Buscar

1.2 ZALUAR, Alba; CASTRO SANTOS, Luiz Antonio. Diálogos e embates entre as ciências sociais e a epidemiologia a retórica dos riscos. In VERAS, Renato et al. (org.). Riscos à Saúde fumaça ambiental do tab

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

• 55
Em palestra para o “Chá de Epidemiologia” (seminários quinzenais or-
ganizados por Eduardo Faerstein no Instituto de Medicina Social da Uerj), em
16 de outubro de 2008, intitulada “O self como risk-taker: confrontos, aproxi-
mações e dissensões entre a epidemiologia e a sociologia”, Luiz Antonio de
Castro Santos comentou um texto sugerido para debate dias antes do evento.
Nesse texto (Béhague et alii, 2008), as autoras propõem-se a estabelecer um
diálogo entre a antropologia e a epidemiologia. Antes de colocarmos em ques-
tão outras contribuições importantes para o debate naquela manhã, iremos
focalizar de perto o texto citado.
No artigo citado, ainda que as autoras busquem discutir algumas
interfaces entre a antropologia e a epidemiologia nas pesquisas em saúde, a
nosso ver — já antecipamos uma conclusão geral —, verifica-se um diálogo
ainda bastante travado entre as disciplinas. A antropologia e, particularmente,
a sociologia estão ausentes do debate, ou têm nele uma voz oblíqua. Uma
indicação ligeira sobre o peso relativo das referências intelectuais: das dezenas
de citações no texto, apenas meia dúzia, se tanto, poderá ser rigorosamente
classificada como “literatura antropológica”.
Dominique Béhague e Helen Gonçalves são antropólogas sociais, com
inserção frequente pelos caminhos da epidemiologia. Tomemos como exemplo
da produção de Helen Gonçalves seu ensaio sobre “as percepções corporais” de
tuberculosos que abandonam o tratamento, publicado em coletânea organizada
pelos antropólogos Luiz Fernando Duarte e Ondina Leal (Gonçalves, 1998).O
ensaio reflete um primeiro momento, bastante fecundo, de sua carreira antro-
DIÁLOGOS E EMBATES ENTRE
AS CIÊNCIAS SOCIAIS E A
EPIDEMIOLOGIA: a retórica dos
riscos
“I saw guns and sharp swords
 in the hands of young children”
Bob Dylan, A hard rain’s a-gonna fall, 1962
Por Alba Zaluar
e Luiz Antonio de Castro Santos
• Alba Zaluar e Luiz Antonio de Castro Santos
Alba Zaluar é antropóloga,
professora titular do Instituto de
Medicina Social da Uerj e
Pesquisadora do CNPq. Publicou
recentemente “Pesquisando no
perigo: etnografias voluntárias e
não acidentais”. MANA 15(2):
557-584, 2009.
Luiz Antonio de Castro Santos
é sociólogo, professor associado
do Instituto de Medicina Social
da Uerj e pesquisador do CNPq.
Publicou recentemente, com Lina
Faria, Saúde & História (Hucitec,
2010).
56 • • Riscos à saúde: fumaça ambiental do tabaco – pontos para um debate
pológica. Diferentemente do texto Anthropology and Epidemiology (Béhague et
alii, 2008), os conceitos-chave do ensaio antropológico (cujas características
formais fogem inteiramente do molde “introdução, métodos, resultados, dis-
cussão”, adotado em textos epidemiológicos) são as representações ou percep-
ções de um ator-doente. A autora dialoga com a teoria antropológica que se
poderia dizer “de raiz” (Mary Douglas e Lévi-Strauss, entre outros autores), não
apenas com a antropologia médica. Desde logo, distancia-se da antropologia
médica, não raro mais “médica” do que “antropológica”. No texto em inglês, no
qual Helen Gonçalves colabora, estamos diante de um outro conceito-base, que
é o risco. Assim, é como se os temas evocados por Helen Gonçalves caminhas-
sem sobre duas sendas distintas: no primeiro texto temos uma conceituação
antropológica do “self as risk taker” (Mary Douglas, 1992); no segundo, com
Béhague e Victora, temos uma conceituação epidemiológica do “self as risk-
averse” (ainda Mary Douglas). Esta é a baliza epistemológica do texto publica-
do em Ciência e Saúde Coletiva. Do primeiro para o segundo exemplo, passamos
da ênfase do ator que corre riscos, ou que não os considera como princípio
fundador de suas ações, para o ator que lhes é avesso, que deles foge para
maximizar suas life-chances, uma vida saudável pautada em escolhas suposta-
mente racionais. Estamos, é claro, num cenário de tipos ideais ou categorias
construídas1.
Mas há um pouco mais. No primeiro artigo, a noção de estigma aproxi-
ma a discussão antropológica sobre os tuberculosos, da discussão sociológica de
um Erving Goffman (1988) ou de um Oracy Nogueira (2009), mestres do estudo
dos processos estigmatizantes que podem advir das políticas públicas, de movi-
mentos sociais ou da própria cultura, em sociedades tribais e complexas. Pensa-
mos, desde logo, no fato de que a noção de risco, em epidemiologia, pode
conduzir as políticas antitabagistas a baixar taxas de morbidade e mortalidade.
No entanto um trágico efeito não antecipado (ou negligenciado) destas políti-
cas tem sido o de tornar os fumantes uma camada de outcasts, de novos lepro-
sos ou pestosos do século 21. Temos aqui, a rigor, não uma questão
epidemiológica, mas antropológica e sociológica.
Aqui chegamos a nosso comentário final sobre o texto de Béhague e
colegas: trata-se de uma tentativa auspiciosa de demarcar pontos de conver-
gência e de reflexão crítica, mas ainda caminhamos sobre a senda do risco, não
das representações sociais. O texto não traz o vigor interpretativo da antropo-
logia. O desafio é estabelecer um diálogo sem sincretismos. Não há espaço
epistemológico para “médias” nem “medianas” entre os dois campos. As
(o)posições devem ser esclarecidas em sua inteireza, como propostas até certo
ponto antípodas. 2 Isso não está lá, no texto por outras tantas razões bem-
vindo, de Béhague e colegas. O que sentimos é que a aventura colaborativa não
traz ainda as anunciadas “epistemological lessons”, mas sim lições
epidemiológicas... No fundo, estamos diante de uma tentativa da epidemiologia
de questionar posições hegemônicas em suas próprias fileiras, de um passo
importante para reconhecer seus limites e posicionar-se, ainda que de modo
1 Lembremos que foi
justamente ao procurar
distinguir categorias que
Mary Douglas sugeriu a
adoção de diferentes
mensagens para diferentes
grupos culturais, nas
campanhas contra a Aids
(Douglas, 1992:102-121;
Guivant, 1998: 10).
2 Para uma discussão
estimulante sobre o estado
da arte da epidemiologia
dos riscos nas décadas de
1980 e 1990,
particularmente sobre a
“relatividade” dos próprios
“riscos relativos“e a eclosão
da “epidemia dos riscos” na
literatura médica, veja-se o
texto de Castiel, 1996.
Castiel aborda também a
extensa literatura
sociológica, apontando o
cenário dos “novos agravos”
que se abre (ou se fecha?)
tanto para o campo
biomédico como para as
ciências humanas.
• 57
hesitante, diante do desastre ético e político de algumas políticas de saúde
entrincheiradas na noção de risco. Esse questionamento dentro do próprio ter-
ritório de disciplina talvez tenha alcançado seu ponto mais alto e previsivel-
mente polêmico no livro recente do epidemiologista Geoffrey C. Kabat, docente
do Albert Einstein College of Medicine, em Nova York, ao criticar os exageros e
distorções que, como bem aponta, têm caracterizado o tema dos riscos ambientais
à saúde (Kabat, 2010).
As noções e posições abraçadas pela literatura epidemiológica dos riscos
não levam em conta a multiplicidade de subjetividades e a própria história dos
debates e da formação conflitiva dos conceitos, embora tendendo para acordos
e consensos periódicos, na Antropologia e na Sociologia. São muitos os exem-
plos em que tais falhas transparecem no discurso epidemiológico, a despeito
dos propósitos da literatura de fazer um bom diálogo interdisciplinar. A própria
idéia, hoje corriqueira nos campos das ciências sociais, de que as representa-
ções constituem o componente mental de qualquer ação social, de que elas
constituem a mediação simbólica de cada uma das transações sociais envolven-
do seres humanos, deve conduzir à consciência, entre autores da epidemiologia,
de suas implicações teóricas profundas. Uma delas é que isso tem consequências
sobre as intervenções propostas e feitas na Saúde Pública por seus agentes, na
medida em que se faz necessário levar em conta o que pensae pratica o sujeito
que venha a ser objeto de tais intervenções. Não apenas para a epidemiologia,
mas igualmente para a saúde coletiva, tais consequências teóricas e programáticas
representam duros desafios, que estão longe de ser enfrentados na abundante
produção do campo, a exemplo do silêncio sobre os fumantes — cujas repre-
sentações simplesmente não têm sido consideradas, como indivíduos destituí-
dos dos direitos básicos à fruição dos espaços públicos.
Um dos autores mais importantes no debate sobre riscos, o sociólogo
alemão Ulrich Beck, chega a propor que a nova modernidade é a “sociedade do
risco” (Beck, 1992). Beck não se propõe a debater, como faz Randall Collins
magistralmente, a recente vulnerabilidade dos espaços sociais que promovem
os ritos de sociabilidade, alvo das campanhas antitabagistas (Collins, 2004, esp.
cap 8; Castro Santos, 2007). As preocupações centrais de Beck, também assina-
ladas por outros autores como Anthony Giddens e Scott Lash (Beck et alii,
1994), voltam-se para os riscos tecnológicos e ambientais que poderíamos cha-
mar “de grande impacto”, no tocante às consequências para o futuro da espécie
humana e do planeta, no projeto histórico da modernidade. Diante dos confli-
tos em torno dos malefícios da tecnologia, que mudam o eixo do seguro/ inse-
guro, uma multiplicidade de grupos, associações e movimentos sociais – “peri-
tos” de toda sorte — almejam ser especialistas, ou posicionam-se como tal,
visto que a informação é cada vez mais partilhada e mais necessária para en-
frentar os efeitos da ação humana sobre o planeta. Mary Douglas e Aaron
Wildavsky situaram a questão da (in)segurança sob um ângulo fundamental-
mente cultural. Sua questão norteadora contempla culturas singulares — tan-
to sociedades tribais como complexas: ao indagarem “Quão seguro é suficiente-
• Alba Zaluar e Luiz Antonio de Castro Santos
58 • • Riscos à saúde: fumaça ambiental do tabaco – pontos para um debate
mente seguro para uma cultura em particular?”, acabam por questionar igual-
mente a possibilidade de peritos chegarem a definir níveis “universalmente”
aceitáveis de segurança. Isto é: a rigor, não existem peritos (Douglas e Wildavsky,
1982). Nas palavras da socióloga Julia Guivant, “temos que lidar com conheci-
mentos que são incertos, aspecto que a perspectiva técnica sobre os riscos não
considera ao superintelectualizar os processos decisórios e superenfatizar os
impedimentos dos leigos, classificados como irracionais” (Guivant, 1998, p. 4).
Nessa perspectiva, trata-se de comparar práticas sociais ou culturas em
ação que permitam descobrir quais impulsionam as pessoas para novos espaços,
novos experimentos, ações cujos resultados são imprevisíveis ou desconheci-
dos, ou ainda simplesmente respostas a desafios. Tem muito mais a ver com
voar de planador, mergulhar em grande profundidade, apostar em jogos de
azar, inclusive na bolsa de valores, correr em alta velocidade, do que fumar um
cigarro sem saber quando, onde e se vai se contrair um câncer. Essa comparação
destina-se a responder questões que sempre atormentaram os humanos: quan-
do se proteger, quanto arriscar para usar a liberdade? As respostas das culturas
e das pessoas têm sido múltiplas e é preciso, antes de tudo, entender o que
está em jogo no risco.
Mais recentemente, harmonias e discordâncias marcam o posicionamento
de autores da estatura de Giddens, Beck e Lash. Tanto em suas obras, como, de
modo geral, na literatura recente, há pontos de notável convergência. Os dois
primeiros autores coincidem em propor que o conceito de sociedade de risco
passe a substituir o de sociedade de classes. Em seu excelente balanço da lite-
ratura sobre os riscos ambientais e seu enfrentamento pelas ciências sociais,
Julia Guivant (1998) aponta com precisão as limitações de tal “virada”
interpretativa, por refletir de modo particular a situação observada nos países
centrais. Giddens não supõe um caráter tão marcante nos processos de mudan-
ça, como faz Beck, mas esse viés não está ausente de seus trabalhos. Guivant
sugere uma “simultaneidade” de processos nos países dependentes. “Podemos
considerar, por exemplo, que a sociedade brasileira é atravessada pelos proble-
mas da sociedade de escassez, na qual a distribuição da riqueza é altamente
desigual entre as classes sociais, junto com os problemas da sociedade de risco,
sem ainda contar com uma reflexividade ativa como a que Beck identifica nas
sociedades mais industrializadas” (Guivant, 1998, p. 34). Mas seria injusto com
Beck e Giddens dizer que não assinalaram como os efeitos da sociedade de risco
estão desigualmente distribuídos na sociedade. São os mais pobres os mais
vulneráveis, para os dois autores (Beck, 1992).
Justamente ao contemplar as sociedades contemporâneas, a literatura
tem procurado demonstrar o caráter plural das noções sobre os riscos e sua
(in)aceitabilidade, bem como a desintegração das certezas outrora existentes
na sociedade industrial. Na falta de consensos facilmente reconhecíveis, sem
cerne legitimador, os indivíduos têm ao mesmo tempo mais possibilidades de
fazer escolhas, de tornar seu self social, ou selves, no plural, ainda mais plurais
e complexos, e assumir uma responsabilidade maior por suas próprias biografi-
(...) questões
que sempre
atormentaram
os humanos:
quando se
proteger,
quanto
arriscar para
usar a
liberdade? As
respostas das
culturas e das
pessoas têm
sido múltiplas
e é preciso,
antes de tudo,
entender o
que está em
jogo no risco.
• 59
as. Por isso mesmo, nessa sociedade de indivíduos, a liberdade de agir segundo
escolhas pessoais é ao mesmo tempo o apanágio e a responsabilidade de cada
um. Em outra perspectiva teórica, para sairmos do individualismo que pode
deslizar para o utilitarismo, é preciso reconhecer que a busca de novas certezas,
avatares e proteções para si e para os outros se torna como que uma compulsão
por novos elos de reconhecimento, com base nos laços sociais que unem e
constroem as subjetividades. Este é o programa de outra rede de pesquisas,
comandada pelo grupo francês do MAUSS, “Movimento Antiutilitarista nas
Ciências Sociais” — e apoiada na contribuição clássica sobre a dádiva e a reci-
procidade, do antropólogo Marcel Mauss.
O alcance e os limites da precaução.
Algumas políticas de saúde, impostas como soluções para a redução dos
“riscos relativos”, têm ignorado, como vimos afirmando, a livre fruição de laços
sociais que produzem e reproduzem as subjetividades. No caso do cerco aos
fumantes, estamos diante do não-lugar da sociabilidade, ou da limpeza “sani-
tária” dos espaços públicos, para livrarmo-nos de comportamentos suposta-
mente desviantes. Um novo conceito, de roupagem sociológica, jurídica e mé-
dica, tem sido aclamado como o “princípio da precaução”, um mandato para
que ações em defesa da saúde pública por parte dos governos em todo o mundo
sejam consideradas legitimas, mesmo na ausência de evidências cientificas in-
contestáveis3.
Ora, uma provocação recente de Bruno Latour sobre essas questões
(Latour, 2010) convida-nos a virar pelo avesso o próprio princípio da precau-
ção, do modo como vem sendo interpretado pelos governos e aplicado por legis-
ladores e autoridades da saúde, liderados pela comunidade epidemiológica. Latour
postula humildemente a adoção de “novas regras” do método experimental,
não mais as antigas “regras” de Emile Durkheim, que, por vias transversas,
continuam presentes em toda démarche científica. Há tempos, diz Latour, a
ação racional se supunha decorrente do saber científico – “le savoir expert”. A
passagem do saber à ação era legitimada pela suposição do conhecimento com-
pleto sobre causas e consequências (ibid: p. 1). Um especialista ou consultor de
saúde pública, na ausência de um conhecimento sólido sobre causas e efeitos,
toma “precaução” contra o risco, para eliminá-lo. Na leitura latouriana, a pre-
caução deve conduzir àconvivência com riscos, sob certas condições. Não se
trata de uma ressurreição de um ethos anarquista ou revolucionário. Na verda-
de, a ação precavida ou prevenida, movida pelo princípio correspondente, con-
siste em “sondar, explorar, tatear”, ter em conta as vozes do outro (p. 1). “Pour
s’entendre, il faut entendre “ (p. 2).
Os riscos “nunca exatamente calculados” têm a necessária contrapartida
de uma responsabilidade compartilhada, de uma accountability social, de uma
“vigilância permanente” pela sociedade, não sobre ela. 4 Nos termos emprega-
dos pelo campo da saúde no Brasil, trata-se da vigilância não imposta
3 Para uma posição em defesa
do princípio da precaução no
Brasil, consulte-se Dallari,
2006. Em importante trabalho,
diz a autora: “De certo modo,
pode-se afirmar que a análise
dos elementos que constituem
o princípio de precaução
remonta aos fundamentos da
Saúde Pública. Fica evidente
(sic) que para instaurar a
prevenção, elemento
historicamente essencial ao
conceito de Saúde Pública, é
indispensável a contínua
vigilância não só dos dados
epidemiológicos, como do
ambiente político em que eles
ocorrem, implicando,
sobretudo, os grandes valores
que a sociedade pretende
abrigar, sua opção ética. É
justo reconhecer, portanto,
que o novo ‘princípio de
precaução’ tem servido mesmo
para despertar o Estado para
uma de suas missões essenciais
e prioritárias: proteger e
preservar a Saúde Pública”
(Dallari, 2006, p.25). Vemos
com preocupação o aceno para
a conduta missionária do
Estado, que pode vir a
“despertá-lo” para a
formulação de políticas de
saúde eticamente infundadas e
politicamente autoritárias,
ainda que em nome “dos
grandes valores que a
sociedade pretende abrigar”.
(Agradecemos à médica
sanitarista Sylvia Ripper nos ter
chamado a atenção para o
artigo de Dallari).
• Alba Zaluar e Luiz Antonio de Castro Santos
4 “Autrement dit, dans tous
les modèles d’action, la
vigilance va de pair avec la
prise de risque. (...) Plus je
prends de risque plus
j’apprends comment et
surtout face à quoi devenir
vigilant”. (Latour, 2010, p. 1).
60 • • Riscos à saúde: fumaça ambiental do tabaco – pontos para um debate
institucionalmente, mas vivida como “controle social” – tampouco o controle
como conceito sociológico durkheimiano, que remete às normas e regras sociais
introjetadas pelos sujeitos, mas o controle como exercício de estreita atenção e
avaliação da população sobre os próprios dispositivos da vigilância institucional.
A vigilância é, na verdade, outra coisa, diferente da “vigilância sanitária” — é
a atenção, o conhecimento informado, participado e participativo diante do
risco. Não se coloca como um aspecto acessório da precaução; ao contrário, é
seu elemento essencial. Do mesmo modo, ao se romperem os liames estreitos
entre a expertise e a ação, a perplexidade ganha espaço no lugar da certeza,
como nova parceira da vigilância e da própria ação consciente do risco. A ciên-
cia experimental torna-se agora, sugere Latour, “uma ciência experimental co-
letiva”, ampliada para o próprio terreno da ação e das experiências coletivas,
mergulhada “na dura incerteza das controvérsias”. (p. 3). “O princípio da pre-
caução nos impede, no fundo, de desqualificar o interlocutor com quem se faz
necessário o entendimento” (p. 2). Em suma, a voz do saber não é tampouco a
voz de um dono da expertise diante de “peritos alternativos”, mas diante do
não-saber dos leigos, colaboradores de vastas experiências em escala globalizada.
O modelo experimental subsiste num sentido estreito, mas a ciência experi-
mental «coletiva» de que nos fala Latour corresponde a processos de larga am-
plitude para tornar possível um outro princípio, o princípio do bom governo.
Cauteloso diante da busca dos famosos “determinantes sociais” da saúde pela
epidemiologia, o bom governo deverá de fato contemplar as “indeterminações”
do mundo real (Guivant, 1998,p. 35) e divulgar os limites da certeza científica
à população sensível ao risco cotidiano e ao modo de enfrentá-lo.
As drogas e a cultura
Se a literatura anglo-saxã sobre riscos e cultura foi o destaque a partir
da década de 1980, particularmente com a contribuição de Mary Douglas, auto-
res franceses têm sido bastante presentes na produção internacional recente.
Já sublinhamos a crítica notável de Latour às conceituações da “precaução”.
Outras presenças devem agora ser consideradas. Alguns intelectuais importan-
tes no debate sobre o tema, na França, além de pesquisadores de outros países,
participaram de um encontro internacional, “Drogues et Cultures”, organizado
pela agência OFTD (Observatoire Français des Drogues et des Toxicomanies) e
pela Chaire Santé de Science Po, realizado em Paris, de 11 a 13 de dezembro de
2008. [http://www.drugsandcultures2008.com]. A efervescência extraordiná-
ria dos debates foi assinalada na conferência de encerramento pelo sociólogo
Robert Castel (ibid: 13 de dezembro de 2008, vídeo). Castel enfeixou algumas
das questões e conclusões mais candentes, sugerindo cautela na análise da
toxicomania, ao distinguir entre usuários e toxicômanos e ao apontar a conve-
niência de limites para a adoção dos chamados “heterocontroles” sobre usuári-
os, inclusive sobre os consumidores pesados. Castel aponta para a necessária
prudência na adoção de práticas institucionais coercitivas e punitivas, com
base no saber médico e jurídico. O consumidor — leve ou pesado — é um
A vigilância é,
na verdade,
outra coisa,
diferente da
“vigilância
sanitária” —
é a atenção,
o conhecimento
informado,
participado e
participativo
diante do risco.
• 61
sujeito social; o consumo de drogas é um comportamento social que deve ser
trabalhado pela ciência social. Esta é uma afirmação banal para os cientistas
sociais, lembra Castel; no entanto parece escapar aos saberes de ordem médica
e jurídica, cuja aplicação chega mesmo a prescindir do cientista social. Ainda
que não tenha diretamente abordado as questões do narcotráfico, suas obser-
vações são por certo igualmente aplicáveis a este último tema, no qual o dis-
curso forense e policial tende a desconsiderar as análises de sociólogos e antro-
pólogos.
Na produção francesa mais recente, reforçam-se o tom e a crítica das
contribuições pioneiras no campo, com releituras e apreciações dos trabalhos
de Mary Douglas, além de uma interessante adaptação do clássico de Howard S.
Becker sobre a “carreira moral” dos usuários de maconha. Desta feita, o tema de
Becker é revisto pela mira dos novos outsiders do século XXI, os fumantes
franceses (Becker, 1963; Peretti-Watel, 2007). Acentua-se a variada exposição
ao risco — em que se observa, para o tabaco e para as drogas, a questão da
regularidade e da quantidade de consumo. Estas últimas, surpreendentemente,
são quase sempre negligenciadas nas análises dos males derivados do fumo,
como se qualquer nível de exposição produzisse agravos idênticos. Discutem-
se as atitudes sociais de grupo, bastante diferenciadas em relação aos riscos e
relacionadas a representações sociais igualmente diferenciadas. Em sua pales-
tra no Seminário “Drogues et Cultures”, o sociólogo Patrick Peretti-Watel enfatiza
o caráter polissêmico da noção de risco e os modelos da epidemiologia que
levam ao conhecimento/desconhecimento do comportamento social do usuário
de drogas (Conférence Drogues et Cultures, 13 dezembro de 2008, vídeo).
Outro autor nesse debate na França, o antropólogo David Le Breton
(1991, 2004), ressalta em seus trabalhos o gosto pelo risco que caracteriza
algumas categorias de pessoas, tais como empreendedores e desportistas. Em
vez de evitar a ação arriscada, esses indivíduos e suas “tribos” optam por bus-
car o risco, procurando e valorizando justamente a experiência, ao enfrentá-lo,
de vivenciar “paixões de risco” (ibid, 1991) e “condutas de risco” (ibid: 2004).
A lógica desta procura não pode ser entendida sob a ótica da racionalidadena
aversão ao risco, ou, acrescentamos, a partir dos paradigmas da escolha racio-
nal, mas sim como uma forma de se confrontar inconscientemente com a morte
e buscar o reconhecimento ou um sentido na vida pessoal e diante de seu
“grupo de referência”. Esse sentido, como têm mostrado os sociólogos
interacionistas, pode ser proporcionado pelo “grupo de referência”, ou construído
na ação do próprio sujeito, mesmo sem a interferência efetiva ou direta do
grupo ou da coletividade.
O risco incerto
Decorre do exposto que a própria idéia da preservação da vida acima de
tudo, a valorização da longevidade e a opção pela tranquila vida dos que não se
arriscam, deve ser relativizada para que se compreenda por que algumas pesso-
• Alba Zaluar e Luiz Antonio de Castro Santos
62 • • Riscos à saúde: fumaça ambiental do tabaco – pontos para um debate
as e alguns grupos preferem justamente o curso oposto. A definição do risco na
abordagem das ciências sociais é, portanto, uma construção social múltipla,
polifônica, sendo um dos seus presentes sentidos aquele usado na Epidemiologia
e tomado, como indicamos neste ensaio, de modo quase sempre polêmico por
sociólogos e antropólogos. Essa discussão torna-se crucial para entendermos o
que está em questão. Se considerarmos o risco dentro de esquemas de
racionalidades que enfatizam o cálculo, a partir de variáveis socioeconômicas
ou ecológicas, todas elas probabilísticas, deixaremos de lado o que não pode ser
medido porque pertence à esfera da liberdade humana, daquilo que um funda-
dor da Antropologia – Bronislaw Malinowski – chamou “os imponderáveis da
vida real”. Esses imponderáveis são considerados por todo cientista social nas
suas tentativas de entender, explicar ou interpretar o mundo. A retórica da
Epidemiologia não abre espaço para a intersubjetividade necessária na incorpo-
ração, pelo observador despido da arrogância racionalista da filosofia do sujei-
to, das representações sociais plurais, diferenciadas e coexistentes na situação
vivida na pesquisa. Perdem-se assim, nas interpretações correntes, os recursos
interpretativos da Antropologia e da Sociologia, particularmente no uso dos
conceitos que poderiam criar variáveis quantificáveis mais confiáveis.
Por isso mesmo, não se podem deixar de lado antigas teorias sobre a
diferenciação de gêneros, de classes sociais, de formações sociais e as mais
contemporâneas, de interações simbólicas e definições da situação vivida e da
sociabilidade. O apego a redes de suporte social, recentemente enfatizadas em
trabalhos de epidemiologistas – o cultivo de “supportive relationships” – teria
muito a ganhar com o cuidadoso exame dos trabalhos dos interacionistas sim-
bólicos sobre os rituais de convivência social que possam vir a reduzir o impac-
to dos “riscos” sobre a saúde de maneiras insuspeitadas ou inesperadas (a exemplo
de Collins, 2004).
Há, por certo, rituais destrutivos ou antissociais que têm sua
racionalidade igualmente avessa ao cálculo. Nas sociedades urbanas contempo-
râneas aparecem inegáveis diferenças na relação que os jovens das classes po-
pulares têm com a sua masculinidade, claramente atrelada, por sua vez, à capa-
cidade de tomar e enfrentar riscos. Estes jovens procuram brigas e “rachas” de
carro, como forma de entretenimento e fortalecimento de suas cliques. São
muitos os estilos de masculinidade entre jovens de classes médias e altas, entre
“nativos” e migrantes de outros estados, entre jovens da segunda geração de
migrantes, entre os jovens negros, pretos, pardos, mulatos de diferentes áreas
das cidades brasileiras. Por outro lado, não cabe generalizar e associar os estu-
dos que correlacionam as formas hegemônicas de socialização do homem, vol-
tadas para comportamentos de coragem, de agressividade, de combate, de
competitividade e de desafio aos perigos, com condutas violentas e de risco.
Tais estudos criariam um “macho genérico” estereotipado e “essencializado”,
sempre propenso à violência e ao perigo, o que significaria afirmar uma deter-
minação direta, sem mediações, entre ser homem e adotar condutas de risco.
O apego a
redes de
suporte social,
recentemente
enfatizadas em
trabalhos de
epidemiologistas
– o cultivo de
“supportive
relationships” –
teria muito a
ganhar com o
cuidadoso
exame dos
trabalhos dos
interacionistas
simbólicos
sobre os rituais
de convivência
social que
possam vir a
reduzir o
impacto dos
“riscos” sobre a
saúde de
maneiras
insuspeitadas
ou inesperadas.
• 63
Se considerarmos a violência e o risco como polifônicos, torna-se im-
prescindível incluir as definições, sensibilidades e sentimentos das pessoas
envolvidas na situação ou na interação em foco. Do ponto de vista do
ordenamento social, pode-se dizer que uma manifestação de força torna-se
violência quando ultrapassa um limite ou perturba acordos tácitos e regras que
ordenam relações. É, portanto, a percepção do limite (e do sofrimento que
provoca) que vai caracterizar um ato como violento. Do mesmo modo, o risco é
também aquele ato ou situação que ultrapassa a capacidade de cada um, ou de
um grupo social, de contemplar possíveis desfechos e sondar (“explorar, tatear”,
nos lembra Latour) os resultados (in)esperados. Estamos diante de outra lógica,
de riscos nunca exatamente calculados.
Risco e incerteza se fundem. A detecção da conduta do risco e da con-
duta violenta depende das sensibilidades ou emoções, tais como o medo e a
orientação do ator para este sentimento. O conhecimento maior ou menor dos
efeitos maléficos que pode trazer uma situação definida como de risco, tanto
para o indivíduo como para seu grupo de referência ou para a coletividade,
pode influir no curso da ação tomada pelo ator. Não obstante, os valores e
disposições do sujeito para enfrentá-la, individualmente ou em grupo, podem
ser decisivos e contrariar a ação que se “esperaria” daquele conhecimento ou da
informação sobre efeitos maléficos.
Por isso mesmo, é preciso atentar para as zonas existentes de conflito
social e basear qualquer tentativa de prevenção de violência, redução de riscos
ou de “agravos”, na interatividade dos personagens nelas envolvidos. Se o
comportamento é essencialmente social, se o sujeito é um ator social, isto não
significa que as políticas de redução de conflitos possam prescindir do
envolvimento de cada ator, da palavra de cada um deles. Estamos diante de
diferentes personagens, nos bastidores das relações de grupo e zonas de confli-
to. É preciso, pois, analisar como os atores vivenciam o risco, se eles o procuram
ou são tragados por ele, no duplo sentido para os fumantes de tabaco e para o
usuário de drogas ilegais. (Do mesmo modo, ça va sans dire, a ciência social não
pode ser tragada pela retórica dos riscos).
Do ponto de vista sociológico e antropológico, importa entender como
os atores avaliam os efeitos de uma droga sobre seus corpos e mentes e o
quantum de prazer ou de sofrimento que lhes proporcionam. A própria idéia de
compulsão e de excesso deve ser relativizada e incluir a subjetividade dos agen-
tes. Mesmo assim, é possível conceber uma grade de condutas que variam entre
o controle da ação e a compulsão, entre o racional e o irracional, entre precau-
ções tomadas para diminuir os efeitos maléficos e a exposição desabrida e desa-
fiadora, apesar do conhecimento supostamente adquirido sobre tais efeitos.
Talvez se possa conseguir traçar, como fez Becker há tanto tempo, alguns perfis
sociais daqueles que buscam ou não fogem das condutas arriscadas, desde a
rebeldia juvenil até uma indiferença diante do desfecho que apenas apressaria
a finitude humana. Como conduzir tais atores a contemplar ações pautadas em
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BECK, Ulrich. Risk society.
Towards a new modernity.
Londres: Sage, 1992
BECK, Ulrich; GIDDENS,
Anthony; LASH, Scott.
Reflexive Modernization:
politics, tradition and
aesthetics in the modern social
order. Cambridge:Polity Press,
1994.
BECKER, Howard S., Outsiders:
Studies in the sociology of
deviance. New York: The Free
Press, 1963.
BÉHAGUE, Dominique P.;
GONÇALVES, Helen; VICTORA,
Cesar G. “Anthropology and
Epidemiology: learning
epistemological lessons
through a collaborative
venture”. Ciênc. saúde coletiva
vol.13 no. 6 Rio de Janeiro
Nov./dec. 2008. p. 1701-1710.
CASTIEL, Luis David. “Vivendo
entre exposições e agravos: a
teoria da relatividade do
risco” História, Ciências, Saúde
- Manguinhos, Rio de Janeiro,
v. 3, n. 2, p. 237-254, 1996.
CASTRO SANTOS, Luiz A.
“Um sociólogo e seus rituais”.
Ciências Sociais Unisinos
43 (3): 279-282, setembro/
dezembro, 2007.
COLLINS, Randall. Interaction
Ritual Chains. Princeton,
Princeton University Press,
2004.
DALLARI, Sueli G. “O direito
sanitário como campo
fundamental da vigilância
sanitária”. In MARQUES, MCC
et alii (orgs) Vigilância
Sanitária: da gestão ao risco
sanitário. São Carlos: RiMa,
2006.
DOUGLAS, Mary. Risk and
blame: essays in cultural
theory. Londres: Routledge,
1992.
DOUGLAS, Mary e
WILDAVSKY, Aaron. Risk and
culture: an essay on the
selection of technical and
environmental dangers.
Berkeley, CA: University of
California Press, 1982.
GOFFMAN, Erving, Estigma –
Notas sobre manipulação da
identidade deteriorada. Rio de
Janeiro: Ed. Guanabara, 1988
GONÇALVES, Helen. “Corpo
doente: estudo acerca da
percepção corporal da
tuberculose”. In: Luis
Fernando Dias Duarte; Ondina
Fachel Leal. (Orgs.). Doença,
sofrimento, perturbação:
perspectivas etnográficas. Rio
de Janeiro, RJ: Fiocruz, 1998,
p. 105-117.
• Alba Zaluar e Luiz Antonio de Castro Santos
64 • • Riscos à saúde: fumaça ambiental do tabaco – pontos para um debate
algum nível de precaução? Estamos de volta aos imponderáveis da vida real, às
suas indeterminações, às tentativas ainda assim necessárias de devolver aos
homens e mulheres o sentimento do mundo, com seus desígnios e segredos
finalmente libertos para “sondar, explorar, tatear”, livres de leis e regulações
pré-fabricadas e precariamente negociadas.
GUIVANT, Julia Silva,
“Trajetórias das análises de
risco: da periferia ao centro da
teoria social”. BIB - Revista
Brasileira de Informação
Bibliográfica em Ciências
Sociais. , v.46, p.3 - 38, 1998.
KABAT, Geoffrey C. Riscos
ambientais à saúde: mitos e
verdades. Prefácio à ed.
brasileira de Renato Veras. Trad.
de E. Furmankewics. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan,
2010.
LATOUR, Bruno. Du principe de
précaution au principe du bon
gouvernement : vers de
nouvelles règles de la méthode
expérimentale. http://
www.bruno-latour.fr/
poparticles/poparticle/p088.html
- acesso em 26/07/2010.
LE BRETON, David. Passions du
risque. Paris: Métailié, 1991.
LE BRETON, David. Conduites à
risque. Des jeux de mort au jeu
de vivre. Paris, PUF, 2004.
NOGUEIRA, Oracy. Vozes de
Campos de Jordão: experiências
sociais e psíquicas do
tuberculoso pulmonar no Estado
de São Paulo. (Primeira edição,
revista Sociologia. 1950).
2ª. edição. Rio de Janeiro:
Editora Fiocruz, 2009.
PERETTI-WATEL, Patrick.
“Becoming a smoker: Adapting
Becker’s model of deviance for
adolescent smoking.” Health
Sociology Review. Vol. 16 (1)
2007: 53-67.

Outros materiais