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APOSTILA DE ANATOMIA HUMANA Sistema Cardiovascular (Farmácia) Material Didático dos Professores: Márcio Oliveira Régis Correia José Roberto Pimenta de Godoy Material Didático dos Professores Márcio Oliveira - Régis Correia - José Roberto Pimenta de Godoy 2 ORAÇÃO AO CADÁVER DESCONHECIDO "Ao curvar-te com a lâmina rija de teu bisturi sobre o cadáver desconhecido, lembra-te que este corpo nasceu do amor de duas almas; cresceu embalado pela fé e esperança daquela que em seu seio o agasalhou, sorriu e sonhou os mesmo sonhos das crianças e dos jovens; por certo amou e foi amado e sentiu saudades dos outros que partiram, acalentou um amanhã feliz e agora jaz na fria lousa, sem que por ele tivesse derramado uma lágrima sequer, sem que tivesse uma só prece. Seu nome só Deus o sabe; mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir a humanidade que por ele passou indiferente" Karel Rokitansky (1876) Ao cadáver, respeito e agradecimento Material Didático dos Professores Márcio Oliveira - Régis Correia - José Roberto Pimenta de Godoy 3 ANATOMIA DO SISTEMA CARDIOVASCULAR 1. GENERALIDADES O sistema circulatório pode ser separado em sistema cardiovascular e sistema linfático. O sistema cardiovascular inclui o coração, que funciona como uma bomba propulsora para o sangue, e os vasos sanguíneos, que transportam o sangue através do corpo. O sistema linfático consiste de órgãos que participam da resposta imune e vasos, que coletam o líquido intersticial e o transportam para o sistema cardiovascular. O sistema cardiovascular é um sistema fechado, pois o sangue que o percorre não deixa o sistema; é um sistema duplo, pois contém dois tipos de sangue, um arterial e outro venoso; e é um sistema completo, pois os dois tipos de sangue não se misturam. 2. POSIÇÃO DO CORAÇÃO O coração está localizado na cavidade torácica, na região do mediastino médio, onde está disposto de forma oblíqua. Aproximadamente 70 a 75% do coração está localizado à esquerda do plano mediano, enquanto que 25 a 30% está localizado à direita do mesmo. Figura 1 –Coração in situ Fonte: NETTER - Atlas Interativo de Anatomia Humana, 1998. Material Didático dos Professores Márcio Oliveira - Régis Correia - José Roberto Pimenta de Godoy 4 A porção central da cavidade torácica, entre as pleuras, é denominada mediastino. Estende-se desde a abertura torácica superiormente, até o diafragma inferiormente; desde o esterno anteriormente, até os corpos das vértebras torácicas posteriormente. O mediastino pode ser dividido em partes superior e inferior, sendo esta última subdividida em partes anterior, média e posterior (Figura 2). Figura 2 – Divisão do Mediastino – Vista Lateral do Tórax Seccionado Sagitalmente II – VIII – Vértebras Torácicas AE – Ângulo do esterno MS – Mediastino Superior MA – Mediastino Anterior MM – Mediastino Médio MP – Mediastino Posterior DI DIO, L. Tratado de Anatomia Sistêmica Aplicada. 2.ed. São Paulo: Atheneu, 2002. 3. FORMA DO CORAÇÃO O coração não possui forma estabelecida quando ativo, porém, quando em repouso, possui a forma de um cone invertido, com o tamanho aproximado de uma mão fechada. Pesa em média 255 gramas nas mulheres adultas e 310 gramas em homens adultos. É descrito como tendo uma base, um ápice e quatro margens: - Base: está voltada para cima, para trás e para direita; - Ápice: está voltado para baixo, para frente e para esquerda; - Margens: superior, inferior, direita e esquerda; - Faces: diafragmática, esternocostal e pulmonar. Material Didático dos Professores Márcio Oliveira - Régis Correia - José Roberto Pimenta de Godoy 5 4. ENVOLTÓRIOS DO CORAÇÃO O coração está contido em um saco de parede dupla denominado pericárdio. O pericárdio é uma bolsa fibro-serosa que envolve o coração e a raiz ou porção justacardíaca (origem ou terminação) dos grandes vasos. Trata-se de um duplo saco, ou seja, é formado por um saco fibroso externo chamado pericárdio fibroso, e de um saco seroso interno, o pericárdio seroso, ambos dispostos ao redor do coração e das raízes dos grandes vasos da base cardíaca, que desta entram ou saem. O pericárdio seroso, como os demais sacos serosos (pleuras e peritônio), possui dupla parede, a externa denominada lâmina parietal e a interna denominada lâmina visceral, que se continuam ao nível das reflexões. Figura 3 – Envoltórios do Coração MOORE, K. L. Fundamentos de Anatomia Clínica. 1.ed. São Paulo: Guanabara Koogan, 1996. O pericárdio fibroso é denso e firme, adere à superfície externa do pericárdio seroso e impede a superdistensão do coração. Entre as duas lâminas do pericárdio seroso, existe uma cavidade pericárdica virtual contendo de líquido pericárdico, que lubrifica as superfícies internas ou cavitárias das lâminas, diminuindo o atrito e facilitando o deslizamento das mesmas durante os movimentos (sístole e diástole) do coração. Material Didático dos Professores Márcio Oliveira - Régis Correia - José Roberto Pimenta de Godoy 6 5. ANATOMIA DO CORAÇÃO (Figuras Anexas) Para funcionar como uma bomba, o coração deve apresentar câmaras de entrada e saída, uma parede extremamente compressível a fim de proporcionar força suficiente para impelir o sangue, válvulas para direcionar o fluxo sanguíneo através destas câmaras e vasos para conduzirem o sangue do coração e para o coração. 5.1 Câmaras Cardíacas - Átrios direito e esquerdo (AD;AE): são as menores cavidades, situadas na região superior do coração; - Ventrículos direito e esquerdo (VD;VE): são as maiores cavidades, situadas na região inferior do coração. Constituem o principal volume cardíaco; - Aurículas: são expansões em forma de orelha; apêndices; bolsas musculares pequenas e cônicas; que ocorrem nos átrios para aumentar a sua área. Os átrios estão separados pelo septo interatrial e os ventrículos pelo septo interventricular. No recém-nascido, há uma comunicação entre os átrios localizada no septo interatrial. É a fossa oval, uma remanescência do forame oval e de sua válvula no feto. 5.2 Parede do Coração A parede do coração está constituída por 3 camadas: o epicárdio, o miocárdio e o endocárdio. O epicárdio (pericárdio serosovisceral) é uma membrana serosa muito fina, que adere à superfície externa do órgão. A camada mais espessa do coração é o miocárdio, que está constituído por músculo cardíaco. O miocárdio é revestido internamente pelo endocárdio. Dobras do endocárdio formam as valvas que separam átrios de ventrículos – as valvas atrioventriculares – e os ventrículos da aorta e do tronco pulmonar – as valvas semilunares. O miocárdio varia consideravelmente em espessura de uma câmara para outra. Essa espessura está relacionada à resistência encontrada no bombeamento do sangue Material Didático dos Professores Márcio Oliveira - Régis Correia - José Roberto Pimenta de Godoy 7 pelas diferentes câmaras. Uma vez que a musculatura dos átrios encontra pouca resistência para impelir o sangue através das artérias, suas paredes são a parte mais fina do miocárdio. Em contraste, os ventrículos devem impelir o sangue através dos vasos sanguíneos que se dirigem aos pulmões e para o restante do corpo, possuindo desta forma um miocárdio mais espesso que o dos átrios. Além disso, o ventrículo esquerdo, responsável pelo envio de sangue para todas as estruturas do corpo, apresenta maior espessura de miocárdio em comparação com o ventrículo direito, que impele o sangue através de vasos que se dirigem apenas para os pulmões. A superfície interna do miocárdio dos ventrículos é irregular, apresentando dobras e pontes denominadas trabéculas cárneas. 5.3 Valvas Cardíacas Existem quatro grupos de válvulas que direcionam o fluxo sanguíneo através das câmaras cardíacas – dois grupos formam as valvas atrioventriculares e os outros dois, constituídos por válvulas semilunares, formam as valvas da aorta e do tronco pulmonar. A tabela demonstra a localização e função das valvas cardíacas. Tabela 1 – Localização e Características das Valvas Cardíacas VALVA LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS VALVA ATRIOVENTRICULAR DIREITA (TRICÚSPEDE) Entre AD e VD Constituída por três cúspides que evitam o refluxo de sangue do VD para o AD durante a contração ventricular VALVA DO TRONCO PULMONAR Entre o VD e tronco pulmonar Constituída por três válvulas semilunares que evitam o refluxo do sangue do tronco pulmonar para o VD durante o relaxamento Material Didático dos Professores Márcio Oliveira - Régis Correia - José Roberto Pimenta de Godoy 8 5.4 Vasos do Coração Vários vasos sanguíneos de grande calibre entram ou saem do coração. Estes são: - Veias cavas superior e inferior: trazem o sangue venoso do corpo para o átrio direito; - Tronco pulmonar: deixa o ventrículo direito e divide-se em artérias pulmonares direita e esquerda, que levam o sangue do para os pulmões; - Veias pulmonares (duas direitas e duas esquerdas): trazem o sangue dos pulmões para o átrio esquerdo; - Artéria aorta: leva o sangue do ventrículo esquerdo para o corpo. Os vasos sanguíneos que entram ou saem do coração o fazem pela sua base, sendo portanto chamados de vasos da base. ventricular VALVA ATRIOVENTRICULAR ESQUERDA (BICÚSPEDE OU MITRAL) Entre AE e VE Constituída por duas cúspides que evitam o refluxo do sangue do VE para o átrio esquerdo durante a contração ventricular VALVA AÓRTICA Entre VE e aorta Constituída por três válvulas semilunares que evitam o refluxo do sangue da aorta para o ventrículo esquerdo durante o relaxamento ventricular Material Didático dos Professores Márcio Oliveira - Régis Correia - José Roberto Pimenta de Godoy 9 6. COMPLEXO ESTIMULADOR DO CORAÇÃO O coração se contrai aproximadamente 72 vezes por minuto. No interior do órgão existem algumas células musculares especializadas que geram os impulsos que determinam a contração cardíaca. Além delas, outras células musculares cardíacas se especializaram na condução desses impulsos através do miocárdio. Este sistema condutor coordena os batimentos cardíacos, produzindo uma ação de bombeamento de sangue bastante eficiente. Nó Sinoatrial Na parede do átrio direito, próximo à desembocadura da veia cava superior, há uma pequena massa de células musculares cardíacas especializadas, denominada nó sinoatrial (SA). Sob condições de repouso, as células deste nó iniciam uma contração aproximadamente 70 a 80 vezes por minuto (isto é, a cada 0,8 segundo). Outras regiões do coração também podem iniciar a contração muscular, no entanto elas o fazem com uma intensidade bem menor que a do nó sinoatrial. Como resultado, impulsos do nó sinoatrial se propagam para essas áreas e as estimulam mais freqüentemente, de tal modo que elas não chegam a gerar seus próprios potenciais de ação. Desta forma, a velocidade de descarga do nó sinoatrial determina o ritmo para todo o coração e por esta este é denominado marca-passo cardíaco. A contração iniciada no nó sinoatrial chega às regiões superiores dos átrios e segue em direção às valvas atrioventriculares. Esta ação contribui na movimentação do sangue dos átrios para os ventrículos. Nó Atrioventricular Um impulso produzido pelo nó sinoatrial se distribui de célula para célula através do miocárdio dos átrios, determinando a sua contração. Todavia, o esqueleto fibroso do coração que circunda as aberturas entre os átrios e os ventrículos, bem como as aberturas da aorta e do tronco pulmonar, não permitem a passagem desses impulsos. Desta forma, um impulso transmitido do nó sinoatrial pelos átrios, não pode passar diretamente para o miocárdio dos ventrículos. Com isso, o impulso chega aos ventrículos por meio de um sistema condutor especializado. Material Didático dos Professores Márcio Oliveira - Régis Correia - José Roberto Pimenta de Godoy 10 Um grupo de células musculares cardíacas especializadas denominado nó atrioventricular se localiza no interior do septo interatrial, logo acima da transição atrioventricular. Do nó atrioventricular, um feixe de células musculares especializadas, denominado fascículo atrioventricular (feixe de Hiss) passa para os ventrículos. O fascículo penetra no septo interventricular e se divide em ramos direito e esquerdo, que descem pelo interior do septo, em direção ao ápice. Pequenos grupos de células condutoras terminais, os ramos subendocárdicos (fibras de Purkinje), se destacam dos ramos direito e esquerdo e terminam na musculatura cardíaca dos ventrículos. No ápice do coração, essas fibras passam para a parede externa dos ventrículos e se dirigem para a base do coração. 7. SONS CARDÍACOS Os fechamentos das valvas AV e semilunares produzem sons que podem ser auscultados na superfície do tórax com um estetoscópio. Estes sons são verbalizados freqüentemente como “lab-dab”. O “lab”, ou primeiro som, é produzido pela oclusão das válvulas das valvas AV. O “dab”, ou segundo som, é produzido pelo fechamento das válvulas das valvas aórtica e do tronco pulmonar. Assim sendo, o primeiro som é auscultado quando os ventrículos se contraem na sístole, e o segundo quando os ventrículos se relaxam no começo da diástole. Os sons cardíacos são de importância clínica porque proporcionam informações sobre as condições das valvas e podem indicar problemas do coração. Material Didático dos Professores Márcio Oliveira - Régis Correia - José Roberto Pimenta de Godoy 11 FIGURAS ANEXAS Fonte: NETTER - Atlas Interativo de Anatomia Humana, 1998. Figura 1 – Estrutura Interna do CoraçãoMaterial Didático dos Professores Márcio Oliveira - Régis Correia - José Roberto Pimenta de Godoy 12 Figura 2 – Coração (Base) – Vista Posterior Figura 3 – Coração (Face Diafragmática) – Vista Póstero-Inferior Material Didático dos Professores Márcio Oliveira - Régis Correia - José Roberto Pimenta de Godoy 13 Figura 4 – Saco Pericárdico com coração removido – Vista Lateral Esquerda Figura 5 – Valvas Cardíacas na Diástole Material Didático dos Professores Márcio Oliveira - Régis Correia - José Roberto Pimenta de Godoy 14 Figura 6 – Valvas Cardíacas na Sístole Material Didático dos Professores Márcio Oliveira - Régis Correia - José Roberto Pimenta de Godoy 15 .Roteiro Prático de Sistema Cárdiovascular Coração e pericárdio Base do coração Àpice do coração Face esternocostal ( Anterior ) Face diafragmática (Inferior ) Face pulmonar Margem superior Margem inferior Margem direita Margem esquerda Sulco interventricular anterior Sulco interventricular posterior Sulco coronário ( Átrioventricular ) Septo interventricular Septo interatrial Átrio direito Aurícula direita Músculos pectíneos Òstio da veia cava superior Óstio da veia cava inferior Átrio esquerdo Aurícula esquerda ( Músculos pectíneos ) Óstios das veias pulmonares Ventrículo direito Óstio atrioventricular direito Valva átrioventricular direita ( Tricúspide ) Óstio do tronco pulmonar Valva do tronco pulmonar ( semilunar ) Músculos papilares Cordas tendíneas Ventrículo esquerdo Óstio átrioventricular esquerdo Valva atrioventricular esquerda ( Bicúspide ou Mitral) Óstio da aorta Valva aórtica ( semilunar ) Músculos papilares ) Camadas do coração Endocárdio Miocárdio Epicárdio Pericárdio Pericárdio fibroso Pericárdio seroso Lâmina parietal Lâmina visceral ( epicárdio ) Cavidade pericárdica Artérias Aorta ascendente Artéria coronária direita Art. interventricular posterior Artéria coronária esquerda Art. interventricular anterior Art. circunflexa Arco aórtico Tronco arterial braquiocefálico ( somente no lado direito ) Art. carótida comum Material Didático dos Professores Márcio Oliveira - Régis Correia - José Roberto Pimenta de Godoy 16 Art. subclávia Art. axilar Art. braquial Art. radial Art. ulnar Aorta descendente Torácica Abdominal Tronco celíaco Art. hepática comum Art. gástrica esquerda Artéria lienal ou esplênica Art. mesentérica superior Art. renal direita e esquerda Art. gonadais ( testicular / ovárica ) Art. mesentérica inferior Artéria ilíaca comum ( direita e esquerda ) Art. ilíaca interna ( direita e esquerda ) Art. ilíada externa ( direita e esquerda ) Art. femoral Art. femoral profunda Art. femoral superficial Art. poplítea Art. tibial anterior Art. tibial posterior Art. fibular Veias Veias do coração Seio coronário Veia interventricular anterior Veia interventricular posterior Veia cava superior Veia braquiocefálica ( direita e esquerda ) Veia jugular interna Veia subclávia Veia axilar Veia braquial Veia radial Veia ulnar Sistema de drenagem superficial de membros superiores Veia basílica Veia cefálica Veia mediana do cotovelo Veia mediana do antebraço *Veia mediana cefálica * Veia mediana basílica Veia cava inferior Veias hepáticas Veias renal direita Veia renal esquerda Veia ilíaca comum ( direita e esquerda ) Veia ilíaca interna Veia ilíada externa Veia femoral Veia poplítea Veia tibial anterior Veia tibial posterior Material Didático dos Professores Márcio Oliveira - Régis Correia - José Roberto Pimenta de Godoy 17 Veia fibular Sistema de drenagem superficial de membros inferiores Veia safena magna Sistema porta hepático Veia porta do fígado Veia mesentérica superior Veia lienal ou esplênica Veia mesentérica inferior
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