaixo a quantidade de energia que foi transformada em biomassa de pássaro será sempre menor que a quantidade de energia dentro da biomassa de inseto. As perdas acontecem porque o sistema termodinâmico (inseto + pássaro) é aberto, ou exposto ao ambiente infinito. Portanto, muita energia “vaza” ou “escapa” na forma de calor durante a transformação de biomassa de inseto em pássaro. As implicações desse fenômeno para o ecossistema são grandes. A população de pássaros depende da quantidade de energia transformada pelas plantas e pelos insetos. Bases Ecológicas para Biotecnologia 2015 Prof: Fabio A. Chinalia Biotecnologia Ambiental ICS-C42 © UFBA Page 5 Sustentabilidade De acordo com o “World Commission on Environment and Development”, o termo “sustentabilidade” deve ser utilizado para definir as ações que permitam o sustento dessa e de outras gerações futuras. Portanto, esse termo se refere a um mecanismo de avaliação que possui os seguintes componentes de analises: Fatores ambientais e ecológicos Fatores sociais Fatores econômicos Nesse contexto, a palavra sustentabilidade só pode ser utilizada quando existem medidas dos 3 fatores acima citados, ou seja, quando estes aparecem definidos e quantificados. Definição de ecossistema Ecossistema designa o conjunto formado por todas as comunidades bióticas que vivem e interagem em determinada região e pelos fatores abióticos que atuam sobre essas comunidades. A noção de ecossistema surgiu na década de 1930 para explicar a complexa interação entre os organismos e o seu ambiente que resulta em dois processos distintos mais interdependentes: (i) fluxos de energia e (ii) ciclagem de matéria. A base de um ecossistema são os produtores que são os organismos capazes de fazer fotossíntese ou quimiossíntese. Produzem e acumulam energia através de processos bioquímicos utilizando como matéria prima a água, gás carbônico e luz. Em ambientes afóticos (sem luz) também existem produtores que fazem a quimiossíntese, metabolismo realizado por muitas bactérias terrestres e aquáticas. Dentro de um ecossistema existem vários tipos de consumidores (primários e secundários), que juntos formam uma cadeia alimentar. Os limites de um escossistema é geralmente definido pela sua estrutura ou aparência (bioma) ou função (fluxo de energia ou ciclagem de matéria). As funções de um ecossistema dependem da “Estrutura do Ecossistema”. Essa estrutura está diretamente ligada aos tipos de espécies vivas do ecossistema. Portanto, registrar a diversidade de espécies autotróficas, consumidoras primarias e secundarias é uma forma de se medir a estrutura de um ecossistema. Rede ou cadeia alimentar e redundância A cadeia alimentar é uma sequência de organismos interligados por relações de alimentação. Ao longo da cadeia alimentar há uma transferência de energia e de nutrientes, Bases Ecológicas para Biotecnologia 2015 Prof: Fabio A. Chinalia Biotecnologia Ambiental ICS-C42 © UFBA Page 6 sempre no sentido dos produtores para os consumidores. A posição que cada um ocupa na cadeia alimentar é um nível hierárquico que os classifica entre produtores (como as plantas e algas), consumidores (como os animais) e decompositores (fungos e bactérias). Porque frequentemente cada organismo se alimenta de mais de um tipo de animais ou plantas, as relações alimentares (também conhecidas por relações tróficas) tornam-se mais complexas, dando origem a redes ou teias alimentares, em que as diferentes cadeias alimentares se inter-relacionam. Nas redes alimentares é comum observar que distintas espécies podem ocupar a mesma função trófica, ou seja, redundância trófica. Esse tipo de “redundância” permite uma certa estabilidade aos processos ecológicos como (i) fluxo de energia e (ii) ciclagem de matéria. No entanto, a perda ou entrada de espécies em uma rede trófica possui significativo impacto na “diversidade” seja esta medida em termos de riqueza ou uniformidade (dominância). Cadeia alimentar Rede alimentar “redundancia” Figura: Representação da diferença entre cadeia alimentar e rede alimentar. Diversidade A diversidade de um ecossistema só pode ser medida em termos de: riqueza de espécies uniformidade (dominância) A riqueza de espécies refere-se ao calculo que se faz levando em conta o numero de diferentes espécies em uma determinada área. O calculo de “uniformidade” leva em conta o numero de diferentes populações de espécies em uma área comparando a proporção de indivíduos que existem dentro de cada população (dominância). Variação da Diversidade em escala espacial e temporal A diversidade de espécies seja em termos de riqueza ou uniformidade pode variar no espaço de acordo com diferenças ambientais causadas pela curvatura da terra, clima e Bases Ecológicas para Biotecnologia 2015 Prof: Fabio A. Chinalia Biotecnologia Ambiental ICS-C42 © UFBA Page 7 dos tipos de solo. Eh por isso que notamos a existência de diferentes “biomas” ou ecossistemas regionais. São exemplos (i) mata atlântica, (ii) floresta amazônica, (iii) cerrado, (iv) tundra, etc. A diversidade de espécies pode também mudar ao longo do tempo por causa de um fenômeno chamado “sucessão ecológica”. Por exemplo, se uma pequena área de floresta for devastada, eh possível observar uma sucessão de espécies vegetais desde gramíneas ate as arvores do bioma principal. Durante as fases de restauração natural existem vários valores, por assim dizer, de diversidades quando estes são medidos em termos de riqueza ou uniformidade. Figura: Representação da diferença entre diversidade geográfica e sucessão de espécies ao longo do tempo. Habitat O conceito de habitat tende a ser associado ao de ecossistema. O habitat é o espaço físico do ecossistema, uma região que oferece as condições naturais necessárias para a subsistência e a reprodução das espécies. Nicho ecológico O nicho ecológico, por sua vez, é o modo de vida em que um organismo se vincula aos fatores bióticos e abióticos do meio através de diversas condições físicas, químicas e outras. Relações ecológicas entre espécies (interespécies) Bases Ecológicas para Biotecnologia 2015 Prof: Fabio A. Chinalia Biotecnologia Ambiental ICS-C42 © UFBA Page 8 Dentro de um ecossistema encontram-se várias formas de interações entre os seres vivos que as formam, denominadas relações ecológicas ou interações biológicas. Essas relações se diferenciam pelos tipos de dependência que os organismos mantêm entre si. Algumas dessas interações se caracterizam pelo benefício mútuo de ambos os seres vivos ou de apenas um deles. Exemplos: predação competição simbiose mutualismo Relações ecológicas entre indivíduos da mesma espécie Quando os indivíduos passam a viver juntos e formam uma população, as interações entre eles originam características distintas que são muito importantes para o gerenciamento de ecossistemas,por exemplo: taxa de natalidade taxa de mortalidade fatores reguladores do crescimento Pirâmides Ecológicas Pirâmide ecológica, também denominada pirâmide trófica, é uma representação gráfica que mostra, mediante retângulos horizontais sobrepostos, a biomassa em cada nível trófico de um determinado ecossistema. Esse é em exemplo que, dependendo da unidade utilizada para descreve-la, pode exemplificar a estrutura ou a função de um ecossistema. Se a unidade for biomassa esta irá representar a estrutura, se for energia por tempo, esta representará a função do ecossistema. Na base encontram-se os produtores (tais como as plantas) e seguem em uma sequência de vários níveis tróficos (tais como os herbívoros que comem as plantas, sucedido pelos carnívoros que comem herbívoros, seguidos pelos carnívoros que comem carnívoros, e assim por diante). Existem pirâmide de números, pirâmide de biomassa e pirâmide de energia. Figura: exemplo de pirâmides ecológica de energia.
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