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SOCIOLOGIA UNIDADE I

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I UNIDADE 
 
 
O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA E SUA HISTÓRIA 
 
Prof. Dr. Frederico Martins 
Ad usum privatum studiorum 
(Esquemas de aulas conforme bibliografia) 
 
 Questionamento sobre o fundamento de uma ordem social! Eis aí o 
motivo do nascimento da sociologia. 
 Sabemos que os princípios que devem reger uma ordem social já 
existia. 
 Já nos escritos da tradição filosófica de Platão e a política de 
Aristóteles. 
 Buscavam identificar os mecanismos que governam as relações 
sociais e políticas. 
 Só no sec. XVIII, porém emergirá uma interrogação sobre as “leis” 
que devem governar a ordem social!!! 
 Não desejavam constituir uma mera compreensão da sociedade mas 
sim extrair dela orientações para a ação tanto para manter, reformar 
ou modificar radicalmente a sociedade de seu tempo. 
 Os precursores da sociologia foram recrutados entre militantes 
políticos, entre indivíduos que participavam e se envolviam 
profundamente com os problemas de suas sociedades. 
 Estes concordavam com fenômenos inteiramente novos que 
mereciam ser analisados. 
 A sociologia constitui em certa medida uma resposta intelectual às 
novas situações colocadas pela revolução industrial. 
 Temas em análise: situação da classe trabalhadora, o surgimento da 
cidade industrial, as transformações tecnológicas, a organização do 
trabalho na fábrica... 
 A formação de uma sociedade capitalista que impulsiona uma 
reflexão sobre a sociedade, sobre suas transformações, suas crises, 
seus antagonismos de classe. 
 Também no âmbito do pensamento: abandono da visão sobrenatural 
que explique os fatos, substituído por uma indagação racional; 
método científico para explicar a natureza (Copérnico, Newton); 
Francis Bacon (1561-1626) anuncia a substituição da teologia pela 
dúvida metódica afim de um conhecimento da realidade. 
 Com o escritor literário Vito (1668-1744) que afirma ser o homem a 
produzir a história, afirmando que a sociedade poderia ser 
compreendida porque, ao contrário da natureza, ela constitui obra 
dos próprios indivíduos. Esta postura influenciou Hume, Adam 
Ferguson e seria posteriormente desenvolvida e amadurecida por 
Hegel e Marx. 
 No sec. XVIII os franceses iluministas insistem em uma explicação da 
realidade baseada no modelo das ciências da natureza. Condorcet 
(1741-1794) por exemplo, desejava aplicar os métodos matemáticos 
ao estudo dos fenômenos sociais, estabelecendo uma área própria 
de investigação que denominava “matemática social”. 
 Combinando o uso da razão e da observação os iluminista analisaram 
quase todos os aspectos da sociedade. Concebiam o indivíduo como 
dotado de razão, possuindo uma perseguição inata e destinado à 
liberdade e à igualdade social. 
 Se as instituições existente constituíam um obstáculo à liberdade do 
indivíduo e à sua plena realização, elas, segundo eles, deveriam ser 
eliminadas. 
 A sociologia, esta nova ciência, surge com a tarefa intelectual de 
repensar o problema da ordem social, enfatizando a importância de 
instituições como a autoridade, a família, a hierarquia social, 
destacando a sua importância teórica para o estudo da sociedade. 
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 A obra de Montesquieu (1689-1755) é expressão da pesquisa sobre 
os fundamento racionais da sociedade. Em Cartas persas (1721) 
elabora uma crítica feroz dos costumes de seu tempo. 
 Montesquieu imagina uma correspondência fictícia entre viajantes 
persas que percorrem a Europa. Esse procedimento lhe permite 
ridicularizar costumes e usos (absolutismo real). 
 Como observador “estrangeiro” examinou um certo distanciamento 
os modos de vida de seus contemporâneos. Adota assim uma 
perspectiva comparativa: os costumes não são naturais mas sim 
resultado de convenções e arbitrariedades suscetíveis de evolução 
no espaço e no tempo. 
 Com este método e ao se perguntar: “como se pode ser persa”?, 
Montesquieu se interroga sobre a contingência dos hábitos que 
estão profundamente arraigados em nós mesmos. 
 Com isto desaprova quaisquer tentações etnocêntricas. (prevalece o 
método antropológico e etnológico). 
 Mais do que imaginar uma Nação submetida ao poder do Estado 
baseado em um Contrato Social, Montesquieu pode ser pensado 
como aquele pensador da sociedade que pretende submeter o 
próprio Estado às leis, salvaguardando, assim, a democracia. 
 Montesquieu indica que o caminho da democracia é que pode 
garantir os direitos dos cidadãos e controlar o abuso do poder por 
parte do Estado e que, efetivamente, um instrumento “imaginário” 
como o Contrato Social não poderia o fazer. Neste sentido, em 
Montesquieu leis e política, governo e democracia são conceitos a 
serem trabalhados conjuntamente. 
 Para Montesquieu a melhor forma de governo é aquela onde 
prevalecem as leis. Nesse sentido, legalidade é sinônimo de 
democracia. Se muitas vezes não podemos dizer que a lei é sinônima 
de democracia, também não podemos dizer que sem leis pode existir 
democracia. Quando Montesquieu diz que o melhor Estado é aquele 
onde predomina a Lei, ele está reforçando o liberalismo 
democrático, portanto, o Estado Democrático de Direito. 
 Montesquieu é importante para o Direito e para a análise sociológica 
de seu tempo porque ele complementa a questão do Contrato Social, 
dando origem às demais leis e ao ordenamento jurídico que 
fundamenta a vivência no Estado moderno. 
 Ele sabia que o Estado moderno haveria de se organizar com bases 
nas leis e que isso seria tanto mais necessário quanto mais 
democracia existisse, pois tensões e oposições de forças antagônicas 
procuram ocupar o espaço público e conquistar a hegemonia 
política. 
 A resposta a essas indagações, presentes na fundação do Estado-
nação moderno desde Maquiavel, foi a criação de partidos políticos. 
Os partidos têm ideologias, as ideologias refletem oposições de 
grupos (classes) na sociedade, na medida em que representam os 
interesses desses grupos. 
 
Os Três Poderes 
 
 O pensamento dominante é de que o que é legal é legítimo. Esse 
conceito teve base em Montesquieu, pois ele definiu a melhor forma 
de governo como aquela que respeita as leis. Entretanto ele nunca 
afirmou que as leis devam ser respeitadas à força (como visto em 
Hobbes), pelo contrário, Montesquieu defendia o Liberalismo 
Democrático Burguês (próximo do pensamento de Locke). 
 Para o Direito, Montesquieu foi um autor importantíssimo porque 
desenvolveu e justificou o conceito de que as leis sirvam como base 
para a democracia. Mas é importante lembrar que, embora ele se 
apoie nas leis como principal base de uma democracia, sabia que 
nem sempre elas seriam suficientes para mantê-la. 
 Para muitos, Montesquieu é o pai da ideia dos “Três Poderes”, 
devido à forma como tratou a divisão do poder do Estado: 
 
Os Três Poderes surgiram para dividir todo o poder concentrado no 
Soberano 
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Executivo Legislativo Judiciário 
 
 Montesquieu afirma que nenhum dos Três Poderes é maior ou mais 
importante do que o outro, ou seja, nenhum tem mais força ou 
potência para confrontar o outro, pois eles se equivalem. 
 Esta divisão do poder em três partes equidistantes e 
complementares tem a virtuosidade de garantir a democracia, já 
que, salvaguardadas suas competências em lei, e juridicamente 
equivalentes, impossibilitarão a centralização e os excessos do poder 
em uma única instância. 
 Mas mesmo come essa igualdade e independência de poder, 
Montesquieu também previu que eles poderiam tentar dominar uns 
aos outros, ou ao menos teriam vontade de tomar tal atitude. 
 É o que acontece em países em desenvolvimento, onde 
normalmente as instituições políticas ainda não estão devidamente 
consolidadas na vida social e política da Nação. 
 Perguntar-se por que os limitesde cada poder não são invadidos 
pelos outros, Montesquieu responde dizendo que os três se 
equivalem, e, portanto, vão se opor. Curiosamente, ele não justifica a 
resposta com a lei. 
 Mesmo havendo leis que regulam as atribuições de cada poder, a 
democracia plena acaba se as competências de um poder forem 
“tomadas” por outro. Assim, o que impedia os poderes de invadirem 
as atribuições dos outros, seria uma solução “maquiavélica” de 
confronto entre eles, o fato de todos se confrontarem em pé de 
igualdade. 
 Essa solução tem o princípio da força de cada um, pois se um poder 
tentasse dominar o outro, as consequências para ambos seriam mais 
desastrosas do que benéficas. A democracia, mais uma vez, se 
reforça na oposição de forças. 
 Outra característica dos Três Poderes que Montesquieu observou foi 
a de que o Poder Judiciário seria, dos três, o que teria “menos” 
poder. O motivo disso seria que o Judiciário não é formado com base 
em votação pública e sim em processos seletivos técnicos, ou 
concursos públicos. Pode não parecer muito, mas esse fato de que os 
profissionais do Poder Judiciário não são escolhidos pelo povo torna 
as disputas e “guerrilhas” políticas ineficazes, criando a esse poder 
características próprias que o diferenciam dos outros. Na verdade, o 
que Montesquieu quis dizer é que o Judiciário não pode participar da 
política ideológico-partidária e almejar poder de governo. 
 Montesquieu está tão certo que os três poderes irão se “opor” que a 
forma como se chegou ao Judiciário (mesmo sendo pelo concurso ou 
por indicação do Executivo- como no caso brasileiro para Ministro do 
Supremo Tribunal- , e não pelo voto) não fará diferença, porque irá 
existir o embate entre os poderes. Ainda que a Lei seja necessária, 
ela se fortalece quando democraticamente os poderes do Estado se 
“anulam” na oposição que fazem uns aos outros. 
 
Formas de governo 
 
Assim como Aristóteles e Maquiavel, Montesquieu também elaborou formas 
de governo existentes na sociedade. São elas: 
 República 
 Monarquia 
 Despotismo 
 
Semelhante a Aristóteles (Democracia, Monarquia (Monocracia), 
Tirania) e com aspectos de Maquiavel (Republica e Principados), 
Montesquieu afirma que cada uma das formas de governo possui princípios 
filosóficos e morais que orientam cada uma delas: 
 
República Monarquia Despotismo 
Princípio Filosófico 
VIRTUDE 
Princípio Filosófico 
HONRA 
Princípio 
filosófico 
MEDO 
 
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 Para a República, onde o governante é eleito pelo voto 
popular, o princípio que a sustenta é a Virtude. Essa virtude 
não é a mesma vista em Maquiavel (Virtú), que representa 
paixão pela coisa pública, mas os bons princípios da moral e 
ética de uma sociedade. 
 Para a Monarquia seria o conceito de Honra, pois o povo 
espera do monarca um comportamento honrado em nome 
da Nação, não podendo fazer, muitas vezes, o que bem 
entende da própria vida pessoal. 
 Já no Despotismo o que prevalece é o Medo. Afinal, a única 
fonte de poder e respeito que se faz presente em um 
governo tirânico é o medo, caso contrário tornar-se-ia outra 
forma de governo. 
 Através desses princípios Montesquieu vai defender a ideia 
de que Monarquia Constitucional (como no caso da 
Inglaterra) é a mais eficaz forma de governo. Isso se deve ao 
fato de que a democracia tem base na Virtude, indicando 
que a maioria do povo deveria ter virtude para que ela 
funcione a contento. 
 Já a monarquia não, pois se baseia em “um” monarca que 
governa para o povo, e como o seu princípio básico é a 
Honra, se torna mais fácil exigir a Honra de um, do que a 
virtude da maioria. Essa monarquia é parlamentar, 
obedecendo às leis da Constituição. O modelo que inspira 
Montesquieu seria a monarquia parlamentar inglesa. 
 
 Desta forma ele procurou compreender a correspondência 
existente entre leis sociais e políticas e os costumes das sociedades às quais 
elas se aplicam. 
 
 Condorcet (1743-1794), matemático e filósofo, colaborador da 
Enciclopédia, escreve Esboço de um quadro histórico dos progressos do 
espírito humano (1792) que celebra o progresso da humanidade, do qual a 
Revolução francesa simbolizaria o ponto alto, como se propões a tarefa de 
constituir uma ciência do homem apoiada nas matemáticas. 
 O desmoronamento da ordem social tradicional simbolizado pelas 
duas revoluções, a Francesa e a Industrial, pede novas respostas capazes de 
dar conta do novo ordenamento da sociedade. A Declaração dos direitos do 
homem e do cidadão (1789) afirma que o “princípio de toda soberania reside 
essencialmente na Nação”. 
 Derruba os fundamentos da legitimidade política precedente, 
encarnada pelo rei. 
 
Revolução Industrial 
 
A Revolução Industrial foi um processo de grandes transformações 
econômico - sociais que começou na Inglaterra no século XVIII e se espalhou 
por grande parte do hemisfério norte durante todo o século XIX e início do 
século XX. 
O processo histórico que levou à substituição das ferramentas pelas 
máquinas, da energia humana pela energia motriz e do modo de produção 
doméstico pelo sistema fabril constituiu a Revolução Industrial. O advento da 
produção em larga escala mecanizada deu início às transformações dos 
países da Europa e da América do Norte em nações predominantemente 
industriais, com suas populações cada vez mais concentradas nas cidades. 
 
Causas 
 
A expansão do comércio internacional dos séculos XVI e XVII trouxe 
um extraordinário aumento da riqueza, permitindo a acumulação de capital 
capaz de financiar o progresso técnico e o alto custo da instalação de 
indústrias. 
A burguesia europeia, fortalecida com o desenvolvimento dos seus 
negócios, passou a investir na elaboração de projetos para aperfeiçoamento 
das técnicas de produção e na criação de máquinas para a indústria. Logo 
verificou-se que maior produtividade e maiores lucros para os empresários 
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poderiam ser obtidos acrescentando-se o emprego de máquinas em larga 
escala. 
 
Fases 
 
 Foi na Inglaterra que tudo começou e por isso a Revolução Industrial 
Inglesafoi pioneira na Europa e no mundo. A Inglaterra, possuía 
capital, estabilidade política e equipamentos necessários para tomar 
a dianteira na primeira fase, conhecida como Primeira Revolução 
Industrial, que ocorreu em meados do século XVIII e meados do 
século XIX. 
 Entre 1760 a 1860, a Revolução Industrial ficou limitada, 
primeiramente, à Inglaterra. Houve o aparecimento de indústrias de 
tecidos de algodão, com o uso do tear mecânico. Nessa época o 
aprimoramento das máquinas a vapor contribuiu para a continuação 
da Revolução. 
 O surgimento da mecanização operou significativas transformações 
em quase todos os setores da vida humana. Na estrutura 
socieconômica, fez-se a separação definitiva entre o capital 
representado pelos donos dos meios de produção, e o trabalho, 
representado pelos assalariados, eliminando-se a antiga organização 
corporativa da produção utilizada pelos artesãos. 
 Submetidos a remuneração, condições de trabalho e de vida sub-
humanas, em oposição ao enriquecimento dos patrões, os 
trabalhadores associaram-se em organizações trabalhistas como 
as trade unions (sindicatos) fomentando ideias diante do novo 
quadro social da nova ordem industrial. 
 A Revolução Industrial estabeleceu a definitiva supremacia burguesa 
na ordem econômica ao mesmo tempo que acelerou o êxodo rural, o 
crescimento urbano e a formação da classe operária. Era o início de 
uma nova época, onde a política, a ideologia e a cultura gravitavam 
em dois polos: a burguesia industrial e o proletariado. 
 A mecanização se estendeu do setor têxtil para a metalurgia, para os 
transportes, para a agricultura e para os outros setores da economia. 
As fábricas empregavam grande número de trabalhadores.Todas 
essas inovações influenciaram a aceleração do contato entre culturas 
e a própria reorganização do espaço e do capitalismo. Nessa fase o 
Estado passou a participar cada vez mais da economia, regulando 
crises econômicas e o mercado e criando uma infra-estrutura em 
setores que exigiam muitos investimentos. 
 A segunda etapa ocorreu no período de 1860 a 1900, ao contrário da 
primeira fase, países como Alemanha, França, Rússia e Itália também 
se industrializaram. O emprego do aço, a utilização da energia 
elétrica e dos combustíveis derivados do petróleo, a invenção do 
motor a explosão, da locomotiva a vapor e o desenvolvimento de 
produtos químicos foram as principais inovações desse período. 
 Na Segunda Revolução Industrial a fase da livre concorrência fica 
para trás e o capitalismo se tornava cada vez menos competitivo e 
mais monopolista. Empresas ou países monopolizavam o comércio. 
Era a fase do capitalismo financeiro ou monopolista. 
 Desde então se estabeleciam as bases do progresso tecnológico e 
científico, visando a invenção e o constante aperfeiçoamento dos 
produtos e técnicas, para melhor desempenho industrial. Abriam-se 
as condições para o imperialismo colonialista e a luta de classes, 
formando as bases do mundo contemporâneo. 
 O ponto culminante do desenvolvimento industrial, em termos de 
tecnologia, teve início em 1950 (meados do século XX) com o 
desenvolvimento da eletrônica, que permitiu o desenvolvimento da 
informática e a automação das indústrias. Essa fase de novas 
descobertas caracterizou a Terceira Revolução Industrial ou 
revolução científica e tecnológica. 
 
 As principais tradições intelectuais e políticas do século XIX, 
conservantismo, liberalismo e socialismo, se acordam em pensar 
essas transformações: as grandes ideologias do século XIX se 
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concebem explicitamente como tentativas de solução para o 
problema da “modernidade”. 
 
Conservantistas 
 
 Insistem nos prejuízos causados por uma reviravolta radical da 
ordem social assimilada por eles a uma ordem natural. 
 
1. Edmund Burke (1729-1797): autor de Reflexões sobre a Revolução na 
França (1790), opõe a força dos costumes e dos hábitos encarnada, 
segundo ele, pela Constituição inglesa, à abstração que representaria 
a Revolução Francesa. Outros franceses como Joseph Maistre (1753-
1821) e Louis de Bonald (1754-1840) fustigam a pretensão dos 
revolucionários de edificar princípios universais e de recorrer à 
ordem e à tradição para regenerar uma sociedade que lhes parece 
como estando presa ao caos desde a queda da monarquia. 
2. Joseph Maistre em suas Considerações sobre a França (1797) critica 
com ironia as pretensões universalistas e racionalistas do Iluminismo: 
“A Constituição de 1795, tanto quanto as que a precederam, é feita 
pelo homem. Ora, não existe o homem no mundo. Eu vi na minha 
vida franceses, italianos, russos etc., quanto ao homem, porém, eu 
declaro não tê-lo encontrado na minha vida; se ele existe, eu 
desconheço.” Essa crítica mistura no mesmo ostracismo a Revolução 
Francesa, que entende mudar o Homem e a Revolução Industrial 
que, por sua vez, ao desestruturar a sociedade tradicional e a 
ancoragem social do indivíduo que se encontrava nas “comunidades 
naturais” (família, vilarejo...), se constituiria em uma regressão social 
em relação à harmonia da sociedade do Antigo Regime. 
3. A sociologia nascente se inspira nessa corrente, sobretudo através 
dos trabalhos de Frédéric Le Play (1806-1882), que empreende 
vastas pesquisas sobre Os operários europeus (1855) e termina por 
renunciar a sua carreira de engenheiro de minas para se consagrar 
ao estudo das condições de vida da população industrial. 
 
A corrente liberal 
 
1. Esta se desenvolve contra o conservantismo. Os liberais, 
representados por Bejamin Constant (1767-1830) e François Guizot 
(1787-1874), celebram a liberdade individual, o liberalismo 
econômico e um reformismo prudente. Segundo eles, a Revolução 
Francesa e a Revolução Industrial inauguraram uma nova era na 
história da humanidade. 
2. Aléxis Tocqueville (1805-1859), escritor político e magistrado ilustra 
bem essa abordagem ao publicar, no final da sua vida, O Antigo 
Regime e a Revolução (1856): fazendo-se de historiador, ele se 
dedica a demonstrar que numerosas evoluções atribuídas à 
Revolução (centralização administrativa, a unificação territorial...), de 
fato, provinham em parte do Antigo Regime que, sob muitos 
aspectos, preparou e tornou possíveis as mutações em curso. 
Na sua outra grande obra, Da democracia na América (1835), 
fruto de uma missão exercida sob a Monarquia de Julho, às custas do 
Ministério da Justiça, Tocqueville se interroga sobre as condições de 
possibilidade da democracia: este regime político que lhe parecia 
desabrochar particularmente na América com a vocação de se 
propagar devido ao triunfo desta “paixão ardente, insaciável, eterna 
e invencível” que é a igualdade, devendo se impor às demais 
sociedades humanas. Tocqueville manifesta, no entanto, numerosos 
sinais de inquietação, principalmente no que diz respeito à “tirania 
da maioria”, que poderia prefigurar um novo despotismo, bem como 
ao meio de se preservarem as liberdades individuais nos tempos 
democráticos. Ele estima, no entanto, que não se pode 
racionalmente se opor à democracia, que ele acredita ser uma 
evolução inegável. 
3. A corrente socialista, que emerge se propaga na Europa ao longo no 
século XIX, geralmente aceita a Revolução Francesa, que por sua vez 
é considerada como uma etapa necessária na História da 
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humanidade, enquanto a Revolução Industrial é julgada como sendo 
a medida dos malefícios produzidos principalmente sobre a condição 
operária. Aqui pode se falar de convergência entre conservadores e 
socialistas que abominam a ordem produzida pela industrialização. 
4. Claude-Henri de Saint-Simon (1760-1825) quer aplicar o método 
científico aos problemas sociais (Augusto Comte era seu secretário, 
será influenciado por ele) e mais especificamente a indústria. É 
necessário, segundo ele, que se organize racionalmente a atividade 
produtiva. Esta corrente exerce uma forte influência, principalmente 
sobre as elites industriais ao colocar em primeiro plano as questões 
econômicas que são consideradas como mais decisivas que as 
questões políticas e ao propor reformas sociais. Na sua importante 
obra Parábola das abelhas e das vespas (1819), Saint-Simon 
considera que a perda da família real, dos ministros e dos altos 
funcionários (“as vespas”) constituiria um prejuízo suportável para os 
país, por terem, este não se reergueria se viessem a desaparecer 
seus “3000 primeiros sábios, artistas e artesãos” (“as abelhas”). 
5. Charles Fourier (1772-1837) faz uma severa crítica ao sistema 
capitalista e se mostra nitidamente mais crítico, no que se refere à 
industria, do que Sain-Simon. A alternativa que ele propõe é a 
edificação de falanstérios, ou seja, sociedades fechadas que recusam 
a estrita divisão do trabalho, induzida pela sociedade industrial, e 
que se bastam a si mesmas. A organização da sociedade consiste 
então na criação de sociedade “perfeitas” de pequenas dimensões 
que, segundo sua vontade, deveriam contar com menos de dois mil 
membros. Se o fourierismo foi ridicularizado por causa de suas 
potencialidades sectárias, as organizaçães tanto de ajuda mútua 
quanto as corporativistas extraem dele alguma inspiração. 
6. Na Inglaterra o cartismo um movimento do qual o industrial e 
proprietário de uma fábrica têxtil de New Lanark na Escócia, Robert 
Owel (1771-1858), é um dos principais representantes, se apresenta 
como um engajamento filantrópico e realista em proveito das 
“classes laboriosas”. O progresso social deve resultar da razão e, 
particularmente, do desenvolvimento da educação. Owencontribui 
então na construção de escolas, na melhoria das condições de 
higiene e de alojamento dos operários, na redução da jornada de 
trabalho nas usinas... Esse reformismo preconiza uma intervenção do 
Estado na legislação social, assim como o desenvolvimento dos 
sistemas de previdência. Dessa forma, ele cria em 1832, o “Équitable 
Banque d’échange” (Banco equitativo de câmbio), onde bônus do 
trabalho dever substituir as trocas monetárias. Próximo das 
preocupações dos “socialistas utópicos” franceses, ele tenta criar 
uma comunidade nos Estados Unidos (New Harmony) que 
rapidamente é fadada ao fracasso. 
7. Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865) é um dos principais teóricos do 
socialismo francês. Autor de O que é a propriedade? (1840), onde 
enuncia a sentença “a propriedade é um roubo”, ele empreende uma 
crítica à propriedade privada, fonte de desigualdade entre os 
homens. Ele se opõe igualmente ao poder do Estado e à sua vontade 
centralizadora, o que explica a influência póstuma que sua doutrina 
exerceu sobre as correntes anarquistas. Ele preconiza a instauração 
de uma organização produtiva, fundada sobre a autogestão cuja 
finalidade seria evitar a cisão entre o capital e o trabalho. Seu projeto 
político compreende uma adesão ao federalismo, que permite a livre 
a associação de coletividades autônomas. Proudhon é um 
contemporâneo e um adversário de Marx, com quem entretém 
polêmicas. É autor de uma Filosofia da miséria (1846), obra na qual 
defende o reformismo social, assim como a associação de mutuários. 
Marx, que reprova sua “tepidez” política, responde a Proudhon com 
uma obra intitulada Miséria da filosofia (1847). 
8. Karl Marx (1818-1883) critica o socialismo francês, como sendo 
“utópico”, opondo seu próprio sistema, o “socialismo científico”. A 
concepção idealista e reformista, aos olhos de Marx, parece levar a 
um beco sem saída e contribui para ocultar a única verdadeira 
questão que importa, a saber, a necessidade de uma A solução 
preferível à fuga do mundo, preconizada por Fourier. Se é verdade 
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que esse debate ideológico e político tem consideráveis repercussões 
sobre a organização do mundo operário, é igualmente verdadeiro 
que ele exerce uma influência que não se pode desconsiderar na 
produção de saberes, de tal forma que a obra de Marx será objeto de 
muitos comentários e seu sucesso obrigará numerosos sociólogos a 
se posicionarem em relação a ela. Sem contar a importância do 
efeito da teoria: uma teoria explicativa do mundo social pode 
conhecer uma grande influência (e o marxismo, a esse propósito, 
constitui um perfeito exemplo), possibilitando assim a difusão de 
deformações teóricas e de traduções incorretas que, de certa forma, 
uma ampla difusão impõe. A tal ponto que essa explicação do mundo 
termina sendo utilizada por numerosos agentes sociais como sendo 
uma pura e simples crença. 
9. A doutrina positivista representada principalmente por Augusto 
Comte (1798-1857), constitui um momento chave na emergência das 
ideias sociológicas. Comte não apenas é considerado o inventor do 
termo “sociologia”, como também pretendeu dotar essa disciplina de 
um método rigoroso de observação do real, ao considerá-lo como 
uma física social. 
Ao se constituir como ma tentativa de síntese, e portanto de 
superação das ideologias do século XIX (liberalismo, conservantismo 
e socialismo), o positivismo (que consiste em produzir 
conhecimentos objetivos sobre o mundo social, formulando 
princípios rigorosos de observação e de análise da realidade. Um dos 
defeitos do positivismo reside numa ausência de interrogação sobre 
a produção dos dados, à medida que o real é supostamente dado a 
ver ao observador) se apresenta como ciência da sociedade. Antigo 
secretário de Saint-Simon, Comte manifesta um verdadeiro 
entusiasmo pela ciência que, segundo ele, seria capaz de resolver a 
maior parte dos problemas aos quais a humanidade se vê 
confrontada. Ele enuncia, no seu Curso de filosofia positivista (1830-
1842), a lei dos três estados segundo a qual três fases sucessivas 
teriam se sucedido na história. O estado teológico, dominado pelas 
crenças sobrenaturais, é caracterizado pela estabilidade e por um 
sistema feudal e militar. O segundo estágio é o estado metafísico, 
governado pela abstração, o qual constitui uma fase de transição 
para o mundo industrial. Enfim, o estado científico ou positivo 
corresponde à idade da maturidade e se realiza no seio da sociedade 
industrial. 
10. Esta visão pretende reconciliar os contrários, particularmente a 
ordem e o progresso, que ele chama respectivamente de a estática e 
a dinâmica social: “Nenhuma ordem legítima não pode mais se 
estabelecer, e sobretudo não pode durar, se ela não é plenamente 
compatível como progresso; nenhum progresso poderá efetivamente 
se realizar se ele não tende finalmente para a evidente consolidação 
da ordem”. (46 lição do curso d filosofia positiva). Comte concebe 
uma sociedade nova onde reinaria o espírito científico: a descoberta 
de leis através de uma observação metodológica dos fatos deve 
consequentemente prevalecer sobre todo julgamento de valor. A 
sociologia, tal como ele a concebe, teria assim uma missão: ser capaz 
de dar conta dos princípios que governam os fenômenos sociais. Sua 
visão da sociedade está impregnada de organicismo (a sociedade é 
pensada em analogia ao organismo humano). A sociedade se 
sobrepõe ao indivíduo, como o todo prevalece sobre as partes, já 
que a humanidade é tributária de seu passado: “os vivos são 
sempre, e cada vez mais, governados pelos mortos, já que essa é a lei 
fundamental da ordem humana”. Essa abordagem da sociedade vista 
em analogia aos fenômenos naturais se encontra em muitos autores. 
11. Hebert Spenser (1820-1930) particularmente, sociólogo inglês para 
quem as sociedades evoluem invariavelmente por diferenciação e 
agregação, abandonando progressivamente as formas mais simples 
(as sociedade militares, dotadas de um alto grau de coerção) em 
favor das mais complexas (as sociedades industriais, caracterizadas 
pelo individualismo e pela divisão progressiva das funções sociais). 
Algumas preocupações metodológicas de Comte, entre as quais a 
rejeição de uma abordagem puramente especulativa, que aliás, o 
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levou a recorrer à observação e que precede a edificação de leis, se 
encontram na obra de Émile Durkheim (1858-1917), que formula o 
projeto de dotar a sociologia de um método científico de observação 
da realidade social. 
A sociologia foi, depois da Biologia, a ciência que maior impacto recebeu 
da Teoria de Darwin, levando ao aparecimento da Escola Biológica, iniciada 
por Hebert Spenser. 
A sociedade assemelha-se a um organismo biológico, sendo o 
crescimento caracterizado pelo aumento da massa; o processo de 
crescimento dá origem à complexidade da estrutura; aparece nítida 
interdependência entre as partes; tanto a vida da sociedade como a do 
organismo biológico são muito mais longas do que a de qualquer de suas 
partes ou unidades. Desses princípios básicos chega-se à formulação de uma 
lei geral, segundo a qual a evolução de todos os corpos (e, por analogia, a das 
sociedades) passa de um estágio primitivo, caracterizado pela simplicidade 
de estrutura e pela homogeneidade, a estágios de complexidade crescente, 
assinalados por uma heterogeneidade progressiva das partes, acompanhadas 
por novas maneiras de integração. 
Especificamente no que concerne às sociedades, para Spencer, a História 
demonstra a diferenciação progressiva das mesmas: de pequenas 
coletividades nômades, homogêneas, indiferenciadas, sem qualquer 
organização política e de reduzida divisão de trabalho, as sociedades tornam-
se cada vez mais complexas, mais heterogêneas, compostas de grupos 
diferentes, mais numerosos, onde a autoridade política se torna organizadae 
diferenciada, aparecendo uma multiplicidade de funções econômicas e 
sociais, exigindo maior divisão de trabalho. 
Os obras mais importantes: Princípio de sociologia (1876-1896) e O 
estudo da sociedade (1873). 
 
 
A SOCIOLOGIA É CONSIDERADA COMO UMA RESPOSA POSSÍVEL 
PARA A “QUESTÃO SOCIAL” 
 
 O desenvolvimento da sociedade industrial suscita um 
questionamento da realidade, que se justifica aos olhos dos contemporâneos 
como uma necessidade de se ter um novo olhar sobre a própria organização 
da sociedade. 
 As mutações ocorridas com a Revolução industrial produziram no 
espaço de muitas décadas uma profunda transformação dos modos de vida, 
transformando também os sistemas de valores dos habitantes dos países 
industrializados. Entre as principais conseqüências da industrialização, 
podemos enumerar um conjunto de problemas até então inéditos nos 
quadros das sociedades tradicionais nas quais prevaleciam os modos de vida 
camponesa. Entre esses problemas se destacam: 
1. A aparição de condições de trabalho extremamente difíceis; 
2. Os problemas de higiene e de alojamento nos centros urbanos em pleno 
desenvolvimento e o aparecimento de diversas perturbações de ordem 
pública, tais como o alcoolismo, a delinqüência ou a prostituição... 
 
 A questão social se constitui progressivamente ao longo do século 
XIX e tende, ao menos em um primeiro momento, assimilar “classes 
laboriosas” e “classes perigosas”. O proletariado urbano, ao aparecer 
como uma ameaça ao equilíbrio social, inquieta particularmente as 
elites sociais que, de diversas maneiras, se esforçam para “controlar” 
essa população considerada arredia. 
 O aparecimento das ciências sociais no século XIX, e entre elas a 
sociologia ocupa um lugar central, deve muito o advento de uma 
“terceira cultura” que progressivamente abre um espaço entre 
ciência e literatura. 
 O lugar da sociologia por muito tempo permaneceu incerto nas 
pretensões dos romancistas realistas e naturalistas do século XIX, 
que algumas vezes se consideravam “sociólogos” (o termo até então 
vago, designa não os profissionais das ciências sociais mas pessoas 
do mundo das letras interessadas nas questões da sociedade). Os 
miseráveis de Victor Hugo de 1862, Germinal de Émile Zola (1885) 
narra minuciosamente as condições de vida dos mineiros; A besta 
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humana (1890) relata as transformações provocadas pelo 
desenvolvimento das estradas de ferro; em À felicidade das damas 
(1883), a aparição das grandes lojas nas cidades; O ventre de Paris 
(1873), o pequeno povo que se espreme no coração das cidades a 
fim de nelas encontrar trabalho. 
 Havia também a anterioridade das “ciências naturais que, ao 
fornecerem um quadro frequentemente útil, ocupavam às vezes o 
lugar de “ciência social”. Portanto, desde a sua emergência e por 
muito tempo, a sociologia oscila entre o mundo da descrição, 
próximo do universo literário, e a afirmação nomológica (estudo das 
leis que regem os fenômenos naturais) o estabelecimento de leis 
similares às leis das ciências da natureza. 
 A reflexão sociológica permanece, até o final do século, fruto do 
trabalho de “amadores esclarecidos”, que desenvolvem uma 
interrogação sobre o mundo social, frequentemente encorajados 
pelo poder político, a partir da Monarquia de Julho (o período 
histórico que decorreu em França de 1830 a 1848, entre dois dos 
principais processos revolucionários considerados como ciclos 
da revolução liberal ou revolução burguesa - as revoluções de 1830 - 
a revolução de Julho e as revoluções de 1848 — a primavera dos 
povos) e sob o segundo Império. 
 As primeiras pesquisas sociais são muito mais obra de publicitários 
(pessoas interessadas nos negócios públicos) do que de cientistas, 
apesar de serem conduzidas por iniciativas de sociedades científicas. 
Foi assim que a Academia das ciências morais e políticas encarregou 
o médico Louis Villermé (1782-1863) de conduzir uma pesquisa 
sobre as regiões industriais francesas, que resultou na publicação do 
Quadro do estado físico e moral dos operários nas fábricas de 
algodão, lã e sede (1840), cujo eco suscitado conduziu à adoção, em 
1841, de uma lei que limitava o trabalho das crianças na indústria. 
 No mesmo momento, mas em nome de um projeto muito diferente, 
o colaborador de Marx, Friedrich Engels, fornece uma descrição 
minuciosa e assustadora do mundo operário de Manchester, na obra 
A miséria das classes laboriosas na Inglaterra (1845), que se 
assemelha, segundo ele, a um exército destruído ao retornar de 
uma campanha. 10 Pesquisas desse tipo se multiplicam na Inglaterra 
que se considerava um “ luzeiro” da industrialização na primeira 
metade do século XIX. A rápida difusão do factory system ( a fábrica 
suplanta o domestic system, sistema no qual a produção era 
realizada em pequenas unidades onde o trabalho era frequente 
efetuado no domicílio) suscita questionamentos que vão além do 
marxismo, como testemunha a criação da sociedade Fabiana (Fabian 
society), em 1884, na cidade de Londres. Entre os seus fundadores 
figuram os escritores George Bernard Shaw (1856- 1950), H. G. 
Wells(1866- 1946) e sobretudo Sidney (1859- 1950) e Béatrice Webb 
(1858- 1943). De origem burguesa (seu pai, Richard Potter, era 
industrial), Beatrice Webb, juntamente com seu marido, se entrega a 
amplas pesquisas. Eles explicam suas concepções do “socialismo 
administrativo” na obra A democracia industrial (1897). Distantes em 
relação ao marxismo, teorizam sobre o papel necessário dos 
sindicatos e das cooperativas, organizações que permitem melhorar 
a sorte de maior número de pessoas ao evitar a concorrência no 
mercado de trabalho. Os Webb associam a suas ideias reformistas 
preocupações científicas (eles estão entre os que tomaram a 
iniciativa de criar, em 1895, a London School of Economics [Escola de 
Economia de Londres]) e se entregam a uma precisa coleta de fatos, 
seguindo o caminho de Charles Booth (1840- 1916), autor de um 
estudo em dezessete volumes sobre as condições de vida e de 
trabalho do povo de Londres (Life and labour of the People of 
London) (1889- 1902). Esse trabalho de coleta metódica de dados 
empíricos dá origem à tradição de Social Surveys (pesquisa social), 
que se apresenta como uma análise rigorosa e documentada das 
 
10
 Gareth Stedman Jones, “ Voir sans entendre. Engels, Manchester et l’ observation 
sociale en 1844” [ Ver sem ouvir, Engels,Manchester e a observação social], 
Genèses, nº 22, 1996, p. 4- 17. 
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condições de vida de uma população. Booth toma como referência 
os relatórios da administração de vigilância da escolaridade, órgão 
encarregado de visitar as famílias com filhos pequenos, para assim 
anotar as condições de vida das famílias a fim de identificar o nível 
de pobreza de cada bairro de Londres. O autor também se dedica às 
novas observações, ao pesquisar pessoalmente nos bairros pobres, 
ainda que evite recorrer ao método de entrevista e não recolha 
testemunhos diretos junto à população. 
 Partilhando a mesma preocupação com descrições minuciosas, 
Frédéric Le Play (1806- 1882), engenheiro, professor na Escola das 
Minas, inicialmente se desloca pela Europa para conduzir estudos 
sobre “arte metalúrgica” (ancestral das ciências industriais), mas não 
tarda em converte-se à etnografia do mundo operário.11 Autor de um 
vasto afresco, Os operários europeus (1885), ele está na origem de 
um método de pesquisa original em ciências sociais: a monografia 
(estudo geralmente descritivo de uma entidade reduzida. Método 
empregado pelos observadores sociais do século XIX que, porém, 
apresenta o defeito de isolar artificialmente o objeto de estudo do 
seu meio). Adepto da observação direta, ele acumula um conjunto 
dedados gerados pelas pesquisas de “campo”. Sua escolha principal 
foi a de dar importância aos orçamentos familiares, em razão da 
preponderância da família nas suas preocupações, mas também 
devido à possibilidade metodológica de se dedicar, a partir dos 
resultados obtidos, aos estudos comparativos. Católico militante, 
conservador, do ponto de vista político, promotor da famille-souche 
[núcleo familiar](que agrupa sob o mesmo teto o pai, a mãe, o filho 
mais velho e sua esposa, seus filhos e eventualmente os outros 
familiares que permanecem solteiros), que deve prefigurar o 
paternalismo na indústria (fazendo emergir, em Le Play exerce uma 
influência política, durante o Segundo Império, que não deve ser 
 
11
 France Arnault, “Frédéric Le Play, de La métallurgie à la science sociale” [Le Play, 
da metalurgia à ciência social], Revue française de sociologie, 1984, p. 437 -457. 
negligenciada. Napoleão III faz dele seu conselheiro, vendo nele um 
defensor da ordem social ameaçada. Suas ideias estão claramente 
expostas na obra A reforma social na França (1864), reforma 
difundida por intermédio das sociedades científicas, dentre as quais 
as Sociedades de economia social (1856), como também da revista 
Réforme sociale [Reforma social] (fundada em 1881). Trata-se de 
uma reforma que deve acontecer, não pela intervenção do Estado, 
mas pelo voluntarismo das elites, que devem se convencidas da 
importância de tal reforma . A herança leplaysiana é considerável, 
principalmente pela influência durável exercida junto ao patronato 
católico, mas também pela influência no plano sociológico, por meio 
dos trabalhos de Émile Cheysson, que tenta conciliar estatística e 
monografia, além de participar da criação do Office du travail 
[Serviço do Trabalho] (1891), órgão que por sua vez contribuirá para 
o nascimento, mais tarde, do Ministério do Trabalho (1906). 
 Paralelamente às pesquisas sociais, que reuniam observadores 
avisados, embora pouco numerosos, desenvolveram -se 
procedimentos de coletas de dados quantitativos. Desde o fim do 
século XVIII, a matemática social tem a intenção de descrever de 
maneira rigorosa os fenômenos sociais que provêm, também eles, 
dos progressos da razão humana. Aliás, como indica a própria 
etimologia, a estatística em parte se liga à construção do Estado, 
fornecendo-lhe elementos de conhecimento sobre a sociedade. No 
caso da França, a centralização administrativa - reforçada pela 
emergência de um poder real forte, a partir dos anos 1660 (ao longo 
do reinado de Luís XIV) - aproveitou bastante da possibilidade de 
poder recensear a população (particularmente em função da 
arrecadação de impostos e da mobilização de tropas, em caso de 
guerra) e de inventariar as necessidades e os preços. Esse 
empreendimento de codificação e de homogeneização dos dados - 
para se produzirem estatísticas, é preciso que antes sejam 
estabelecidas convenções de equivalência, que haja acordo sobre o 
que está sendo medido, sobre a maneira de se medir e sobre forma 
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como serão classificados os dados, que foram recolhidos em 
categorias gerais - se realiza principalmente a partir da Revolução 
Francesa. 12 Nos anos 1830, se desenvolve a estatística moral e 
jurídica, sob a influência do estatístico belga Adolphe Quételet 
(1796- 1874), autor da teoria do homem médio, sob a inspiração do 
matemático Laplace. Indivíduo imaginário - que se tornou possível 
graças à estatística -, o homem médio traduz a influência exercida 
pelas determinações sociais. Com Quételet, a sociologia faz-se 
resolutamente empírica, contentando-se a constatar as 
regularidades sociais, o que não a impede de promover uma 
“estatística moral” que apresente a média, aos modos de uma norma 
social a ser respeitada. A ferramenta estatística pode então fazer da 
sociologia empírica uma ciência auxiliar da administração, 
contribuindo para a resolução dos “problemas sociais” do momento. 
É nesse espírito que as estatísticas judiciais se desenvolvem nos 
Estados Unidos e na França, onde são publicadas, a partir de 1827, 
no quadro do Compte general de l’administration de la justice 
criminelle [Relatório geral da administração da justiça criminal]. 
 Na Inglaterra, o desenvolvimento da estatística se deu a partir das 
pesquisas de Francis Galton (1822-1911) e de Karl Pearson (1857-
1936) que, isoladamente, levam a efeito a noção de correlação, isto 
é, ligação entre duas ou mais variáveis, podendo ser positiva ou 
negativa. Sem, contudo, indicar que uma está na origem da outra 
(relação de causalidade). Esta correlação torna possível a 
comparação entre os fenômenos sociais. Desta forma a estatística 
permite pensar a diversidade, medir as diferenças e não mais apenas 
as regularidades, como acontecia precedentemente. 
 A produção de dados estatísticos quantitativos contribui para 
legitimar as pretensões científicas da sociologia, provocando assim 
 
12
 Sobre a história social das estatísticas: Alain Desrosières, La politique dês grands 
nombres.Histoire de la raison statistique [A política dos grandes números. História da 
razão estatística], Paris, La Découvert, 1993. 
seu distanciamento da literatura, particularmente na França. As 
estatísticas sociais alemãs e francesas são privilégio de universitários 
e estão estritamente ligadas ao Estado, ao passo que as inglesas são 
obras de “peritos” e tem a finalidade de resolver problemas 
concretos. 
 As primeiras cadeiras de sociologia aparecem no fim do século XIX 
como sinal da instituição progressiva da disciplina e do seu 
reconhecimento universitário. 
 Albion W. Small funda em 1893 a seção de sociologia da 
Universidade de Chicago, e na França, em Bordeaux, Émile Durkheim 
é nomeado, em 1887, para um curso de ciências sociais (mesmo se a 
nomenclatura “sociologia” é cuidadosamente evitada). Essas 
nomeações, no entanto, tem caráter limitado. Será preciso, 
efetivamente, esperar o século XX, para que a sociologia seja 
plenamente reconhecida como uma disciplina universitária. A 
primeira cadeira de sociologia data de 1907 na Inglaterra, concedida 
a Hobhouse, e de 1914 na Alemanha, onde foi confiada a Georg 
Simmel.

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