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ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 ATOS / 11 / ATOS OUTUBRO / NOVEMBRO / DEZEMBRO 2001 1 / ATOS OUTUBRO / NOVEMBRO / DEZEMBRO 2001 JULHO / AGOSTO / SETEMBRO 2002 Volume 17 / Número 2 EDIÇÃO PORTUGUÊS PARE! Antes de você ler esta revista, por favor, olhe para a etiqueta de endereço em seu envelope. No topo direito de sua etiqueta, depois da palavra "EXPIR", está sua data de ven- cimento da assinatura da Revista ATOS. (month/year). Por favor, escreva essa data aqui: ________ / _________ mês ano No topo esquerdo de sua etiqueta está o seu número de ATOS. Por favor, escreva esse número aqui. Você deverá dar esta informação cada vez que escrever ao World MAP, ou quando preencher seu Formulário de Renovação de Assinatura ou solicitação do livro O Cajado do Pastor. A IGREJA EM CASAS O Modelo do Novo Testamento Para a Multiplicação de Congregações Bob Fitts ATOS 2 / ATOS ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 “Saudai Priscila e Áqüila, meus cooperadores em Cristo Jesus... saudai igualmente a igreja que se re- úne na casa deles” (Rm 16:3-5). ‘’As igrejas da Ásia vos saúdam. No Senhor, muito vos saúdam Áqüila e Priscila e, bem assim, a igreja que está na casa deles” (l Co 16:19). “Saudai os irmãos de Laodicéia, e Ninfa, e à igreja que ela hospeda em sua casa” (Cl 4:15). “Ao amado Filemom... e à igreja que está em tua casa” (Fm 1,2). Com base nos versículos acima, é óbvio que a Igreja Primitiva reunia- se em casas. Essas casas não eram o que poderíamos chamar de um prédio característico e específico de uma igreja. Eram casas em que as pessoas moravam, e eram abertas como um local de reunião para a igreja. A Igreja Primitiva não tinha prédi- os de igreja. Os prédios não aparece- ram até o ano 232 d.C. O período mais explosivo do crescimento da Igreja na história, até recentemente, aconteceu durante os primeiros anos, quando não havia nenhum prédio de igreja. Contudo, neste exato momento, na China, há um incomum mover do Es- pírito de Deus que é até mesmo maior que o crescimento inicial da Igreja. Isso está acontecendo sem o uso de prédios de igreja. Esse reavivamento é um movimento de igrejas em casas. A seguinte citação foi extraída do Relatório Calebe da edição de Jan/Fev de 1990 da REVISTA MINISTÉRIOS. Este relatório foi feito por Loren Cunningham, fundador e presidente da JOCUM (Jovens com Uma Missão): “De acordo com o U.S. Center For World Mission (Centro Americano Para Missões Mundiais), mais de 22.000 chineses estão vindo a Cristo a cada dia. É o equivalente a 7 dias de Pentecostes a cada 24 horas. Isso está acontecendo neste exato momento. A maior parte dessa explosão de uma nova fé está vindo das comunidades rurais da China, onde vive 80% da população chinesa. “Jonathan Chão, fundador da Chinese Church Research Center (Centro de Pesquisas da Igreja Chi- nesa), contou-me como o reavivamen- to chinês está sendo espalhado por A IGREJA EM CASAS O Modelo do Novo Testamento Para a Multiplicação de Congregações Bob Fitts Capítulo 1 A RAZÃO PARA TERMOS IGREJAS EM CASAS jovens, em sua maioria com idades de 15 a 19 anos. Os adolescentes vão aos vilarejos e compartilham o Evangelho onde ele nunca foi ouvido antes. “Quando os convertidos são organi- zados em pequenos grupos, os adoles- centes chamam os ‘presbíteros’ ou ‘anciãos’ (crentes de 20 a 30 anos de idade) para virem e ensinarem as recém- formadas igrejas em casas. Ao mesmo tempo, os adolescentes seguem adian- te, para alcançarem o próximo vilarejo. “Os pastores e mestres chineses não têm barreiras financeiras para es- palharem a mensagem cristã. Eles moram com os camponeses e fazen- deiros em cada região nova, e não constróem edifícios. Eles têm muito pouco e precisam de muito pouco. “Através deste meio simples, as Boas-Novas estão saltando sobre os campos e montanhas da China.” O explosivo crescimento da Igreja que está acontecendo agora na China tem algo em comum com o crescimen- to da Igreja Primitiva do Livro de Atos. Ambos são um movimento de igrejas em casas. Este mesmo tipo de crescimento é visto em outros países ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 ATOS / 3 hoje, onde os prédios de igrejas não são permitidos. Há um princípio simples que é ex- presso aqui: Quanto mais obstáculos que atrapalham a implantação de no- vas igrejas forem removidos, tanto maior será o crescimento que veremos. Já tive experiências, tanto na im- plantação como no pastoreamento de igrejas em casas. Vejo algumas claras vantagens na implantação de igrejas em casas para a multiplicação de igrejas: AS IGREJAS EM CASAS SÃO FÁCEIS DE SE INICIAR Para se implantar uma igreja numa casa, você não precisa comprar propri- edades, nem construir um prédio. Você não precisa de um púlpito, bancos de igreja, hinários, nem de um piano. Você pode ficar sem um batistério, uma es- cola dominical, e um pastor de jovens. Você não precisa pertencer a uma denominação, nem tornar-se membro. Você não precisa ter uma reunião aos domingos, ter um boletim da igreja, nem ter uma reunião no mesmo lugar todas as semanas. Você não precisa ter uma placa com o nome da sua igreja. Ela não pre- cisa de um nome. Na verdade, você nem mesmo precisa chamá-la de “igreja”, contanto que você saiba que ela é uma igreja. Nenhuma das situa- ções acima são ruins ou erradas, mas também não são necessárias. O Após- tolo Paulo não usava nenhuma das coisas acima em seu ministério de im- plantação de igrejas. Muitas das nossas igrejas moder- nas deixaram a simplicidade do Novo Testamento e acrescentaram tantas coisas extras, que na verdade não são necessárias. Por essa razão, tem fica- do cada vez mais difícil iniciarmos uma nova igreja. Não podemos ir a nenhum país hoje onde o Apóstolo Paulo implan- tou igrejas e apontarmos para um pré- dio e dizermos: “Aquela é a Igreja de Corinto!” ou “Olhe para aquele lindo prédio! É a Igreja dos Efésios!” ou “Eis aqui a Igreja dos Tessalonicen- ses!” Não há nenhum prédio assim. Pelo que saibamos, as igrejas que Pau- lo iniciou reuniam-se em casas. Ray Willians, um amigo íntimo, é missionário no México há 25 anos. Ele tem sido usado por Deus para iniciar dezenas de igrejas no México, das quais centenas de outras igrejas têm sido geradas. Ele me contou recentemente, que EDIÇÃO PORTUGUÊS Volume 17 / Número 2 Índice 1. A Razão Para Termos Igrejas em Casas .... 2 2. As Igrejas em Casas no Novo Testamento .................................................... 6 3. O que é Uma Igreja? ................................... 9 4. Implantação de Igrejas por Saturação .... 13 5. Uma Roda ou Uma Videira? ..................... 17 6. Será que os Prédios de Igrejas São Mesmo Necessários? .................................. 18 7. Um Passo à Unidade .................................. 21 8. O que Fazemos Numa Igreja em Casa? .. 24 9. Perguntas e Respostas ............................... 27 Suplemento A – Por que a JOCUM (Jovens com Uma Missão) Implanta Igrejas .............. 30 Suplemento B – Por que Implantar Novas Igrejas ............................................................... 32 Como Fazer a Sua Igreja Crescer ................. 34 O Crescimento da Igreja e as Escrituras ...... 37 Diretor Responsável ................... Ralph Mahoney Diretores ......................... Frank & Wendy Parrish Diretores Administrativos África .................................. Loreen Newington Índia .................................................... Bill Scott Internacional ................................ Gayla Dease Artes Gráficas ... Dennis McLain & Vander Santos Tradutor ....................................... Marcos Taveira Revisora ........................................... Nadya Denis Leitora de Provas ...................... Maura Ocampos Impressão Gráfica ................ Editora Betânia S/C VISÃO E MISSÃO Como umministério ao Corpo de Cristo, o World MAP existe para: 1. Fornecer aos líderes de igrejas nos paí- ses da Ásia, África e América Latina um treinamento prático que os torne efica- zes ministros do Evangelho. 2. Compartilhar com os crentes das nações ocidentais as vitórias e as tribulações de obreiros de igrejas nacionais, a fim de que a Igreja: Ore mais fervorosamente e dê mais sacrificialmente para abençoar e desenvolver a obra dos que servem nas linhas de frente do evangelismo. ATOS, no original, (ISSN 0744-1789) é publi- cada a cada três meses pelo “World MAP”, 1419 N. San Fernando Blvd., Burbank, CA 91504, EUA. Toda correspondência deve ser dirigida para o en- dereço acima ou para Caixa Postal 5053, 31611- 970 Venda Nova, MG, Brasil ou ainda para o e- mail: revista.atos@uol.com.br SR. AGENTE POSTAL: Favor enviar as mudan- ças de endereço para “World MAP”, Caixa Postal 5053, 31611-970 Venda Nova, MG, Brasil. Todas as passagens das Escrituras serão da Bíblia Sagrada, traduzida em português por João Ferreira de Almeida – Sociedade Bíblica do Brasil – 1981, a menos que outra fonte seja indicada. ATOS A IGREJA EM CASAS 4 / ATOS ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 certa vez, iniciou uma igreja num tri- gal. A igreja cresceu, e dela surgiu uma multidão de “igrejas-filhas e netas”, e cada uma delas com uma visão de im- plantação de novas igrejas. Temos a tendência de tornar nos- sas igrejas complexas demais. Deus está nos chamando de volta à simplici- dade e naturalidade da multiplicação. AS IGREJAS EM CASAS SÃO DESCONTRAÍDAS E INFORMAIS Vários anos atrás, levei minha fa- mília a uma igreja cujo pastor era um notável mestre da Bíblia. Eu gostava muito daquela igreja e queria freqüentá-la. No entanto, todos os membros de lá vestiam-se com rou- pas que eram muito caras para as con- dições financeiras da minha família. Algumas pessoas não frequentam certas igrejas hoje porque o nível do padrão do vestuário é alto demais. Eles transformaram a igreja num even- to “formal”. Muitos que não frequen- tam uma igreja do tipo formal, fre- quentam uma igreja numa casa por- que ela é mais descontraída e tem um ambiente informal e familiar. Em seu livro UNDERSTANDING CHURCH GROWTH (Comprendendo o Crescimento da Igreja), o Dr. Donald McGavran cita “Oito Chaves Para o Crescimento da Igreja nas Cidades”. A primeira delas nos dá a idéia do Dr. McGavran sobre a importância da implantação e multiplicação das igre- jas em casas. Ele afirma: “As oito chaves que estou para mencionar não são meras adivinha- ções. Elas descrevem princípios com os quais concordam homens especi- alizados no crescimento da Igreja. “Em primeiro lugar, enfatize as igre- jas em casas. Quando a igreja começa a crescer, cada congregação precisa en- contrar logo um lugar para se reunir. “A congregação deveria reunir-se nos ambientes mais naturais. Deveria ser um lugar em que os não-cristãos pos- sam vir com a maior tranqüilidade. Ela deveria estimular os próprios converti- dos a darem prosseguimento aos cultos. A obtenção de um lugar de reunião não deveria colocar um peso financeiro so- bre as pequenas congregações. “A igreja em casas supre todos es- ses requisitos de forma ideal. Elas de- veriam sempre ser consideradas, tan- to para uma implantação inicial como para expansões posteriores.” AS IGREJAS EM CASAS SÃO FERRAMENTAS EVANGELÍSTICAS O Dr. Peter Wagner é considerado por muitos como a maior autoridade sobre o crescimento de igrejas hoje. Ele diz: “O melhor método debaixo do céu para a evangelização é a im- plantação de igrejas. Nunca houve um método melhor e nunca haverá.” IMPLANTAÇÃO DE IGREJAS POR SATURAÇÃO é o nome dado à visão que agora está sendo adotada por lí- deres de missões no mundo todo. Uma igreja que se divide a fim de multiplicar-se experimenta uma adi- ção. Uma igreja que tem o seu enfoque somente na adição tem a tendência de atolar-se e estagnar-se. O objetivo de muitos líderes de igrejas tem sido o de se tentar fazer uma só congregação muito grande, em vez de se multiplicar as congregações. Contudo, a Igreja de qualquer cidade aumenta muito mais rapidamente pela multiplicação das congregações do que pela tentativa de se edificar uma só super-congregação. A maior igreja do mundo encon- tra-se em Seul, Coréia, sob a lideran- ça pastoral do Dr. Yonggi Cho, que tem aplicado o princípio de multipli- cação. A sua igreja está evangelizan- do a Cidade de Seul de uma maneira notável, multiplicando as congrega- ções, que são chamadas de “células”. Eles se dispuseram a dividir-se a fim de se multiplicarem, e a adição tem sido incrível. AS IGREJAS EM CASAS FACILITAM O TREINAMENTO DE PASTORES E LÍDERES Os educadores têm entendido há muito tempo que o melhor método de treinamento ainda é o método de apren- dizagem, isto é, o treinamento de “um mestre a um aprendiz na prática”. É o que um ferreiro, encanador, ou advo- gado teria recebido há cem anos atrás. Eles aprendiam observando e pratican- do, e, ao mesmo tempo, sendo respon- sáveis a um mestre na profissão. Esse era o método de Jesus. Seus discípulos aprendiam observando, ou- vindo e praticando, enquanto con- viviam com o Próprio Mestre dos mes- tres. Nas igrejas em casas os pastores podem ser treinados no sentido de fa- zerem de fato a obra de pastoreio. Ao mesmo tempo, eles estão sob a super- visão de um pastor sênior. Eles cres- cem à medida que a igreja cresce sob a liderança deles. Os pastores que têm empregos re- munerados de tempo integral podem continuar, a trabalhar até que a igreja possa sustentá-los financeiramente. Al- guns pastorearão mais do que uma igre- ja numa casa, uma vez que nem todas elas se reúnem no domingo de manhã. AS IGREJAS EM CASAS AJUDAM A ESTREITAR OS RELACIONAMENTOS Uma pequena igreja numa casa tem uma probabilidade muito maior de que as pessoas tímidas encontrem sua identidade no Corpo de Cristo. Em nossa igreja em casa geralmen- te almoçávamos juntos nos domingos. Todas as famílias participavam, pre- parando e servindo as refeições. A for- mação de relacionamentos ocorre muito mais facilmente neste tipo de situações “familiares”. Em seu periódico Church Growth Report (Relatório do Crescimento da Igreja), Win Arn faz a seguinte afir- mação sob o título “UM PRINCÍPIO DE CRESCIMENTO COMPROVADO”: GRUPOS PEQUENOS EFICAZES: “Em nossos estudos de igrejas cres- centes, descobrimos que uma carac- terística comum é o alto nível de ‘cola relacionamental’ entre os membros. Podemos chamar esta característica de ‘amor’, ‘amizade’, ‘solicitude’..., mas é o que genuinamente atrai e retém os membros.” AS IGREJAS EM CASAS SÃO ECONÔMICAS Uma igreja numa casa pode cana- lizar para o ministério quase todos os seus recursos financeiros. Já que as ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 ATOS / 5 reuniões são feitas em casas, todas as despesas com construções são evita- das. Desta forma, somente dez famí- lias que dizimam poderiam sustentar financeiramente um pastor em tempo integral. Já que um pastor poderia supervi- sionar mais do que uma igreja em casa, ele não precisa receber todo o seu sustento de uma só congregação. As reuniões podem ser feitas em ou- tros dias ou noites, como também aos domingos. Ouvi sobre um pastor que estava fazendo regularmente 12 reu- niões em casas toda as semanas. Não há nada no Novo Testamento que diga que domingo às 11 horas da manhã é a hora de a igreja se reunir. Aliás, o padrão do Livro de Atos é que eles se reuniam diariamente. O primeiro dia da semana é raramente mencionado, e nunca é enfatizado como um dia es- pecial, separado para a adoração. Obviamente, muitas destas igrejas em casas são dirigidas por pastores em treinamento. Estas pessoas possuem empregos regulares e pastoreiam uma igreja numa casa à medida que seu tempo permitir. A honra deum salário razoável de- veria ser dada aos que estão em tem- po integral na obra. Contudo, até mes- mo os que servem como pastor em tempo parcial deveriam receber uma honra semelhante. Eles deveriam re- ceber algumas ofertas de amor e uma remuneração proveniente dos dízimos e ofertas. Isso ressarciria seus gastos e os encorajaria na obra do ministé- rio. Quer esteja em tempo parcial ou integral, “digno é o trabalhador do seu salário” (Lc 10:7). AS IGREJAS EM CASAS PODEM RESOLVER O PROBLEMA DO CRESCIMENTO Algumas das nossas congregações crescem tanto que precisam construir prédios maiores, alugar instalações maiores, ou fazer dois cultos. Isso é o que chamamos de um “problema agra- dável”. No entanto há também uma solu- ção agradável. Comece a treinar pas- tores, designando-lhes uma área da ci- dade. Em seguida, dê-lhes algumas fa- mílias para iniciarem uma igreja em casa nestas áreas da cidade, com o pro- pósito de “terem um bebê”. A coisa mais vivificante que uma igreja pode fazer é ter um bebê. Te- nho visto muitas e muitas igrejas mor- rendo por causa de um espírito pos- sessivo na liderança. As igrejas que Deus está abençoando são as igrejas que continuamente dão tudo o que Deus lhes dá. Jesus disse: “dai, e dar-se-vos-á” (Lc 6:38). Uma igreja que dá é uma igreja que cresce. Michael Green é o diretor da Fa- culdade de Saint John de Nottingham, Inglaterra. Em seu discurso no Con- gresso Internacional sobre a Evange- lização Mundial em Lausanne, Suíça, em 1974, ele falou sobre os Métodos e Estratégias na Evangelização da Igreja Primitiva. Ele disse: “Na Igre- ja Primitiva, os prédios não eram im- portantes. Eles não tiveram nenhum prédio de igreja durante o período de seu maior avanço. “Hoje em dia, os prédios de igreja parecem importantíssimos a muitos cristãos. A sua manutenção consome o dinheiro e o interesse dos membros. Isso geralmente os afunda em dívidas e os isola dos que não frequentam a igreja. “Em alguns casos, até mesmo a pa- lavra ‘igreja’ mudou o seu significa- do. Ela não significa mais um grupo de pessoas, como significava na épo- ca do Novo Testamento. Nos dias atu- ais, ‘igreja’ muitas vezes significa in- corretamente um prédio.” Há muitas vantagens nas igrejas em casas. A mais importante delas é a simplicidade e facilidade de multipli- cação. Os movimentos de igreja que cres- ceram mais rapidamente na história foram os que não tiveram enormes es- truturas organizacionais. Os movi- mentos mais bem-sucedidos têm enfocado os aspectos essenciais sem hesitações. n 6 / ATOS ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 A IGREJA EM CASAS O Modelo do Novo Testamento Para a Multiplicação de Congregações Capítulo 2 AS IGREJAS EM CASAS NO NOVO TESTAMENTO Durante a vida de Jesus na terra, residências comuns e simples eram usadas para a propagação do Evange- lho e para o discipulado de novos con- vertidos. Isso também aconteceu du- rante a expansão da Igreja no Livro de Atos. Os versículos abaixo mos- tram isto: Uma Casa Onde Jesus Foi Adorado “Entrando na casa, viram o meni- no com Maria, sua mãe. Prostrando- se, o adoraram; e, abrindo os seus te- souros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra” (Mt 2:11). A primeira vez em que um grupo se reuniu para adorar a Jesus e ofere- cer-Lhe presentes foi numa casa – a casa de Maria e José. A Casa de Pedro Foi Usada Para Uma Reunião de Curas “Tendo Jesus chegado à casa de Pedro, viu a sogra deste acamada e ardendo em febre. Mas Jesus tomou- a pela mão, e a febre a deixou. Ela se levantou e passou a servi-lo. Chega- da a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados; e ele meramente com a palavra expeliu os espíritos e curou todos os que estavam doentes” (Mt 8:14-16). Nos primeiros dias do Seu minis- tério, Jesus usou a casa de Pedro para fazer reuniões de pregação, cura, e li- bertação. O Primeiro Culto de Ceia foi Realizado Numa Casa Na última semana do ministério de Jesus, Ele disse aos Seus discípulos: “Ide à cidade ter com certo homem e dizei-lhe: O Mestre manda dizer: O meu tempo está próximo; em tua casa celebrarei a Páscoa com os meus dis- cípulos” (Mt 26:18). O nosso Senhor poderia ter esco- lhido celebrar a primeira Ceia com os Seus discípulos numa sinagoga, no Templo, ou em algum outro lugar de importância religiosa. Contudo, Ele escolheu celebrá-la numa casa comum e simples. Assim sendo, Ele deu a Sua apro- vação à residência comum como sen- do um lugar consagrado e santifica- do, digno dos mais solenes cultos de adoração. Jesus Pregou a Multidões Reunidas em Casas “Vários dias mais tarde, Ele vol- tou a Capemaum e as notícias da Sua chegada espalharam-se rapidamente por toda a cidade. Logo, a casa em que Ele estava ficou tão lotada de vi- sitantes que não havia espaço para nem mais uma pessoa, nem mesmo fora da porta. E Ele lhes pregou a Palavra” (Mc 2:1,2 – A Bíblia Viva). Jesus fez em casa as mesmas coi- sas que fazemos em nossos prédios de igrejas hoje em dia. Ele também fez estas coisas ao ar livre e no pátio do Templo. O Pentecostes Veio a Uma Igreja em Casa “Ao cumprir-se o dia de Pentecos- tes, estavam todos reunidos no mes- mo lugar; de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam as- sentados” (At 2:1,2). Muitos de nós nunca consideramos o número de eventos bíblicos funda- mentais que aconteceram em residên- cias particulares. LEMBRETES: • O primeiro culto de adoração aconteceu numa casa • O primeiro culto de Ceia foi numa casa • O primeiro culto de curas foi rea- lizado numa casa • A primeira ocasião de pregação do Evangelho aos gentios aconteceu na casa de Cornélio • O derramamento do Espírito San- to no Dia de Pentecostes foi numa casa, e • As primeiras igrejas que o Após- tolo Paulo iniciou foram todas or- ganizadas em casas. Através dos séculos nós perdemos a vida que pode ser encontrada na sim- plicidade. Ao contrário, temos acres- centado coisas que retardaram o pro- ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 ATOS / 7 gresso e a expansão da Igreja a todas as nações. Nas Ruas e nas Casas “Eles adoravam juntos, regular- mente, no Templo, todos os dias, reu- niam-se em pequenos grupos nas ca- sas para a comunhão, e compartilha- vam as suas refeições com grande ale- gria e gratidão” (At 2:46 – A Bíblia Viva). A Igreja Primitiva não somente se reunia em pequenos grupos nas casas, mas também em reuniões maiores em lugares públicos. O crescimento mais rápido da Igreja acontece quando ela não usa locais formais de reunião. Por toda a história, a Igreja cresceu mais rapidamente quando ela permaneceu flexível, móvel e militante. Saulo, o Perseguidor, Ataca as Igrejas em Casas Saulo começou a perseguir a Igre- ja. Indo de casa em casa, ele arrastava os crentes e os colocava na prisão. “Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere” (At 8:3). Onde ia Saulo de Tarso para en- contrar o “povo do caminho” a fim de arrastá-los à prisão e à morte? Ele os encontrava nas casas. Ele próprio, mais tarde, iniciaria igrejas em casas em suas viagens missionárias. Onde Vocês se Reúnem? “E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de en- sinar e de pregar Jesus, o Cristo” (At 5:42). Os crentes não se reuniam no Tem- plo em si, mas nos pátios, ou perto do Templo, onde as pessoas se reuniam. Eram reuniões ao ar livre. A HISTÓRIA DO CRISTIANISMO de Lion afirma que os cristãos não ti- nham nenhum prédio especial, mas reuniam-se em casas particulares: “Rústico, o Perfeito, perguntou o 8 / ATOS ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 A Igreja Primitiva não somente se reunia em pequenos grupos nas casas, mas também em reuniões maiores em lugares públicos. O crescimento mais rápido da Igrejaacontece quando ela não usa locais formais de reunião. Por toda a história, a Igreja cresceu mais rapidamente quando ela permaneceu flexível, móvel, e militante. seguinte a Justino Mártir (100-165 d.C.): ‘Onde vocês se reúnem?’ Justi- no disse: ‘Onde as pessoas escolhem e podem, ou você supõe que todos nós nos reunimos exatamente no mesmo lugar? Nada disto, porque o Deus dos cristãos não está confinado (restrito) a um só lugar’.” Em seu livro CELLS FOR LIFE (Cé- lulas Para a Vida), Ron Trudinger diz: “Eles iniciaram a prática de se reu- nirem diariamente no Templo e de partirem o pão de casa em casa. Esta última frase também pode- ria ser traduzida por: ‘nas várias casas particulares’. “A oposição dos judeus logo impediu o uso do Templo pêlos cristãos. As sinagogas foram usa- das por algum tempo, mas não de- morou muito até que muitas de- las fossem fechadas aos cristãos (veja Atos 19). No entanto, con- tinuamos encontrando muitas re- ferências em Atos e nas Epísto- las de igrejas em casas.” A Igreja em Casa que Abriu o Evangelho às Nações “No dia imediato, entrou em Cesaréia. Cornélio estava espe- rando por eles, tendo reunido seus parentes e amigos íntimos. Aconteceu que, indo Pedro a en- trar, lhe saiu Cornélio ao encon- tro e, prostrando-se-lhe aos pés, o adorou... Pedro... entrou, en- contrando muitos reunidos ali” (At 10:24-27). Esse é um bom exemplo de como iniciarmos uma igreja em casa. Al- guém que esteja faminto por Deus re- úne vários membros de sua família e amigos. Aí então esta pessoa pede que o homem de Deus venha e comparti- lhe a Palavra de Deus. Tão simples assim! A reunião na casa de Cornélio foi um irrompimento histórico. Ela con- venceu os crentes judeus que as Boas- Novas eram para todas as nações, e não somente para os judeus. A Casa de Lídia Foi a Primeira Igreja da Europa “Tendo-se retirado do cárcere, di- rigiram-se para a casa de Lídia e, vendo os irmãos, os confortaram. En- tão, partiram” (At 16:40). A Igreja de Filipos foi formada na casa de Lídia. O Livro de Atos não conta como a igreja cresceu. Muito provavelmente, quando o grupo não podia mais caber na casa de Lídia, os membros formaram uma outra igreja em casa em alguma outra parte da ci- dade. Desta maneira eles continuaram a dividir-se e a multiplicar-se. A Casa Alugada de Paulo “Por dois anos, permaneceu Pau- lo na sua própria casa, que alugara, onde recebia todos que o procuravam, pregando o reino de Deus, e, com toda a intrepidez, sem impedimento algum, ensinava as coisas referentes ao Se- nhor Jesus Cristo” (At 28:30,31). Estas palavras finais do Livro de Atos revelam que, em Roma, Paulo usou sua casa alugada para divulgar as Boas-Novas do amor de Deus. O movimento que cresce mais ra- pidamente no mundo hoje começou em casas. O movimento cristão teve o seu maior crescimento enquanto os seus membros permaneceram flexí- veis e móveis. Os cristãos multiplica- ram-se mais quando o seu objetivo principal era os relacionamentos, e não os rituais. Da Sombra à Substância Todos os tipos e sombras do Anti- go Testamento foram totalmente cum- pridos em Cristo. Não precisamos mais do Tabernáculo, das vestes sa- cerdotais do Templo, da sua mobília, ou de nenhuma outra coisa semelhan- te. Cristo é tudo e em todos. Somos completos n’Ele. Não precisamos mais de um “Lugar Santo”, como tinham os judeus. Não precisamos de um al- tar de incenso, da pia, dos pães da proposição, nem do Urim ou Tumim. Não precisamos das som- bras, pois temos a substância – O NOME DELE É JESUS. Analisemos agora João 4:20- 23, quando a mulher de Samaria disse a Jesus: “Nossos pais ado- ravam neste monte; vós, entretan- to, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. Dis- se-lhe Jesus: Mulher, podes crer- me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores ado- rarão o Pai em espírito e em ver- dade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores”. Jesus esclareceu que DA SUA ÉPO- CA EM DIANTE Jerusalém não era um lugar mais santo que Samaria. Isso se devia ao fato de que ELE HAVIA VIN- DO. Em Sua vinda, Ele colocaria um fim para sempre na idéia de lugares santos. Isso porque Ele Próprio havia cumprido todos os tipos e sombras do Antigo Testamento. Louvemos ao Senhor por termos sido libertos de toda escravidão refe- rente a um lugar onde possamos ado- rar a Deus. Regozijemo-nos porque fomos libertos do legalismo. Somos livres para adorá-Lo quando estiver mos a sós ou com outras pessoas. So- mos livres para adorarmos a qualquer hora, dia ou noite, em qualquer lugar que escolhermos. n ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 ATOS / 9 A IGREJA EM CASAS O Modelo do Novo Testamento Para a Multiplicação de Congregações Capítulo 3 O QUE É UMA IGREJA? “Talvez você pense que foi uma ta- refa fácil. No entanto, ficamos muito frustrados. “Considere todas as circunstânci- as das pessoas na terra. Aí então exa- mine todos os vários modelos da Igre- ja na Bíblia. Agora você começará a entender a nossa frustração. Após muitas horas de discussão havíamos produzido muitos modelos bons. Con- tudo, não encontramos nenhuma de- finição absoluta para a Igreja, a não ser ‘pessoas movendo-se juntamente sob o senhorio de Jesus’.” Gosto da definição “pessoas mo- vendo-se juntamente”. A maioria de nós fomos levados a crer que a igreja é um prédio – algo imóvel. Se Deus estremecesse e retirasse Uma igreja certamente não é aque- le prédio da esquina, com as lindas ja- nelas de vitrais e o campanário em cima. A igreja talvez se reúna lá, mas este prédio não é a igreja. A palavra original no grego, ekklesia, é composta por duas palavras: ek, que significa “para fora de” e kalleo, que significa “Eu chamo”. O signifi- cado pleno e simples de “igreja”, de acordo com a palavra grega original, é “Eu chamo para fora de”. Quando Jesus disse: “Edificarei a Minha Igreja”, Ele estava dizendo: “Chamarei o Meu povo para fora do mundo. Eles se reunirão em Meu Nome e as portas do Inferno não prevalece- rão contra eles.” Isso mostra que o povo de Jesus chamado para fora se agrupa- rá como um exército. Eles tomarão o mundo para Ele. O inimigo não será capaz de parar este avanço. Este exér- cito invencível será motivado pelo amor de Deus no coração de seus mem- bros. Eles terão uma mensagem de amor e perdão em seus lábios. Na verdade, ekklesia tem dois sig- nificados: o de sermos chamados para fora e o de estarmos reunidos. Não podemos experimentar a Igreja até que nos reunamos. A minha esposa e eu somos UM. Somos UM até mesmo quando estiver- mos separados um do outro, por mui- tos quilômetros de distância. Porém, não experimentamos os benefícios e bênçãos da nossa união matrimonial até que nos reunamos. Semelhantemente, você e todos os outros crentes da sua cidade constitu- em a Igreja desta cidade. Mesmo quan- do vocês não estiverem reunidos, ain- da assim são a Igreja. Mas vocês não podem receber os benefícios e bênçãos da Igreja até que se reúnam. “Reunir-se” não significa que vocês precisam estar no mesmo lugar ao mes- mo tempo. Isso provavelmente nunca acontecerá em nenhuma cidade. “Pessoas Movendo-se Juntamente” John Dawson, em seu livro TAKING OUR CITIES FOR GOD (Tomando Nos- sas Cidades Para Deus), diz: “Não há nenhum modelo absoluto para o que deveria ser uma igreja local. “Certa vez eu passei uma tarde com mais de cem líderes espirituais de várias denominações. Tentamos en- contrar uma definição universal de uma igreja local bíblica. 10 / ATOS ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 todas as coisas até que não houvesse nada, senão uma simples e básica igre- ja neo-testamentária,o que teríamos de sobra? Imagine que eu tirasse todas as coisas desnecessárias do que eu en- tendo ser uma igreja. O que permane- ceria? O nosso propósito neste capí- tulo é respondermos essa pergunta. Em primeiro lugar examinemos a palavra “paraigreja”. O que é Uma Paraigreja? Li recentemente um livro que pro- curava explicar a natureza da igreja. Um subtítulo do livro era “Qual é o Relacionamento da Igreja com as Or- ganizações Paraeclesiásticas?” O au- tor fez a seguinte observação: “A Bíblia é clara no sentido de que é através da Igreja que Deus realizará o Seu grande propósito. Contudo, a Igreja nem sempre tem sido o que de- veria ser. Por esta razão, muitos cren- tes ficam desanimados com a Igreja. Eles percebem que a Igreja, da forma como é, não supre certas necessida- des óbvias. “Cristãos cuidadosos e solícitos têm desejado suprir as necessidades urgentes. Por essa razão, eles têm es- tabelecido sociedades missionárias, orfanatos, organizações para homens de negócios cristãos, e outras institui- ções semelhantes. (Nota do Editor: Estas organiza- ções são geralmente chamadas de “mi- nistérios paraeclesiásticos”. A palavra “paraigreja” ou “paraeclesiástico” sig- nifica “fora da igreja” ou “paralelo à igreja”.) “À medida que Deus continuar a restaurar e fortalecer a Sua Igreja, a necessidade dessas organizações exis- tirem diminuirá. As comunidades eclesiásticas estarão ministrando às necessidades das pessoas em toda par- te.” É óbvio na citação acima que o es- critor tinha um forte sentimento de que “paraigreja” não era realmente “igre- ja” absolutamente. Parece que ele acha que algo inferior à “igreja” apareceu, até que a igreja verdadeira possa ser curada ou despertada para fazer a obra que deveria estar fazendo. Este é um clássico exemplo da seguinte idéia: “Se você não for parecido com uma igreja, então não é uma igreja.” O fato é que, quando uma organi- zação “paraeclesiástica” é constituí- da de crentes nascidos de novo em Jesus e eles se reúnem para servi-Lo e adorá-Lo, ela não é uma “paraigre- ja” – é uma igreja! A Igreja São Pessoas A igreja não é uma organização, instituição, ou denominação. São “pessoas movendo-se juntamente sob o senhorio de Jesus”. Seria difícil encontrarmos uma verdadeira organização “paraeclesiás- tica”. Uma organização destas, com- posta por cristãos, não seria uma “pa- raigreja”. Seria uma IGREJA – O POVO DE DEUS CHAMADO PARA FORA! Até mesmo se alguns membros não fossem nascidos de novo, ainda assim seria uma igreja. Qual é a igre- ja que não tenha algumas pessoas não- salvas frequentando os cultos? Há alguns anos eu também tinha uma idéia incorreta sobre as paraigre- jas. Em meu ministério de ensino eu geralmente dizia: “Se a igreja estives- se fazendo o que deveria estar fazen- do não precisaríamos de todas estas organizações paraeclesiásticas.” Nunca me ocorreu que as pessoas paraeclesiásticas constituíam uma igreja exatamente da mesma maneira que nós, muito embora o prédio em que se reuniam não tivesse o mesmo formato que o nosso. Eu não percebia que elas eram o povo de Deus, mo- vendo-se juntamente sob o senhorio de Jesus. Meu filho mais velho é membro de uma organização “paraeclesiástica” há muitos anos. Seu grupo está fazendo um trabalho notável em missões e evangelização. Ele está crescendo muito rapidamente em todo o mundo. Alguns anos atrás meu filho e eu estávamos discutindo o futuro dele com essa organização específica. Compartilhei que eu tinha algumas idéias negativas sobre aquela orga- nização, porque ela não era uma igre- ja, e sim uma organização “paraecle- siástica”. Aparentemente ele foi apologético ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 ATOS / 11 e concordou plenamente comigo. Ele disse que o que ele e os outros esta- vam fazendo naquela organização es- tava sendo maravilhosamente abenço- ado por Deus. No entanto, ele achava que o ministério da organização ainda não era o que Deus realmente queria. Isso se devia ao fato de que aquele mi- nistério não estava sendo feito através de uma igreja, mas sim de uma “paraigreja”. (Ele também estava con- fuso sobre “igreja” e “paraigreja”.) Um dia ou dois mais tarde eu esta- va dirigindo o meu carro e pensando sobre a minha conversa com o meu filho. Senti o Senhor docilmente me perguntando: “O que é que faz de uma organização uma igreja?” Enquanto eu tentava responder esta pergunta, senti que Deus estava me dando uma revelação. Eu nunca havia visto antes tão claramente como vi naquele momento. Uma organização não é uma igre- ja pelo fato de ter um prédio com um certo formato que as pessoas chamam de igreja. Não é uma igreja pelo fato de ter sido devidamente registrada pelo go- verno federal como sendo uma igreja. Não é uma igreja pelo fato de ter sido reconhecida por uma sede denominacional como sendo uma igreja. Não é uma igreja pelo fato de ter cultos regulares aos domingos pela manhã, e por praticar o batismo e a Ceia do Senhor. Não é uma igreja pelo fato de se reunir regularmente ou num determi- nado local. É UMA IGREJA SIMPLESMENTE E SOMENTE PELO FATO DE SER O POVO DE DEUS CHAMADO PARA FORA, MOVENDO-SE JUNTAMEN- TE SOB O SENHORIO DE JESUS. O autor do livro / WILL BUILD MY CHURCH (Edificarei a Minha Igre- ja), Alfred Kuen escreveu: “E fácil ficarmos atolados com as- suntos e questões insignificantes. Apa- rentemente não há uma forma bem clara e precisa de se definir uma igre- ja local. “Quando, então, um corpo de cren- tes poderá ser chamado de Igreja? Eu pessoalmente tenho a tendência de aceitar uma definição simples: um corpo de crentes pode ser chamado de igreja sempre que um grupo se reunir regularmente para uma edificação mú- tua. “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18:20). “É claro o que Tertuliano, um dos patriarcas da Igreja Primitiva, achava ser o significado das palavras de Je- sus. Tertuliano disse: ‘Onde houver dois ou três crentes, até mesmo lei- gos, aí haverá uma igreja’.” Jim Montgomery, autor de DAWN 2000: 7 MILLION CHURCHES TO GO (Alvorada 2000: Ainda Faltam 7 Mi- lhões de Igrejas) também aborda a questão “O que é uma igreja?”. Ele escreve: “Estou impressionado com a maneira pela qual um grupo de cris- tãos enfrentou esta questão bem fun- damental na China. “Esses crentes chineses comenta- ram: ‘Muitos cristãos mais velhos dis- seram que não podiam predizer a for- ma futura das igrejas chinesas. Eles recorreram à Bíblia para encontrarem uma resposta. Eles descobriram que o formato de igrejas em casas era uma igreja legítima. Paulo menciona uma igreja em casa em l Coríntios 16:19. “Mais tarde encontramos um livro escrito por Wang Ming-dao. Ele era talvez o crente mais respeitado na China no que se refere à igreja. Por causa da sua fé ele ficou preso por mais de 20 anos. Ele acreditava que onde houvesse cristãos havia uma igreja. “Estávamos felizes com relação a isto. O nosso grupo consistia de ape- nas algumas pessoas. Contudo, supú- nhamos que éramos de fato uma igre- ja e que a nossa Cabeça era Jesus. “A afirmação de Wang Ming-dao ‘Onde há cristãos há uma igreja’ é uma definição profunda, especialmente pelo fato de ser proveniente de uma igreja que está crescendo rapidamen- te e que está trabalhando sob as mais difíceis circunstâncias.” Uma Congregação de Crentes é Uma Igreja Há alguns meses eu estava ensi- nando um pequeno grupo de crentes na vila de La Rumurosa, no Antigo México. Eu estava explicando Mateus 18:20 – “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.” Em espanhol, este versículo é o se- guinte: “Donde hay dos o três con- gregados en Mi Nombre, alli estoy en médio de ellos.” Uma palavra saltou aos meus olhos. Eu nunca a havia notado antes. É a palavra espanhola congregados,que significa “reunidos” em por- tuguês. “Reunidos” significa “congrega- dos”. “Onde dois ou três estiverem CONGREGADOS em Meu Nome, aí es- tou Eu no meio deles.” Isto me fez lembrar da palavra “congregação”. Então perguntei ao grupo de cren- tes mexicanos: “De acordo com este versículo, quantas pessoas são neces- sárias para termos uma congregação?” Enquanto eu aguardava que eles res- pondessem, fui surpreendido com o peso da resposta que estava se forman- do em minha própria mente. Duas ou três pessoas é tudo o que é necessário para termos uma congre- gação – uma congregação de crentes com Jesus no meio é uma igreja! Isso não significa que os dois ou três se- jam simplesmente quaisquer pessoas. Significa duas ou três pessoas que se- jam chamadas pelo nome de Jesus, porque pertencem a Ele. Jesus no Meio “Jesus dentro do coração” é a ex- periência do indivíduo em seu cami- nhar particular com o Senhor. “Jesus no meio” tem o mesmo sig- nificado no contexto de uma comuni- dade de igreja. “Jesus no meio” significa Jesus andando em nosso meio, tocando-nos, falando conosco através dos dons do Espírito. É Jesus fluindo por intermé- dio dos membros do Seu Corpo, a Igreja. “Jesus no meio” é a experiência corporativa. “Jesus dentro do cora- ção” é a experiência particular. Quando dois ou três crentes ver- dadeiros, nascidos de novo, se reúnem em Seu Nome, Jesus está NO MEIO. Jesus em nosso meio é IGREJA! 12 / ATOS ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 Essa experiência é diferente de quando temos Jesus no coração. Não podemos experimentar Jesus em nos- so meio enquanto estamos sozinhos. Somente podemos ter essa experiên- cia quando estivermos na companhia de outros – pelo menos uma ou duas outras pessoas. Será que dois ou três juntos são uma igreja no mais pleno sentido da palavra? Sim, são uma igreja no mais pleno sentido da palavra. É a igreja básica. Podemos ter mais do que dois ou três, e, ainda assim, ser uma igreja, uma igreja no sentido mais pleno, mas ela não se torna mais igreja pelo fato de haver mais de dois ou três membros. Ela apenas se torna uma igreja maior. O Papel dos Líderes de Igrejas E os pastores, mestres, apóstolos, evangelistas, e profetas? Será que uma organização poderá ser uma igreja sem que esses ministérios estejam presen- tes? Sim, será uma igreja, até mesmo sem todos os ministérios citados aci- ma. O quarto Capítulo de Efésios diz que o Senhor deu esses cinco minis- térios à Igreja. Ele deu esses dons a algo que já existia. Quando Paulo saiu de Antioquia em sua Primeira Viagem Missionária, ele estabeleceu igrejas em quatro ci- dades. Em seu caminho de volta à Antioquia, ele ordenou presbíteros para essas igrejas. Isso indica que o Espírito Santo, que é o Autor do Livro de Atos, sabia que elas eram igrejas ANTES que a li- derança fosse designada. “E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade efeito muitos discípu- los, voltaram para Listra, e Icônio, e Antioquia, fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus. E, promoven- do-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido” (At 14:21-23). Os presbíteros foram escolhidos dentre os discípulos que constituíam as igrejas. Os discípulos eram pesso- as chamadas por Deus das trevas para a luz. Esse tipo de pessoa constitui a IGREJA! Observe que o escritor de Atos usa as palavras “discípulos” e “igreja” de uma forma intercambiável. Observe também que Paulo achou seguro deixar aquelas igrejas recém- formadas nas mãos do Senhor, em quem as pessoas haviam crido. Esta é uma afirmação fundamental e precisa ser compreendida mais plenamente. Nós, que estamos em posições de liderança na igreja, às vezes coloca- mos erroneamente uma importância demasiada sobre nós próprios. Faze- mos isso quando presumimos que a igreja não pode funcionar sem a nos- sa total “supervisão e vigilância” com relação ao rebanho. O bispo, presbítero, ou pastor é um supervisor e alimentador. Ele funcio- na como um pai ou uma enfermeira aos seus “filhos” espirituais. No en- tanto, é preciso que haja um limite à sua supervisão espiritual. Muitos lí- deres violam esse princípio frequen- temente. A nossa violação principal como líderes de igreja é que tiramos quase que por completo a capacidade de ministração dos membros e entrega- mos esta capacidade ao “clero profis- sional”. O que é Então Uma Igreja? Se retirarmos tudo o que não é es- sencial na igreja sobrará somente o que é essencial. Teríamos então a Je- sus e pelo menos duas pessoas que se reuniram em Seu Nome. Duas pessoas que nasceram de novo, reunindo-se para reconhecerem a presença de Jesus, são uma igreja em seu nível mais básico. Não impor- ta onde e nem quando estas duas pes- soas se reúnem. Quando elas se reú- nem para honrarem a Jesus isto ainda é uma igreja. Isso, obviamente, não significa que esse nível essencial é onde o Senhor quer que operemos o tempo todo. Lou- vado seja Deus por grupos maiores. No entanto, nunca percamos de vista a igreja básica. Se o fizermos teremos a tendência de cairmos de volta em formalismos, rituais, cerimônias, re- ligiosidade, e legalismo. n ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 ATOS / 13 A IGREJA EM CASAS O Modelo do Novo Testamento Para a Multiplicação de Congregações Capítulo 4 IMPLANTAÇÃO DE IGREJAS POR SATURAÇÃO O principal defensor de implanta- ção de igrejas do Século XX foi o fa- lecido Dr. Donald McGavran. No DAWN REPORT (Relatório da Alvora- da), Jim Montgomery conta o seguin- te incidente: “Durante os últimos meses da en- fermidade de Mary McGavran, a mi- nha esposa Lyn passava frequente- mente algum tempo com ela. O Donald McGavran estava presente também. Ele não fazia caso do seu próprio câncer doloroso enquanto to- mava conta da sua amada Mary. “ ‘Vocês podem ter a certeza de que o Jim e eu continuaremos o nosso compromisso com relação ao cresci- mento das igrejas depois que você fa- lecer’, disse Lyn ao Donald certo dia. ‘“Não o chame mais de crescimen- to de igreja’, foi a sua rápida respos- ta. ‘Chame-o de multiplicação de igre- jas!’ “Duas semanas antes da sua morte ele disse: ‘A única maneira pela qual completaremos a tarefa da Grande Comissão é implantando uma igreja em todas as comunidades do mundo.’” O Movimento A. D. 2000 e Além O Movimento A.D. 2000 e Além está ganhando um impulso em todo o mundo. O seu objetivo é mobilizar o Corpo de Cristo a trabalhar diretamen- te no cumprimento da Grande Comis- são em nossa época. É uma visão que está sendo adota- da por igrejas, organizações missio- nárias e denominações em todo o mun- do. Há mais interesse hoje em missões, na evangelização do mundo, e na implan- tação de igrejas do que em qualquer ou- tra época da história. O seguinte diagrama mostra o nos- so progresso na conclusão da Grande Comissão: Não Crentes Para Cada Crente Ano = D.C. Proporção 100 360 para 1 1000 220 para 1 1500 69 para 1 1900 27 para 1 1950 21 para 1 1970 11 para 1 1990 7 para 1 2000 ? O Dr. Ralph Winter é o fundador do U.S. Center For World Mission (Centro Americano Para Missões Mundiais). Com relação a este diagra- ma ele diz o seguinte: “Nos últimos 20 séculos, os mansos têm herdado a terra silenciosamente!” Ao estudar o diagrama acima você perceberá que há 1900 anos, havia 360 pessoas não-salvas no mundo para cada crente nascido de novo. Esta era uma proporção de 360 para 1. No ano de 1500, esta proporção já havia sido reduzida a apenas 69 para 1. No início do século passado, esta proporção já havia caído a 27 para 1. Veja agora o que está acontecen- do. Desde 1950 somente, a propor- ção de não-cristãos para verdadeiros crentesfoi reduzida em 67%. Ela passou de 21 para l a apenas 7 para l! Exatamente como Jesus predis- se, a Sua Igreja está penetrando irresistivelmente em toda a Terra. Estamos chegando mais perto do tempo em que verdadeiramente “a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor” (Hc 2:14). Igrejas em Todos os Bairros Jesus ordenou que a Igreja fosse a todo o mundo e discipulasse todas as nações. A palavra “nação” significa grupo étnico, ou um grupo em que as pesso- as compartilham da mesma cultura e língua. De acordo com líderes missi- onários, há aproximadamente seis mil nações ou grupos étnicos que ainda não possuem uma igreja. São necessárias mais do que algu- mas igrejas para se discipular uma nação. A única maneira de fazê-lo é por intermédio de implantação de muitas igrejas dentro dessa nação. Isso requer uma estratégia de IM- PLANTAÇÃO DE IGREJAS POR SATU- RAÇÃO, que significa a implantação de igrejas em todos os bairros com uma população de 500 a 1000 pessoas. Esta visão de IMPLANTAÇÃO DE IGREJAS POR SATURAÇÃO não é so- mente para nações em desenvolvimen- to. É para todas as nações, incluindo- se as da Europa, América Latina e América do Norte. 14 / ATOS ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 A maioria dos líderes das igrejas existentes não ficam nervosos ao pen- sarem sobre um movimento de igre- jas em casas, se esse movimento esti- ver localizado do outro lado do mun- do. No entanto, se o movimento esti- ver acontecendo em suas cidades, po- derá haver uma reação bem diferente. Damos brados de louvores a Deus por todos os chineses que estão sendo salvos por causa do movimento de igre- jas em casas na China. Contudo, os brados param e, às vezes, tornam-se um resmungo de protesto se esse movi- mento chegar em nossas cidades. Por- quê? Muitos temem que isso cause uma divisão dentro de suas igrejas e leve embora alguns de seus membros. Seria bom se pudéssemos ver o movimento de igrejas em casas como uma multiplicação de congregações. Aí então todas as igrejas de uma dada cidade poderiam tornar-se ativas na multiplicação de congregações, em vez de tentarem edificar uma só con- gregação gigantesca. Seríamos desafiados na área do preparo de novos líderes. Nós já de- veríamos mesmo estar treinando líde- res. “O campo é o mundo” (Mt 13:38). Sempre é o tempo certo para alcan- çarmos todos os não-salvos em todo o mundo. Ninguém deveria dizer: “Ei, não comece uma igreja aqui. Este é o MEU território!” Não há nenhuma igreja que esteja alcançando todos os não- salvos em uma cidade, ou mesmo em alguma região ou bairro. Precisamos de toda ajuda que pudermos obter para alcançarmos os necessitados. Se um movimento de igrejas em casas acelerasse a evangelização da minha cidade, eu gostaria de iniciar tantas igrejas em casas quanto possí- vel. Eu tomaria as providências para que elas se multiplicassem e eu tam- bém estimularia a quaisquer outros pastores que amam a Jesus a multi- plicarem as congregações na minha própria cidade ou em outra qualquer. Desenvolvam Líderes Leigos Não-Remunerados Alguns se preocupam, achando que a multiplicação de igrejas em ca- sas produz líderes não-qualificados. Há uma preocupação de que líde- res ineptos possam causar um aumen- to de heresias e de ignorância. Esse argumento supõe que a rápi- da multiplicação de congregações es- vazia o nosso suprimento de líderes qualificados. Alguns acham que essa multiplicação torna necessária a co- locação, como líderes nas igrejas em casas, de homens e mulheres que Deus não pode usar. Precisamos manter em mente que Jesus não foi às instituições religio- sas da Sua época para escolher líde- ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 ATOS / 15 res para a Sua Igreja. Ele escolheu ho- mens que eram pescadores ignoran- tes e leigos simples e comuns. Em se- guida Ele os capacitou com o enchi- mento do Espírito Santo. Deus gosta muito de usar coisas pequeninas e fracas. Considere a se- guinte passagem bíblica: “Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chama- dos muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mun- do, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus” (l Co 1:26-29). Têm havido muitos movimentos mundiais significativos na divulgação do Evangelho por toda a história da Igreja. Em cada um deles, homens e mulheres ordinários e comuns têm tido um papel importante. João Wesley era um homem muito instruído, com anos de aprendizado e treinamento religioso. Ele foi o líder de um dos grandes movimentos de reavivamento e implantação de igre- jas da história. No entanto, Wesley não foi às escolas estabelecidas de treina- mento religioso para encontrar os seus pastores e líderes. Ele disse: “Dê-me doze homens que amem a Jesus com todo o seu co- ração e que não temam os homens ou os demônios. Não dou a mínima im- portância se forem clérigos ou leigos. Com estes homens eu mudarei o mun- do.” E foi exatamente isso que João Wesley fez. Pregar o Evangelho ao ar livre na época de Wesley era o cúmulo do sa- crilégio. Era considerado como uma grave afronta à Igreja estabelecida. A Sagrada Palavra de Deus não podia ser proclamada fora de um prédio de igreja. Os Irmãos Wesley e George Whitefield sofreram anos de persegui- ções por quebrarem as antigas tradi- ções da Igreja estabelecida. No entan- to, isso não os deteve. Eles conheciam as Escrituras. Eles estavam convencidos de que se Jesus podia quebrar as tradições, era acei- tável para eles fazerem o mesmo. Agora citaremos uma vez mais os escritos do Dr. McGavran, o “Pai” do Movimento de Crescimento de Igre- jas. Em seu livro UNDERSTANDING CHURCH GROWTH (Compreendendo o Crescimento da Igreja), ele afirma: “Desenvolva líderes leigos não- remunerados. Os leigos têm tido um papel importante nas expansões urba- nas da Igreja. “Desde o início do crescimento de igrejas nas cidades da América Lati- na, homens comuns não-remunerados dirigiram as congregações. “Em alguns lugares, trabalhadores, mecânicos, balconistas, ou motoristas de caminhão ensinam a Bíblia, dirigem as orações, contam o que Deus tem fei- to por eles, ou exortam os irmãos. Nes- tes lugares, o cristianismo realmente parece natural a homens comuns. “Estes leigos que estão no minis- tério estão sujeitos aos mesmos ris- cos e estão limitados pelo mesmo ho- rário de trabalho que os membros de suas congregações. Talvez eles este- jam carentes na precisão dos ensinos bíblicos ou na beleza de suas orações. Contudo, eles compensam abundan- temente essa falha através do contato íntimo com as pessoas comuns. “Nenhum obreiro remunerado que venha de fora pode saber tanto sobre uma região ou bairro quanto alguém que tenha dezenas de amigos íntimos e parentes ao seu redor. “É verdade que em ‘território no- vo’, alguém de fora deve ser a pessoa indicada para iniciar novos trabalhos. No entanto, seria melhor a pessoa en- tregar logo a direção das novas igre- jas a homens da própria região.” Em seu livro BREAKING THE STA1NED GLASSBARRIER (Quebran- do a Barreira das Janelas de Vitrais), David Womack escreveu: “Há somen- te uma maneira pela qual a Grande Comissão pode ser realizada, a saber, estabelecendo-se congregações que preguem o Evangelho em todas as comunidades sobre a face da terra.” Roger Greenway, um especialista na evangelização de cidades, diz em DISCIPLING THE CITY (Discipulando a Cidade): “A tarefa evangelística da Igreja exige que cada bairro, prédio de apartamentos, e vizinhança tenha uma igreja fiel à Palavra de Deus estabelecida.” Igrejasaos Milhões Há pouco tempo eu estava lendo o livro de Jim Montgomery intitulado DAWN 2000 (Alvorada 2000). Ele tem um subtítulo que eu quase não conse- guia crer: AINDA FALTAM SETE MI- LHÕES DE IGREJAS. Pensei comigo mesmo: “Como alguém consegue até mesmo ousar pensar em termos de milhões de igrejas?” Eu ainda não havia lido muito até descobrir que eu também poderia crer que sete milhões de igrejas pudessem ser implantadas por todo o mundo nos próximos anos. Creio que seja provável porque es- tamos no limiar do mais forte movi- mento missionário da história do mun- do. Há mais interesse agora em alcan- çarmos todas as línguas, tribos e na- ções do que jamais houve desde que Jesus subiu ao Pai. Há um grande clamor subindo em todo o mundo, a saber: VAMOS TER- MINAR A TAREFA! VAMOS CUMPRIR O MANDAMENTO DE CRISTO DE PREGARMOS O EVANGELHO A TO- DAS AS CRIATURAS. VAMOS OBE- DECER O SEU MANDAMENTO DE DISCIPULARMOS TODAS AS NA- ÇÕES. VAMOS TRAZER CRISTO DE VOLTA PARA REINAR EM JUSTIÇA. VAMOS VER OS REINOS DESTE MUNDO TORNANDO-SE OS REINOS DO NOSSO DEUS E DO SEU CRISTO. Há uma grande onda que está ga- nhando impulso diariamente. Certamente a pedra que foi corta- da sem mãos, que o profeta Daniel viu em sua visão, é Cristo. Daniel nos conta como ele viu a pedra descendo para ferir e golpear os pés da estátua que representa os poderes do mundo (Dn 2:34). Essa pedra, que é Cristo, está fi- cando cada vez maior e ganhando im- pulso. Ela já colidiu ruidosamente contra os pés do sistema deste mun- do. Em breve ela crescerá e se trans- 16 / ATOS ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 formará numa montanha que cobrirá a terra “do conhecimento do SE- NHOR, como as águas cobrem o mar” (Is 11:9). A chave para o cumprimento da Grande Comissão é a implantação de igrejas. Há um plano que está atraindo a atenção de muitos estrategistas de missões hoje em dia. É a implantação de uma congregação de crentes em todas as comunidades com 500 a 1000 habitantes. Isto é a IMPLANTAÇÃO DE IGREJAS POR SATURAÇÃO. Teremos de jogar fora o nosso con- ceito de igreja com janelas de vitrais. Não podemos mais pensar em “igre- jas” como sendo uma construção de tijolos. Precisamos começar a pensar em igreja como sendo pessoas, que se re- únem em nome de Jesus. Essas pes- soas estão se reunindo em casas, lo- jas, escritórios, fábricas, armazéns, es- colas, salões fúnebres, parques, peni- tenciárias, prisões, hospitais, prédios abandonados, esquinas, saguões, clu- bes femininos, clubes de serviço, e até mesmo em prédios de igreja. O Sistema de Aprendizes A pergunta urgente é a seguinte: Onde vamos arrumar todos os pasto- res que serão necessários para dirigi- rem todas essas novas igrejas? Há alguns anos, na América Lati- na, vários missionários se reuniram para traçarem um plano para o treina- mento de jovens para o ministério. A maioria das pessoas em suas regiões eram muito pobres. Portanto, era mui- to improvável que qualquer um daque- les homens fossem enviados a uma cidade para serem instruídos numa escola teológica. Aqueles missionários apresenta- ram um plano chamado de ETE – Edu- cação Teológica por Extensão. Era um curso que os rapazes podiam fazer em casa. Foi uma idéia oportuna para o tempo em que estavam vivendo e tor- nou-se um programa muito bem-su- cedido. Mais tarde, um outro missionário chamado George Patterson acrescen- tou um outro “E” ao nome deste pro- grama. Ele chamou o seu plano de ETEE – Educação Teológica e Evan- gelização por Extensão. Era um pla- no para os pastores treinarem rapazes para o ministério através de um siste- ma de aprendizes. O plano exigia que cada pastor su- pervisionasse o treinamento pessoal do aprendiz. Ele deveria dar ao jovem um “laboratório” para que ele apren- desse a pastorear uma igreja. O “laboratório” era uma igreja ver- dadeira, um pequeno grupo de pessoas que se reuniam numa casa ou em al- gum outro lugar. O aprendiz era envia- do para pastorear esse grupo. De vez em quando o aprendiz recebia tarefas especiais do pastor patrocinador. Al- gumas destas tarefas eram: ler certos livros, ouvir fitas, frequentar reuniões, ou participar de seminários. Semana após semana, o aprendiz cumpria as tarefas dadas pelo seu pastor-mestre. A visão de multiplicação aconte- cia à medida que cada aprendiz era en- sinado a patrocinar também outro ho- mem da própria congregação. Assim sendo, a visão do movimento de im- plantação de igrejas estava se cum- prindo. n ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 ATOS / 17 A IGREJA EM CASAS O Modelo do Novo Testamento Para a Multiplicação de Congregações Capítulo 5 UMA RODA OU UMA VIDEIRA? Pense numa roda caída no chão, com raios saindo em todas as direções, procedentes de seu eixo no centro. Pense agora numa videira, crescen- do no chão, que começa num lugar e estende os seus ramos em todas as di- reções. Cada um dos ramos está in- troduzindo raízes no solo que também crescem e transformam-se em plantas. Cada raiz está gerando uma outra planta exatamente igual à primeira. Todas essas novas plantas têm o mes- mo potencial de enviarem ramos, os quais também introduzem raízes no solo. Qual das duas, a roda ou a videira, descreve melhor a estratégia de IM- PLANTAÇÃO DE IGREJAS POR SA- TURAÇÃO? A VIDEIRA, obviamente. Não é uma questão de qual das duas funciona. Ambas funcionam. Uma delas, no entanto, funciona me- lhor do que a outra. Algumas igrejas estão usando o conceito da roda e ou- tras estão começando a ver a sabedo- ria do conceito da videira com rela- ção à implantação de igrejas. A Roda O conceito da roda requer que to- das as igrejas-bebês estejam intima- mente ligadas e dependentes da igre- ja-mãe. Normalmente elas não são chamadas de igrejas. Às vezes são chamadas de “grupos familiares” ou “células”. Elas são consideradas como uma extensão da igreja-mãe. Todos os membros dos pequenos grupos reúnem-se durante a semana a fim de poderem freqüentar a igreja- mãe no domingo de manhã. Todos os dízimos e ofertas são canalizados à igreja-mãe. Os líderes das células não são con- siderados como pastores. De vez em quando uma das igrejas-células é li- berada no sentido de tornar-se uma igreja adulta e um pastor é designa- do. Esse, em essência, é o conceito da roda. Ele tem sido muito bem-sucedi- do em alguns lugares e tem produzi- do algumas congregações bem gran- des. A Videira O conceito da videira com relação à implantação de igrejas pode ser ilus- trado pela “planta-aranha”. Ela tem fo- lhas longas, graciosas, e diversifica- das, e assemelha-se a um chorão em miniatura. De suas folhas crescem lon- gos ramos que produzem “plantas-ara- nhas” menores em intervalos ao lon- go dos ramos. A “planta-aranha” geralmente é plantada num vaso suspenso. As “plantas-aranhas” bebezinhas nunca se tornam tão grandes quanto a plan- ta-mãe. Isso se deve ao fato de que, diferentemente da planta-mãe, que tem as suas raízes plantadas no solo, as “plantas-aranhas” bebês são deixa- das pendentes no ar. Elas recebem toda a sua vida da planta-mãe. Imagine agora que você tirou essa linda planta de sua posição suspensa e a plantou no chão. Cada uma das “plantas-aranhas” bebezinhas come- çarão a introduzir suas raízes no chão. Quando isso acontece, cada plan- ta-bebê começa a crescer e a enviar novos ramos em todas as direções. Dessa forma, ela eventualmente gera um infindável número de lindas e ma- duras “plantas-aranhas”. Tendências A roda tem a tendência a atrair os raios para si mesma; a videira, a libe- rar os ramos para fora. A roda tem a tendência a ser local; a videira, a estar tanto dentro como fora de sua área local. A roda tem a tendência a adição; a videira, à multiplicação. A roda tem a tendência a edificar uma só igreja; a videira, a edificar muitas igrejas. A rodatem a tendência a restringir a visão missionária; a videira, a incen- tivar a visão missionária. A roda abrange a cidade; a videi- ra, o mundo. A roda treina líderes de grupos; a videira, pastores e líderes. A roda tem a visão de células, es- tudos bíblicos, ou de grupos familia- res; a videira tem a visão de igrejas reunindo-se em casas. Igrejas em Casas Que o Senhor da Colheita nos dê uma visão de longo alcance para a im- plantação de igrejas. Que essa visão permita uma liberdade total para que a vida da igreja possa expressar-se. Que não haja nenhuma restrição na expressão da vida da igreja! Esta é a nossa oração. Amém! n 18 / ATOS ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 A IGREJA EM CASAS O Modelo do Novo Testamento Para a Multiplicação de Congregações Capítulo 6 SERÁ QUE OS PRÉDIOS DE IGREJAS SÃO MESMOS NECESSÁRIOS? Howard Snyder escreveu um livro muito importante, intitulado THE PROBLEM WITH WINESKINS (O Problema com os Odres). Nesse livro, ele aborda detalhadamente os proble- mas das estruturas eclesiásticas. Ele fala sobre os propósitos de Deus para a Sua Igreja que estão sen- do revelados. Ele fala da nossa inca- pacidade, algumas vezes, em fazermos os ajustes apropriados com relação a esses propósitos. O texto a seguir é do capítulo intitulado “Os Prédios de Igrejas São Supérfluos?” “Imagine só! Imagine que você está em qualquer cidade importante do Primeiro Século, onde o cristianismo havia penetrado. “Agora faça a pergunta: ‘Onde está a igreja?’ Você seria dirigido a um gru- po de adoradores reunidos numa casa. “Não havia nenhum prédio espe- cial e nenhuma evidência de riqueza com que pudéssemos associar a igre- ja. Havia somente pessoas.” Walter Oetting, em seu livro THE CHURCH IN THE CATACOMBS (A Igreja nas Catacumbas), escreveu: ‘“Os cristãos não começaram a edificar prédios de igrejas até aproxi- madamente o ano 200 d.C. Esse fato sugere que os prédios não são essen- ciais para um crescimento numérico ou profundidade espiritual. ‘“A Igreja Primitiva possuía tanto o crescimento quanto a profundidade. Até épocas recentes, o maior período de vitalidade e crescimento da Igreja ocorreu durante os dois primeiros sé- culos d.C. Em outras palavras, a Igre- ja cresceu mais rapidamente quando ela não tinha a ajuda – ou o estorvo – dos prédios de igrejas.’” Creio que o Senhor está chaman- do Seu povo para arrepender-se da ên- fase demasiada que se tem dado aos prédios nos últimos séculos. Ele está nos dizendo para nos livrarmos de to- das as barreiras à rápida implantação de igrejas. O objetivo é que “a palavra do Se- nhor se propague e seja glorificada” (2 Ts 3:1). Um dos principais obs- táculos, em muitos casos, é a constru- ção ou prédio que chamamos de “igre- ja”. Quebrando a Barreira dos Vitrais da Igreja O Dr. Donald McGavran, em seu livro Understanding Church Growth (Compreendendo o Crescimento da Igreja), diz: “As igrejas em casas pos- sibilitaram que a pequenina Igreja do Primeiro Século crescesse poderosa- mente. Com uma só cajadada, eles venceram quatro obstáculos ao cres- cimento, com os quais a Igreja se de- ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 ATOS / 19 parou, à medida que liberava novas populações: (1)”O custo de um prédio de igreja. Sem desembolsar absolutamente, nenhum dinheiro, as igrejas em ca- sas forneceram tantos lugares de adoração quanto havia grupos de cristãos. Esse primeiro obstáculo comum à multiplicação de igrejas nunca apareceu.” (2)“O obstáculo da conexão judaica. As igrejas em casas tiraram a Igre- ja da sinagoga e a introduziu na po- pulação gentia.” (3)“O obstáculo de nos voltarmos para dentro. Cada nova igreja em casa expunha um novo grupo de amigos e parentes a um contato ín- timo com cristãos ardentes.” (4)“O obstáculo de uma liderança li- mitada. Cada igreja em casa lan- çava as responsabilidades e o prestígio da liderança em homens capazes da nova congregação. Os líderes trabalhavam de acordo com os ensinamentos do Antigo Testamento, com a tradição oral da vida de Jesus, e uma ou duas das Cartas de Paulo. Com esses limites flexíveis, eles eram livres para seguirem a direção do Espí- rito Santo.” “Em nosso contexto moderno, es- ses quatro obstáculos e suas soluções ainda são importantes. Ao falarmos sobre as causas do crescimento da Igreja Primitiva, deveríamos levar em consideração o fato físico das igrejas em casas. A IMPLANTAÇÃO DE IGREJAS POR SATURAÇÃO exige um irrompi- mento. Precisamos irromper através das “barreiras das janelas de vitrais” e entrar na comunhão simples e aber- ta do povo de Deus. Precisamos ver essa comunhão no maior número pos- sível de aspectos em que o Espírito Santo nos conduzir, e não termos medo de chamar de igreja. Quer estejamos nos reunindo em nome de Jesus numa catedral ou numa cozinha, ainda assim é “igreja”. É o povo de Deus chamado para fora e reunido. Sim, usaremos prédios. No entan- to, nunca permitiremos que os prédi- os atrapalhem a nossa mobilidade, visão, ou zelo de multiplicarmos as congregações. O Fiasco de Constantino James Rutz, em seu livro THE OPEN CHURCH (A Igreja Aberta), diz: “O que realmente nos matou foram os tijolos! Na maior asneira de sua histó- ria, a Igreja começou a construir um grande número de prédios. “Ela desalojou as catacumbas (tú- mulos subterrâneos) e os estreitos va- les florestais em que os santos se reu- niam. Ela terminou para sempre com as calorosas e preciosas reuniões na sala de estar das pessoas. “Seguindo o modelo dos tribunais romanos, os novos prédios tinham ca- pacidade para centenas de cristãos. Obviamente não podemos ter uma interação íntima e fácil com uma mul- tidão deste tamanho. Um novo santu- ário, desde o primeiro domingo em que foi aberto, colocava limites na li- vre expressão das pessoas. O novo berço sufocou o bebê. “Imagine que você estivesse viven- do naquela época. “Talvez você se sentisse à vonta- de, confessando um pecado a vinte ou trinta amigos na casa de Josephus e Johanna (ou vamos chamá-los de Zé e Maria). Mas será que conseguiria fazer ISTO na frente de quinhentas pessoas desconhecidas? “Se Deus colocasse algo muito for- te em seu coração nesta semana, você não hesitaria em levantar-se para pas- sar dez ou quinze minutos comparti- lhando isto na sala de estar do Zé e .da Maria. Mas aqui, no novo salão, há provavelmente doze homens e mulheres, no mínimo, com uma men- sagem queimando em seu coração. Você provavelmente nunca teria a chance de se expressar! “Na casa do Zé e da Maria, todos se envolveram na hora da adoração. Você pôde louvar ao Senhor de cora- ção, vez após vez, da forma como se sentia dirigido. Foi o momento mais significativo e benéfico da sua sema- na. Mas e aqui no novo prédio? Você teria de esperar por sua vez que tal- vez nunca chegue! “Eu poderia prosseguir, mas você já faz idéia de onde quero chegar. Sem os modernos equipamentos eletrôni- cos de som, as reuniões ao ar livre tornaram-se difíceis. Não difíceis DEMAIS, note bem, somente difíceis. Assim sendo, as reuniões em locais fechados assumiram a supremacia. “Tudo o que era falado ficou cen- tralizado num púlpito. A ordem foi mantida. Parecia uma boa idéia na época. “Na casa do Zé e da Maria você era um participante. Aqui, você é um espectador – um ouvinte passivo. De alguma forma você não se sente mais importante ou necessário.” Paraíso Perdido “Quando mudamos das salas de estar para os prédios de igreja com uma equipe profissional, perdemos todo o impulso. A igreja local tornou- se fraca e fria. “Os que não eram sacerdotes fo- ram chamados de ‘leigos’, uma pala- vra que nem mesmo é encontrada na Bíblia – e por uma boa razão. “Como ‘leigo’ num prédio de igre- ja do Quarto Século, você não mais se aproximava de Deus diretamente. O sacerdote fazia isso por você. “Destamaneira, um problema arquitetônico tornou-se um problema doutrinário. Foi perdido o sacerdócio do crente. “A Bíblia foi tirada das mãos do leigo e entregue ao sacerdote. E se não lhe é permitido decidir o que ela sig- nifica, por que você deveria se inco- modar em lê-la?” O Caminho da Ruína “O que de fato saiu errado? Como eu já disse, a Igreja ficou tão grande e popular que ela conseguia erigir os próprios prédios. “Infelizmente, isto resolveu um an- tigo ‘problema’ que deveria ter sido deixado sem solução. Sempre que uma sadia igreja em casa ficava gran- de demais para a sua sala de estar, ela tinha que se dividir – em duas salas de estar. Desta forma, novos líderes estavam sempre sendo empurrados para cima através da hierarquia. “Mas quando os prédios de igre- jas começaram a surgir em toda par- te, as congregações não tiveram mais 20 / ATOS ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 que enfrentar esse ‘problema’. Não havia mais aquela embaraçosa agonia de se saber quem ficaria com os pres- bíteros favoritos e quem teria que se separar com os presbíteros menos po- pulares. Todo mundo ficava com todo mundo. “O problema era que o comparti- lhamento e a intimidade ficavam com- plicados numa multidão de quinhen- tas pessoas. As grandes multidões da- vam muita importância aos discursos eloqüentes. Portanto, os novos conver- tidos gaguejantes começaram a ficar escondidos ‘em suas cascas’. “A situação em que nenhum mem- bro conhecia os outros membros subs- tituiu a comunhão. A comunicação du- rante as reuniões começou a ser do- minada pêlos poucos que tinham li- vros e sabiam ler. No final, isso pas- sou a significar os sacerdotes. “Os leigos (ou não-sacerdotes) eram cidadãos de um Império Roma- no que já estava ruindo há muito tem- po. Eles foram transformados em ‘eunucos’ espirituais. Eles perderam a força que o Império necessitava tão desesperadamente naquela época. “Em 476, Roma caiu pela última vez. Aí então a Igreja abriu o cami- nho para a Idade Média ou ‘Eras Es- curas’.” O Uso Apropriado dos Prédios Não estamos sugerindo que os pré- dios não têm lugar algum na expan- são do Reino de Deus. O Senhor cer- tamente nos dará sabedoria e direções com relação a como utilizarmos os prédios de todos os tipos no cumpri- mento da Grande Comissão. No entanto, nunca podemos cair numa atitude doentia e não-bíblica com relação à importância de um pré- dio quando estivermos implantando e edificando igrejas. As igrejas podem certamente fun- cionar sem a ajuda de prédios especi- almente construídos para essa finali- dade. Isto tem sido provado na histó- ria da igreja em todas as épocas. Ali- ás, a história mostra que a Igreja, na verdade, cresce mais rapidamente e fica mais sadia sem prédios de igrejas do que com eles. O movimento de igrejas em casas é somente uma parte do mover de Deus de volta à simplicidade. Deus está Se movendo em muitas frentes no sentido de levar a Sua Igreja à santi- dade e pureza. Essa sempre foi Sua vontade e Seu plano. Não é como se Deus subitamente acordasse um dia com relação à ne- cessidade da Igreja e iniciasse um mo- vimento para supri-la. A questão é que finalmente há cada vez mais pessoas ouvindo o que o Senhor tem dito o tempo todo: “DEVOLVAM-ME A MINHA IGREJA!!!” Estou convencido de que a atitude da Igreja deveria ser: “Senhor, a me- nos que Tu nos digas especificamen- te para construirmos, comprarmos, ou alugarmos prédios, vamos implantar e multiplicar igrejas sem eles.” Estou aberto à idéia de prédios, mas não estou aberto a restringirmos a implantação de igrejas à tradicional idéia de igrejas centralizadas em cons- truções. A necessidade de uma IM- PLANTAÇÃO DE IGREJAS POR SATURAÇÃO é grande demais. Nunca cumpriremos a Grande Co- missão num futuro previsível, conti- nuando a adotar o conceito tradicio- nal de “igreja”. Essa idéia simples- mente não permitirá um movimento em grande escala de implantação de igrejas que será necessário para discipularmos as nações. Durante séculos a Igreja, requin- tada e pomposamente, projetou e de- corou lindos e imponentes prédios, que foram chamados de “igrejas”. Em alguns casos, os prédios cha- mados de “igrejas” tornaram-se, eles próprios, objetos de adoração. Enormes quantias de dinheiro dedicadas a Deus foram gastas na construção e manuten- ção destes prédios “sagrados”. Esta era está chegando a um fim. Há um movimento no meio do novo de Deus de volta à simplicidade. E um movimento que está se afastando do cristianismo institucionalizado, poli- tiqueiro, e super-organizado. O Novo Testamento precisa ser o nosso guia de fé e prática em todas as coisas. Que ele seja também o nosso guia nesta questão de prédios de igre- jas. Que ele guie a nossa compreen- são com relação ao lugar verdadeiro dos prédios na expansão mundial da mensagem de Jesus Cristo, nosso Se- nhor. n ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 ATOS / 21 A IGREJA EM CASAS O Modelo do Novo Testamento Para a Multiplicação de Congregações Capítulo 7 UM PASSO À UNIDADE Alguém pode perguntar: “Mas to- das as pequenas igrejas em casas, es- palhadas em uma cidade, não causa- rão uma divisão e desunião no Corpo de Cristo daquela cidade? A verdade é que as igrejas peque- nas não causam mais divisões do que as grandes. As igrejas muito grandes e as igrejas muito pequenas têm o mes- mo desafio quando a questão é a uni- dade. Unidade Organizacional ou Unidade Espiritual No final da década de 1970 eu es- tava envolvido com uma nova orga- nização cristã chamada “João Dezessete Vinte e Um”, que era um esforço no sentido de ajudar a estimu- lar e promover a unidade dentro do Corpo de Cristo, tanto nos Estados Unidos como em outros países. Essa organização baseava-se na ora- ção de Jesus encontrada em João 17:21: “afim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, tam- bém sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste.” Num período de vários anos tenta- mos reunir o povo de Deus em retiros, encontros, eventos, paradas, marchas, reuniões de oração, e em todas as ma- neiras possíveis. Acreditávamos que por intermédio da nossa “unidade” or- ganizada o mundo veria e creria. Foi uma das tentativas mais frus- trantes de que eu já havia participa- do. Isso não significa que esses even- tos não tenham o seu lugar de impor- tância. Certamente são importantes. No entanto, estávamos tentando orga- nizar a unidade, e a unidade simples- mente não estava acontecendo. A unidade nunca acontecerá por meio de uma organização. Ela preci- sa acontecer no espírito mediante uma compreensão do que é a unidade. Certo dia comecei a questionar a nossa compreensão de João 17:21 e vi, em primeiro lugar, que não havía- mos interpretado corretamente a ora- ção de Jesus. Ele não estava orando por uma unidade organizacional nes- ta passagem. Ele estava orando por uma unidade espiritual. Além disso, Jesus não estava oran- do por uma unidade espiritual no meio dos crentes. Ele estava orando pela união do crente individual com o Pai, 22 / ATOS ABRIL / MAIO / JUNHO 2002 e não pela união dos crentes uns com os outros. Toda esta passagem da oração de Jesus aborda a união do indivíduo com o Pai e o Filho. Ela não aborda o rela- cionamento do crente com outros crentes. Uma interpretação errônea desta passagem causa uma grande e dolo- rosa frustração. Isso também faz com que percamos o verdadeiro significa- do daquilo pelo qual Jesus está de fato orando. João 17:21 poderia ser parafrase- ado da seguinte maneira: “Para que cada um deles possa ser um Contigo, Pai, exatamente como Tu és em Mim, e Eu sou em Ti, a fim de que o mundo possa crer que Tu Me enviaste.” O mundo nunca se convencerá de que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus Vivo, através de uma união organiza- cional. Deus sempre usa homens
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